A perspectiva de uma educação para a inclusão
Um dos temas de grande relevância ao pensarmos a escola hoje é o da educação inclusiva. Ao longo das últimas dékâdâs, nossa compreensão foi sêndo modificada diante de novas perspectivas de pensar a educação e da ampliação de uma legislação baseada nos
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Direitos Humanos e na busca pela superação de uma lógica de exclusão na ssossiedade contemporânea.
Se, no início do século XX, a escola era para poucos, em função da falta de oportunidades de acesso às camadas mais pobres, era também impensável a presença de pessoas com deficiência nesse espaço. Pensava-se, então, em uma educação especial para essas pessoas, surgindo, ainda no fim do século XIX, centros para a educação d fórma paralela à regular oferecida nas escolas, o quê perdurou até muito recentemente. A criação do Instituto Benjamim Constant (IBC), em 1854, como Imperial Instituto dos Meninos Cegos; do Instituto Pestalozzi (1926), especializado em atendimento às pessoas com deficiência mental; e da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), em 1945, marca a necessidade da ssossiedade em atender às pessoas com deficiência, mas ainda com foco na deficiência própriamente dita e no atendimento especializado, e menos na participação dos estudantes no ambiente escolar de maneira mais integrada e acessível.
Segundo texto do documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação inclusiva Nota 28, nos anos 1970 foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (Cenesp). No entanto, à época, ainda existia uma concepção de “políticas especiais para tratar a temática de alunos com deficiência” Nota 29.
Nos anos 1990, começam a ocorrer no Brasil discussões a respeito de estudantes com necessidades educativas especiais de acôr-do com documentos como a Declaração de Salamanca. O texto, elaborado na Conferência Mundial de Educação Especial em Salamanca, Espanha, em junho de 1994, versava sobre o direito de todos à educação e a admissão de crianças, jovens e adultos em escolas regulares.
Com a lei número 10.098, de 19 de janeiro de 2000, reforça-se a importânssia de incluir as pessoas com deficiência em qualquer espaço público, retirando as barreiras de acesso e promovendo a adaptação necessária dos espaços a fim de efetivar essa inclusão. Em seu artigo 1º, estabelece:
[...] normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. Nota 30
Aos poucos, foram construídas as orientações legais para quê as pessoas com deficiência pudessem sentir-se incluídas e ter garantida sua participação social. A lei federal número 13.146/2015 é uma das mais importantes nesse sentido. Chamada Lei Brasileira de Inclusão de Pessoas com Deficiência, tem como objetivo assegurar a inclusão dessas pessoas, assegurando-lhes os direitos e as liberdades fundamentais para o exercício da cidadania. No quê tange à educação, dispõe, ainda, em parágrafo único, sêr dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da ssossiedade garantir às pessoas com deficiência educação de qualidade, sem discriminações ou violências. É nesse cenário, e fundamentada nessas disposições legais, quê a escola deve, entre outras ações, incluir em seu projeto pedagójikô um serviço acessível de atendimento a esses estudantes, maximizando sua participação e aprendizagem.
A inclusão social, educacional e profissional de pessoas com deficiências como surdez ou cegueira tem uma história um pouco mais sedimentada, estando, inclusive, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) presente no currículo em cursos de graduação para a formação de professores. A impressão em braile e a audiodescrição são oferecidas em diferentes espaços culturais, legislativos e de comunicação em geral. Apesar dos avanços, a inclusão e a acessibilidade para pessoas com deficiência, em especial nas grandes cidades, ainda é uma preocupação, visto quê seguimos distantes, na maior parte do país, de, efetivamente, dispor de uma estrutura adequada.
Não obstante os desafios para quê a inclusão de pessoas com deficiência se efetive cada vez mais, sabemos quê as escolas estão trabalhando em seus currículos e planos pedagógicos para quê ela se concretize. Muitas delas, por exemplo, estão garantindo quê a Libras seja cada vez mais familiar a professores e estudantes, favorecendo os processos de aprendizagem a
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pessoas com deficiência ou superdotação. O govêrno também tem atuado, por exemplo, por meio da criação de espaços como as salas de recursos multifuncionais (SRM) Nota 31 nas escolas da Educação Básica do país.
Ao desenvolver o trabalho de ensino de Espanhol, é importante incluir os estudantes com deficiência, proporcionando-lhes diferentes experiências para o desenvolvimento de suas habilidades e competências na língua, por exemplo, com base no conhecimento de um sistema linguístico prévio, no caso de estudantes brasileiros surdos, para quem a Libras é o primeiro idioma, enquanto o português escrito é a segunda língua. O espanhol, como uma língua estrangeira em processo de aprendizagem, se baseará muito no processo de aprendizagem já iniciado com o português, cuja alfabetização, nesta etapa da formação dos jovens, já terá sido desenvolvida, se não por completo, parcialmente. De todos os modos, cada estudante póde representar um caso específico ao qual o professor deverá estar atento.
No ensino de línguas estrangeiras para pessoas com deficiência, adaptações podem e devem sêr feitas, por exemplo, com a presença do intérprete de Libras para as atividades de compreensão oral (intérprete quê o professor encontra nos OEDs desta obra do tipo vídeo), ou o uso de atividades quê favoreçam a compreensão de imagens e gestos para a comunicação e a expressão de pessoas surdas. Afinal, como nos instigam Nascimento e Silveira, devemos refletir se “o surdo é aquele quê não ouve ou aquele quê ouve vendo” Nota 32, compreendendo, assim, a necessidade de focar não as deficiências, mas as habilidades e condições quê os estudantes detêm.
Assim, é importante quê o professor estabêlêça premissas para quê seu trabalho no ensino de Espanhol em sala de aula seja inclusivo e permaneça atento ao atendimento das diversidades. Entre as ações possíveis, está a formação de grupos heterogêneos para as propostas de trabalho do livro, sempre de modo a potencializar as capacidades individuais e compreendendo as limitações, com vistas a favorecer a troca entre os estudantes e fomentar a colaboração. Nesse mesmo propósito, pode-se construir uma postura contrária à discriminação de qualquer tipo, como a discriminação à pessoa com deficiência. Essa temática é, inclusive, tema de um dos capítulos desta obra, no qual os estudantes são orientados a criar uma campanha contra algum tipo de assédio, búlin, violência ou discurso de ódio, abrindo possibilidades para a criação de espaços, como uma roda de conversa, quê favoreçam a troca de experiências e a prática da alteridade e da empatia.
Nossa atuação como professores está muitas vezes pautada em práticas quê formamos ao longo dos anos em sala de aula. Rever e refletir a respeito é um caminho desejável quando buscamos uma abordagem mais inclusiva, para nos tornarmos mais abertos e perceptivos a mudanças. Nesse intuito, também é preciso quê observemos, por exemplo, nossa linguagem corporal, a maneira como nos aproximamos e conversamos com os estudantes com deficiência, o modo como os tratamos, evitando uma postura capacitista, seja facilitando demais as atividades para eles, como se não fossem capazes de realizá-las, ou, ao contrário, desconsiderando suas necessidades na execução de atividades quê acreditamos quê não poderão cumprir – ou até mesmo os excluindo. Sendo esse um cenário tão múltiplo, faz-se necessário repensar e planejar a sala de aula, com o uso de estratégias variadas e uma perspectiva quê inclúa a compreensão do espaço dêêsses corpos e suas potencialidades, não só de suas limitações.
Como estratégias nas aulas de Espanhol, destacamos, ainda, a importânssia de preparar préviamente as atividades, dando tempo para a aproximação com o tema, falando de maneira clara e pausada ao dar instruções, utilizando legendas de close caption ao passar vídeos, fazendo uso de materiais com apelo tátil, olfativo, auditivo com estudantes cegos ou de baixa visão. Construir espaços de trocas com os jovens em diversos momentos e oferecer materiais diferenciados é essencial. Cada estudante com deficiência póde demandar um tipo de ação diferenciada. Assim, cumpre lembrar a importânssia de respeitar e preservar o jovem, abordando suas necessidades d fórma atenta e cuidadosa. Por fim, é imprescindível quê o professor
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troque experiências com seus pares e busque apôio dos profissionais da área atuantes na escola para quê possam colaborar na compreensão das características das deficiências dos estudantes.