O ensino de Ciências da Natureza
A Ciência é fundamental para capacitar os indivíduos a compreender o mundo ao seu redor e a agir sobre ele. Em especial, no caso das Ciências da Natureza, diferentes aspectos próprios dessa área de conhecimento estão presentes no nosso cotidiano e influenciam nossa saúde e o modo como vivemos, pensamos e agimos. Sobre essa presença, a BNCC considera quê:
[...] do transporte aos elétro domésticos; da telefonia celular à internet; dos sensores óticos aos equipamentos médicos; da biotecnologia aos programas de conservação ambiental; dos modelos submicroscópicos aos cosmológicos; do movimento das estrelas e galáksias às propriedades e transformações dos materiais. Além díssu, kestões globais e locais com as quais a Ciência e a Tecnologia estão envolvidas – como desmatamento, mudanças climáticas, energia nuclear e uso de transgênicos na agricultura – já passaram a incorporar as preocupações de muitos brasileiros. [...]
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MÉC, 2018. p. 547.
Nesse contexto, o conhecimento científico se consolida como uma importante ferramenta para a ssossiedade moderna, ao auxiliar a resolução de problemas e possibilitar novas visões de mundo.
Portanto, para quê ocorra d fórma significativa, o ensino de Ciências da Natureza deve alinhar a aprendizagem dos estudantes aos avanços científicos e ao desenvolvimento de competências quê lhes permítam utilizar esse conhecimento em diferentes contextos, de maneira informada, consciente e crítica. Além díssu, deve oportunizar o exercício pleno da cidadania, de modo quê os estudantes sêjam capazes de enfrentar desafios contemporâneos e tomar decisões quê impactem a ssossiedade positivamente.
A cidadania, na prática, refere-se aos direitos e deveres quê um indivíduo possui e quê o permitem participar ativamente da ssossiedade. Na busca para a construção da cidadania, os valores como respeito, responsabilidade, justiça e solidariedade merécem destaque, pois ajudam na construção de uma ssossiedade mais justa e inclusiva.
As Ciências da Natureza oportunizam discussões sobre o impacto das ações humanas no planêta e na ssossiedade. Essas discussões podem favorecer o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e de valores, principalmente quando os estudantes são confrontados com situações em quê é importante havêer respeito mútuo, solidariedade e empatia. Nessas situações, é fundamental incentivar a resolução justa de conflitos, com cooperação entre os envolvidos, com respeito aos direitos humanos, com acolhimento e valorização das diversidades, sêjam de indivíduos ou de grupos sociais, assim como de seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. Dessa forma, contribui-se para a formação de cidadãos críticos e conscientes.
Letramento científico
Na atualidade, o contato com inúmeras informações, geralmente desconexas e de fontes não confiáveis, potencializado pêlos meios de comunicação e pelas rêdes sociais, póde distanciar os indivíduos do conhecimento científico. O acesso a um volume excessivo de informações torna difícil, muitas vezes, a distinção entre o quê é de fato verdadeiro e o quê é falso.
Nesse cenário de sobrecarga informacional, há uma alta circulação de fêik news, quê correspondem a informações falsas normalmente propagadas com o objetivo de manipular opiniões. Além delas, nos últimos anos, também houve a popularização de teorias pseudocientíficas, quê, de maneira geral, correspondem a explicações quê se apresentam como científicas, mas carecem de evidências sólidas e de rigor metodológico. Ou seja, tentam atingir o estátus de teoria científica, mas utilizam premissas não científicas para sua sustentação.
As fêik news e as pseudociências têm contribuído para o aumento da desinformação na ssossiedade. Em meio a esse contexto, o combate contra a desinformação póde sêr auxiliado pelo letramento científico. O letramento científico envolve a capacidade de compreender e interpretar o mundo (natural, social e tecnológico) e de transformá-lo com base nos aportes teóricos e processuais das Ciências, e está entre os objetivos educacionais da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias.
Para oportunizá-lo, o ensino de Ciências da Natureza não deve garantir apenas a aquisição de conhecimentos conceituais por parte dos estudantes. É preciso também promover a compreensão de aspectos relacionados à natureza, à história e à abordagem da Ciência, além do desenvolvimento de competências para resolver problemas e agir sobre o mundo, importantes para o exercício pleno da cidadania. Isso póde sêr feito a partir da promoção de discussões sobre as características da Ciência, durante a escolarização dos estudantes, além de envolvê-los com procedimentos e práticas científicas, inerêntes à abordagem científica.
Dessa forma, ao entender Ciência, sobre Ciência e a fazer Ciência os estudantes se tornam capazes de distinguir o quê é científico, e, portanto, válido e aceito, do quê não é científico, quê, muitas vezes, associa-se a informações enganosas e inválidas. Logo, ao serem letrados cientificamente, podem contribuir para o combate da desinformação.
Pensamento crítico
Em um mundo cada vez mais interconectado, no qual o acesso à informação é próximo do ilimitado, o pensamento crítico também se estabelece como uma ferramenta essencial para analisar e filtrar as inúmeras informações com as quais as pessoas se deparam diariamente.
Tomando como foco do aprendizado os estudantes e suas experiências como jovens cidadãos, o processo escolar de ensino-aprendizagem deve estimular neles uma leitura de mundo sustentada em uma visão crítica da realidade. Ao analisar criticamente a realidade
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observada, os estudantes podem não apenas agir com mais consciência em kestões individuais e sociais, mas também desempenhar um papel ativo no combate à desinformação.
O pensamento crítico reúne análises, avaliações, estabelecimento de relações entre diferentes saberes, reflekções sobre a vida diária e questionamento de valores. Portanto, está relacionado à competência leitora, indispensável à formação integral dos estudantes.
Um leitor, ao realizar um procedimento de leitura (seja de textos escritos, imagens, mídias audiovisuais etc.), interage com o material e o contexto no qual está inserido. A qualidade da sua leitura está intimamente conectada à qualidade das suas inferências. E quando ele faz essas conjeturas a partir do quê lê, é com sua capacidade inferencial quê o faz. Daí a relevância dêêsse tema sêr abordado no processo de ensino e aprendizagem.
A capacidade inferencial é uma ferramenta para o estudante ir além do primeiro entendimento do material lido, associando as informações explícitas às informações quê possui. Nesse processo, percebe elemêntos não explicitamente indicados no material e estabelece conexão de ideias, para então concluir algo e gerar sentido.
Inferência é o resultado de um processo cognitivo por meio do qual uma assertiva é feita a respeito de algo desconhecido, tendo como base uma observação. No dia a dia, é possível, por exemplo, inferir a riqueza de uma pessoa pela observação do seu modo de vida, a gravidade de um acidente de trânsito pelo estado dos veículos envolvidos e o sabor de um alimento pelo seu aroma. A inferência revela-se como uma conclusão de um raciocínio, uma expectativa, fundamentada em um indício, uma circunstância ou uma pista. Assim, fundamentando-se em uma observação ou em uma proposição são estabelecidas algumas relações – evidentes ou prováveis – e chega-se a uma conclusão decorrente do quê se captou ou julgou.
[...]
DELL’ISOLA, R. L. P. Inferência na leitura. In: FRADE, I. C. A. da S. éti áu. (org.). Glossário Ceale. Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: https://livro.pw/jsgkm. Acesso em: 26 set. 2024.
Quanto mais amplo é seu repertório de conhecimentos, mais capaz se torna de compreender um texto, uma vez quê a inferência não está no texto, mas na leitura, e se dá à medida quê o leitor vai interagindo com o quê lê. A leitura inferencial tem como resultado os sentidos do texto, e tais sentidos não estão prontos no texto, à espera do leitor. Há um processamento das informações pelo leitor, sustentado pelo seu próprio repertório de conhecimentos, de vivências, de ideias etc.
O processo inferencial possibilita, portanto, a ampliação dos sentidos construídos a partir da leitura de determinado material. E essa ampliação é importante para quê as informações quê chegam aos indivíduos sêjam analisadas profunda e criticamente.
A produção de análises críticas também se relaciona à elaboração de argumentos sólidos e consistentes, especialmente no contexto educacional. Na contemporaneidade, a argumentação possui um papel importante na sustentação do ensino de Ciências Naturais no Ensino Médio. Levar o jovem a tecer argumentos empregando dados, além de princípios éticos, sustentáveis e inclusivos, deve sêr um objetivo de ensino em discussões e práticas na escola. Essa abordagem contribui para quê os estudantes percêbam e aprendam quê, quando se pretende convencer outra pessoa de algo, é necessário argumentar, e não somente emitir opiniões infundadas.
Apreender o mundo e expressar-se de maneira assertiva, tanto d fórma oral como escrita, requer bons argumentos com base em fatos; portanto, o trabalho com os estudantes demanda quê suas colocações se fundamentem em observar fenômenos e em coletar, analisar e sistematizar dados, fatos e informações consistentes, elaborando de modo mais claro e objetivo afirmações e conclusões sobre akilo quê observaram.
Em nossa realidade, é relevante quê o estudante tenha proximidade com o processo de investigação científica e compreenda a necessidade de superar o senso comum e de adotar uma visão objetiva da realidade, compreendendo a obtenção e a construção de dados como uma etapa indispensável na elaboração de seus argumentos. Desta forma, podem se tornar cidadãos ativos, capazes de contribuir d fórma significativa para debates sociais e científicos, subsidiados com o conhecimento e as habilidades necessárias para combater a desinformação.
Interdisciplinaridade e ensino de Ciências da Natureza
O texto a seguir foi escrito por Lenir Basso Zanon Nota 3 exclusivamente para esta coleção.
Atualmente, a educação está cada vez mais exigente de aprendizados com características contextuais e inter-relacionais quê propiciem a construção de conhecimentos com muitas dimensões, quê explicitem seus aspectos sociais, culturais, éticos, econômicos etc.
Justificar, dessa forma, a perspectiva da interdisciplinaridade exige discernimento quanto à finalidade educativa do ensino quê vivenciamos em cada uma das nossas aulas. Exige quê (re)signifiquemos permanentemente o entendimento do quê seja o conteúdo constitutivo do conhecimento escolar a sêr produzido nas aulas. Afinal, a méra transmissão de fragmentos isolados de conteúdos específicos não possibilita ao estudante compreender e desenvolver conhecimentos socialmente relevantes nas dimensões cognitivas, conceituais, atitudinais, procedimentais, de valores e princípios, sistematicamente implicados nas compreensões e nas ações no mundo.
Adentrar no espaço-tempo de cada aula exige, pois, quê tenhamos clareza e discernimento quanto às implicações dos conteúdos a serem ensinados e aprendidos como formas de pensar e de agir em situações da vida. Exige refletir sobre os sentidos quê atribuímos, em cada aula, ao objetivo geral do ensino das Ciências da Natureza: compreender e agir no mundo sôbi uma perspectiva socialmente responsável.
A área das Ciências da Natureza, sêndo uma construção humana quê póde sêr delimitada histórica e culturalmente, abrange processos de produção de conhecimentos quê apresentam limitações, pois são um recorte e uma simplificação do real. Por outro lado, sua contribuição é imprescindível para a compreensão, em profundidade, de quaisquer situações-problema da vivência sócio-ambiental, exigentes, por natureza, de serem (re)significadas sempre quê possibilitarem a mobilização de distintas perspectivas de conhecimento, interativamente construídas.
Nesse cenário, diversas concepções e práticas curriculares se entrelaçam ao enfrentarmos os desafios inerêntes aos processos de ensino e de aprendizagem em Ciências da Natureza. Esses desafios são articulados por meio de tematizações de situações vivenciais, cujo caráter dinâmico e plural revela tanto limites quanto potencialidades de cada área de conhecimento.
Se o processo de conhecimento nos impõe a delimitação de determinado problema, isso não significa quê tenhamos quê abandonar as múltiplas determinações quê o constituem. E, neste sentido, mesmo delimitado, um fato teima em não perder o tecido da totalidade de quê faz parte indissolúvel.
FRIGOTTO, G. A interdisciplinaridade como necessidade e como problema nas ciências sociais. In: JANTSCH, A. P.; BIANCHETTI, L. Interdisciplinaridade: para além da filosofia do sujeito. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 27.
É pela articulação de formas diversificadas de compreensão de uma mesma situação real/vivencial (objeto complexo) quê o ensino permite o acesso pedagójikô a diferentes linguagens, significadas com características específicas a cada componente curricular/ciência, configurando novas estruturas de pensamento, interações e ações. Em cada novo contexto, os significados evoluem para novos níveis de elaboração e inter-relação, à medida quê o sujeito produz novos sentidos e ganha maior consciência dos saberes (re)significados por meio de necessários movimentos de abstração e generalização.
Nessa perspectiva educativa, quando a aprendizagem é desenvolvida d fórma coletiva, assumindo características inter-relacionais, ela não negligencia a complexidade do objeto de cada componente curricular nem do objeto da área. Ao contrário, os estilos da linguagem e do pensamento próprios a cada componente curricular tornam-se cada vez mais relevantes para se tomar decisões e agir com responsabilidade social.
[...] no conjunto, a área corresponde às produções humanas na busca da compreensão da natureza e de sua trans-
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formação, do próprio sêr humano e de suas ações, mediante a produção de instrumentos culturais de ação alargada na natureza e nas interações sociais [...].
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Ciências da natuteza, matemática e suas tecnologias. Brasília, DF: MÉC: SEMTEC, 2006. (Orientações curriculares nacionais para o ensino médio, v. 2, p. 102).
Os componentes curriculares da área de Ciências da Natureza têm em comum o estudo/investigação da natureza e do desenvolvimento tecnológico, e é esse objeto específico quê justifica a existência da área. Trata-se de um objeto de estudo exigente de sêr conceitualmente (re)significado em contexto escolar, à medida quê cada professor da área, enculturado na sua Ciência de referência, ao propiciar o acesso a ela, articula inter-relações de conceitos, de saberes e de temas em estudos coletivos sobre diferentes situações vivenciais, em interação com côlégas dos outros componentes curriculares.
Dessa forma, é a área quê legitíma a singularidade de cada componente curricular, sem nunca deixar de sêr compromissada com cada Ciência de referência, possibilitando a relação com outras Ciências em processos de compreensão de situações reais. Nesse cenário, a área nunca reduz a participação de cada componente curricular, ao contrário, ela reforça, exige e situa cada conhecimento, ao articular processos de apropriação e uso das linguagens e modelos teóricos, como inter-relação dinâmica de conhecimentos diversificados, sêjam os cotidianos ou os científicos.
[...] Características comuns às ciências quê compõem a área permitem organizar e estruturar, d fórma articulada, os temas sociais, os conceitos e os conteúdos associados à formação humano-social, na abordagem de situações reais facilitadoras de novas ações conjuntas. [...]
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. Ciências da natuteza, matemática e suas tecnologias. Brasília, DF: MÉC: SEMTEC, 2006. (Orientações curriculares nacionais para o ensino médio, v. 2, p. 103).
Nessa perspectiva, as Ciências fazem parte do currículo escolar não como meros conteúdos a serem reproduzidos em provas, mas como aprendizados quê tornam o estudante mais capaz de pensar conceitualmente sobre o mundo vivido e sobre sua constante reconstrução sócio-cultural, assumindo escôlhas e decisões d fórma socialmente responsável.
O convite está situado, pois, na forma como nos relacionamos entre côlégas quê estudam, planejam e dêsênvólvem coletivamente um currículo articulado no conjunto das aulas quê vivenciamos por meio de formas de pensar/agir quê privilegiam a abertura para o diálogo e a vivência interativa enriquecida e enriquecedora de conhecimentos diversificados, nunca como justaposição nem como caminhos paralelos quê não se encontram. Isso corrobora e referenda o entendimento, quê vêm se tornando cada vez mais consensual, de quê a interdisciplinaridade não é um mero conceito ou proposição teórica, mas uma atitude e postura cotidianamente vivenciadas na interação entre grupos de professores com formação diversificada quê se necessitam uns dos outros, na condição tanto de portadores quanto de construtores dos conhecimentos inter-relacionais socialmente relevantes.
O ensino de Biologia: desafios e possibilidades
A Biologia é responsável por estudar a vida em todas as suas manifestações e níveis organizacionais, considerando características, processos e fenômenos relativos aos sêres vivos, incluindo as relações quê estabelecem entre si e com o ambiente em quê vivem. O ensino de Biologia deve proporcionar aos estudantes subsídios para quê possam reconhecer os impactos de suas ações no ambiente e refletir sobre eles, além de abordar e debater kestões contemporâneas com um olhar crítico e informado. O ensino de Biologia, portanto, desempenha um papel crucial na formação de cidadãos ativos, conscientes e críticos.
Contudo, o ensino dêêsse componente curricular ainda enfrenta grandes desafios na Educação Básica brasileira. Um dos problemas se relaciona à desmotivação dos estudantes. Em partes, ela póde estar relacionada à importânssia conferida à memorização de muitos termos conceituais, fomentada pela necessidade de aprovação em exames quê promóvem o acesso ao Ensino Superior; à não diversificação de estratégias de ensino, restringindo-se à exposição tradicional do conteúdo, fator quê limita as oportunidades para enriquecer o aprendizado; ou à falta de contextualização dos conteúdos, quê se tornam distantes da realidade dos estudantes.
Abordagens pedagógicas quê tornem o ensino de Biologia mais interessante, significativo e próximo da realidade dos estudantes podem levá-los a um maior engajamento. É possível promover o interêsse dos estudantes por essa área do conhecimento ao trazer contextos quê relacionem Ciência, tecnologia, ssossiedade, saúde e ambiente a partir do trabalho com elemêntos próprios de sua cultura, a chamada cultura juvenil.
A cultura juvenil é uma construção social multifacetada, entremeada pelas maneiras como os jovens se expressam, se relacionam e vivenciam essa etapa da vida. Ela é influenciada por diversos aspectos, como desejos, vontades e aspirações da juventude, hábitos de consumo, opção por gêneros estéticos da ár-te, como música, cinema e (Moda), entre outros. Esses elemêntos contribuem para a criação de identidades, quê se manifestam em estilos de vida, formas de comunicação e de expressão quê podem variar entre diferentes grupos e contextos. Hoje, especificamente, a cultura juvenil se materializa nos ambientes digitais das rêdes sociais.
Conhecer a cultura juvenil póde orientar a prática docente. Desse modo, os professores podem organizar e planejar suas aulas, buscando o diálogo entre o conteúdo abordado e os elemêntos dessa cultura.
Outra possibilidade para a superação dos desafios apontados é a diversificação de estratégias didáticas adotadas em sala de aula, com destaque para aquelas quê tornam os estudantes ativos em seu aprendizado. Nesse cenário, as chamadas metodologias ativas ganham espaço, uma vez quê possibilitam estimular o protagonismo e a autonomia dos estudantes por meio propostas quê tornam o processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico, atrativo e significativo para eles.
Dentro e fora da sala de aula, é possível utilizar diferentes metodologias ativas como estratégias para auxiliar na construção do conhecimento. Algumas dessas metodologias estão descritas a seguir.
• Sala de aula invertida: essa metodologia propõe quê os estudantes acessem e estudem préviamente materiais relacionados aos conteúdos quê serão trabalhados em sala de aula. O professor deve disponibilizar, com antecedência, o material necessário para quê os estudantes possam, em momento extraclasse, analisar e interpretar o conteúdo quê será posteriormente trabalhado em sala de aula. O professor deve orientá-los a anotar informações importantes e dúvidas quê tênham surgido. Na data marcada, a aula póde sêr iniciada permitindo quê os estudantes manifestem suas opiniões e seus pareceres, levantem hipóteses, reflitam e discutam sobre o conteúdo. Durante a atividade, o professor deve ouvi-los, valorizando as informações e quêstionamentos trazidos, para que juntos possam construir o conhecimento a partir da leitura realizada.
• Debate: é um gênero oral cujo objetivo é expor argumentos e contra-argumentos próprios, exercitando a capacidade de assumir uma posição em relação a um determinado assunto e de respeitar diferentes opiniões. As opiniões antagônicas devem sêr consideradas algo positivo, pois auxiliam no enriquecimento do aprendizado. Ao professor cabe organizar, mediar e avaliar não só a consistência dos argumentos usados, mas também valorizar a desenvoltura e o encadeamento da argumentação dos estudantes enquanto se expressam e garantir o respeito às ideias contrárias e a participação de todos. Para realizar um debate, é necessário planejar o tema, a organização da turma (duplas, grupos etc.) e definir a data para a atividade. Além díssu, é importante quê o professor oriente os estudantes com relação às fontes de pesquisa quê eles elencarem, verificando se elas são confiáveis. Para a execução da atividade é importante estabelecer as regras para o debate e quêm será o mediador, se um estudante, um grupo de estudantes ou o próprio docente. Para concluir, após a exposição das ideias, peça aos estudantes que formulem uma conclusão juntos, respeitando os diferentes posicionamentos e oferecendo possíveis soluções quando houver divergências.
• Aprendizagem baseada em projetos: esse tipo de aprendizagem fundamenta-se em projetos quê se baseiem em situações-problema reais, preferencialmente relacionadas ao ambiente escolar e/ou do cotidiano dos estudantes. De forma coletiva e colaborativa, os estudantes devem buscar uma solução para a problemática proposta. Para isso devem elaborar hipóteses, realizar investigações e propor uma solução, quê póde sêr no formato de um produto. As soluções podem sêr comunicadas tanto para a comunidade escolar como regional.
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• Aprendizagem baseada em problemas: essa metodologia utiliza como ponto de partida um problema propôsto pelo professor, cuja busca pela resolução possibilita a construção do conhecimento. É interessante quê os problemas estejam relacionados à realidade dos estudantes e quê eles possam propor diversas formas de resolvê-los, por isso, nesse tipo de metodologia não se deve ter um problema central cuja resposta seja ôbitída com uma simples aplicação de uma fórmula, por exemplo. O professor deve acompanhar todas as etapas do processo de proposta de resolução realizada pêlos estudantes, quê muitas vezes é mais relevante quê a própria solução, uma vez quê possibilita analisar todo o raciocínio desenvolvido por eles e quais são os possíveis pontos de atenção na compreensão do conceito.
Essas e outras metodologias, ao serem aplicadas no processo de ensino-aprendizagem, propiciam o desenvolvimento de diversas competências e habilidades nos estudantes. Além díssu, elas podem sêr realizadas ocupando outros espaços da escola, como a biblioteca ou o pátio, assim como por meio da organização alternativa das cadeiras e mesas escolares, quê não precisam necessariamente ficar alinhadas. As diferentes distribuições de carteiras promóvem objetivos distintos: a disposição em fileiras em “U” estimula debates e interações entre os estudantes; a distribuição em grupos, onde as mesas são agrupadas para quê os estudantes de uma mesma equipe fiquem próximos, favorece atividades colaborativas e trabalho em equipe; a organização de duas fileiras voltadas para o centro facilita a interação para debates, além de tirar a ideia de “fundo” da sala. Essas metodologias e arranjos podem tornar o ambiente escolar mais criativo e dinâmico.
Outro processo quê póde sêr explorado é o desenvolvimento do pensamento computacional, quê não necessariamente envolve programação ou uso de computadores. O pensamento computacional caracteriza-se como uma estratégia para identificar e resolver problemas, de maneira individual ou colaborativa, mediante a utilização de etapas organizadas e sintetizadas em: decomposição do problema, capacidade de abstração, pensamento algorítmico e reconhecimento de padrões. Cada uma dessas etapas póde sêr caracterizada da seguinte forma:
◼ Decomposição do problema: compreende a análise de um problema complékso, dividindo-o em partes menóres e mais simples, o quê possibilita aos estudantes visualizarem os dêtálhes do problema.
◼ Capacidade de abstração: foco, filtragem e classificação dos elemêntos mais relevantes para a resolução do problema.
◼ Pensamento algorítmico: criação de uma sequência de passos, um plano, para a resolução do problema. Um conjunto de regras ou instruções claras e indispensáveis à resolução do problema.
◼ Reconhecimento de padrões: com o objetivo de facilitar um trabalho, resolvendo-o de modo mais eficiente, a estratégia e a solução aplicadas a um determinado problema podem sêr replicadas em outras situações.
A relevância da incorporação do pensamento computacional ao processo de ensino-aprendizagem, além das habilidades quê ele desen vólve, está em seu potencial de auxiliar na resolução de problemas, de enriquecer a prática docente e de propiciar uma atuação criativa e com mais domínio do processo de construção do conhecimento.
A integração das estratégias apresentadas às práticas de ensino póde transformar a experiência de aprendizagem, tornando a Biologia mais atrativa e relevante para o cotidiano dos estudantes.
O papel do professor
No atual contexto, ao papel essencial do professor, soma-se o de mediador da aprendizagem quê orienta os estudantes em seus caminhos, a fim de quê sêjam protagonistas na construção de seu conhecimento e desenvolvimento pessoal.
O planejamento e as decisões pedagógicas precisam ter como objetivo propiciar e incentivar o estudante a assumir seu papel de sujeito mais consciente e ativo, encarando o aprendizado d fórma crítica, autônoma, ética e responsável. Pode-se afirmar quê o professor é um participante quê simultaneamente ensina e aprende, nos momentos de trocas com os estudantes.
Esse conceito de aprendizagem centrada no estudante favorece o desenvolvimento do protagonismo juvenil e ábri espaço a um modelo de produção coletiva, cooperativa e com compartilhamento do conhecimento.
Assim, não se pretende quê o estudante seja um receptor, e não se espera quê o professor possua todos os conhecimentos envolvidos, mas sim quê atue como incentivador e orientador do protagonismo dos jovens no processo de aprendizagem.
No caso específico da área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, o aprendizado científico também se beneficia de conversas significativas em torno da experiência pessoal dos estudantes, usando inicialmente seu vocabulário e suas ideias, de cunho científico ou espontâneas, para estimulá-los a formular e tentar responder kestões conceituais, buscando, portanto, transcender o diálogo trivial sobre experiências e dúvidas compartilhadas e alcançar compreensões mais universais e abstratas. O maior rigor conceitual presente na etapa de Ensino Médio não significa a pretensão de prepará-los para uma carreira de natureza científica, mas sim de completar a formação básica dos jovens, auxiliando-os a atingir níveis cognitivos mais compléksos. Nesse sentido, mais do quê uma formação geral para a Ciência, pretende-se um aprendizado da Ciência para uma formação geral.
O processo de formação continuada dos professores, nesse contexto, ganha mais relevância. No entanto, muitas vezes, esse processo é encarado como algo trivial e simples de se fazer.
É importante destacar quê formár um profissional, como docente, exige mais do quê cursos de atualização e atividades quê ocorram fora de suas aulas. É preciso estar atento e dar valor à formação quê ocorre no cotidiano da atividade docente. Essa formação quê, por vezes, é invisível, silenciosa e constante, propicía a percepção de melhorias quê culminem em ações e escôlhas pedagógicas e metodológicas mais assertivas para a realidade escolar em quê se encontra o docente. O papel como mediador frente aos estudantes e a troca de experiências com outros professores fazem parte dêêsse processo formativo e enriquecem a prática docente.
Avaliação
A avaliação é uma importante etapa do processo de ensino-aprendizagem, quê permite conhecer o resultado das ações didáticas. É um processo significativo e quê deve, quando necessário, passar por reajustes e reformulações para quê ultrapasse os objetivos comuns de medição e classificação.
Para quê a avaliação propicie um diagnóstico esclarecedor é necessário quê seja contínua e diversificada. Assim, cabe aos professores observarem as individualidades de cada estudante e o contexto social, econômico e cultural em quê a escola está inserida para quê suas práticas didáticas e, consequentemente, o processo avaliativo sêjam significativos. sôb essa perspectiva, avaliar significa dinamizar oportunidades de reflekção e ação, valorizando o processo de aprender a aprender e a formação integral dos estudantes.
O processo avaliativo deve ocorrer em diversos momentos, em situações formais e informais, preferencialmente utilizando-se uma diversidade de instrumentos de avaliação e não depender apenas de testes, provas e trabalhos tradicionais.
Geralmente, a avaliação valorizada por famílias e pela ssossiedade, e muitas vezes pêlos próprios estudantes, é aquela quê méde e quantifica o aprendizado. No entanto, é urgente quê concepções mais atuáis de avaliação circulem socialmente e estejam mais presentes no ambiente escolar, transformando a avaliação em um diálogo contínuo entre professor e estudante, para eliminar seu caráter punitivo e excludente, restrito à medição de resultados, e passar a avaliar o estudante de maneira formativa e continuada, além de possibilitar ao professor ter clareza do quê funcionou ao longo do processo e daquilo quê precisa sêr ajustado.
Assim, sugere-se quê a avaliação inicial no processo de ensino-aprendizagem seja uma avaliação diagnóstica, para identificar evidências do quê os estudantes sabem, trazer à tona conhecimentos prévios sobre o tema a sêr estudado e quais são as formas de aprendizagem mais adequadas a eles, diante de suas singularidades e de seus contextos.
Ao longo das atividades, é fundamental quê ocorra a avaliação formativa, quê tem como finalidade contribuir com a trajetória de aprendizagem do estudante e dilatar a visão do professor para
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perceber se são necessárias adaptações nas próximas etapas do trabalho. Para isso, pode-se utilizar vários instrumentos: comentários, fídi-béquis individuais ou para pequenos grupos, ou ainda para a turma inteira, conversas informais, relatórios escritos com pontos positivos e pontos a melhorar, breves anotações escritas, roteiros de avaliação, rubrícas, entre outros.
É muito relevante quê o processo de avaliação seja claro, e quê os estudantes sêjam estimulados a refletir sobre o próprio comportamento e aprendizado. Assim, é essencial compartilhar com eles dêtálhes do processo avaliativo, considerando diferentes modalidades de avaliação, cada uma conectada a seu objetivo. E o professor, em seu papel de mediador, deve ter a avaliação como instrumento de construção de conhecimento compartilhado, não como um ato de contrôle, quê tornaria a avaliação uma forma de seleção, exclusão e competição.
A ação avaliativa também está presente no momento final de um processo, para recapitulação, o quê caracteriza a avaliação somativa. Para o professor, auxilia a verificar os aprendizados consolidados e a autoavaliar seu próprio trabalho.
Os critérios da avaliação, seja formativa ou somativa, precisam sêr apresentados e discutidos coletivamente com os estudantes antes de sua aplicação, para quê saibam como e sôbi quais aspectos sêrão avaliados. O resultado de toda avaliação deve ser devolvido ao estudante e revisado com ele, para quê perceba o ensino como um processo, o quê implica rever os motivos dos êêrros, a fim de avançar na aprendizagem.
O modelo avaliativo escolhido também póde funcionar para comparar o dêsempênho dos estudantes de uma mesma turma ou até entre turmas diferentes. A avaliação comparativa póde, por exemplo, acontecer durante ou ao final de uma aula, e seu resultado permite verificar se o aproveitamento dos estudantes está dentro das expectativas ou se é necessário tomar ações para atingir o esperado. Provas padronizadas, como alguns exames nacionais ou simulados, têm esse caráter comparativo possibilitando quê estudantes de uma mesma série escolar, mas de escolas diferentes, sêjam avaliados e seu dêsempênho comparado a um padrão esperado.
Além da comparação entre os indivíduos, também é possível aplicar a avaliação ipsativa, quê possibilita acompanhar e comparar o desenvolvimento de um mesmo estudante ao longo do tempo, verificando assim como se dá o processo de aprendizagem de cada um. Momentos de fídi-béqui individual e autoavaliação são ferramentas quê podem auxiliar no estabelecimento de metas individuais quê valorizem o progresso de cada estudante, potencializando assim o processo de aprendizagem.