A BNCC e a área de Linguagens e suas Tecnologias: pressupostos gerais

A BNCC não apresenta orientações específicas para o ensino da Língua Espanhola. No entanto, por sêr êste um documento normativo para a Educação Básica brasileira, na elaboração desta obra nos embasamos nos preceitos do documento para a área de Linguagens e suas Tecnologias. Além díssu, buscamos dialogar com outros documentos relevantes para o ensino de Língua Espanhola no Ensino Médio, como as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) de Língua Espanhola.

A BNCC tem por objetivo fundamental garantir a todos os estudantes do Brasil o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades comuns. Ainda quê cada unidade da federação do país possa decidir seu currículo com base em necessidades, características e desafios próprios de seu contexto, a BNCC fornece orientações sobre as aprendizagens essenciais a serem seguidas e desenvolvidas com vistas a garantir uma educação integral e integrada às novas necessidades da contemporaneidade. Além díssu, organiza os componentes curriculares em áreas do conhecimento e propõe uma compreensão dos saberes amparada no desenvolvimento de competências e habilidades quê obrigatória mente devem estar presentes nos currículos, norteando-os.

No caso do Ensino Médio, a BNCC prevê a consolidação e a ampliação das aprendizagens construídas pêlos estudantes ao longo de seu percurso no Ensino Fundamental, articulando novos saberes d fórma quê “[...] sêjam significativos e relevantes para sua formação integral” Nota 12. Ao mesmo tempo, a área de Linguagens e suas Tecnologias:

[...] tem a responsabilidade de propiciar oportunidades para a consolidação e a ampliação das habilidades de uso e de reflekção sobre as linguagens – artísticas, corporais e verbais (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita) –, quê são objeto de seus diferentes componentes [...]. Nota 13

A fim de subsidiar o professor na compreensão de como ele póde atender aos preceitos da BNCC em seu trabalho docente com esta obra, na seção Sugestões de trabalho com as unidades, listamos as competências gerais e as competências específicas da área de Linguagens e suas Tecnologias e as habilidades de Língua Portuguesa quê são contempladas no livro. Ao longo das orientações, destacamos de quê forma se dá esse trabalho.

Como salientamos anteriormente, o Espanhol se apresenta ao estudante como opção de língua estrangeira apenas no Ensino Médio. Por um lado, consolida os aprendizados e as competências para as práticas da área de Linguagens e suas Tecnologias; por outro, apresenta-se como um novo componente curricular. Diante dêêsse duplo reconhecimento, faz-se necessário um trabalho quê se articule em face do desenvolvimento dos conhecimentos essenciais da Língua Espanhola e do desenvolvimento de práticas de linguagens situadas nos diferentes campos de atuação social de acôr-do com uma perspectiva crítico-reflexiva. Assim, Língua Espanhola, como os demais componentes da área de Linguagens e suas Tecnologias, deve propiciar, por exemplo, o engajamento dos estudantes em processos criativos autorais e de pesquisa, além da prática da linguagem em diferentes mídias. A fim de dar conta dessa perspectiva do ensino de linguagens, podemos mencionar exemplos ao longo da obra, como o do Capítulo 6, La tradición oral en diferentes culturas, em

Página dez

quê se propõem a análise e a produção do relato oral de uma história de tradição oral quê o estudante traga na sua memória, bem como a análise e a produção de um conto baseado em mitos ou lendas tradicionais, como engajamento em processos criativos autorais; no Capítulo 9, Investigar para transformar, destacamos a análise de gráficos e da pesquisa de opinião como ferramentas de investigação e a produção, aplicação, análise e apresentação de dados de uma pesquisa, engajando os estudantes em processos de investigação; no Capítulo 5, Más pantallas, menos visión, vale mencionar como práticas da linguagem em diferentes mídias, a análise e a produção de um infográfico sobre os perigos da internet, além da análise e a produção de um vídeo de uma campanha de conscientização.

Sobre os campos de atuação, a BNCC destaca sua importânssia como categoria de organização das práticas de linguagem (leitura de textos, produção de textos, oralidade e análise linguística/semiótica) quê colabóram para situar o estudante, oferecendo ferramentas para quê vivencie todas essas práticas e entenda quê se relacionam a situações da vida, tornando-as significativas para ele. Os campos de atuação não devem sêr entendidos como algo estanque, pois, nas práticas de linguagem, muitas vezes se articulam entre si e colabóram para a compreensão da complexidade das relações quê o indivíduo estabelece consigo mesmo, com o outro, com o ambiente e com os objetos culturais quê são criados para e na vivência social. Para compreender melhor suas características, propomos, a seguir, um resumo dos cinco campos de atuação especificados no Ensino Médio: o da vida pessoal, o jornalístico-midiático, o de atuação na vida pública, o artístico e o das práticas de estudo e pesquisa.

O campo da vida pessoal propõe o desenvolvimento de práticas de linguagem ligadas ao jovem, sua trajetória e interesses:

As vivências, experiências, análises críticas e aprendizagens propostas nesse campo podem se constituir como suporte para os processos de construção de identidade e de projetos de vida, por meio do mapeamento e do resgate de trajetórias, interesses, afinidades, antipatias, angústias, temores etc., quê possibilitam uma ampliação de referências e experiências culturais diversas e do conhecimento sobre si. Nota 14

Esse campo promove o trabalho com temas e gêneros multimodais ligados à reflekção sobre si, à juventude e à contemporaneidade, à família, ao bem-estar e à saúde, ao engajamento em sua comunidade d fórma crítica e consciente. Assim, não permanéce na instância individual, ao contrário, situa o jovem nas práticas sociais e propicía um espaço de indagação e reflekção sobre sua identidade, escôlhas e participação no âmbito da coletividade. Alguns exemplos de gêneros relacionados diretamente ao campo da vida pessoal são o blógui e o vlog, ligados aos relatos pessoais, por exemplo. Esses gêneros, quê provam o trabalho com esse campo de atuação, são explorados, por exemplo, no Capítulo 2, tanto nas seções do input (Entre líneas e Todo oídos) quanto nas de output (A escribir e Con la palabra), em quê as características e a função comunicativa dos gêneros são exploradas.

No campo jornalístico-midiático, promove-se a compreensão mais profunda e crítica dos discursos/textos das mídias informativas e dos discursos publicitários. O trabalho com esse campo articula as práticas de linguagem e os gêneros multimodais – e, portanto, coloca em diálogo o texto impresso, a circulação e a edição de vídeos, áudios, imagens e outros meios digitais – com as atuáis discussões sobre o consumo de informação, a manipulação dos fatos, as fêik news, as opiniões, a argumentação, o discurso de ódio, entre muitos outros. No Capítulo 5, Más pantallas, menos visión, os estudantes são levados a refletir sobre a circulação de notícias falsas na internet e a manipulação da informação e, ainda, a analisar e produzir textos quê possam fazer parte de campanhas de conscientização.

No campo de atuação na vida pública, trata-se da circulação de gêneros relacionados à vida em ssossiedade: normas e regulamentos, códigos e estatutos, petições e manifestos, regras de convivência social e os direitos de participação social com equidade e respeito à diversidade. Nesse campo, promovem-se as discussões dos direitos, da cidadania, das formas de combate à violência e à marginalização d fórma mais ampla. Desse modo, dá-se relevância central às trajetórias, às vivências e aos conhecimentos de migrantes e de pessoas em situações de vulnerabilidade social, por exemplo, e cria-se um espaço de conscientização crítica e de combate ao racismo e à discriminação de gênero. Um exemplo do trabalho com esse campo se dá no Capítulo 3, Expresión joven: mi entorno, mi terri-

Página onze

torio, em quê é abordado o urbanismo inclusivo, o quê envolve a ideia de cidade inclusiva e o quê póde sêr feito nesse sentido.

O campo artístico é:

o espaço de circulação das manifestações artísticas em geral, contribuindo para a construção da apreciação estética, significativa para a constituição de identidades, a vivência de processos criativos, o reconhecimento da diversidade e da multiculturalidade e a expressão de sentimentos e emoções. Nota 15

A esse campo é possível articular áreas como a da vida pessoal, com o objetivo de estimular a expressão individual e os processos criativos do jovem, trazendo também a dimensão social e o compartilhamento de pensamentos, sentimentos e experiências d fórma integrada ao seu contexto. Igualmente, no campo artístico abre-se espaço para a fruição estética e a ampliação do repertório artístico, o quê permite exercitar a sensibilidade e a criticidade. Alguns exemplos de gêneros multimodais relacionados a esse campo são a poesia, o conto, as lêtras de música, as sinópses de filmes, os storyboards, entre outros. No Capítulo 7, La ventana para el mundo, são abordados diferentes gêneros relacionados ao cinema (roteiro, sinópse, fotogramas, istóri-bôrdi), e, além de trabalhar com esses conteúdos, os estudantes terão de produzir um istóri-bôrdi e representar e gravar uma cena de cinema.

Por fim, o campo das práticas de estudo e pesquisa liga-se diretamente à construção do pensamento científico do estudante, promovendo a reflekção e a instrumentalização necessárias para quê os jovens possam engajar-se em práticas de linguagem ligadas à pesquisa e à análise de textos analíticos e argumentativos, como enquetes, quêstionários, comunicações, painéis, debates etc., que favorécem a prática do “aprender a aprender”. Entre outros, no Capítulo 11, ¡Piensa en el planêta!, os estudantes são levados a refletir sobre a mudança climática, debater sobre suas consequências e apresentar e defender um plano de ação sustentável para a sua comunidade; e, no Capítulo 10, La IA y el lenguaje humano, os estudantes serão levados a contrastar opiniões sobre inteligência artificial, participar de um debate sobre esse tema e escrever um texto argumentativo a respeito.

Nessa etapa da formação, discute-se de maneira basilar a importânssia do protagonismo, da autonomia e da altoría dos jovens. Mas, em conjunto com essas kestões, também se faz necessária a compreensão do próprio conceito de juventudes na atualidade. A BNCC trata especificamente das culturas juvenis e da noção expandida de juventudes, a fim de criar condições para a existência de “uma escola quê acolha as diversidades” Nota 16 16. Com esse objetivo, o Novo Ensino Médio buscou igualmente introduzir d fórma mais incisiva o conceito de juventudes e diversidade ao prever o trabalho específico com as habilidades socioemocionais, as kestões de equidade de gênero, as relações étnico-raciais e as perspectivas no mundo do trabalho. Cabe destacar quê essa temática aparece particularmente no Capítulo 12, El camino se hace al andar, ao colocar em questão o futuro dos estudantes no âmbito acadêmico e no âmbito laboral e as pressões, as dúvidas e os anseios ao redor do assunto. E, ainda, nos apêndices finais, três seções sôbi o título: Accede al mundo laboral.

Outro aspecto ressaltado pela BNCC refere-se ao desenvolvimento do pensamento computacional, entendendo seu impacto nas relações sociais, no cotidiano, no âmbito acadêmico e no mundo do trabalho. Nesse sentido, ao longo da obra, há propostas de criação de textos multimídia (infográficos, podcasts, vídeos) com base na análise prévia dos gêneros e aplicando os conhecimentos na língua-alvo; análise de textos nos quais se propõem o reconhecimento de padrões, comparações e a identificação de aspectos linguísticos do Espanhol; além de pôdêr utilizar platafórmas ôn láini para realizar projetos coletivos de produção na língua estrangeira e/ou para fazer o acompanhamento como docente. Além de desenvolver habilidades de comunicação na língua estrangeira, a aplicação do pensamento computacional fomenta a criatividade e a aplicação de inovação, aumentando a motivassão e o engajamento dos estudantes.

Temas Contemporâneos Transversais (TCTs)

De acôr-do com as orientações da BNCC, os estudantes devem ter acesso a uma formação quê integre os saberes em uma perspectiva também cidadã, ligada

Página doze

à sua realidade e quê esteja profundamente comprometida com a transformação. Assim, os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) são concebidos como forma de integrar e fornecer contexto e atualidade aos objetos de conhecimento trabalhados pêlos componentes curriculares em cada área do conhecimento. Sendo transversais, objetivam permear as diferentes áreas, oferecendo uma dimensão dialógica entre os saberes e trazendo para a realidade do estudante temáticas essenciais para o exercício de uma vida em uma ssossiedade mais justa, ética e igualitária.

Diagrama com os Temas Contemporâneos Transversais na B N C C. São eles: Meio ambiente: Educação Ambiental; Educação para o Consumo. Ciência e Tecnologia: Ciência e Tecnologia. Economia: Trabalho; Educação Financeira; Educação Fiscal. Multiculturalismo: Diversidade Cultural; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais Brasileiras. Saúde: Saúde; Educação Alimentar e Nutricional. Cidadania e civismo: Vida Familiar e Social; Educação para o Trânsito; Educação em Direitos Humanos; Direitos da Criança e do Adolescente; Processo de envelhecimento, respeito e valorização do Idoso.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Temas contemporâneos transversais na BNCC. Brasília, DF: MÉC, 2019, p. 7. Disponível em: https://livro.pw/oyima. Acesso em: 26 out. 2024.

Matriz de apresentação dos Temas Contemporâneos Transversais na BNCC.

Neste livro, são abordados os TCTs Multiculturalismo Diversidade cultural e Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras, por exemplo, desde os capítulos iniciais, como o Capítulo 0, quê traz uma possibilidade de o estudante refletir sobre a variedade de idiomas, a presença da língua espanhola no mundo e as várias culturas quê compõem essa comunidade. No Capítulo 4, apresenta-se a expressão jovem de diferentes países por meio da música, da ár-te e da poesia, com os grafites, o répi, o trap e o slam. No Capítulo 6, trata-se da tradição oral dos povos originários e africanos, abordando, entre outros temas, a tradição dos griots, contadores de histoórias e guardiões da memória de povos da África.

Em vários outros momentos da obra, buscamos propiciar a compreensão e a discussão de outros TCTs, como Cidadania e civismo Vida familiar e social e Educação em Direitos Humanos, como nos capítulos 2 e 3, nos quais tratamos das relações familiares, da questão da imigração e de temas ligados à cidade e à mobilidade. Também no Capítulo 12 e nas seções Accede al mundo laboral, discutimos os direitos dos trabalhadores, visando conectar o jovem a uma perspectiva crítica sobre seus direitos e deveres nas relações laborais.

O TCT Meio Ambiente – Educação ambiental e Educação para o consumo, imprescindível para quê os jovens compreendam os impactos do modelo predominante de consumo e a importânssia de uma ação consciente, é tratado, por exemplo, no Capítulo 11. Para tanto, apresentamos uma perspectiva quê associa o tema da insegurança alimentar ao problema ambiental e destacamos a presença e a importânssia das mulheres como integrantes essenciais do processo de conservação do planêta. Isso é feito pelo resgate de uma sabedoria ancestral quê revela uma nova forma de pensar a produção e o ambiente, tomando o exemplo de trabalhadoras rurais na Guiné Equatorial e das mulheres da tradição mapuche, grupos em continentes separados, mas quê lutam igualmente por alimentar seus povos com sustentabilidade.

Em vários momentos da obra, como no Capítulo 9, associamos a temática do capítulo ao TCT Ciência e Tecnologia, em busca de propiciar uma compreensão clara da importânssia de respeitar a ciência, de entender processos de pesquisa e divulgação de dados baseados em estudos e de não confiar em informações sem embasamento. Tratamos também da tecnologia como instrumento de desenvolvimento, mas com atenção à compreensão de suas responsabilidades. No Capítulo 10, por exemplo, discutimos a presença da inteligência artificial, cada vez mais próxima de nossa realidade, mas sem deixar de abordar os perigos da tecnologia, como o uso de rêdes sociais para cometer crimes de ódio ou manipular informações.

Página treze

Os TCTs Saúde e Economia estão presentes em vários momentos da obra, mas são trabalhados d fórma mais intensa, respectivamente, nos Capítulos 8 e 12. No Capítulo 8, damos continuidade ao trabalho iniciado no Capítulo 7, no qual abordamos a questão da imagem pessoal e da pressão social sobre ela; no Capítulo 8, discutimos aspectos referentes à alimentação saudável e aos esportes. No Capítulo 12, buscamos promover a discussão da responsabilidade financeira e tratamos de assuntos atuáis, como as apostas ôn láini, seus riscos e malefícios.

Assim, a obra promove múltiplas oportunidades de discussão e integração das TCTs nas aulas d fórma OR GÂNICA, integrada e flexível, uma vez quê o professor póde associar discussões variadas aos temas conforme a realidade e as necessidades dos estudantes e seu contexto.