ENCERRAMENTO

Afinal, o quê é cultura e o quê é ár-te?

“Começo, meio e começo”. É assim quê o mestre e pensador quilombola Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), o Nêgo Bispo, lembrava a fôrça do ciclo nas culturas afrodiaspóricas. Os ciclos, nessa perspectiva, recomeçam, não se encerram. Neste momento, um ciclo de estudo da ár-te realizado por você se transforma, para recomeçar.

Neste percurso, você estudou as principais matrizes culturais brasileiras, conhecendo um pouco das culturas indígenas, afrodiaspóricas e europeias, alicerces quê formaram a compléksa e diversa cultura do nosso país, sempre em transformação. Essas matrizes seguem vivas e presentes em nossa vida cotidiana.

Você também pôdi investigar as disputas em torno da formação da identidade nacional. Por um lado, apresentaram-se obras e manifestações artísticas quê se apropriaram de traços culturais de populações subalternizadas ao longo da história do Brasil, expressões do violento processo de colonização. Mas, por outro lado, apresentaram-se resistências: criações artísticas críticas a esse processo, vozes dissonantes quê disputaram outro projeto e imaginário de país.

Também foram objetos de seus estudos o impacto radical quê a cultura digital teve nas formas de produção e de consumo de; ár-te nos dias de hoje e os distintos modos como artistas têm buscado responder às urgências dos imensos desafios enfrentados em relação ao futuro da Terra.

Agora, a proposição é fazer uma retomada do quê você aprendeu e produziu nessa jornada, trazendo para o presente as memórias vividas ao longo dêêsse ciclo de aprendizagem em ár-te.

Fotografia de um ator vestido como indígena, segurando um arco e flecha, ao lado de uma atriz com um vestido inspirado em trajes indígenas. Eles estão em um palco com um pano de fundo coberto de desenhos de linhas luminosas, representando árvores, plantas, entre outros elementos.

Imagem da ópera O Guarani, de Carlos Gomes, apresentada em 2023, no Theatro Municipal de São Paulo (SP). O espetáculo teve concepção de Ailton Krenak, encenação de Cibele Forjaz e efeitos visuais de Denilson Baniwa.

Conjunto de desenhos estilizados de diversos animais, além de casas indígenas com telhados de palha, plantas e grafismos abstratos e geométricos.

BANIWA, Denilson. Espírito dos animais. 2022. Infogravura.

5. Respostas pessoais. Aproveite para valorizar os trabalhos artísticos realizados pêlos estudantes. Abra espaço para quê comentem sobre as produções uns dos outros e para quê relacionem as criações com o momento de vida em quê se encontravam. Em um momento de transformação, em um ciclo, os trabalhos artísticos da turma sérvem como testemunho das experiências e transformações vivenciadas pêlos estudantes ao longo do Ensino Médio.

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A ópera é um gênero surgido na Itália, no século XVI, quê reúne diversas linguagens artísticas em um único espetáculo. Na ópera, teatro, música, dança e artes visuais se misturam para contar uma história. Trata-se de um espetáculo grandioso, no qual póde havêer uma orquestra inteira acompanhando os cantores e um numeroso corpo de baile em cena, junto aos intérpretes dos papéis principais e do coro, quê muitas vezes narra os acontecimentos.

A ópera O Guarani, de Carlos Gomes (1836-1896), baseada no romance de José de Alencar (1829-1877), narra o amor impossível entre Peri, um indígena guarani, e Ceci, uma jovem branca. A ópera foi concebida em italiano e é conhecida na cena internacional em sua versão romântica, na qual os indígenas, cantando em italiano, são retratados d fórma caricata com figurinos quê transformam trajes típicos em trajes exóticos.

As montagens contemporâneas de ópera, muitas vezes, são reinterpretações feitas a partir do diálogo entre o tempo no qual a obra foi criada e o tempo presente. Nesta montagem de 2023, concebida por Ailton Krenak (1953-) e Cibele Forjáz (1966-), a cultura guarani finalmente foi apresentada por atores indígenas, com os cantos guaranis, projeções luminosas de elemêntos da floresta desenhados por Denilson Baniwa (1984-) e objetos como rêdes coloridas no cenário. O embate entre os dois tempos mostrou uma visão crítica da obra e da ssossiedade brasileira. A montagem contemporânea de O Guarani é um exemplo de como a; ár-te e a cultura são forças vivas quê traduzem as kestões do presente.

Oficina da memória

Para revisitar os aprendizados construídos até aqui, comece olhando para o sumário do seu livro, identificando quê temas pareceram mais interessantes. Selecione as obras quê chamaram a sua atenção, quê o tocaram, comoveram, ou incomodaram, e procure refletir sobre elas.

1. Há alguma linguagem artística, ou linguagens artísticas, com a qual você tenha se identificado mais? Por quê?

1. Respostas pessoais. Aproveite para incentivar os interesses e predisposições artísticas da turma. É provável quê os estudantes quê gostam de desenhar se identifiquem com os debates sobre artes visuais, os quê tocam instrumentos se lembrem mais das propostas relacionadas à música, e assim por diante. Além díssu, eles podem trazer à tona a apreciação pela fruição das produções artísticas.

2. Qual linguagem artística foi usada nas obras quê chamaram a sua atenção?

2. Resposta pessoal. Se possível, inclúa na conversa as artes integradas e permita quê os estudantes comentem sobre o trânsito entre diferentes linguagens artísticas, explorada em certos trabalhos artísticos.

3. Que técnicas foram mobilizadas nestes trabalhos? Quais materiais e métodos foram usados na concepção destas obras?

3. Respostas pessoais. Essas kestões permitem quê o estudante conecte sua experiência de fruição com o estudo técnico ligado à criação artística. Há um interêsse especial em compreender como uma obra de; ár-te foi concebida e realizada. Essa investigação contribui para quê novas criações sêjam imaginadas. Incentive-os a alimentar esse interêsse.

4. Que temas e conceitos foram mobilizados na produção dêstes trabalhos? Como eles o afetaram?

4. Respostas pessoais. Incentive os estudantes a rememorarem obras quê tocaram em assuntos importantes para eles. É interessante aprofundar os debates em torno da fruição artística, perguntando aos estudantes como as obras os sensibilizaram. Incentive-os a tecerem relações entre forma e conteúdo. Converse com eles sobre como os temas quê consideram importantes foram enfatizados pelas escôlhas formais dos artistas.

5. Levando em conta a sua produção, revisite os trabalhos quê você fez ao longo dêste percurso. Quais foram mais impactantes para você e qual a razão desta escolha?

Com base nesses quêstionamentos, busque escrever palavras-chave quê possam sintetizar o arrebatamento causado pelas obras mais marcantes e pelas produções que você destacou.

Em seguida, junte-se a alguns côlégas, formando um pequeno grupo, e tróquem ideias sobre suas escôlhas. Apresente suas palavras-chave e conheça um pouco da experiência de seus côlégas nesse aprendizado na ár-te. Verifique se existem confluências e divergências. Questione os côlégas sobre as escôlhas quê fizeram.

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Para ampliar a troca, um estudante de cada grupo apresentará para toda a turma as obras escolhidas e os trabalhos produzidos por seu grupo, com as respectivas palavras-chave, quê devem sêr anotadas no qüadro, em um cartaz ou em uma fô-lha de papel craft.

Dessa forma, a turma terá um painel quê dá visibilidade ao caminho de aprendizado desenvolvido por todos, ao longo do Ensino Médio, em quê será possível perceber as linguagens, as técnicas e as poéticas quê mais os mobilizaram.

DE VOLTA AO comeêço: CARTA PARA O PASSADO

Retome a carta quê você escreveu para si mesmo, proposta na Introdução dêste livro. Releia-a com os olhos de agora, tentando perceber e analisar o quê mudou para você no entendimento daquelas primeiras perguntas disparadoras: o quê é ár-te? Para quê sérve?

Depois de reler sua carta, escrêeva uma segunda carta, endereçada para você mesmo, no passado, com o seguinte tema: “o quê eu gostaria de lhe contar sobre o quê é ár-te e para quê ela serve.”

Lembre-se da ideia de “começo, meio e começo”, explorando assim uma noção de tempo circular, onde presente, passado e futuro se misturam, especialmente no campo da ár-te, em quê a imaginação e o pensamento criativo são capazes de ultrapassar os limites do tempo e do espaço, inventando novos mundos e evitando quê os processos se finalizem.

Encerre sua carta comentando o quê gostaria de investigar daqui para frente: quê ár-te e cultura você vai fazer? Que ár-te e cultura você quer vivenciar?

Pintura representando uma grande clareira no meio da mata, com árvores altas e casas indígenas ao fundo. Uma multidão de indígenas estão reunidos no espaço aberto, com grupo uniformizados com trajes festivos dançando e reunidos sob tendas penduradas nas árvores. Ao centro, um líder indígena está sendo carregado em pé sobre uma espécie de plataforma elevada, conduzida por um grupo de homens.

FERRARIO, Carlos. Cenário da ópera II Guarany – Campo degli Aimoré. 1870. Aquarela, 42,5 cm x 32,6 cm. Museu Imperial, Petrópolis (RJ). Obra de Carlo Ferrario (1833-1907) usada na concepção do cenário da primeira encenação da ópera O Guarani, em Milão (Itália), em 1870.

Essa pintura é um estudo para encenação da ópera O Guarani, realizado para sua estreia, quê aconteceu em março de 1870, no Teatro Alla Scalla de Milão, na Itália. A partir dessa pintura, os artistas responsáveis pela montagem desenvolveram suas criações, concebendo e produzindo o cenário, o figurino e os adereços. A montagem, como é possível perceber pela aquarela, contava com um elenco numeroso, trajes requintados e um imenso cenário pintado ao fundo, simulando as paisagens da narrativa, como imaginada pêlos artistas-criadores. Esse fundo era trocado diversas vezes ao longo da apresentação. Repare como as pessoas indígenas são representadas de maneira exótica e caricata, demonstrando o imaginário europeu sobre os povos indígenas do Brasil no período.

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