Podcast 
Cyberbullying
Neste podcast, você vai saber mais sobre cyberbullying e as maneiras de se proteger contra esse ato de violência e intimidação. O programa tem a participação do especialista Benjamim Horta, autor do livro Cyberbullying: além dos muros da escola.
Referências bibliográficas
BRASIL. Lei nº 14.811, de 12 de janeiro de 2024. Institui medidas de proteção à criança e ao adolescente contra a violência nos estabelecimentos educacionais ou similares, prevê a Política Nacional de Prevenção e Combate ao Abuso e Exploração Sexual da Criança e do Adolescente e altera o decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e as leis nºs 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei dos Crimes Hediondos), e 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 162, n. 10, p. 1-2, 15 jan. 2024. Disponível em: https://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=515&pagina=1&data=15/01/2024. Acesso em: 6 out. 2024.
DODD, Jonathan; GRIFFITHS, Richard; KARKARIA, Yazad. Cyberbullying: an Ipsos survey: august 2018. Wellington, New Zealand: Ipsos, c2018. Disponível em: https://www.ipsos.com/sites/default/files/ct/news/documents/2018-09/ipsos_nz_cyberbullying_report_august_2018_-_updated_0.pdf. Acesso em: 2 set. 2024.
HINDUJA, Sameer; PATCHIN, Justin W. Bullying, cyberbullying, and LGBTQ students. [S. l.]: Cyberbullying Research Center, 2020. Disponível em: https://cyberbullying.org/bullying-cyberbullying-sexual-orientation-lgbtq.pdf. Acesso em: 6 out. 2024.
PLAN INTERNATIONAL. Free to be online? Girls’ and young women’s experiences of online harassment. Woking, United Kingdom: Plan International, 2020. The state of the world’s girls: 2020. Disponível em: https://plan.org.br/wp-content/uploads/2020/10/SOTWGR2020-CommsReport-EN-1.pdf. Acesso em: 2 set. 2024.
Após conhecer mais sobre o tema, converse com os colegas sobre casos de cyberbullying. Reflitam juntos sobre como vocês podem se proteger e ajudar uns aos outros contra essa prática violenta e tão prejudicial.
Transcrição
[Música de transição]
[Locutora] Vivemos em uma era superconectada, em que problemas que antes existiam apenas no mundo físico agora também se manifestam no mundo virtual. Um exemplo é o cyberbullying, a versão digital do bullying.
[Música de transição]
[Locutora] Talvez você já saiba o que é bullying. Trata-se de um ato de violência, seja física ou psicológica, caracterizado pela intimidação sistemática e intencional de uma pessoa contra a outra. Em outras palavras, é quando alguém persegue, ameaça, agride, calunia ou chantageia outro indivíduo. O bullying pode ocorrer em vários lugares, como na escola, por exemplo.
[Música de transição]
[Locutora] A intimidação sistemática virtual, ou cyberbullying, usa as mesmas práticas de perseguição e calúnia, mas acontece pela internet, como em redes sociais, e-mails, plataformas de jogos on-line e grupos de aplicativos de mensagem. Assim como o bullying, o cyberbullying é uma forma de violência que causa constrangimento, isolamento e dor às vítimas, além de violar seus direitos. Por isso, é essencial entender e combater esse fenômeno.
[Música de transição]
Uma pesquisa do Instituto Ipsos mostra que o Brasil é o segundo país do mundo em casos de cyberbullying. Já um estudo da ONG Plan International revelou que 77% das jovens brasileiras já sofreram algum tipo de assédio on-line.
[Música de transição]
[Locutora] O assunto é tão sério que o bullying e o cyberbullying agora são considerados crimes. Isso mesmo! O agressor pode ser multado e até condenado a uma pena de dois a quatro anos de prisão. Para entender melhor como o cyberbullying funciona, vamos conversar com o especialista Benjamim Horta, autor do livro Cyberbullying: além dos muros da escola, que tem muito a compartilhar sobre o tema. Olá, Benjamim, muito obrigada por estar aqui. Para começar, você pode nos explicar exatamente o que caracteriza o cyberbullying? Como alguém pode perceber que está sofrendo com essa prática e que não é apenas uma brincadeira entre colegas?
[Entrevistado Benjamim Horta] A internet, as tecnologias digitais, elas se tornaram uma ferramenta a mais para que estudantes pratiquem bullying em outros contextos, como, por exemplo, no contexto virtual. Então, o cyberbullying é o bullying virtual no qual alunos estão perseguindo, intimidando, maltratando, causando dor, causando angústia e sofrimento a outros colegas. Isso tem sido feito de forma repetitiva, de forma constante, e quem está sofrendo está encontrando dificuldades de se defender. Então, existem três questões dentro do cyberbullying que precisam ser levadas em conta. A primeira delas é o fato de ser repetitivo, ou seja, de haver uma insistência da parte dos agressores contra aquela vítima. Em segundo lugar, o fato de, obviamente, ser um ato negativo, haver uma intencionalidade da parte dos agressores. O que deixa de ser uma brincadeira. Então, muita gente ainda confunde bullying e cyberbullying com brincadeira. E realmente existe uma linha tênue entre esses comportamentos. Mas a gente sempre precisa levar em conta que uma brincadeira produz um clima positivo, ela gera uma repercussão positiva. Ao contrário do bullying, que é um comportamento extremamente negativo e que vai gerar graves consequências para aqueles que estão envolvidos. E o terceiro ponto, como eu citei, é o fato de haver um desequilíbrio de poder e, por isso, o aluno que está sofrendo não está conseguindo encontrar recursos para reagir ou para lidar com aqueles ataques.
[Locutora] Você pode nos contar alguns casos emblemáticos de cyberbullying?
[Entrevistado Benjamim Horta] Existem vários casos. Infelizmente, esse é um problema que tem aumentado consideravelmente no Brasil e no mundo. Mas existe um caso de uma estudante no Canadá, que foi um dos primeiros casos graves de cyberbullying e que essa aluna foi perseguida durante muitos meses. E tudo começou com uma conversa com um desconhecido on-line através de um aplicativo qualquer. E ela confiou que aquela pessoa que estava do outro lado da tela era realmente quem dizia ser. E, infelizmente, a partir desse erro, graves consequências acabaram surgindo, a repercussão foi extremamente negativa, e assim por diante. Então, eu acho que, nesse caso, fica a lição, fica esse aprendizado em relação aos cuidados que nós devemos ter quando estamos navegando on-line.
[Locutora] Quer dizer que ela estava se relacionando com uma pessoa que havia mentido para ela, era uma outra pessoa?
[Entrevistado Benjamim Horta] Exatamente, ele dizia ser um adolescente quando, na verdade, era um adulto. Era um hacker e ele começou a persegui-la e a espalhar e-mail sobre ela pelo colégio. Ela precisou mudar de colégio, ela precisou mudar de cidade. Então, ela inclusive fez um vídeo a respeito disso, publicou no YouTube pedindo ajuda, contando um pouco da história dela. Então, realmente, foi um caso que mobilizou o país inteiro e que acho que alertou as famílias, as escolas, as autoridades para os riscos aos quais nossos adolescentes estão expostos quando eles estão acessando a internet.
[Locutora] Como o cyberbullying pode afetar a vida dos jovens que sofrem essa agressão?
[Entrevistado Benjamim Horta] Existem pesquisas que apontam que as consequências do cyberbullying, por incrível que pareça, são mais graves do que as consequências do bullying verbal e físico. Então, tem uma pesquisa de uma pesquisadora chamada Minne Fekkes, e ela concluiu que isso se dá por alguns motivos. Em primeiro lugar, pela abrangência. Então, se você pensa em um bullying que acontece no contexto escolar, você está pensando em talvez cinco, seis alunos envolvidos naquele ato. Quando a gente pensa em um contexto virtual, o número de envolvidos é incalculável. Em segundo lugar, a frequência. Por incrível que pareça também, um aluno que está sofrendo bullying, quando ele vai para casa, ele tem algumas horas para se recompor até o dia seguinte. Por mais que ele não queira ir à aula no dia seguinte, estar em casa é um alívio. No caso do cyberbullying, isso não acontece. Ele está o tempo todo exposto, as mensagens chegam o tempo todo, então a frequência é muito maior, o nível de exposição é muito maior. E tem o terceiro ponto. É o anonimato de quem está praticando o cyberbullying. Quando você está sofrendo bullying na escola, você sabe quem são os agressores, quem está te perseguindo, quem está colocando os apelidos, enfim. Mas, virtualmente, muitas vezes, é difícil de se identificar quem são os praticantes de cyberbullying. Como aconteceu nesse caso que eu citei agora. Então, não saber identificar quem está te atacando é também um fator agravante em relação ao cyberbullying. Então, realmente a gente está lidando com um comportamento que é grave.
[Locutora] Se perceber que está sendo vítima de cyberbullying, o que o jovem deve fazer? Quem ele deve procurar?
[Entrevistado Benjamim Horta] Em primeiro lugar, a dica fundamental que eu dou é que eles não respondam às agressões. Muita gente, às vezes na tentativa de revidar ou de tentar sanar aquele problema, acaba respondendo e é justamente esse tipo de atitude que acaba alimentando o que está acontecendo ali. Muitos agressores querem exatamente esse tipo de resposta. Então, em primeiro lugar, não responda. Em segundo lugar, não apague o conteúdo. Por mais que a pessoa queira não se lembrar daquilo, se esquecer daquele conteúdo ou pensar que “Ah, amanhã vai ser um novo dia, então eu vou apagar o conteúdo hoje e amanhã talvez esteja resolvido”, aquela é a única prova que você tem de que você está sofrendo de fato, está sendo atacado virtualmente. Então, não apague, pelo contrário, tire print screen daquele conteúdo. E, procure um adulto, procure imediatamente pais, ou procure imediatamente um adulto na sua escola. Mas é fundamental que a gente rompa com o medo. O medo, ele está muito presente na dinâmica do bullying e do cyberbullying. Justamente por causa desse desequilíbrio de poder, que os praticantes acabam se impondo sobre os outros e utilizando o medo como uma ferramenta. Então, eu sempre falo muito sobre a superação do medo para resolvermos problemas de bullying e de cyberbullying. Então, procurar alguém, tomar uma decisão corajosa não significa ausência de medo. O medo vai estar presente, mas você precisa fazer algo a respeito disso. Então, não responda, tire um print screen e procure imediatamente alguém que possa te ajudar e te orientar. A partir disso, vocês podem ou procurar outras autoridades, registrar uma ata notarial em um cartório para comprovar o que foi feito e tomar todas as medidas legais cabíveis em relação ao cyberbullying. Então, uma outra coisa importante é que, segundo uma pesquisa de 2023, de um pesquisador chamado doutor Sameer Hinduja, foi constatado que somente 31% dos alunos que sofrem alguma forma de cyberbullying utilizam as ferramentas de denúncia presentes nas próprias redes sociais. Isso quer dizer que, além de recorrer a um adulto, você pode também utilizar essas ferramentas que estão disponíveis para você. Então, esse é um ponto fundamental. Elas são seguras. Você faz uma denúncia anônima. Inclusive, denunciem não só quando você estiver sofrendo, mas faça denúncias também, fica esse recado aqui, quando você perceber que tem algum colega ou alguém ou algum ato de injustiça ocorrendo no ambiente virtual, que você pode ser não só um espectador, mas pode ser um defensor a respeito disso.
[Locutora] Como funciona a lei nº 14.811, de 2024, que prevê punição para quem comete bullying e cyberbullying? Ela tem sido aplicada?
[Benjamim Horta] Sim, essa lei tem sido aplicada. É uma lei importante que foi aprovada em janeiro de 2024. E ela tipifica tanto o bullying quanto o cyberbullying como crimes. Então, agora, nós temos previsto no Código Penal esse comportamento, ou seja, quando o aluno está perseguindo, intimidando, maltratando o outro continuadamente, e isso acontece em uma relação de desigualdade de poder, como eu falei anteriormente, isso já está previsto no Código Penal como bullying e, portanto, como um crime. Em relação às punições, no caso do bullying, é passível de multa, porém, no caso do cyberbullying, não. Então, em relação ao cyberbullying, a lei determina que a penalidade seja não somente a multa, como dois a quatro anos de prisão. Então, isso mostra para nós a gravidade desse comportamento. Acho que é uma lei importantíssima para entendermos realmente a dimensão desse problema. Eu penso que a lei [nº] 14.811, ela é um último recurso e não o primeiro recurso. Primeiro recurso para lidarmos de fato com a prevenção ao bullying e com a prevenção ao cyberbullying é por meio da educação.
[Locutora] Como pais, estudantes e professores podem se unir para combater o cyberbullying?
[Benjamim Horta] Mais importante é pensarmos que esse esforço contra o cyberbullying precisa ser feito de forma contínua. Muitas vezes, nós utilizamos de ações pontuais, ou seja, no Dia Nacional de Combate ao Bullying, que é o dia 7 de abril, nós realizamos uma mobilização na escola, ou em datas específicas. Mas combater o bullying e o cyberbullying exige que nós tenhamos um comprometimento que se estenda ao longo do ano inteiro. Então, em primeiro lugar, que pais entendam qual é a responsabilidade que eles têm como família em relação a isso. A partir do momento que eles dão o celular para o filho, quais são as responsabilidades que eles têm e que eles devem transmitir aos filhos em relação a isso? Em segundo lugar, qual a importância que a escola tem? Qual o papel da escola em relação à prevenção ao cyberbullying? Antigamente, a proposta da educação era ensinar o ser humano, hoje a proposta da educação é ensinar a ser humano. Então, essa ideia da reumanização, de trazermos para convivência, de aproveitarmos que a gente tem ali um formato tão lindo, coletivo, numa sala de aula, e que isso pode ser transformado em uma oportunidade formativa, isso é fantástico. Então, nós estamos lidando, sim, com um problema desafiador, mas a gente tem certeza de que esse pacto, de que essa união, ela pode, sim, ressignificar muitos problemas e trazer soluções eficazes.
[Locutora] Existem formas de se prevenir contra o cyberbullying?
[Entrevistado Benjamim Horta] Existem muitos cuidados que alunos podem e devem ter em relação ao uso das tecnologias digitais e que podem evitar graves problemas. Em primeiro lugar, pense na sua privacidade on-line. Quais fotos você compartilha? Com quais pessoas você interage? Seja, inclusive, não só através de uma rede social, mas em um jogo, em um game. Se você está jogando com alguém, com quem você está interagindo ali naquele jogo? Fique atento aos locais, às vezes, você marca em uma publicação os locais nos quais você está. É realmente seguro isso? Um outro ponto, fique atento à sua senha, a seus logins. Muitas vezes, a gente compartilha com um colega uma senha ou compartilha com amigo, compartilha até a própria senha do celular. Muitos casos de bullying, por incrível que pareça, acontecem justamente por esse tipo de erro. Ou se você vai acessar o computador da biblioteca, verifique se você fez o logout, se você realmente saiu daquela página. Esse é um ponto importante. Uma outra coisa é sempre a mesma empatia que funciona off-line, ela deve funcionar on-line. Então, aplique a empatia. Essa é uma forma de, por incrível que pareça, é uma forma muito eficiente de prevenir o cyberbullying, de pensar no que o outro está sentindo, mesmo que eu não esteja vendo essa pessoa. Às vezes, dizer algo a alguém virtualmente é muito mais fácil do que dizer pessoalmente, porque você não está vendo resposta da pessoa. Então, o uso dessa empatia também no ambiente virtual. E, principalmente, tem um fator que propicia a prática de cyberbullying, que chama-se desindividualização, uma palavra extensa, mas ela significa que muita gente acaba praticando cyberbullying porque está em um grupo onde todo mundo está fazendo e a gente acaba entendendo que a gente pode fazer também. Então, acho que a maior dica em relação à prevenção a cyberbullying, não só do ponto de vista de quem está sofrendo, mas de qualquer aluno que está ali interagindo com esse contexto, é: pense que você tem uma responsabilidade individual pelo que você está publicando, pelo que você está dizendo a respeito do outro. Inclusive, a gente tem hoje uma lei que nos protege em relação a isso, que é a [lei nº] 14.811, de 2024. Então, acho que esse são alguns pontos importantes para nos prevenirmos em relação ao cyberbullying. E, especialmente, lembrando, se acontecer, não deixe de procurar ajuda.
[Locutora] Muito obrigada pela conversa e esclarecimentos, Benjamim. Até uma próxima oportunidade!
[Entrevistado Benjamim Horta] Eu que agradeço pela oportunidade. Contem sempre com a gente.
[Música de encerramento]
[Locutora] Créditos: A trilha sonora foi retirada da Freesound.