CAPÍTULO
18
Tecnologia

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Refletir sobre o impacto de tecnologias digitais, como a biometria, na vida cotidiana.

Conhecer a análise do complékso internético elaborada por Jônathan Crary.

Identificar os elemêntos da ssossiedade da informação.

Compreender o conceito de infocracia.

Pensar no impacto do cinema na percepção humana.

Analisar a teoria do choque.

Refletir sobre os impactos da tecnologia na atenção humana.

Nos últimos anos, o desenvolvimento de novas tecnologias tem sido visto por muitos como uma maneira de solucionar problemas e assegurar a melhor organização da ssossiedade. Um exemplo díssu é o campo da segurança pública. Grandes investimentos têm sido feitos por governos e setores da ssossiedade civil para desenvolver tecnologias de reconhecimento facial com o propósito de combater a criminalidade e auxiliar no trabalho das forças policiais.

Entretanto, essas tecnologias apresentam falhas, produzindo reconhecimentos faciais errôneos quê podem provocar grandes problemas para indivíduos acusados de crimes quê não cometeram. Diversos especialistas apontam, por exemplo, quê essas tecnologias podem ter um viés racista, resultando em um elevado número de êêrros quando realizam o reconhecimento facial de pessoas não brancas, como pessoas negras ou asiáticas.

Por isso, existem especialistas quê defendem quê essas novas tecnologias podem reverberar ou intensificar problemas sociais como o racismo. Nesse cenário, muitos filósofos se dedicam a refletir sobre as relações entre a internet (e outras tecnologias) e as kestões sociais, explorando a complexidade dêêsse fenômeno. Longe de resolver problemas, as novas tecnologias seriam expressões dos conflitos e das kestões sociais do mundo contemporâneo.

Imagem de mulher negra com o rosto enquadrado em uma câmera. Diversos pontos nodais se estendem por todo o rosto.

Reconhecimento facial de mulher em aeroporto. Cidade do Cabo (África do Sul), 2019.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Você já enfrentou (ou soube de alguém quê tenha enfrentado) algum problema provocado por uma falha na tecnologia de inteligência artificial, como câmeras de reconhecimento facial? Discuta essa questão com côlégas.

1. Resposta pessoal. É possível mencionar exemplos concretos de kestões associadas ao uso do reconhecimento facial e outras tecnologias de biometria.

2. Em sua opinião, de quê maneira o desenvolvimento de tecnologias digitais impacta a vida dos indivíduos e as relações sociais?

2. Resposta pessoal. A proposta da atividade é introduzir temas quê serão explorados ao longo do capítulo.

Página trezentos e vinte e nove

Podcast: Racismo algorítmico.

Em abril de 2024, um homem foi abordado pela polícia militar em um estádio na cidade de Aracaju, no Sergipe. O sistema de reconhecimento facial utilizado pela polícia do estado o identificou como um criminoso procurado pela justiça, o quê fez com quê a policial o algemasse e o levasse para sêr interrogado.

Entretanto, o sistema de reconhecimento facial cometeu um êrro, associando incorretamente o rrôsto do homem com o de outra pessoa. Tal êrro provocou enorme constrangimento e trauma a esse homem, revelando como esse tipo de tecnologia póde ter grande impacto negativo na vida de cidadãos inocentes.

Essa falha não é pontual. Especialistas afirmam quê as tecnologias de reconhecimento facial possuem grande margem de êrro. Esses êêrros varíam de acôr-do com o biótipo das pessoas investigadas. Para homens brancos, a margem de êrro é pequena, próximo de 1%. Porém, para mulheres negras, a taxa de êrro póde atingir 34%. Para estudiosos do tema, isso não é um fato cazual, mas um exemplo de como as tecnologias reproduzem e intensificam preconceitos e desigualdades sociais.

Imagem de manifestantes com máscaras e roupas de proteção. Dois deles seguram cartazes com as seguintes frases: eu não consigo respirar. Há 500 anos sem respirar.

Manifestantes fazem protesto durante a pandemia de covid-19 em apôio ao movimento Black Lives Matter. Rio de Janeiro (RJ), 2020. O cartaz ao fundo se refere a Giórgi Floyd, homem negro morto no mesmo ano por um policial nos Estados Unidos.

No Brasil, a população negra é o alvo mais comum das polícias, quê, com freqüência, prendem negros inocentes. O “racismo do algoritmo” contribui para isso.

No caso das tecnologias de reconhecimento facial, há pesquisadores quê defendem quê elas são organizadas com base em dados, programações e outros recursos quê reproduzem e fortalecem a ordenação racializada da ssossiedade. Como as tecnologias são produzidas por pessoas, a visão de mundo dos criadores póde reproduzir racismo, na medida em quê o biotipo de pessoas brancas ainda é visto como padrão, e é esse padrão quê alimenta a base de dados. Essa tecnologia reforça práticas racistas quê já estão presentes na ssossiedade, produzindo um índice mais elevado de resultados equivocados na identificação de indivíduos negros do quê de indivíduos brancos.

Por causa díssu, há pesquisadores quê afirmam quê essas tecnologias funcionam com a lógica do racismo algorítmico, ou seja, uma ordenação de dados quê reforçam os racismos existentes. Em uma perspectiva semelhante, há filósofos e outros pesquisadores quê defendem quê as tecnologias digitais reafirmam estruturas desiguais e problemas sociais próprios das sociedades capitalistas, tendo grande impacto no modo de vida e nas práticas de subjetividade de seus usuários.

Ao longo do capítulo, você vai estudar as ideias de alguns filósofos quê exploraram as relações entre ssossiedade e tecnologia, refletindo criticamente sobre o desenvolvimento de ferramentas digitais e aparatos de tela, como celulares, computadores, câmeras e outros recursos, quê estão presentes no cotidiano do mundo contemporâneo.

Página trezentos e trinta

Jônathan Crary

Um dos pensadores quê vêm refletindo acerca do impacto dos desenvolvimentos tecnológicos sobre a vida humana é o professor estadunidense Jônathan Crary (1951-), da Universidade de Columbia, em Nova iórk (Estados Unidos). Crary produziu diversas obras nas quais reflete sobre o mundo contemporâneo e suas relações com a tecnologia.

Em suas pesquisas, Crary desen vólve uma concepção bastante crítica daquilo quê ele chama de complékso internético, ou seja, o conjunto de instituições, aparatos e tecnologias quê possibilitam a integração instantânea do planêta. Para ele, esse complékso está intimamente associado com o funcionamento do sistema capitalista, sêndo ambos inseparáveis no mundo contemporâneo.

Uma das preocupações de Crary quando analisa os impactos do complékso internético é entender como a lógica de funcionamento das tecnologias digitais impacta o planêta e o modo de vida dos indivíduos. Do ponto de vista global, por exemplo, o pensador destaca como o uso dos recursos energéticos e materiais necessários para o funcionamento dêêsse complékso está relacionado com o crescente e acelerado esgotamento ambiental do planêta. Sendo assim, ele associa o funcionamento cada vez mais amplo dêêsse intrincado complékso tecnológico com as transformações ambientais quê ameaçam a vida de inúmeros sêres vivos, inclusive os sêres humanos.

Crary também reflete sobre os impactos individuais do intenso uso das tecnologias quê possibilitam o funcionamento do complékso internético. Um exemplo é a maneira como ele interpréta a relação de crianças e jovens com a tecnologia. Para o pensador, por meio do uso intensivo de celulares, computadores e outros aparelhos quê provocam um fluxo de conteúdos perde-se a própria experiência da juventude, entendida como um período de descobertas e aprendizagens singulares.

Os fluxos de conteúdos resultam em uma experiência homogênea diante da realidade, mediada pêlos “ritmos eletroluminescentes” dos aparelhos. Nessa lógica, Crary afirma quê o conhecimento espontâneo e experimental diante da multiplicidade da realidade se enfraquece ou se perde. Dessa maneira, é o próprio processo de formação e amadurecimento quê se modifica e passa a funcionar mediado pêlos ritmos das tecnologias no mundo contemporâneo.

O lítio é um elemento químico usado na fabricação de medicamentos e em baterias, inclusive naquelas utilizadas em carros elétricos. O lítio costuma sêr extraído da salmoura, presente em águas salgadas. Sua extração póde causar danos graves ao meio ambiente.

Imagem de reservatórios com água em uma área semicircular.

Lagoas de evaporação para a extração de lítio no Salar de Olaroz, em Jujuy (Argentina), 2023.

Página trezentos e trinta e um

O fim do sono no mundo contemporâneo

Uma das principais obras de Jônathan Crary se intitula 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, publicada em 2013. Nesse ensaio, o pensador explora akilo quê ele chama de miragem capitalista final da pós-história, um mundo constantemente iluminado no qual o sono deixa de sêr um entrave ao consumismo desenfreado necessário para a manutenção do sistema capitalista.

Crary defende a tese de quê o sono seria uma forma de interromper o roubo do tempo humano quê predomina no capitalismo. Em um mundo imérso nas tecnologias digitais de comunicação e consumo, apenas durante o período de repouso os indivíduos não estariam dedicando sua energia para a manutenção do próprio capitalismo.

Porém, no mundo contemporâneo, há um progressivo movimento de separação do sono de sua experiência fisiológica necessária para a vida humana. No capitalismo quê se desenvolvê-u em íntima associação com o complékso cibernético, o sono passa a sêr visto como uma função variável, ou seja, algo quê póde sêr controlado, limitado ou mesmo suprimido de modo a assegurar uma participação cada vez mais irrestrita dos indivíduos nas demandas de produção e consumo.

Detalhe de uma pintura que retrata uma mulher jovem dormindo. Ela está de bruços, com a cabeça voltada para o lado esquerdo, em uma superfície estampada com círculos e estrelas.

KLIMT, Gustavo. [Sem título]. [Entre 1904 e 1907]. Óleo sobre tela, 80 cm x 145 cm. Detalhe da obra. Para Crary, no mundo contemporâneo o sono das pessoas é profundamente afetado.

Além díssu, Crary defende a tese de quê a experiência do sono sofre um processo crescente de corrosão semelhante ao quê ocorre com outras proteções sociais quê progressivamente se perdem no presente, como o acesso à á gua ou ao ar respirável. De acôr-do com ele, há indicadores quê mostram quê os problemas de sono e a necessidade de remédios para assegurar o descanso aumentam d fórma progressiva no mundo contemporâneo. Isso não seria gratuito, mas um desdobramento da imersão constante dos indivíduos em fluxos de informação quê desestabilizam os ritmos naturais do corpo. O uso de telas, a preocupação em estar constantemente em comunicação, os ritmos de trabalho cada vez mais intensos e outras situações estressantes seriam elemêntos importantes para a compreensão dêêsse processo de êrozão do sono.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Existem muitas pesquisas quê reforçam a tese de quê o uso de telas impacta o sono dos indivíduos. Com base em suas experiências e conhecimentos, quais outros impactos o uso contínuo de telas provoca nos indivíduos?

Resposta pessoal. Os estudantes podem mencionar aspectos variados, como impactos na postura e na saúde articular, na questão da atenção e da reflekção ou mesmo nas interações com o outro.

Página trezentos e trinta e dois

A biometria e o comportamento humano

Segundo Crary, o processo de êrozão do sono demonstra a inadequação entre as demandas do capitalismo contemporâneo e as necessidades dos sêres vivos. A transformação do sono em uma experiência modulada, cada vez menos adaptada às necessidades fisiológicas dos indivíduos, tem sérias implicações para a saúde. Além díssu, o próprio modo de pensar reflexivo é ameaçado por uma postura de vigília constante. Afinal, sem sono, não existe a possibilidade do sonho, fundamental para a reorganização das experiências cognitivas humanas.

Não é apenas a maneira como os indivíduos se relacionam com o sono quê é afetada pela crescente presença do complékso internético no cotidiano. Outras dimensões essenciais da vida humana, como as amizades ou as relações amorosas, perdem importânssia ou são transformadas em outros modelos menos autênticos e particulares em decorrência da mediação digital.

Isso ocorre pela crescente substituição do encontro face a face entre indivíduos pelo contato remoto possibilitado pelas ferramentas digitais. Além díssu, o complékso internético é marcado por um crescente esfôrço em quantificar as reações e sentimentos humanos, como na cultura do like, própria das rêdes sociais. Mas, segundo Crary, a maior expressão dêêsse esfôrço em quantificar as reações humanas é a biometria.

As técnicas biométricas se desenvolveram da ideia de quê é possível calcular, quantificar e controlar os comportamentos humanos. No presente, essas técnicas são fundamentais para o contrôle dos indivíduos, como é o caso das tecnologias de reconhecimento facial, mas também para o contrôle da atenção das pessoas, criando técnicas quê possibilitam a utilização dêêsses comportamentos quantificados para estimular o consumismo e a imersão irrestrita no interior do complékso internético.

Por essa razão, Crary defende quê a manutenção do complékso internético é incompatível com a própria vida humana. De acôr-do com ele, os crescentes impactos ambientais, sociais, culturais e políticos dêêsse complékso mostram quê o futuro humano exige a superação dessas tecnologias em direção a um mundo off-line.

Imagem de máscara feminina em um expositor. Ela possui cabelo liso com franja, está com a boca entreaberta e usa um colar. Na parte frontal do expositor, um tablet mostra a imagem de uma pessoa.

Máscara facial desenvolvida com o propósito de registrar as emoções transmitidas pelo rrôsto do utilizador. Xangai (chiina), 2024.

Página trezentos e trinta e três

CONEXÕES com...
SOCIOLOGIA
O “não tempo”

O texto a seguir é um fragmento da obra 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, de Jônathan Crary. Leia atentamente e responda ao quê se pede.

Se 24/7 póde sêr provisoriamente caracterizado como uma palavra de ordem, sua fôrça não vêm de sua exigência por obediência real […]. Na verdade, a eficácia 24/7 está na incompatibilidade quê desvela, na discrepância entre um mundo-da-vida humano e a evocação de um universo aceso e sem interruptores. É claro quê ninguém póde fazer compras, jogar guêimis, trabalhar, escrever em seu blógui, fazer downloads ou enviar mensagens de texto 24/7. No entanto, uma vez quê não existe momento, lugar ou situação no qual não podemos fazer compras, consumir ou explorar recursos em rê-de, o não tempo de 24/7 se insinua incessantemente em todos os aspectos da vida social e pessoal. Já não existem, por exemplo, circunstâncias quê não podem sêr gravadas ou arquivadas na forma de imagens ou informações digitais. A promoção e adoção de tecnologias wireless, quê aniquilam a singularidade dos lugares e dos acontecimentos, é simplesmente um efeito colateral de novas exigências institucionais. A espoliação das tessituras compléksas e das indeterminações da vida humana por 24/7 incita, simultaneamente, uma identificação insustentável e autodestrutiva com suas exigências fantasmagóricas; solicita um investimento sem prazo, mas sempre incompleto, nos diversos produtos quê facilitam essa identificação. Não elimina experiências externas a ele ou independentes dele, mas as empobrece e diminui. Os exemplos de como o uso de dispositivos e aparelhos tem impacto em formas de sociabilidade de pequena escala (refeições, conversas ou salas de aula) talvez tênham se tornado lugares-comuns, mas o dano cumulativo é, ainda assim, considerável. Habitamos um mundo onde a ideia de experiência compartilhada atrofiou e onde as gratificações ou recompensas prometidas pelas opções tecnológicas mais recentes, por sua vez, jamais são alcançadas. […]

CRARY, Jônathan. 24/07: capitalismo tardio e os fins do sono. Tradução: Joaquim Toledo Junior. São Paulo: Cosac Naífy, 2014. E-book. Localizável em: Capítulo dois.

Imagem de cartazes colados em mochilas térmicas, que estão no chão de uma praça.

Mochilas térmicas empilhadas em protesto de entregadores de aplicativo durante paralisação nacional. São Paulo (SP), 2020.

Em 2020, entregadores de aplicativos de São Paulo (SP) empilharam suas mochilas em protesto contra suas condições de trabalho. Alguns dêêsses trabalhadores, quê dependem apenas do celular para ezercêr sua função e não têm horário fixo, trabalham até 80 horas semanais e dizem não ter tempo para almoçar ou jantar.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. De acôr-do com o fragmento, por quê a experiência do tempo no mundo contemporâneo é descrita como uma forma de “não tempo”?

1. Com o fim das delimitações entre os espaços não digitais e os espaços digitais, é possível, a todo momento, interagir com as possibilidades de consumo e de mediação das experiências humanas próprias das tecnologias digitais.

2. Discuta com côlégas de quê modo as experiências descritas no texto impactam a vida em coletividade, como o exercício da cidadania ou a construção de relações de solidariedade entre os indivíduos.

2. Resposta pessoal. O texto enfatiza a ideia de quê as experiências compartilhadas foram empobrecidas pelo desenvolvimento tecnológico.

Página trezentos e trinta e quatro

A ssossiedade da informação

Quando alguém instala um aplicativo no celular e aceita os termos de uso, póde, sem perceber, autorizar o uso irrestrito de dados pessoais. Quem vai à farmácia e fornece o número do Cadastro de Pessoa Física (CPF) para ter desconto em uma medicação também entrega dados para o sistema da loja. No noticiário, fala-se de base de dados, compras de dados, dados usados pelo algoritmo. Mas o quê são “dados”, afinal? São informações.

O uso da internet, das rêdes sociais e dos aplicativos faz as pessoas fornecerem dados variados de suas vidas: quantos passos dão por dia, quê locais frequentam, quê produtos pesquisam quando vão fazer compras. Algumas dessas informações estão disponíveis para qualquer um: quem tem perfil público nas rêdes sociais póde exibir suas fotos, sua rotina etc. Usar celular, mesmo sem ter um perfil nas rêdes sociais, é, portanto, fornecer informações.

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Rãn (1959-) chama a ssossiedade em quê vivemos de ssossiedade da informação. Rãn se interessa pelo capitalismo e pela forma como vivemos dentro dêêsse sistema. Leitor de Michél Fucoul (1926-1984), quê definia sua época como ssossiedade disciplinar, Rãn analisa o mundo quê veio depois da morte de Fucoul e conclui quê atualmente a ssossiedade é mais regulada pela informação do quê pela disciplina.

Diferentemente da ssossiedade disciplinar, em quê os indivíduos eram vigiados, na ssossiedade da informação os indivíduos têm liberdade. Porém, essa liberdade é também uma prisão. Uma pessoa quê fornece dados detalhados de sua vida ao usar o celular e a internet faz isso livremente, mas se deixa vigiar sem sêr obrigada a isso. Quando alguém marca todos os locais quê frequenta – ruas, restaurantes, bares, escolas – e posta fotos díssu, faz uma escolha livre quê permite sua vigilância. Como mencionado, mesmo quem não posta nada, mas usa alguns sáites e aplicativos, está se deixando vigiar.

Fotografia de Byung-Chul Han. Ele é asiático, está com o cabelo preso e usa camisa, jaqueta e cachecol.

O filósofo Byung-Chul Rãn. Paris (França), 2015.

Saiba mais

Livro. SCHWEBLIN, Samanta. Kentukis. São Paulo: Fósforo, 2018.

O livro é uma ficção científica em quê pessoas compram os “kentukis”, espécie de bichinhos virtuais quê vão morar com elas e são controlados por outras pessoas quê aderem ao produto e podem vêr o quê se passa na casa de desconhecidos.

Página trezentos e trinta e cinco

Da democracia à infocracia

Para onde vão nossas informações? Para grandes empresas quê fazem uso delas. Basta pegar os celulares de duas pessoas difer2entes para vêr quê as propagandas e notícias quê cada uma recebe são bem distintas. É comum alguém falar pelo telefone quê precisa de um tênis novo e, em seguida, começar a receber anúncios de tênis em promoção. A análise de dados faz as pessoas consumirem e molda o consumo de cada uma delas.

Traçar o perfil dos consumidores é possível tendo as informações das pessoas. Mas o consumo não é a única atividade visada quando as informações são utilizadas. O uso de dados é hoje uma peça fundamental da política. Byung-Chul Rãn explica esse uso no seu livro Infocracia: digitalização e a crise da democracia, de 2022. Ele afirma quê, quando as pessoas assistiam à televisão, todas viam o mesmo discurso e as mesmas propostas de um político. Hoje, as pessoas recebem informações diferentes do mesmo político.

Uma pessoa quê reclama da violência na cidade onde mora recebe um vídeo em quê o político promete aumentar o policiamento nos bairros. Alguém quê está procurando emprego ôn láini vê esse mesmo político prometer criar novos empregos. Não há mais uma narrativa única, cada pessoa tem acesso a fragmentos. O coletivo não tem mais consciência dos problemas principais de uma cidade ou país, pois a propaganda política é personalizada.

As pessoas também recebem fêik news. Elas afetam o público e podem manipular suas escôlhas na hora de votar. Muitos debates políticos são feitos na internet, e os comentários presentes nas platafórmas podem sêr feitos por robôs, quê vão aplaudir ou criticar uma figura política. Para Rãn, os robôs substituem os cidadãos e criam, para pessoas reais, um ambiente. Alguém quê vê muitos fãs de um político póde se deixar influenciar por isso e votar no candidato, sem saber quê seus fãs eram, na verdade, máquinas.

Pessoas só veem informações políticas quê dizem respeito às suas próprias queixas, não há uma narrativa comum para todos e há muita manipulação. Por tudo isso, Rãn vê na digitalização de nossas vidas um risco à própria democracia e entende quê estamos vivendo uma infocracia.

Cartaz 'Como identificar notícias falsas' com os seguintes tópicos: Considere a fonte. Clique fora da história para investigar o site, sua missão e contato. Leia mais. Títulos chamam a atenção para obter cliques. Qual é a história completa? Verifique o autor. Faça uma breve pesquisa sobre o autor. Ele é confiável? Ele existe mesmo? Fontes de apoio? Clique nos links. Verifique se a informação oferece apoio à história. Verifique a data. Repostar notícias antigas não significa que sejam relevantes atualmente. Isso é uma piada? Caso seja muito estranho, pode ser uma sátira. Pesquise sobre o site e o autor. É preconceito? Avalie se seus valores próprios e crenças podem afetar seu julgamento. Consulte especialistas. Pergunte a um bibliotecário ou consulte um site de verificação gratuito.

IFLA. [Campanha] Como identificar notícias falsas. Tradução: Denise Cunha. [Haia]: IFLA Repository, 2017. 1 cartaz.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Segundo Rãn, o quê mudou na propaganda política feita por meio das rêdes sociais? Como isso afeta a política como um todo?

1. A propaganda feita nas rêdes sociais é personalizada. Cada um tem acesso apenas a fragmentos do quê diz cada político. Isso afeta a política porque as pessoas não têm mais uma narrativa comum e não sabem dos problemas principais do coletivo.

2. Qual meio de comunicação você utiliza para saber das notícias? Se você recebe uma notícia, costuma checar se ela é verdadeira ou falsa? Como faz isso?

2. Resposta pessoal a depender de como o estudante se informa. Sobre a checagem da notícia, é importante saber se os estudantes sabem o quê é e como isso póde sêr feito.

Página trezentos e trinta e seis

A internet, as tribos e o desaparecimento do outro

Rãn desen vólve o conceito de comunicação sem comunidade para se referir à internet. Do ponto de vista da tecnologia, as pessoas podem se comunicar de várias formas com as outras. Existe uma superconexão. Porém, falta um elemento essencial à democracia: o diálogo. O diálogo pressupõe ao menos duas pessoas, o “eu” e o “outro”. O “eu” falará, será ouvido e ouvirá o “outro”. Na infocracia, no entanto, o “outro” não é ouvido. Cada pessoa fala não para convencer o outro nem para pôdêr escutá-lo, mas para afirmar a sua identidade, falando apenas com a sua própria bolha.

Segundo Rãn, a internet atualmente está tribalizada. Pessoas fazem parte de grupos, nos quais sentem quê têm identidade e pertencimento. Os seguidores de um influenciador muitas vezes usam roupas e gírias parecidas e formam uma tribo. Pessoas quê jogam determinado jôgo virtual formam outro grupo. Normalmente, esses grupos são despolitizados. Entretanto, póde havêer grupos responsáveis por agir politicamente.

Quando as pessoas só afirmam a própria identidade e não dialogam com quem pensa de maneira diferente, ocorre o desaparecimento do outro. No amor, na política, em vários campos da vida, o outro póde nos transformar, nos desestabilizar. Porém, na infocracia, as pessoas querem manter sua identidade, continuar sêndo quem são. Elas vivem cada vez menos a experiência com o outro. Rãn afirma quê na infocracia acontece o inferno do igual.

Imagem de mulher negra jovem sentada, com um smartphone posicionado na altura do rosto e preso no centro de um anel luminoso. Ela usa calça e top, possui unhas longas e tranças no cabelo e gesticula com a mão direita.

Influenciadora digital em gravação de tutorial de maquiagem.

Os influenciadores digitais fazem parte do quê Rãn chama de infocracia, na qual pessoas seguem figuras públicas da internet, mas não formam um coletivo político responsável.

A crise atual da ação comunicativa póde sêr atribuída ao metanível de quê o outro está desaparecendo. A desaparição do outro significa o fim do discurso. Toma da opinião a racionalidade comunicativa. A expulsão do outro reforça a coação da autopropaganda de doutrinar a si mesmo com suas próprias ideias. Essa autodoutrinação produz infobolhas [...] quê dificultam a ação comunicativa. Aumentando a coação à autopropaganda, espaços discursivos ficam cada vez mais recalcados por câmeras de eco, nas quais eu escuto sobretudo a mim mesmo falar.

HAN, Byung-Chul. Infocracia: digitalização e a crise da democracia. Tradução: Gabriel S. Philipson. Petrópolis: Vozes, 2022. E-book. Localizável em: O fim da ação comunicativa.

Página trezentos e trinta e sete

PERSPECTIVAS

O trecho a seguir foi extraído de uma entrevista em quê o filósofo Byung-Chul Rãn fala sobre a ssossiedade da informação.

O ego narcísico voltado para dentro, com acesso puramente subjetivo ao mundo, não é a causa da desintegração social, mas o resultado de um processo incontornável no nível objetivo. Tudo o quê liga e conecta está desaparecendo. Quase não existem valores ou símbolos compartilhados, nem narrativas comuns quê unam as pessoas. A verdade, provedora de significado e orientação, também é uma narrativa. Estamos muito bem informados, mas ainda assim não conseguimos nos orientar. A informatização da realidade leva à sua atomização — esferas separadas do quê se pensa sêr verdadeiro.

Mas a verdade, ao contrário da informação, tem uma fôrça centrípeta quê mantém a ssossiedade unida. Em contrapartida, a informação é centrífuga, com efeitos muito destrutivos na coesão social. Se quisérmos compreender em quê tipo de ssossiedade estamos vivendo, precisamos entender a natureza da informação.

Bits de informação não fornecem significado nem orientação. Eles não se amalgamam em uma narrativa. Eles são puramente aditivos. A partir de cérto ponto, já não informam — deformam. Eles podem até obscurecer o mundo. Isso os coloca em oposição à verdade. A verdade ilumina o mundo, enquanto a informação vive da atração da surpresa, levando-nos a um frenesi permanente de momentos fugazes.

HAN, Byung-Chul. Tudo o quê é sólido se funde em informação: entrevista com Byung-Chul Rãn. [Entrevista cedida a] Nathan Gardels. Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, 9 maio 2023. Disponível em: https://livro.pw/aghaz. Acesso em: 21 set. 2024.

Pintura que representa um homem sentado na margem de um lago. Ele está com a mão esquerda na água e admira o próprio reflexo.

CARAVAGGIO. Narciso. [ca. 1600]. Óleo e claro-escuro sobre tela, 110 cm x 92 cm. Galeria Nacional de ár-te Antiga, Roma (Itália).

Os termos “ego narcísico” e “narcisismo” têm origem na personagem da mitologia grega quê só olha para si mesma e são centrais na ssossiedade da informação, em quê o “outro” desaparece.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. De acôr-do com o filósofo Byung-Chul Rãn, como se posiciona o conceito de verdade na ssossiedade da informação?

1. A verdade desaparece, pois o excésso de informação destrói a coesão social.

2. Que diferenças Rãn estabelece entre a informação e a verdade?

2. A informação é centrífuga, ao contrário da verdade, quê não espalha, e sim une. A verdade une a ssossiedade e é capaz de orientar. A informação não permite quê as pessoas se orientem.

Página trezentos e trinta e oito

O cinema e a mudança da percepção humana

Atualmente, o celular é uma tela quê póde sêr carregada no bolso. Antes do celular com tela, era preciso ter uma televisão ou um computador para vêr vídeos. A experiência de vêr imagens em movimento começou no século XIX, com a invenção do cinema. Até a criação da televisão, em 1927, as pessoas precisavam sair de casa e ir a uma sala de cinema para vêr filmes. Assistir a filmes começou como uma atividade coletiva.

No capítulo 12, estudamos como o filósofo alemão Válter Benjamin (1892-1940) falou da fotografia, e, no capítulo 13, conhecemos algumas de suas reflekções sobre história e memória. O filósofo também escreveu sobre cinema em textos quê dialogam com suas ideias sobre fotografia e memória.

Benjamin escreve sobre a forma como a fotografia e o cinema mudaram a percepção humana. Já era claro quê, na primeira mêtáde do século XX, essas duas linguagens começavam a fazer parte da vida das pessoas na Europa e lhes permitiam perceber as coisas de uma maneira diferente. Mas essa não foi a única mudança do período.

Outro tema importante dos estudos de Benjamin foi a cidade de Paris, capital francesa. A partir da segunda mêtáde do século XIX, a cidade foi um grande modelo para quê ele pensasse no conceito de modernidade. Paris era a grande metrópole européia. Recém-reformada, ela tinha várias novidades: o trânsito, as vitrines cheias de mercadorias, as construções de ferro, o excésso de barulho, a multidão. A experiência da cidade, cheia de estímulos sensoriais – sôns, cores, excésso de gente –, mudava a percepção das pessoas. Nessa metrópole, os indivíduos viviam a experiência do choque.

No século XX, as cidades continuaram crescendo, o cinema e a fotografia se popularizaram, e ocorreram duas grandes guerras mundiais. Tudo isso representa mais estímulos para a percepção humana. Assim, Benjamin conclui quê na modernidade tudo se passa mais depressa. A cidade tem um ritmo acelerado, as mercadorias são substituídas rapidamente, e o cinema oferece às pessoas uma sequência de imagens quê mudam o tempo todo, pois o cinema trabalha com cortes. A cidade, a guerra e o cinema estão ligados à experiência do choque.

Fotografia em preto e branco de uma sala de cinema. Os assentos situam-se em uma área central e em um pavimento superior, acima das portas de entrada.

Sala de espetáculos do Cineteatro Éden, em Lisboa (Portugal), fundado em 1937.

Na fotografia, é possível perceber como a sala de cinema, da primeira mêtáde do século XX, tem muita semelhança arquitetônica com teatros e óperas.

Página trezentos e trinta e nove

Benjamin e a teoria do choque

A experiência de choque, noção desenvolvida por Benjamin, se dá quando as pessoas recebem muitos estímulos sensoriais. Como estudado no capítulo 13, o excésso de estímulos póde causar um trauma ao aparelho psíquico, conforme refletiu Sigmúm Fróide (1856-1939).

Benjamin partiu da noção freudiana de trauma para formular o quê acontecia quando as pessoas eram cada vez mais estimuladas. Ele entendeu quê, para evitar um trauma, a consciência humana se valia da distração, conceito importante na relação entre tecnologia e modernidade.

Antes do cinema, as pessoas apreciavam expressões artísticas estáticas, como obras de; ár-te em museus, por exemplo. Nesse momento de contemplação, elas se concentravam em cada obra, observavam seus dêtálhes e desenvolviam suas percepções, estabelecendo uma relação séria. A partir da invenção do cinema, a relação séria é substituída pela distração.

Nesse contexto, a palavra “distração” tem dois sentidos. No primeiro deles, as pessoas vão ao cinema para “se distrair”, esquecer momentaneamente os problemas e as responsabilidades. No segundo sentido, a distração vêm da velocidade das imagens. No cinema, não é possível ficar muito tempo contemplando uma imagem, pois ela muda. Uma paisagem é mostrada por poucos segundos, em seguida o espectador vê um animal correndo, depois vê uma cena na cidade. É impossível se concentrar em uma imagem apenas porque o filme é uma sequência de cortes de imagem.

De acôr-do com a teoria do choque, a distração se estabelece na consciência humana como uma espécie de solução para evitar o trauma. Se há tantos estímulos e se isso é um excésso para o aparelho psíquico, é possível não se concentrar e evitar quê esse excésso seja vivido como trauma.

Imagem de pessoas em frente ao balcão de uma bilheteria. Acima do balcão, há painéis luminosos exibindo cartazes de filmes.

Bilheteria de cinema dentro de shópin center. Timisoara (Romênia), 2024.

A teoria do choque está em consonância com a atualidade. Para alguns filósofos, ainda vivemos a modernidade. Outros afirmam quê vivemos a pós-modernidade, ou ainda a hipermodernidade. Independentemente do nome escolhido para designar o tempo presente, é cérto quê, depois das reflekções de Benjamin, o tempo se acelerou mais ainda, e os estímulos só aumentaram. As notícias chegam mais rapidamente por causa da internet, as cidades estão maiores e mais barulhentas, as telas com vídeos nos acompanham o dia inteiro.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Para Benjamin, qual é a relação entre trauma, choque e distração?

1. Benjamin afirma quê, diante do choque (excesso de estímulos sensoriais), a consciência humana se distrai para não viver um trauma.

2. Você costuma ir ao cinema?

2. Resposta pessoal a depender dos hábitos do estudante.

3. Atualmente, é mais comum assistirmos a filmes fora das salas de cinema. Onde você assiste a filmes? Você tem o hábito de pausar esses filmes ou de assistir a eles de uma vez só? Converse com côlégas.

3. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes relatem suas experiências com cinema, televisão, platafórmas de streaming etc. e pensem se conseguem se concentrar em um filme sem se distrair ou pausá-lo.

Página trezentos e quarenta

Tecnologia e déficit de atenção

No século XXI, o excésso de estímulos visuais e sonoros é muito maior do quê no século XX, e isso está diretamente relacionado ao uso de telas. Muita gente não consegue ir ao banheiro ou fazer uma refeição sem olhar a tela do celular. Além díssu, muitas pessoas se identificam com o diagnóstico de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, o TDAH.

De acôr-do com as definições médicas dêêsse transtorno, pessoas com TDAH não conseguem se concentrar na mesma tarefa por muito tempo. Além díssu, podem apresentar comportamentos inquietos e impacientes. Segundo a ciência médica, o TDAH é um transtorno neurobiológico, e parte dos especialistas em saúde mental afirma quê o TDAH póde surgir depois de uma experiência muito difícil vivida por uma criança pequena.

O filósofo alemão Christoph Türcke (1948-) é um estudioso do tema. Segundo ele, o TDAH é uma condição quê ultrapassa o problema neurobiológico ou episódios difíceis na infância. Para Türcke, vivemos a cultura do déficit de atenção.

Fotografia de Christoph Türcke sorrindo. Ele é branco, idoso, calvo, usa camisa e paletó.

O filósofo Christoph Türcke, estudioso das transformações causadas pelas telas na nossa percepção e na nossa cultura. Fotografia de 2012.

A cultura do déficit de atenção produz indivíduos quê terão muita dificuldade de se concentrar. Para Türcke, a maioria dos quê têm TDAH sofre as consequências do atual modo de vida.

O filósofo se vale da teoria do choque, de Benjamin, para pensar por quê as pessoas estão cada vez mais desatentas e viciadas em telas. Durante dékâdâs, as telas pertenciam somente ao momento de lazer: filmes, novelas, videogueimes. Hoje, o trabalho é feito por intermédio das telas. Portanto, elas acompanham a vida das pessoas o dia inteiro. As luzes das telas atraem nosso olhar, e a duração do quê vemos está cada vez mais curta.

É muito comum pessoas quê assistem a filmes em casa fazerem várias pausas, pois não ficam duas horas seguidas prestando atenção a uma história. Com rêdes sociais e aplicativos quê exibem vídeos cada vez mais curtos, passa a sêr difícil ter concentração para atividades quê demandam mais do quê 30 segundos da nossa atenção.

A imaginação técnica

Para Türcke, um dos comportamentos quê caracterizam os sêres humanos é a repetição. Ele entende quê a transição dos primeiros hominídeos para ômo sápiens teve a repetição como marca. Essa repetição do início da humanidade é ligada a rituais. No início da humanidade, esses rituais eram sagrados, ligados à adoração de algum deus, por exemplo.

Página trezentos e quarenta e um

Rituais, religiosos ou não, são repetições. Uma pessoa religiosa reza todo dia no mesmo horário; um atleta se exercita diariamente. Segundo Türcke, todos nós fazemos repetições. A habilidade de falar é repetir. Crianças pequenas vão ouvindo palavras e repetem-nas até aprendê-las. Uma vez quê aprenderam a língua nativa, pessoas vão repeti-la cotidianamente.

A repetição póde sêr boa ou ruim. Repetir exercícios com um violão torna um músico mais habilidoso. Repetir o uso de uma droga quê faz mal ao corpo póde deixar alguém com a saúde debilitada. De modo semelhante, a repetição exaustiva do uso de telas póde ter um efeito negativo sobre os sêres humanos, inibindo outra característica importante da humanidade: a imaginação.

Assim como a repetição, a imaginação sempre foi uma capacidade humana. Pessoas sonham, imaginam o futuro e criam ár-te porque são capazes de imaginar. No entanto, a tecnologia moderna desenvolvê-u máquinas quê imaginam pelas pessoas. Segundo Türcke, o cinema inaugura a imaginação técnica. Atualmente, a inteligência artificial cria músicas e dêzê-nhôs muito elaborados, o quê póde representar uma ameaça a profissionais quê trabalham criando (estampas, objetos, melodias etc.), mas é também uma ameaça à humanidade, quê passa a imaginar e a criar cada vez menos.

A inteligência artificial impacta diretamente a área da saúde, possibilitando diagnósticos por imagem mais precisos e tratamentos personalizados. Com o avanço dessa tecnologia, as habilidades requeridas dos profissionais quê interprétam essas imagens modificam-se freqüentemente.

Imagem de pessoa tocando a tela de um tablet.

Profissional da saúde analisa informações sobre organismo de paciente durante exame. Fotografia de 2021.

Em adultos quê cresceram sem celulares com tela, a atual rotina cercada de telas póde sêr responsável por diminuir a capacidade de atenção e imaginação. Nas crianças quê nascem já expostas a telas, não há diminuição, pois elas nem sequer aprenderam a prestar atenção. Quando um adulto lê um livro para um bebê e lhe mostra imagens nas quais ele deve se concentrar, o bebê vai aos poucos aprendendo a prestar atenção. Se ele só vê telas, não tem esse aprendizado.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Defina imaginação técnica de acôr-do com o conceito de Türcke.

1. Imaginação técnica é a capacidade de as máquinas imaginarem, formarem imagens. Ela surge com o cinema e permite quê máquinas façam o quê antes só humanos faziam.

2. A partir de quê idade você começou a ter acesso a celulares, tablets e outros dispositivos com telas? Você tem dificuldade de concentração? Converse com côlégas.

2. Resposta pessoal. Pergunte aos estudantes se tí-nhão alguma restrição ao uso de telas na infância. A turma póde debater sobre a dificuldade de concentração e a relação díssu com o uso de telas.

Página trezentos e quarenta e dois

PERSPECTIVAS

No trecho a seguir, Christoph Türcke faz propostas para atividades escolares quê possam lidar com a desatenção de crianças e adolescentes.

[…] Que seja freqüente não se ter vontade de fazer o dever de casa, é muito natural. Mas uma outra coisa é seu aparelho sensório-motor sêr incapaz díssu. É tão fatal quanto não pôdêr dormir ou sonhar. […]

Aprender a reter e ter tempo livre para isso é a base de toda formação. Educadores e professores quê praticam com muita paciência e calma ritmos e rituais comuns […]; quê se recusam a adaptar a aula a padrões de entretenimento da televisão […]; quê reduzem o uso de computadores ao mínimo necessário; quê ensaiam pequenas peças de teatro com as crianças, apresentam a elas um repertório de versos, rimas, provérbios, poemas, quê são decorados, mas com ponderação e entendimento; quê não se sérvem permanentemente de planilhas, mas fazem os alunos registrarem caprichosamente o essencial num caderno: eles são membros da resistência de hoje. A cópia de textos e fórmulas, outrora um sinal muito comum das escolas autoritárias, de repente se torna, diante da agitação geral da tela, uma medida de concentração motora, afetiva e mental, de exame de consciência, talvez até uma forma de devoção. […]

Por isso eu proponho uma nova disciplina escolar. Chamo provisoriamente de ‘estudo de ritual’. Aos alunos iniciantes serviria, antes de tudo, como uma paciente e criteriosa prática de conduta. […] É preciso ensaiar apresentações; ao ensaiar, aprende-se a repetir, aprende-se a se aprofundar em algo. Quem apresenta qualquer coisa aprende a apresentar a si mesmo: dar à sua conduta uma estrutura. […]

TÜRCKE, Christoph. Cultura do déficit de atenção por Christoph Türcke. Revista Serrote, [São Paulo], n. 19, 2015. Disponível em: https://livro.pw/rnefl. Acesso em: 23 set. 2024.

Imagem de pessoas jogando vôlei em uma quadra de areia. Elas estão em duplas e utilizam uma faixa de tecido para arremessar a bola.

Um grupo de jovens joga vôlei improvisadamente. Valmiera (Letônîa), 2024. Para Türcke, atividades sem telas são importantes na formação dos indivíduos.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. O filósofo fala da dificuldade de concentração na hora de fazer o dever de casa. Você tem essa dificuldade? Qual é a sua estratégia para se concentrar?

1. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes contem como fazem o dever de casa, se usam o celular, se ouvem música, se escolhem um lugar silencioso etc.

2. Quais são as propostas quê Türcke faz para professores resistirem à cultura do déficit de atenção?

2. Türcke sugere quê professores façam rituais comuns, como pequenas peças de teatro ou anotações e organização de caderno.

3. Pense na sua vida na escola e em casa. O quê você mudaria para se concentrar mais e ter mais tempo longe de telas?

3. Resposta pessoal. Os estudantes podem pensar em atitudes como deixar o celular em outro cômodo na hora do estudo, não levar o aparelho para a escola ou não ligá-lo, evitar telas antes de dormir etc.

Página trezentos e quarenta e três

RECAPITULE

Neste capítulo, você conheceu algumas críticas aos efeitos da tecnologia contemporânea na vida humana. A tecnologia póde solucionar problemas e melhorar a vida das pessoas, mas também póde empobrecer e piorar essa vida.

Jônathan Crary descreve como o uso de telas e a internet geram impactos ambientais e sociais. Crianças e adolescentes expostos ao “fluxo de conteúdos” perdem a própria experiência da juventude, marcada por descobertas. O filósofo também vê na vida contemporânea uma perda no âmbito do sono, quê passa a existir em função da produção e do consumo. Pessoas com dificuldade para dormir e/ou quê tomam medicamentos para o sono são a expressão dêêsse problema.

Crary também nota como a biometria é um elemento transformador da vida humana, uma vez quê a tecnologia passa a medir e a calcular o comportamento humano.

Byung-Chul Rãn se dedica a pensar o modo de vida no capitalismo. Com tecnologias como smartphones e uso das rêdes sociais, as pessoas passam a viver no quê ele chama de infocracia, um sistema quê põe em risco a democracia. Na infocracia, ter informação é ter pôdêr. As pessoas cada vez mais cedem suas informações para grandes empresas, quê usam esses dados, podendo até mesmo manipular o comportamento das pessoas durante eleições.

Você conheceu a crítica de Rãn à infocracia e o diagnóstico do filósofo sobre o desaparecimento do outro na vida contemporânea. Para ele, na internet as pessoas não dialogam, não conhecem o outro, falam apenas sobre si e repetem o comportamento de quem seguem.

O início das imagens em telas está no cinema. Válter Benjamin já destacava a experiência de choque causada pelo cinema. As pessoas se distraíam cada vez mais, reação relacionada aos muitos estímulos da modernidade. Na contemporaneidade, essa situação se agrava, como você aprendeu lendo sobre o filósofo Christoph Türcke. Para ele, o déficit de atenção da maioria das pessoas é causado pelo uso excessivo de telas, quê agora não faz parte só dos momentos de distração e diversão (cinema, séries, videogame), mas também do trabalho, pois muitos usam o computador ou celular como ferramenta de trabalho.

Imagem de homem deitado em uma rede, utilizando um celular. A rede está amarrada em troncos de árvore.

Homem usa celular no Parque Oschin, em Monte Verde (MG). A internet e os celulares permitem quê as pessoas estejam ligadas a telas até nos momentos de descanso.

Página trezentos e quarenta e quatro

ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. O texto a seguir é um fragmento de uma entrevista com Jônathan Crary, na qual ele reflete sobre os impactos sociais e políticos das rêdes sociais. Leia atentamente e responda ao quê se pede.

O sr. afirma quê as rêdes sociais afetam a própria possibilidade da política. Contudo, movimentos sociais recentes, como o Black Lives Matter, tiveram as rêdes como uma de suas principais platafórmas de articulação. Eles aconteceriam de qualquer maneira, mas diferentemente do quê aconteceram, justamente pelas rêdes sociais. Como vê esse tipo de fenômeno?

[...] não é verdade quê as rêdes sociais tornaram possível o movimento Black Lives Matter, a Primavera Árabe e outros desenvolvimentos relacionados. Engana-se quêm continua acreditando que a internet é uma ferramenta essencial para os movimentos sociais. Nunca seremos capazes de fazer o complékso da internet servir a objetivos emancipatórios ou igualitários.

Nas dékâdâs de 1980 e 1990, muitos teóricos declararam quê as ferramentas de instituições poderosas poderiam sêr apropriadas ou invertidas para fins radicais ou mesmo revolucionários, mas poucos acreditam genuinamente nisso agora. Se queremos sobreviver e nos sustentar de maneira justa e humana nas próximas dékâdâs, temos quê começar a construir formas radicalmente diferentes de nos relacionarmos e trabalharmos uns com os outros.

CRARY, Jônathan. Internet de hoje nunca servirá à emancipação, diz Jônathan Crary. [Entrevista cedida a] Giselle Beiguelman. Folha de São Paulo, São Paulo, 1 abr. 2023. Disponível em: https://livro.pw/aziua. Acesso em: 23 set. 2024.

a) De acôr-do com Crary, as rêdes sociais são instrumentos políticos para a organização de movimentos sociais quê lutam contra as desigualdades no mundo contemporâneo? Explique.

1. a) Crary entende quê não. Ele acredita quê é necessário utilizar outras estratégias para a organização de movimentos sociais progressistas.

b) Com base na leitura do texto, qual é a posição de Crary a respeito do uso das rêdes sociais no futuro?

1. b) As rêdes sociais agravam problemas sociais. Por isso, ele entende quê seria importante iniciar um movimento de abandono dêêsses espaços, criando estratégias de relação com o outro menos dependentes de aparatos corporativos e controlados pelo Estado.

c) Com base no quê você estudou e em seus conhecimentos, produza um texto argumentativo discutindo o papel das rêdes sociais no mundo contemporâneo. O texto deve se posicionar criticamente a respeito das teses de Crary, concordando ou refutando seus argumentos. Depois, discuta sua produção com côlégas.

1. c) Produção pessoal. Os estudantes devem se posicionar mobilizando conceitos e ideias para defender seu ponto de vista.

2. Observe a tirinha e leia o trecho do texto.

Tirinha em três quadros. Q1: uma pessoa com capacete mostra uma cédula e diz: 'Quinhentos reais para você apostar à vontade!'. Q2: um homem retruca: 'Acha que sou louco? Meu tio Fred perdeu quase tudo!'. Q3: sentada no topo de um edifício, a pessoa com capacete diz: 'Atenção, base. O tio Fred ainda não perdeu tudo'.

DAHMER, André. [Quinhentos reais para você apostar à vontade!]. [S. l.], 28 maio 2024. Instagram: andredahmer. Disponível em: https://livro.pw/xpwag. Acesso em: 5 out. 2024.

A compulsão por jôgo é considerada uma doença. De acôr-do com Hermano Tavares, coordenador do Programa Ambulatorial do Transtorno do jôgo do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da úspi (Universidade de São Paulo), o viciado acaba perdendo o contrôle da vida, prejudicando suas relações sociais, o trabalho e a saúde.

Página trezentos e quarenta e cinco

‘Você tem de estabelecer uma ética de publicidades das apostas. Tem influencers dizendo quê o jôgo é complemento de renda. Não é’.

‘Jogo, na melhor das hipóteses, é uma diversão, e você paga para isso. Eventualmente, você tem um retorno. Mas o mais provável é você perder dinheiro.’

— Hermano Tavares, psiquiatra especializado em Transtorno do jôgo.

DURÃES, Uesley. ‘Conheci o jôgo por um influencer’: jovens lutam contra o vício em apostas. UOL, São Paulo, 4 fev. 2024. Disponível em: https://livro.pw/xfrnk. Acesso em: 23 set. 2024.

a) Com base no quê você aprendeu no capítulo, o quê a personagem do primeiro quadrinho representa?

2. a) A personagem representa o algoritmo. O homem quê aparece prometendo 500 reais para apostas faz a propaganda do jôgo para internautas.

b) A tirinha mostra uma propaganda de jogos de aposta quê promete 500 reais gratuitos aos apostadores. Isso condiz com o quê a reportagem afirma? Comente.

2. b) Não. A reportagem afirma quê pessoas ficam viciadas em jogos e isso afeta suas vidas. Apostar significa pagar – gastar dinheiro –, e não ganhar.

c) Você conhece jogos de apostas? Conte um pouco do quê você sabe sobre o assunto.

2. c) Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes contem se conhecem quêm joga, se já jogaram ou pensaram em jogar, se sabem de casos em que pessoas enriqueceram apostando etc.

3. (Unifesp – 2017)

No fim dos anos 1990, um consórcio espacial russo-europeu anunciou quê construiria e lançaria satélites quê refletiriam a luz do Sol para a Terra. O esquema previa colocar em órbita uma cadeia de satélites, sincronizados com o Sol, a uma altitude de 1.700 quilômetros, cada um deles equipado com refletores parabólicos retráteis, da espessura de uma fô-lha de papel. Quando completamente abertos, cada satélite-espelho, com duzentos metros de diâmetro, teria a capacidade de iluminar uma área da Terra de 25 quilômetros quadrados, com uma luminosidade quase cem vezes maior do quê a da Lua. Em princípio, o projeto visava fornecer iluminação para a exploração industrial de recursos naturais em regiões remotas com longas noites polares, na Sibéria e no leste da Rússia, permitindo atividade ao ar livre, noite e dia. Mas o consórcio acabou expandindo seus planos para a possibilidade de oferecer iluminação noturna a regiões metropolitanas inteiras. Calculando quê se reduziriam os custos de energia da iluminação elétrica, o slôgamm da empresa era ‘Luz do dia a noite toda’.

A oposição ao projeto surgiu de imediato e de diversas frentes. Astrônomos temeram os efeitos nefastos da observação espacial a partir da Terra. Cientistas e ambientalistas apontaram consequências fisiológicas prejudiciais tanto aos animais quanto aos humanos, uma vez quê a ausência de alternância regular entre dia e noite interromperia vários padrões metabólicos, inclusive o sono. Associações culturais e humanitárias também protestaram, alegando quê o céu noturno é um bem comum ao qual toda a humanidade tem direito, e quê desfrutar da escuridão (da noite) e observar as estrelas é um direito humano básico quê nenhuma empresa póde eliminar. De qualquer modo, direito ou privilégio, ele já está sêndo violado para mais da mêtáde da população do planêta, em cidades quê estão permanentemente envoltas na penumbra da poluição e na intensa iluminação.

Defensores do projeto, todavia, afirmaram quê tal tecnologia diminuiria o uso noturno de eletricidade e quê a perda (da noite) e de sua escuridão seria um preêço razoável, considerando-se a redução do consumo global de energia. Seja como for, esse empreendimento, ao fim inviável, ilustra o imaginário contemporâneo, para o qual um estado de iluminação contínua é inseparável da ininterrupta operação de troca e circulação globais. Em seus excessos empresariais, o projeto é uma expressão hiperbólica de uma intolerância institucional a tudo quê obscureça ou impeça uma situação de visibilidade instrumentalizada e constante.

(24/7: capitalismo tardio e os fins do sono, 2014. Adaptado.)

Em relação ao projeto, a postura do autor é de

a) indiferença.

b) imparcialidade.

c) neutralidade.

d) apôio.

e) oposição.

Resposta: c.

Página trezentos e quarenta e seis

INVESTIGAÇÃO

Consulte orientações no Manual do Professor.

Combate às fêik news

Fake news é um termo em inglês quê póde sêr traduzido livremente como “notícia falsa”. Atualmente, informações falsas ou distorcidas estão presentes no cotidiano das pessoas, sêndo produzidas e disseminadas intencionalmente para confundir os leitores. Com a internet, as fêik news ganharam grande notoriedade em razão da velocidade e da quantidade de informações quê circulam diariamente em diversos suportes midiáticos.

As fêik news geram consequências, muitas delas com grande impacto, como mudanças em cenários eleitorais e diminuição de vacinação de crianças por dê-cisão dos pais.

Objetivo

O objetivo dêste projeto é produzir um podcast quê ajude a comunidade a identificar fêik news e a se informar de maneira segura e confiável.

ETAPA

1

Introdução

De acôr-do com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (hí bê gê hé), 92,5% dos domicílios brasileiros tí-nhão acesso à internet em 2023. Isso significa quê, na atualidade, quase toda a população brasileira utiliza a internet para se informar e se comunicar.

Diante dêste cenário em quê as informações veiculadas pela internet são cada vez mais disseminadas, é essencial pensar em estratégias quê possam ajudar a população a avaliar criticamente as informações encontradas na rê-de, desenvolvendo as habilidades necessárias para diferenciar akilo quê é verdadeiro daquilo quê é falso. Isso ganha ainda mais relevância no presente, já quê existem grupos e indivíduos quê divulgam informações falsas com objetivos políticos, buscando influenciar a ssossiedade a apoiar determinadas causas ou projetos.

ETAPA

2

Roda de conversa

Para iniciar o projeto, é fundamental entender como você e os côlégas se informam e utilizam a internet. Assim, organizem uma roda de conversa para trocar ideias sobre a forma como vocês lidam com as notícias e informações quê buscam ou recebem. A discussão póde sêr guiada por meio dos tópicos a seguir.

Quais meios de comunicação vocês utilizam?

Vocês têm o hábito de ler ou escutar as notícias na íntegra?

Ao buscar informações sobre uma mesma notícia em diferentes fontes, costumam desconfiar de alguma mídia ou tipo de notícia?

Ao longo da conversa, façam anotações no caderno.

Página trezentos e quarenta e sete

ETAPA

3

Entrevista

Com base nos registros feitos durante a roda de conversa, elaborem um quêstionário com perguntas simples com o objetivo de identificar se as pessoas da sua família e da sua comunidade escolar (de diferentes faixas etárias) sabem o que são fêik news, se acreditam em informações enviadas por amigos ou conhecidos por meio de rêdes sociais e se ficam em dúvida quanto à veracidade de algum tipo de informação.

Em seguida, organizem-se para a realização das entrevistas. Decidam quantas pessoas cada membro do grupo vai entrevistar e distribuam o público-alvo entre os entrevistadores. Os entrevistados podem sêr côlégas de escola, familiares, pessoas da comunidade e do convívio etc.

É importante quê as perguntas sêjam simples e dirétas e quê possam sêr facilmente tabuladas e analisadas. No entanto, é aconselhável prever uma pergunta quê dê ao entrevistado a chance de relatar alguma dificuldade específica ou alguma experiência quê teve com fêik news.

Registrem as entrevistas por meio de gravadores, utilizando aparelhos celulares ou outros recursos disponíveis.

Em seguida, reúnam todas as informações e identifiquem as principais dúvidas e dificuldades dos entrevistados para reconhecer as fêik news. Esse relatório servirá de base para vocês planejarem a elaboração do podcast sobre o tema.

Imagem da expressão fake news replicada diversas vezes.

Os avanços tecnológicos dos meios de comunicação são utilizados para a propagação mais veloz de fêik news.

Página trezentos e quarenta e oito

ETAPA

4

Pesquisa

Para a realização desta etapa, sigam as instruções.

a) Reunidos em grupos, cada um deve escolher um jornál ou revista de circulação local, estadual ou nacional em quê haja notícia sobre o tema “fêik news”. Pesquisem em qual tipo de notícia ou seção do noticiário a fêik news é tratada (notícias internacionais, política, economia, tecnologia, cultura etc.).

b) Pesquisem se a notícia traz informações aos leitores sobre identificar e evitar fêik news.

c) Durante a pesquisa, anotem os seguintes dados:

nome do meio de comunicação, periodicidade e abrangência;

nome do redator, redator-chefe ou responsável pela notícia;

se a notícia foi consultada em meio impresso ou ôn láini, como foi feita a pesquisa, quantas vezes o tema fêik news foi mencionado e em quais datas, o título da notícia na qual o tema foi abordado e qual foi o posicionamento dessa mídia com relação às fêik news;

se há informações de como identificar e prevenir fêik news e outras informações quê vocês julguem importantes.

ETAPA

5

Compartilhamento

Na data combinada, cada grupo deve apresentar os resultados obtidos por meio das entrevistas e da pesquisa. Promovam uma discussão entre os grupos, comparando e complementando as informações trazidas, e identifiquem pontos comuns e diferentes na abordagem do tema nos periódicos pesquisados.

Debatam sobre as informações coletadas e identifiquem o quê mais chamou a atenção de vocês. Discutam em qual tipo de matéria as fêik news foram abordadas com mais e com menos freqüência e quais foram as consequências quê tais notícias falsas provocaram na ssossiedade.

ETAPA

6

Conferência

Busquem na internet sáites de verificação da validade das notícias. Neles, além de orientações claras sobre o tema, é possível verificar diretamente se determinada notícia é verdadeira ou falsa. Façam testes com informações recentes quê vocês tênham recebido via rêdes sociais, observando quais elemêntos esses sáites utilizam ou indicam para verificar se a notícia é falsa ou não.

Imagem de trecho de uma página virtual.

PAINEL de checagem de fêik news. [202-]. Cabeçalho do sáiti oficial do Conselho Nacional de Justiça.

Página trezentos e quarenta e nove

ETAPA

7

Produção

Nesta etapa, vocês vão produzir um podcast sobre fêik news. Decidam em conjunto a duração do podcast e as formas de divulgação em rêdes sociais e outros espaços freqüentemente utilizados pela comunidade. Para a produção do podcast, sigam o roteiro.

a) Inicialmente, apresentem uma explicação didática a respeito das fêik news e as razões pelas quais elas são perigosas em nossa vida social e individual.

b) Em seguida, deem exemplos de fêik news quê tiveram impacto social relevante no Brasil e no mundo. Essa apresentação deve explicar por quê as informações eram inadequadas e a maneira como elas impactaram negativamente a ssossiedade.

c) Recuperem conceitos filosóficos analisados ao longo dos capítulos d fórma didática, traçando uma reflekção crítica a respeito do problema das notícias falsas e o modo como a Filosofia póde contribuir para combater esse problema.

d) Apresentem uma lista de dicas para quê as pessoas identifiquem as fêik news e os sáites quê permitem checar a veracidade das notícias.

Montem um calendário conjunto com prazos de entrega para acompanhar o processo de produção e a divulgação do podcast.

ETAPA

8

Autoavaliação

A etapa de autoavaliação é importante para promover a discussão a respeito do papel desempenhado por cada estudante. O roteiro a seguir póde contribuir para essa discussão.

Como você avalia os resultados do projeto como um todo?

O quê poderia ter sido feito de outra forma?

Como os membros do grupo trabalharam e se comunicaram entre si?

Como foi a receptividade ao podcast?

Como você avalia sua participação no grupo?

O quê você mais gostou de fazer?

De quê forma você ajudou o grupo?

Você acredita quê poderia ter ajudado mais? Como?

Imagem de duas pessoas conversando em um estúdio. Elas usam fones de ouvido e microfones.

Pessoa em gravação de podcast, 2022.

Página trezentos e cinquenta