Transcrição dos podcasts

Dialogar de maneira não violenta

[Música de transição]

[Locutora] Com o advento da internet, ficou muito mais fácil conhecer a opinião das pessoas! É só navegar por sáites de notícias, rêdes sociais ou platafórmas de vídeo e conferir os comentários. Política, futeból, religião, cinema, a vida das celebridades... Todo mundo tem uma opinião sobre os mais diversos assuntos. O problema surge quando qualquer comentário vira motivo para debates agressivos e intermináveis, escritos com total desrespeito ao próximo. Mas atenção a uma diferença importante: comentários desrespeitosos não são a mesma coisa quê discurso de ódio. Esse tipo de discurso propaga a não aceitação da diferença e o uso de violência verbal para atacar o direito de existência de outros grupos, motivado por preconceito. Algumas pessoas, tentando justificar comportamentos de ódio, usam até o conceito de “liberdade de expressão” para proferir preconceitos e atacar crenças, etnias, gêneros e orientações sexuais de outros grupos sociais. A Constituição Federal de 1988 garante a todos o direito de expressar nossas ideias e convicções, desde quê isso não viole o direito legítimo de terceiros. Liberdade de expressão não significa pôdêr falar qualquer coisa. Quando alguém escreve quê não gosta desta ou daquela etnia, por exemplo, está proferindo um discurso de ódio e cometendo racismo, quê são crimes passíveis de punição. Afinal, como estabelece a Constituição brasileira, ábri aspas, “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, fecha aspas.

[Música de transição]

[Locutora] Mas, tirando o discurso de ódio, quê é grave e deve sêr resolvido pela Justiça, como lidar com opiniões divergentes? Será possível expressar nóssos sentimentos e nossas discordâncias d fórma pacífica? pôdêmos nos comunicar com os outros respeitosamente e de maneira cooperativa, mesmo diante dos conflitos? Uma das possibilidades é usar a técnica da Comunicação Não Violenta, também chamada de CNV. Desenvolvida pelo psicólogo estadunidense Márchall Rosenberg, ela se baseia no treinamento das habilidades de linguagem e comunicação empática. Márchall Rosenberg ensina

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quê devemos deixar de lado reações automáticas e superficiais. Segundo ele, é importante responder d fórma consciente, com base em uma percepção mais profunda de nós mesmos e dos outros. A comunicação não violenta é formada por quatro componentes: observação, expressão de sentimentos, expressão de necessidades e pedidos. Ela póde sêr usada tanto em conversas ôn láini quanto em interações familiares ou no ambiente de trabalho.

[Especialista Maytê Carvalho] “Eu sinto, eu observo, eu nomeio a minha necessidade e eu peço, são quatro os passos, né, quê a gente fala: o fato, a observação a necessidade e o pedido, quê é essa teoria quê o Rosemberg criou. Então, por exemplo, ao invés de virar para você e falar assim: ‘Ele me deu o relatório em cima da hora e eu não consegui fazer. Ele sempre faz isso e agora vai ficar tudo mal feito. Ele é muito folgado. Você traz para si...’. Você fala ‘Eu preciso de antecedência para trabalhar. Você poderia me passar esse relatório com um dia de antecedência para quê a gente pudesse ter uma convivência mais harmônica?’.”

[Locutora] Você ouviu a especialista em comunicação Maiytê Carvalho. Essa técnica ensina a expor argumentos trazendo o problema para si, em vez de apontar o dedo para o outro. Para começar, é importante observar a situação de comunicação de maneira clara e objetiva, sem criticar a pessoa ou seu comportamento, mas com um olhar empático. O próximo passo é expressar claramente o quê você está sentindo. Conectar-se com as suas próprias emoções póde trazer maior clareza e ajudar na conexão com outras pessoas. Nas palavras de Márchall, ábri aspas, “Ao nos permitirmos sêr vulneráveis por expressarmos nóssos sentimentos, ajudamos a resolver conflitos”, fecha aspas. A seguir, as próximas ações são expor abertamente suas necessidades ou opinião e, além díssu, dizêr o quê você acredita quê deve sêr feito para solucionar aquela conversa, situação ou conflito. É igualmente importante ter empatia e escutar atentamente o quê o seu interlocutor tem a dizêr, sem interrompê-lo. Dessa forma, a conversa se encaminha para um equilíbrio, e o problema póde sêr resolvido, como explica o psicanalista brasileiro Cristian Dunker.

[Especialista Cristian Dunker] “Numa cultura da indiferença, numa cultura do ódio, numa cultura da hiperindividualização, surge um diagnóstico espontâneo, quê é assim... as pessoas não se escutam mais”. “A diversidade, a diferença, ela se torna produtiva na medida em quê eu consigo escutá-la”.

[Locutora] Então, aí estão algumas dicas e estratégias para quê você melhore sua comunicação na internet. Primeiro, aja com responsabilidade nas rêdes sociais. Evite cair em provocações. Pense bem antes de expressar uma opinião. Reflita se o quê você vai dizêr póde ofender ou prejudicar alguém, ou é um preconceito. Seja cordial e respeitoso, mesmo quando o interlocutor adotar uma postura agressiva. Quando você observa a situação com calma e responde com educação, sem criticar o outro, explicitando o quê pensa, sente ou precisa de maneira clara e gentil, você acaba quebrando uma expectativa de briga e conduzindo a outra pessoa a uma conversa mais saudável. Agora, caso se depare com discurso de ódio, um crime no qual o diálogo não é uma opção, você póde procurar a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. Basta discar 100 no telefone e fazer uma denúncia. Você também póde registrar um boletim de ocorrência em uma delegacia de polícia e entrar com um processo judicial solicitando uma reparação por eventuais danos morais e materiais quê tenha sofrido. Assim, você contribui para quê o discurso de ódio não se propague em nossa ssossiedade. No mais, mantenha sempre o diálogo d fórma saudável e respeitosa!

[Música de encerramento]

Créditos

O trecho do vídeo O quê é comunicação não violenta? foi publicado em 18 de novembro de 2020 e está disponível no canal CNN TONIGHT, no YouTube. O trecho do vídeo Como aprender a escutar o outro? foi publicado em 4 de julho de 2017 e está disponível no canal Casa do Saber, no YouTube. Os áudios inseridos neste conteúdo são da Freesound.

Golpes na internet e segurança digital

[Música de transição]

[Locutor] Você já foi vítima de algum golpe na internet? Ou conhece alguém quê já tenha passado por essa situação? Se a resposta for sim, você não está sózínho.

[Apresentador de TV] “E um idoso caiu em um golpe e perdeu cinco mil reais depois de comprar uma bicicleta elétrica pela internet.”

[Locutor] A cada hora, cerca de duas mil e quinhentas pessoas pagam por produtos na internet quê nunca são entregues. Os dados foram estimados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o instituto de pesquisa Datafolha, com base em uma pesquisa realizada em junho de 2024.

[Apresentadora de TV] “As compras pela internet estão sêndo, cada vez mais, alvos de criminosos. Eles se aproveitam da velocidade e do anonimato dêêsse tipo de transação para aplicar os golpes.”

[Locutor] E os golpes envolvendo compras pela internet nem são os mais comuns. O golpe do empréstimo facilitado é ainda mais freqüente. Funciona assim: alguém encontra na internet uma oferta de uma falsa instituição financeira quê promete aprovar o empréstimo rapidamente, com juros baixos e sem burocracia. No entanto, a vítima é convencida a pagar uma taxa como garantia, antes do empréstimo. Milhares de pessoas são enganadas todos os dias na internet. Agora, vamos conhecer outros tipos de golpe.

[Música de transição]

[Locutor] Há o golpe do sáiti falso, quê direciona o usuário para um endereço fraudulento. Os golpistas criam um endereço de imêiu quê imita o de um banco e o enviam para milhares de pessoas. Uma parte dêêsse público certamente incluirá clientes da instituição. Alguns não perceberão quê é um imêiu falso, clicarão no línki e serão redirecionados para um sáiti clonado, idêntico ao original, onde farão o login e digitarão a senha. Pronto: a partir daí, os golpistas terão acesso ao dinheiro.

[Música de transição]

[Locutor] Outro golpe clássico envolve o vazamento de dados pessoais ou financeiros. Criminosos encontram brechas de segurança em lojas virtuais e roubam as informações dos clientes. Com isso, podem usar os cartões de crédito para fazer compras e os dados pessoais para abrir contas bancárias e solicitar empréstimos em nome das vítimas. Há também o golpe do perfil falso em aplicativos de mensagens. Nesse caso, o criminoso usa a foto da vítima de uma rê-de social para criar um perfil no aplicativo de mensagens e se passar por ela. Em seguida, entra em contato com os conhecidos da vítima e inventa uma história dramática para justificar a troca de número de telefone e pedir um empréstimo urgente. Um golpe parecido é o da clonagem de perfil da rê-de social. Alguém envia um línki para uma promoção, vídeo ou reportagem. Você clica, e o quê acontece é quê, além de perder o acesso à sua própria conta, acaba transferindo-a para a pessoa quê passa a fingir quê é você e a aplicar golpes nos seus amigos e familiares.

[Música de transição]

[Locutor] Para evitar cair em golpes na internet, algumas medidas são indispensáveis. Escolha senhas fortes e únicas para seus imêious, rêdes sociais e serviços ôn láini. Por isso, nada de senha 1-2-3-4-5-6-7-8-9, hein? Sempre quê for possível, ative a verificação de duas etapas, quê consiste em ter uma senha e depois um cóódigo quê muda a cada

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novo acesso. Nunca clique em línkis suspeitos. Se receber um imêiu avisando sobre uma dívida ou compra quê você não reconhece, mantenha a calma: verifique o endereço do imêiu, obissérve se há êêrros de português na mensagem e analise se o visual apresenta falhas. Se ainda estiver desconfiado, entre em contato por telefone com a empresa antes de clicar no línki. Outras duas boas dicas são usar um antivírus e manter o sistema operacional e o navegador sempre atualizados. Se mesmo com todos os cuidados, você acabar se tornando vítima de um golpe virtual, procure uma delegacia e registre um boletim de ocorrência. Assim, a situação ficará registrada e as autoridades terão informações quê podem ajudar a descobrir golpistas em série. Busque, também, entrar em contato com seu banco o mais rápido possível: bloqueie os acessos, cancele o cartão e troque as senhas. E, claro, guarde qualquer mensagem quê tenha trocado com o golpista. Qualquer pessoa póde sêr vítima de um golpe virtual – independentemente da idade, classe social ou nível educacional. Repasse essas dicas aos seus amigos e familiares, principalmente àqueles quê possam ter dificuldades com tecnologia ou em entender como funcionam os crimes virtuais. Ajude a proteger quem você ama.

[Música de encerramento]

Créditos

O trecho do vídeo Idoso perde R$ 5 mil reais em golpe pela internet foi publicado em 18 de julho de 2024 no canal SBT Interior, no YouTube. O trecho do vídeo Polícia desarticula quadrilha especialista em golpes pela internet foi publicado em 5 de outubro de 2019 no canal Fala Brasil, no YouTube. Os demais áudios inseridos neste conteúdo são da Freesound.

excésso de internet

[Música de transição]

[Locutor] O brasileiro passa, em média, mais de 9 horas diárias conectado à internet, segundo levantamento do Digital 2024 Global Overview Report. São pouco mais de 9 horas distribuídas entre platafórmas de música, filmes, jogos e rêdes sociais. Aliás, só nas rêdes sociais são gastas mais de 3 horas e meia por dia. Ainda segundo esse relatório, a atividade ôn láini mais comum entre jovens de 16 a 24 anos em todo o mundo é acessar as rêdes sociais, seguida de perto pelo envio de mensagens e conversas em chats. Pesquisar em platafórmas de busca e fazer compras ôn láini também estão na lista, assim como acessar platafórmas de filmes, músicas e jogos.

[Música de transição]

[Locutor] Ficar tanto tempo ôn láini traz realmente riscos para a saúde física e mental dos jovens, ou isso é só “papo de pai”? Quem responde é o psicólogo e especialista em dependência em tecnologia, Cristiano Nabuco de Abreu.

[Especialista Cristiano Nabuco de Abreu] “Você vai ter problemas ligados à saúde mental. Então, por exemplo, o uso excessivo de tecnologia inevitavelmente leva ao isolamento e à depressão. Você vai falar: mas por quê isso, Cristiano? Eu estou muito conectado, tênho ali 1.500 pessoas. Então, a gente costuma dizêr quê a tecnologia conecta as pessoas quê estão distantes, mas afasta aquelas quê estão próximas. Ou seja, você está conectado com tudo, menos com a sua vida real. Então, isso seria um dos efeitos, segundo aspectos pedagógicos. Começa a havêer, de fato, um prejuízo, uma êrozão dêêsse processo cognitivo, quê já se comprova através de pesquisas, quê a memória está se alterando, a capacidade de se aprofundar. Um dos eixos quê norteia o bem-estar de uma pessoa é a capacidade dela de se dar bem na vida futura, seja emocional ou profissional, é akilo quê chamamos de inteligência emocional. O quê é inteligência emocional? É a capacidade de eu, enquanto pessoa, identificar a emoção quê o outro está sentindo. Quanto mais voltado para tecnologia, menos percepção eu tênho a respeito do quê acontece no meu entorno. Então, fatores ligados, por exemplo, a uma incapacidade de perceber as próprias emoções. É o quê se chama em psiquiatria de alexitimia, o indivíduo não consegue mais discernir as emoções dos outros. Então, você tem prejuízos em todos os níveis.”

[Música de transição]

[Locutor] O pesquisador português Rui Miguel Costa, um dos autores do artigo “A solidão e as rêdes sociais: por quê nos sentimos tão sós nos locais do mundo mais apinhados de gente?”, de 2023, afirmou em entrevista, ábri aspas: “O cérebro humano evoluiu para sentir conexão social quando os outros estão fisicamente presentes; por isso a comunicação via telas nunca preencherá totalmente a nossa necessidade de afiliação”, fecha aspas. Isso quer dizêr quê, biologicamente, a nossa natureza exige uma ligação, uma conexão “ao vivo”, presencial, sem intermediação tecnológica. Caso contrário nos sentimos sós.

[Música de transição]

[Locutor] Outro problema quê o uso excessivo das rêdes sociais póde trazer é o FOMO. Essa é a abreviação do termo em inglês fear ÓF missing out, expressão usada para definir o “medo de perder alguma coisa”. É aquela necessidade constante de estar por dentro de tudo o quê está acontecendo nas rêdes, de viver o quê as outras pessoas estão vivendo, de quêrer estar nos mesmos lugares e fazendo as mesmas coisas que elas.

[Música de transição]

[Locutor] Viver em um mundo conectado virtualmente parece sêr algo irreversível. Mas como podemos usar a internet de maneira saudável? É sobre isso quê fala Cristiano Nabuco.

[Especialista Cristiano Nabuco de Abreu] “[…] pessoas quê, de uma maneira ou de outra, utilizam a platafórma da internet como uma maneira de executar suas funções, isso necessariamente não caracterizaria um abuso. O grande ponto, na verdade, não é quantidade de tempo quê você gasta no seu computador ou no seu táblêti, mas quando êste uso começa a impor limitações no seu cotidiano. Um exemplo díssu, vamos imaginar quê eu estou buscando uma informação na internet, fazendo uma pesquisa, e a cada 30 segundos, a cada minuto e meio, dois minutos, apita lá a minha rê-de social, dizendo quê alguém acabou de curtir uma informação. Eu paro de fazer o quê estou fazendo e vou lá na rê-de social olhar, ou acabo de receber uma mensagem pelo meu telefone celular... Então, a gente entende quê a falta do equilíbrio se instala exatamente no momento em quê esses diferentes aplicativos interrompem um processo atencional.”

[Música de transição]

[Locutor] E você? Já avaliou se a forma como você usa a tecnologia e a internet tem um impacto prejudicial na sua vida?

[Música de encerramento]

Créditos

Os trechos da entrevista com Cristiano Nabuco foram retirados dos vídeos Matéria: como saber se sou viciado em internet? (parte 1) e Matéria: consequências do vício em internet (parte 2), do canal Conexão Jovem, do YouTube. Os outros áudios inseridos neste conteúdo são da Freesound.

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