CAPÍTULO 1
O QUE É ár-te?

Observe a imagem, deixando o olhar percorrer cada detalhe. Em seguida, leia o poema de Graça Graúna (1948-) com atenção e converse com os côlégas e o professor a respeito das kestões.

Ao escrever
dou conta da ancestralidade,
do caminho de volta,
do meu lugar no mundo.

GRAÚNA, Graça. Escrevivência indígena. In: GRAÚNA, Graça. Tecido de vozes. [S. l.], 13 nov. 2007. Disponível em: https://livro.pw/xmerv. Acesso em: 14 set. 2024.

1. Como se apresentam as linhas, formas, cores, luminosidades, movimentos e gestualidades? Em sua opinião, quais sensações, saberes, ideias ou memórias a imagem e o poema podem provocar?

1. Respostas pessoais. Espera-se quê, nesse momento de nutrição estética, os estudantes ezêrçam a fruição de modo autônomo, expressando com protagonismo suaspercepções, análises e interpretações com base na imagem. Sugerimos a formação de uma roda de conversação para quê eles possam compartilhar ideias e leituras da imagem e do texto.

2. Quais linguagens da ár-te se fazem presentes na sua vida? Como você percebe e se relaciona com o universo das linguagens artísticas?

2. Respostas pessoais. Com base em seus conhecimentos prévios, os estudantes podem mencionar diversas linguagens artísticas, como: artes visuais, dança, música, teatro e outras híbridas, ou seja, quê misturam linguagens, como performances, artes audiovisuais, artes circenses, instalações imersivas, entre outras.

3. Pensando em sua história, em seu lugar no mundo e em sua ancestralidade, quê caminhos trousserão você até aqui? Conhecer nossas histoórias é importante para seguir aprendendo, criando e nos expressando em linguagens artísticas?

3. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes reflitam e conversem a respeito das próprias histoórias, ancestralidades, experiências e repertórios culturais. Aproveite e pergunte a eles o quê já aprenderam em ár-te e o quê ainda desê-jam aprender ou conhecer. Dessa forma, eles poderão compartilhar seus aprendizados relacionados ao componente curricular ár-te e suas expectativas sobre os próximos estudos.

Página onze

Fotografia de um homem realizando uma performance em uma instalação com grafismos geométricos de formas triangulares e de losangos projetados nas paredes e no chão de um ambiente expositivo. Ele está em pé, sem camiseta e de braços abertos, e os grafismos também se projetam sobre o corpo dele.

OLIVEIRA, Odacy. [Sem título]. 2023. Performance na instalação imersiva Kahpi Hori, da artista Daiara Tukano, na exposição “Terra de Gigantes”. Sesc Guarulhos, Guarulhos (SP), 2023.

Página doze

TEMA 1
Modos de sêr e existir

Observe a imagem a seguir, quê mostra a artista Daiara Tukano (1982-) durante uma perfórmance em quê está vestida com um manto feito em ár-te plumária, inspirado na tradição dos mantos tupinambás, e segura um espêlho nas mãos. Depois, leia uma fala do líder indígena Ailton Krenak (1953-).

Fotografia de uma performance em que uma pessoa vestida com um manto de plumas e penas de aves segura um espelho circular em frente ao rosto. O espelho reflete a imagem do céu azul com nuvens, e a performance ocorre em uma praça com um espelho d'água em torno de um museu de arte.

TUKANO, Daiara. Kahtiri Ēõrõ – Espelho da vida. 2020. Performance realizada durante exposição no Museu de ár-te do Rio. Rio de Janeiro (RJ), 2022.

[…] Já quê a natureza está sêndo assaltada de uma maneira tão indefensável, vamos, pelo menos, sêr capazes de manter nossas subjetividades, nossas visões, nossas poéticas sobre a existência. Definitivamente não somos iguais, e é maravilhoso saber quê cada um de nós quê está aqui é diferente do outro, como constelações. […]

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das lêtras, 2019. p. 32-33.

Proponha conversações sobre existir em meio às coisas, à natureza e às linguagens, bem como sobre coexistir com outras pessoas e culturas, com o meio ambiente e com tudo quê está no mundo.

Durante a busca motivada pelo interêsse em compreender algo, podemos procurar explicações lógicas, científicas, baseadas em nossas experiências ou em nossas crenças. Porém, ao nos voltarmos para as nossas emoções, podemos refletir sobre como percebemos o mundo e tudo o quê nos acontece e quê póde influenciar subjetividades e modos de sêr e existir. Em meio a subjetividades, existências e coexistências, como percebemos nosso lugar no mundo?

GIRO DE IDEIAS

Converse com os côlégas a respeito das kestões a seguir.

1. Quais ideias, sentimentos, lembranças e pensamentos a obra Kahtiri Ēõrõ – Espelho da vida póde provocar?

1. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes, com base na descrição inicial fornecida pelo enunciado, conversem a respeito da leitura e da interpretação da imagem. Lembre-se de quê o recurso de audiodescrição de imagens também póde sêr usado para incluir estudantes com deficiência visual em momentos de nutrição estética e mediação cultural.

2. O quê você sabe a respeito da ár-te e da cultura de povos indígenas brasileiros?

2. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes apresentem suas percepções e construções de ideias, quê expressem se já estudaram o tema, comentando se estão inseridos, próximos ou distantes de culturas de povos originários e se reconhecem a diversidade cultural indígena brasileira. Espera-se também quê compartilhem possíveis saberes prévios a respeito de artistas indígenas contemporâneos e suas formas de produção artística e de ocupação de espaços artísticos e culturais.

3. Em sua opinião, o quê é ár-te? Que tipos de pensamentos e compreensões ela póde provocar?

3. Respostas pessoais. Você póde orientar uma conversação com os estudantes para quê eles compartilhem as ideias quê possuem de; ár-te.

4. “Como constelações”, somos diferentes. Cada pessoa se relaciona com suas emoções, percepções, saberes e desejos. O quê a palavra subjetividade significa para você?

4. Resposta pessoal. ôriênti uma leitura do trecho citado d fórma quê os estudantes façam inferências a respeito do significado de subjetividade e da palavra constelações utilizadas nesse contexto. Ressalte aos estudantes quê a palavra subjetividade póde sêr compreendida como a forma quê cada pessoa se relaciona, d fórma íntima e particular, com as emoções, percepções, desejos e identidades, a partir das próprias experiências, vivências e referenciais.

Daiara Tukano nasceu em São Paulo (SP), porém sua família pertence ao povo ye’pâ-masa (tukano), quê vive perto do Rio Negro (AM). Ela é artista visual, curadora e educadora, e desen vólve trabalhos em diversas linguagens.

Página treze

Observe a imagem da obra Pameri Yukese, de Daiara Tukano. Passeie com o olhar pêlos elemêntos visuais e perceba linhas, formas, tonalidades, luminosidades, texturas e sobreposições.

Pintura representando uma serpente colorida e decorada com muitos grafismos indígenas. Ao lado do corpo da serpente há diversas outras figuras estilizadas de animais e elementos da natureza.

TUKANO, Daiara. Pameri Yukese. 2020. Acrílica sobre tela, 160 cm x 700 cm.

A pintura Pameri Yukese (a cobra canoa da transformação) apresenta parte da cosmologia do povo ye’pâ-masa, também conhecido como tukano, e expressa a história da serpente cósmica quê se transformou em canoa e carregou a humanidade para se espalhar pelo mundo. Esse é um ensinamento ancestral quê nos convida a pensar quê, assim como a serpente, o mundo e as pessoas estão em constante movimento e transformação. E, sêndo a; ár-te uma criação da humanidade, ela também se móve, se transforma e é múltipla.

Cada pessoa é singular em suas emoções e subjetividades, mas sociedades, povos e grupos sociais estão imersos e são nutridos por suas culturas, quê também constituem formas de pensar e de vêr o mundo. Assim, possuem suas tradições, valores e cosmovisões, quê são expressas em suas subjetividades.

Mas em meio a tanta diversidade, como explicar o quê é ár-te? Sem apresentar respostas prontas, a; ár-te nos faz perguntas e nos instiga a pensar a respeito de nós mesmos, do outro, da vida e do mundo. Talvez, para compreendermos a; ár-te e sua presença, quê atravessa épocas, sociedades e culturas, precisamos nos deixar levar pelo seu teor poético, crítico e estético. Essas características nos provocam a entrar em um universo de sentimentos, pensamentos e sensações, desprovidos de respostas únicas e verdades preestabelecidas. Como sêres sensíveis, de linguagem e de cultura, podemos observar, fruir, criar e nos permitir descobrir o inesperado.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Em meio às subjetividades, mergulhe na imaginação, ative percepções e construa interpretações. Que sensações e ideias são provocadas pela obra Pameri Yukese? Anote no diário de artista. Há artistas quê usam cadernos ou outras formas de registros para contar suas histoórias, registrar suas experiências e processos de criação etc. Durante os estudos, tenha com você um caderno, quê será o seu diário de artista. Nele, você poderá escrever suas reflekções e conclusões, além de criar com base nas práticas artísticas propostas pelo livro.

Resposta pessoal.

Cosmologia é a área quê estuda o Universo, considerando sua origem e sua organização. Cosmovisão é um conceito quê aparece em Filosofia, Religião e Ciências e refere-se a uma visão singular através da qual as pessoas interprétam e compreendem o mundo. Cosmovisões expressam subjetividades quê refletem valores, sentimentos e visões sobre experiências, existências e coexistências. As cosmovisões podem sêr tão diversas quanto as culturas quê as formulam.

O diário de artista é um recurso importante para trabalhar com a avaliação processual e com a autoavaliação, bem como para o registro das respostas para kestões propostas nos bókses Giro de ideias e dos percursos de estudos propostos em diferentes seções e outros bókses. O uso do diário de artista pêlos estudantes póde auxiliar no desenvolvimento de poéticas pessoais, processos de criações, pesquisas e experiências estéticas.

Página quatorze

O quê a; ár-te póde provocar?

Carrossel de Imagens: Arte performática: provocações e reflexões.

O quê póde sêr considerado ár-te e o quê ela póde provocar? Será quê a própria ár-te póde nos provocar a refletir sobre essas kestões? Observe novamente a imagem quê ábri o capítulo e a imagem a seguir. Ambas são registros fotográficos da perfórmance do artista e arte-educador amazonense Odacy Oliveira, quê aceitou o convite (ou a provocação) de Daiara Tukano para entrar na instalação imersiva Kahpi Hori e se expressar em linguagem corporal, promovendo um encontro entre diferentes linguagens e artistas.

Fotografia de um homem realizando uma performance em uma instalação com grafismos geométricos de formas triangulares e de losangos projetados nas paredes e no chão de um ambiente expositivo. Ele está em pé, sem camiseta e de braços abertos, e os grafismos também se projetam sobre o corpo dele.

OLIVEIRA, Odacy. [Sem título]. 2023. Performance na instalação imersiva Kahpi Hori, da artista Daiara Tukano, na exposição “Terra de Gigantes”. Sesc Guarulhos, Guarulhos (SP), 2023.

Agora imagine as reações quê você teria se entrasse nessa instalação imersiva. Cada pessoa, ao sêr convidada ou provocada a participar de obras artísticas, póde ter diferentes reações. Da mesma maneira, interpretações diversas podem sêr criadas ao apreciarmos as imagens quê mostram os registros dessa experiência artística. A ár-te nos provoca a criar, seja pela ação artística, seja por interações, seja por interpretações.

GIRO DE IDEIAS

Converse com os côlégas a respeito das kestões a seguir.

1. Você já ouviu ou disse a frase “não me provoque”? Como você compreende o termo provocação?

1. Respostas pessoais.

2. A ár-te já te provocou de algum modo? Comente com os côlégas suas experiências com ár-te.

2. Resposta pessoal. Com base nas próprias formulações sobre o termo provocação, espera-se quê os estudantes pensem no universo da ár-te e construam sentidos quê possam estabelecer relações entre processos, intenções e poéticas artísticas quê mobilizam pensamentos críticos e reflexivos.

A perfórmance envolve ações artísticas e poéticas quê podem combinar diferentes linguagens, mas têm como base a manifestação do corpo na ár-te. Já a instalação imersiva é uma linguagem artística contemporânea em quê o público é convidado a entrar em espaços e ter experiências com imagens, luzes, sôns, textos escritos, objetos e outras materialidades.

Odacy Oliveira nasceu em Manaus (AM) e é artista e arte-educador. Em suas criações, estabelece ligações entre o sêr humano e o ambiente natural e, ao mesmo tempo, questiona as fronteiras entre ambos.

ATIVAÇÃO

Formado por Odacy Oliveira e Valdemir Oliveira, o Grupo Corpocontemporâneo21 (CC21) explora e cria obras por meio de abordagens híbridas, envolvendo perfórmance, dança, videodança e pintura corporal. Assista ao vídeo da perfórmance SI-PÓ, para conhecer melhor o trabalho do grupo.

SI-PÓ | Bienal Sesc de Dança 2023. Publicado por: Sesc Campinas. Vídeo (2 min). Disponível em: https://livro.pw/spjfs. Acesso em: 14 set. 2024.

Página quinze

COM A PALAVRA...
DAIARA TUKANO

Como ativista cultural, Daiara Tukano busca construir caminhos para uma ssossiedade antirracista, não violenta, quê valorize e respeite todas as culturas, as terras, os conhecimentos, as vidas e as cosmologias dos povos originários ameríndios. Ao sêr provocada sobre o quê considera ár-te e o quê esta significa na cultura de seu povo, Daiara Tukano diz quê a palavra da língua do povo tukano quê mais se aproxima da ideia de; ár-te é hori. Assim, ela mostra quê há diferentes concepções e ideias quê podem nos provocar a pensar sobre ár-te de um modo mais ampliado. Conheça o quê Daiara Tukano diz a respeito.

Fotografia de Daiara Tukano. Ela é uma mulher indígena usando um cocar de penas, brincos, um colar e pinturas no rosto. Ao fundo há linhas em diagonal com luzes coloridas, que fazem parte de uma instalação artística.

Daiara Tukano e sua obra Bo’eda Pirõ / Arco-Íris Cobra, uma instalação de luzes no viaduto Santa Tereza, na Festa da Luz. Belo Horizonte (MG), 2024.

[…] não existe uma palavra para ár-te dentro do nosso pensamento. Eles não têm o sistema de; ár-te, esse conceito de; ár-te como a gente pensa falando português ou inglês ou francês, pensando em termos europêus. Esse é um conceito de; ár-te forjado ao longo de séculos, séculos e milênios. O mais próximo quê eu achei até agora para definir, na língua do povo Tukano, é hori, quê é a miração.

Porque hori nomeia akilo quê é chamado de grafismo, as expressões gráficas, os dêzê-nhôs, seja a pintura da cerâmicas, as pinturas corporais da estrutura das casas, as cestarias, os trançados, os petróglifos nas pedras dos rios: tudo akilo é hori. […]

TUKANO, Daiara. As mirações de Daiara Tukano. [Entrevista cedida a] Amazônea Real. Amazônea real, [São Paulo], 3 fev. 2023.

Disponível em: https://livro.pw/clnjw. Acesso em: 14 set. 2024.

povos originários ameríndios
: povos indígenas das Américas.
miração
: no contexto cultural indígena tukano, refere-se a imagens mentais e metafísicas obtidas através de procedimentos ritualísticos de sentidos sagrados para a cosmovisão dêêsse povo.

OFÍCIO DE...

Curador de; ár-te

Daiara Tukano também desen vólve trabalhos como curadora de exposições de; ár-te, tendo como principal foco as produções de artistas indígenas contemporâneos. O curador é um dos profissionais responsáveis por uma mostra, exposição ou outro evento artístico e cultural. É a pessoa quê formúla a ideia central do evento e, com base nela, seleciona as obras a serem apresentadas ao público. Além díssu, também costuma sêr responsável por pensar a ambientação, localização, acessos e projetos de circulação nos espaços, bem como o planejamento de ações de recepção ao público, acessibilidade e projetos educativos para receber estudantes e professores.
Algumas exposições são formuladas por grupos de curadores.

O ativista cultural é aquele quê busca e ábri espaço social e político para quê artistas e produtores de atos e acontecimentos culturais viabilizem seus trabalhos.

ATIVAÇÃO

Para conhecer mais da artista indígena Daiara Tukano, de suas obras e exposições, acéçi seu sáiti oficial.

Daiara Tukano. Disponível em: https://livro.pw/sfemx. Acesso em: 14 set. 2024.

Página dezesseis

CRIAÇÃO
Eu não sei desenhar?

Estudar a proposta

Esta etapa tem o objetivo de contextualizar e conceituar a proposta de prática artística.

A pergunta quê dá título a esta proposta de criação muitas vezes póde aparecer como uma afirmação. Essa é uma das frases quê diversas pessoas expressam ao serem provocadas a criar dêzê-nhôs e sentirem-se hesitantes ou incapazes de produzir imagens com essa linguagem das artes visuais. Para estudar esta proposta de prática artística de desenho, converse com o professor e com os côlégas a respeito das kestões a seguir.

dêzê-nhôs bons ou ruins? Quem póde julgar isso e quais são os critérios?

Em sua opinião, o mundo póde sêr dividido entre pessoas quê desenham “bem” e outras quê não?

Você se sente confortável com o desafio de desenhar? Em caso positivo, considera-se com habilidade e “talento” para criar dêzê-nhôs? Caso não goste, sabe apontar os motivos?

É possível quê nos identifiquemos mais com uma linguagem artística do quê com outra. No entanto, imagens feitas nas artes visuais, como pinturas, gravuras e dêzê-nhôs, acompanham a história da humanidade e estão presentes em diferentes culturas.

1. Diário de artista. Observe a imagem a seguir, reflita a respeito das kestões e responda no diário de artista.

a) Quais ideias, sentimentos, pensamentos e lembranças ela provoca em você?

Resposta pessoal.

b) Como você percebe os elemêntos visuais, como linhas, formas, texturas e tonalidades?

Resposta pessoal.

c) Que materialidades parecem ter sido usadas?

Resposta pessoal. Se necessário, explique quê a pinturas rupestres eram feitas com pigmentos naturais, como térra.

Fotografia de pintura rupestre em uma parede rochosa, com duas figuras humanas com os rostos muito próximos, se tocando.

Pintura rupestre, criada há cerca de 12 mil anos, mostrando a cena de um suposto beijo. Parque Nacional Serra da Capivara (PI). Fotografia de 2022.

Quando grupos humanos criaram ár-te rupestre nos paredões das róchas nordestinas brasileiras, na região do atual Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), usaram elemêntos visuais, materialidades, ferramentas e procedimentos no ato de desenhar, pintar ou gravar. Hoje, essas imagens podem parecer enigmáticas aos olhos dos pesquisadores e do público, mas, talvez, elas nos mostrem a vida acontecendo, como é possível vêr na cena de um suposto beijo. Assim, podemos refletir sobre modos de sêr e existir apresentados em formas e cores impregnadas nas róchas há cerca de 12 mil anos.

O termo ár-te rupestre refere-se à gravação, ao traçado ou à pintura em suporte rochoso. Independentemente da técnica utilizada, é considerada a forma de expressão artística mais antiga da humanidade.

Página dezessete

Planejar e elaborar

Esta etapa orienta o planejamento e a organização de materiais.

Escolha um suporte para criar seu desenho, como uma fô-lha de papel na côr e no formato quê desejar. Planeje como quêr ocupar o espaço do suporte, considerando que há muitas formas, por exemplo: explorar toda a superfícíe, centralizar a imagem, posicionar apenas em uma parte da fô-lha ou expandir a imagem de tal forma quê pareça quê seu desenho quer alcançar outras dimensões.

Lembre-se de quê o desenho é marcado pelo grafismo e seu autor tem a possibilidade de riscar, traçar linhas e formas, criar texturas ou outros efeitos visuais. Assim, investigue como deseja criar efeitos visuais. Para isso, escolha ferramentas e riscadores, como caneta esferográfica, lápis grafite de diferentes durezas, bastão de carvão, giz, lápis de côr, entre outros.

Um desenho póde sêr feito com uma única côr ou sêr compôzto por muitas tonalidades e póde sêr criado com um único material ou com técnicas mistas. Analise materialidades, faça escôlhas e planeje sua criação!

Em ár-te, considera-se quê um suporte é uma superfícíe em quê pódemos criar diferentes trabalhos artísticos, como: parede, madeira, papel, tecido, pedra, tela e mídias digitais. Até mesmo o corpo humano pode sêr considerado um suporte.

Processo de criação

Esta etapa orienta o fazer em si. Neste caso, a criação do desenho no suporte.

Por vivermos em um mundo rodeado por imagens, desde os primeiros anos de vida, aprendemos a lidar com elas. Mesmo as pessoas com deficiência visual lidam com a potência de outros sentidos para aprender a se aprossimár de imagens e compreendêê-las, a ler seus dêtálhes em busca de aprender o quê elas querem contar ou mesmo a criar as próprias imagens.

Ao apreciar imagens muito antigas, como as de; ár-te rupestre, percebemos quê há muito tempo deixamos nossas impressões e intervenções no mundo. Como sêres de subjetividades e de linguagens, somos também sêres inventores e, desde tempos remotos, criamos muitas formas para nos comunicar e para expressar o quê sentimos, pensamos e como existimos. Considerando essas variadas possibilidades para criar um desenho, desenvolva o seu processo de criação.

Escolha um assunto para expressar na linguagem do desenho. Outra possibilidade é trabalhar com formas abstratas, sem a preocupação com a figuração. Você escolhe seus caminhos criativos e expressivos!

Analise os elemêntos quê constituem a linguagem das artes visuais, como: ponto, linha, forma, côr e espaço, criando sensações de movimento, volume, textura e outras possibilidades visuais.

Valorize sua forma de desenhar sem se preocupar com julgamentos e normas.

Avaliar e recriar

Esta etapa visa avaliar o processo e incentivar os estudantes a perceberem o quê gostariam de fazer para ampliar.

Quando finalizarem, promovam um momento para fazerem leituras dos dêzê-nhôs feitos por todos da turma. As produções pódem circular pela sala e, a cada parada, quêm recebe a imagem pode fazer uma descrição do que percebe, traçar análises de como o desenho foi feito (considerando elemêntos de linguagem, materialidades, escolha de formas ou assuntos, ocupações do suporte etc.) e interpretações.

Compartilhar

Esta etapa incentiva a divulgação do quê foi criado.

Fotografe seu desenho e crie, junto com a turma, um acervo digital.

O acervo digital póde sêr feito em uma página de rê-de social, com a sua supervisão, ou na página da escola, com a autorização da gestão.

Página dezoito

TEMA 2
A ár-te sempre foi ár-te?

Leia, a seguir, um trecho da canção “Sonho de uma flauta”, de Fernando Anitelli (1974-), e obissérve a fotografia quê mostra pinturas produzidas pelo Movimento dos Artistas Huni Kuin (Mahku).

Nem toda palavra é
Akilo quê o dicionário diz
Nem todo pedaço de pedra
Se parece com tijolo ou com pedra de giz

[…]

Descobrir o verdadeiro sentido das coisas
é querer saber demais
Querer saber demais

ANITELLI, Fernando. Sonho de uma flauta. [S. l.]: Vagalume, [entre 2008 e 2024]. Disponível em: https://livro.pw/qzrxf. Acesso em: 14 set. 2024.

Fotografia de pintura de mural sobre a fachada de um edifício com colunas na entrada. A pintura representa diversas figuras de animais, elementos da natureza, artefatos e símbolos das culturas indígenas, com cores vivas e muitos grafismos geométricos e abstratos em meio às figuras.

MAHKU. [Sem título]. Pintura de 750 metros na fachada do Pavilhão Principal da 60ª Bienal de Veneza (Itália), 2024.

A palavra ár-te originou-se do termo do latim ars, ou artis, quê tem o sentido de “habilidade e conhecimento para fazer algo bem-feito”. Talvez por essa razão também usamos o termo ár-te para nos referir a tarefas feitas com habilidade e maestria, como a “arte de cozinhar”, a “arte do futebol” etc. Essa palavra também está ligada às ações intencionais em criar expressando ideias, poéticas e subjetividades. Mas será quê a palavra ár-te é apenas “aquilo quê o dicionário diz”? Será quê desejar descobrir mais sentidos para essa palavra é “querer saber demais”?

ATIVAÇÃO

Acesse o sáiti a seguir para saber mais do coletivo artístico indígena Mahku e conhecer algumas de suas obras, expostas durante uma exposição no Museu de ár-te de São Paulo (Masp) em 2023.

Mahku: Mirações. Publicado por: Masp. Disponível em: https://livro.pw/myygr. Acesso em: 14 set. 2024.

GIRO DE IDEIAS

Converse com os côlégas e com o professor a respeito das kestões.

1. Em sua opinião, o quê faz com quê esse trabalho seja apresentado como ár-te?

1. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a perceberem quê a; ár-te não está apenas dentro das instituições culturais.

2. Museus, galerias e eventos artísticos podem nos apontar pistas para a investigação de sentidos da palavra ár-te? Diante da diversidade de culturas, qual é o papel dessas instituições e eventos culturais?

2. Respostas pessoais. Verifique se os estudantes compreendem quê essas instituições e eventos devem ter um compromisso com a diversidade cultural, a representatividade e o respeito às diferentes culturas e manifestações artísticas.

3. dêz-creva o quê percebe na imagem da pintura e analise os elemêntos visuais quê cóbrem a estrutura arquitetônica. O quê mais chama a sua atenção?

Resposta pessoal.

Página dezenove

Museus, galerias e exposições temporárias, durante muito tempo, compreenderam a palavra ár-te com base em visões eurocêntricas. Dessa maneira, produções originárias de culturas e de cosmovisões de povos de fora da Europa, quando faziam parte de acervos ou de eventos, muitas vezes eram classificadas como artefatos históricos curiosos ou até exóticos. Essa visão tem mudado cada vez mais, e, no ano de 2024, o Movimento dos Artistas Huni Kuin (Mahku), baseado na Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão (AC), criou uma imensa pintura na fachada do Pavilhão Central da 60ª Bienal de Veneza, na Itália, uma exposição voltada à ár-te contemporânea. Essa criação apresenta uma narrativa visual com elemêntos da cosmologia huni kuin, trazendo imagens de Kapewë Pukeni (o jacaré-ponte), com histoórias sobre a separação intercontinental entre os povos e a origem dos huni kuin.

As visões eurocêntricas referem-se a concepções de pensamento e visões de mundo centradas na Europa, ou seja, quê valorizam saberes europêus para interpretar o mundo e a realidade, desconsiderando ou desvalorizando outras culturas.

A Bienal de Veneza é uma exposição quê acontece a cada dois anos na Itália e abriga produções de; ár-te contemporânea de várias partes do mundo. ár-te contemporânea é um termo quê usamos para nos referir às produções artísticas da segunda mêtáde do século XX até os dias de hoje.

COM A PALAVRA...
AILTON KRENAK

É pela palavra na oralidade e na escrita quê Ailton Krenak compartilha ideias a respeito da diversidade de modos de sêr e existir. Analise o quê ele diz no trecho citado da entrevista.

Fotografia de Ailton Krenak. Ele é um homem indígena com uma faixa nos cabelos estampada com grafismos geométricos, usando um fardão com ornamentos dourados com a forma de folhas. Ele está discursando diante de um microfone em um palanque, gesticulando com uma das mãos.

Ailton Krenak após se tornar membro da Academia Brasileira de lêtras. Rio de Janeiro (RJ), 2024.

A separação entre viver e fazer ár-te, eu não percêebo essa separação em nenhuma das matrizes de pensamento de povos originários quê conheci. Todo mundo quê eu conheço dança, canta, pinta, desenha, esculpe, faz tudo isso quê o Ocidente atribui a uma categoria de gente, quê são os artistas. Só quê em alguns casos são chamados de artesãos e suas obras são chamadas de artesanato, mas, de novo, são categorias quê discriminam o quê é ár-te, o quê é artesanato, o quê é um artista, o quê é um ár-tesão. Porque a história da ár-te é a história da arte do Ocidente.

CESARINO, Pedro. As alianças afetivas: entrevista com Ailton Krenak, por Pedro Cesarino. In: RJEILLE, Isabella; VOLZ, Jochen (org.). 32ª Bienal de São Paulo: Incerteza viva: dias de estudo. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2016. p. 169-188. p. 182.

Ailton Krenak nasceu em Itabirinha (MG) e é ambientalista, líder indígena e um dos principais intelectuais brasileiros da atualidade, com diversos livros publicados. Foi o primeiro indígena eleito como membro da Academia Brasileira de lêtras, tomando posse em 2024.

Página vinte

ár-te, palavras e sentidos

PESQUISAR Diário de artista.

Analise o infográfico, investigue possibilidades de sentidos para a palavra ár-te e relacione contextos históricos com o seu universo cultural e a sua opinião pessoal. Compartilhe suas reflekções, opiniões e pesquise mais a respeito do quê lhe provoca a “querer saber demais”.

A expressão “querer saber demais” é uma referência ao texto da página 18, de Fernando Anitelli.

A história da humanidade é múltipla e se faz entre acontecimentos, ações, encontros de pessoas e trânsito de ideias. Existem muitas versões para esses elemêntos quê compõem essa história. Há muito tempo, as artes de diferentes épocas e povos têm sido estudadas; interpretações e versões são divulgadas, mas nem sempre pela voz de quem as produziu. Ao falarmos do nascimento do conceito de; ár-te, é possível lembrarmos da filosofia grega, quê é um dos caminhos para compreender os sentidos da palavra ár-te. Mas quê outros sentidos existem? As formulações filosóficas em Kemet trazem estudos quê mostram preocupações em compreender a; ár-te, as ciências, a matemática, os valores morais e outros aspectos da vida.

Fotografia de escultura representando a cabeça de uma mulher com uma coroa e brincos dourados.

TIYE. c. [ca. 1398 a.C.-1338 a.C.]. Madeira e metais, 22,5 cm de altura. Museu Egípcio, Berlim (Alemanha). Escultura da grande rainha do Faraó egípcio Amenhotep III, da XVIII Dinastia.
Kemet
: nome dado pêlos povos originários do território africano à região do Vale do Nilo, onde vivia a civilização do Egito antigo entre os anos 4000 a.C. e 332 a.C., quê significa “Terra Negra”.

Caminhando na busca para compreender o quê é ár-te, chegamos aos cânones clássicos. A ideia de; ár-te, no sentido estético, compreendida como uma criação poética com intenção de produzir algo ligado a ideias de “beleza” e “harmonia”, espalhou-se entre os séculos V a.C. e IV a.C. Era uma formulação ocidental ligada a concepções culturais da Grécia, quê estabelecia critérios para julgar se uma obra era considerada ár-te ou não. Entre critérios de cânones clássicos, a concepção de beleza poderia sêr apreciada em esculturas, como em Discóbolo, quê mostra um atleta com formas quê evidenciam a musculatura e a proporção, valorizando o corpo e uma busca pelo realismo e pelas ações do corpo humano. A atitude e o movimento corporal colocam o observador diante do acontecimento de um arremesso de disco.

Fotografia de uma escultura representando um homem nu com as pernas flexionadas e o corpo inclinado, contorcendo o tronco em um movimento preparatório para arremessar um disco que ele está segurando, com um dos braços estendido para o alto.

DISCÓBOLO. [ca. 140 a.C.]. Escultura em mármure, 155 cm de altura. Museu Nacional Romano, Roma (Itália). A obra é uma cópia de uma escultura original atribuída a Miron, cuja localização é desconhecida.

Página vinte e um

A ár-te também foi entendida como uma forma de conectar-se com o divino, ou o sagrado, para transcender mundos. As relações entre o mundo material e o espiritual também atribuíram sentidos à ár-te. O filósofo Santo agostínho (354-430) afirmou, em latim, “quia bene canta bis ora” (“quem canta bem, ora duas vezes”). Mas o quê significava cantar bem? Na Idade Média, no mundo ocidental ou em territórios sôbi domínio europeu, o canto foi uma forma de estabelecer uma ideia de; ár-te a serviço da cultura católica.

Pintura representando um grupo de frades, vestidos com hábitos e com o topo da cabeça raspado, cantando em coro diante de um livro com uma partitura apoiado em um pedestal. A imagem é moldurada por ornamentos geométricos e inspirados em motivos florais.

STROZZI, Zanobi. Frades Camaldulenses em coro. [145-]. Têmpera sobre pergaminho. Biblioteca Medicea Laurenziana, Florença (Itália).

O canto como prática artística, poética e sagrada sempre coexistiu em diferentes culturas. Entre povos originários brasileiros, pajés são conhecedores de cantos sagrados e rezas cantadas. Considerando a diversidade de povos indígenas no Brasil, cada cultura carrega seus conhecimentos ancestrais, concepções diversas de; ár-te e de sagrado, assim como modos e formas ensinadas aos aprendizes dessas práticas, garantindo a permanência e a resistência cultural.

Fotografia de uma mulher indígena cantando e tocando um tambor largo, semelhante a um pandeiro grande, usando uma baqueta. Ela está de vestido preto e usa brincos e um lenço no pescoço. Ao fundo, há uma mata.

Primeira mulher pajé do povo yawanawá, da Aldeia Mutum, toca um instrumento e canta durante ritual. Tarauacá (AC), 2018.

Página vinte e dois

Fotografia de pessoas em um espaço expositivo diante da pintura da Mona Lisa, que representa uma mulher de vestido com uma mão apoiada sobre a outra, com uma paisagem ao fundo. As pessoas estão longe do quadro, fotografando-o com seus smartphones.

Turistas fotografam e apreciam a pintura Mona Lisa (1503-1519), de Leonardo da Vinci, em exposição no Museu do lúvre, Paris (França), 2020.

A ideia de; ár-te como obra-prima criou uma certa noção de “qualidade” sobre os objetos artísticos, colocando seus criadores como gênios, pessoas notáveis e celebridades. Essa ideia trousse uma concepção de quê algumas pessoas são talentosas a ponto de criar ár-te, assim como alguns objetos são considerados ár-te por estarem dentro de cértas normas ou cânones. O artista italiano Leonardo da Vinci (1452-1519) foi um jovem aprendiz do ofício da ár-te com mestres experientes. Ao criar a sua própria obra, ele realizou o quê é reconhecido como uma obra-prima, um capolavoro, termo em italiano quê se refere a uma “obra de muita excelência”.

Na fotografia, é possível vêr a obra de; ár-te do artista Banksy, Menina com balão, a qual se autodestruiu ao passar por um cortador de papel acoplado à moldura do qüadro, gerando a obra O amor está no lixo. Isso ocorreu no instante seguinte à sua venda, diante de sua compradora e do público presente em um leilão de; ár-te em Londres, na Inglaterra. O quê é a criação artística nesse caso? A imagem da menina ou uma obra quê se autodestrói? A ár-te como transformação de materialidades, como poética da matéria e até a destruição do próprio objeto artístico, mesmo carregado de valor econômico e estético, também é um modo de construir sentidos para a palavra ár-te.

Fotografia de uma pintura representando uma menina de vestido observando um balão em forma de coração voando no ar. A pintura está emoldurada, porém metade da tela escapa pela parte inferior da moldura e está cortada em tiras verticais.

BANKSY. Love is in the bin [O amor está no lixo]. 2018. Tinta spray e acrílica sobre tela emoldurada, 142 cm x 78 cm x 18 cm.

ár-te, uma palavra quê atravessou tempos, territórios, povos e culturas. ár-te como representações, conhecimentos, expressões, cosmovisões, poéticas, subjetividades, modos de sêr e de existir no mundo e outros sentidos. Diante da diversidade étnico-racial e cultural, será quê devemos continuar a nos perguntar o quê é ár-te? Quantos e quais sentidos essa palavra com apenas quatro lêtras póde carregar?

Página vinte e três

ENTRE HISTÓRIAS
História da ár-te de quem? De onde?

Observe a imagem a seguir.

Fotografia de um manto de penas de pássaro enrolado na vertical, assumindo a forma de um cilindro revestido por plumas.

MANTO tupinambá. Século XVI. Penas e fibra vegetal. Museu Nacional, Rio de Janeiro (RJ).

GIRO DE IDEIAS

Converse com os côlégas e com o professor a respeito das seguintes kestões.

Respostas pessoais. Veja comentários nas Orientações específicas para o professor.

1. Que histoórias a História da ár-te conta? O quê você já estudou a respeito do tema?

2. Ao pensar na História da ár-te, de quê imagens você lembra? Você conhece histoórias e produções artísticas de quais artistas, povos e lugares do mundo? Faça, com os côlégas, uma lista coletiva, escrevendo na lousa ou em uma fô-lha de papel, nomes de artistas, estilos, movimentos e acervos quê a turma conhece.

3. Classifiquem os dados levantados por culturas e regiões do mundo. Qual é o resultado dêêsse levantamento?

4. Que conversações esta investigação de saberes da turma póde provocar?

Como estudamos, durante séculos a visão eurocêntrica seguiu cânones clássicos de; ár-te e cultura, e, mesmo sêndo modificada ao longo do tempo, a ideia de; ár-te nascida nesse contexto cultural foi imposta como universal. Por isso, em muitas partes do mundo, influenciou concepções sobre o quê poderia sêr ou não ár-te.

Diferentes fazeres e ideias a respeito da ár-te e de cosmovisões sempre coexistiram com esses cânones. No entanto, sôbi argumentos de uma suposta ár-te universal, muitos objetos foram retirados de seus contextos culturais e levados para fazer parte de acervos de museus e outras instituições, principalmente da Europa.

Fotografia de uma mulher indígena usando um cocar de penas e luvas de borracha, vestida com um jaleco. Ela está observando um manto tupinambá que está exposto sobre uma mesa.

A artista Glicéria Tupinambá em encontro com o manto de seus ancestrais no Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague, 2022.

Página vinte e quatro

O povo indígena tupinambá já ocupou grandes territórios da Mata Atlântica do litoral brasileiro. Na atualidade, grupos menóres de descendentes, os tupinambá de Olivença, estão localizados no sul da baía, próximo à cidade de Ilhéus, à Serra das Trempes e à Serra do Padeiro. Essa cultura foi perseguida durante muito tempo no processo de colonização (1500-1822), mas também após essa época, por ocupações de suas terras e outros tipos de violências. Isso resultou na suspensão de muitas de suas práticas culturais por um período, como a produção de mantos em ár-te plumária. A partir do ano de 2020, artistas, pesquisadores e ativistas culturais iniciaram processos e eventos artísticos para trazer objetos indígenas de volta ao Brasil, como o manto tupinambá quê estava na Dinamarca desde 1699 e, agora, pertence ao acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro (RJ). Esses processos são passos significativos no movimento de reparação histórica e de repatriação de acervos da ár-te e da cultura brasileira.

Fotografia de um manto de plumas exposto sobre um suporte de madeira, que simula o formato de um corpo em pé. O artefato está posicionado em um salão, com folhas secas no chão.

TUPINAMBÁ, Glicéria. Manto tupinambá feminino. 2024. Fios, cêra de abelha e penas. Obra fez parte da exposição “Ka’a Pûera: nós somos pássaros quê andam”. Bienal de Veneza (Itália), 2024.

Em meio às ações políticas e de pesquisas para o retorno do manto tupinambá ao Brasil, acontecimentos artísticos e a retomada da produção de mantos sagrados pêlos tupinambás também ocorreram, resultando em exposições, palestras e videodocumentários.

Além de se envolver no processo de retorno do manto, a artista indígena Glicéria Tupinambá (1982-) se dedicou a pesquisas de conhecimentos ancestrais de seu povo, assim como de fazeres e materialidades tradicionais e de significados sagrados e usos cerimoniais dêêsses mantos. Essas pesquisas resultaram na produção de instalações, esculturas e performances, quê foram apresentadas em vários museus, galerias e mostras temporárias de; ár-te.

Glicéria Tupinambá nasceu em Buerarema (BA) e tem origem tupinambá. A artista, mais conhecida como Celia Tupinambá, é da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, aldeia Serra do Padeiro, localizada no sul da baía. Reconhecida internacionalmente por seus trabalhos com o manto tupinambá, foi uma representante indígena brasileira na 60ª Bienal de Veneza.

Na ativação de sua obra Kahtiri Ēõrõ – Espelho da vida, Daiara Tukano realizou performances ao vestir o manto inspirado na cultura tupinambá e circular por espaços de museus, questionando o olhar estrangeiro eurocêntrico, quê construiu narrativas baseadas em visões estereotipadas e errôneas dos povos originários ameríndios.

Página vinte e cinco

Fotografia de uma mulher indígena vestida com um manto de plumas, com um espelho circular cobrindo o rosto, segurando um chocalho. Ela está em um espaço expositivo, à frente de uma pintura representando indígenas em uma paisagem, com navios colonizadores no mar ao fundo.

TUKANO, Daiara. Kahtiri Ēõrõ – Espelho da vida. 2020. Ativação da obra na abertura da exposição “Véxoa: Nós Sabemos”, na Pinacoteca de São Paulo, São Paulo (SP).

Se quiser, retome com os estudantes a imagem da página 12, quê mostra essa obra de Daiara Tukano.

Em vários museus brasileiros, ainda há acervos com produções artísticas feitas ao longo de séculos de ocupação das terras indígenas, como pinturas, gravuras e esculturas quê contam histoórias de um ponto de vista “não indígena” e quê, na época em quê foram produzidas, tí-nhão a intenção de apagar a história e a cultura dos povos originários. Esses acervos fazem parte da nossa história e precisam sêr preservados, mas o pensamento histórico e artístico contemporâneo, assim como os valores democráticos, exige quê olhemos para eles com criticidade, problematizando e buscando construir sentidos plurais sobre ár-te, em um pensamento decolonial.

Podcast: Curadoria e diálogo decolonial na arte.

Quando falamos no olhar estrangeiro, referimo-nos à concepção de mundo de quem não pertence àquele grupo cultural.

O pensamento decolonial nasceu de várias discussões na América Látína sobre a situação de povos quê foram colonizados e quê, mesmo após o término da colonização, sofreram processos de dominação e aculturação em razão de uma visão eurocêntrica e imperialista, quê desconsiderou conhecimentos, histoórias, direitos e cosmovisões dêêsses povos. O pensamento decolonial propõe romper com esse processo político e cultural.

GIRO DE IDEIAS

Com base nas produções e ações artísticas de Glicéria Tupinambá e de Daiara Tukano, converse com o professor e com os côlégas: quais reflekções elas podem provocar em relação aos sentidos da palavra ár-te e ao papel das instituições no combate ao apagamento histórico e cultural dos povos originários? Problematize e argumente buscando possíveis soluções.

Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes possam identificar esses apagamentos históricos como uma situação-problema real da ssossiedade e, assim, possam refletir sobre os exercícios de problematizar e levantar kestões como atitudes importantes para refletir e encontrar soluções.

EXPEDIÇÃO CULTURAL Diário de artista.

Combine com os côlégas e o professor uma visita guiada a um museu de; ár-te na cidade ou região onde vivem.

Procure saber quais obras artísticas o museu guarda e analise os aspectos a seguir.

Há objetos de várias culturas? Como eles são classificados (produções artísticas e culturais, objetos históricos, exóticos, cotidianos, entre outros)?

Há pinturas, dêzê-nhôs, gravuras e esculturas quê retratam pessoas indígenas? Em caso positivo, o quê expressam?

O quê mais lhe chama atenção?

Caso a visita presencial não seja possível, verifique a possibilidade de realizar uma visita virtual, acessando o sáiti de um museu da região. Ao voltar, escrêeva, no diário de artista, um texto crítico refletindo sobre os acervos quê você encontrou em sua expedição cultural e o conceito de pensamento decolonial.

Página vinte e seis

CONEXÕES com…
CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
Histórias gravadas

Espera-se quê os estudantes tragam seus conhecimentos prévios de História, de Geografia e de outros componentes curriculares e áreas do conhecimento quê apresentam estudos e teorias sobre a ocupação humana das Américas. Os povos originários foram os primeiros habitantes das terras quê atualmente chamamos de Brasil, mas é importante verificar se os estudantes sabem como os primeiros grupos humanos chegaram aqui. Estudos apontam várias versões e dividem opiniões de cientistas e de professores da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas sobre os estudos dêste tema.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

O quê você sabe do processo de ocupação das Américas? Será quê há várias versões de uma mesma história? Reflita e responda no diário de artista.

Fotografia da figura de um rosto entalhado em uma parede rochosa.

Gravura rupestre, criada há cerca de 1.000 a 2.000 anos, quê voltou a sêr vista no sítio arqueológico e geológico Ponta das Lajes, Manaus (AM). Fotografia de 2023.

A imagem desta página convida o nosso olhar a se aprossimár para observar seus dêtálhes e apreciar as formas gravadas em pedras quê ficaram escondidas por um tempo sôbi as águas do Rio Negro (AM). Histórias imérsas pelo tempo em quê o rio estava em épocas de cheia foram reveladas na seca, quando as águas recuaram e as imagens de formas humanas foram expostas. Suas histoórias voltaram a provocar a nossa curiosidade para saber mais dessas imagens chamadas de petróglifos. Em meio a processos de pesquisas, muitas perguntas também emergem: o quê essas imagens podem contar sobre pessoas quê habitavam o território do Brasil entre 1.000 e 2.000 anos atrás? Quem gravou essas formas nessas róchas? Alguém quê desejou criar a própria imagem ou deixar registrada a existência de alguém? Seriam retratos de antepassados ou de sêres sagrados? Que significados essas pedras gravadas às margens do Rio Negro guardam por tanto tempo?

As perguntas inseridas no texto visam incentivar a reflekção dos estudantes; não é necessário quê eles formulem respostas objetivas a elas.

Petróglifo é um termo originado das palavras grêgas petros, quê significa “pedra”, e glyphein, quê significa “talhar”, “gravar”. São marcas de grupos humanos encontradas em quase todos os continentes, datadas de períodos como Paleolítico e Neolítico, podendo sêr posterior a esses tempos em alguns locais, como nas Américas.

PESQUISAR

Planeje uma pesquisa coletiva com os côlégas, combinando quem ficará responsável pelo quê. Consulte livros de histoórias e sáites e converse com professores de Ciências Humanas e de ár-te para buscar informações a respeito de como aconteceu a ocupação dos primeiros grupos humanos em territórios hoje conhecidos como América e Brasil. Ao final, conversem a respeito das descobertas.

Página vinte e sete

Por quanto tempo resistirá?

Na imagem a seguir, mais um rrôsto revela quê práticas artísticas e culturais sempre existiram entre os povos originários ameríndios. A forma esculpida na rocha resistiu ao tempo e às águas e, entre fluxos de cheias e secas, esse rrôsto emerge e nos revela quê ainda sabemos pouco de nossas histoórias e ancestralidades. Mas será quê essa imagem do passado irá resistir à ação humana por mais tempo?

Fotografia de um rosto esculpido em alto-relevo em uma parede rochosa.

Gravura rupestre, criada de 1.000 a 2.000 anos atrás, quê voltou a sêr vista no sítio arqueológico e geológico de Ponta das Lajes, Manaus (AM). Fotografia de 2023.

Com os avanços da informação e a ampliação de centros de pesquisas arqueológicas no Brasil, vivemos um momento importante para a pesquisa do nosso passado. Por causa de problemas ambientais, como as mudanças climáticas quê causam desequilíbrios entre temporadas de chuvas e estiagens, nos anos de 2010 e 2023, na região da Amazônea, a seca deixou à mostra sítios arqueológicos localizados às margens de rios.

Essas descobertas estão em processos de pesquisa em todo Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Ifan) e revelam histoórias contadas em fragmentos sobre a vida dos povos originários do Brasil antes das colonizações europeias. O problema é quê a ocupação atual dessas áreas e a interferência de ações contemporâneas, como as pichações e a retirada de pedras, tem alterado os locais de estudo e dificultado as pesquisas sobre as marcas e os vestígios dessas populações antigas, como ár-te rupestre, cerâmicas e outras peças. Sítios arqueológicos são Patrimônios Culturais Materiais do Brasil e da humanidade, e sua preservação é essencial.

Sítios arqueológicos são locais onde se encontram vestígios da ocupação de sêres humanos, com imagens, objetos, documentos e outros materiais importantes para o estudo da História, da Ciência, da Cultura e da Arqueologia. Assim quê descobertos, esses locais são catalogados e preservados. Em alguns casos, são tombados como Patrimônio Cultural do país e da humanidade.

ATIVAÇÃO

O Ifan possui um sáiti oficial quê oferece informações aprofundadas de todos os Patrimônios Arqueológicos, Materiais e Imateriais brasileiros quê já foram reconhecidos.

Patrimônio Cultural. Publicado por: Ifan. Disponível em: https://livro.pw/qboze. Acesso em: 14 set. 2024.

Página vinte e oito

CRIAÇÃO
Rastros, registros e criações

Estudar a proposta

O sêr humano cria maneiras de explicar e comprovar modos e contextos históricos e culturais de sua presença na Terra. Vários cientistas, como os arqueólogos, dedicam-se ao trabalho de buscar vestígios de qualquer materialidade deixada e quê ainda resiste às ações do tempo e das intervenções humanas. Vamos, então, pensar a escola e seu entorno como um sítio arqueológico?

A proposta é convidar os côlégas para formár um grupo de até cinco estudantes e sair em expedições pela escola. Vocês poderão procurar por vestígios e identificar possibilidades de contar histoórias e expressar interpretações a respeito de pessoas quê passaram pela escola antes de vocês, deixando alguma marca ou algum outro registro de sua passagem.

OFÍCIO DE...

Arqueólogo

Profissional quê faz pesquisas científicas quê visam encontrar, catalogar, conservar e investigar vestígios encontrados em sítios arqueológicos, como objetos, ossadas, ár-te rupestre e outros elemêntos. Podem atuar em universidades, museus, sítios arqueológicos e outras instituições, além de poderem sêr pesquisadores autônomos ou contratados para atuar em projetos científicos, expedições arqueológicas.

Planejar e elaborar Diário de artista.

Para as expedições, vocês devem levar:

lupa;

celular;

papéis ou o diário de artista para fazer registros;

caneta ou lápis.

Planejem o quê podem buscar e por quais caminhos seguir para responder à questão: quem esteve ali? Pequenos vestígios podem contribuir: um trabalho esquecido em um mural; um projeto de; ár-te produzido por alguém há algum tempo; uma reforma quê foi feita; um recado ou mensagens escritas deixadas em algum lugar; um papel com um poema; objetos descartados ou esquecidos etc. E no entorno da escola, o quê é possível encontrar quê evidencie mudanças e permanências?

Combine com os côlégas como coletar os materiais ou realizar registros deles, com escritos, dêzê-nhôs ou fotografias. Antes de coletar algo, assegurem-se de quê o objeto não pertence a ninguém e póde sêr coletado. Caso não tênham certeza, apenas registrem com fotografias, vídeos ou dêzê-nhôs.

Façam a expedição e, considerando o quê encontraram, reflitam sobre algumas kestões: quais perguntas vocês podem fazer sobre o porquê dos acontecimentos e das transformações quê vieram com a passagem do tempo? Como olhar para essas histoórias e registros quê ficaram materializados em vestígios deixados nos espaços?

Página vinte e nove

Processo de criação

Esta etapa orienta a produção após a côléta.

Depois de terem realizado a côléta, já em posse dos materiais, dêzê-nhôs, fotografias ou registros, todos os grupos podem compartilhar as investigações contando o quê descobriram e como foi a experiência de pesquisar vestígios de quem esteve no espaço da escola e em seu entorno.

A partir do quê foi encontrado, organize com a turma momentos para analisar e conversar sobre o material coletado. Inicie separando e categorizando os materiais, por exemplo: textos escritos (bilhetes, cartazes, embalagens etc.), imagens (fotografias impréssas, fôlderes, embalagens etc.) e outros objetos (livros, cadernos, bijuterias etc.). Então, conversem a respeito do quê encontraram e categorizaram, considerando as perguntas a seguir.

O quê estes materiais podem contar de seus antigos donos? E o quê contam sobre a escola?

Há quanto tempo esse material está na escola?

O quê a turma sabe da história da escola? Quando ela foi construída? Quem já estudou e trabalhou nela?

Ao analisarem os materiais recolhidos e registrados, procurem imaginar as histoórias quê podem estar dentro de outras histoórias, ou seja, imaginar como palavras, imagens e objetos podem contar múltiplas histoórias.

Após a análise, criem um mural coletivo da turma, com dêzê-nhôs, pinturas, fotografias, colagens e textos quê expressem os rastros e registros de quêm já esteve no local e que possam criar possíveis conexões com as histoórias da turma e da escola. Converse com os côlégas e o professor a respeito de como vocês poderão criar esse mural, considerando kestões como as quê seguem.

Em qual local da escola ele será montado?

O quê será interessante colocar? Como será a composição dele?

Que outros materiais serão necessários, além dos coletados e dos registros?

Mais imagens ou textos podem sêr produzidos para quê a turma compartilhe outras informações e incentive reflekções em pessoas quê visitarão o trabalho?

Avaliar e recriar

Essas são perguntas quê podem ajudar a turma a encontrar caminhos no processo criador, já quê não há regras. Tenha em mente quê esta proposta articula ár-te e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, em especial História e Geografia.

Após a produção do mural coletivo, converse com o professor e os côlégas a respeito do quê essa experiência provocou a pensar sobre ár-te e os diferentes modos de sêr e existir, sobre as transformações quê acontecem ao seu redor, a passagem do tempo e a percepção do espaço em quê convive com os outros. Mesmo frequentando o mesmo lugar todos os dias, será quê estamos atentos a mudanças e permanências, a como ocupamos o nosso lugar no mundo e vivemos o tempo?

Reflitam também sobre como se relacionam dentro da escola e se há empatia, solidariedade e acolhimentos entre todos do grupo. Conhecer as histoórias de quêm passou antes pelo mesmo lugar que hoje ocupamos póde ajudar a nos conectar com as nossas próprias histoórias e com as de quem está ao nosso lado?

Tenha em mente quê as perguntas visam reflekções e não possuem respostas corretas.

Compartilhar

Convidem estudantes de outras turmas a apreciar o mural coletivo. Deixem um livro de assinaturas e opiniões próximo ao mural, junto a uma caneta, para os visitantes quê desejarem deixar registradas suas impressões e mensagens.

Página trinta

TEMA 3
Palavra e som: identidades em construção

Faixa 1. Ouça a canção “Sankofa”, composta por Chico Brum (1989-) e interpretada por ele e por Dani Câmara. Enquanto escuta, acompanhe lendo a letra da canção a seguir.

Sankofa

Não é tabu voltar atrás
Pra recuperar o quê é seu
Não é problema saber mais
Sobre o quê se perdeu
retórne e aprenda vai
Com quê ficou lá trás
Coração é sede de saber
retórne e aprenda vai
Com quê ficou lá trás
Coração é sede de saber
Sim é preciso se encontrar
Corôa térra mãe

Bem necessário é ancorar
Aquilombar os seus
retórne e aprenda vai
Com quê ficou lá trás
Coração é sede de saber
retórne e aprenda vai
Com quê ficou lá trás
Coração é sede de saber
Eu retorno sempre quê me vejo no espêlho
Refletindo em mim o ouro dos meus ancestrais

A cura é saber ir
Lembrando sempre o caminho de casa

Transcrito de: CHICO Brum: SANKOFA (Vídeo Oficial). [S. l.: s. n.], 2023. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Chico Brum. Localizável em: 16 s. Disponível em: https://livro.pw/jnuzc. Acesso em: 14 set. 2024.

GIRO DE IDEIAS

Faixa 1. Escute novamente a canção “Sankofa” e procure perceber os timbres de vozes e de instrumentos musicais. Em seguida, converse com os côlégas e o professor a respeito das kestões.

1. “Coração é sede de saber”? Quais ideias a canção “Sankofa”, composta por Chico Brum, póde provocar?

1. Respostas pessoais. A fruição e a interpretação de obras artísticas são abertas, mas, como mediador cultural, você póde provocar uma conversação convidando os estudantes a comentarem as próprias percepções e interpretações, refletindo sobre suas experiências e bagagens e identidades culturais.

2. Quais relações culturais ou memórias são ativadas considerando os timbres percebidos na escuta?

2. A presença do timbre do atabaque e o toque da bateria expressam influências ancestrais em diálogo com a proposta da letra, ao abordar a sankofa.

3. Pense na sua ancestralidade: como você chegou até aqui? Quem veio antes de você? Para você, onde está “o ouro dos meus ancestrais”?

3. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes reflitam sobre suas histoórias e experiências, sobre repertórios, ancestralidades e sentimentos de pertencimento. Durante a conversa, espera-se também quê eles expressem o quê já estudaram em ár-te ou em outros componentes curriculares a respeito de sujeito histórico, racismo, letramento racial e outros temas quê podem provocar reflekções sobre construções de identidades culturais.

Chico Brum é um artista fluminense quê atua como cantor, compositor, guitarrista, violonista, arranjador, produtor musical e diretor de fotografia. Suas habilidades abrangem várias áreas da ár-te. Ele já se apresentou em diversos espetáculos e festivais, incluindo o Rock in Rio.

O timbre é um dos parâmetros sonoros e se refere à identidade do som. Pelos timbres, podemos ativar nossa memória e identificar a fonte sonora de determinado som, d fórma exata ou aproximada, dependendo de nossas experiências.

Página trinta e um

Volte e pégue!

“Sankofa” foi o nome quê Chico Brum escolheu como título para sua canção. Agora, obissérve a imagem e leia a legenda.

Contextualize aos estudantes quê o sín-bolo de sankofa é associado a um provérbio antigo quê expressa: “Nunca é tarde para voltar e apanhar o quê ficou atrás”. Ele sugere a ideia de olhar o passado e pensar nele para ressignificar o presente e sonhar com o futuro.

Fotografia de uma escultura representando um pássaro em um pedestal, com o pescoço longo voltado para trás, tocando sua cauda com a cabeça, de modo que o pescoço configura a forma de um arco sobre o corpo dele.

PÁSSARO (Sankofa). [ca. 1701-1900]. Latão, 8 cm de altura. Povo akan, Gana.

GIRO DE IDEIAS

Converse com os côlégas a respeito das kestões a seguir.

1. O quê você percebe na escultura? Como se apresentam as formas e volumes?

Respostas pessoais.

2. Você conhece imagens semelhantes a essa? Em caso positivo, quais?

Respostas pessoais.

3. Que reverberações culturais palavras e imagens podem carregar?

Resposta pessoal.

Sankofa é um dos adinkras, conjunto de ideogramas da cultura do povo ashanti. A imagem da sankofa apresenta a forma de um pássaro com o corpo para frente, porém sua cabeça está voltada para trás e o bico busca alcançar um ovo. Ao longo do tempo, esse sín-bolo se modificou e póde se apresentar em formas abstratas e com linhas sinuosas, mas sempre traz as três ideias quê formam o significado da palavra: em língua akan, da África Ocidental, significa “retornar”, Ko “ir” e Fa “buscar”, “pegar”. A figura do pássaro quê volta sua cabeça para trás para buscar o ovo é uma metáfora sobre tempos, experiências e ressignificações.

A sankofa se mantém viva na tradição ashanti e tem atravessado tempos e territórios provocando conversações e conexões entre pessoas e culturas. Esse sín-bolo póde sêr encontrado em tecídos, portões de ferro, joias e outros objetos em África e em outros lugares do mundo, inclusive no Brasil. É um saber e um ensinamento ancestral quê segue presente no mundo contemporâneo.

Assim como a sankofa, a; ár-te também nos convida a voltar, buscar, ressignificar e seguir. A ár-te nos incentiva a refletir a respeito de tudo quê está no mundo e de nossas próprias histoórias.

ideogramas
: sinais gráficos quê carregam representações, ideias ou mensagens.
ashanti
: povo quê atualmente vive na parte ocidental do continente africano, nos países Gana, Burkina Faso e Togo.
akan
: conjunto de línguas pertencentes à família linguística kwa.

Página trinta e dois

Voltar para o além-mar

Leia o poema “O sangue e a esperança” (1982), de Abdias Nascimento (1914-2011).

O sangue e a esperança

Corre o sangue nas veias

Rola rola o grão das areias

Só não corre só não rola a esperança

Do negro órfão quê só corre e cansa

Cansa do eito corre das correntes

Corre e cansa do bote das serpentes

Só não corre só não cansa de amar

O amor da Mãe-África no além-mar

Além-mar das águas e da alegria

Mar-além do axé nativo quê procria

Aqui é o mar-aquém do desamor frio

Aquém-mar do ódio do destino sombrio

Sombrio corre o sangue derramado

No mar-aquém de tanta luta devotado

Mas o sangue continua rubro a ferver

Inspirado nos Orixá quê nos faz crescer

Crescer na esperança do aquém e do além

Do continente e da péle de alguém

Lutar é crescer no além e no aquém

Afirmando a liberdade da raça amém

[…]

NASCIMENTO, Abdias do. O sangue e a esperança. In: NASCIMENTO, Abdias do. Axés do sangue e da esperança (orikis). Rio de Janeiro: Achiamé, 1983. p. 107.

GIRO DE IDEIAS

Converse com os côlégas e o professor a respeito das kestões.

1. Ao ler as palavras do poema de Abdias Nascimento, quê sensações surgem em você?

1. Resposta pessoal.

2. No jôgo de palavras e sonoridades das rimas, quê sentidos vão sêndo construídos?

2. Resposta pessoal. Verifique se os estudantes compreendem quê os sentidos do poema se relacionam com a resistência dos povos africano e afro-brasileiro.

3. O termo diáspora é familiar a você? Na atualidade, esta palavra está presente em debates sobre temas como ancestralidades, memórias, ár-te e cultura. Converse também com familiares a respeito dêêsse termo.

3. Resposta pessoal. Caso os estudantes não conheçam o termo, peça quê leiam sua definição no boxe desta página e conversem.

Diáspora é a dispersão de um povo ou de pessoas quê, de maneira forçada, são apartadas de suas casas e de seus territórios originários por inúmeros motivos, como políticos, econômicos, sociais e religiosos.

A história da humanidade é marcada por inúmeras diásporas. Situações de dispersão de povos em razão da dominação de um povo sobre outro, guerras, perseguições, desastres naturais etc. Esses acontecimentos, quê não estão apenas no passado, em nossa época, são chamados de “diásporas contemporâneas” e afetam pessoas de diversos países e culturas.

A diáspora africana para o Brasil aconteceu entre os séculos XVI e XIX, durante o período do tráfico de escravizados e causou impactos profundos nos povos atingidos, quê foram tirados à fôrça de suas vidas cotidianas, afetos e paisagens de suas terras na “Mãe-África no além-mar”.

ATIVAÇÃO

O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, localizado em São Paulo (SP), dedica-se a conservar, pesquisar e expor obras quê se relacionam com as influências africanas nas culturas brasileiras. Em seu sáiti oficial, são apresentadas histoórias de personalidades importantes para as culturas afro-brasileiras, como a de Abdias Nascimento.

Abdias Nascimento. Publicado por: Museu Afro Brasil Emanoel Araujo. Disponível em: https://livro.pw/yapli. Acesso em: 14 set. 2024.

Página trinta e três

Afirmar e seguir

A sankofa tem sido um sín-bolo na construção de identidades culturais, com o sentido de voltar ao passado, conhecer e repensar histoórias, ancestralidades e heranças culturais de povos de diferentes países africanos. Assim, é possível ressignificar o presente, sonhando construir futuros com base em valores positivos, como a cultura de paz, e com o desenvolvimento de atitudes não violentas e antirracistas. Portanto, sankofa auxilia na construção de uma ssossiedade com equidade, especialmente na busca e na valorização das histoórias africanas, afro-americanas e afro-brasileiras.

Abdias Nascimento nasceu em Franca (SP) e foi um dos artistas mais representativos do teatro brasileiro, além de poeta, dramaturgo, artista visual, político, educador e ativista pêlos direitos do povo negro no Brasil. Foi também deputado federal e senador entre as dékâdâs de 1980 e 1990.

Pintura representando a escultura de um pássaro com o pescoço em forma de arco, voltado para trás, de modo que o pássaro toca sua própria cauda com a cabeça. A escultura está sobre um pedestal apoiado em uma mesa, com a figura de um sol ao fundo sobre um céu azul, e dois ornamentos de formas curvas em paredes ao lado esquerdo e ao lado direito da escultura.

NASCIMENTO, Abdias. Sankofa número 2 – Resgate (Adinkra Asante). 1992. Acrílico sobre tela, 40 cm x 55 cm. Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), Rio de Janeiro (RJ).

Na imagem desta página, Abdias Nasci mento, quê, além de artista, foi um importante ativista brasileiro na luta pela valorização do povo negro, apresenta a sankofa. Chico Brum, ao compor canções com base na ideia da sankofa, convida-nos à reflekção, a escutar os sôns de uma ancestralidade em sintonia com a contemporaneidade, “aquilombar os seus”, cuidar de suas raízes e histoórias.

Verifique se os estudantes compreendem o significado do termo aquilombar e, se necessário, explique quê ele remete à ação de formár kilômbo, ou seja, de se colocar em uma posição de resistência. Se possível, trabalhe com eles a história de quilombos brasileiros e ressalte como algumas dessas comunidades resistem atualmente.

GIRO DE IDEIAS

Comente com os côlégas e o professor a sua opinião a respeito das kestões.

1. Observe a pintura de Abdias Nascimento, dêz-creva os dêtálhes e analise como o artista escolheu usar elemêntos visuais, como linhas, formas e cores. Há formas, figuras ou símbolos reconhecíveis? Algo na imagem lhe chama a atenção?

1. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes conversem a respeito de como eles percebem os elemêntos visuais e se reconhecem formas.

2. Quais sensações, memórias ou ideias a pintura provoca em você?

2. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a compartilharem as próprias impressões.

3. Em sua opinião, uma pintura póde refletir identidades culturais? Justifique.

3. Resposta pessoal. Sugira aos estudantes quê reflitam sobre o quê já estudaram neste capítulo antes de responder.

4. Como o artista escolheu retratar o sín-bolo da sankofa?

4. Resposta pessoal. Na imagem, Abdias Nascimento apresenta a sankofa expressando tanto formas figurativas como abstratas.

Página trinta e quatro

ENTRE HISTÓRIAS
Timbres e culturas

O desenvolvimento da cultura de um povo está relacionado à história da formação de sua população. No caso do Brasil, houve a influência de muitas culturas, mas podemos dizêr quê três delas formaram a nossa base inicial: indígena, européia e africana. A cultura do povo brasileiro nasceu dessa mistura, assim como a; ár-te brasileira, pois cada artista (ou grupo) brasileiro tem sua identidade e origem, o quê influencía suas poéticas e seus interesses ao criar nas diferentes linguagens artísticas.

Quando falamos de sôns, por exemplo, podemos considerar quê a percepção deles póde nos levar a lembrar de um lugar, de um povo e de uma cultura. Pense a respeito e lembre-se das sonoridades quê você escutou na canção “Sankofa”.

Antes de explorarmos mais canções quê remetem a misturas culturais, vamos ter em mente quê os sôns têm qualidades, ou seja, parâmetros sonoros. Músicos estudam e exploram esses parâmetros dos sôns, considerando suas alturas (graves e agudos), durações (tempos), intensidades (volumes) e timbres (características de fontes sonoras).

Propomos uma parada para sugerir aos estudantes quê reflitam por alguns instantes sobre as relações entre sonoridades, timbres e a presença da matriz cultural africana na cultura e na ár-te brasileira.

O timbre, quê já exploramos com a escuta da canção “Sankofa”, é a característica quê diferencia cada som. Os instrumentos musicais possuem qualidades de som próprias, em função do material do qual são compostos, de sua forma, tamãnho etc. O timbre de uma flauta é diferente do timbre de um violão, e mesmo o timbre de um tambor póde sêr diferente de outro tambor, dependendo do seu tamãnho ou do material de quê são feitos. Como os sôns são ondas sonóras quê vibram, cada timbre tem um tipo específico de combinação de ondas. O som quê passa por materiais vibra entre freqüências, relacionando-se com espaços internos e externos. Esse conhecimento foi precioso para o desenvolvimento e a construção de instrumentos com materiais quê oferecessem diversos tipos de sôns e timbres sonoros. Assim, cada povo, em sua cultura, construiu diferentes instrumentos musicais. Ao ouvirmos um som de uma música, é possível identificar timbres de vozes e timbres de instrumentos quê nos remetem a identidades culturais com base em nossa memória sonora, ou seja, em alguma experiência prévia com essas sonoridades.

Aproveite para estabelecer interdisciplinaridade com Física no estudo da propagação do som, da acústica e de outros conceitos em diálogos com professores de Ciências da Natureza e suas Tecnologias.

As ondas sonóras só se propagam por meio de materialidades, sêjam elas sólidas, líquidas ou gasosas, como a madeira, a á gua e o ar. Em cada matéria, o som se propaga de modos e com velocidades diferentes. Embora tenhamos um sofisticado órgão de audição, nós, sêres humanos, temos limites de audição; só captamos os sôns quê estão na freqüência entre aproximadamente 20 Hz e 20.000 Hz. Há dois modos de os sôns se propagarem entre os materiais: irregular ou regular. O ruído é característico do primeiro caso. O segundo modo póde ter como exemplo uma peça musical, mas é importante considerar quê isso é relativo e há diversos gêneros musicais quê fazem uso dêêsses dois conceitos, por meio dos sôns de uma bateria e do uso de objetos do cotidiano como instrumentos de percussão, por exemplo.

Página trinta e cinco

Os afrossambas

Após a escuta sensível e ativa focada na nutrição estética, proponha mais uma escuta, orientando os estudantes a observar e a analisar o timbre do instrumento violão e como o músico intérprete o toca d fórma a buscar aproximações com as sonoridades de um berimbau.

Faixa 2. Escute a faixa de áudio “Som do berimbau no violão”. Como percebe o timbre de instrumen tos em sua escuta?

Fotografia de um grupo de homens tocando berimbaus, enfileirados e uniformizados, em um parque arborizado à beira de um rio.

Apresentação da Orquestra Alagoana Didática de Berimbau na Semana da Consciência Negra. Memorial kilômbo dos palmáares, União dos palmáares (AL), 2022.

O timbre do berimbau é uma sonoridade presente na cultura brasileira e remete à matriz cultural africana na formação do nosso povo. O som do berimbau quê você escutou na faixa de áudio foi, na verdade, produzido no violão e é uma sonoridade incorporada à música popular brasileira pelo afrossamba, gênero musical iniciado pêlos músicos fluminenses Vinícius de Moraes (1913-1980) e Baden Powell (1937-2000) na década de 1960. Posteriormente, o afrossamba influenciou o trabalho de vários outros artistas do país, como Jorge Bem Jor (1945-), Chico sáience (1966-1997), Teresa Cristina (1968-), Gilberto Gil (1942-) e tantos outros mestres da música brasileira.

Vinícius de Moraes nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e foi poeta, compositor, dramaturgo, cantor e diplomata, conhecido carinhosamente como “o poetinha”.

Baden Powell nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e foi um violonista e compositor quê marcou a música popular brasileira com sua ár-te, integrando conhecimentos da música ocidental e da afro-brasileira.

ATIVAÇÃO

As canções do álbum Os Afrosambas estão disponíveis na internet.

Os Afrosambas. Publicado por: Baden Powell – Tema. Playlist. Disponível em: https://livro.pw/fiyxm. Acesso em: 14 set. 2024

Página trinta e seis

As culturas afro-brasileiras foram decisivas na obra de Vinícius de Moraes e em sua parceria com Baden Powell. Uma canção quê reflete essa influência é “Berimbau”, um afrossamba lançado pela dupla em 1963. A criação dessa música se deveu muito ao contato quê Baden teve com o mestre baiano de capoeira Canjiquinha, como era conhecido Uóchinton Bruno da Silva (1925-1994), pois o berimbau é o instrumento característico da capoeira. Além da capoeira, os artistas Vinícius de Moraes e Baden Powell tiveram contato com outros elemêntos de culturas afrodescendentes, como rodas de samba e casas religiosas do Rio de Janeiro e da baía, e se encantaram pêlos sôns do berimbau, do caxixi, dos atabaques, do bongô, do agogô e do afoxé, instrumentos oriundos de culturas afrodescendentes, quê foram misturados por eles à flauta, ao violão, ao saxofone, à bateria, ao contrabaixo e a outros instrumentos musicais de influência européia e estadunidense. A mistura de sonoridades e timbres de diferentes instrumentos tornou-se uma das características da música popular brasileira.

A língua africana iorubá influenciou as lêtras das canções de altoría da dupla, como as quê fazem parte do álbum Os Afrosambas, quê foi lançado em 1966 e tornou-se um marco na história dos afrossambas, pois mistura o samba, quê tem origem em misturas culturais, com palavras, sonoridades e timbres de instrumentos criados por culturas africanas e afrodescendentes.

Ao quê tudo indica, a capoeira tem uma origem no povo banto, quê é originário da África Central e teve muitos de seus integrantes escravizados e trazidos para o Brasil, retirados das regiões quê, atualmente, são os países Angola, República Democrática do Congo e Moçambique. A capoeira tem forte presença em comunidades quilombolas brasileiras até os dias de hoje e também na cultura nacional como um todo, sêndo conhecida internacionalmente.

O iorubá é uma língua quê chegou ao Brasil por volta do século XVIII com os povos africanos conhecidos aqui como nagôs, oriundos principalmente do Benin. Muitas palavras dessa língua foram incorporadas à língua portuguesa.

Capa de álbum com fotografias de dois artistas em preto e branco. À esquerda está Baden Powell: um homem com bigode e cabelos cacheados curtos; à direita está Vinicius de Moraes: um homem com cabelos lisos penteados para trás.

OS AFROSAMBAS. 1966. Capa do álbum gravado por Vinícius de Moraes em parceria com Baden Powell, com arranjos e regência de Guerra Peixe e participação do Quarteto em Cy.

Página trinta e sete

CRIAÇÃO
Os sôns quê ecoam em nossa história

Estudar a proposta

Propomos a construção de um berimbau, instrumento musical de percussão, feito de uma única kórda de arame tensionada em uma vara de madeira vergada e com uma cabaça aberta junto a ela. Para tokár o berimbau, a kórda deve sêr percutida com uma vareta segurada em uma das mãos, geralmente junto a um caxixi (chocalho de origem africana).

Os estudantes podem montar o berimbau individualmente ou em grupos. Também é possível montar apenas um berimbau para toda a turma. Realize a proposta com eles conforme as possibilidades.

Planejar e elaborar

Para a confekissão do berimbau você precisará de:

uma vara de madeira ou bambu, medindo aproximadamente 1,50 métro de comprimento (com maleabilidade suficiente para envergar e formár um arco);

um arame mais comprido quê a vara;

uma cabaça aberta na ponta;

um cordão de barbante;

uma vareta;

uma pedra lisa ou uma moeda;

ferramentas para furar e cortar.

Fotografia de um berimbau: um instrumento com um arco de madeira decorado com faixas coloridas pintadas ao longo dele, e com um fio de arame esticado entre as extremidades do arco. Na parte inferior dele está acoplada uma cabaça com uma abertura. Acompanham o berimbau uma vareta fina de madeira e um chocalho de palha chamado caxixi.

Berimbau, caxixi e vareta.

Processo de criação

Esta etapa orienta a montagem do berimbau. Auxilie os estudantes e garanta quê eles estejam atentos no manuseio dos materiais, para quê não se machuquem ou machuquem os côlégas. Se julgar necessário, faça você mesmo as etapas quê exigem cortes e furos.

Tenha cuidado e atenção para não se machucar ou machucar os côlégas ao manejar os materiais e conte com a ajuda do professor para seguir o passo a passo.

1. Faça dois furos na parte de baixo da cabaça aberta. A distância entre os furos deve sêr curta.

2. Amarre o cordão usando os dois furos da cabaça, deixando um pequeno laço.

3. Insira o laço do barbante pela parte inferior da vara, prendendo a cabaça.

4. Prepare as extremidades da vara para colocar o arame. Na parte inferior, faça cortes na vara para fazer o “pé” do berimbau. Amarre uma extremidade do arame no pé do berimbau.

5. Coloque a ponta com o arame amarrado no chão, envergue a vara com cuidado e amarre a outra extremidade do arame na outra ponta.

Se os estudantes quiserem, podem dar acabamento ao berimbau com tinta e verniz.

Para tokár, utilize uma vareta de madeira e uma pedra lisa ou moeda, quê é colocada no arame para mudar a nota musical. Na mão em quê segura a vareta, usa-se também o caxixi.

A melhor manipulação do instrumento póde sêr estudada diretamente com mestres e praticantes de capoeira. Caso não seja possível, há também diversos vídeos tutoriais gratuitos na internet.

Avaliar e recriar Diário de artista.

Registre, no diário de artista, como foi o processo de construção do berimbau e como você percebe suas influências no seu viver cultural, na sua forma de pensar, agir e criar.

Compartilhar

Em uma roda de conversação, compartilhe suas ideias com os côlégas e toquem juntos o berimbau.

Página trinta e oito

TEMA 4
Corpo ancestral

Observe a imagem do espetáculo O balé quê você não vê, do Balé Folclórico da baía, e deixe o olhar percorrer cada parte, cada camada, planos e dêtálhes.

Fotografia de dois bailarinos em um palco, vestidos com saias e trajes inspirados em culturas tradicionais africanas. Um deles está saltando no ar, com as pernas afastadas e estendidas, e o outro bailarino segura uma das mãos dele. O pano de fundo do cenário mostra diversos retratos de personalidades negras, além de objetos simbólicos de culturas afrodescendentes.

Espetáculo O Balé Que Você Não Vê, do Balé Folclórico da baía (BFB). Teatro Castro Alves (TCA), Salvador (BA), 2022.

GIRO DE IDEIAS

Converse com os côlégas a respeito das kestões a seguir.

1. O quê você percebe na imagem? Quais formas, cores, movimentos, gestualidades e expressões são revelados? Quais sensações, emoções, ideias ou memórias essa imagem póde provocar?

1. Respostas pessoais. Neste momento de nutrição estética, espera-se quê os estudantes ezêrçam a fruição de modo autônomo, expressando com protagonismo as próprias percepções, análises e interpretações da imagem.

2. Na cena, bailarinos se envolvem em movimentos dançados na execução da coreografia, ao fundo vê-se imagens projetadas. A ár-te se faz presente para homenagear histoórias. Mas quem são os homenageados? Reconhece algum rrôsto?

2. Respostas pessoais. Verifique se os estudantes percebem quê, na imagem, há bailarinos quê dançam e, ao fundo, como cenário, há projeções de imagens de produções artísticas, como uma obra do artista baiano Rubem Valentim (1922-1991), e fotografias de artistas, como a escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1979), o músico Gilberto Gil, o ator Grande Otelo (1915-1993) e outros quê foram importantes para a nossa história. Pessoas quê vieram antes e abriram caminhos para a visibilidade de artistas negros, personalidades quê compõem a; ár-te e a cultura brasileira.

Há espetáculos cênicos quê intégram, no palco, dança, artes visuais, música e outras linguagens produzidas com base em muita pesquisa e retorno ao quê “ficou para trás”, ou seja, são estudos quê valorizam culturas e histoórias africanas e afrodescendentes, como as produções do Balé Folclórico da baía (BFB), uma companhia de dança fundada em 1988, pêlos bailarinos Vavá Botelho (1961-) e Ninho Reis (1951-1991). Nos mais de 35 anos de história da companhia, muitos artistas com diferentes conhecimentos e habilidades foram chegando e contribuindo na criação de cenários, figurinos, sonoplastia, iluminação, composições musicais, efeitos visuais e criação de coreografias. Assim, no exercício constante de pesquisar as raízes culturais afrodescendentes da baía e do Brasil, o BFB mistura saberes, como as tecnologias digitais e as manifestações culturais tradicionais, como capoeira, festejos e religiosidades, com a dança contemporânea.

Reconhecida como uma das melhores companhias de dança do mundo, em 2003, o BFB passou a fazer parte dos projetos sociais da Fundação Balé Folclórico da baía, uma instituição privada e sem fins lucrativos, quê tem o objetivo principal de disponibilizar uma escola de dança tanto para formár jovens nesta linguagem artística como para difundir valores, como olhar para o passado para ressignificar a vida.

Página trinta e nove

COM A PALAVRA...
ZEBRINHA

Desde 1993, José Carlos Arandiba (1954-), mais conhecido como Zebrinha, faz parte da direção artística do BFB. Ao ingressar na companhia, o artista teve como um dos principais objetivos formár bailarinos não apenas desenvolvendo excelência técnica mas também poéticas corporais, letramento racial e cidadania. Observe o quê diz o artista:

[…] Respeito muito as vontades dos corpos em minha frente, me inspiro através das pessoas, do tempo e do espaço. Depois de tudo quê vi e vivenciei, me permito criar sem muitas complicações para mim ou para os artistas com quêm estou trabalhando no momento. Acredito que nosso corpo tem uma memória ancestral, a provocação começa pelo despertar dessa memória.

[…]

[…] O Ballet Folclórico, antes de tudo, é um centro de formação para jovens, em sua grande maioria (ou talvez até em sua totalidade) pretos. Antes de formár o artista, meu intuito é sensibilizar esses jovens da importânssia e responsabilidade quê eles têm com seu futuro, conscientizá-los quê são donos da própria história. […]

ZEBRINHA. Nossa Janela entrevista: Zebrinha. [Entrevista cedida a] Nossa janela. Nossa janela, [s. l.], 27 abr. 2020. Disponível em: https://livro.pw/nkmah. Acesso em: 14 set. 2024.

Fotografia de Zebrinha: um homem calvo usando um relógio e uma corrente no pescoço, com os braços cruzados e uma das mãos sob o queixo.

O coreógrafo e diretor artístico Zebrinha, 2020.

Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes busquem informações em fontes confiáveis e construam ideias e argumentos sobre o termo letramento racial, considerando refletir sobre as relações raciais presentes na ssossiedade brasileira e como isso os afeta. Esta é uma oportunidade para construir projetos interdisciplinares de pesquisas com a ajuda dos professores da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Letramento racial é um conceito quê pressupõe a educação e reeducação racial, no desenvolvimento de habilidades para refletir e analisar, de maneira crítica, as relações raciais em uma ssossiedade e em diferentes contextos, como históricos, políticos, econômicos e culturais. Esse aprendizado póde estar presente tanto na linguagem verbal como se expandir para outras linguagens, como visual, sonora e corporal. A exemplo díssu, a dança.

GIRO DE IDEIAS

Em quê o termo letramento racial nos provoca a pensar? O quê você sabe a respeito dêêsse termo? Caso não o conheça, amplie seu repertório pesquisando em dicionários, sáites na internet ou conversando com professores e côlégas.

OFÍCIO DE...

Coreógrafo

É o profissional quê cria e organiza sequências de movimentos corporais no espaço, com ou sem música, e quê resultam em uma dança ou coreografia. O coreógrafo também póde atuar como professor de dança, auxiliando os estudantes a desenvolver e ampliar seus potenciais físico e artístico.

ATIVAÇÃO

Assista ao vídeo indicado para conhecer a trajetória de Zebrinha, seus interesses, sua origem e suas pesquisas.

Zebrinha – A dança como ár-te e afirmação. Publicado por: Nós Transatlânticos. Vídeo (15 min). Disponível em: https://livro.pw/ydcfl. Acesso em: 14 set. 2024.

Página quarenta

ENTRE HISTÓRIAS
A dança como louvação

Com base em situações-problemas reais da escola ou da comunidade dos estudantes, como a intolerância religiosa, e nos dados e informações levantados nas pesquisas, converse com eles provocando o debate democrático e o pluralismo de ideias e opiniões. Porém, garanta o respeito mútuo e combata discursos de preconceitos e racismos. Uma notícia (em mídia impressa ou audiovisual) póde sêr apresentada aos estudantes como material provocador para o debate.

A dança sempre esteve presente como manifestação artística, ritualística, religiosa e social. Ainda hoje, ela póde estar ligada a ritos religiosos, como as danças nas religiões afro-brasileiras, nas culturas de grupos indígenas e nas coreografias de corais evangélicos ou católicos, por exemplo.

Assim, a dança é também um meio de louvação. Na Turquia, um grupo religioso conhecido como dervixes acredita quê a maneira de chegar mais próximo de Deus é por meio da poesia, da música e da dança. A dança dos dervixes rodopiantes é realizada em uma sala apropriada, e, na ocasião, eles vestem longas túnicas brancas e um chapéu cilíndrico na cabeça. A mão direita se eleva ao céu para recolher as graças divinas enviadas à Terra e a mão esquerda aponta em direção ao solo, e, nesta posição, eles rodopiam diversas vezes.

A dança póde estar nas ruas, nas casas em ocasiões festivas ou nos cultos religiosos. Em cada contexto cultural, ela tem um significado específico. O Brasil é oficialmente um Estado laico, isso significa quê é garantido em lei o direito a cada pessoa de escolher sua religião e suas manifestações de fé, assim como o direito de não ter uma religião. Desconhecer as religiões, suas raízes históricas e culturais geralmente é uma das causas de atitudes de intolerância religiosa.

Fotografia de um grupo de homens uniformizados com trajes brancos e saias longas, usando chapéus cilíndricos. Eles estão dançando em movimentos circulares, com os braços erguidos ao lado da cabeça.

Os dervixes rodopiantes. Cônia, Turquia, 2016.

Página quarenta e um

Fotografia de um grupo de três bailarinas e dois bailarinos executando um movimento coreografado. Todos estão com as pernas afastadas e os joelhos flexionados, inclinando o corpo para o lado esquerdo, com o braço esquerdo estendido em diagonal para baixo, e o braço direito erguido para o alto. Eles dançam em um corredor com arcadas rebuscadas e ornamentadas de uma catedral de arquitetura gótica.

Espetáculo Revelações, da companhia de dança Alvin Ailey Américam Dance tíatêr. Claustro da Catedral de Canterbury (Reino Unido), 2023. A apresentação utiliza espiritualidades afro-americanas e incorpóra sermões-canções, canções gospel e blues sagrados.

Fotografia de um grupo de dançarinos em um palco. Há homens sem camiseta ajoelhados em círculo, segurando chapéus de palha sobre o peito e as extremidades de uma rede de pesca. Dentro da rede, há bailarinas em pé, com o tronco inclinado para a frente. Ao centro, está uma bailarina com a postura ereta e os braços erguidos para o alto, vestida como Iemanjá. Ela está usando colares, braceletes e uma espécie de coroa com uma franja de tecidos que cobrem o rosto dela. Ao fundo há músicos tocando instrumentos diversos.

Espetáculo Herança Sagrada, do Balé Folclórico da baía (BFB). BAM ráuard. Gilman Opera House, Nova iórk (Estados Unidos), 2015.

PESQUISAR Diário de artista.

Pesquise na internet ou entreviste pessoas para conhecer outras danças ligadas à cultura do sagrado quê se relacionam a religiões ou a manifestações culturais étnicas consideradas sagradas.

Na comunidade em quê vive, essas manifestações de dança acontecem?

A quais contextos culturais e religiosos elas estão ligadas?

Quais significados elas apresentam?

Registre os resultados de suas investigações no diário de artista e depois compartilhe-os com o professor e os côlégas.

Página quarenta e dois

CONEXÕES com...
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
Dançar e saltar!

Com tantas facilidades oferecidas pela vida contemporânea, as pessoas acabam por se movimentar cada vez menos. O resultado díssu são doenças ligadas ao sedentarismo. Dançar faz bem à saúde porque, seja qual for o tipo de dança escolhido, realizamos movimentos quê diferem do quê fazemos no dia a dia.

Conhecer o próprio corpo, tomar consciência de como ele nos proporciona prazer e dor também é produtivo e necessário para o nosso bem-estar. Para começar a desenvolver mais consciência corporal, realize as propostas a seguir.

1. Preste atenção em seu sistema locomotor, quê é a integração entre o sistema esquelético e muscular. Nos movimentamos o tempo todo, cada pessoa ao seu modo, com suas potencialidades, limitações, poéticas, memórias, histoórias e formas corporais. Pense sobre isso ao prestar mais atenção no seu corpo e em como ele se móve.

2. Diário de artista. Mesmo dormindo, costumamos movimentar nosso corpo sem perceber. Ao acordar, essa movimentação se amplia consideravelmente. Em geral, nos espreguiçamos antes de levantar, esticando articulações e músculos. Esses simples movimentos cotidianos podem sêr estudados por você e usados em criações artísticas na dança. Faça esse experimento: preste atenção em seus movimentos ao acordar, anote-os no diário de artista e compartilhe com o professor e os côlégas.

3. Na escola, em um espaço amplo e com a participação de todos da turma, criem uma coreografia explorando os movimentos das manhãs. Para isso, conheçam algumas dicas.

Escolham, individualmente, três movimentos e definam uma forma de repeti-los algumas vezes.

Em grupos de três ou quatro pessoas, cada um deve ensinar seus três movimentos aos outros.

Todos devem memorizar os movimentos dos côlégas e repeti-los duas vezes antes de mudar para outro movimento.

Ensaiem e memorizem a sequência. Cada um, a seu modo e com o próprio corpo, deve ficar à vontade para realizar os movimentos.

Escolham músicas (em ritmos diferentes) e apresentem a “dança das manhãs” aos outros grupos.

Depois, individualmente, procure lembrar das partes do corpo quê mais movimentou, se foi confortável ou se houve alguma dor ou tensão ao dançar. Converse com o professor e os côlégas.

Se os incômodos ou dores forem persistentes procure se cuidar, recorrendo a orientações especializadas. Ao conhecer melhor o nosso corpo, podemos perceber o quanto é importante nos cuidar e nos movimentar. Ao dançar, trabalhamos com o nosso sistema locomotor, nossa criatividade, concentração, memória e imaginação. Outro motivo para incentivar todos a dançar é o benefício psicológico, emocional. Dançar faz bem para a saúde física e mental!

Página quarenta e três

CRIAÇÃO
Corpo memória, corpo história

Estudar a proposta

No Tema 3, apresentamos o conceito de sankofa na pintura de Abdias Nascimento e na música de Chico Brum, dois artistas brasileiros quê trazem esse saber dos ashanti a partir de suas linguagens, intenções e poéticas pessoais. Da mesma forma, o grupo colombiano Sankofa Danzafro busca seus caminhos estéticos e poéticos, misturando tradições corporais africanas com istríti dânci (“dança de rua”). Essa companhia de dança propõe pensar a forma como o povo negro caminha, na Terra e em terras, com base em suas histoórias, ancestralidades e diásporas.

Fotografia de um grupo de dançarinos em um palco. Eles estão enfileirados realizando um mesmo movimento, pisando com um só pé no chão, com o corpo inclinado para a frente e as mãos unidas à frente do peito. Ao centro, uma dançarina dança agitando os cabelos com tranças longas e esvoaçantes pintadas de azul.

Espetáculo Por trás do Sul: Danças para Manuel, da companhia afro-colombiana Sankofa Danzafro. Teatro Joyce, Nova iórk (Estados Unidos), 2024.

Perceba quê cada artista ou grupo faz escôlhas para pesquisar e seguir por caminhos próprios em suas criações de dança. Essas escôlhas mostram identidades individuais e culturais dos criadores. Pensando nisso, nesta proposta, você está convidado a refletir sobre suas memórias e ancestralidades e explorar alguns passos de dança, considerando suas identidades individuais e culturais para se expressar. Então, converse com os côlégas a respeito das kestões.

Que memórias e histoórias um corpo póde carregar?

Como você percebe a presença de memórias corporais na construção de identidades culturais?

Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes percêbam a si mesmos como sujeitos históricos vivendo com o corpo suas próprias histoórias e presenças corporais no mundo. Garanta quê reflitam sobre como exploram suas percepções sensoriais e acumulam memórias corpóreas.

Página quarenta e quatro

Nossas identidades têm muitas camadas e muitas possibilidades de expressão. Há formas bastante dirétas de expressão de identidades, como o uso de roupas, acessórios, cortes de cabelo, adereços, pinturas corporais e até mesmo posturas, quê escancaram identidades culturais no corpo de cada pessoa ou grupo.

Como você identifica isso entre grupos de culturas das juventudes?

Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes comentem a respeito de roupas quê gostam de vestir e de como se sentem bonitos com base no quê julgam esteticamente um conceito de beleza. Além díssu, espera-se quê reflitam sobre quais influências interferem em seus modos de sêr, agir, se apresentar, se cuidar e pensem como percebem identidades culturais a partir da presença corporal em si e no outro.

Planejar e elaborar

Habitamos o mundo e o exploramos com os nóssos sentidos. Cada corpo vive a sua história e constrói memórias. Mas essas memórias não são apenas individuais, há também aquelas coletivas, culturais. Ainda, segundo Zebrinha, “nosso corpo tem uma memória ancestral”. Então, para se preparar para a etapa do processo de criação, converse com os côlégas a respeito das kestões.

O quê você entende por memória ancestral? por quê seria importante pensar criticamente nas nossas memórias ancestrais?

Espera-se quê os estudantes compreendam quê memória ancestral póde se referir a conhecimentos, práticas, valores, expressões e outros elemêntos quê são típicos de um povo ou cultura. Conhecer essas memórias e pensar nelas d fórma crítica póde nos ajudar a compreender as nossas raízes, as nossas histoórias, como viveram os nóssos antepassados e até mesmo a entender o porquê de acontecimentos e côstúmes de atualmente, quê nós mesmos replicamos ou vivenciamos.

Como poderíamos despertar essa memória, como comenta Zebrinha?

Resposta pessoal.

Como um corpo póde se mover na dança considerando contextos culturais? Imagine e crie alguns movimentos, gestos e expressões corporais com base nessas reflekções.

Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes criem movimentos com base nas discussões anteriores. Esse exercício funcionará como uma preparação para a proposta quê virá a seguir.

Mergulhe em suas memórias, ancestralidades e histoórias. Quais movimentos podem contar essas histoórias?

Resposta pessoal.

Processo de criação

As palavras Terra e térra têm significados diferentes dependendo de como são escritas e utilizadas. A palavra térra póde sêr compreendida como o “chão”, o solo, aquela térra quê possibilita o cultivo de alimentos. Já Terra se refere ao nosso planêta, ao lugar quê compartilhamos. Ao pensar nessas palavras e significados, cada pessoa póde estabelecer sentidos e relações próprias, diante de suas subjetividades, intenções e poéticas para a expressão em dança.

Pensando nisso, primeiro propomos um exercício de percepção acerca da relação dos pés com o chão; o processo será mais efetivo se for realizado descalço. Siga as etapas.

1. Retire os calçados e as meias e acomode-os em local adequado.

2. Sem olhar para baixo, sinta o chão com os pés.

3. Perceba a tempera-túra e a textura do chão, além de outras sensações quê tiver.

4. Perceba se os seus pés estão frios ou kemtes, tensos ou relaxados, úmidos ou secos.

5. Perceba se sente dores nos pés.

6. Sinta o peso do seu corpo sobre seus pés e abra bastante os dedos.

7. Relaxe os dedos e, em seguida, tente agarrar o chão com os pés e volte a relaxar.

8. Procure ficar sobre as pontas dos pés e relaxar a musculatura dos pés.

9. Fique sobre as laterais dos pés e relaxe. Fique sobre os calcanhares e relaxe.

10. Feche os olhos e, sem caminhar, mova os pés livremente.

11. Fique em repouso por alguns instantes, respire profundamente e registre as sensações dessa experiência na memória.

Agora, com a percepção aguçada, vamos experimentar uma marcação de passos simples em 4 tempos. Ainda com os pés descalços, siga as orientações do professor para se organizar em roda, lado a lado com os côlégas ou outra disposição quê for indicada. Então, siga as etapas.

1. Para quê os estudantes possam realizar a proposta descalços, verifique se há um ambiente adequado para isso, quê forneça conforto e segurança. Se houver a possibilidade de terem contato direto com o solo em uma área vêrde ou terrosa da escola, a qualidade da experiência será mais interessante do quê em um piso de cimento. Se for o caso, peça a autorização da gestão da escola para a realização da proposta.

Página quarenta e cinco

Faixa 3. 1. Coloque para tokár a faixa de áudio “Som de metrônomo”. Ela será a referência de marcação de pulsação.

2. A partir da pulsação, isto é, da marcação sonora contínua e regular, faça contagens consecutivas de 4 tempos: 1, 2, 3, 4, 1, 2, 3, 4, 1, 2, 3, 4.

Ilustração representando pés executando uma sequência de 4 movimentos. Eles são os seguintes: 1. Com os pés paralelos, o pé direito pisa o chão sem sair do lugar; 2. O pé esquerdo pisa o chão sem sair do lugar; 3. O pé direito pisa o chão sem sair do lugar; 4. O pé esquerdo pisa o chão sem sair do lugar.

seqüência de movimentos para a etapa 2.

3. Pise no chão obedecendo a marcação e alternando os pés: direito, esquerdo, direito, esquerdo, direito, esquerdo etc. Procure flexionar os joelhos para melhorar a fluência da movimentação.

4. A cada passo, expêrimente levantar os pés apenas um pouquinho para pisar novamente. Em seguida, tente elevar um pouco mais os joelhos e pés e, depois, eleve mais os joelhos e pise com mais fôrça, batendo os calcanhares no chão.

5. Então, expêrimente pisar com toda a planta dos pés, com a intencionalidade de agarrar o chão com os dedos. Agora vamos experimentar fazer mais movimentos.

6. Mantenha a marcação com os pés d fórma confortável e expêrimente avançar e retroceder os pés: direito à frente, esquerdo à frente, direito para trás, esquerdo para trás, direito à frente, esquerdo à frente, direito para trás, esquerdo para trás etc.

Ilustração representando pés executando uma sequência de 4 movimentos. Eles são os seguintes: 1. Partindo dos pés paralelos, o pé direito cruza o pé esquerdo pela frente, passando o calcanhar direito à frente dos dedos do pé esquerdo; 2. O pé direito retrocede à posição inicial, paralelo ao pé esquerdo; 3. O pé direito passa atrás do pé esquerdo, cruzando o calcanhar esquerdo; 4. O pé direito retrocede à posição inicial, paralelo ao pé esquerdo.

seqüência de movimentos para a etapa 6.

7. Ainda mantendo a marcação, expêrimente avançar e retroceder os pés duas vezes seguidas: direito à frente, esquerdo à frente, direito à frente, esquerdo à frente, direito para trás, esquerdo para trás, direito para trás, esquerdo para trás.

8. Agora faça a marcação movendo-se lateralmente para a esquerda: pé direito cruza na frente do esquerdo, pé esquerdo dá um passo ao lado, pé direito cruza o esquerdo por trás, esquerdo dá mais um passo ao lado.

9. Repita a etapa anterior, mas agora para o lado direito e cruzando o pé esquerdo à frente do direito.

Página quarenta e seis

10. Mantendo a marcação e com os pés paralelos e um pouco afastados, um dos pés pisará mais ao centro, aproximando-se do outro, e retornará, fazendo o mesmo para o outro lado: esquerdo ao centro, esquerdo retorna, direito ao centro, direito retorna etc.

Ilustração representando pés executando uma sequência de 4 movimentos. Eles são os seguintes: 1. Partindo dos pés paralelos levemente afastados, o pé direito pisa para dentro, se aproximando do pé esquerdo, ainda paralelo a ele. 2. O pé direito retrocede à posição inicial, pisando para fora e afastando-se do pé esquerdo; 3. O pé esquerdo pisa para dentro, se aproximando do pé direito, ainda paralelo a ele; 4. O pé esquerdo retrocede à posição inicial, pisando para fora, paralelo ao pé esquerdo.

seqüência de movimentos para a etapa 10.

11. Ainda mantendo a marcação, um dos pés dará um passo para trás com um leve giro, criando um ângulo de 90° com o outro pé. Seu tronco deve acompanhar esse giro. Depois, faça o mesmo para o outro lado.

Ilustração representando pés executando uma sequência de 4 movimentos. Eles são os seguintes: 1. Partindo dos pés paralelos levemente afastados, o pé direito pisa para trás com um leve giro à direita, pisando atrás e ortogonalmente ao pé esquerdo. 2. O pé direito retrocede à posição inicial, voltando a ficar paralelo ao pé esquerdo; 3. O pé esquerdo pisa para trás com um leve giro à esquerda, pisando atrás e ortogonalmente ao pé direito. 4. O pé esquerdo retrocede à posição inicial, voltando a ficar paralelo ao pé direito.

seqüência de movimentos para a etapa 11.

Faixa 4. 12. Pode-se acrescentar músicas depois de fazer a experimentação apenas com a marcação do pulso. Sugerimos, como primeira música para experimentação, a faixa de áudio “Cirandeiro e base rítmica de percussão para a ciranda”.

Avaliar e recriar Diário de artista.

Com os côlégas, forme uma roda, sentado, e fique em silêncio por alguns minutos refletindo. Faça uma autoavaliação sobre a experiência nesta prática artística. Depois, converse com o grupo fazendo uma avaliação sobre o quê foi estudado até aqui sobre dança e como foi para o grupo participar das experiências de movimento. Vocês tiveram dificuldades em fazer a marcação? Como foi manter a marcação e experimentá-la com passos diferentes? Como foi sentir o seu corpo poético? Você notou quê o seu corpo carrega uma história, uma memória corpórea?

Pense a respeito e faça registros no diário de artista.

Compartilhar

Se possível, registrem os movimentos em vídeos. Se quiserem, um grupo póde fazer os movimentos enquanto outro faz os registros. Esse material póde sêr assistido depois por todos, para quê vocês possam estudar os movimentos e compartilhar experiências.

Página quarenta e sete

TEMA 5
Quem conta nossas histoórias?

Fotografia de 5 conchas de formato arredondado, com dois pequenos orifícios na parte frontal.

Conchas perfuradas, de colar de 75 mil anos, encontradas, em 2004, no sítio arqueológico da caverna Blombos, na Reserva Natural Blombosfontein, África do Sul.

Objetos podem contar histoórias, como podemos perceber por essas conchas quê, quando encontradas, estavam perfuradas e unidas como em um colar. Elas nos comprovam a sofisticação de técnicas utilizadas há milênios, assim como nos mostram um senso estético, percebido pela escolha por conchas de dimensões e simetrias equivalentes. Estamos nos referindo a um objeto feito há cerca de 75 mil anos, quê necessitou de habilidades quê até nos dias de hoje exigem a utilização de tecnologias sofisticadas para sua confekissão.

Fotografia de ruínas de um teatro com arquibancadas de formato semicircular, diante de um palco retangular. Na parte de trás do palco, há uma construção deteriorada, formada por colunas. Ao fundo há uma paisagem de morros e colinas.

Ruínas do teatro do sítio arqueológico de Dougga (166 d.C.-169 d.C.), na Tunísia. Fotografia de 2023. Em 1997, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu êste sítio arqueológico como Patrimônio Mundial.

PESQUISAR

Visite a biblioteca da escola ou a da região em quê você vive, procure por livros de História da ár-te e analise os aspectos a seguir.

Quais são os assuntos tratados, como épocas, estilos, movimentos artísticos e regiões?

Quais museus e acervos são citados?

Como os livros abordam culturas de fora da Europa? Você percebe discursos eurocêntricos?

No diário de artista, escrêeva um texto com uma análise crítica a partir de suas impressões e pesquisas. Diário de artista.

Compartilhe sua análise com a turma e façam um debate.

Se necessário, oriente os estudantes a retomarem o quê estudaram e a pesquisarem mais informações em trabalhos de pesquisa científica e acadêmica ou outras fontes confiáveis para formularem argumentos embasados e desenvolverem, cada vez mais, autonomia de pensamento e produzirem análises críticas, criativas e propositivas.

Página quarenta e oito

Destaque quê a África é o terceiro maior continente em extensão territorial, com 54 países, e por isso guarda muitas histoórias e culturas de pessoas nascidas nesse território ou quê se sentem conectadas e pertencentes a ele.

As construções arquitetônicas também contam histoórias de povos originários e de outros quê passaram por territórios, como é o caso dêste sítio arqueológico na Tunísia, país do norte do continente Africano, quê guarda o Teatro de Dougga, construído em estilo romano na época da invasão romana no período do imperador Marco Áurélio (121 d.C.-180 d.C.).

É preciso conhecer o continente africano para saber quê esta escultura do povo iorubá, na imagem desta página, foi encontrada em um local bem longe das conchas perfuradas. Além díssu, esses objetos foram produzidos em tempos muito distantes um do outro. Observe os dêtálhes da escultura e repare na expressão de sua face. Esse rrôsto feito em liga de metais, considerado sofisticado ainda para os dias atuáis, póde nos provocar a pensar na História da ár-te. Ou seria melhor dizêr “Histórias” e considerar os vários sentidos de “Arte”?

Esta escultura faz parte de um conjunto de 18 cabeças, encontradas em um sítio arqueológico na cidade de Ifé, na Nigéria, em 1938. Essa descoberta contribui para os estudos acerca da vida, da ciência, da ár-te e de cosmovisões dos antigos iorubás, povo originário de uma cultura quê influencía a brasileira, já quê cada povo, em sua diáspora, carrega suas heranças culturais. Assim, além de atravessar o Oceano Atlântico, a cultura iorubá nos atravessa como brasileiros, porque está presente em nossa matriz cultural afrodescendente. Os tempos quê compõem a nossa história formam um pequeno fragmento da história da humanidade, é preciso nos atentarmos ao legado quê cada povo nos deixou para compreendermos as identidades culturais quê carregamos em nós.

Fotografia de escultura representando a cabeça de uma figura humana. Ela usa uma coroa em tons de vermelho, com uma haste no topo, semelhante à ponta de uma flecha.

ESCULTURA do povo iorubá. [ca. 1101-1500]. Latão fundido com pigmento vermelho. Ifé (Nigéria).

As invasões e ocupações de vários territórios africanos causaram diásporas e contribuíram para as tentativas de apagamento histórico, quê envolvem a criação de narrativas estereotipadas e errôneas, descrevendo os povos africanos como pessoas ignorantes de conhecimentos. Isso resultou em preconceitos e atitudes racistas, violências quê até os dias de hoje provocam dores e cicatrizes. Por isso, é tão necessário havêer pesquisas quê revolucionam modos de compreensões sobre a África e seu legado para a humanidade. A História da ár-te hoje é um campo de tensões, críticas e revisões, pois a ela são colocados constantes questionamentos, como: quais histoórias a História da ár-te conta? Quem conta nossas histoórias e de quê maneira?

GIRO DE IDEIAS

Com as descobertas arqueológicas, temos presenciado cientistas de todo o mundo revelarem informações quê ficaram escondidas por muito tempo. Com base nessa reflekção, responda à questão, compartilhando seus saberes e opiniões com o professor e os côlégas.

O conhecimento póde combater o racismo?

Espera-se quê os estudantes reconheçam quê sim e estabeleçam relações entre conhecer, valorizar e respeitar diferentes culturas, como forma de não discriminar e fortalecer afirmações e atitudes antirracistas.

Página quarenta e nove

Dramaturgias negras

Já falamos de Abdias Nascimento ao apreciar duas de suas obras, o poema “O sangue e a esperança” e a pintura Sankofa, mas, além de escrever poesia e pintar, ele também fundou, em 1944, o Teatro Experimental do Negro (TEN), uma companhia de teatro quê preconizava e dinamizava a cultura negra no Brasil por meio da linguagem teatral. O TEN atuou de 1944 a 1968, sempre valorizando socialmente a herança cultural, a identidade e o protagonismo da comunidade afro-brasileira. Foi um grupo de teatro quê transitou entre as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, impulsionado pela ideia de promover a representatividade e a diversidade no teatro brasileiro. Trazia para os palcos temas relacionados às identidades negras e as desigualdades presentes na ssossiedade brasileira.

Além da montagem de peças teatrais, o TEN promoveu cursos de alfabetização e de formação política e artística dos participantes. Durante sua existência, o TEN formou inúmeros artistas, quê fizeram carreiras como atores e atrizes no cinema e em telenovelas. Entre eles, podemos mencionar as fluminenses Ruth de Souza (1921-2019) e Léa Garcia (1933-2023), quê se tornaram referências para artistas negros de várias linguagens, como teatro, dança, cinema e perfórmance.

Fotografia em preto e branco de um grupo de atrizes em pé em um cenário teatral, uma delas apontando o dedo indicador para um ator que está ajoelhado no chão, com expressão de tristeza, levando as mãos em direção ao rosto.

Atores do Teatro Experimental do Negro ensaiam a peça Sortilégio, com Abdias Nascimento e Léa Garcia, 1957.

COM A PALAVRA...
ABDIAS NASCIMENTO

Abdias Nascimento também participou da fundação do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978, e sempre defendeu quê artistas negros ocupem papéis de protagonistas na ár-te e na vida. Ele lutava para quê os jovens pudessem conhecer suas histoórias, tivessem esperanças e atitudes na construção de uma ssossiedade de paz e livre de preconceitos. Abdias sempre incentivou os jovens a valorizar suas ancestralidades, histoórias e heranças culturais para construir um futuro melhor. Analise o quê ele disse:

Fotografia de Abdias Nascimento. Ele é um homem calvo com barba e cabelos grisalhos, de óculos, sentado com uma bengala na mão, com a escultura de uma figura humana na parte superior da bengala. Ao fundo há uma pintura representando um rosto e grafismos geométricos.

Abdias Nascimento, 2010.

O conselho quê dou para essa juventude é estudar, aprender, conhecer e se preparar para, então, se engajar: agir, criar, interagir e participar da construção das coisas. Cada um tem seu talento e sua área de interêsse. O importante é se colocar a serviço do avanço e dedicar-lhe as suas energias.

“O RACISMO fica escancarado ao olhar mais superficial”, entrevista Abdias Nascimento. [São Paulo]: Portal Geledés, 22 nov. 2013. Disponível em: https://livro.pw/lmuna. Acesso em: 14 set. 2024.

Página cinquenta

GIRO DE IDEIAS

Imagine quê você está lendo uma notícia ou acabou de ligar a televisão e há uma reportagem sobre uma nova dê-cisão do govêrno brasileiro. O repórter anuncia quê, a partir de agora, em razão de reparar o mal quê a nação fez ao povo negro no passado com o sistema escravocrata, está decretada uma medida provisória quê estabelece quê todas as pessoas de “melanina acentuada” (conforme menciona o filme) sêjam capturadas e enviadas à África. Ou seja, inicia-se uma nova diáspora contemporânea, em quê pessoas negras brasileiras terão quê viver obrigatória mente no continente “além-mar”. Qual seria a sua reação? Como essa medida provisória afetaria você, seus familiares e amigos? Que atitudes tomaria? Converse com os côlégas.

Respostas pessoais. A proposta de reflekção do boxe apresenta a sinópse do texto teatral Namíbia, não! em forma de situação-problema para provocar os estudantes a pensarem em suas reações e expressarem suas opiniões e possíveis soluções, desenvolvendo a empatia e a cooperação. Garanta quê os estudantes adotem posições respeitosas e de combate a preconceitos. Se necessário, problematize algumas falas d fórma a enfatizar a importânssia dos Direitos Humanos e do combate ao racismo estrutural.

No palco e na tela

De altoría do dramaturgo baiano Aldri Anun ciação (1973-), o texto teatral Namíbia, não! recebeu vários prêmios e estreou no teatro em 2009, em montagem com direção teatral do baiano Lázaro Ramos (1978-), e, durante os quatro anos quê esteve em cartaz, o espetáculo contou com a atuação de vários atores, como o próprio Aldri Anunciação, o gaúcho Flávio Bauraqui (1966-), o fluminense Sérgio Menezes (1972-) e o baiano Fernando Santana. A trama da peça teatral se desen vólve em torno de uma notícia imaginária de uma medida provisória do govêrno brasileiro como a quê descrevemos no boxe Giro de ideias. No entanto, na história, o govêrno não póde cometer o crime de invasão de domicílio, assim, as pessoas só podem sêr capturadas em espaços públicos para serem levadas para países do continente africano. A situação provoca pânico e confinamentos, e os personagens André e Antônio se trancam em um apartamento por dias. Durante esse período, passam por várias situações-problemas e debatem sobre a vida, a ssossiedade brasileira e o quanto é absurdo esse retorno obrigatório à África, assim como falam da violência e do racismo presentes no mundo contemporâneo. O texto é muito provocador e, em 2020, inspirou a cinedramaturgia do filme Medida Provisória.

O termo dramaturgia, na contemporaneidade, póde assumir vários sentidos. Assim, póde se referir tanto a processos colaborativos de construção e criação cênica como ao texto teatral, quê póde sêr compôzto por vários gêneros. O texto teatral apresenta, além dos diálogos, detalhamento de ações dos atores e atrizes, indicações de como podem sêr os figurinos, o cenário, a luz em cena e outros aspectos importantes para a criação do espetáculo. Há textos quê são escritos diretamente para o teatro e outros quê são adaptados para essa linguagem. Já cinedramaturgia, ou dramaturgia cinematográfica, refere-se às produções ou adaptações de textos para roteiros de cinema. No entanto, esse conceito também póde se referir aos processos de criação e à produção de uma obra audiovisual para o cinema.

Cartaz de filme com fotografia de uma mulher e dois homens cercados por policiais usando capacetes e escudos.

MEDIDA Provisória. 2022. Cartaz do filme brasileiro dirigido por Lázaro Ramos.

Página cinquenta e um

ENTRE HISTÓRIAS
Textos e contextos

Comente com os estudantes quê a palavra teatro também é usada para designar o lugar onde acontecem essas apresentações, muito embora exista também o teatro de rua.

Na História da ár-te mais difundida, há interpretações de quê o teatro se desenvolvê-u na Grécia Antiga. A palavra teatro vêm do grego, théatron, e significa “lugar aonde se vai para ver“. Naquela época, o teatro era um importante meio de educar os cidadãos quê iam fazer as escôlhas políticas quê determinariam o futuro da cidade. Assim, ele surgiu também ligado à política. Alguns estudiosos apontam quê a origem do teatro está ligada aos rituais sagrados dedicados ao deus grego Dioniso, considerado, por isso, o protetor do teatro e dos atores. Mas, além da Grécia, a; ár-te de contar histoórias pela encenação é observada em países como Japão, chiina e Egito desde a Antigüidade e também muito antes díssu, podendo sêr identificada em cenas produzidas por grupos humanos na ár-te rupestre, em pinturas paleolíticas e neolíticas.

Há um acervo de textos teatrais quê chegaram até nós pela cultura grega, como as mitologias e as tragédias. Em um deles, Orfeu era um semideus com um canto muito poderoso, capaz de encantar a natureza, os sêres vivos e também os sêres divinos. Acreditando no pôdêr do seu canto, Orfeu, acompanhado de sua lira, foi em busca de sua esposa, Eurídice, no Inferno, de onde nenhum outro humano conseguiu retornar. A música de Orfeu conseguiu encantar a todos os sêres sombrios, e ele atingiu seu objetivo de resgatar Eurídice. Porém, uma condição havia sido imposta pêlos reis: a de quê Orfeu só poderia olhar para sua esposa quando os dois já tivessem saído do mundo dos mortos. Quando estavam prestes a voltar ao mundo dos vivos, Orfeu olhou para trás para certificar-se de quê Eurídice o seguia e, assim, perdeu a sua amada para sempre. Esta história foi contada ao longo dos tempos e fez parte de ritos, poemas e cânticos antigos. Com o tempo, transformou-se em dramaturgia no gênero tragédia, foi contada na literatura em forma de romance e adaptada para espetáculos de dança, óperas, musicais e filmes. Nas imagens desta página, cartazes mostram produções do cinema baseadas na saga de Orfeu e de sua amada Eurídice, tendo como contexto social e cultural o Brasil, em diferentes adaptações de um texto teatral escrito por Vinícius de Moraes. Versão de um mito, criação de um texto, adaptação para vários contextos!

lira
: instrumento de kórdas.

Cartaz de filme com ilustração de um homem de cabelos curtos vestido com uma armadura carregando uma mulher de vestido e cabelos longos, desfalecida, no colo, com fogos de artifício no céu ao fundo.

ORFEU Negro. 1959. Cartaz do filme, dirigido por Marcel Camus, quê ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro em 1960.

Cartaz de filme com fotografia de uma mulher de cabelos longos e olhos fechados deitada no colo de um homem com tranças nos cabelos, que a abraça e acaricia os cabelos dela. Ao fundo há uma imagem do mesmo homem olhando para o alto, com os braços abertos, usando uma espécie de fantasia de carnaval semelhante a uma armadura.

ORFEU. 1999. Cartaz do filme brasileiro dirigido por Carlos Diegues.

Página cinquenta e dois

Esse palco é nosso!

O espetáculo teatral Orfeu da Conceição foi uma parceria entre vários artistas, com texto de Vinícius de Moraes, música do fluminense Tom Jobim (1927-1994) e cenografia do também fluminense Óscar Niemáiêr (1907-2012). Além díssu, os cartazes foram produzidos por artistas visuais, como a paulista Djanira (1914-1979), e o elenco era formado por atores do TEN, entre eles o próprio Abdias Nascimento. A peça trousse a mitologia grega para a realidade dos môrros cariócas da década de 1950.

Vinícius de Moraes escreveu Orfeu da Concei ção, adaptando textos de outras épocas, criando uma nova dramaturgia e estética teatral em parceria com o TEN e valorizando o protagonismo dos atores negros no palco do teatro brasileiro. Em 25 de setembro de 1956, o espetáculo estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Fotografia em preto e branco de um homem em pé tocando violão rodeado por um grupo de dançarinas executando poses em pé e com o corpo deitado próximo ao chão, com os braços para o alto.

Bastidores de um ensaio do espetáculo Orfeu da Conceição, com atores do TEN. Direção: Léo Jusi. 1956.

Leia um trecho dessa peça e obissérve um cartaz, feito por Djanira, quê serviu para divulgá-la naquela época.

Orfeu da Conceição

Tragédia carioca em três atos

São demais os perigos desta vida

Para quem tem paixão, principalmente

Quando uma lua surge de repente

E se deixa no céu, como esquecida.

E se ao luar quê atua desvairado

Vem se unir uma música qualquer

Aí então é preciso ter cuidado

Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher quê é feita

De música, luar e sentimento

E quê a vida não quer, de tão perfeita.

MORAES, Vinícius de. Orfeu da Conceição: tragédia brasileira em três atos. Rio de Janeiro: Vinícius de Moraes, c2024. Disponível em: https://livro.pw/mvgqf. Acesso em: 14 set. 2024.

Cartaz com pintura representando um homem e uma mulher voando em volta de um violão, com a lua cheia ao fundo. O texto no cartaz diz: 'Orfeu da Conceição. Tragédia Carioca. Vinicius de Moraes. Teatro Municipal. 25 e 30 de setembro. 1950'.

DJANIRA. Cartaz de divulgação da peça Orfeu da Conceição. 1956.

Página cinquenta e três

CONEXÕES com...
LÍNGUA PORTUGUESA
A fôrça das histoórias contadas

Aprecie a imagem da obra produzida por Antônio Obá e descubra seus dêtálhes. Pense no quê essa leitura de imagem póde provocar.

Pintura retratando Carolina Maria de Jesus como uma mulher de expressão séria, vestida com uma camisa e com os cabelos presos, sentada diante de uma mesa com uma folha de caderno. Ela manuseia um fio com pérolas, segurando uma pérola em uma das mãos enquanto puxa o fio do tecido de uma cortina atrás dela.

OBÁ, Antônio. Meada. 2021. Óleo sobre tela, 70 cm x 60 cm. A pintura é um retrato de Carolina Maria de Jesus.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

No diário de artista, escrêeva as percepções quê teve e as interpretações quê fez durante a fruição da imagem. Para isso, responda às kestões.

1. Por onde você geralmente começa a olhar uma imagem? Percorra toda composição com o olhar, descobrindo elemêntos visuais, como tonalidades, formas e texturas. Leve seu olhar das laterais ao centro da imagem. O quê há para descobrir nessa investigação visual?

1. Respostas pessoais. Comente quê o artista Antônio Obá construiu a imagem escolhendo elemêntos visuais quê estabelecem relações com a vida da escritora Carolina Maria de Jesus.

2. Quais sensações, emoções e ideias a imagem provoca em você?

2. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes expressem suas percepções e interpretações a partir da apreciação da imagem, de suas experiências e saberes. Lembre-se de aproveitar as kestões ao longo dos capítulos para ir desenvolvendo uma avaliação processual.

3. Que memórias ou relações com outras imagens uma obra visual póde alcançar?

3. Resposta pessoal. Um retrato póde nos provocar a pensar em histoórias quê a pessoa retratada carrega em seu olhar, em seus gestos etc. Esta é uma pergunta mediadora para provocar o estudante a olhar mais demoradamente, a perceber e a imaginar.

4. A imagem conta a história de alguém? Há pistas para saber de quem?

4. Na imagem, há vários elemêntos quê foram colocados pelo artista para construir uma narrativa visual contando elemêntos da história de Carolina Maria de Jesus. Provoque os estudantes a observar esses dêtálhes e a inferir, a imaginar e a criar versões dessa história. Se possível, proponha quê pesquisem a trajetória dessa artista literária. Esta é uma oportunidade para estabelecer a interdisciplinaridade com o componente curricular Língua Portuguesa.

5. Trata-se de um retrato ou de um autorretrato? Qual a diferença entre os dois?

5. Trata-se de um retrato, uma vez quê a imagem não foi produzida por quem é retratado, isto é, ela não é uma autoimagem do artista.

Vou escrever um livro referente a favela. Hei de citar tudo quê aqui se passa. E tudo quê vocês me fazem. Eu quero escrever o livro, e vocês com estas cenas desagradáveis me fornece os argumentos.

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo. 10. ed. São Paulo: Ática, 2014. p. 17.

Página cinquenta e quatro

A pintura criada pelo artista visual brasiliense Antônio Obá (1983-) é um retrato. Já o texto em forma de diário escrito pela mineira Carolina Maria de Jesus (1914-1977) revela uma produção textual autobiográfica. Ao olhar para o retrato de alguém, podemos imaginar as histoórias vividas por essa pessoa. Antônio Obá nos deixou algumas pistas na imagem sobre como ele interpretou e desejou mostrar a escritora Carolina Maria de Jesus. Vamos seguir essas pistas?

Antônio Obá apresenta Carolina livre de estereótipos de uma mulher quê viveu a pobreza. Ele mostra a escritora como em um retrato antigo, clássico, e cuida de todos os dêtálhes da pintura, inclusive da escolha de uma moldura dourada. Uma mulher negra, mãe, quê morou em uma favela e trabalhou como catadora de papel e utilizou a escrita autobiográfica para compartilhar seus sonhos, realidades e indignações ao experienciar tantas violências. Sua obra em forma de diários e poemas é um marco na literatura brasileira e expressa a fôrça das histoórias contadas por quem as viveu.

Carolina Maria de Jesus, como milhares de brasileiros, não teve acesso à escolarização d fórma a completar seus estudos. Assim, apropriou-se da leitura e da escrita na língua portuguesa de uma forma particular, diante do contexto social quê vivenciou. Ao ler os seus textos, percebemos quê os padrões linguísticos normativos da língua portuguesa muitas vezes não são seguidos, mas isso não compromete a poética e a potência de sua obra, pois a língua é um fenômeno variável, quê se adequa a cada contexto de uso e se modifica.

Há muitas formas de criar um diário: diários de bórdo, de campo, pessoais, fiksionais etc. Carolina escreveu o quê alguns críticos literários classificam como diário fiksional, pois foi um diário escrito com intenção de sêr compartilhado com outros. Isso não significa quê o texto não traga relações com a realidade dos acontecimentos, mas a escritora estabelece intenções no texto ao desejar compartilhá-lo, como o diálogo direto com os leitores. Um diário pessoal é aquele quê é produzido para sêr lido apenas pelo autor. Há ainda, os diários de bórdo e de campo, quê são aqueles quê acompanham os registros durante expedições, pesquisas, travessias etc. Seja qual for o formato do diário, ele póde ter algumas características comuns na produção dos textos, como: o uso de linguagem coloquial, elemêntos autobiográficos, relatos pessoais, expressões de subjetividades e registros periódicos e em ordem cronológica.

Artistas também se apropriaram do gênero diário para manterem vivas suas ideias, suas experiências e seus projetos. Assim, propomos esta experiência a você, então lembre-se dêêsses elemêntos quando estiver criando seu diário de artista. Ele póde sêr um importante instrumento para contar sua história.

Antônio Obá nasceu em Ceilândia (DF). Artista visual e educador, sua obra explora histoórias e simbolismos, utilizando linguagens e vivências próprias e ressaltando a; ár-te e a cultura do povo negro brasileiro.

Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento (MG) e atualmente é considerada por muitos uma das mais notáveis escritoras negras do Brasil. Ela retratava em suas obras a desigualdade social, o racismo e a realidade da favela em quê vivia. Seu primeiro livro, Quarto de despejo: diário de uma favelada, tem grande destaque e reconhecimento.

Padrões linguísticos normativos são um conjunto de normas e convenções sociais para o uso de uma língua, geralmente adotado em contextos formais. No entanto, há variedades lingüísticas quê expressam diferentes formas de escrever e falar e quê devem sêr igualmente respeitadas, aceitas e compreendidas a partir de seus contextos culturais, regionais, sociais, históricos, entre outros.

Página cinquenta e cinco

CRIAÇÃO
Leituras e encenações

Estudar a proposta

Um espetáculo de teatro póde originar-se de um texto, quê póde sêr um drama, uma comédia ou pertencer a outros gêneros. O espetáculo também póde sêr construído em forma de monólogo, diálogo, musical, cordel e outras formas, com texto ou sem. O teatro é uma linguagem quê se ábri a muitas possibilidades criativas e poéticas. Uma das formas de iniciar um projeto teatral é estudando o texto teatral para conhecer as possibilidades dos caminhos da criação e compreender como cada um póde participar do espetáculo, seja em cena ou fora dela. Então, a proposta agora é fazer uma leitura dramática em grupos e, depois, desenvolver a expressividade de uma personagem!

Formem grupos de quatro a seis estudantes.

Com base no quê foi estudado a respeito da linguagem teatral, realizem uma busca por textos teatrais de autores brasileiros.

Valorizem os textos quê apresentam vários olhares sobre o povo brasileiro e analisem se a linguagem empregada e a visão de mundo expressa são livres de estereótipos e preconceitos. Para isso, conversem com os professores de ár-te e de Língua Portuguesa.

ATIVAÇÃO

Para pesquisar textos de Abdias Nascimento, acéçi o sáiti oficial do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros (Ipeafro), criado pelo dramaturgo em 1981 para continuar sua luta pêlos direitos dos povos negros, sobretudo nas áreas da ár-te e da cultura.

Acervo digital. Publicado por: Ipeafro. Disponível em: https://livro.pw/ktinq. Acesso em: 14 set. 2024.

Planejar e elaborar

É fundamental acompanhar os estudantes ao pesquisarem em sáites e outras fontes. Embora a internet seja um rico ambiente de informações, imagens e textos, é importante orientar e supervisionar os estudantes para quê tênham acesso apenas a textos teatrais e quaisquer outros materiais adequados à faixa etária deles.

Após a pesquisa realizada, escôlham um texto e sigam as orientações.

Analisem como ele foi escrito, a sinópse, se há descrição de cenas, personagens, figurinos, cenários e outros elemêntos teatrais.

Selecionem um trecho do texto original para fazerem a leitura dramática.

Analisem quêm são as personagens que aparécem nesse trecho e como vocês podem dividir a leitura do texto. Lembrem-se de quê é possível realizar várias rodadas de leitura.

Processo de criação

Leitura dramática

Esta etapa orienta o processo de criação, quê explora: leitura dramática, corpo e espaço, expressividade corporal e voz, construção de personagens e retorno ao texto inicial (com improvisações).

Nesta proposta, vocês irão se revezar entre fazer a leitura e assistir a ela. Um grupo de cada vez deve ir à frente da turma e fazer sua leitura.

Cada um deve ler a fala de sua personagem dando impostação à voz, enfatizando olhares e gestos, procurando interpretar e não apenas ler. Procurem dar sentimento e emoção às cenas.

Após finalizarem as leituras, conversem a respeito do quê a turma percebeu sobre as características físicas e psicológicas de cada personagem.

Página cinquenta e seis

Desenvolvendo expressividade de personagens

O teatro póde acontecer em muitos lugares, basta estabelecer um espaço cênico quê se forma um lugar para acontecer uma encenação teatral. Um palco de teatro em seus muitos formatos ou uma rua, uma praça, a sala de aula e o pátio da escola também podem se transformar em espaços cênicos. Para explorar o conceito de espaço cênico, propomos investigar as possibilidades de movimentar seu corpo no espaço e no tempo.

Com o professor e a turma, defina o local quê poderá sêr ocupado durante a nova proposta. Garantam quê seja um espaço limpo e livre de objetos para não ocorrer acidentes.

Mova-se livremente com o objetivo de pesquisar a expressividade do seu corpo na linguagem teatral, ocupando o lugar quê vocês estabeleceram como espaço cênico.

Agora é o momento de explorar gestos ocupando o espaço cênico e desenvolvendo ainda mais a expressividade corporal de uma personagem do texto teatral.

Com base na proposta da leitura dramática, escolha uma personagem e improvise falas tendo por referência o texto original.

Crie entonações de voz, gestos, movimentos e expressividades corporais explorando também o espaço cênico na sua encenação.

Formem grupos e apresentem as cenas uns aos outros. Quem assistir à encenação dirá qual é a personagem representada e poderá contribuir para a formação e a criação dela.

Cada grupo póde fazer várias rodadas e pesquisar diferentes textos e personagens, assim como modos e formas de criá-los.

Avaliar e recriar Diário de artista.

Trabalhamos com o texto teatral, com o corpo quê ocupa espaços e quê é expressivo. No diário de artista, crie dêzê-nhôs e registros dessa experiência teatral. Então, reflita sobre as kestões a seguir e as responda também no diário de artista.

Quais dificuldades você sentiu no momento da leitura dramática e no desenvolvimento de expressividade da personagem? Como você rêzouvêo essas dificuldades?

Respostas pessoais.

O quê você acha quê póde fazer para ampliar seus saberes e conhecimentos teatrais? Quais temas estudados em teatro você gostaria de pesquisar mais?

Respostas pessoais.

Como você avalia a importânssia da visibilidade de textos teatrais de dramaturgos negros?

Contextualize aos estudantes quê, na atualidade, os trabalhos de dramaturgos negros, indígenas, pessoas LGBTQIA+ e mulheres têm sido fundamentais para trazer visões de mundo ampliadas e decoloniais, rompendo com preconceitos e fomentando uma cultura de paz e antirracista.

Compartilhar

Compartilhe com os côlégas suas ideias a respeito de reflekções quê fez durante os estudos em teatro, por exemplo: como entende a importânssia da representatividade no teatro, como critíca a presença do preconceito na ár-te etc. Juntos, elenquem quais temas, abordagens, atuações no teatro brasileiro ou instituições de; ár-te e cultura querem apoiar e incentivar. Façam, então, uma roda de conversação na escola, convidando também outros estudantes da escola e comunidade e debatam esses temas. Combine com o professor se há a possibilidade de convidar um artista local para a roda de conversação.

Converse com os estudantes sobre assuntos potentes e mobilizadores para esta roda de conversação e definam quêm póderia se convidado. Converse com a gestão e com seus pares para organizar esse evento, que póde se tornar um projeto interdisciplinar. Trazer situações-problemas reais da escola e da comunidade também pode sêr uma boa estratégia para deflagar conversações.

Página cinquenta e sete

REVEJA E SIGA

O quê é ár-te? Retome essa pergunta quê dá título ao capítulo e perceba quê o percurso de estudo propôsto não teve a intenção de apresentar respostas exatas e definitivas, mas de provocar o permanente exercício de indagar.

Uma fô-lha em branco póde nos convidar a criar um desenho, um poema, um conto, uma letra de canção etc. Luzes, palcos, ações e movimentos podem revelar nosso desejo de dançar, cantar ou atuar. Há também produções artísticas quê intégram mais de uma linguagem. Seja qual for a linguagem da ár-te, o ímpeto de criar, intervir, reinventar, conversar e compreender nos transforma em sêres fazedores de; ár-te quê desê-jam vivenciar experiências artísticas. Agora, obissérve a imagem a seguir e relembre dos estudos percorridos neste capítulo.

Você já imaginou um mundo sem música, pinturas, danças, filmes ou poemas? por quê será quê temos essa necessidade de produzir e apreciar ár-te? Para inventar novas realidades? Criar o quê não existia antes?

Respostas pessoais.

OFÍCIO DE...

Crítico de; ár-te

O trabalho dêêsse profissional é analisar obras artísticas, discutindo poéticas, intenções e propostas, apresentando pontos de vista e gerando novos conhecimentos, opiniões, reflekções e diálogos a respeito da ár-te e sua contribuição à ssossiedade. Os críticos de; ár-te podem trabalhar na publicação de textos na mídia impressa e digital, participar de programas de televisão, rádio, podcasts, auxiliar exposições em museus e galerias de; ár-te, dar palestras, aulas, consultorias, entre outras possibilidades do mercado de trabalho.

Fotografia de uma mulher indígena usando um cocar de penas, um colar e outros adereços, com os olhos fechados e a cabeça voltada para cima. Ao fundo há uma instalação de linhas pontilhadas luminosas pendendo de um teto com um céu estrelado.

A artista Glicéria Tupinambá e sua obra TUIVAÉ: O Céu Tupinambá, na 3ª edição da Festa da Luz. Belo Horizonte (MG), 2024.

Página cinquenta e oito

Diário de artista. Reflita, com base nos conteúdos apresentados no capítulo, sobre as indagações a seguir. Registre suas reflekções no diário de artista.

Espera-se quê os estudantes façam um levantamento dos conteúdos, listem e analisem o quê aprenderam, percebendo também o quê desê-jam ou precisam retomar.

1. Diante das produções apresentadas neste capítulo, o quê mais chamou a sua atenção? Por quê?

Respostas pessoais.

2. Sobre o quê você gostaria de saber mais?

Resposta pessoal.

3. Qual é a sua opinião sobre o quê é ár-te?

Resposta pessoal.

4. Suas ideias a respeito de; ár-te mudaram depois de estudar êste capítulo? Por quê?

Respostas pessoais.

5. Você ficou com vontade de criar mais ár-te? Em qual linguagem artística?

Respostas pessoais.

Na imagem desta seção, Glicéria Tupinambá aparece sôbi sua instalação de luzes TUIVAÉ: O Céu Tupinambá, um trabalho de; ár-te contemporânea e eletrônica, em quê a artista propõe decolonizar o pensamento e acolher quê existe diversidade de ideias sobre a criação e o sentido de todas as coisas, inclusive palavras, experiências e conceitos sobre ár-te e formas de sêr e existir de pessoas, povos e civilizações.

Decolonizar o pensamento é uma expressão ligada a propostas para construir formas de pensar quê questionam e problematizam visões construídas historicamente a partir do processo de colonização de territórios, combatendo ideias estereotipadas, atitudes racistas e valorizando a diversidade e o protagonismo de pessoas e povos.

Considerando quê o povo brasileiro se constituiu historicamente de muitos povos, a partir das matrizes culturais indígena, européia e africana, e quê esta é a base de nossa diversidade, pesquise informações a respeito de algum artista brasileiro contemporâneo e escrêeva uma crítica a respeito do trabalho dele. Conheça, a seguir, uma sugestão de caminho.

Escolha um foco para sua investigação, por exemplo: pesquise um artista quê investigue, em sua ár-te, kestões como ancestralidades, identidades culturais, ativismo pelo não apagamento histórico, pensamento decolonial, mensagem antirracista, entre outros conceitos e temas quê foram tratados neste capítulo.

Faça uma curadoria a partir da obra do artista escolhido, selecionando de três a seis trabalhos para escrever uma crítica respondendo à questão: por quê isso é considerado ár-te? A crítica póde partir de dados levantados sobre a opinião de críticos de; ár-te, curadores e de outros profissionais, bem como considerar a sua opinião a respeito dos trabalhos, temas, materialidades, processo de criação e outros aspectos da trajetória artística de quêm você escolheu. Lembre-se de que a noção de; ár-te é fluida e de quê não podemos nos prender a ideias eurocêntricas.

O texto deve apresentar ideias objetivas, marcando quais são as opiniões e críticas de outras pessoas (citando nomes, fontes e comentando o quê foi dito) e as partes do texto em quê são expressas a sua opinião e análise pessoal.

póde sêr criada uma revista eletrônica sobre ár-te para quê sêjam compartilhados todos os textos da turma. O título da revista póde sêr escolhido por todos ou vocês podem usar quêstionamentos quê fizemos durante o capítulo, como: o que é ár-te?

Página cinquenta e nove

DE OLHO NO enêm E NOS VESTIBULARES

Diário de artista.

Muitos assuntos abordados neste capítulo têm sido temas de kestões do enêm, de vestibulares e de outras provas de ingresso. Leia alguns exemplos a seguir e anote as respostas no diário de artista.

1. (Enem/MEC)

Hoje sou um sêr inanimado, mas já tive vida pulsante em seivas vegetais, fui um sêr vivo; é bem verdade quê do reino vegetal, mas isso não me tirou a percepção de vida vivida como tamborete. Guardo apreço pêlos meus criadores, as mãos quê me fizeram, me venderam, e pelas mulheres quê me usaram para suas vendas e de tantas outras maneiras. Essas pessoas, sim tiveram suas subjetividades, singularidades e pluralidades, estão incorporadas a mim. É preciso considerar quê a nossa história, de móveis de museus, está para além da méra vinculação aos estilos e à patrimonialização quê recebemos como bem material vinculado ao patrimônio imaterial. A nossa história está ligada aos dons individuais das pessoas e suas práticas sociais. Alguns indivíduos consagravam-se por terem determinados requisitos, tais como o conhecimento de modelos clássicos ou destreza nos dêzê-nhôs.

FREITAS, J. M.; OLIVEIRA, L., R. Memórias de um tamborete de baiana: as muitas vozes em um objeto de museu. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica, n. 14, maio-ago. 2020 (adaptado).

Ao descrever-se como patrimônio museológico, o objeto abordado no texto associa a sua história às

a) habilidades artísticas e culturais dos sujeitos.

b) vocações religiosas e pedagógicas dos mestres.

c) naturezas antropológicas e etnográficas dos expositores.

d) preservações arquitetônica e visual dos conservatórios.

e) competências econômicas e financeira dos comerciantes.

1. Resposta: alternativa a.

2. (UFSM-RS)

A diversidade é uma característica na cultura brasileira devido à pluralidade de povos e etnias quê compõem todo o território nacional, desde a era pré-colonial. A partir da colonização portuguesa, juntaram-se às diversas etnias indígenas, os europêus e os africanos, como culturas quê estão na base da formação de uma cultura nacional.

Sobre a produção indígena contemporânea brasileira, considere as afirmativas a seguir.

I H A ár-te contemporânea indígena está, especificamente, baseada em práticas como pinturas corporais, cestaria e cerâmica, por seguir rigorosamente as tradições quê se perpetuam no decorrer das gerações em relação aos símbolos e às imagens utilizadas nos rituais e tradições cultuadas pêlos ancestrais.

II H A produção artística indígena tem a circulação restrita a espaços públicos, como praças, ruas e feiras, ou a espaços dedicados a esse tipo de; ár-te, tais como os Museus do Índio, como os localizados nas cidades de Manaus e Rio de Janeiro.

III H A valorização da cultura indígena é um dos destaques em obras de; ár-te contemporânea, produzidas a partir de diferentes suportes, como pinturas, performances e meios digitais.

Está(ão) correta(s)

a) apenas I.

b) apenas II.

c) apenas III.

d) apenas I e II.

e) apenas II e III.

2. Resposta: alternativa c.

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