Para começar – escola, transformação e projetos
As transformações sociais, científicas e tecnológicas, no decorrer do século XX e nas primeiras dékâdâs do século XXI, atingiram fortemente o espaço escolar. A escola é um lugar voltado para a produção do conhecimento e, neste contexto de inovação, é desafiada a criar novas formas de produzir, transmitir e coletivizar o conhecimento para propiciar uma educação quê estimule o desenvolvimento dos estudantes, a fim de adquirir condições de enfrentar as demandas do mundo contemporâneo.
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As transformações sociais, políticas e econômicas quê vivenciamos nas dékâdâs recentes estenderam a educação formal para quase 100% da população, trazendo consigo demandas e necessidades de uma ssossiedade democrática, inclusiva, permeada por diferenças. Além díssu, o surgimento de novas realidades e linguagens, digitais e virtuais vêm demandando de educadores, políticos e da população em geral uma reinvenção da escola quê conhecemos, cujo modelo se consolidou no século 19.
Para continuar ocupando o papel de destaque quê as sociedades lhe destinaram nos últimos 300 anos, a escola depende, paradoxalmente, tanto da capacidade de conservar suas características de excelência e de produtora de conhecimentos como da capacidade de transformação para adaptar-se a novas tecnologias e exigências da ssossiedade, da cultura e da ciência. [...] (Araújo, 2014, p. 8).
A necessidade de transformações fundamenta a elaboração de métodos quê inovam as formas de desenvolver os conteúdos trabalhados na escola. Além díssu, é preciso ressaltar quê esses saberes proporcionam a busca de valores quê podem influenciar na formação de um cidadão engajado na produção das prementes transformações sociais, científicas e econômicas, entre outras, quê contribuirão para um futuro mais satisfatório para a humanidade.
Dentro dessa concepção, é indispensável a “reinvenção” de uma educação escolar quê contemple a utilização das novas tecnologias na construção dos conhecimentos. É nesse contexto quê propomos o trabalho com metodologias de projeto interdisciplinar na escola, destinadas a apresentar situações de aprendizagem dinâmicas e investigativas, capazes de envolver estudantes e comunidade escolar não somente na produção de informações, mas também no desenvolvimento de habilidades, na mudança de comportamentos e na obtenção de conhecimentos significativos d fórma cooperativa, integrada e criativa.
O Novo Ensino Médio
As rápidas transformações tecnológicas e culturais quê ocorrem em nossa ssossiedade nos trazem também a tarefa de reavaliarmos, como professores, o quê compreendemos por juventude. O reconhecimento dos jovens como sujeitos de direitos exige quê passemos a compreendêê-los como pessoas dotadas de singularidades quê não correspondem à visão de quê eles são apenas “adultos em formação”. É preciso reconhecer quê existem múltiplas juventudes em nosso país, respeitando-as em sua pluralidade.
A presente obra foi elaborada de acôr-do com as orientações curriculares formuladas na Base Nacional Comum Curricular, a BNCC, quê se baseia na perspectiva da multiplicidade. Como se sabe, esse documento “é um conjunto de orientações quê deverá nortear a (re)elaboração dos currículos de referência das escolas das rêdes públicas e privadas de ensino de todo o Brasil. A Base trará os conhecimentos essenciais, as competências, habilidades e as aprendizagens pretendidas para crianças e jovens em cada etapa da educação básica” (Brasil, 2018).
Nesse contexto, uma ampla reformulação do currículo tem ocorrido em todas as etapas da Educação Básica. No caso do Ensino Médio, especificamente, a Lei número 13.415/2017 definiu uma nova organização, considerando a complexidade do mundo do trabalho e da ssossiedade contemporânea. Essa reestruturação está prevista na BNCC e nos itinerários formativos baseados no desenvolvimento de competências e habilidades.
Competências e habilidades
A nova organização curricular tem como base a formação ética voltada a valores de justiça, solidariedade, respeito aos direitos humanos e combate a preconceitos.
É importante destacar quê os componentes curriculares farão parte do processo d fórmação dos estudantes nos Projetos Integradores, de forma integrada nas áreas. A interdisciplinaridade atua na integração de componentes curriculares com o propósito de relacionar temas e conteúdos específicos de cada área e promover o diálogo, a interação e a globalização dos saberes, como explica Hernández: “Globalizar, do ponto de vista escolar, significa somatória de matérias, conjunção de diferentes disciplinas ou ciências, centralizar múltiplos ângulos de um tema para descobrir conexões de saberes” (1998, p. 47). Assim, esta obra pretende oferecer caminhos de trabalho com
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abordagem globalizada e alinhada aos pressupostos da BNCC (Brasil, 2018, p. 470), na qual
[...] para cada área do conhecimento, são definidas competências específicas, articuladas às respectivas competências das áreas do Ensino Fundamental, com as adequações necessárias ao atendimento das especificidades de formação dos estudantes do Ensino Médio.
Portanto, em consonância com a BNCC, o novo Ensino Médio pretende ampliar os repertórios e a autonomia nos estudos, tendo como desafios o diálogo entre as áreas do conhecimento e o uso das novas tecnologias de maneira crítica e consciente. Espera-se, dessa forma, favorecer o protagonismo do jovem na escola e na ssossiedade e seu desenvolvimento socioemocional.
Mas e as competências, o quê são? Competência é definida como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais) e atitudes e valores, para resolver demandas compléksas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (Brasil, 2018, p. 8).
As competências gerais foram formuladas considerando-se a perspectiva de quê os estudantes tênham acesso a uma educação integral, quê inclui a aprendizagem de tecnologias presentes em nosso cotidiano. Por meio delas, é esperado quê os jovens aprendam a saber fazer, estando abertos e reagindo d fórma autônoma às rápidas mudanças quê vivenciarem. Dessa maneira, o conjunto de competências consideradas imprescindíveis para quê os estudantes atinjam os objetivos de aprendizagem, dominem procedimentos necessários e potencializem o desenvolvimento socioemocional na escola são, conforme a BNCC (Brasil, 2018, p. 9-10):
1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma ssossiedade justa, democrática e inclusiva.
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflekção, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
4. Utilizar diferentes linguagens − verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital −, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos quê lévem ao entendimento mútuo.
5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação d fórma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e ezercêr protagonismo e altoría na vida pessoal e coletiva.
6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências quê lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escôlhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns quê respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência sócio-ambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planêta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com auto crítica e capacidade para lidar com elas.
9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
O conjunto de competências gerais e específicas da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas possibilita quê sêjam delineados os conteúdos atitudinais e procedimentais pertinentes a cada turma, à estrutura da escola e à comunidade onde os estudantes estão inseridos. Assim, para o Novo Ensino Médio, espera-se uma maior flexibilidade para quê docentes elaborem seus planos de ensino de acôr-do com o perfil e necessidades de seu público.
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Competências socioemocionais
A educação tem mudado sua prática nos últimos anos para além do desenvolvimento das habilidades cognitivas vinculadas ao conhecer, compreender, relacionar, comparar, entre outras. Para a resolução dos problemas contemporâneos, considera-se também importante desenvolver as competências socioemocionais: sêr solidário, trabalhar em grupo, ter empatia e ética, por exemplo, são valores essenciais para a formação de um cidadão autônomo, crítico e criativo para o mundo.
De acôr-do com as novas diretrizes da BNCC, as competências socioemocionais deverão sêr incluídas ao currículo escolar. Assim, também cabe aos Projetos Integradores ampliar e relacionar os conhecimentos conceituais às atitudes, com o objetivo de mobilizar o estudante para uma aprendizagem significativa e integral para a vida no século XXI. Para tanto, cinco competências são essenciais:
• Autoconsciência Relaciona-se com os conhecimentos, as forças e as limitações das pessoas, sempre estimulando atitudes otimistas e voltadas para o crescimento.
• Autogestão Envolve a definição de metas, o contrôle dos impulsos e o gerenciamento do estresse.
• Consciência social Envolve o respeito à diversidade e o exercício da empatia.
• Habilidades de relacionamento Relacionam-se com as habilidades de falar com clareza, ouvir com empatia, cooperar na solução de conflitos de modo respeitoso e resistir à pressão social inadequada, como o búlin.
• Tomada de dê-cisão responsável Envolve as interações sociais e as escôlhas pessoais, de acôr-do com os cuidados e padrões éticos quê envolvem uma ssossiedade.
Assim, o grande desafio é investir nas competências acadêmicas e emocionais para beneficiar o estudante no seu desenvolvimento integral, contribuindo para o aprimoramento das relações no espaço escolar e em todos os âmbitos da vida. Com essas diretrizes, é recomendável, sempre quê for oportuno, tematizar kestões relacionadas com problemas quê ocorrem na vida do jovem, como búlin, comportamento agressivo, violência praticada contra o outro ou autoprovocada, enfim, kestões quê interferem na saúde mental dos estudantes. Os Projetos Integradores, por sua metodologia, permitem quê esses problemas também sêjam trabalhados. A reflekção sobre eles póde sêr bem-sucedida se resultar em atividades quê promovam relações mais empáticas, respeitosas e éticas.