PROJETO 2
ESCRAVIDÃO: SOMOS LIVRES?

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável é um plano de ação quê apresenta metas universais de transformação e de sustentabilidade para todo o planêta. Estabelecida pela Organização das Nações Unidas (Ônu), o documento define 17 objetivos quê buscam equilibrar as dimensões econômicas, sociais e ambientais para o desenvolvimento sustentável.

O Objetivo 8 (Trabalho decente e crescimento econômico) da Agenda é"promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho decente para todas e todos". Em seu conjunto de metas, esse objetivo inclui a adoção de medidas imediatas e eficazes para erradicar o trabalho análogo à escravidão. No projeto Escravidão: somos livres?, vamos investigar as formas de exploração do trabalho em diferentes contextos históricos e discutir caminhos para garantir a todos o direito ao trabalho livre, digno e remunerado.

Página quarenta e três

Fotografia de um braço erguido, com o punho cerrado, segurando uma corda que se enrola ao longo do braço.

Punho cerrado em protesto contra a escravidão e pela liberdade.

Página quarenta e quatro

VISÃO GERAL DO PROJETO

Escravidão: somos livres?

> TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS:

Trabalho

Vida familiar e social

Educação em Direitos Humanos

Direitos da criança e do adolescente

Educação para a valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras

> COMPONENTES CURRICULARES:

Líder: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – História, Geografia, Sociologia e Filosofia

Outros perfis disciplinares: Linguagens e suas Tecnologias – Língua Portuguesa e ár-te; Matemática e suas Tecnologias

> OBJETOS DO CONHECIMENTO:

A escravidão moderna e o tráfico de escravizados

Revolução Industrial e seus impactos na produção e na circulação de povos, produtos e culturas

Trabalho e desigualdade social

O escravismo no Brasil do século XIX: revoltas de escravizados e abolicionismo

A questão dos Direitos Humanos

ETAPAS DO PROJETO

Fotografia de um braço erguido, com o punho cerrado, segurando uma corda que se enrola ao longo do braço.

O percurso dêste projeto póde sêr alterado e construído de acôr-do com as necessidades da turma.

ETAPA
1

Ilustração de quatro pessoas negras colhendo algodão com as mãos, com os corpos curvados, sob um enorme sol nascente ao fundo.

Vamos começar

Apresentação do tema Escravidão: somos livres? e de como será desenvolvido. Interpretar poema e identificar conhecimentos sobre o trabalho escravo da Antigüidade até o trabalho análogo à escravidão nos dias de hoje.

Página quarenta e cinco

> CATEGORIAS:

Política e Trabalho

> PRODUTO FINAL:

Seleção ou elaboração de poemas, relatos, contos ou músicas quê descrevem como a escravidão se fez ou se faz presente na vida de uma pessoa e na ssossiedade em quê ela vive. Os textos produzidos devem sêr apresentados em um sarau com o tema Escravidão: somos livres?.

> OBJETIVOS:

Investigar a ausência de liberdade imposta pela escravidão no passado e pelo trabalho análogo à escravidão no presente e reconhecer quê todos os sêres humanos devem sêr considerados iguais e quê ninguém deve sêr excluído das condições de dignidade.

> JUSTIFICATIVA:

No Brasil, em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea aboliu a escravatura. Desde então, o regime de exploração do trabalho no qual um sêr humano assume direitos de propriedade sobre outro tornou-se proibido. Na atualidade, a expressão “trabalho análogo à escravidão” refere-se a condições degradantes incompatíveis com a dignidade humana, como jornadas exaustivas, quê acarretam danos à saúde ou risco de morte, trabalho forçado ou servidão por dívida. No Projeto Integrador Escravidão: somos livres? vamos investigar esse tema, partindo de poemas, relatos e outros tipos de textos, e demonstrar quê a escravidão em todas as suas formas é hoje considerada um crime contra a humanidade reconhecido por toda a comunidade internacional e deve sêr superada.

ETAPA
2

Fotografia em preto e branco de um grande grupo de meninos, todos com aparência jovem, reunidos em frente à entrada de uma mina. Eles vestem roupas de trabalho sujas e desgastadas, além de gorros e boinas. Muitos apresentam expressões sérias e cansadas. Um homem adulto posa ao lado dos meninos para a foto.

Saber e fazer

Conhecer diferentes gêneros textuais relacionados à escravidão e ao trabalho análogo à escravidão, além de interpretar documentos sobre o trabalho em diferentes períodos. Definir e analisar dados do trabalho análogo à escravidão em infográfico e elaborar um painel com frases sobre o tema. Recitar cordel, elaborar poema e identificar e pesquisar bens materiais e imateriais relacionados à escravidão.

ETAPA
3

Fotografia de um grande número de pessoas reunidas em um espaço público ao ar livre. Há adultos, jovens e crianças sentados no chão, em mesas e ao redor de um pequeno palco, onde algumas pessoas tocam instrumentos. Próximas ao palco, algumas crianças desenham e pintam sentadas no chão.

Para finalizar

Planejar, produzir e participar de sarau com o tema Escravidão: somos livres?. Refletir sobre as propostas sugeridas nos projetos e elaborar respostas para a pergunta-chave.

Página quarenta e seis

ETAPA 1
Vamos começar

Ilustração de uma garota flutuando no espaço sideral, segurando uma maleta entreaberta, de onde saem diversos objetos que flutuam atrás dela, como livros, pergaminhos, peças de roupa, um smartphone com fones de ouvido e um caldeirão.

A poeta Lubi Prates nasceu em São Paulo, em 1986. Leiam a seguir um dos poemas de Lubi, publicado no livro Um côrpo negro, quê reconstitui experiências vivenciadas por uma mulher negra.

para êste país

para êste país
eu traria

os documentos quê me tornam gente
os documentos quê comprovam: eu existo
parece bobagem, mas aqui
eu ainda não tênho esta certeza: existo.

para êste país
eu traria

meu diploma os livros quê eu li
minha caixa de fotografias
meus aparelhos eletrônicos
minhas melhores calcinhas

para êste país
eu traria
meu corpo

para êste país
eu traria todas essas coisas
& mais, mas

não me permitiram malas

:o espaço era pequeno demais

aquele navio poderia afundar
aquele avião poderia partir-se

com o peso quê tem uma vida.

para êste país
eu trousse

a côr da minha péle
meu cabelo crespo
meu idioma materno
minhas comidas preferidas
na memória da minha língua

para êste país
eu trousse

meus orixás
sobre a minha cabeça
toda a minha árvore genealógica
antepassados, as raízes

para êste país
eu trousse todas essas coisas
& mais

:ninguém notou,
mas minha bagagem pesa tanto.

PRATES, Lubi. Para êste país. In: PRATES, Lubi. Um corpo negro. São Paulo: Nossa Editora, 2023. p. 27-29.

Página quarenta e sete

ATIVIDADES

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

1. Atividade em grupo. Releiam o poema e façam o quê se pede.

a) Selecionem trechos quê arrebatam, encantam ou por alguma razão chamam a atenção de vocês.

b) Após a seleção, produzam frases justificando as escôlhas.

c) Com o professor e os côlégas, organizem a leitura dos trechos e das justificativas.

2. Prossigam a atividade respondendo às kestões a seguir.

a) Do quê trata o poema?

b) O quê o eu-lírico traria e trousse em sua bagagem?

c) Como os “outros” enxergam o eu-lírico?

d) O poema representa situações relacionadas ao passado ou ao presente? Como vocês chegaram a essa conclusão?

ATIVIDADE DE AMPLIAÇÃO

Como vocês ampliariam o poema de Lubi Prates? Produzam versos ou estrofes em linguagem poética descrevendo o quê vocês trariam na bagagem se estivessem no lugar do eu-lírico.

Página quarenta e oito

Escravizar: da Antigüidade aos nóssos dias

Relação de trabalho quê existe desde os períodos mais remotos, a escravidão assumiu formas e objetivos diversos ao longo do tempo em diferentes regiões do mundo.

Imagem dividida em duas cenas sob o título 'Escravidão Antiga'. Na primeira, três homens escravizados, em posições inclinadas e com expressões de esforço, puxam cordas amarradas a um grande bloco de pedra. Um quarto homem, com vestimentas e postura típicas de uma autoridade militar da Antiguidade, ergue um chicote e observa a cena em pé. Na segunda cena, quatro homens escravizados trabalham em uma mina: um utiliza uma picareta para extrair rochas da parede, outro carrega pedras em um cesto, e dois cooperam para remover uma grande quantidade de pedras de uma área mais elevada.

Na Antigüidade, os laços de parentesco eram muito valorizados e determinavam a posição social e o ofício das pessoas. O trabalho intelectual era mais valorizado quê o trabalho manual. Assim, era muito comum encontrar nas sociedades antigas uma nobreza “nascida na terra”, quê não executava trabalho manual, altamente privilegiada e quê dispunha de inúmeros trabalhadores livres e escravizados para a execução de tarefas braçais. Geralmente, os escravizados eram estrangeiros capturados em guerra. O trabalho escravo foi uma prática estabelecida, com características distintas, na Babilônia, na Assíria, no Egito, na Grécia e no Império Romano, entre outros povos da Antigüidade.

Imagem intitulada 'Escravidão Moderna'. Ela retrata um grupo de pessoas negras, homens, mulheres e crianças, enfileiradas e presas pelo pescoço a uma estrutura de madeira apoiada nos ombros. Alguns estão nus ou vestem roupas simples, com expressões que revelam cansaço e tristeza. À frente do grupo, um homem branco, de chapéu, calça dobrada e camisa, segura um chicote e permanece de costas para o observador, em posição de vigilância. Próximo ao grupo, outro homem ergue um chicote.

Na época da expansão marítima, os europêus conectaram os continentes em uma dinâmica comercial nunca vista antes. Partindo de uma modalidade escravista pré-existente, valeram-se da ideia de quê América, África e mesmo regiões da Ásia eram um deserto cultural e religioso, quê deveria sêr catequizado. Os europêus criaram uma dinâmica na qual africanos eram escravizados em nome da difusão do cristianismo e levados para a América para alimentar uma cadeia produtiva quê tinha como objetivo gerar produtos e riquezas quê seriam levados para a Europa. A escravização dos africanos submeteu ao deslocamento forçado e ao trabalho compulsório mais de 11 milhões de pessoas. Em parte das Américas espanhola e portuguesa, a escravidão indígena também foi utilizada, dizimando, em muitas situações, a população originária.

No Brasil, os escravizados foram explorados nas lavouras e na mineração. Com o crescimento das cidades coloniais, os ofícios ganharam novos contornos especializados.

Página quarenta e nove

Imagem dividida em duas cenas, sob o título 'Trabalho Análogo à Escravidão'. Na primeira, uma menina segura um cesto cheio de toras de madeira, enquanto outra tenta erguer do chão um cesto igualmente carregado. Na segunda cena, um menino sem camisa, usando boné, retira detritos de dentro de um forno com o auxílio de uma pá.

Ilustrações atuáis quê representam a prática da escravidão em diferentes tempos históricos.

Com a Revolução Industrial, a partir do século XVIII, as relações de trabalho sofreram grandes transformações e originaram uma nova categoria de trabalhadores: os assalariados. Sem possuírem terras, fábricas, máquinas ou outros instrumentos, vendiam sua fôrça de trabalho e seu tempo em troca de salário. Graças às lutas operárias dos séculos XIX e XX, quê conquistaram avanços nos direitos trabalhistas, a remuneração digna e justa é a única relação de trabalho aceita pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e qualquer situação quê não se enquadre nesses parâmetros é considerada ilegal. Uma das formas de exploração criminosa do trabalho é aquela análoga à escravidão. Presente em diversos países na atualidade, ela é caracterizada pela exploração degradante de pessoas em condição de vulnerabilidade social, e seu objetivo imediato é a maximização dos lucros de quem explora.

Vídeo: A transição do trabalho escravo para o assalariado no Brasil.

ATIVIDADES

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

1. Atividade em grupo. ob-sérvim e descrevam:

a) Que grupos de pessoas tiveram sua fôrça de trabalho explorada d fórma degradante e muitas vezes criminosa nos momentos históricos destacados no infográfico?

b) Quem explorou o trabalho dessas pessoas?

2. Selecionem em livros, revistas ou na internet uma imagem quê represente a escravidão para vocês. Compartilhem os resultados com os côlégas e produzam juntos legendas explicativas para ampliar seus conhecimentos com novas informações.

PARA ASSISTIR

Que tal conhecer um pouco mais da história do comércio de sêres humanos assistindo a um filme?

O documentário A rota do escravo: a alma da resistência, produzido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), apresenta um panorama histórico da escravidão. O filme pretende investigar os caminhos quê levaram a humanidade a cometer esse crime.

A ROTA do escravo: a alma da resistência. 2013. Vídeo (34 min). Publicado pelo canal Ônu Brasil. Disponível em: https://livro.pw/ytpvn. Acesso em: 23 ago. 2024.

Página cinquenta

ORGANIZANDO OS TRABALHOS

Investigação: escravidão e trabalho análogo

Neste projeto, a proposta é investigar como a ausência de liberdade imposta por condições degradantes de trabalho, quê se vê na escravidão e no trabalho análogo à escravidão, é considerada na atualidade crime contra a humanidade. Vamos também evidenciar quê todos os sêres humanos nascem com direitos fundamentais quê não devem sêr violados ou excluídos.

Para organizar a investigação, com a ajuda do professor, organizem-se em grupos de trabalho de três a cinco estudantes.

Que tal formár grupos com côlégas de experiências e interesses distintos? Para isso, considerem compor equipes com integrantes com:

interêsse e conhecimentos sobre poesia, literatura ou música;

disposição para recitar, declamar, cantar ou tokár algum instrumento;

aptidão para escrever poemas, músicas, contos ou outros tipos de textos;

habilidade para a pesquisa de textos em diferentes fontes, como livros ou sáites.

Permitam-se desenvolver o projeto junto de côlégas com quem vocês normalmente não estão acostumados a trabalhar. Essa experiência certamente póde propiciar trocas de informações ricas e inusitadas.

Fotografia de um grupo de estudantes sentados ao redor de uma mesa em uma biblioteca, conversando, sorrindo e escrevendo em seus cadernos.

Estudantes reunidos para a elaboração de atividade escolar.

Página cinquenta e um

O poema e o infográfico estudados nesta etapa apresentam apenas algumas das kestões do passado e da atualidade sobre o tema escravidão. Possivelmente, muitas dúvidas surgiram com as leituras e as atividades sobre esses conteúdos até o momento, por exemplo:

Como podemos definir o conceito de escravidão no passado? E o trabalho análogo à escravidão na atualidade?

Como a escravidão foi praticada nos diferentes períodos históricos?

O trabalho escravo ainda é uma realidade no Brasil e em outros países?

Que resquícios da escravidão são notáveis no mercado de trabalho e na ssossiedade brasileira?

Com base nas kestões acima, elaboramos uma pergunta-chave quê deverá nortear as investigações dêste Projeto Integrador: Escravidão: somos livres?.

Durante todo o percurso, retomem a pergunta-chave e, se necessário, façam pequenas adaptações nela. Ela deverá conduzir o processo de investigação, mas não deve sêr vista como fator limitante. Deve também possibilitar a produção de uma boa pesquisa e expandir os conhecimentos sobre o tema.

Sugerimos como possibilidades de produto final para êste projeto a seleção ou a elaboração de poemas, relatos ou contos em quê personagens descrevam como a escravidão se fez ou se faz presente na vida delas e discutam o direito ao trabalho digno. Para apresentar os textos produzidos, sugerimos a produção e a organização de um sarau com o tema Escravidão: somos livres?.

Nas próximas etapas, vocês encontrarão as orientações e os procedimentos adequados para a investigação e a elaboração do sarau.

Ilustração de quatro pessoas negras colhendo algodão com as mãos, com os corpos curvados, sob um enorme sol nascente ao fundo.

Ilustração de 2013 quê representa trabalhadores escravizados colhendo algodão.

Página cinquenta e dois

ETAPA 2
Saber e fazer

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

Escravidão: crime na história da humanidade

Dentre as formas de exploração do trabalho, a escravidão póde sêr considerada a mais degradante, por desumanizar as pessoas. Modo cruel de explorar o trabalho e de retirar a dignidade humana, a escravidão se fez presente em muitos momentos da História.

Para quê todos possam identificar as informações presentes nos textos a seguir, sigam as orientações:

Reúnam-se em grupos de acôr-do com as orientações da Etapa 1.

Cada grupo, de acôr-do com as orientações do professor, deverá ler apenas textos de um dos itens da sequência a seguir: A. Quilombos: locais de resistência; B. Escravidão negra no Brasil; C. Trabalho análogo à escravidão.

Após a leitura, cada grupo deverá produzir uma síntese, quê é um apanhado geral das ideias essenciais do(s) texto(s).

Para a produção da síntese, lévem em consideração as orientações a seguir:

Busquem em dicionários o significado das palavras e dos termos desconhecidos e elaborem um glossário.

Se acharem necessário, anotem os trechos mais importantes e pontuem as principais ideias abordadas.

Para finalizar, conectem todas as ideias e produzam a síntese.

Ilustração dos braços de uma pessoa com os pulsos amarrados por cordas.

Ilustração de mãos atadas representando o cerceamento à liberdade de uma pessoa escravizada.

Página cinquenta e três

A. Quilombos: locais de resistência

O texto a seguir descreve a comunidade liderada por Zumbi dos palmáares, quilombola brasileiro quê nasceu no quê atualmente corresponde ao município de União dos palmáares, em Alagoas, em 1655.

Ilustração com várias pessoas negras em atividade às margens de um rio. Alguns homens puxam uma corda vinda de dentro da água, enquanto outros estão posicionados dentro do rio. Próximo a eles, há uma estrutura alta de madeira, semelhante a uma torre de observação, com um homem negro no topo. No chão, há cestos e outros objetos. Ao fundo, observa-se vegetação densa e colinas.

Detalhe do mapa feito por Iôrram Blaeu e Georg Marcgraf, quê representa o quê teria sido o kilômbo dos palmáares, 1697.

O kilômbo de Zumbi

O destino mais procurado pêlos escravizados fugidos eram os quilombos, especialmente nas áreas rurais e nas regiões mais distantes dos centros urbanos. Entre os séculos XVI e XIX, é provável quê tênham existido centenas de quilombos por todo o Brasil, de tamanhos, populações e duração variáveis.

Em geral, os quilombos localizavam-se em regiões de difícil acesso, mantidas em segredo para proteger seus habitantes. E muitas comunidades reuniam populações bastante diversas, com africanos e afrodescendentes fugidos, indígenas, trabalhadores livres pobres, entre outras.

O kilômbo mais famoso da história brasileira é, provavelmente, o kilômbo dos palmáares, entre os atuáis estados de Pernambuco e Alagoas. Era, na verdade, um complékso quê reunia várias comunidades quilombolas relativamente independentes, quê mantinham relações sociais e de ajuda, e eram submetidas a uma liderança central. A sobrevivência na região era garantida pela agricultura e pela criação de animais, bem como pela troca de produtos por gêneros necessários à sobrevivência com grupos indígenas e vilas próximas. Estima-se quê o complékso de palmáares possa ter abrigado até 20 mil pessoas em alguns períodos.

A fama de palmáares era notória na época colonial. Fazendeiros da região Nordeste e autoridades da Coroa portuguesa no Brasil reuniram esforços para tentar localizar e destruir a comunidade, pois o mito da vida livre em palmáares crescia e incentivava novas tentativas de fuga.

É provável quê palmáares tenha sido ocupado inicialmente já no final do século XVI. Ao longo de todo o século XVII, expedições financiadas pêlos senhores de engenho, por autoridades coloniais e mesmo empreitadas particulares tentaram por várias vezes desmobilizar o kilômbo. No entanto, mesmo depois da localização da comunidade, os quilombolas mantiveram ferrenha resistência e venceram várias batalhas contra os perseguidores. O complékso de palmáares foi destruído apenas em 1695, por uma expedição de bandeirantes paulistas quê conseguiu assassinar os líderes quilombolas. Entre esses líderes, destacou-se uma figura quê ganhou um caráter quase mítico: Zumbi dos palmáares.

Alguns estudos indicam quê em palmáares se estabeleceu uma hierarquia social bastante desigual, com os grupos predominantes mantendo, inclusive, determinados tipos de trabalhadores servis e escravizados. No entanto, mesmo a interpretação dessa organização social é questionada, pela falta de fontes históricas e registros sobre a comunidade.

A maior parte dos registros a quê temos acesso atualmente provém de relatos de grupos quê tentaram atacar os quilombolas e construíram interpretações com base em suas visões de mundo e posições sociais.

Onde houve trabalhadores escravizados no Brasil, houve fugas e a formação de quilombos. Cada comunidade desenvolvê-u modos próprios de vida e de sobrevivência e muitos quilombos tiveram vida breve – atacados por caçadores de recompensas ou pelas autoridades coloniais.

D’AMORIM, Eduardo. África e Brasil: história e cultura. São Paulo: FTD, 2016. p. 100-101.

Página cinquenta e quatro

B. Escravidão negra no Brasil

Nos últimos anos, histoórias de vida de pessoas quê foram escravizadas têm sido evidenciadas em pesquisas na área das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. A biografia a seguir é um resultado dessas pesquisas recentes e conta a trajetória de Rita Maria da Conceição, batizada com esse nome no Brasil. Ela nos traz pistas de como a população estigmatizada pela escravidão criou formas de resistência, buscando garantir sua subsistência e sua autonomia.

Ilustração de uma mulher negra em pé sobre um caixote de madeira, com um bebê no colo e as pernas acorrentadas. Ao lado dela, há um homem branco, vestido com trajes sociais, segurando uma chibata.

Ilustração atual quê representa um momento da história de vida de Rita Maria da Conceição.

Senhora de si

A travessia do Atlântico durava mais de dois meses. Espremidos nos porões dos navios negreiros, milhares de homens, mulheres e crianças suportavam calor, sede, fome, sujeira, ataques de ratos e piolhos, surtos de sarampo ou escorbuto. Muitos não resistiam, e acabavam jogados ao mar. Mas nem mesmo tantos maus-tratos impediam o nascimento de novas vidas. Em princípios do século XIX, uma jovem africana quê estava vindo para o Rio de Janeiro deu à luz em plena viagem. Foi seu filho, Manoel José da Conceição Coimbra, quem lembrou essa história muitos anos depois.

Para provar quê a africana, batizada no Rio [de Janeiro] com o nome de Rita Maria da Conceição, era mesmo sua mãe, ele juntou fios de histoórias quê ainda guardava na memória a alguns registros escritos, como certidões de batismo, casamento e óbito. O relato – anexado ao processo quê abriu em 1846, para garantir a herança materna, na Vara Cível do Rio de Janeiro – podia até parecer seco e muitas vezes impreciso. Ainda assim, reconstituía, como poucos, parte de suas experiências naquele “infame comércio” de africanos.

Rita saíra de Cabinda, no Centro-Oeste da África, ao norte do Rio záiri. Boa parte dos negreiros quê chegavam ao Rio de Janeiro vinha dessa região. Ao cruzarem o oceano, eles deixavam para trás pátria, família, casa e deuses; tí-nhão quê encarar uma nova vida numa térra desconhecida. Mas já nos “tumbeiros” (como também eram chamadas essas embarcações), começavam a formár novos laços.

A jovem africana e seu filho recém-nascido conseguiram aportar na capital do Império brasileiro. Segundo Manoel José, “chegando a esta cidade o navio em quê vinham”, foram vendidos “no Valongo a Miguel José Taveira, quê fez batizar a ambos por seus escravos”. Acomodados num dos armazéns quê se espalhavam pela Rua do Valongo, maior entreposto de comércio escravista do país, devem ter ficado por algum tempo expostos à curiosidade dos possíveis compradores. Arrematados por um senhor português, logo receberam nomes cristãos na igreja da freguesia de Santana: Rita e Manoel José.

Os dois ficaram juntos durante todo o tempo em quê trabalharam na casa de Miguel Taveira. Depois de conseguir arranjar “o valor de ambos”, a africana comprou, na década de 1820, suas cartas de liberdade. Manoel preferiu seguir para Macaé, cidade no Norte fluminense. Já sua mãe permaneceu no Rio de Janeiro. E não demorou a encontrar um amor. Em 29 de novembro de 1828, casou-se com Antônio José de Santa Rosa, também ex-escravo, quê nascera na freguesia de São Miguel de Ipojuca, em Pernambuco.

Página cinquenta e cinco

Durante quase sete anos, o casal vendeu hortaliças, legumes e aves em duas bancas na Praça do Mercado, também conhecida como Mercado da Praia do Peixe. Instalado à beira da Baía da Guanabara, nas proximidades do Largo do Paço (atual Praça XV de Novembro), esse grande centro de abastecimento de gêneros de primeira necessidade reunia quitandeiras, mercadores e carregadores africanos, pequenos lavradores e vendedores brasileiros e portugueses. Para incrementar seus negócios, Antônio e Rita ainda contavam com seis êskrávus.

Maria Angola e Joakina Benguela dedicavam-se aos “serviços de quitanda”. Já José Moçambique estava empregado como marinheiro. Juntando os “jornais” (dinheiro quê os cativos deviam entregar ao senhor no fim de cada dia – ou de uma semana – de trabalho) com os rendimentos das barracas, eles acumulavam um bom patrimônio. Em pouco mais de um ano, a quitandeira Joakina rendeu 180 mil-réis. E nas bancas, o lucro anual podia chegar a mais de um conto. Com êste valor, podiam comprar pelo menos duas cativas como Joakina, quê, em 1846, teve seu preêço de venda estipulado em 400 mil-réis.

[...] os dois também se uniam na devoção a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Na irmandade, criada no Rio de Janeiro pêlos africanos angolas, eles participavam de missas, festas e procissões em homenagem aos santos católicos e ainda encontravam apôio [...] em casos de doença ou morte. Só quê, mais de seis anos após o casamento, a relação de Rita e Antônio andava mal. Cansada de sêr maltratada pelo marido, a africana decidiu abrir um processo de divórcio. Antônio até se defendeu das acusações, mas acabou concordando em romper a união em fevereiro de 1835. De acôr-do com os autos da partilha amigável, Rita – quê não teve mais filhos – ficou com uma “morada de casas” na cidade de Campos, no Norte do estado, três escravas e um conjunto de joias de ouro e prata.

Dividida entre a Corte e o interior do Rio de Janeiro, ela voltava a ficar mais próxima de seu filho, quê morava em Macaé, na mesma região fluminense. Não se sabe se ela ainda vendia suas quitandas. Mas quando faleceu, em 28 de maio de 1842, conservava todos os bens reunidos ao longo de tantos anos. Como seu único herdeiro, Manoel José precisou confirmar quê era mesmo seu “parente de sangue”. E foi assim quê, mais uma vez, refez suas histoórias.

FARIAS, Juliana Barrêto. Senhora de si: a história da escrava quê comprou sua liberdade, juntou patrimônio próprio e ainda entrou com ação de divórcio contra o marido. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, n. 54, 24 jan. 2011. Disponível em: https://livro.pw/rlxmc. Acesso em: 23 ago. 2024.

Fotografia em preto e branco de uma feira ao ar livre, em uma rua estreita entre edifícios. O local está movimentado, com muitas pessoas, majoritariamente negras, envolvidas em atividades como carregar mercadorias na cabeça, organizar cestos e vender produtos no chão. Ao fundo, há construções de dois andares com varandas.

Mercado do Peixe, no Rio de Janeiro (RJ), década de 1890. O mercado reunia atividades de ganho antes da abolição da escravidão.

Página cinquenta e seis

C. Trabalho análogo à escravidão

Os textos a seguir revelam características do trabalho análogo à escravidão presente na atualidade. O primeiro trata do tráfico de pessoas no século XXI. O segundo traz o depoimento de um trabalhador vitimado por essa prática. O último texto é uma notícia sobre uma idosa submetida a condições degradantes de trabalho.

Tráfico de pessoas

Considerado como umas das formas mais graves de violação dos direitos humanos, o tráfico de pessoas atinge globalmente milhares de vítimas, cujos direitos fundamentais e dignidade são gravemente violados, de acôr-do com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).

"Trata-se de crime de alta complexidade, quê envolve fatores econômicos, sociais, culturais e psicológicos e quê, igualmente, demanda a atuação coordenada de diversas instituições do pôdêr público, da ssossiedade civil, de organismos internacionais e até mesmo do setor privado", afirma o ministério.

[...]

De acôr-do com o Relatório Nacional sobre Tráfico de Pessoas, com base em dados entre 2017 e 2020, o tráfico de pessoas foi definido, internacionalmente, pelo Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial mulheres e crianças – conhecido como Protocolo de Palermo – adotado em dezembro de 2000.

Em seu artigo 3º, conceitua-se o tráfico de pessoas como:

"O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da fôrça ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obtêr o consentimento de uma pessoa quê tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. [...]"

Segundo o Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas, divulgado pelo UNODC em 2018, quase 25 mil vítimas foram detectadas no mundo, em 2016. O levantamento revelou ainda quê a maioria das vítimas são mulheres e meninas, índice quê chega a 72% dos casos. Os outros 21% são homens e 7% meninos.

Em relação ao tráfico de mulheres, o relatório mostra quê 83% são traficadas para a exploração sexual, 13% para trabalho forçado e 4% para outras formas de exploração. Já entre os homens, 82% são traficados para trabalhos forçados, 10% com fins de exploração sexual, 1% para remoção de órgãos e 7% para outros objetivos, de acôr-do com informações levantadas pelo Ministério da Justiça.

Não somente no Brasil, mas em diversos países do mundo, os traficantes se aproveitam da situação de vulnerabilidade das pessoas para colocá-las em uma situação de exploração. De acôr-do com o relatório global, mais da mêtáde dos casos de tráfico no mundo tem como fator de risco a vulnerabilidade econômica.

TRÁFICO de pessoas: qual é o perfil das vítimas no Brasil e no mundo? Estadão conteúdo, 9 maio 2023. Disponível em: https://livro.pw/mszah. Acesso em: 23 ago. 2024.

Fotografia de um cômodo com dois colchões em mau estado dispostos diretamente no chão. Há algumas peças de roupa espalhadas próximas a uma mala. As paredes apresentam marcas de mofo e o piso está inacabado, ainda no contrapiso.

Alojamento de trabalhadores resgatados pelo Ministério Público do Trabalho, em Nova Glória (GO), 2023.

Página cinquenta e sete

“Saí fugido”

Em Açailândia, comecei a trabalhar com 17 anos. Fiquei na fazenda por dois anos. Saí fugido. Fui humilhado lá dentro. Se o cabra fala de ir embora, ele diz quê vai matar, vira costa de foice na cabeça do cabra. E a gente fica com medo, porque eles estão todos armados. Não tem comida direito, não tem um lugar bom pra dormir. Eu saí de lá ontem às 4 da manhã. Toda vez quê via um carro, entrava na mata e pensava: será quê são eles quê vão me matar? É muito o medo quê a gente tem de morrer. Eu entrava na mata e deixava o carro passar. Quando cheguei na pista, depois de uns 40 quilômetros, vinha vindo um carro, e eu perguntei para o cabra: “Vai pra onde?” Ele disse: “Vou para o Buritipicu.” Contei minha vida para ele. “Estou saindo é fugido, pois lá onde eu estava, o cabra não quêr que ninguém sáia. Ficamos trabalhando que nêm escravo lá. Eu fiquei sabendo quê os federais estão em Buriti e é para lá quê eu vou.” Ele disse: “Poxa, não carece de pagar não”. Fui, mas os federais já tí-nhão ido embora. Então, falei com o promotor de Buriti. Ligamos para o Ministério do Trabalho, em São Luís, mas não deu cérto. Ligamos para Teresina, não deu cérto. Aí, ligamos para cá e foi o quê deu cérto. [...] Ontem dormi na casa de um padre, comi, tomei um banho com sabonete novo, dormi numa rê-de limpinha e amanhã vou embora para minha casa, no Piauí.

SANTOS, José. Memórias de brasileiros: uma história em cada canto. São Paulo: Peirópolis: Museu da Pessoa, 2008. p. 63.

Mulher é resgatada após 72 anos de trabalho escravo doméstico no Rio

Trabalhadora negra de 84 anos foi doméstica para três gerações de uma família sem receber salário; essa é a mais longa exploração de escravidão contemporânea registrada no Brasil desde criação do sistema de fiscalização

Uma mulher de 84 anos foi resgatada de condições análogas às de escravo após 72 anos trabalhando como empregada doméstica para três gerações de uma mesma família no Rio de Janeiro. Nesse período, ela cuidou da casa e de seus moradores, todos os dias, sem receber salário, segundo a fiscalização.

De acôr-do com dados do Ministério do Trabalho e Previdência, essa é a mais longa duração de exploração de uma pessoa em escravidão contemporânea desde quê o Brasil criou o sistema de fiscalização para enfrentar esse crime em maio de 1995. Nos últimos 27 anos, foram mais de 58 mil resgatados pelo pôdêr público. [...]

Vizinhos confirmaram quê ela era tratada como empregada doméstica pêlos moradores da casa e não como um membro da família, como eles defendem.

A fiscalização também ouviu a irmã e uma sobrinha da trabalhadora, quê confirmaram a relação de emprego e contaram quê ela havia se mudado com a família para o Rio sôbi a esperança de estudar ainda pequena. Segundo elas, o empregador controlava visitas e telefonemas, dificultando o contato com o mundo externo.

De acôr-do com o auditor fiscal do trabalho, Alexandre Lyra, quê coordenou a ação, os empregadores afirmaram quê os serviços domésticos não eram trabalho, mas uma colaboração voluntária no âmbito familiar.

[...]

CAMARGOS, Daniel; SAKAMOTO, Leonardo. Mulher é resgatada após 72 anos de trabalho escravo doméstico no Rio. Repórter Brasil, 13 maio 2022. Disponível: https://livro.pw/qlaxu. Acesso em: 23 ago. 2024.

Página cinquenta e oito

ATIVIDADES

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

1. Atividade em grupo. Revejam e pontuem as principais ideias abordadas no(s) texto(s) do item escolhido para a produção da síntese.

2. Elaborem a síntese d fórma clara e objetiva, conectando as ideias principais. Não se esqueçam de quê é fundamental apresentar as concepções e convicções do(s) autor(es). Por isso, não incluam na síntese as opiniões dos integrantes do grupo.

Para a elaboração da síntese, informe aos estudantes quê é preciso compreender o texto para evidenciar as principais ideias abordadas pelo autor. Solicite quê leiam e destaquem as palavras-chave e os trechos relevantes. Além díssu, recomende quê redijam a síntese com objetividade e clareza.

Página cinquenta e nove

3. Após a leitura e a produção da síntese, compartilhem os resultados e descrevam como a escravidão ou as condições indignas de trabalho são abordadas nos diferentes textos selecionados.

4. Reservem um tempo para conversar sobre os aspectos apresentados em todos os textos quê sensibilizaram você e os côlégas.

ATIVIDADE DE AMPLIAÇÃO

Para conhecer mais sobre o tema e ampliar seu repertório sobre gêneros de linguagem, obissérvem as imagens a seguir.

História em quadrinhos dividida em vinte quadrinhos. Q1: Em uma fazenda, três homens negros, com cicatrizes no peito, observam à distância uma carroça tombada, carregada com feixes de cana-de-açúcar. Ao fundo, outro homem carrega feixes de cana sobre os ombros em direção a uma casa com telhado de palha. O texto diz: 'Longe daqui…'. Q2: O quadro se aproxima dos rostos de dois dos homens negros, revelando expressões sérias e cicatrizes marcantes. Q3: O foco se volta para os pés descalços de um dos homens, firmemente apoiados no chão. Q4: Um dos homens negros aparece de costas, com cicatrizes cruzadas bem visíveis. Ele está encostado na carroça e se movimenta para pegar os feixes de cana-de-açúcar. O texto diz: '…longe disso tudo'.

Q5: O quadro foca na mão de uma pessoa pegando um facão no chão. Q6: O foco retorna para três rostos de homens negros, de perfil, lado a lado, com expressões concentradas e sérias. Q7: Três pessoas negras, duas com os torsos nus e uma com turbante, correm com expressões de raiva, empunhando facões erguidos. Ao fundo, um homem negro segura uma lança. Q8: Duas pessoas correm descalças, com os pés em movimento rápido. Q9: Um homem branco, com chapéu largo e barba, grita com expressão de autoridade: 'Atirem!'. Q10: Capatazes de chapéu apontam rifles. Um deles mira com atenção, enquanto os outros se posicionam ao lado.

Q11: O quadro foca no cano de uma espingarda sendo disparada, acompanhado da onomatopeia 'Bam'. Q12: Um homem negro, com expressão de dor, é atingido por um tiro enquanto segurava um facão. Q13: Outro homem negro, com expressão tensa, prepara-se para o combate, com o corpo inclinado para a frente. Q14: Um homem branco e um homem negro lutam. O homem branco segura o braço do outro, tentando impedir o ataque com o facão. Q15: Um homem negro segura uma lança, pronto para atacar, com expressão determinada. Q16: O quadro mostra um cavaleiro montado em um cavalo. Q17: Um rifle é disparado novamente, com a onomatopeia 'Bam'. Q18: O foco se volta para a face de um cavalo com a boca aberta, como se estivesse sentindo dor. Q19: Um homem branco, com chapéu, segura um rifle e grita com expressão furiosa. Q20: Um gato está sobre uma cerca, com o pelo eriçado. Ao fundo, ouvem-se sons de disparo: 'Bam Bam'.

O professor, ilustrador e artista plástico Marcelo D’Salete representou em HQ a resistência negra contra a escravidão no Brasil, no livro Cumbe.

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

1. ob-sérvim atentamente os quadrinhos ao lado e descrevam:

a) Que personagens se destacam?

b) Como os escravizados são retratados?

2. Investiguem imagens quê retratem o trabalho análogo à escravidão na atualidade e compartilhem com os côlégas.

Página sessenta

Trabalho, escravidão e liberdade

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

Vimos até agora aspectos de diferentes tipos de escravidão praticados ao longo do tempo. O conceito de escravidão não é uma concepção isolada e póde sêr compreendido a partir de um contexto mais amplo: o das relações de trabalho.

1. Atividade em dupla. Para iniciar êste tópico, investiguem em livros ou na internet a origem da palavra trabalho. Que significados estão na origem dessa palavra?

2. Discutam as dimensões do trabalho no mundo contemporâneo. Do ponto de vista de vocês, quê importânssia o trabalho assume na ssossiedade e na vida das pessoas atualmente?

3. Reflitam sobre a futura participação de vocês no mundo do trabalho. Como vocês gostariam de atuar profissionalmente? Que tipo de relação de trabalho prefeririam?

Quando materializamos nossa cultura, o trabalho torna-se visível por meio das coisas concretas quê produzimos e das transformações quê fazemos na natureza. A hierarquia social e as relações de trabalho têm ligação com os sistemas produtivos quê criamos. Leiam os textos a seguir, quê constituem documentos sobre relações de trabalho em diferentes períodos.

1

Os gregos e os “bárbaros”

[…] a natureza fez distinção entre a mulher e o escravo. Mesmo não sêndo sovina como o ferreiro quê modela a faca délfica para vários usos, a natureza determina a utilidade de cada coisa, e cada instrumento é mais bem-feito quando determinado para atender a uma e não a muitas finalidades. Mas entre os bárbaros nenhuma distinção é feita entre mulheres e êskrávus; isso porque não existe entre eles aquela parte da comunidade destinada, por natureza, a governar e a comandar; são uma ssossiedade composta unicamente de êskrávus, tanto os homens quanto as mulheres. Por isso o poeta diz:"É sabido quê os helenos podem dominar os bárbaros!", significando isso quê bárbaros e êskrávus são de uma mesma natureza. Fora essas duas afinidades, o primeiro ponto a considerar é a família. Hesíodo tem razão ao dizêr: “Primeiro o lar, a esposa e um bôi para o arado”, uma vez quê o bôi é o escravo dos pobres.

ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 144-145. (Coleção Os pensadores).

Escultura que retrata um homem em pé segurando um objeto retangular, enquanto observa uma mulher sentada à sua frente. A mulher apoia o rosto na mão, com o corpo levemente inclinado para frente. Ambos estão vestidos com trajes longos e detalhados.

Escultura funerária quê representa um homem escravizado (à esquerda) e sua senhora. Ática, c. 380 a.C.

Página sessenta e um

2

Orar e trabalhar

Os clérigos devem por todos orar
Os cavaleiros sem demora
Devem defender e honrar

E os camponeses sofrer.
Cavaleiros e clero sem falha
Vivem de quem trabalha
Os campônios têm grande canseira e dor
Pagam primícias, corveias, orações ou talha

E cem coisas costumeiras.
E quanto mais póbre viver
Mais mérito terá.

Das faltas quê cometeu
Se paga a todos o quê deve
Se cumpre com lealdade a sua fé
Se suporta paciente o quê lhe cabe:
Angústia e sofrimento.

SAINTE-MAURE, Benedito de. História dos duques da Normandia, apúd dãbi, diórges. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Lisboa: Estampa, 1982. p. 309-311.

Ilustração dividida em duas partes principais. Na parte superior, há um semicírculo com representações astrológicas, incluindo figuras do zodíaco. Na parte inferior, uma cena rural mostra pessoas colhendo e reunindo feixes de feno em um campo, diante de um castelo murado com torres altas ao fundo. Em primeiro plano, duas mulheres trabalham com instrumentos agrícolas, enquanto quatro homens realizam a colheita mais ao fundo.

Camponeses arando a térra, século XV.

3

Espanhóis e indígenas na América

Aqueles quê foram de Espanha para esses países (e se têm na conta de cristãos) usaram de duas maneiras gerais e principais para extirpar da face da térra aquelas míseras nações. Uma foi a guerra injusta, cruel, tirânica e sangrenta. Outra foi matar todos aqueles quê podiam ainda respirar ou suspirar e pensar em recobrar a liberdade ou subtrair-se aos tormentos quê suportam, como fazem todos os senhores naturais e os homens valorosos e fortes; pois comumente na guerra não deixam viver senão mulheres e crianças: e depois oprimem-nos com a mais horrível e áspera servidão a quê jamais tênham submetido homens ou animais.

LAS CASAS, Frei Bartolomeu de. O paraíso destruído: brevíssima relação da destruição das Índias [1552]. Porto Alegre: L&PM, 2001. p. 29.

Página sessenta e dois

4

Relatório dos Comissários do Trabalho Infantil

O presente inquérito reuniu, também, uma grande quantidade de provas sobre os diversos aspectos das condições das fábricas, quê exercem importante influência na saúde dos trabalhadores, adultos e crianças.

Nas fábricas antigas e pequenas o relato uniforme é: suja; mal ventilada; mal drenada; sem banheiros ou vestiários; sem exaustores para a poeira; maquinaria solta; passagens muito estreitas; alguns tetos são tão baixos quê se torna difícil ficar em pé no centro da sala. Disto resulta:

– Que as crianças empregadas em todos os ramos de manufatura do Reino trabalham o mesmo número de horas quê os adultos;

– Que os efeitos de trabalho tão prolongado são: a deterioração permanente da constituição física; a aquisição de doenças incuráveis; a exclusão (por excésso de fadiga) dos meios de obtenção da educação adequada;

– Que, na idade em quê as crianças sofrem prejuízos com o trabalho, elas ainda não são emancipadas sêndo alugadas e seus salários recebidos pêlos pais ou responsáveis.

REPORT ÓF Comissioners on the employment ÓF children’s in factories (1832), in Parliamentary Papers, 1833, apúd Coletânea de documentos históricos para o 1º grau: 5ª a 8ª séries. São Paulo: SE/Cenp, 1980. p. 88.

Fotografia em preto e branco de um grande grupo de meninos, todos com aparência jovem, reunidos em frente à entrada de uma mina. Eles vestem roupas de trabalho sujas e desgastadas, além de gorros e boinas. Muitos apresentam expressões sérias e cansadas. Um homem adulto posa ao lado dos meninos para a foto.

Crianças e adultos operários, nos Estados Unidos, 1910.

Página sessenta e três

Podcast: A plataformização do trabalho.

5

Muito trabalho, poucos direitos

Uma pesquisa do projeto fild Prôjéct da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas (FGV Direito Rio) revelou o quão precário póde sêr o trabalho de entrega por aplicativo. Através do questionário"Uberização e o trabalho em platafórmas digitais de entrega”, foram ouvidos mais de 100 entregadores por aplicativo de todo o país. A constatação foi quê as condições de trabalho pioraram na pandemia: a maioria trabalha de nove a 12 horas por dia para receber menos quê um salário mínimo.

Além díssu, os respondentes ainda reclamaram da mudança na forma de remuneração desde 2020. Se antes, ao realizar a entrega de dois pedidos próximos, eles recebiam o valor correspondente a duas taxas, agora só recebem uma tarifa, apesar de os clientes pagarem dobrado. [...]

Ainda de acôr-do com o levantamento, a maioria dos entregadores são homens pardos, entre 31 e 35 anos de idade, quê usam o meio como principal fonte de renda.

Quando perguntados sobre acidentes no exercício da função, 31% afirmaram quê se acidentaram, mas não receberam apôio das platafórmas. [...]

MAIORIA dos entregadores por aplicativo trabalha de 9 a 12 horas para receber menos de um salário mínimo, revela pesquisa. Extra, 10 jul. 2021. Disponível em: https://livro.pw/tfwdg. Acesso em: 23 ago. 2024.

ATIVIDADES

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

1. Atividade em grupo. Em grupos, identifiquem as relações de trabalho descritas nos textos e sua localização no tempo e no espaço. Escolham um tipo de relação de trabalho quê mais lhes chamou a atenção, pesquisem a pirâmide social equivalente à ssossiedade em quê ela esteve presente e analisem o trabalho executado por cada estrato social. Em seguida, respondam:

a) Quem era considerado livre nessas sociedades?

b) A maneira como o trabalho foi dividido nessas sociedades influenciou de alguma forma a nossa? Justifiquem e compartilhem as respostas.

2. Ao longo da trajetória da humanidade, as formas de trabalhar e seus objetivos foram muito diversos. Hoje, algumas dessas formas permanecem e outras nem existem mais. A ssossiedade contemporânea valoriza o trabalho como possibilidade de liberdade para viver e consumir. Porém, o conflito entre o trabalho quê nos realiza pessoalmente e o trabalho quê rouba a liberdade e causa alienação é um dilema constante. Reflitam sobre essa problemática e produzam frases ou poemas com base nas elaborações coletivas.

ATIVIDADE DE AMPLIAÇÃO

Alguns dos textos dêste tópico trazem informações relacionadas à precarização do trabalho e à saúde dos trabalhadores. Como esses elemêntos afetam o bem-estar das pessoas? E quanto às profissões com quê vocês têm contato? Para conhecer mais sobre o assunto, pesquisem em livros e na internet e produzam um painel simples e informativo, destacando os temas precarização do trabalho e saúde dos trabalhadores em diferentes períodos históricos. Em seguida, destaquem e conversem sobre os problemas levantados e elaborem possíveis soluções coletivas para eles.

Página sessenta e quatro

Trabalho análogo à escravidão

No decorrer do projeto conversamos sobre a escravidão do passado e as formas degradantes de exploração do trabalho, como o análogo à escravidão. Que tal ampliarmos nosso conhecimento sobre o tema?

No Brasil, calcula-se quê mais de 63 mil pessoas tênham sido resgatadas de 1995 a 2023 de trabalhos análogos à escravidão. Conheça o perfil dos trabalhadores libertados dessa condição observando o infográfico.

Infográfico 'Raio X: Quem é o trabalhador escravizado no Brasil'. Ao centro, há duas figuras humanas estilizadas: uma grande, representando homens, com a indicação de 93 por cento, e uma menor, representando mulheres, com a indicação de 7 por cento. Ao lado, há um mapa do Brasil com o título 'Perfil dos trabalhadores resgatados entre 2002 e 2023', com os seguintes estados em destaque: Pará, Maranhão, Bahia, Goiás, Minas Gerais e São Paulo; seguido das seguintes informações: 'Origem: São pessoas naturais do Maranhão (26 por cento), de Minas Gerais (11 por cento), da Bahia (10,5 por cento), do Pará (7,5 por cento), do Piauí (6,5 por cento) e de outros estados (38,5 por cento). 26,5 por cento têm de 18 a 24 anos. 66 por cento se declaram negros, 52 por cento pardos, e 14 por cento pretos. 26,3 por cento não são alfabetizados. 33,5 por cento frequentaram a escola, mas não completaram o quinto ano do Ensino Fundamental'.

Fontes: EQUIPE ESCRAVO, NEM PENSAR!; REPÓRTER BRASIL. Raio Xís: quem é o trabalhador escravizado, apúd CAIRES, L.; FERNANDES, L. Escravidão contemporânea atinge milhões e póde sêr combatida com auxílio da tecnologia. O Estado de São Paulo, São Paulo, 10 nov. 2018. Disponível em: https://livro.pw/rcobm; BUONO, Renata; GORZIZA, Amanda;MACHADO, Lara. Faces da escravidão contemporânea. Piauí, 20 mar. 2023. Disponível em: https://livro.pw/cnghl. OBSERVATÓRIO da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas. Perfil dos casos de trabalho escravo. Disponível em: https://livro.pw/hcxpg. Acessos em: 4 set. 2024.

Página sessenta e cinco

DADOS DO TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO NO BRASIL

Infográfico 'Dados do Trabalho Análogo À Escravidão no Brasil', 'Casos por atividade econômica', 'Série histórica de 1995 a 2023'. Os dados são os seguintes: Pecuária: 1.080 casos, 33 por cento de casos. Carvão vegetal: 369 casos, 11 por cento de casos. Construção civil: 244 casos, 7 por cento de casos. Café: 174 casos, 5 por cento de casos. Desmatamento: 144 casos, 4 por cento de casos. Demais: 339 casos, 10 por cento de casos.

Fonte: REPÓRTER Brasil. Raio-X: o trabalho escravo pós pandemia. Disponível em: https://livro.pw/uvhbf. Acesso em: 4 set. 2024.

Gráfico de colunas 'Número de resgatados ao londo dos anos'. Os dados são os seguintes: 2013: 2.113. 2014: 1.569. 2015: 906. 2016: 777. 2017: 640. 2018: 1.154. 2019: 1.052. 2020: 936. 2021: 1.930. 2022: 2.469.

Fonte: RADAR SIT – Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho.

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

1. Atividade em dupla. Pesquisem em livros ou em sáites como a lei define o trabalho análogo à escravidão.

2. Descrevam as diferenças entre a escravidão e o trabalho análogo à escravidão.

3. Com base nas informações disponíveis no infográfico, identifiquem:

a) O perfil dos trabalhadores vítimas do trabalho análogo à escravidão.

b) As atividades econômicas quê mais exploram esse tipo de mão de obra.

c) As possíveis causas da variação do número de resgatados do trabalho análogo ao longo dos anos.

4. Vocês conhecem a profissão de auditor fiscal do trabalho? Pesquisem e discutam sobre a importânssia dessa profissão e sua relação com o resgate dos trabalhadores em situação análoga à escravidão no Brasil.

5. Atividade em grupo. Elaborem frases de reflekção e de repúdio às condições indignas do trabalho análogo à escravidão no Brasil. Depois, criem um painel coletivo com todas as frases produzidas pêlos côlégas. Para finalizar a atividade, realizem uma atividade de leitura e interpretação das frases.

Página sessenta e seis

Cordel da princesa guerreira

A literatura de cordel é uma importante manifestação cultural brasileira. Os poemas de cordel têm grande variedade temática, apresentando desde registros do cotidiano e sátiras políticas e sociais até relatos heroicos. Conheçam um cordel quê narra a história semilendária de uma princesa africana quê foi escravizada no Brasil.

Como filha de um rei

Aqualtune era princesa
Era no reino do Congo
Da mais alta realeza
E na tradição quê tinha
Que encontrava fortaleza.

Lá no Congo era feliz
De raiz no ancestral
Mas havia outros reinos
Dos quais Congo era rival
E por isso houve guerra
Com desfêecho vendaval.

Na disputa dessa guerra
Seu pai foi derrotado
E vendidos como êskrávus
Foi seu reino humilhado
Mais de dez mil lutadores
Igualmente enjaulados

Aqualtune foi vendida
Em escrava transformada
Foi levada para um porto
Onde então foi trocada
Por moeda, por dinheiro
Pruma vida aprisionada.

Acabou num navio negreiro
Que ao Brasil foi viajar
Nos porões do sofrimento
Muito teve quê enfrentar:
As doenças e tristezas
E a maldade a transbordar.

[…]

Foi levada a Porto Calvo
Pernambuco, a região
E vivendo como escrava
Enfrentou a solidão
Os castigos e torturas
No seu corpo a agressão.

[...]

Mas na vida de tortura
Aqualtune ouviu falar
Sobre a pura resistência
Dos êskrávus a lutar
E soube de palmáares
O quê póde admirar.

[...]

A gravidez já avançada
Não causou impedimento
Aqualtune foi com tudo
Formando esse movimento
Agarrando a esperança
E com muito entendimento.

Imagem em estilo de cordel, composta por uma sequência ilustrada que retrata a trajetória da escravidão africana, desde a captura até a conquista simbólica da liberdade. No canto superior esquerdo, um homem está sentado em um trono, enquanto uma mulher com uma coroa está posicionada à sua frente, e um pássaro sobrevoa a cena. Abaixo deles, aparecem lanças e flechas apontadas umas contra as outras. Na cena seguinte, homens e mulheres negros, acorrentados, estão presos em um navio negreiro. Em seguida, já em terra firme, essas pessoas caminham em fila, ainda acorrentadas e curvadas. Na próxima cena, um homem branco castiga com chicotadas um homem negro, sem camisa, ajoelhado e acorrentado. Na cena seguinte, um homem negro, escondido atrás de uma rocha, observa o nascer do sol enquanto segura correntes quebradas nas mãos. Acima dele, a imagem mostra dois braços com os punhos cerrados e erguidos, rompendo as correntes que os prendiam. A sequência se encerra com a figura de uma mulher negra vestida com roupas tradicionais africanas, posicionada ao lado de um local com habitações feitas de pau a pique.

Ilustração atual quê representa trechos do cordel sobre a princesa Aqualtune.

Página sessenta e sete

Junto com outras pessoas

Negras de muita coragem

Aqualtune fez a fuga

Mesmo com toda voragem

Foi parar em um kilômbo

E falou da sua linhagem.

Todos lá reconheceram

Que era ela uma princesa

E por isso concederam

Território e realeza

Para a Brava Aqualtune

Coroada de firmeza.

[...]

Quando ela faleceu

Bem idosa já estava

Aqualtune sim viveu

Como líder destacada

Essa fôrça feminina

Que a princesa exaltava

Eu só acho um absurdo

Porque nunca ouvi falar

Na escola ou na tevê

Nunca vi ninguém contar

Sobre a garra de Aqualtune

E o quê pôdi conquistar

Uma história como a dela

Deveria sêr contada

Em todo o livro escolar

Deveria sêr lembrada

No teatro e no cinema

Que ela fosse retratada.

[...]

ARRAES, Jarid. Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis. São Paulo: Pólen, 2017. p. 27-32.

Ilustração com arbustos, cactos e flores em formato de cordel.

ATIVIDADES

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

1. Atividade em grupo. Os poemas de cordel encantam pela musicalidade das suas rimas. Vamos treinar a leitura e a entonação recitando o poema de Aqualtune? Para essa atividade, distribuam as estrofes do poema entre si. Cada estudante deverá ler d fórma ritmada e expressiva.

2. Organizados em grupos de trabalho, produzam também um poema de cordel relacionado ao tema do projeto: Escravidão: somos livres?.

ATIVIDADE DE AMPLIAÇÃO

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

A seguir, conheçam mais informações sobre Aqualtune.

Aqualtune era uma princesa africana, filha do rei do Congo. Foi uma grande guerreira e estrategista e liderou um exército de 10 mil homens para combater a invasão de seu reino, em 1665. Quando perdeu a guerra, foi escravizada e trazida ao Brasil, onde foi vendida como escrava reprodutora. Grávida, Aqualtune organizou uma fuga para palmáares, onde deu à luz Ganga Zumba e Gana, quê mais tarde seriam chefes dos mais importantes mocambos de palmáares, e também Sabina, mãe do grande líder de palmáares, Zumbi.

ARRAES, Jarid. Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis. São Paulo: Pólen, 2017. p. 33.

Atividade em grupo. Investiguem em livros, revistas ou na internet informações sobre a princesa do Congo Aqualtune e compartilhem os resultados. Após a investigação, reflitam sobre por quê muitas histoórias, como a de Aqualtune, são tão pouco conhecidas e divulgadas nas diferentes mídias disponíveis.

Página sessenta e oito

Memória: resistência e luta pela dignidade

A memória póde sêr definida como um conjunto de saberes, impressões e sensações sobre eventos quê ocorreram em nossa vida individual e coletiva. É uma forma de conhecimento sobre nosso passado. As noções quê temos sobre o passado mudam ao longo de nossa trajetória e dos processos sociais. Por exemplo, a maneira como você se lembra de um acontecimento hoje póde mudar quando você chegar à vida adulta, por conta das experiências quê serão vividas.

A memória está ligada também ao esquecimento. Processos históricos e experiências de vida difíceis podem trazer o desejo de esquecê-los, em uma tentativa de autopreservação ou de apagamento de fatos quê representam violações de direitos. Por isso, é comum quê fatos sêjam negados em determinado momento e, posteriormente, trazidos à discussão pública.

Leiam o texto a seguir, quê aborda o processo de rememoração da trajetória familiar e da vida pessoal da escritora Marli de Fátima Aguiar.

Resgate de histoórias e memórias não é tarefa fácil, pois é necessário disposição, coragem e ousadia, tanto de si como das pessoas quê quiseram e estiveram envolvidas nesta viagem, neste caso, nós, irmãs e irmãos. É preciso entrar fundo em buracos, cavernas, cavar, cavar, se não encontrar da primeira vez, voltar novamente, retornar à casa-grande, às fazendas, às senzalas, aos quilombos, às raízes, à ancestralidade... Falar de nóssos pais, de uma maneira simples e poética é isso, tentar suavizar, mas não apagar as lutas quê eles tiveram. Encontrá-los nas histoórias é encontrar-nos, cada um, com um pouco do quê eles deixaram. Falar deles é falar de nós, o quê somos hoje e das gerações futuras.

Ilustração composta por seis pessoas de diferentes idades e estilos, dispostas verticalmente. No centro, na parte superior, encontra-se um homem mais velho com expressão séria. Logo abaixo, aparecem uma mulher com turbante, que carrega uma criança nas costas, e outra mulher com lenço na cabeça e olhar sereno. Abaixo delas, há um homem usando chapéu e uma mulher de cabelo preso, com semblante tranquilo. Na base da imagem, vê-se uma figura mais idosa, com expressão sábia, pinturas no rosto e um chapéu de formato cônico. Ramos finos com folhas crescem entre os personagens, conectando-os como em uma árvore genealógica.

Ilustração atual quê representa a ancestralidade do povo negro.

Página sessenta e nove

Não tivemos a sorte e nem a alegria de conhecer e conviver com nóssos avós, bisavós e tataravós infelizmente, assim como a maioria do povo negro de nossa geração. Mas soubemos quê eles viveram e cumpriram um papel importante de nos tornar gente pertencente a um povo, a uma classe e a um continente, e nos deixando sementes de resistência e liberdade. Porque foram eles quê nos tiraram dos grilhões, das mordaças e dos porões para sermos pessoas livres e dignas da vida, trazendo a nós a ancestralidade, nosso valor e identidade incutidos em pai e mãe quê sempre passaram para nós, seus filhos e filhas, netos e herdeiros.

AGUIAR, Marli de Fátima. Tecendo memórias e histoórias. Edição da autora, 2016. p. 5.

ATIVIDADES

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

1. Atividade em grupo. Com base nas informações do texto, escrevam uma justificativa para a frase: “Resgate de histoórias e memórias não é tarefa fácil”.

2. O texto apresenta difíceis memórias da escravidão e descreve sentimentos de resistência, liberdade e dignidade. Vamos conhecer mais sobre o assunto investigando em livros, revistas ou sáites relatos ou biografias para localizar memórias de luta contra a escravidão e pela igualdade de direitos no Brasil, no estado ou no município onde vocês moram? Compartilhem os resultados das pesquisas com os outros grupos.

3. As memórias coletivas são dinâmicas e o quê é valorizado como passado e identidade de um grupo hoje póde não ter esse papel no futuro. E como percebemos essa memória coletiva em nosso cotidiano? pôdêmos observá-la por meio dos bens culturais materiais e imateriais, como museus, festas cívicas e religiosas, monumentos ou lugares de preservação, como ruas, praças, parques, entre outras instituições. Para ampliar seus conhecimentos, investiguem bens materiais e imateriais relacionados à escravidão ou a outros tipos de relação de trabalho na cidade onde vocês vivem. Produzam dêzê-nhôs ou fotografias para apresentar e descrever os bens selecionados pelo grupo. Depois, compartilhem com os côlégas.

Página setenta

ETAPA 3
Para finalizar

Sarau: somos livres?

Leiam o texto a seguir, quê descreve a origem do sarau e seu papel hoje como ferramenta de comunicação e expressão cultural.

A expressão sarau vêm do latim seranus quê significa relativo ao entardecer. O nome diz muito sobre a origem dessas manifestações quê, por aqui, datam do século XIX e início do século XX e se configuravam como os mais elegantes da ssossiedade. Na época, reuniam-se em saraus “seres iluminados” quê tí-nhão gosto pela música e literatura e quê desfrutavam dos requintes dos grandes [...]

Os saraus viraram tradição com a chegada da Família Real, em 1808, e logo ganharam terreno no Rio de Janeiro. As rêuní-ões eram frequentadas pela aristocracia e embaladas pêlos ares europêus. [...].

Na capital paulista, o precursor foi o gaúcho Freitas Valle, quê abriu as portas de suas Villa Kyrial, no bairro da Vila Mariana, para encontros regados a música, bons vinhos e suscitadores de discussões sobre estilo, ár-te, literatura e política. Por ali, passaram figuras como Mário de Andrade, ôsvald de Andrade e Manuel Bandeira.

Com o tempo, os saraus deixaram para trás as formas luxuosas e encontros menos requintados foram surgindo entre figuras como o próprio Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Paulo Prado e de Dona Olívia Guedes Penteado.

Hoje, os saraus alcançaram também as periferías e funcionam como importante ferramenta de comunicação quê dá voz a grupos variados. Os eventos acabam por cumprir um papel mobilizador frente às kestões dos territórios e articulador diante da comunidade neles inseridas. Além de enriquecer o repertório cultural dos participantes, a dinâmica dos saraus contribui com o empoderamento e a autonomia dos indivíduos.

[...]

BASÍLIO, Ana Luiza; MOREIRA, Jéssica. Saraus das cidades-sede colabóram com a mobilização comunitária. Portal Aprendiz, 23 jan. 2014. Disponível em: https://livro.pw/uvndf. Acesso em: 23 ago. 2024.

ATIVIDADE

Ver nas Orientações para o professor observações e sugestões para estas atividades.

Atividade em dupla. Os saraus, comuns no século XIX, podem hoje sêr considerados formas de expressão das juventudes em diversas partes do Brasil. Na sua cidade ocorrem manifestações como a descrita no texto ou outras semelhantes? Em duplas, pesquisem um sarau ou um evento análogo quê ocorre na cidade ou no estado onde vocês moram.

Página setenta e um

Organização do sarau

Atividade em grupo. Chegou a hora de organizar um sarau sobre o quê vocês estudaram neste projeto. Retomem os textos sugeridos, as atividades realizadas e as discussões produzidas sobre o tema Escravidão: somos livres?. ob-sérvim como as etapas desenvolveram habilidades relacionadas à leitura e à seleção de informações significativas sobre o tema. Todos os conhecimentos adquiridos serão utilizados na produção do sarau cultural. Sigam as orientações.

PASSO
1 Distribuam as tarefas para a produção do sarau entre os integrantes do grupo. Diferentes habilidades serão necessárias para a seleção ou a elaboração de poemas, relatos, contos ou músicas em quê personagens descrevam como a escravidão se fez ou se faz presente em suas vidas ou na ssossiedade em quê vivem. Diversas manifestações artísticas podem sêr incluídas — danças, performances cênicas, projeção de slides, vídeos, exposição de gravuras ou pinturas, entre outras.

Fotografia de um grupo de pessoas reunido em um espaço ao ar livre, cercado por vegetação e muros decorados com cartazes e folhetos de cordel pendurados em barbantes suspensos. Algumas pessoas estão sentadas, enquanto outras permanecem em pé, próximas a um atabaque colocado no chão. À frente, um homem próximo ao atabaque fala ao microfone enquanto lê algo no celular.

Apresentação de sarau de poesia no Parque Ecológico da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), 2024.

PASSO
2 Após decidir o quê será exibido, iniciem o processo criativo, produzindo o quê cada grupo deverá apresentar no sarau. Conversem e planejem as melhores formas de apresentar os textos, as músicas e as outras intervenções artísticas, e reservem um tempo para ensaiar. Produzam um pequeno roteiro para organizar as apresentações, agrupando-as por tipo de linguagem e pêlos recursos quê serão utilizados.

PASSO
3 Para a realização do sarau, com a ajuda do professor, definam o dia, o horário, o local, as providências necessárias e os responsáveis por cada uma delas. Planejem também a produção de cartazes ou de convites para serem distribuídos aos côlégas ou compartilhados em meios digitais.

PASSO
4 No dia do sarau, vocês podem dispor bancos ou cadeiras no pátio ou na quadra da escola para quê as pessoas se acomodem. O público também póde se sentar no chão, tornando o ambiente mais informal. Se forem utilizar aparelhos eletrônicos, separem e testem os equipamentos antes das apresentações.

PASSO
5 Possibilitem momentos de “microfone aberto”, ou seja, quê permítam aos convidados recitar ou interpretar poemas, contos ou outros tipos de texto, ou mesmo apresentem uma canção. Para isso, estimulem a participação da plateia, informando préviamente nos cartazes e/ou nos convites quê quêm estiver assistindo também poderá participar. Não se esqueçam de destacar que o tema sugerido, Escravidão: somos livres?, deve sêr respeitado. Lembrem-se de documentar o evento em vídeos ou fotografias, os quais poderão sêr divulgados posteriormente.

Página setenta e dois

Avaliação

Veja nas Orientações para o professor observações e sugestões sobre o uso dos quadros avaliativos.

Para avaliar o processo de construção dos saberes e das atitudes a respeito do tema e do mundo do trabalho, sugerimos a elaboração de quadros quê permitem o acompanhamento do quê foi desenvolvido nas etapas do projeto. Os quadros devem sêr copiados e preenchidos de acôr-do com as orientações do professor.

Avaliação dos saberes

AVALIAÇÃO DAS AÇÕES DESENVOLVIDAS

1 Realizei com facilidade

2 Realizei

3 Realizei com dificuldade

4 Não realizei

ETAPA 1 – VAMOS COMEÇAR

A. Escravizar: da Antigüidade aos nóssos dias: Interpretar e selecionar trechos significativos do poema. Ampliar o tema inserindo novas frases no poema. Interpretar infográfico sobre formas da escravidão em diferentes períodos históricos. Produzir legendas sobre o tema. Relacionar informações sobre a pergunta-chave: Escravidão: somos livres? e o produto final (sarau). Organizar grupos de trabalho para a investigação.

ETAPA 2 – SABER E FAZER

A. Escravidão: crime na história da humanidade: Produzir e compartilhar sínteses de diferentes gêneros textuais sobre o tema. Investigar em histoórias em quadrinhos situações e personagens relacionados à escravidão. Pesquisar imagens relacionadas com o trabalho análogo à escravidão.

B. Trabalho, escravidão e liberdade: Interpretar documentos sobre o trabalho em diferentes períodos. Reconhecer as condições de escravidão e trabalho em classes sociais distintas. Identificar se a maneira como o trabalho foi dividido nessas civilizações influenciou de alguma forma o nosso tempo. Produzir frases ou poemas sobre o conflito constante entre o trabalho quê nos realiza pessoalmente e o trabalho quê rouba a liberdade e causa alienação.

C. Trabalho análogo à escravidão: Definir e analisar dados do trabalho análogo à escravidão. Produzir um painel coletivo com frases de reflekção e de repúdio às condições indignas e humilhantes do trabalho análogo à escravidão no Brasil. Investigar biografias sobre a luta contra a escravidão e a conkista da igualdade de direitos.

D. Cordel da princesa guerreira: Analisar um texto quê narra a história fiksional de Aqualtune e elaborar um poema de cordel sobre o tema do projeto.

E. Memória: resistência e luta pela dignidade: Identificar em um relato histoórias e memórias sobre o tema. Investigar, produzir e compartilhar dêzê-nhôs de bens materiais e imateriais relacionados à escravidão ou outras relações de trabalho na cidade onde vivem.

ETAPA 3 – PARA FINALIZAR

A. Sarau: somos livres?: Conhecer informações e produzir sarau na sala de aula ou no espaço da escola.

B. Avaliação: Refletir sobre as propostas sugeridas nos projetos. Elaborar respostas para a pergunta-chave.

Página setenta e três

Avaliação das atitudes

AVALIAÇÃO DAS ATITUDES E POSTURAS

1 Sempre

2 Frequentemente

3 Raramente

4 Nunca

Veja nas Orientações para o professor observações e sugestões sobre o uso dos quadros avaliativos.

A. Realizo as tarefas nas datas sugeridas d fórma atenta e responsável.

B. Atuo com organização, trazendo para as aulas todo o material solicitado.

C. Demonstro comportamento adequado e comprometimento nos diferentes momentos de desenvolvimento do projeto.

D. Escuto com atenção as explicações e proposições do professor, dos côlégas e de outras pessoas envolvidas nas atividades propostas.

E. Apresento atitude colaborativa, compartilhando opiniões, sugestões e propostas com os côlégas.

F. Falo com clareza ao compartilhar dúvidas e opiniões.

G. Atuo d fórma respeitosa em relação às dificuldades apresentadas pêlos côlégas.

H. Demonstro empatia e respeito quando lido com opiniões e contextos diferentes dos meus.

MUNDO DO TRABALHO

Ao longo do desenvolvimento do projeto, vocês refletiram sobre a escravidão e como essa forma de exploração afetou as pessoas escravizadas, a ssossiedade brasileira e o mundo do trabalho. Também puderam perceber quê o trabalho análogo à escravidão e a precarização do trabalho remunerado são problemas sociais e econômicos quê se manifestam hoje no Brasil.

Nas análises realizadas nesse percurso, ficou evidente quê o Estado brasileiro conta hoje com uma série de proteções ao trabalho e ao trabalhador, mas ainda há muito a sêr conquistado em termos de direitos trabalhistas. Pensando nisso, façam uma pesquisa para levantar informações e reflitam juntos sobre as kestões a seguir.

1. Que instrumentos foram utilizados pêlos trabalhadores brasileiros na luta por direitos?

2. Que direitos foram conquistados pêlos trabalhadores brasileiros no campo e na cidade no século XX?

3. Na média, os trabalhadores brasileiros têm jornada, remuneração e condições de trabalho dignas na atualidade?

4. O quê é preciso fazer para melhorar o cenário do trabalho no Brasil?

Ilustração de uma menina sentada à mesa, escrevendo em uma folha de papel.

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