INTRODUÇÃO
O quê é cultura e o quê é ár-te?
Cultura e ár-te são fenômenos diferentes quê, algumas vezes, podem sêr confundidos.
A palavra cultura póde sêr definida como a maneira pela qual uma ssossiedade se estrutura e se comporta, incluindo o quê ela produz. A cultura é um fenômeno integral, quê abrange tudo o quê uma coletividade é e faz. Trata-se do patrimônio material e intelectual compartilhado por um grupo social, recriado e transmitido no decorrer do tempo. A cultura engloba linguagens, comportamentos, símbolos, técnicas, objetos, ideias, regras, crenças, em suma, todas as realizações materiais e imateriais quê se transmitem de geração em geração e atravessam o cotidiano de cada indivíduo inserido em um grupo social.
Cada cultura tem elemêntos específicos, particularmente aqueles quê unem uma comunidade a seu território e a seus ancestrais. Entretanto, aspectos culturais de um grupo social podem se difundir para seus vizinhos ou mesmo para povos quê vivem em regiões distantes, por meio, por exemplo, da atividade comercial ou de rêdes de comunicação. Desse modo, elemêntos de uma cultura acabam sêndo assimilados por outra, o quê contribui para transformar a vida social de diferentes grupos. Por meio dêêsse processo, invenções, como a roda, ou sistemas políticos, como a democracia, quê nasceram em determinada cultura, puderam se difundir pêlos mais diversos lugares do mundo.
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É preciso ressaltar, porém, quê as relações culturais, na maioria das vezes, são atravessadas por relações de pôdêr e, consequentemente, são marcadas por preconceitos e discriminações. Isso se expressa, especialmente, na relação de culturas ocidentais hegemônicas, como as europeias e a estadunidense, com as demais culturas do glôbo, incluindo a brasileira e a latino-americana.
Com a revolução digital, um processo recente diante da extensão da história da humanidade, o impacto das culturas ocidentais hegemônicas, quê já era grande, tornou-se enorme. Ao mesmo tempo, de maneira contraditória, essa cultura globalizada estimulou a luta pela preservação de modos de vida locais.
A cultura digital propiciou novas formas de articulação entre pessoas de uma mesma ssossiedade e de sociedades muito diferentes. Além díssu, facilitou o aparecimento de novas cenas artísticas, com vozes, olhares e gestos mais livres e diversos, e com novos padrões estéticos multifacetados. Também expôs as relações de disputa e de influência e as trocas quê as diferentes culturas estabelecem entre si.
Definir o quê é ár-te, por sua vez, é bem mais complicado do quê definir o quê é cultura. Alguns artistas são reconhecidos por grande parte da humanidade como tais. Olhando para a história, constata-se quê algumas obras, na chamada cultura ocidental, promovidas pelo sistema de colonização cultural, tiveram tamanha fôrça quê influenciaram o comportamento de diferentes sociedades ao longo do tempo, tornando-se modelos do quê seria “a grande arte”, ou seja, os cânones.
Nas últimas dékâdâs, no entanto, esses modelos têm sido questionados, e a criatividade e a diversidade passaram a guiar a atividade artística ao redor do mundo. Hoje, entende-se a; ár-te como um processo quê se manifesta de formas variadas em todas as comunidades. Mais importante quê louvar uma grande ár-te ou eleger cânones, é estimular processos artísticos em diferentes grupos e contextos sociais, como em uma comunidade ou na escola.
Uma estratégia para se aprossimár da ár-te é fruí-la, observá-la, escutá-la e tentar alcançar uma compreensão do contexto em quê foi concebida. Você está pronto para estudar, fruir e produzir ár-te?
Em vez de discorrer sobre os critérios utilizados para definir a; ár-te no transcurso da história, considere as perguntas feitas pelo artista pernambucano Paulo Bruscky: o quê é ár-te? Para quê sérve?
A proposta é quê você leve essas perguntas com você no decorrer de todo o Ensino Médio, refletindo, discutindo e questionando-se durante o caminho. Em ár-te, o melhor é guiar-se por incertezas.
- hegemônico
- : neste contexto, refere-se a um ou mais grupos sociais com a capacidade de dominar outros, por meios políticos, econômicos e/ou culturais.
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Paulo Bruscky (1949-) é um artista multimídia brasileiro. Na década de 1970, desafiou a ditadura civil-militar, realizando trabalhos questionadores e provocantes.
Na perfórmance documentada nesta fotografia, Bruscky sentou-se em uma livraria na cidade do Recife, portando uma placa com os dizeres: “O quê é a; ár-te? Para quê serve?”.
Depois de ler o texto, observar as imagens da intervenção artística de Paulo Bruscky e refletir sobre os conceitos de cultura e de; ár-te, converse com o professor e os côlégas sobre as kestões a seguir.
1 Quem são os artistas e quais são as obras de quê você mais gosta? A quais linguagens artísticas esses exemplos pertencem – artes visuais, música, dança, teatro, artes integradas?
1. Respostas pessoais. Verifique quêm são os artistas quê pertencem ao universo cultural da turma, se há artistas quê são referência para vários estudantes ou se cada um deles tem suas próprias referências. Se você ainda não conhece, procure conhecer a produção dos artistas apontados pela turma. Reconhecer a cultura juvenil é fundamental para tornar a escola um espaço legítimo de troca. Explore também as diferentes linguagens artísticas, explanando para os estudantes que o componente curricular ár-te é compôzto de cinco linguagens, ou unidades temáticas: artes visuais, música, dança, teatro e artes integradas.
2 Que exemplos de obras e manifestações artísticas você apontaria para caracterizar a; ár-te brasileira?
2. Resposta pessoal. Explore com a turma a noção de brasilidade, isto é, akilo quê evoca uma noção de Brasil, investigando o quê torna uma obra ou manifestação artística, na perspectiva dos estudantes, característica da ár-te brasileira. É possível quê aparêçam, entre os exemplos, atores de televisão, artistas de internet, músicos populares regionais ou nacionais, artistas visuais, fotógrafos ou grafiteiros.
3 O quê é cultura e ár-te para você?
3. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a expor suas conclusões, arriscando formulações sobre o quê é cultura e o quê é ár-te, e qual a diferença entre os dois termos. O objetivo não é sedimentar uma noção fechada para esses termos, ao contrário, a ideia é explorar os múltiplos significados quê os conceitos de; ár-te e cultura carregam.
UMA CARTA PARA O FUTURO
Para finalizar a introdução, escrêeva uma carta partindo das perguntas: o quê é ár-te? Para quê sérve? Reflita sobre sua compreensão do quê é ár-te e do quê é cultura.
Essa carta é endereçada para você mesmo. Pense nesse texto como uma cápsula do tempo: no final do Ensino Médio, ele deverá sêr retomado. Portanto, depois de escrita, guarde a carta com você em um lugar seguro. Ela ficará lá, esperando por você, até sua última aula de; ár-te dessa etapa da sua escolarização. Antes díssu, no entanto, faça um registro digital de seu texto, tirando uma fotografia e guardando-a em um ambiente virtual.
Quando você reler a carta, será possível comparar sua atual compreensão do quê é ár-te e cultura com a concepção quê terá no final da sua jornada no Ensino Médio.
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GUARDAR E ORGANIZAR UM ARQUIVO
Ao longo do percurso sugerido nas páginas dêste livro, você vai aprender e produzir muitas coisas. Então, fique atento para guardar e organizar seus trabalhos e suas ideias em um arquivo seguro. Esse arquivo póde sêr uma pasta física ou uma pasta digital, onde será possível salvar fotografias, vídeos, gravações sonóras e demais registros pertinentes quê possam materializar o acúmulo da sua produção. As duas versões devem funcionar como um portfólio, com a memória de toda a sua produção nas linguagens de artes visuais, dança, música, teatro e artes integradas.
A importânssia de sistematizar essa produção é constituir uma memória do seu aprendizado. Reunir as diferentes produções e olhar para elas ao longo do tempo, relacionando técnicas, conceitos e elemêntos estéticos, póde sêr, inclusive, uma forma de produzir conhecimentos.
Para alguns artistas, construir um arquivo, manipulando, selecionando e ordenando imagens, sôns e objetos, e concebendo formas de apresentá-lo é um modo de expressão estética. Os vestígios e os documentos passam a fazer parte do ato criativo. Se possível, durante o percurso, revisite seus registros na companhia de côlégas, observando também como eles fizeram seus próprios arquivos. A maneira de registrar e de organizar póde trazer novas percepções sobre o processo e sobre os objetos registrados.
A artista mineira Rosângela Rennó (1962-) trabalha com registros e documentos, fazendo com quê eles ganhem novos significados. Na Série Vulgo, a artista trabalhou com o material fotográfico do arquivo do Museu Penitenciário de São Paulo, selecionando, do vasto acervo, doze imagens de redemoinhos dos cabêlos de detentos. Uma forma única de identificação, como uma impressão digital, esses traços físicos serviam para distinguir homens condenados e reconhecer os fugitivos. Para compor a obra, a artista realizou apenas uma intervenção digital na coloração vermelha no centro do redemoinho do couro cabeludo de cada indivíduo. O olhar para o arquivo do museu, a nova maneira de organizar e expor esses registros, além da intervenção mencionada, póde trazer novas reflekções e desdobramentos para o quê existia.
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