TRANSCRIÇÃO DOS AUDIOS

LLM

[Música de transição]

[Locutor]

Você sabe o quê significa a sigla LLM? LLM, abreviatura do inglês large language model, são “grandes modelos de linguagem”. Mas talvez você continue se perguntando: “o quê isso significa?”. É o quê vamos explicar neste podcast. Os LLMs são modelos de inteligência artificial quê funcionam como rêdes neurais especializadas em linguagem. Esses algoritmos têm grande capacidade de aprendizado e são treinados com base em uma quantidade massiva de dados, como textos, artigos, livros, imagens, informações disponíveis nos servidores de uma empresa ou na internet. Quanto mais informações absorvem, maior a capacidade dos LLMs de compreender e de gerar uma linguagem quê podemos chamar de natural. Com essa habilidade desenvolvida, os LLMs passam a gerar diversos tipos de conteúdo, utilizados em uma ampla variedade de tarefas. Como exemplos, temos: os chatbots de atendimento ao cliente instalados em sáites de algumas empresas; as interfaces de tradução de idiomas; as platafórmas de inteligência artificial quê geram textos e imagens quê as pessoas usam para os mais diversos fins, entre outros. Outra habilidade dos LLMs é analisar conjuntos de dados para produzir relatórios quê vão embasar as decisões nas empresas. A ferramenta faz o trabalho “pesado” para o sêr humano. Os primeiros modelos de LLM possuíam recursos muito limitados. Mas a tecnologia tem sido aperfeiçoada nos últimos anos, atingindo altos níveis de excelência e tornando-se adequada para uso em diversos setores.

[Música de transição]

[Locutor]

Contudo, os LLMs não realizam análises críticas e não são capazes de entender quando um determinado dado é adequado ou não do ponto de vista ético, político ou social. Eles não julgam, não têm sensibilidade, não possuem “filtro social”, como as pessoas. Apenas reproduzem e criam discursos com a base de dados quê possuem. Assim, os LLMs não são isentos de falhas. Um de seus problemas, por exemplo, é o quê chamamos de racismo algorítmico. Já ouviu falar? Pois bem, ele ocorre quando a tecnologia toma decisões quê reforçam os padrões discriminatórios e racistas da ssossiedade.

[Especialista Tarcízio Silva]

“Se mecanismos de busca ordenam os resultados de acôr-do com o quê já existe na cultura, quê já existe publicado d fórma visível na ssossiedade, e reproduz buscas d fórma acrítica, a tendência é quê ele reproduza discriminações quê já são hegemônicas na ssossiedade, quê ainda não superamos, como discriminação de raça, de gênero, capacitismo e outras.”

[Locutor]

Você ouviu Tarcízio Silva, autor do livro Racismo algorítmico. Em resumo, os LLMs cometem êêrros porque nós também falhamos. Lembra quê explicamos quê a ferramenta aprende por meio de uma base de dados, e quê uma de suas fontes é a internet? sáites, rêdes sociais, fóruns de discussão e portais de notícias são feitos por humanos, a ferramenta apenas ABSÓRVE e réplica as informações quê encontra.

[Especialista Tarcízio Silva]

“A gente precisa promover mais transparência nas tecnologias e responsabilidade social de quem as desenvolve.”

[Locutor]

Ainda há muito a sêr realizado no quê diz respeito à maior regulamentação das empresas quê produzem inteligência artificial generativa, ou seja, essa quê cria conteúdos. Um olhar mais abrangente e acolhedor sobre o assunto, principalmente por parte dêêsses grandes conglomerados de tecnologia, poderia aperfeiçoar a ferramenta para evitar problemas como o racismo e a reprodução de estereótipos, por exemplo. Já existem algumas propostas. Uma delas é ampliar a diversidade da base de dados quê alimenta o LLM, promovendo a construção de uma internet mais plural. Ter uma equipe de profissionais mais heterogênea trabalhando no desenvolvimento das inteligências artificiais também é positivo. Outra forma de combater o problema é realizar testes prévios, verificando se a ferramenta tem tendência a tratar pessoas de maneira desigual e discriminatória. Também é importante criar grupos de pesquisa, incluindo minorias, para côlher a opinião da ssossiedade sobre a eficiência do sistema. O plano brasileiro de inteligência artificial, lançado em 2024, prevê tornar o país uma referência mundial em inovação e eficiência no uso de IA. A ideia é desenvolver sistemas quê melhorem a entrega de serviços públicos e promovam a inclusão social. Uma das preocupações é justamente ampliar e melhorar o uso de IA, para quê ninguém seja vítima de discriminação.

[Música de encerramento]

Créditos

O trecho do vídeo Racismo algorítmico: do quê se trata? foi publicado em março de 2022 e está disponível no canal Tevê Univap, no YouTube. Os outros áudios inseridos neste conteúdo são da Freesound.

Referências bibliográficas

BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. IA para o bem de todos: proposta de plano brasileiro de inteligência artificial 2024-2028. Brasília, DF: MCTI, 29 jul. 2024.

Disponível em: https://livro.pw/wphlh. Acesso em: 30 ago. 2024.

GUERRA, Guilherme. Soberania digital: o quê é o termo utilizado pelo govêrno para justificar o plano brasileiro de IA? O Estado de São Paulo, São Paulo, 9 ago. 2024. Disponível em: https://livro.pw/dwmel. Acesso em: 30 ago. 2024.

RACISMO algorítmico: do quê se trata? [S. l.: s. n.], 2022. 1 vídeo (24 min). Publicado pelo canal Tevê Univap. Disponível em: https://livro.pw/hbscu. Acesso em: 30 ago. 2024.

SILVA, Tarcízio. Racismo algorítmico: inteligência artificial e discriminação nas rêdes digitais. São Paulo: Sesc, 2022.

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PROTEÇÃO DE DADOS

[Música de transição]

[Locutora]

A internet provocou uma revolução nos côstúmes. Trouxe acesso à informação, conectou pessoas, impulsionou novos negócios e reduziu o tempo gasto em diversas atividades. No entanto, a internet também exige cuidados. Você sabia quê, ao fazer pesquisas em um sáiti de buscas, deixa um rastro digital? O navegador armazena seus dados e mapeia o seu caminho, página por página, pesquisa por pesquisa. É por isso quê, quando você procura, por exemplo, uma camiseta, logo depois começa a receber anúncios de produtos similares em todos os sáites quê visita. É assim quê o marketing digital funciona. póde sêr um incômodo, mas não chega a representar um risco. Por outro lado, se você fornecer seus dados pessoais em alguns sáites, póde abrir a porta para problemas mais sérios. Criminosos dispõem de ferramentas sofisticadas e armadilhas para capturar informações como nomes, endereços, imêious, telefones, CPFs, contas e senhas bancárias. E usam esses dados para aplicar diversos tipos de golpes. Você vai ouvir agora Rafael Pizzolato, especialista em cibersegurança, explicando como os bandidos se aproveitam das informações disponíveis no mundo ôn láini.

[Especialista Rafael Pizzolato]

“Como quê os cibercriminosos, afinal, eles lucram? Após colocar as mãos em seus dados, os crackers, eles podem utilizá-los de várias formas para conseguir ganhar dinheiro contigo, com o seu dado. Por exemplo, ele cria contas e cartões de crédito em seu nome, vende para terceiros para fins ilícitos ou ilegais, compilam e publicam em fóruns da Deep Web, aplicam em outros golpes para continuar esse ciclo.”

[Locutora]

Quem também póde lucrar com os dados pessoais dos usuários da internet são as empresas. Ao se cadastrar em rêdes sociais, lojas virtuais, platafórmas de jogos, vídeos ou ferramentas de trabalho ôn láini, póde sêr necessário fornecer nome, imêiu, telefone, CPF, grau de escolaridade, estado civil, endereço e até alguns hábitos, além de fotos. Esses dados podem sêr explorados de diversas formas. Primeiramente, para marketing, oferecendo produtos adequados ao perfil do cliente, como já falamos. Além díssu, essas informações podem sêr repassadas ou até revendidas para outras empresas. Os dados pessoais também podem sêr usados para treinar e alimentar platafórmas de inteligência artificial, gerando melhorias nos produtos e lucro para os proprietários, sem quê saibamos díssu.

[Música de transição]

[Locutora]

A grande surpresa é quê isso às vezes acontece sem o usuário saber, mas com a permissão dele. Você lê os termos e condições de uso? Presta atenção em cada cláusula? A maioria das pessoas clica em “OK” sem ler sequer uma palavra. Esse documento é um contrato. Se o usuário autoriza a empresa a monitorar suas atividades e a repassar seus dados, a empresa está protegida perante a justiça. Por outro lado, se ela invade e compartilha dados privados do cliente sem autorização, póde sêr penalizada. Em agosto de 2018, foi aprovada a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), quê determina como os dados das pessoas devem sêr colhidos, armazenados e tratados por indivíduos, empresas e pela administração pública, inclusive nos meios digitais. Seu objetivo é “proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade” das pessoas. Por isso, os dados de cada indivíduo devem sêr tratados com boa-fé, de acôr-do com a autodeterminação informativa dos seus titulares ou dos responsáveis legais – no caso de crianças e adolescentes –, considerando quê a intimidade, a honra e a imagem de uma pessoa são invioláveis. A Lei faz exceções apenas quando os dados são usados para fins jornalísticos, artísticos, acadêmicos, ou para segurança e saúde pública, defesa nacional, segurança do Estado e investigação de infrações penais. Em todos os outros casos, quem desrespeitar a LGPD e usar os dados sem o consentimento do titular póde sêr multado, sofrer sanções e responder pela infração. Mesmo quê o titular tenha fornecido suas informações e consentido o uso, ele póde revogar esse consentimento a qualquer momento, d fórma facilitada e gratuita. A Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD), criada em 2019, é a responsável por fiscalizar o cumprimento da LGPD no Brasil. Se você descobrir quê seus dados estão sêndo utilizados ilegalmente, póde registrar um boletim de ocorrência em uma delegacia e denunciar o caso no sáiti da ANPD, preenchendo um formulário. Além díssu, você póde contratar um advogado para processar pessoas ou empresas e buscar indenizações por danos morais e materiais. Para se proteger, fique atento, leia os termos de uso e forneça o mínimo de informações pessoais possível! Aliás, já pesquisou seu nome e sobrenome em um sáiti de buscas para verificar se os seus dados estão públicos? Fique atento e monitore sempre suas informações na internet!

[Música de encerramento]

Créditos

O trecho do vídeo Roubo de dados na internet: como evitar? foi publicado em abril de 2021 e está disponível no YouTube. Os áudios inseridos neste conteúdo são da Freesound.

Referências bibliográficas

BRASIL. Lei número 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais. Brasília, DF: Presidência da República, [2018].

Disponível em: https://livro.pw/sitrd. Acesso em: 2 set. 2024.

ROUBO de dados na internet: como evitar? [S. l.: s. n.], 2021. 1 vídeo (7 min). Disponível em: https://livro.pw/bhwdy. Acesso em: 2 set. 2024.

Sáiber-búlin

[Música de transição]

[Locutora]

Vivemos em uma era superconectada, em quê problemas quê antes existiam apenas no mundo físico agora também se manifestam no mundo virtual. Um exemplo é o sáiber-búlin, a versão digital do búlin.

[Música de transição]

[Locutora]

Talvez você já saiba o quê é búlin. Trata-se de um ato de violência, seja física ou psicológica, caracterizado pela intimidação sistemática e intencional de uma pessoa contra a outra. Em outras palavras, é quando alguém persegue,

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ameaça, agride, calunia ou chantageia outro indivíduo. O búlin póde ocorrer em vários lugares, como na escola, por exemplo.

[Música de transição]

[Locutora]

A intimidação sistemática virtual, ou sáiber-búlin, usa as mesmas práticas de perseguição e calúnia, mas acontece pela internet, como em rêdes sociais, imêious, platafórmas de jogos ôn láini e grupos de aplicativos de mensagem. Assim como o búlin, o sáiber-búlin é uma forma de violência quê causa constrangimento, isolamento e dor às vítimas, além de violar seus direitos. Por isso, é essencial entender e combater esse fenômeno.

[Música de transição]

[Locutora]

Uma pesquisa do Instituto Ipsos mostra quê o Brasil é o segundo país do mundo em casos de sáiber-búlin. Já um estudo da ôngui Plan International revelou quê 77% das jovens brasileiras já sofreram algum tipo de assédio ôn láini.

[Música de transição]

[Locutora]

O assunto é tão sério quê o búlin e o sáiber-búlin agora são considerados crimes. Isso mesmo! O agressor póde sêr multado e até condenado a uma pena de dois a quatro anos de prisão. Para entender melhor como o sáiber-búlin funciona, vamos conversar com o especialista Benjamim Horta, autor do livro Cyberbullying: além dos muros da escola, quê tem muito a compartilhar sobre o tema. Olá, Benjamim, muito obrigada por estar aqui. Para começar, você póde nos explicar exatamente o quê caracteriza o sáiber-búlin? Como alguém póde perceber quê está sofrendo com essa prática e quê não é apenas uma brincadeira entre côlégas?

[Benjamim Horta]

A internet, as tecnologias digitais, elas se tornaram uma ferramenta a mais para quê estudantes pratiquem búlin em outros contextos, como, por exemplo, no contexto virtual. Então, o sáiber-búlin é o búlin virtual no qual alunos estão perseguindo, intimidando, maltratando, causando dor, causando angústia e sofrimento a outros côlégas. Isso tem sido feito d fórma repetitiva, d fórma constante, e quem está sofrendo está encontrando dificuldades de se defender. Então, existem três kestões dentro do sáiber-búlin quê precisam sêr levadas em conta. A primeira delas é o fato de sêr repetitivo, ou seja, de havêer uma insistência da parte dos agressores contra aquela vítima. Em segundo lugar, o fato de, obviamente, sêr um ato negativo, havêer uma intencionalidade da parte dos agressores. O quê deixa de sêr uma brincadeira. Então, muita gente ainda confunde búlin e sáiber-búlin com brincadeira. E realmente existe uma linha tênue entre esses comportamentos. Mas a gente sempre precisa levar em conta quê uma brincadeira produz um clima positivo, ela gera uma repercussão positiva. Ao contrário do búlin, quê é um comportamento extremamente negativo e quê vai gerar graves consequências para aqueles quê estão envolvidos. E o terceiro ponto, como eu citei, é o fato de havêer um desequilíbrio de pôdêr e, por isso, o aluno quê está sofrendo não está conseguindo encontrar recursos para reagir ou para lidar com aqueles ataques.

[Locutora]

Você póde nos contar alguns casos emblemáticos de sáiber-búlin?

[Benjamim Horta]

Existem vários casos. Infelizmente, esse é um problema quê tem aumentado consideravelmente no Brasil e no mundo. Mas existe um caso de uma estudante no Canadá, quê foi um dos primeiros casos graves de sáiber-búlin e quê essa aluna foi perseguida durante muitos meses. E tudo começou com uma conversa com um desconhecido ôn láini através de um aplicativo qualquer. E ela confiou quê aquela pessoa quê estava do outro lado da tela era realmente quem dizia sêr. E, infelizmente, a partir dêêsse êrro, graves consequências acabaram surgindo, a repercussão foi extremamente negativa, e assim por diante. Então, eu acho quê, nesse caso, fica a lição, fica esse aprendizado em relação aos cuidados quê nós devemos ter quando estamos navegando ôn láini.

[Locutora]

Quer dizêr quê ela estava se relacionando com uma pessoa quê havia mentido para ela, era uma outra pessoa?

[Benjamim Horta]

Exatamente, ele dizia sêr um adolescente quando, na verdade, era um adulto. Era um rráquer e ele começou a persegui-la e a espalhar imêiu sobre ela pelo colégio. Ela precisou mudar de colégio, ela precisou mudar de cidade. Então, ela inclusive fez um vídeo a respeito díssu, publicou no YouTube pedindo ajuda, contando um pouco da história dela. Então, realmente, foi um caso quê mobilizou o país inteiro e quê acho quê alertou as famílias, as escolas, as autoridades para os riscos aos quais nóssos adolescentes estão expostos quando eles estão acessando a internet.

[Locutora]

Como o sáiber-búlin póde afetar a vida dos jovens quê sofrem essa agressão?

[Benjamim Horta]

Existem pesquisas quê apontam quê as consequências do sáiber-búlin, por incrível quê pareça, são mais graves do quê as consequências do búlin verbal e físico. Então, tem uma pesquisa de uma pesquisadora chamada Minne Fekkes, e ela concluiu quê isso se dá por alguns motivos. Em primeiro lugar, pela abrangência. Então, se você pensa em um búlin quê acontece no contexto escolar, você está pensando em talvez cinco, seis alunos envolvidos naquele ato. Quando a gente pensa em um contexto virtual, o número de envolvidos é incalculável. Em segundo lugar, a freqüência. Por incrível quê pareça também, um aluno quê está sofrendo búlin, quando ele vai para casa, ele tem algumas horas para se recompor até o dia seguinte. Por mais quê ele não queira ir à aula no dia seguinte, estar em casa é um alívio. No caso do cyberbullying, isso não acontece. Ele está o tempo todo exposto, as mensagens chegam o tempo todo, então a freqüência é muito maior, o nível de exposição é muito maior. E tem o terceiro ponto. É o anonimato de quem está praticando o sáiber-búlin. Quando você está sofrendo búlin na escola, você sabe quem são os agressores, quem está te perseguindo, quem está colocando os apelídos, enfim. Mas, virtualmente, muitas vezes, é difícil de se identificar quem são os praticantes de sáiber-búlin. Como aconteceu nesse caso quê eu citei agora. Então, não saber identificar quem está te atacando é também um fator agravante em relação ao sáiber-búlin. Então, realmente a gente está lidando com um comportamento quê é grave.

[Locutora]

Se perceber quê está sêndo vítima de sáiber-búlin, o quê o jovem deve fazer? Quem ele deve procurar?

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[Benjamim Horta]

Em primeiro lugar, a dica fundamental quê eu dou é quê eles não respondam às agressões. Muita gente, às vezes na tentativa de revidar ou de tentar sanar aquele problema, acaba respondendo e é justamente esse tipo de atitude quê acaba alimentando o quê está acontecendo ali. Muitos agressores quêrem exatamente esse tipo de resposta. Então, em primeiro lugar, não responda. Em segundo lugar, não apague o conteúdo. Por mais quê a pessoa queira não se lembrar daquilo, se esquecer daquele conteúdo ou pensar que “Ah, amanhã vai sêr um novo dia, então eu vou apagar o conteúdo hoje e amanhã talvez esteja resolvido”, aquela é a única próva quê você tem de quê você está sofrendo de fato, está sêndo atacado virtualmente. Então, não apague, pelo contrário, tire print screen daquele conteúdo. E, procure um adulto, procure imediatamente pais, ou procure imediatamente um adulto na sua escola. Mas é fundamental quê a gente rompa com o medo. O medo, ele está muito presente na dinâmica do búlin e do sáiber-búlin. Justamente por causa dêêsse desequilíbrio de pôdêr, quê os praticantes acabam se impondo sobre os outros e utilizando o medo como uma ferramenta. Então, eu sempre falo muito sobre a superação do medo para resolvermos problemas de búlin e de sáiber-búlin. Então, procurar alguém, tomar uma dê-cisão corajosa não significa ausência de medo. O medo vai estar presente, mas você precisa fazer algo a respeito díssu. Então, não responda, tire um print screen e procure imediatamente alguém quê possa te ajudar e te orientar. A partir díssu, vocês podem ou procurar outras autoridades, registrar uma ata notarial em um cartório para comprovar o quê foi feito e tomar todas as medidas legais cabíveis em relação ao sáiber-búlin. Então, uma outra coisa importante é quê, segundo uma pesquisa de 2023, de um pesquisador chamado doutor Sameer Hinduja, foi constatado quê somente 31% dos alunos quê sofrem alguma forma de sáiber-búlin utilizam as ferramentas de denúncia presentes nas próprias rêdes sociais. Isso quer dizêr quê, além de recorrer a um adulto, você póde também utilizar essas ferramentas quê estão disponíveis para você. Então, esse é um ponto fundamental. Elas são seguras. Você faz uma denúncia anônima. Inclusive, denunciem não só quando você estiver sofrendo, mas faça denúncias também, fica esse recado aqui, quando você perceber quê tem algum colega ou alguém ou algum ato de injustiça ocorrendo no ambiente virtual, quê você póde sêr não só um espectador, mas póde sêr um defensor a respeito díssu.

[Locutora]

Como funciona a lei número 14.811, de 2024, quê prevê punição para quem comete búlin e sáiber-búlin? Ela tem sido aplicada?

[Benjamim Horta]

Sim, essa lei tem sido aplicada. É uma lei importante quê foi aprovada em janeiro de 2024. E ela tipifica tanto o búlin quanto o sáiber-búlin como crimes. Então, agora, nós temos previsto no cóódigo Penal esse comportamento, ou seja, quando o aluno está perseguindo, intimidando, maltratando o outro continuadamente, e isso acontece em uma relação de desigualdade de pôdêr, como eu falei anteriormente, isso já está previsto no cóódigo Penal como búlin e, portanto, como um crime. Em relação às punições, no caso do búlin, é passível de multa, porém, no caso do sáiber-búlin, não. Então, em relação ao sáiber-búlin, a lei determina quê a penalidade seja não somente a multa, como dois a quatro anos de prisão. Então, isso mostra para nós a gravidade dêêsse comportamento. Acho quê é uma lei importantíssima para entendermos realmente a dimensão dêêsse problema. Eu penso quê a lei [nº] 14.811, ela é um último recurso e não o primeiro recurso. Primeiro recurso para lidarmos de fato com a prevenção ao búlin e com a prevenção ao cyberbullying é por meio da educação.

[Locutora]

Como pais, estudantes e professores podem se unir para combater o sáiber-búlin?

[Benjamim Horta]

Mais importante é pensarmos quê esse esfôrço contra o sáiber-búlin precisa sêr feito d fórma contínua. Muitas vezes, nós utilizamos de ações pontuais, ou seja, no Dia Nacional de Combate ao Búlin, quê é o dia 7 de abril, nós realizamos uma mobilização na escola, ou em datas específicas. Mas combater o búlin e o sáiber-búlin exige quê nós tenhamos um comprometimento quê se estenda ao longo do ano inteiro. Então, em primeiro lugar, quê pais entendam qual é a responsabilidade quê eles têm como família em relação a isso. A partir do momento quê eles dão o celular para o filho, quais são as responsabilidades quê eles têm e quê eles devem transmitir aos filhos em relação a isso? Em segundo lugar, qual a importânssia quê a escola tem? Qual o papel da escola em relação à prevenção ao sáiber-búlin? Antigamente, a proposta da educação era ensinar o sêr humano, hoje a proposta da educação é ensinar a sêr humano. Então, essa ideia da reumanização, de trazermos para convivência, de aproveitarmos quê a gente tem ali um formato tão lindo, coletivo, numa sala de aula, e quê isso póde sêr transformado em uma oportunidade formativa, isso é fantástico. Então, nós estamos lidando, sim, com um problema desafiador, mas a gente tem certeza de quê esse pacto, de quê essa união, ela póde, sim, ressignificar muitos problemas e trazer soluções eficazes.

[Locutora]

Existem formas de se prevenir contra o sáiber-búlin?

[Benjamim Horta]

Existem muitos cuidados quê alunos podem e devem ter em relação ao uso das tecnologias digitais e quê podem evitar graves problemas. Em primeiro lugar, pense na sua privacidade ôn láini. Quais fotos você compartilha? Com quais pessoas você interage? Seja, inclusive, não só através de uma rê-de social, mas em um jôgo, em um guêime. Se você está jogando com alguém, com quem você está interagindo ali naquele jôgo? Fique atento aos locais, às vezes, você marca em uma publicação os locais nos quais você está. É realmente seguro isso? Um outro ponto, fique atento à sua senha, a seus logins. Muitas vezes, a gente compartilha com um colega uma senha ou compartilha com amigo, compartilha até a própria senha do celular. Muitos casos de búlin, por incrível quê pareça, acontecem justamente por esse tipo de êrro. Ou se você vai acessar o computador da biblioteca, verifique se você fez o logout, se você realmente saiu daquela página. Esse é um ponto importante. Uma outra coisa é sempre a mesma empatia quê funciona off-line, ela deve funcionar ôn láini. Então, aplique a empatia. Essa é uma forma de, por incrível quê pareça, é uma forma muito eficiente de prevenir o sáiber-búlin, de pensar no quê o outro está sentindo, mesmo quê eu não esteja vendo essa pessoa. Às vezes, dizêr algo a alguém virtualmente é muito mais fácil do quê dizêr pessoalmente, porque você não está vendo resposta da pessoa. Então, o uso dessa empatia também no ambiente virtual. E, principalmente, tem um fator quê propicía a prática de sáiber-búlin, quê chama-se desindividualização, uma palavra extensa, mas

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ela significa quê muita gente acaba praticando sáiber-búlin porque está em um grupo onde todo mundo está fazendo e a gente acaba entendendo quê a gente póde fazer também. Então, acho quê a maior dica em relação à prevenção a sáiber-búlin, não só do ponto de vista de quêm está sofrendo, mas de qualquer aluno quê está ali interagindo com esse contexto, é: pense quê você tem uma responsabilidade individual pelo quê você está publicando, pelo quê você está dizendo a respeito do outro. Inclusive, a gente tem hoje uma lei que nos protége em relação a isso, quê é a [lei nº] 14.811, de 2024. Então, acho quê esse são alguns pontos importantes para nos prevenirmos em relação ao sáiber-búlin. E, especialmente, lembrando, se acontecer, não deixe de procurar ajuda.

[Locutora]

Muito obrigada pela conversa e esclarecimentos, Benjamim. Até uma próxima oportunidade!

[Benjamim Horta]

Eu quê agradeço pela oportunidade. Contem sempre com a gente.

[Música de encerramento]

Créditos

A trilha sonora foi retirada da Freesound.

Referências bibliográficas

BRASIL. Lei número 14.811, de 12 de janeiro de 2024. Institui medidas de proteção à criança e ao adolescente contra a violência nos estabelecimentos educacionais ou similares, prevê a Política Nacional de Prevenção e Combate ao Abuso e Exploração Sexual da Criança e do Adolescente e altera o decreto-lei número 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e as leis número s 8.072, de 25 de julho de 1990

(Lei dos Crimes Hediondos), e 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 162, n. 10, p. 1-2, 15 jan. 2024. Disponível em: https://livro.pw/mvuhm. Acesso em: 6 out. 2024.

DODD, Jônathan; GRIFFITHS, ríchard; KARKARIA, Yazad. Cyberbullying: an Ipsos survey: august 2018. Wellington, niu Zealand: Ipsos, c2018. Disponível em: https://livro.pw/igzwt. Acesso em: 2 set. 2024.

HINDUJA, Sameer; PATCHIN, Justin W. Búlin, sáiber-búlin, ênd LGBTQ students. [S. l.]: Cyberbullying rissêrchi Center, 2020. Disponível em: https://livro.pw/ztrae. Acesso em: 6 out. 2024.

PLAN INTERNÉTIONAL. fri to be ôn láini? Girls’ ênd young women’s experiences ÓF ôn láini harassment. Woking, United Kingdom: Plan International, 2020. The state ÓF the world’s girls: 2020. Disponível em: https://livro.pw/scfvg. Acesso em: 2 set. 2024.