CAPÍTULO 2
POÉTICAS E CULTURAS DAS JUVENTUDES

Observe a imagem e aprecie a linguagem poética do colagismo de dél Nunes (1998-). Em seguida, analise o trecho da canção “Mil coisas”, interpretada por Emicida (1985-) e Drik Barbosa (1992-) e converse com os côlégas e o professor a respeito das kestões.

Medonho às vezes o mundo é
Transponho tudo pra fé
Não é quê ela me iluda, não
Risonho vou no contra pé
Jamais na marcha ré […]

[…]

Mil coisas na cabeça, tá ligado?
Cheiro de chuva, as plantinhas
E um café passado

Transcrito de: EMICIDA: Mil coisas part. Drik Barbosa. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal Emicida. Localizável em: 34 s, 58 s. Disponível em: https://livro.pw/kduyv. Acesso em: 23 set. 2024.

1. dêz-creva os dêtálhes da imagem: como você percebe nela a escolha dos elemêntos constitutivos das artes visuais, como linhas, formas e cores?

1. Resposta pessoal. Lembre-se de quê os estudantes são os protagonistas dêêsse exercício e devem apresentar as próprias impressões e interpretações.

2. Em sua opinião, a imagem tem relação com a realidade ou o artista expressa outras intenções? Por quê?

2. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes comentem quê a composição expressa um mundo lírico e imaginativo em quê o artista explora visualidades de paisagens urbanas, do universo e da figura humana. Assim, com base nas subjetividades, ele cria imagens surreais, explorando universos fantásticos.

3. Agora, faça uma leitura integrada entre o texto visual (a colagem digital) e o texto verbal (a letra da canção). Que relações você estabelece entre eles?

3. Resposta pessoal. Os estudantes podem relacionar, por exemplo, o recorte de um universo no lugar da face de uma pessoa com a ideia de se ter “mil coisas na cabeça”. Incentive cada estudante a fazer contextualizações relacionadas ao seu universo particular.

dél Nunes nasceu em Salvador (BA). Ele é publicitário e artista visual, e suas obras exploram a colagem digital e a fotografia, criando composições influenciadas por sua perspectiva poética advinda de comunidades periféricas com as quais ele tem relação.

Página sessenta e um

Colagem digital da fotografia de um homem sem camisa, com os braços erguidos e a cabeça voltada para o alto. Em uma das mãos, ele segura seu próprio rosto, retirado como uma máscara, revelando no lugar da face, a imagem de uma galáxia. O corpo do homem é representado como o de um gigante que emerge do interior de uma comunidade de habitações precárias. Ao fundo, há um céu azul com nuvens e a figura de um sol superdimensionado.

NUNES, dél. Quando me abro para o mundo. 2020. Colagem digital criada com fotografia de Felipe Sousa.

Página sessenta e dois

TEMA 1
Ser de linguagem, ético, estético e poético

Somos sêres de linguagens e utilizamos formas verbais, visuais, sonóras e corporais para expressar quem somos e a nossa relação com as outras pessoas e com o mundo. Em meio a tantas possibilidades de expressão, as pessoas podem escolher caminhos diversos ao criar ár-te. Para fazer essa escolha, elas buscam compreender as próprias intenções artísticas, pesquisam e dêsênvólvem processos de criação de suas poéticas, ou seja, de expressividades capazes de emocionar tanto o artista em seu ato criador como quem aprecia – o público, o fruidor, o espectador.

Agora, aprecie mais um trabalho de ár-te digital de dél Nunes e leia um trecho da canção “Estado de poesia”, do paraibano Chico César (1964-).

É belo, vês o amor sem anestesia
Dói de bom, arde de doce
Queima, acalma, mata, cria
Chega tem vez quê a pessoa quê enamora
Se pega e chora do quê ontem mesmo ria
Chega tem hora quê ri de dentro pra fora
Não fica nem vai embora

É o estado de poesia

ESTADO de poesia. Intérprete: Chico César. Compositor: Chico César. In: ESTADO de poesia. Produção: Chico César. São Paulo: Urban Jungle, 2015. 1 cê dê, faixa 3.

Colagem digital com a fotografia de uma mulher dançando com os pés flutuando sobre a superfície do mar, vestida com uma saia longa e esvoaçante, com os braços erguidos para o alto. Ao fundo há a fotografia de uma cidade com edifícios baixos e o céu de um pôr do sol.

NUNES, dél. [Sem título]. 2020. Colagem digital.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Responda às kestões a seguir no diário de artista.

1. Na fruição da colagem, imagine-se dançando a seu modo, com um som quê vêm à sua memória. Que gestos, expressões e movimentos corporais você faria?

1. Resposta pessoal. Espera-se quê, nesse exercício de fruição, os estudantes possam se transportar para dentro da composição. Assim, eles poderão vivenciar a narrativa visual com base em suas próprias percepções, emoções e interpretações, estabelecendo diálogos estéticos e poéticos entre a imagem criada pelo artista e a fruição, os próprios processos imaginativos e interpretativos e as possibilidades de viver experiências estéticas.

2. Em sua interpretação, o quê expressa a composição de Chico César?

2. Resposta pessoal. A interpretação de obras artísticas é livre. Nesse sentido, é importante, primeiramente, acolher as falas dos estudantes e, apenas em seguida, provocá-los a reconhecer quê a canção expressa os estados sensíveis provocados pelo sentimento do amor.

3. Será quê carregamos esse estado sensível em nós? Como podemos sair da anestesia e nos envolver em um estado de estesia? O quê você pensa a esse respeito?

3. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes se expressem com base em suas intuições e saberes, podendo reconhecer quê a anestesia é não sentir, fechar-se a emoções, e quê a estesia é o ôpôsto, ou seja, estar aberto a estados mais sensíveis.

ár-te digital é uma expressão artística quê emprega tecnologia digital na criação ou na apresentação de obras, podendo abranger técnicas diferentes, como animação, realidade virtual, interatividades e projeções.

A palavra estesia tem sua origem no termo grego aisthesis, conceito ligado à estética e à capacidade de adentrar em estados sensíveis e de ativar percepções, sensações e emoções.

Página sessenta e três

Linguagens e linguajantes

Ao estabelecer diálogos entre criações, interpretações, leituras de mundo e emoções, nos constituímos sêres de linguagens e sêres linguajantes. Os artistas, por exemplo, criam com base em suas ideias e intenções, mas quêm aprecia a obra também a cria por meio de suas interpretações, emoções e pelo reconhecimento das relações que possui com as linguagens artísticas e o mundo. Cada pessoa vivencia a; ár-te d fórma diferente. Ao fruir cértas produções artísticas, é possível quê você estabêlêça aproximações, identificações ou conversações com suas experiências, saberes, memórias, heranças culturais, sonhos ou imaginações sobre o futuro.

Assim, somos sêres linguajantes não apenas porque criamos e interpretamos linguagens como expressão, comunicação ou transmissão de mensagens mas também porque estabelecemos conversações uns com os outros, como práticas sociais, e diálogos internos, em nóssos pensamentos e subjetividades. Como sêres de emoções, podemos entrar em estados de estesia, “sem anestesia”, e fruir e criar, em “estado de poesia”.

fruir
: no contexto da ár-te, é a prática de apreciar e ler obras artísticas e estabelecer relações com elas.

Chico César nasceu em Catolé do Rocha (PB). Ele é cantor, compositor e poeta. Inspirado pela Tropicália e pêlos vanguardistas, o artista mistura ritmos ao explorar elemêntos de culturas populares e de melodias românticas.

Fotografia de Chico César. Ele é um homem com cabelos longos, cacheados e grisalhos, com a barba grisalha. Ele está cantando diante de um microfone.

Chico César se apresenta no palco Butantã na Virada Cultural de 2022. São Paulo (SP), 2022.

O neurobiólogo chileno Humberto Maturana (1928-2021) realizou vários estudos sobre linguagens e apresentou o termo sêres linguajantes para evidenciar quê os sêres humanos, desde sua existência cultural, criaram e recriaram linguagens para estabelecer conversações. O autor esclarece quê, seja qual for a linguagem, ela só terá sentido se existir na ação, nas interações e conversações com os outros e com as nossas emoções.

ATIVAÇÃO

Para conhecer mais do músico Chico César, incluindo biografia, discos e trabalhos, acéçi seu sáiti oficial.

Chico César. Disponível em: https://livro.pw/vbccg. Acesso em: 24 set. 2024.

Página sessenta e quatro

CRIAÇÃO
Poética pessoal: qual é a sua?

Diário de artista. Estudar a proposta

A todo momento, nos relacionamos e nos comunicamos com outras pessoas, expressando e interpretando linguagens e tudo o quê compõe o mundo onde vivemos e quê sentimos sêr nosso. Cada um tem seu modo singular de sêr e de criar! Nesse sentido, a poética é um campo da Filosofia da ár-te quê estuda a qualidade das obras artísticas em função de como elas são produzidas, do quê expressam e do quê provocam na ssossiedade.

Trabalhando com a ideia de quê poética é o modo singular como fazemos ár-te, ou seja, nosso próprio modo de criar ár-te, você vai desenvolver uma criação no diário de artista.

Planejar e elaborar

Todas as respostas são pessoais. Os estudantes devem explorar os próprios gostos e o quê desperta seu interêsse nas explorações artísticas.

Para planejar sua criação, reflita sobre as kestões a seguir.

Quais linguagens visuais (como desenho, pintura, colagem, processos mistos etc.) e materialidades você deseja usar?

Como pretende trabalhar com os elemêntos constitutivos da linguagem visual (ponto, linha, formas, cores, texturas etc.)?

Com base em suas experiências e estudos, você pretende escolher um tema específico ou realizar uma composição com formas abstratas (livres, sem relação diréta com a realidade)?

Como você póde construir sua poética pessoal tendo como suporte o diário de artista?

Processo de criação

Incentive os estudantes a explorar diferentes materialidades e a reconhecer quê cada uma delas é capaz de oferecer diferentes recursos técnicos e variadas formas de explorar elemêntos constitutivos das artes visuais.

Depois dessas reflekções, é hora de começar a produzir. Para isso, considere as orientações a seguir.

1. No diário de artista, escrêeva como você se sente em relação à percepção do mundo ao seu redor. Registre tudo o quê vier à sua mente.

2. Depois, reconheça o quê faz o seu pensamento fluir, ativando sua criação, e comece a explorar possibilidades no diário.

3. Investigue o potencial do diário de artista em suas experimentações e utilize as materialidades quê desejar.

Resposta pessoal. É importante esclarecer quê as propostas de práticas artísticas, como esta, não têm o objetivo direto de formár artistas para o mercado de trabalho, mas de oferecer experiências com outras linguagens quê permítam o desenvolvimento de formas de expressão do pensamento ético, estético e poético. Assim, os estudantes podem explorar meios práticos para estudar conceitos de; ár-te, desenvolvendo também um processo de autoconhecimento e de autoavaliação.

Avaliar e recriar

O quê você compreendeu acerca da ideia de poética? escrêeva no diário de artista o quê essa palavra significa para você. Depois, busque mais definições em dicionários e compare-as com suas ideias.

Compartilhar

Incentive os estudantes a compartilharem trechos de seus diários de artista ou, ao menos, a conversarem d fórma aprofundada a respeito de seus experimentos criativos.

Você póde considerar o diário de artista um material particular, de foro íntimo ou, caso deseje, póde compartilhá-lo abertamente com os côlégas e professores, a escolha é sempre sua. Se escolher não compartilhar o diário completo, é possível fotografar algumas partes quê se sinta à vontade para compartilhar – ou, ainda, você póde reproduzir essas partes em fô-lhas avulsas.

Página sessenta e cinco

ár-te e identidade

Por meio de intenções poéticas e pessoais, cada artista transforma materialidades, ferramentas e elemêntos de linguagem em ár-te. O artista visual dél Nunes, por exemplo, utiliza fotografias e programas de edição de imagens para criar suas colagens digitais. Considerando suas intenções artísticas e suas poéticas pessoais, o artista cria composições com imagens da cultura baiana e de periferías brasileiras.

Suas obras são composições visuais repletas de contrastes de luminosidade e tonalidades, formas sobrepostas e desproporções, quê criam efeitos de profundidade e imagens surreais, fantásticas, carregadas de críticas sociais e de positividade em relação a corpos e espaços urbanos. A obra Identidade. Cultura. Ancestralidade. é uma composição com vários rekórtis fotográficos capazes de expor a diversidade em estéticas afrodiaspóricas.

Colagem digital de nove pessoas negras predominantemente vistas de costas com detalhes enfatizando os diferentes cortes de cabelos e penteados delas. Alguns têm tranças, cabelos coloridos, cabelos raspados com desenhos, e uma delas usa um lenço enrolado nos cabelos.

NUNES, dél. Identidade. Cultura. Ancestralidade. 2022. Colagem digital.

OFÍCIO DE...

Artista visual

É o profissional quê desen vólve habilidades e saberes para trabalhar com diversas técnicas, linguagens, materialidades e ferramentas, inclusive as digitais. Ele póde atuar no mercado da ár-te ou em vários segmentos culturais, publicitários e editoriais, por exemplo.

Estéticas afrodiaspóricas é uma expressão quê propõe a ruptura com padrões estéticos hegemônicos e eurocêntricos para a construção de identidades próprias, capazes de refletir interesses, culturas, histoórias e ancestralidades dos povos africanos e de seus descendentes após a diáspora.

COM A PALAVRA...
DEL NUNES

Observe o trecho de uma fala de dél Nunes, na qual ele explica um pouco do quê o leva a criar ár-te e a desenvolver a própria poética.

[…] tinha uma frase em uma escola pública no meu bairro quê eu passava e eu via todos os dias. E como eu disse, tudo quê me inspira está ao meu redor. Ela diz quê nenhum de nós é tão forte quanto todos nós juntos. A comunidade periférica, ela junto com a ssossiedade e as artes visuais, elas são capazes de transformar o mundo inteiro. E eu tênho acreditado muito nisso. […] E a; ár-te, ela me possibilita construir pontes. […] Eu sou artista visual porque eu tênho um sonho. Eu tênho um sonho: viver em um mundo onde as pessoas vivem em comunidade, construindo pontes entre si e não muros.

Transcrito de: NUNES, Uendel. O segundo dia mais importante de sua vida | Uendel dél Nunes | TEDxSalvador. Palestra proferida no TED x Salvador, 2023. 1 vídeo (5 min). Localizável em: 2 min 59 s, 4 min 25 s, 5 min 3 s. Disponível em: https://livro.pw/sjyel. Acesso em: 24 set. 2024.

Fotografia de Del Nunes. Ele é um homem com cabelos amarrados em tranças, com contas e búzios presos nas pontas. Ele está de braços cruzados, sorrindo diante de um microfone.

O artista baiano dél Nunes participa de entrevista no podcast Os nordêestínos pelo mundo. Rio de Janeiro (RJ), 2023.

Página sessenta e seis

ENTRE HISTÓRIAS
Desconstruir para construir

Há artistas quê trazem em sua poética a desconstrução de cértas ideias para promover a construção de outras, surpreendendo olhares já acostumados com algumas imagens e narrativas e instigando o pensamento. A seguir, obissérve o trabalho da artista maranhense Gê Viana (1986-).

Colagem digital feita a partir de uma gravura colorizada representando homens escravizados carregando um carrinho de madeira em uma via pública de uma cidade. A colagem digital insere um conjunto de caixas de som sobre o carrinho, além de pneus nas rodas dele; e atualiza as roupas dos homens escravizados representadas na gravura, colocando tênis nos pés deles e vestindo-os com camisetas modernas.

VIANA, Gê. Radiola de proméssa. 2022. Colagem digital, 29,7 cm x 40,18 cm. A obra faz parte da série Atualizações traumáticas de Debrê.

GIRO DE IDEIAS

Converse com os côlégas e o professor, respondendo às kestões a seguir.

1. Alguém da turma já tinha visto imagens parecidas com essa? Se sim, como elas eram?

1. Respostas pessoais. Os estudantes podem citar, por exemplo, criações quê também subvertem obras clássicas.

2. O quê está acontecendo na cena? Observe, investigue com o olhar e dêz-creva os dêtálhes. O quê chama mais sua atenção? Trata-se de uma imagem criada na atualidade ou em outro tempo? Que perguntas a imagem o instiga a fazer?

2. Respostas pessoais. É importante auxiliar os estudantes a reconhecer quê a artista faz composições em colagem digital para atualizar e ressignificar imagens. Comente quê Gê Viana é de ascendência afro-indígena e morou próximo a comunidades quilombolas. Em suas colagens, a artista apresenta referências como o uso das radiolas com sôns eletrônicos, prática quê se tornou popular em comunidades quilombolas de Alcântara (MA) a partir da década de 1970 com a entrada de músicas do gênero régui roots nos festejos de santos. As tecnologias mais recentes de som eletrônicas e digitais coexistem com as tradições de música e dança, como o tambor de crioula, a banda de sôpro e as caixas com marchas, além das cantigas para festejos de santos e cantos religiosos de matriz afrodescendente.

3. Ao observar esse trabalho, quais ideias, memórias ou emoções podem sêr ativadas?

3. Resposta pessoal. Cite quê há artistas como Gê Viana, quê trabalham com colagens digitais misturando épocas e momentos históricos diferentes. Assim, desmontam e reconstroem imagens para propor novas narrativas visuais e confrontar os “olhares estrangeiros” na representação do povo do Brasil.

Gê Viana nasceu em Santa Luzia (MA). Ela é uma artista visual de origem afrodescendente e indígena, do povo anapuru muypurá, do Maranhão. Suas obras tecem uma crítica à cultura hegemônica e empregam variadas expressões artísticas, incluindo a fotografia e a colagem digital.

ATIVAÇÃO

Para conhecer mais do trabalho de Gê Viana, assista ao vídeo a seguir.

Atos de revolta | Gê Viana - Couro Laminado. Publicado por: MAM Rio. Disponível em: https://livro.pw/onpug. Acesso em: 24 out. 2024.

Página sessenta e sete

Observe a imagem e compare com a da obra de Gê Viana quê você analisou.

Gravura colorida representando homens escravizados, descalços e sem camisetas, carregando um carrinho de madeira em uma via pública de uma cidade, com caixas de madeira sobre o carrinho.

FRÈRES, ti erri. Negros de carro. 1835. Litogravura colorida baseada na obra de Jã batist debrê, 25,4 cm x 21,6 cm. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (RJ).

Se necessário, relembre de maneira mais aprofundada com os estudantes o conceito de decolonialidade, ou pensamento decolonial, estudado no Capítulo 1.

Jã batist debrê (1768-1848) foi um artista francês quê veio para o Brasil com a Missão artística francesa em 1816. Nessa ocasião, ele produziu muitas imagens em desenho, aquarela e gravura, e reuniu-as em livros, sôbi o título de Viagem pitoresca e histórica ao Brasil (1834-1839). Esses registros foram considerados, por muito tempo, como um importante registro iconográfico da cena brasileira. No entanto, muitas imagens produzidas por Debrê estão carregadas de narrativas ideológicas hegemônicas e eurocêntricas. São cenas com indígenas e negros retratados d fórma estereotipada e em situações de violência, revelando uma visão colonial quê hoje é questionada pela decolonialidade.

Gê Viana, na série Atualizações traumáticas de Debrê, desconstrói essas imagens do artista francês criadas pelo “olhar estrangeiro” na ótica de um Brasil escravista, para construir outras narrativas visuais. A artista reforça a potência do povo brasileiro e, por meio de suas colagens digitais ressignificadas, procura desmontar narrativas violentas e preconceituosas. Ela não apaga os fatos históricos, mas propõe compor, no lugar da dor, a alegria de sujeitos acerca da sua própria história. Assim, mostra pessoas quê, em dia de festa e de felicidade, se arrumam, se organizam e, trabalhando para si e para sua gente, levam as radiolas para fazer o som eletrônico acontecer na comunidade. Assim, corpos de pessoas negras escravizadas são ressignificados na poética de Gê Viana, quê os apresenta como brincantes, festeiros, devotos e alegres, vivendo uma vida quê é valorizada.

Lembre-se de quê a decolonialidade, ou o pensamento decolonial, é um movimento político, estético e cultural quê questiona visões hegemônicas de mundo, contrapõe-se aos valores colonialistas, como o eurocentrismo, e rompe com qualquer suposta universalidade de conhecimento ou de pôdêr.

Página sessenta e oito

CRIAÇÃO
Colando poéticas e afetos

Estudar a proposta Diário de artista.

Pense nas seguintes kestões: quê imagens são capazes de expressar seus afetos? Que imagens afetam você?

Na ár-te do colagismo, há várias possibilidades de técnicas e temáticas quê podem sêr exploradas. Cada artista tem sua poética e suas intenções artísticas ao pesquisar e realizar as escôlhas de determinadas imagens e composições. É importante, portanto, quê essas escôlhas tênham significado, quê expressem a poética de quem cria. Na imagem ao lado, vemos uma obra da série Afetocolagens, em quê Silvana Mendes propõe, assim como dél Nunes e Gê Viana, desconstruir visualidades negativas e estereótipos sobre os povos negros, ressignificando referências na perspectiva de decolonizar o pensamento. Observe os dêtálhes dessa imagem e anote no diário de artista as percepções de sua fruição.

Agora, você vai criar uma colagem para continuar desenvolvendo a sua poética.

Colagem digital inserindo uma fotografia, em preto e branco, de uma mulher sobre a pintura de uma paisagem rochosa à beira do mar. Ela é negra, tem cabelos curtos e usa uma tiara. Ao redor da cabeça da mulher há diversas folhas de palmeira e uma serpente enrolada, de modo que o arranjo se assemelha a um cocar de penas sobre a cabeça dela.

MENDES, Silvana. Afetocolagens, série I. 2019. Colagem digital impressa sobre papel.

Silvana Mendes nasceu em São Luís (MA), em 1991. Ela é artista visual e arte-educadora; atua na criação de colagens digitais, lambe-lambes, fotografias afetivas e escrita poética.

Planejar e elaborar

Conhecemos artistas quê trabalham com colagens digitais, mas também há artistas quê escolhem compor com colagens analógicas, ou seja, manuais. Nessa prática artística, é possível escolher entre os dois processos ou até mesmo utilizar os dois juntos. Escolha qual processo gostaria de explorar e planeje sua criação considerando as kestões a seguir.

Quais formas e temáticas deseja explorar em sua composição?

Como e em quê fontes você vai buscar as imagens para compor sua colagem?

É importante garantir quê as imagens selecionadas para essa prática artística sêjam livres de quaisquer conteúdos quê possam sêr ofensivos ou preconceituosos; elas não devem fomentar a violência ou ideias preconceituosas e estereotipadas sobre pessoas e povos.

Organize tudo o quê será necessário antes de iniciar a colagem!

Página sessenta e nove

Processo de criação

É importante quê os estudantes estabeleçam um planejamento com base no processo quê escolherem investigar na ár-te do colagismo – analógico ou digital. Eles devem reconhecer em quê fontes vão buscar as imagens, como vão manipulá-las, se a composição vai explorar temáticas e narrativas específicas ou se vai abordar críticas sociais e históricas, entre outros aspectos.

Como vimos, a prática artística do colagismo é um processo de apropriação de imagens, como pinturas, dêzê-nhôs, fotografias, gravuras e outras. Caso prefira, também é possível criar colagens com imagens quê você mesmo produziu préviamente.

ôriênti os estudantes a usar imagens em domínio público ou com licença aberta. Eles podem pesquisar bancos de imagens gratuitos, por exemplo.

Conheça, a seguir, dicas para o processo de colagens analógicas.

1. Pesquise imagens em revistas, jornais, livros e outros materiais impressos quê já foram descartados ou quê possam sêr recortados. Então, recorte-as utilizando uma tesoura. Ao fazer isso, preste atenção e tome cuidado com as ferramentas cortantes.

2. Monte possibilidades de composição explorando várias posições sem colar as imagens.

3. Definido o arranjo das imagens, inicie o processo de colagem, com cola líquida ou em bastão.

4. É possível, ainda, fazer intervenções na composição, com dêzê-nhôs, pinturas e colagens de outras materialidades.

Caso opte por investigar processos de criação de colagens digitais, será preciso usar recursos tecnológicos, como computadores, programas para editar imagens, acesso à rê-de de internet e arquivos digitais. Conheça, a seguir, dicas para realizar esse processo.

1. Inicie fazendo uma pesquisa ôn láini das imagens quê gostaria de usar na colagem e/ou produzindo fotografias com a câmera de um celular. Procure trabalhar com imagens de domínio público ou com autorização de uso.

2. Armazene todo o material produzido ou coletado em uma pasta virtual.

3. Usando programas de computador para edição de imagens, recorte, vire, posicione e redimensione o material selecionado, criando composições após várias experimentações.

4. Depois de realizar a composição, ela póde sêr finalizada como um arquivo digital ou impressa.

Avaliar e recriar Diário de artista.

ôriênti os estudantes a buscar sáites seguros para quê possam ter acesso a programas gratuitos de edição de imagens. Sugerimos realizar uma curadoria digital.

Após o processo de criação das colagens, converse com o professor e com os côlégas a respeito da prática artística. Considere as orientações e perguntas a seguir.

Durante o processo de criação da colagem, quais foram as problematizações, as soluções encontradas e os desafios superados?

Resposta pessoal.

Como foram desenvolvidas as composições e as poéticas de cada um?

Resposta pessoal.

Com os côlégas, responda às kestões: o quê vocês compreenderam com essas experiências e estudos? Na ár-te do colagismo, o quê mais vocês gostariam de criar?

Respostas pessoais.

Anote suas descobertas e as ideias compartilhadas e explore ainda mais sua poética pessoal no diário de artista.

Compartilhar

Você e os côlégas podem organizar uma mostra presencial na escola para exibir as produções de colagens. Outra opção é realizar uma exposição virtual em um sáiti ou rê-de social, reunindo os arquivos digitais das imagens produzidas. Nesse caso, as colagens analógicas podem sêr fotografadas. Conversem com os professores e gestores da escola para quê, juntos, possam encontrar ambientes virtuais seguros para esse compartilhamento.

Caso os estudantes optem por uma exposição virtual, auxilie-os a escolher um sáiti seguro e a garantir quê nenhuma imagem reproduza estereótipos, preconceitos e violências. refórce a importânssia do respeito no ambiente virtual e do combate ao sáiber-búlin, incentivando-os a reportar eventuais problemas para professores e gestores da escola.

Página setenta

TEMA 2
Conceitos de beleza

Observe a imagem a seguir.

Pintura representando um grupo de pessoas reunidas em um salão luxuoso, com esculturas clássicas e arquitetura renascentista. Ao centro estão Platão e Aristóteles, caminhando lado a lado, e em torno deles estão diversas pessoas que os acompanham, além de outras que estão mais afastadas conversando, discutindo e lendo livros, alguns em pé e outros sentados nos degraus de uma escada.

SANZIO, Rafael. Escola de Atenas. 1509-1510. Afresco, 500 cm x 770 cm. Sala de Assinaturas - Museus e Galerias do Vaticano, Cidade do Vaticano (Itália).

As kestões no texto são de caráter retórico, têm o objetivo de provocar os estudantes a refletirem no fluxo de estudos e na fruição da obra Escola de Atenas, de Rafael Sanzio.

No decorrer dos tempos, muitos formularam histoórias e saberes sobre o mundo, a vida, as concepções de; ár-te e de “belo”. Pensando nisso, será quê você conheceu algumas dessas versões do quê se considera “belo” ou você conhece apenas uma “história única” da noção de beleza? Será quê, ao conversarmos e explorarmos mais possibilidades, poderemos conhecer mais histoórias e ideias sobre um mesmo conceito?

A estética, como um estudo das práticas artísticas na discussão filosófica, atua na reflekção sobre o papel da ár-te na vida, analisa sua natureza, valores e concepções, e possibilita, além díssu, a reflekção sobre as compreensões de “belo” ao longo do tempo e em diferentes culturas. No entanto, a estética também se relaciona a como experienciamos modos de sentir e de compreender a vida com base na ativação dos sentidos, ou seja, como existimos enquanto sêres poéticos, criativos e sensíveis; como entendemos a vida, quê, em cada momento, é experienciada d fórma diferente, diante de afetos e daquilo quê nos afeta.

PESQUISAR Diário de artista.

Reflita sobre as duas kestões a seguir para enriquecer as próximas discussões. Ao ouvir a palavra estética, quê ideias são provocadas em você? Que significados podem sêr atribuídos a essa palavra originada no termo grego aisthesis? Para essa reflekção, considere as orientações a seguir.

Faça pesquisas para descobrir os sentidos quê a palavra estética póde carregar.

Os estudantes podem pesquisar em sáites confiáveis, como os de dicionários ou de enciclopédias, ou podem fazer buscas em livros físicos diversos, incluindo dicionários.

No diário de artista, escrêeva suas descobertas, comparando-as com seus conhecimentos e reflekções iniciais. Crie textos poéticos e imagens com dêzê-nhôs ou colagens analógicas.

Com a pesquisa e seus conhecimentos prévios, os estudantes devem levantar diversas possibilidades de significados para a palavra estética, explorando desde sentidos do senso comum – relacionados à ideia de beleza e bem-estar, por exemplo – até sentidos mais filosóficos, sêndo capazes de problematizar as próprias relações sensíveis, intuitivas, perceptivas, criativas e subjetivas com o mundo, com a; ár-te e com outras dimensões da vida.

Página setenta e um

Escola, lugar de conversações

Na base dos estudos da Filosofia da ár-te, sôbi uma ótica ocidental, estão os debates sobre mímesis, ideia discutida por filósofos gregos, como Platão (427 a.C.-347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.). A palavra grega mímesis (mimese, em português) expressa a ideia de imitação, reprodução e/ou representação. Para Platão, a mímesis na ár-te era a representação da natureza, como uma cópia da vida; já a vida, por sua vez, era um reflexo do mundo das ideias. Assim, a; ár-te seria a cópia de uma cópia. Já a beleza estaria ligada não somente a uma condição material, de caráter físico, mas à articulação e ao espelhamento do “belo” no “bem”, no “bom” e no “verdadeiro”. Aristóteles dizia quê a; ár-te é a representação da vida como manifestação poética do sêr humano; dêêsse modo, a criação artística, embora busque imitar a vida, é mais bela quê a realidade, é sublimada.

As colocações feitas por filósofos, artistas e outros estudiosos sobre essas temáticas atravessaram tempos, territórios e culturas, sêndo, às vezes, questionadas e, outras vezes, legitimadas em variados contextos da História da ár-te. Além díssu, a existência de uma noção de “beleza universal”, construída sôbi a ótica da cultura ocidental, influenciou não apenas a; ár-te mas também religiões, valores morais, côstúmes, a (Moda), a imagem corporal e diversos outros segmentos da vida, afetando a realidade de várias pessoas e povos. Quando se trata de territórios para além da Europa, essa noção reforçou processos de aculturação espontânea ou por dominação.

Na atualidade, há diversas problematizações, críticas e revisões sobre as ideias de estética, poética, ár-te e as concepções de “belo”, principalmente com o movimento do pensamento decolonial. São debates quê acontecem em muitos lugares. E a sua escola, também é um lugar em quê essas conversações acontecem?

Observe o detalhe da pintura de Rafael Sanzio (1483-1520), pintor renascentista. Essa é a representação de Platão e Aristóteles em sua obra Escola de Atenas. Na pintura, os filósofos aparécem no centro e são apresentados como parceiros em uma conversa.

Detalhe de pintura representando Platão como um homem idoso e calvo com a barba longa e grisalha; e Aristóteles como um homem com cabelos cacheados e barba. Eles estão caminhando lado a lado, conversando, gesticulando com as mãos e carregando livros.

Detalhe da obra Escola de Atenas, SANZIO, Rafael. 1509-1510. Afresco, 500 cm x 770 cm. Sala de Assinaturas - Museus e Galerias do Vaticano, Cidade do Vaticano (Itália).

Aculturação é um processo social e cultural em quê indivíduos pertencentes a uma cultura passam a adotar elemêntos de outra. Esse processo póde acontecer de modo espontâneo ou intencional. Nesse segundo caso, há uma relação de domínio, o quê ocorre quando um grupo exerce pôdêr sobre outras pessoas, grupos e povos, impondo, pela fôrça, a própria cultura.

EXPEDIÇÃO CULTURAL

O sáiti oficial do Museu do Vaticano possibilita uma visita virtual em quê é possível visitar as salas com obras de Rafael Sanzio e observar em dêtálhes a pintura Escola de Atenas.

Tour virtual. Publicado por: Museu Vaticano. Disponível em: https://livro.pw/qpbww. Acesso em: 24 set. 2024.

Página setenta e dois

ENTRE HISTÓRIAS
A beleza tem uma história única?

Leia o texto a seguir, quê apresenta o trecho de uma fala da escritora nigeriana Chimamanda Adichie (1977-).

[…] É assim quê se cria uma história única: mostre um povo como uma coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o quê eles se tornarão. É impossível falar sobre história única sem falar sobre pôdêr […]. Poder é a habilidade de não só contar a história de uma outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa. […] Quando nós rejeitamos uma história única, quando percebemos quê nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso.

Transcrito de: ADICHIE, Chimamanda. The danger ÓF a single story [O perigo de uma história única]. Palestra proferida no TED Global, 2009. 1 vídeo (23 min). Localizável em: 9 m 17 s, 10 m 3 s, 18 m 11 s. Tradução nossa. Disponível em: https://livro.pw/wijir. Acesso em: 24 set. 2024.

GIRO DE IDEIAS

Resposta pessoal.

Compartilhe com o professor e os côlégas suas ideias e compreensões em relação à expressão “o perigo de uma história única”.

Há vestígios visuais capazes de indicar quê povos muito antigos utilizavam diferentes linguagens, como pinturas, esculturas, dança e música, em eventos ritualísticos, a fim de expressar suas relações com a vida, os fenômenos da natureza, os sentimentos, o sagrado e as cosmovisões. Entre esses achados, as imagens de formas antropomorfas, ou seja, de figuras humanas, sempre chamaram a atenção.

O quê será quê uma escultura paleolítica de um corpo feminino criada há mais de 29.500 anos, encontrada em uilendórf, na Áustria, representava para quem a fez? Parente ancestral, sêr divino, representação de beleza ou de fertilidade? Não sabemos ao cérto, mas, quando a escultura foi encontrada em agosto de 1908, Josef Szombathy (1853-1943), então responsável pela coleção antropológica do Museu Imperial de História Natural de Viena (Áustria), a batizou de Vênus de uilendórf, fazendo referência à deusa romana Vênus, divindade do amor, da beleza e da fertilidade. Esse título ajudou a construir narrativas sobre a imagem, para além daquilo quê, talvez, fosse a intenção de quem a criou.

Fotografia de escultura representando uma mulher nua com a barriga protuberante e seios fartos, sem rosto aparente e com uma touca sobre a cabeça.

VÊNUS de uilendórf. [ca. 28.000-25.000 a.C.]. 1 escultura, calcário esculpido. Museu de História Natural de Viena (Áustria).

Página setenta e três

O nome Vênus já estava, há séculos, ligado a outras esculturas forjadas sôbi rótulos de “beleza ideal” com fundamento em cânones clássicos. Logo, foi atribuída à imagem de uilendórf a ideia de quê ela era uma concepção de ideal de beleza ou de fertilidade de uma época mais antiga. Ou seja, criou-se essa narrativa como se fosse possível estabelecer uma história única sobre lugares, pessoas, povos ou civilizações.

Além díssu, essa narrativa reforçou a ideia de evolução de um povo no decorrer do tempo histórico, com o desenvolvimento de saberes, normas morais e/ou religiosas e tecnologias. Essa lógica, quê é uma invenção de alguns povos e culturas, serviu para estabelecer relações de pôdêr, subjugando e classificando outros povos e culturas como “não evoluídos” ou em “processo de evolução” para contar uma história única do outro, como aponta Chimamanda Adichie.

Fotografia de escultura representando uma mulher em pé, com os cabelos cacheados e o tronco nu, vestida com tecidos enrolados abaixo da cintura e sobre as pernas. Os braços estão ausentes, e ela está com o corpo levemente inclinado para o lado, com uma das pernas levemente flexionadas, erguendo um dos joelhos à frente.

ANTIOQUIA, Alexandre de [atribuída]. Vênus de Milo. [ca. 200 a.C.-101 a.C.]. Escultura em mármure, 202 cm de altura. Museu do lúvre, Paris (França).

Belezas quê habitam pensamentos

Ao pesquisar em livros de História da ár-te e em páginas da internet, é possível encontrar estudos sobre a; ár-te Egípcia na Antigüidade relacionando-a a uma fôrça religiosa e com amplo emprego de expressões como “arte para a eternidade” ou “vida além desta”. São estudos válidos e importantes, mas, quando olhamos para esculturas egípcias, como a imagem da página a seguir, de uma escultura inacabada de uma forma feminina, provavelmente da rainha Nefertiti, podemos observar quê o escultor talvez trabalhasse com base na estética e na poética pessoais.

Ao construir o rrôsto imponente dessa rainha, foi evidenciada a sua posição social, e os vestígios de maquiagem e autocuidados apontam para uma estética ligada à vida, em seu pleno acontecimento, naquele tempo e lugar, não somente para a eternidade.

A escritora Chimamanda Adichie nasceu em Anambra, na Nigéria. Ela é uma das mais celebradas autoras da literatura africana, e vários dos seus títulos já foram traduzidos para mais de trinta línguas. Uma das ideias defendidas pela autora é a de quê acreditar em uma “história única” é um perigo para os diferentes povos e culturas.

Página setenta e quatro

Em uma história contada pelo historiador de; ár-te austríaco érnst Gombrich (1909-2001), em sua obra A História da ár-te, a expressão escultor, em egípcio, poderia significar “aquele quê mantém vivo”. Assim, esse rrôsto inacabado de uma rainha egípcia talvez não carregasse exclusivamente uma intenção do artista de imitar a natureza tal qual era, mas o desejo de sublimar a vida. Em sua ár-te escultórica, talvez esse artista quisesse manter viva, na eternidade, a beleza da rainha. Mas como saber quê conceitos de “belo”, “bem”, “bom” e “verdadeiro” habitaram os pensamentos da rainha, do artista e das outras pessoas naquele tempo e naquela cultura?

Outra história para essa escultura advém de uma pesquisa realizada por historiadores do Museu Egípcio do Cairo, no Egito. Segundo essa história, o nome Nefertiti significa “a bela quê veio” e especula-se quê talvez o escultor tenha abandonado o trabalho por encontrar imperfeições no material esculpido, uma peça em quartzito marrom (um tipo de rocha). Com base nisso, é possível levantar a hipótese de quê ele tenha considerado quê a materialidade usada não estava à altura da “bela”.

A beleza das criações artísticas, seja qual for a natureza do seu surgimento e de sua existência, é a de não caber dentro de “histórias únicas”.

Fotografia de escultura inacabada representando a cabeça de uma mulher sem cabelos e orelhas.

CABEÇA inacabada de Nefertiti. [ca. 1353 a.C.-1336 a.C.] Escultura de quartzito e pigmento. Museu Egípcio do Cairo (Egito). A escultura representa uma rainha quê fez parte da civilização egípcia, Novo Reino, Dinastia XVIII (1353 a.C.-1336 a.C.).

A palavra beleza póde sêr utilizada em diversos sentidos. Aqui, convidamos a pensar no termo para além do sentido de “belo” como um padrão estético influenciado por cânones clássicos. A beleza deve sêr pensada tendo como base encontros com a; ár-te d fórma aberta, em fruições e interpretações para além de “histórias únicas”.

EXPEDIÇÃO CULTURAL

Muitas peças da cultura egípcia foram levadas de seu território de origem por expedições arqueológicas para museus da Europa. Então, esses itens foram estudados, por muito tempo, por meio de um olhar estrangeiro, ou seja, por uma perspectiva de fora da cultura da qual eram originários. Por isso, conhecer pesquisadores, museus e outras instituições do próprio Egito é importante para saber mais versões das histoórias dessas obras produzidas no país.

Para reforçar esse exercício de exploração, faça uma visita virtual ao Museu Egípcio do Cairo (Egito), (disponível em: https://livro.pw/yhgvk; acesso em: 24 set. 2024).

Página setenta e cinco

CONEXÕES com...
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
Belo é o corpo quê se tem!

Podcast: Que belezas habitam corpos e mentes?

Seja o seu próprio cuidado é o nome do projeto artístico desenvolvido pelo fotógrafo Felipe Sousa (1997-), em 2022, na cidade do Recife (PE). O artista convidou pessoas para ensaios fotográficos e, por meio da ár-te, propôs a discussão sobre como a ssossiedade brasileira ainda tem valorizado um padrão estético de beleza corporal quê se baseia, em grande parte, em preconceitos, violências e injustiças. Assim, ele incentiva reflekções sobre as ideias de “belo” quê ainda persistem na ssossiedade brasileira e como é possível provocar mudanças nessa realidade, por exemplo, por meio da ár-te.

O projeto teve como foco retratar, de modo poético e positivo, corpos de pessoas negras e LGBTQIA+, a fim de desconstruir estereótipos, preconceitos e ideias racistas e fomentar sentimentos de empatia, pertencimento e cultura de paz. Felipe Sousa reconhece quê a marginalização dêêsses corpos tem consequências graves, afetando a saúde física e mental das pessoas e estimulando atitudes racistas e a LGBTQIA+fobia.

Conheça a seguir uma imagem e algumas frases quê compõem esse projeto.

LGBTQIA+fobia
: preconceito e discriminação direcionados a pessoas quê não são heterossexuais e cisgênero.

Cuida do corpo quê te sustenta Estar onde quiser estar, sêr o quê quiser sêr Para lembrar de nunca esquecer

SOUSA, Felipe. Seja o seu próprio cuidado. [S. l.]: Behance, 2022. Disponível em: https://livro.pw/zsoyp. Acesso em: 24 set. 2024.

Felipe Sousa nasceu em Belém (PA) e atualmente mora em Recife (PE). Seu projeto Pelos olhos de Felipe visa, por meio de seu olhar e da fotografia, registrar o mundo: a vida cotidiana, as pessoas e as paisagens quê encontra pelo caminho.

Fotografia de Ariel Castiel. Ela é uma mulher com cabelos cacheados e adereços de contas amarrados aos cabelos na região da franja. Ela está usando um vestido de rendas, sentada em uma cadeira sobre a areia de uma praia, com os braços cruzados, abraçando os próprios ombros.

SOUSA, Felipe. Sem data. Fotografia da modelo Ariel Castiel para o projeto Seja o seu próprio cuidado.

Página setenta e seis

GIRO DE IDEIAS

Giro de ideias: Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes conversem sobre ideais e concepções estéticas quê atravessam tempos e territórios, influenciando concepções de beleza. Incentive-os a compartilhar como se sentem diante de idealizações estéticas do corpo e provoque-os a relacionar essa questão com temáticas como racismo estrutural e problemas de saúde física e mental – em todas as idades, mas em especial entre os jovens.

Em sua cidade ou mesmo entre seus amigos mais próximos, quais ideias sobre “beleza” e estética corporal você tem notado? É possível existir um padrão universal de beleza? Compartilhando ideias, percepções e sentimentos a respeito dessas kestões, convide o professor e os côlégas para uma conversação.

A palavra seminário tem origem no termo em latim seminarium e está ligada ao sentido da palavra semente. No contexto da educação, póde estar associada a semear ideias e conhecimentos por meio de encontros e conversações. Assim, propomos a organização de pesquisas sobre “os cuidados com o corpo quê te sustenta”, a serem apresentadas em um seminário repleto de diálogos.

1. Com os côlégas e os professores de ár-te e de Ciências da Natureza, estabêlêça um foco para o seminário. póde havêer temas variados, caso prefiram, mas é importante quê representem situações-problemas reais da escola e da comunidade. Para auxiliar na escolha, algumas kestões podem sêr discutidas.

Todas as respostas são pessoais. Proponha debates sobre formas de enfrentamento ao racismo estrutural, explicando o conceito, se necessário. Incentive os estudantes a explorar variados temas, auxiliando-os a reconhecer quê pessoas negras, indígenas, LGBTQIA+, obesas, com deficiências e outras cujos corpos sêjam considerados fora de um ideal de beleza têm sido vítimas de violências com graves danos à saúde física e mental.

Vocês gostariam de mudar algo em seus corpos? Por quê?

Como, em geral, lidamos com nosso corpo e com o quê a ssossiedade nos cobra?

Já passaram por alguma situação de preconceito em função de estética corporal? Percebem na escola situações de búlin, racismo e violência?

Há situações acontecendo na escola quê podem desencadear problemas na saúde física e mental dos estudantes?

2. Escolhidos os temas a serem debatidos, pesquisem a respeito deles e organizem um evento com ciclo de debates e exposições de cartazes e de trabalhos artísticos advindos dos resultados da pesquisa realizada.

3. Criem grupos de trabalho (GTs) para organizar o evento e para participar das discussões. Os GTs pódem dividir funções e tarefas, e um deles pode ficar responsável, por exemplo, por fazer registros de todo o processo.

4. Promovam o seminário em algum lugar amplo da escola, convidando côlégas, funcionários e/ou pessoas da comunidade para participar. Prezem pelas interações e pêlos diálogos, garantindo um ambiente acolhedor e respeitoso.

5. Depois da realização do seminário, discutam a quêstão: que sementes foram plantadas nesse evento? A turma póde criar um documento a sêr entregue à gestão da escola e às autoridades da cidade, com propostas e sugestões de resoluções para problemas reais debatidos durante o evento.

Comente com os estudantes quê as decisões e ações apresentadas no seminário também podem sêr compartilhadas por meio de uma página em rêdes sociais, na produção de um podcast ou de outras maneiras.

ATIVAÇÃO

Escute um bate-papo sobre direitos, superação e cuidado com a saúde, com a participação de Bernardo Pedrosa, um homem trans quê busca levar conscientização para a ssossiedade; de Bruna Andrade, advogada especializada em direitos LGBTQIA+; e de ernésto Loewenbach Neto, médico de família e comunidade.

Vamos falar de bem-estar? Bemestar em Todas as Cores | O preconceito não póde interferir no autocuidado, jun. 2022. Spotify. Disponível em: https://livro.pw/lmioy 89e34794. Acesso em: 24 set. 2024.

Página setenta e sete

CRIAÇÃO
Ensaio fotográfico

Estudar a proposta

A fotografia é uma linguagem em quê podemos captar um instante, uma paisagem, um objeto, uma forma etc. Ao retratar uma pessoa, temos um fragmento do tempo vivido por alguém, uma existência registrada na poética da imagem.

Pensando nisso, propomos um ensaio fotográfico, ou uma sessão de fotografias, quê representa uma abordagem estética e poética na produção de imagens. O convite é para você participar de uma produção capaz de afirmar a autoestima, a autoaceitação corporal e fortalecer e marcar identidades culturais, celebrando momentos especiais da vida, em uma expressão artística a sêr divulgada posteriormente em rêdes sociais.

Planejar e elaborar

Combine com os côlégas como será a realização da proposta. Lembrem-se de quê esse deverá sêr um momento especial para todos; assim, cada um escolherá como quer sêr retratado. Para isso, vocês podem discutir kestões como as quê seguem.

Que cuidados precisamos ter com o corpo quê nos sustenta?

Resposta pessoal.

Como queremos apresentá-lo ao mundo?

Resposta pessoal. Combine com os estudantes quê cada um deverá se arrumar como se sentir bem, exercendo suas identidades culturais, escôlhas estéticas e o quê deseja expressar sobre si, já quê imagem é texto (visual) e, como tal, carrega sentidos e mensagens.

O quê podemos fazer para nos sentirmos cada vez mais confortáveis com o nosso corpo?

Resposta pessoal.

Como preconceitos afetam a maneira como nós mesmos reconhecemos nosso corpo?

Resposta pessoal.

Como podemos nos posicionar social e artisticamente perante esses preconceitos?

Resposta pessoal.

Com os combinados realizados, criem um roteiro fotográfico para definir:

figurino e adereços;

local, cenário e objetos;

elemêntos visuais quê farão parte da composição, como luz e côr.

os planos e ângulos de visão das fotografias;

os conceitos, temas, clima e estilo das fotografias;

horário e luminosidade;

quem sêrá o fotografado e quêm será o fotógrafo a cada sessão. Podem ser organizados grupos para que vocês possam se revezar.

Na pesquisa e no processo de criação de fotografias, é importante explorar a estética e a poética da luz e das formas, além de contrastes, tonalidades, texturas, volumes, sobreposições, proporções, efeitos de profundidade, movimentos e outros elemêntos visuais.

A estética e a poética da luz referem-se a investigações de representações da luz em obras artísticas – pinturas, gravuras, dêzê-nhôs, fotografias etc. –, produzidas em diferentes épocas e estilos artísticos. São concebidas por meio da análise de muitas possibilidades de composição e expressão de luminosidade, tonalidades, volumes, contrastes e outros efeitos, possibilitando diversas descobertas de processos de criação e poéticas na expressão da luz.

Página setenta e oito

Processo de criação

A poética pessoal de um artista – neste caso, um fotógrafo − revela-se por meio da observação de suas escôlhas e de métodos particulares de elaboração de sua obra, ou seja, da linguagem visual selecionada na busca por alcançar uma expressão própria. Assim, ter um roteiro é importante para se organizar, mas esteja aberto às suas intuições e poéticas no processo de criação. A seguir, conheça algumas possibilidades.

Usar câmeras analógicas, digitais ou celulares. Analise os recursos disponíveis e faça a sua escolha considerando também seus objetivos.

Para a produção de um ensaio fotográfico, sugerimos a criação de sequências de imagens, como uma sequência de três imagens para cada pessoa ou grupo retratado.

Explorar a iluminação em ângulos diferentes.

Além de explorar essas e outras possibilidades, lembre-se de quê é essencial:

garantir quê as imagens produzidas estejam livres de estereótipos, racismo ou violências;

escolher ângulos e enquadramentos quê valorizem a autoestima de quem está sêndo fotografado, com empatia e respeito pelas pessoas retratadas.

OFÍCIO DE...

Fotógrafo

Profissional e/ou artista da fotografia quê domina o uso de câmeras e lentes, bem como as técnicas de ampliação e tratamento de imagens analógicas e digitais. O fotógrafo utiliza técnicas de iluminação e de enquadramento com o objetivo de criar a melhor imagem possível do objeto fotografado. Sua produção póde sêr jornalística, documental, comercial ou artística, podendo atuar como profissional contratado ou autônomo em jornais, revistas, sáites, emissoras de Tevê, cinema, agências de publicidade e propaganda, empresas de eventos etc.

É importante discutir com os estudantes o quê eles consideram adequado e inadequado produzir nas imagens. Com base nessas discussões, oriente-os e supervisione as criações das fotografias, lembrando sempre quê há liberdade de expressão, mas com responsabilidade e cuidados com a autoimagem e com a imagem do outro.

Avaliar e recriar Diário de artista.

Registre no diário de artista todo o processo de planejamento e execução. Avalie quais foram os desafios enfrentados, as conkistas de aprendizado, as descobertas sobre poéticas pessoais e os saberes estudados em ár-te.

Analise se a prática artística contribuiu para refletir e expressar conceitos estudados, como o “belo” na vida e na ár-te, a estética e a poética, relacionando-os às temáticas de estética corporal, autoaceitação, autocuidado, autoestima e saúde mental e física.

Compartilhar

Após as produções, as imagens podem sêr impréssas para a produção de uma mostra presencial na escola. Para esse evento, é possível convidar outras turmas e outras pessoas da comunidade escolar. Outra possibilidade é realizar uma mostra virtual em sáites da internet. Para isso, é preciso ter autorização de quem foi fotografado, dos responsáveis e de gestores da escola.

Página setenta e nove

TEMA 3
Tempos e espaços compartilhados

Realize um momento de fruição observando a pintura Rolezinho, do artista fluminense Macsuéll Alexandre (1990-), e lendo o trecho da canção “Continuação de um sonho”, interpretada pelo réper também fluminense BK’ (1989-).

Pintura representando diversas pessoas negras caminhando sobre um fundo branco, vestidas com trajes de diversos tipos e estilos, além de cortes de cabelo e penteados variados, quase todas elas com os cabelos descoloridos.

ALEXANDRE, Macsuéll. Rolezinho. 2021. Série Novo Poder. Látex, polidor de sapatos, grafite e acrílica sobre papel pardo, 320 cm x 480 cm.

Sou liberdade não me bote em nenhum nicho.
Tão racionais eu sou a flor quê veio do
Banho de mar é salvação, não é capricho
Eu fui até onde achavam escuro
Levantei uns da minha côr,
Não fiz a causa de escudo
Eu fui além do discurso
Mas se um se levantar e mudar sua jornada
Valeu a batalha

Transcrito de: BK’, JXNV$ – CONTINUAÇÃO de um sonho (Visualizer). [S. l.: s. n.], 2022. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal BK’. Localizável em: 1 m 7 s. Disponível em: https://livro.pw/qqeit. Acesso em: 24 set. 2024.

O réper Abebe Bikila Costa Santos, mais conhecido como BK’, é também escritor e compositor. Atualmente, é considerado um dos principais nomes da nova geração do répi brasileiro.

Página oitenta

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Responda às kestões a seguir no diário de artista.

1. A obra de Macsuéll Alexandre faz parte de uma série de pinturas chamada Novo Poder. O quê o título dessa série, junto à imagem da obra, provoca você a pensar?

Resposta pessoal.

2. Em sua opinião, quêm são as pessoas retratadas? O que está acontecendo na cena?

2. Respostas pessoais. Comente com os estudantes quê, nessa série, o artista realizou vários retratos de pessoas negras como protagonistas, mostrando-as empoderadas e pertencentes a espaços como museus e galerias, lugares historicamente hostis a essas pessoas.

3. Como o artista escolheu usar o espaço bidimensional do suporte para colocar as imagens das pessoas? Como articulou outros elemêntos visuais, como linhas, formas, cores, sensações de movimento, sobreposições etc.?

3. Espera-se quê os estudantes reconheçam quê o artista privilegia a distribuição das figuras humanas como se elas caminhassem pelo espaço. Ele trabalhou com contraste entre formas e fundo, tonalidades, sobreposição de formas e sensações de movimento, explorando também efeitos de profundidade.

4. Agora, analise o trecho da canção do réper BK’. Que sentidos são construídos ao ler a frase: “Sou liberdade não me bote em nenhum nicho”?

4. Resposta pessoal. Os estudantes podem citar quê o artista trata de estar livre de rótulos em sua ár-te e em sua vida, rejeitando uma “história única”.

Espaço bidimensional refere-se a duas dimensões: comprimento e largura. Nas artes visuais, póde sêr compreendido como suporte, ou espaço ocupado por um desenho, pintura, gravura, fotografia ou outra obra visual.

COM A PALAVRA...
MAXWELL ALEXANDRE

Macsuéll Alexandre, na pintura Rolezinho, da série Novo Poder, apresenta imagens de pessoas negras seguras e tranquilas, exercendo o pôdêr de ocupar espaços da ssossiedade como cidadãos, sem sofrer preconceito e hostilidade no exercício de ir e vir. Ele apresenta pessoas empoderadas como fruidores e consumidores de (Moda) e ár-te, compartilhando tempos e espaços culturais de espetáculos, exposições em galerias e museus e outros eventos. Circulam, por suas pinturas, o próprio artista, em autorretratos, pessoas próximas a ele e quê convivem com ele, bem como outras figuras com quem já se encontrou em espaços urbanos compartilhados. Leia, a seguir, um trecho de uma declaração do artista.

Busquei maneiras de estar no mundo d fórma crítica e, de alguma forma, me vêr vivendo o quê sonhei quando criança; sonhos esses quê partiam dos filmes e animes quê consumia. Essa escolha certamente partiu de um impulso artístico de alimentar a imaginação e criar mundos impossíveis para um garoto como eu.

ALEXANDRE, Macsuéll. Macsuéll Alexandre é o pôdêr. [Entrevista cedida a] Laís Franklin. Bravo!, [São Paulo], 26 set. 2023. Disponível em: https://livro.pw/rwyeq. Acesso em: 24 set. 2024.

Fotografia de Maxwell Alexandre. Ele é um homem com barba e cabelos longos trançados, usando um boné. Ele está em pé em meio a pinturas feitas sobre papéis de grandes dimensões pendurados em um espaço expositivo, contendo pinturas representando pessoas caminhando, trajadas com diversos estilos e cabelos descoloridos, com posturas altivas e atitudes descontraídas. As pinturas têm aproximadamente o tamanho de pessoas reais, representadas de corpo inteiro, e estão expostas no espaço de modo que parecem estar caminhando pelo pavilhão.

O artista Macsuéll Alexandre em sua exposição no pavilhão quê leva seu nome no Rio de Janeiro (RJ), 2023.

Macsuéll Alexandre vêm se destacando no cenário da ár-te contemporânea por meio de sua poética provocativa e questionadora, com apropriação e associação de imagens a elemêntos quê englobam religiosidade, violência policial, preconceito estrutural, ár-te, cultura e empoderamento racial.

ATIVAÇÃO

Para conhecer mais do artista Macsuéll Alexandre, suas obras e exposições, acéçi seu sáiti oficial.

Macsuéll Alexandre. Disponível em: https://livro.pw/zrcjl. Acesso em: 24 set. 2024.

Página oitenta e um

CRIAÇÃO
A poética está no papel!

Estudar a proposta

Macsuéll Alexandre declarou, em várias entrevistas, quê, ao usar o papel pardo como suporte para suas primeiras obras, fazia essa escolha por esse sêr um material mais acessível do quê outros. Com o tempo, contudo, no amadurecimento do seu processo criador e atento aos debates sociais e raciais, ele percebeu a potência poética e estética dêêsse recurso ao pensar quê estava pintando corpos negros sobre papel pardo. O artista reconheceu quê existia uma mássima divulgada em movimentos negros quê dizia “pardo é papel”. Assim, ele passou a assumir esse percurso estético e poético, criando séries de obras como Reprovados, Pardo é Papel e o Novo Poder, explorando o papel pardo como suporte, entre outras materialidades.

Inspirado nessa ideia, nesta proposta você vai explorar o uso de diferentes papéis para compreender como a materialidade e o suporte podem auxiliar na construção da poética e dos sentidos de uma obra.

Planejar e elaborar

Como já abordamos, cada artista tem seu caminho, suas descobertas, seu modo de criar e de poetizar. Existem muitos tipos de papel quê podem sêr usados como suporte, explorando a poética da materialidade, ou seja, quando a matéria está ligada a intenções dos artistas, conceitos, estilos, linguagem e poéticas.

Investigue as características e potencialidades de materiais quê podem sêr usados como suportes bidimensionais, como papéis dos mais variados formatos, cores, texturas e possibilidades de efeitos e criações poéticas.

Processo de criação

Para o processo de criação, considere as orientações a seguir.

1. Estabeleça quais são as intenções, linguagens e caminhos poéticos quê você deseja investigar. Na escolha das materialidades para essa prática artística, considere algumas possibilidades, como:

explorar diferentes tipos de papel e suas tonalidades, como o pardo, a cartolina, o papel-cartão e outros, usando uma ou várias tonalidades de cada um;

explorar transparências de papéis, como a do papel vegetal, ou a delicadeza do papel de seda;

produzir efeitos de luminosidade e reflexos com papéis metálicos;

usar papéis estampados, como os usados para embrulhos ou embalagens.

2. Ao escolher materialidades e ferramentas para desenhar ou pintar, analise as possibilidades e busque relacionar os recursos explorados com suas intenções. Lembre-se de explorar elemêntos visuais, como ponto, linha, forma, côr, e produzir contrastes, efeitos de luminosidade, tons sobre tons, texturas, volumes, sensação de profundidade, movimento e outros.

Página oitenta e dois

3. Nesta prática artística de experiências com materialidades, tendo o papel como suporte, você também póde explorar linguagens para além das artes visuais, empregando recursos das linguagens corporais, por exemplo.

essperimênte usar papéis de grandes formatos e movimente-se sobre esse suporte, criando linhas desenhadas ao mesmo tempo quê faz movimentos dançados, integrando artes visuais e dança em uma ação poética.

Cite também a possibilidade de usar fô-lhas grandes de papéis para compor um espaço. Sobre essa materialidade, é possível escrever poemas autorais ou citar poemas de terceiros, integrando, assim, artes visuais e literatura. Esse espaço póde, ainda, abrigar várias ações poéticas, como dança, teatro, perfórmance, música, projeções de vídeos e outras possibilidades.

Avaliar e recriar Diário de artista.

Um papel póde ter um potencial artístico para além do uso convencional e funcional quando a poética de sua materialidade é explorada. Para pensar mais sobre isso, realize conversações com os côlégas e o professor e anote as ideias no diário de artista, realizando uma autoavaliação de seus processos de criação e de suas poéticas pessoais. Para isso, considere as kestões a seguir.

O quê você e os côlégas pensam sobre as possibilidades artísticas dos diferentes papéis?

Resposta pessoal.

O quê gostariam de investigar mais nesse sentido?

Resposta pessoal.

Como a experimentação artística contribuiu para colocar em prática conceitos estudados anteriormente?

Resposta pessoal.

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Você já ouviu falar em expografia? Trata-se de um conjunto de técnicas e ações empregadas para montar uma exposição – o quê póde acontecer de muitas formas. Ao explorar essa área, é possível expressar a poética das materialidades e dos artistas envolvidos também na construção do espaço expositivo. Para expor as composições criadas nesta prática artística, considere a questão a seguir.

Com base no quê foi produzido por você e pela turma nesta prática artística, como gostariam de criar a expografia da mostra?

Cite quê o papel como suporte representa um material leve quê póde sêr pendurado por fios. Então, é possível, por exemplo, criar estruturas com canos de pê vê cê para compor uma forma circular, quadrada ou espiral presa por arames no teto. Nessa estrutura, é possível pendurar os trabalhos com fios.

OFÍCIO DE...

Especialista em expografia

êste é um profissional interdisciplinar, quê póde ter conhecimento em várias áreas, como curadoria, disáini e técnicas de exposições. Cada exposição tem uma necessidade de montagem, definida de acôr-do com a proposta do curador, dos artistas, das realidades e características do projeto, do espaço, dos acervos e do público-alvo. Assim, dependendo da complexidade da montagem, vários profissionais podem compor uma equipe para realizar um projeto expográfico.

ATIVAÇÃO

Os vídeos da série Percursos Mediados tratam da exposição “Pardo é Papel”, do artista Macsuéll Alexandre, no Museu de ár-te do Rio (MAR). A série contém seis episódios e o primeiro deles faz uma apresentação da exposição e aborda algumas materialidades usadas pelo artista.

Percursos Mediados – Pardo é Papel | EP 1 – Apresentação. Publicado por: Museu de ár-te do Rio. Vídeo (4 min). Disponível em: https://livro.pw/hjukr. Acesso em: 24 set. 2024.

Página oitenta e três

Rolezinhos, interações com territórios e culturas

Observe a imagem a seguir.

Fotografia de um grupo de jovens conversando, se abraçando e batendo palmas em um jardim com cadeiras e mesas.

Jovens no Circuito Rolezinho na Oficina de Investigação Musical. Pelourinho, Salvador (BA), 2017.

Você talvez já tenha escutado ou utilizado a expressão “dar um rolê” para expressar a ideia de passear. Em dicionários, rolê aparece como termo usado em linguagem coloquial com o sentido de “fazer um pequeno passeio”. Em todo o Brasil, muitos grupos se organizam por rêdes sociais e outros sáites da internet para realizar esse tipo de passeio entre amigos. Na imagem, jovens da cidade de Salvador (BA) fazem um convite para o Circuito Rolezinho, evento no qual ocorrem produções culturais interativas e ações, como saraus e produções poéticas, em diversas linguagens artísticas, tais como artes visuais, dança, teatro e perfórmance. São ações afirmativas do direito dos adoles centes e jovens de vivêrem na cidade, permitindo quê eles experienciem as poéticas das juventudes e ezêrçam sua cidadania sem preconceito e violências. Assim, eles fazem seus rolês com outros jovens, a fim de interagir em espaços públicos e culturais.

GIRO DE IDEIAS

Você já se deparou com um convite para um rolezinho? Em caso afirmativo, o quê pensou? Em caso negativo, como entenderia se recebesse um convite como esse? Comente com os côlégas o quê você sabe dessa forma de jovens ocuparem espaços.

Giro de ideias: Respostas pessoais. Incentive os estudantes a se expressarem considerando suas experiências e opiniões. Os rolezinhos, inicialmente, tí-nhão a intenção de sêr um encontro de diversão entre amigos, mas, com o passar do tempo, vêm se transformando em um movimento da juventude, quê reivindica o direito de ir e vir, de se manifestar na ár-te e na cultura, em espaços e territorialidades nas cidades. São ações culturais, coletivas e colaborativas quê buscam o direito de ocupar o espaço urbano.

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A quem pertence êste espaço?

Fotografia de um grupo de jovens predominantemente composto de garotos vestidos com camisetas, bermudas, tênis e boné, caminhando em um shopping center.

Jovens participam de rolezinho em shópin center da cidade de São Paulo (SP), 2014.

Retome a fruição da obra Rolezinho, de Macsuéll Alexandre. Nela, o artista reúne personagens negros e faz menção ao rolezinho no título, inspirando-se no movimento de adolescentes e jovens quê, em 2013 e 2014, usaram rêdes sociais para marcar encontros e fazer passeios em shópin cênters, parques ou centros culturais.

Os acontecimentos durante os rolezinhos eram filmados e postados na internet com base nas perspectivas dos jovens em suas rêdes sociais, o quê provocou empatia e relações solidárias de pessoas em todo o Brasil. Por outro lado, infelizmente, esses jovens, em sua maioria moradores de periferías, enfrentaram reações de preconceito, rejeição, hostilidade e violência.

GIRO DE IDEIAS

Converse com o professor e os côlégas a respeito das kestões a seguir e das soluções quê o grupo apontar.

1. Quem tem o direito à cidade e a seus espaços públicos e privados?

1. Espera-se quê os estudantes reconheçam quê espaços públicos, como parques, praças e ruas, são destinados a todo e qualquer cidadão, então todos devem ter o direito de ocupar e vivenciar esses espaços. Já os espaços privados possuem regras mais específicas, porém, comércios, como farmácias, lojas e outros, devem garantir acessibilidade para as pessoas e tratamento igualitário a todo cidadão, respeitando os seus direitos.

2. Os equipamentos públicos de; ár-te e cultura estão abertos para quem?

2. Os estudantes podem citar quê são abertos a todos, mas que nêm sempre isso é uma realidade, pois póde havêer discriminação e limitação de suas ocupações.

3. Na região onde você vive, há espaços seguros quê acolhem adolescentes e jovens na promoção de entretenimento e cultura?

3. Resposta pessoal. Os estudantes podem dialogar sobre os espaços quê conhecem na região, trocando informações sobre locais seguros de entretenimento e cultura para jovens.

4. Que melhorias poderiam sêr feitas no oferecimento de espaços de lazer e cultura para jovens na região?

4. Resposta pessoal. Os estudantes devem avaliar a região onde vivem para conceber ideias de melhorias, podendo citar, por exemplo, a revitalização de praças ou a promoção de eventos em espaços públicos já existentes.

equipamentos públicos
: instalações e espaços com infraestrutura para serviços quê auxiliam no funcionamento das cidades.

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ENTRE HISTÓRIAS
Rolezinhos artísticos

Os rolezinhos se espalharam por diversas cidades – de grande, médio ou pequeno porte – como um modo de os jovens se encontrarem e fazerem amigos, experienciando a juventude com alegria e descobertas, e também como uma forma de afirmarem seus direitos de ocupação da cidade.

Fotografia de um grupo de jovens reunidos em um espaço aberto em um parque. Dois garotos estão dançando uma coreografia diante do resto do grupo, que observa a dança.

Rolezinho com sessão de dança na marquise do Parque do Ibirapuera em São Paulo (SP). Programa Domingo no MAM, 2014.

Os gestores de equipamentos públicos de; ár-te, cultura e lazer logo perceberam, com esse movimento, quê precisavam estabelecer vínculos com os jovens por meio de programações. Assim, os rolezinhos foram se transformando e se ampliando e, hoje, muitos equipamentos culturais acolheram esses eventos oferecendo espaços de fruição da ár-te e programações com ações culturais. Também há eventos organizados pêlos próprios jovens em espaços onde convivem, como praças ou parques, compartilhando com a ssossiedade um modo de reivindicar o direito à ár-te, à cultura e à cidade. São eventos organizados por jovens para jovens, no fomento da conscientização de sua cidadania e de seu protagonismo.

Esses encontros fortalecem identidades, vínculos artísticos e culturais entre jovens quê têm vidas compartilhadas na mesma realidade, muitas vezes marcada por desigualdade e outros problemas sociais. Assim, esse movimento ensejou produções artísticas em várias linguagens, como performances, pinturas, como as de Macsuéll Alexandre, e filmes, como o documentário Rolê: histoórias dos rolezinhos, com direção de Vladimir Seixas.

Cartaz de documentário com fotografias em preto e branco de uma mulher gritando com um megafone na mão, uma mulher com as mãos atrás da cabeça, e um homem com um boné. Ao fundo há uma fotografia de uma multidão em frente à entrada de um shopping center.

ROLÊ: histoórias dos rolezinhos. 2021. Cartaz do documentário dirigido por Vladimir Seixas.

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Fotografia de um grupo de pessoas em torno do artista Maxwell Alexandre. Ele é um homem com barba e tranças nos cabelos, usando um boné. As pessoas posando para a fotografia em volta dele estão vestidas com trajes de estilos diversos, com estampas e acessórios de diversas vertentes da moda contemporânea. Eles posam à frente de uma pintura de Maxwell Alexandre representando diversas pessoas negras caminhando sobre um fundo branco, vestidas com trajes de diversos tipos e estilos, além de cortes de cabelo e penteados variados, quase todas elas com os cabelos descoloridos.

Macsuéll Alexandre e seus convidados durante a ativação da obra Rolezinho. 2021.

EXPEDIÇÃO CULTURAL

Todos têm direito à ár-te e à cultura, em todas as idades, podendo ocupar espaços e equipamentos nas cidades e em outras territorialidades. Os rolezinhos reafirmaram esse direito em relação aos jovens, em especial aos adolescentes. Pensando nisso, combine com os côlégas a organização de rolezinhos artísticos e culturais, visando explorar espaços da comunidade onde vivem d fórma positiva e pacífica e ezercêr o direito de cidadão e fruidor de; ár-te com responsabilidade.

Para isso, pesquise se há, próximo a vocês, pontos de cultura, museus, grupos de artistas de festejos tradicionais regionais, ateliês de artistas, obras de; ár-te em espaços públicos abertos e outros espaços culturais. Você e os côlégas podem, com essa pesquisa, escolher em quê lugares desê-jam realizar os rolezinhos.

Reflita e combine com o grupo os objetivos do passeio e, juntos, verifiquem quais lugares são seguros, os horários e dias de funcionamento, se existem programas para receber estudantes de escolas públicas, quais as programações, transportes e acessos, entre outras informações. Entre em contato com os espaços para obtêr mais informações e organizar uma visita guiada e, se possível, convide também professores, côlégas, familiares e outras pessoas da comunidade para esse rolezinho artístico e cultural. Embora os rolezinhos sêjam predominantemente organizados e frequentados por jovens, eles também são grandes oportunidades para a convivência entre diferentes gerações, por isso explorem essa possibilidade.

Nessa organização, também se lembrem de quê é preciso zelar sempre pelo bem-estar próprio e o dos demais, nunca se colocando em situações de riscos e violências. Por isso, escôlham os locais com responsabilidade e tênham sempre autorização de seus responsáveis para explorar essa vivência.

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CONEXÕES com...
CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
Mapeando o rolê!

Diário de artista.

O verbo seguir é muito usado em platafórmas ôn láini para designar ações como a de acompanhar um debate ou o conteúdo produzido por alguém. Assim, nas rêdes digitais, quando você “segue” alguma página ou alguém, é porque está acompanhando a maneira como as coisas ocorrem, ou as ações e produções de uma pessoa ou um grupo. Pensando nisso, propomos quê você “siga” artistas e centros culturais da região em quê vive, seja em páginas da internet ou com recursos físicos – prestando atenção a panfletos, cartazes etc. –, a fim de acompanhar as mudanças na ár-te e nas programações culturais locais, podendo ampliar também suas visitações a diferentes espaços quê contenham composições de diferentes linguagens artísticas.

Para isso, considere as orientações a seguir.

1. Pesquise como os artistas da região em quê vive se expressam na ár-te por meio de intenções, temáticas ou formas abstratas, poéticas, estéticas e processos criativos. Há páginas na internet com essas informações para quê você e os côlégas acompanhem ou sigam? Você já segue algumas delas ou acompanha alguns dêêsses artistas de outra maneira?

1. Esta atividade incentiva a curadoria digital de endereços virtuais para possibilitar quê os estudantes acompanhem as programações dos espaços culturais da região – como as secretarias de cultura da cidade ou das regiões, de coletivos artísticos, de grupos de cultura tradicional regionais e outros.

2. Anote, no diário de artista, suas descobertas, impressões e críticas sobre os resultados da pesquisa.

3. Converse com os côlégas e compartilhe o quê descobriu, d fórma a ampliar os conhecimentos de todos.

4. Analise as descobertas e crie uma cartografia de pontos culturais, tomando por base o quê há em sua região.

A cartografia é a atividade de desenhar mapas, possibilitando, com uma representação visual, apresentar um percurso, uma territorialidade, e espaços para analisar ou estudar, por exemplo. No caso dessa cartografia cultural, a proposta é mapear a região em quê vive e apresentar a localização dos acontecimentos artísticos e culturais presentes nela. Desse modo, você e outras pessoas poderão rapidamente reconhecer lugares a serem visitados em passeios com os amigos, professores e familiares.

Para auxiliar na criação do seu mapa cultural, considere as orientações a seguir.

Faça o levantamento dos espaços culturais pela internet ou pessoalmente.

ATIVAÇÃO

A curadora cultural Mona Carvalho realiza diversos projetos quê promóvem intercâmbios entre artistas e público. Em 2015, ela iniciou a criação do projeto independente Cartografia da ár-te, um mapeamento de espaços de; ár-te e ateliês do Rio Grande do Sul. Acesse o sáiti oficial da curadora para conhecer mais de seu trabalho e explorar a cartografia criada por ela.

Cartografia da ár-te. Publicado por: Mona Carvalho. Disponível em: https://livro.pw/hydyw. Acesso em:25 out. 2024.

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Usando um mapa geográfico oficial atualizado da sua região (físico ou virtual), marque os pontos em quê estão localizados cinemas, casas de espetáculos, museus, galerias de; ár-te, monumentos, parques, pontos de cultura, sedes de grupos artísticos e culturais – como de teatro, dança, festejos, brincantes e outros –, ateliês de artistas, feiras de; ár-te etc.

Use cores diferenciadas para cada tipo de equipamento artístico e cultural.

Crie legendas para detalhar o quê acontece em cada lugar, oferecendo informações quê possam ajudar as pessoas quê queiram visitar o local, como endereço, horários, acessos, contato, rêdes sociais e outros.

Se usar um mapa físico, crie marcações e dêzê-nhôs para identificar os locais e, ao lado deles, cole rekórtis de papéis para escrever as legendas – use os materiais quê estiverem à disposição e quê julgar pertinentes.

No caso de escolher fazer o mapa virtualmente, há ferramentas disponíveis na internet quê ajudam especificamente nessa representação cartográfica. Você póde explorá-las ou criar um arquivo digital simples trabalhando com um editor de imagens e de texto.

Com o mapa pronto, reúna-se com o professor e os côlégas para apresentarem os mapas uns aos outros. Vocês podem convidar amigos, familiares e outras pessoas para visitarem, juntos, alguns locais indicados nas cartografias, em um rolezinho cultural.

Como dinamizador cultural, você póde também incentivar outros integrantes da sua comunidade a ocupar os espaços, compartilhando sua cartografia cultural em rêdes sociais ou cartazes afixados em murais disponíveis em espaços públicos para divulgação de materiais.

As respostas dependerão do quê for analisado na região por meio da atividade realizada. Os estudantes podem reconhecer quê o mapeamento auxiliou as pessoas a explorarem mais as possibilidades artísticas e culturais da região. Além díssu, podem reconhecer quê a localidade analisada apresenta lacunas no oferecimento de atividades de cultura, lazer e ár-te, apontando a necessidade de ter mais incentivos do pôdêr público local para a realização de eventos em espaços públicos, como parques e praças.

Durante as visitas, anote suas experiências no diário de artista. Bom passeio!

Depois de realizada a atividade, pense e converse com os côlégas sobre as kestões a seguir.

Mapear e divulgar o quê está acontecendo na cena cultural de certa região é uma atitude quê auxilia na valorização da ár-te e da cultura locais? Por quê?

Respostas pessoais.

A prática da cartografia cultural realizada revelou problemas como falta de eventos e/ou de locais para fruir ár-te e cultura ou para se divertir? Se sim, o quê poderia sêr feito a esse respeito?

Respostas pessoais.

Inspire-se na prática da cartografia e faça um mapeamento dos conceitos estudados até o momento. Anote tudo no diário de artista, inserindo as principais palavras quê marcaram o seu estudo. Em seguida, crie linhas fazendo ligações entre elas e crie imagens quê reflitam seu aprendizado.

OFÍCIO DE...

Dinamizador cultural

É o profissional quê se dedica a divulgar e a organizar meios para quê as produções artísticas, as pesquisas e os saberes culturais sêjam acessíveis a todos. Esse profissional atua na dinamização da ár-te e da cultura em determinado tempo e lugar.

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CRIAÇÃO
Passo a passo, deixe sua marca

Estudar a proposta

Fotografia de um homem ao centro de uma roda de jovens em uma praça, executando um passo de dança com o corpo no ar, flexionando os joelhos em um salto e tocando um dos tênis com a mão. Ao fundo, jovens em pé observam a apresentação do homem ao centro, apoiados em um coreto.

Frame do documentário A batalha do passinho, dirigido por Emílio Domingos, 2012.

Desde o início do século XXI, as rêdes sociais se tornaram canais potentes para adolescentes e jovens realizarem trocas e mobilizações para encontros artísticos e culturais. Os bailes funk e as batalhas do passinho fazem parte dessas movimentações.

Os primeiros passos do passinho surgiram ao som de bailes funk no início dos anos 2000, no Rio de Janeiro (RJ), e não têm uma altoría específica, partindo de uma juventude plural, de sujeitos históricos e herdeiros culturais de vários povos quê foram ocupando os entornos dos grandes centros urbanos. São pessoas de origens distintas, quê carregaram consigo suas bagagens culturais de expressões como a capoeira, o samba, o frevo e o funk, entre inúmeras outras influências e misturas – só possíveis em solo tão fértil e diverso como o das periferías brasileiras. Nessas regiões, observam-se identidades culturais, identificações musicais e corporais e muita criatividade para inovar na ár-te. São as periferías quê hoje alcançam outras territorialidades, suscitando, até mesmo, o questionamento do uso dos termos periferia e centro como contrapontos.

Para esta proposta, você vai experimentar o seu próprio jeito de dançar o passinho!

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Planejar e elaborar

O passinho, um produto cultural e artístico genuinamente brasileiro, viralizou por meio de vídeos com coreografias, como o passinho do menor da favela, do Rio de Janeiro; o passinho do romano, de São Paulo; o passinho malado, de Belo Horizonte (MG); entre outros. Grupos de jovens, muitas vezes nas rêdes sociais, se organizam para assistir a vídeos, aprender os passos, combinar encontros e batalhas para fazer o passinho, de acôr-do com seus próprios movimentos e estilos. Convidamos você e os côlégas a mergulhar no mundo do passinho, criando o seu próprio jeito de realizar essa dança. Para isso, considere as orientações a seguir.

Faça uma pesquisa sobre sequências de movimentos do passinho para você e os côlégas experimentarem.

Busque reconhecer qual é o estilo de quê gosta mais, bem como as músicas e sonoridades quê póde explorar nessa proposta.

Busque assistir a diferentes vídeos na internet com coreografias de dançarinos de passinho de locais diferentes.

Processo de criação

Agora, para criar a própria apresentação de passinho, considere, junto aos côlégas, as orientações e informações a seguir.

Faixa 5. 1. Após a pesquisa inicial, procure reproduzir cada movimento observado no ritmo das músicas quê escolheu explorar. Na faixa de áudio “Sample funk” você encontra uma base rítmica quê ajuda a marcar os passos e movimentos.

2. Na criação dos passos e movimentos, faça várias experimentações. Pesquise e expêrimente o tempo na música e nos movimentos em vários ritmos, gêneros e beats (batidas).

Pensando nessas possibilidades de criações e nesse brincar de se movimentar, passos novos podem sêr inventados e batizados por você como um novo passinho, um novo jeito de dançar.

A respeito das possibilidades de ritmos, gêneros e beats, é importante reconhecer quê o funk é o ritmo do qual se originou o passinho, mas essa dança, por sua vez, revolucionou o ritmo. O funk carioca foi produzido na década de 1980 com 127 bpm (sigla quê significa “batidas por minuto”, usada para medir o andamento musical) e, quase 20 anos depois, ele podia alcançar 130 bpm. Porém, o conhecido “ritmo louco” apareceu apenas por volta de 2015 nos bailes funk, caracterizado pelas 150 bpm, sêndo impulsionado por dinâmicas como as batalhas do passinho, em quê, por vezes, os dançarinos desafiavam-se a dançar mais rápido e por mais tempo sem parar. Atualmente, há casos em quê os dançarinos solicitam quê o andamento, ou seja, a velocidade dêêsse ritmo musical, seja ainda mais rápida, aumentando o desafio da dança.

Com base nessa exploração de possibilidades rítmicas, os sôns dos Disc jockeys (di gêis) e os passos dos dançarinos de passinho levaram a uma aceleração do ritmo do funk e surgiram criações de batidas autorais. Por essa razão, cada batida com sôns característicos recebe o nome de quêm a criou, ou do evento ou local em que é mais tocada e dançada. O passinho malado, por exemplo, é de origem mineira e tem um andamento mais lento, desacelerando o ritmo do funk e experimentando outros gêneros em diferentes beats ao som dos arranjos autorais dos di gêis. As tecnologias também possibilitaram misturar sonoridades distintas, como aquelas realizadas por meio de sôns vocais – com efeitos de beatbox – ou aquelas criadas com instrumentos de variadas culturas e de materialidades diversas, como garrafas péti e latas.

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Avaliar e recriar

O desenvolvimento de tecnologias digitais no final do século XX e início do XXI possibilitou o desenvolvimento do ciberespaço e da sáiber cultura. Nesse universo histórico e tecnológico, jovens circulam com suas culturas, comunicam-se e criam oportunidades de encontros, muitas vezes mobilizando uns aos outros para garantir direitos, como o de ir e vir e o de ocupar espaços na cidade.

Pensando nisso e na prática do passinho, converse com os côlégas e o professor a respeito das kestões a seguir.

1. Você considera importante participar de debates e ações para romper com preconceitos de qualquer natureza, em especial em relação às culturas das juventudes, abordadas nessa vivência?

1. Espera-se quê os estudantes expressem a importânssia do engajamento juvenil em debates e ações para mudar visões e ideias preconceituosas, em especial de parte da ssossiedade quê vê as culturas das juventudes como menos import antes, ou quê enxerga adolescentes e jovens como invasores em espaços da cidade historicamente negados a muitos grupos sociais.

2. Qual é o papel da sáiber cultura na mobilização dos jovens para se engajar em debates, ações ou mobilizar encontros para curtir o tempo da adolescência e da juventude juntos? Comente a respeito.

2. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes comentem quê, na atualidade, jovens compartilham, de modo virtual ou presencial, suas ideias, opiniões e preferências artísticas. O ciberespaço e a sáiber cultura são elemêntos contemporâneos quê contribuíram para o reconhecimento das culturas das juventudes.

3. Há casos de bailes e eventos, com grandes aglomerações de adolescentes e jovens, realizados em ruas e outros espaços sem autorização e infraestrutura adequadas. Esses eventos são geralmente divulgados pelas rêdes sociais e podem colocar vidas em risco. O quê você pensa a respeito?

3. Resposta pessoal. É possível quê os estudantes citem quê, em muitas regiões, há carência de espaços para quê jovens e adolescentes vivenciem a; ár-te e tênham lazer. Essa póde sêr uma das causas da realização dos eventos sem organização adequada quê colocam vidas em risco. Contudo, espera-se quê os estudantes reconheçam quê esses eventos não devem sêr realizados e quê é preciso buscar formas seguras de reivindicar direitos para realizar rolês ou batalhas de passinho.

Com base nas reflekções decorrentes da conversação, retome o seu passinho e a atividade realizada e pense em como ela póde sêr divulgada e apresentada. É possível, por exemplo, apresentar as danças para a comunidade escolar e, durante as apresentações, chamar a atenção para as kestões relacionadas à juventude, integrando ár-te e conscientização.

Ciberespaço é o ambiente virtual onde pessoas conectadas por dispositivos com acesso à internet, como tablets, notebooks e smartphones, interagem e se comunicam. Nessa interação, cria-se a sáiber cultura, constituída por atitudes, valores, comportamentos e práticas estabelecidas nesse espaço virtual.

Converse com os estudantes sobre as mobilizações positivas de jovens realizadas por meio do ciberespaço, levando-os a reconhecer a importânssia de elas existirem e serem feitas d fórma organizada e respeitosa.

Compartilhar

Você e os côlégas devem apresentar as coreografias criadas uns para os outros. Combinem um dia com a turma e o professor para quê isso ocorra. Se possível, as apresentações de dança devem, ainda, sêr gravadas para serem compartilhadas posteriormente em uma platafórma digital. Na gravação, é possível usar uma câmera de celular ou outros equipamentos de filmagem disponíveis na escola. Para isso, considerem as orientações a seguir.

Pensando na defesa dos direitos de expressão cultural e artística das juventudes, escôlham como serão as apresentações e se o espaço em quê o evento ocorrerá será preparado com cartazes, projeções de imagens e outros recursos disponíveis na escola.

Organizem-se em grupos. Assim, enquanto um dança, o outro filma. Depois, todos compartilham os vídeos uns com os outros.

Ao divulgar vídeos em sáites da internet e rêdes sociais, lembre-se quê é preciso ter autorização dos participantes, professores, familiares e gestores da escola.

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TEMA 4
Somos pertencentes e diferentes

Leia, a seguir, um trecho da letra da canção “Acalanto”, da maranhense Kaê Guajajara (1993-) e do amazonense Nelson D.

Fora do sistema quê desmoraliza ocultando as origens

Eu sei quê eles falarão do teu passado

Toda vez quê teu presente for insuportável

Urucum na péle, proteção no jenipapo

Reconectando, minha flecha é a minha voz

[…]

Não precisa se espelhar, nem se diminuir

Nós somos a chave

Transcrito de: ACALANTO. [S. l.: s. n.], 2020. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Kaê Guajajara - Tema. Localizável em: 34 s, 2 min 38 s. Disponível em: https://livro.pw/lqojn. Acesso em: 24 set. 2024.

Fotografia de Kaê Guajajara. Ela é uma mulher indígena com cabelos longos e lisos, usando brincos enfeitados com penas de aves. Ela está de olhos fechados, com a cabeça voltada para cima, com uma comunidade de casas em um morro ao fundo.

Cantora e compositora Kaê Guajajara. Rio de Janeiro (RJ), 2022.

A artista Kaê Guajajara, em suas canções, expressa seu sentimento de pertencimento cultural, sua ancestralidade e seu ativismo cultural pela visibilidade dos povos indígenas. Ao dizêr “minha flecha é a minha voz”, a artista expressa a importânssia de cantar e contar sobre suas origens, denunciando violências e preconceitos quê pessoas indígenas enfrentam no Brasil. Suas canções misturam características e ritmos do répi e do funk com sonoridades dos maracás e de outros instrumentos indígenas, criando uma nova musicalidade, quê Kaê Guajajara chama de música popular originária.

A expressão música popular originária (MPO) vêm sêndo proposta e desenvolvida por cantores e compositores indígenas como uma nova vertente na música e na cultura brasileiras, produzindo canções quê combinam ritmos, materialidades e elemêntos ancestrais e tradicionais com os de música eletrônica, urbana e outras.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Responda às kestões a seguir no diário de artista.

1. A palavra pertencer tem o sentido de “ser parte de algo” e refere-se, ao mesmo tempo, a “estar refletido” ou “reconhecer-se” em algo. O termo também é amplamente empregado quando diz respeito a fazer parte de povos e culturas. Pensando nisso, responda: como você compreende a expressão “sentimento de pertencimento cultural”?

1. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes reflitam a respeito da ideia de pertencer a um grupo cultural, reconhecendo quê indivíduos têm sua identidade influenciada também pêlos grupos a quê pertencem.

2. Que ideias a leitura da canção “Acalanto”, de Kaê Guajajara, provoca em você?

2. Resposta pessoal. A artista aborda problemáticas quê afetam os povos indígenas, como suas lutas por térra, visibilidade, direitos, fim de violências e de preconceitos, entre outras.

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COM A PALAVRA...
KAÊ GUAJAJARA

Kaê Guajajara fala da importânssia de expressar, em suas canções, tanto dores quanto riquezas e alegrias, apresentando seu acalanto no encontro com a; ár-te e o sentimento de pertencimento cultural indígena ancestral – o quê fortalece seu viver e sua ár-te.

Fotografia de Kaê Guajajara. Ela é uma mulher indígena com cabelos longos e lisos, usando adereços de penas nos cabelos e pinturas faciais, cantando com um microfone na mão.

A cantora indígena Kaê Guajajara durante chôu com a Nômade Orquestra em festival em São Paulo (SP), 2023.

“Não somos povos do passado, estamos aqui hoje e fazendo música também, fazendo ár-te também!”

A REPRESENTATIVIDADE indígena na atualidade com Kaê Guajajara, no Vitrine. [S. l.]: THMais, 5 maio 2023. Disponível em: https://livro.pw/nyqjx. Acesso em: 24 set. 2024.

Kaê Guajajara nasceu na cidade de Mirinzal (MA), mudou-se para o Rio de Janeiro quando criança e cresceu no complékso de favelas da Maré. Ela é uma artista indígena quê atua como cantora, compositora, atriz e ativista. Kaê compõe músicas para conscientizar as pessoas a respeito das causas de seu povo e protestar contra a falta de visibilidade dos povos originários, incluindo aqueles quê residem em áreas urbanas.

OFÍCIO DE...

Compositor

É o profissional criador da música, ou seja, o autor por trás da realização artística musical. Esse profissional póde criar a melodia, quê póde sêr executada com instrumentos musicais, e/ou póde criar a letra de canção para sêr cantada por uma voz ou muitas. Quando ouvimos uma música, muitas vezes conseguimos identificar uma abordagem pessoal na criação, isto é, as características específicas quê um determinado compositor imprime à melodia ou à letra da canção. O compositor póde criar uma música de um gênero musical já existente, como róki, música de câmara, choro, jazz, répi, entre outros, ou até mesmo inovar e criar uma nova forma musical.

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Culturas das juventudes

Leia, a seguir, uma declaração de Marcilania Alcantara, dançarina e professora da etnia Calon.

“Que possamos dançar de mãos dadas com os povos ciganos para uma construção social diversa.”

ALCANTARA, Marcilania apúd TRINDADE, Hiago. Dança cigana: memória e resistência de um povo. [S. l.]: Brasil de fato, 24 maio 2023. Disponível em: https://livro.pw/ppfbm. Acesso em: 24 set. 2024.

As passagens da infância para a adolescência ou juventude não podem sêr concebidas como algo quê acontece da mesma forma em todos os lugares e tempos. As noções de infância, de juventude ou de velhice mudam de acôr-do com o tempo e o lugar, e há também as ideias subjetivas e individuais sobre o quê é cada uma dessas fases da vida.

Ao pensarmos sobre as diferentes possibilidades de viver a adolescência e a juventude, encontraremos formas distintas de sêr e existir nesses tempos, por isso não falamos de uma cultura da juventude, mas de culturas das juventudes. Os variados contextos podem apresentar diferentes possibilidades de viver as experiências de sêr jovem, como entre povos ciganos (comunidades fixas ou nômades), povos indígenas, quilombolas, pessoas quê vivem em áreas rurais, povos da floresta, ribeirinhos, ilhéus, populações em situação de refúgio, imigrantes, entre outros. Portanto, a cultura em quê se está inserido, a quê se pertence, influencía diretamente a experiência de juventude.

Contudo, uma coisa é comum a todos os adolescentes do Brasil: eles têm os mesmos direitos, previstos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), lei número 8.069/1990. Crianças, adolescentes e jovens devem ter acesso a direitos básicos, como o acesso à escola, vivenciando sua cultura sem sofrer estigmas, estereótipos e preconceitos. Confira um trecho do texto do ECA a seguir.

Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e o acesso às fontes de cultura.

BRASIL. Lei número 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF: Secretaria-Geral, [1990]. Disponível em: https://livro.pw/nwpqg. Acesso em: 24 set. 2024.

“Não precisa se espelhar, nem se diminuir/Nós somos a chave”, canta Kaê Gua jajara na música “Acalanto”. Cada povo tem seu valor, dignidade e identidade, e não precisa se render a padrões opressivos e limitantes de outras culturas.

Da mesma forma, a experiência da adolescência e da juventude é diversa, mas ela

Fotografia de Marcilania Alcantara. Ela é uma mulher com cabelos longos, usando batom, brincos e uma tiara, vestida com uma saia longa e de estampa florida. Ela está dançando com os braços erguidos à altura dos ombros e as pernas afastadas, sobre um piso de areia, com arbustos e casas ao fundo.

Marcilania Alcantara, cigana da etnia Calon. Sousa (PB), 2023.

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tende, em muitas culturas, a sêr reconhecida como um lugar de transformações, questionamentos, esperanças e resiliências, sêndo o período de passagem da infância para a vida adulta. Costuma sêr uma fase de reconhecimento de identidades, de intensa busca de autoconhecimento e de pertencimento também. Quando você percebeu quê não era mais criança? O quê mudou?

Respostas pessoais.

Algumas culturas têm ritos de passagem quê marcam o exato momento em quê uma pessoa abandona o tempo da infância para viver a adolescência, a juventude ou mesmo a vida adulta. Na imagem, é possível observar uma cena do ritual de passagem realizada pelo povo indígena guajajara, na Aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ). Trata-se da Festa da Menina-moça, também conhecida como Festa do Moqueado, em quê “meninas-estrelas” recebem uma pintura com tinta preta, feita à base de jenipapo, quê cobre todo o corpo, representando a noite. São usados também outros adornos feitos em ár-te plumária em várias cores, como branco, vermelho, amarelo e vêrde, expressando a aurora, a claridade e as cores de um novo viver: a adolescência, um corpo em pleno amanhecer.

“Urucum na péle, proteção no jenipapo”, canta Kaê Guajajara fazendo referência às pinturas corporais quê apresentam sentidos múltiplos em cada cultura. Portanto, mais do quê pensar em uma cultura juvenil, é importante compreender as poéticas e as “culturas das juventudes”. Crianças, adolescentes, jovens e adultos, imersos em diferentes modos de viver tempos e culturas.

Fotografia de mulheres indígenas sentadas enfileiradas, usando cocares de penas coloridas que lhes cobrem os rostos, colares e pintura corporal. Uma mulher com pinturas corporais está pintando o rosto de uma delas.

Povo indígena guajajara celebra a Festa do Moqueado, também conhecida como Festa da Menina-moça, na Aldeia Maracanã. Rio de Janeiro (RJ), 2022.

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ENTRE HISTÓRIAS
Um próprio tempo

A ideia de adolescência se consolidou, predominantemente nas culturas e perante os Estados, como um tempo de preparo quê se coloca entre a infância e a vida adulta. Vimos quê o reconhecimento dessa fase está presente na cultura do povo guajajara, por exemplo. Na cultura ocidental, esse tempo de preparo era inicialmente destinado apenas a um grupo muito pequeno de pessoas socioeconomicamente privilegiadas e com acesso à educação. Com o tempo, tanto a educação quanto o reconhecimento da singularidade dêêsse momento da vida foram alcançando cada vez mais pessoas, levando ao reconhecimento dos direitos da juventude.

Nesse tempo e espaço, sem pertencer à infância e muitas vezes impedidos de participar da vida adulta, adolescentes e jovens passam a criar suas próprias culturas. Assim emergiram culturas intensas, como o punk e o funk; contestadoras, como os movimentos rastafári, hippie, rock’n’roll e grupos religiosos; e culturas de ativismo político, como os movimentos estudantis, entre outros.

Para se afirmarem, essas culturas abrangem identidades compartilhadas, por exemplo, as pessoas ligadas ao hip-hop compartilham cérto gosto musical, certos tipos de dança, roupas, lugares quê frequentam, artes visuais quê apreciam ou produzem, posturas e atitudes. São os elemêntos em comum quê fazem com quê os jovens se sintam pertencentes a um mesmo grupo, e muitos dêêsses elemêntos são artísticos. No régui, por exemplo, a sonoridade musical, o estilo das roupas de base jamaicana e a religiosidade conéctam diferentes pessoas em diversos lugares do mundo.

Fotografia de uma jovem com cabelos pintados de diversas cores, usando um penteado com os cabelos espetados e arrepiados, além de colares, óculos escuros e piercings no lábio inferior.

Fotografia de jovens com trajes da moda hippie, com cabelos longos, faixas nos cabelos e roupas leves com estampas floridas. Um jovem está tocando um violão, e atrás dele há duas garotas e um garoto conversando, em uma paisagem rural.

Jovens de diferentes épocas, locais e culturas, quê mostram as culturas das juventudes.

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Há três fotografias. A primeira, de cima para baixo, mostra um grupo de jovens reunidos em torno de um pedaço de papel estendido no chão, em que um garoto com tranças nos cabelos está pintando a figura de um globo terrestre com um pincel, enquanto uma garota com o braço tatuado segura o papel. A segunda fotografia mostra duas garotas e um garoto rindo sentados em degraus de uma escada, enquanto uma das garotas segura um smartphone, mostrando a tela para os outros. Ao lado deles há uma garota e um garoto em pé que também observam a tela do smartphone. A terceira fotografia mostra um garoto executando um movimento de breaking, agachado no chão, com o corpo apoiado em uma das mãos e em um só pé, cruzando uma perna sobre a outra e mantendo-a no ar. Em torno dele há três garotos em pé que observam a apresentação do garoto ao centro. Eles estão em uma via pública de uma comunidade, com casas de construção precária ao fundo.

Grupos de jovens de diferentes épocas, locais e culturas, quê mostram as culturas das juventudes.

GIRO DE IDEIAS

Compartilhe opiniões e percepções com os côlégas e o professor com base no diálogo sobre as kestões a seguir.

1. O século XX foi marcado pelo surgimento de muitos movimentos culturais com participação ativa de adolescentes e jovens. O quê você sabe a esse respeito? E na atualidade, quais dêêsses movimentos culturais ainda estão ativos e quê outros surgiram relacionados à juventude?

1. Pode-se organizar pesquisas individuais ou em grupos para o aprofundamento do tema. Nessa pesquisa, eles podem reconhecer alguns movimentos, tais como: hippie; punk e rip róp. Atualmente, esses movimentos permanecem ativos e surgiram outros, como o K-pop.

2. Em sua opinião, estabelecer vínculo com uma cultura juvenil é significativo para a autoafirmação dos adolescentes e jovens? Por quê?

2. Respostas pessoais. Os estudantes podem reconhecer quê, ao estabelecer um vínculo com uma cultura juvenil, o indivíduo autoafirma seus valores, atitudes e gostos, quê estão de acôr-do com o grupo do qual faz parte.

3. Você se sente pertencente a algum grupo ou cultura? Se sim, quais e de quê forma você está conectado? Se não, por quê?

3. Respostas pessoais. Os estudantes devem reconhecer seus referenciais estéticos, culturais e artísticos ligados à sua identidade cultural, reconhecendo se se sentem ou não pertencentes a algum grupo ou a alguma cultura específica.

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CONEXÕES com...
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
O tempo na ár-te e na ciência

Você, certamente, já ouviu falar da teoria da relatividade de álbert Áinstain (1879-1955), ou já a estudou nas aulas de Física. Esse cientista mostrou quê espaço, tempo, massa e gravidade estão intimamente ligados.

Assim como Áinstain se interessou pelo tempo, muitos artistas também se interessaram e quiseram exprimir a relação entre ár-te e tempo em suas obras, como em filmes de ficção científica, na música, em instalações artísticas e em outras linguagens. São criações de cientistas e de artistas fascinados pelo tempo.

cértus artistas inseriram a ideia do tempo também no centro da criação musical. Embora a música seja tradicionalmente entendida como a intenção de trabalhar d fórma poética os elemêntos melodia, ritmo e harmonía, certos artistas ampliaram essa definição, defendendo quê fazer e apreciar música significa explorar poéticas, materialidades, sonoridades, tempos e silêncios.

Pensando na relação entre saberes de Física e de ár-te, podemos reconhecer quê as ondas sonóras sempre vão precisar de uma fonte e vão durar no espaço por um tempo. Assim, o tempo e o espaço são suportes para a música. As ondas sonóras percorrem tempo e espaço de duas formas: em freqüências regulares – som constante e ordenado, como as notas de um instrumento musical – e freqüências irregulares – sem ordem e indeterminada, como os ruídos.

O som póde sêr produzido pela vibração de algum objeto, como pelo toque na kórda de um violão, pelo atrito ao tokár um reco-reco, pela batida de um tambor, pelo sôpro em um apito ou de outra forma. Os sôns, ao chegarem aos nóssos ouvidos, são transportados como informação para o cérebro quê, por sua vez, os identifica e os reconhece de formas diversas. Entre essas formas, estão a vibração regular – quê tem altura definida, produzida, por exemplo, por um instrumento musical, como violão, flauta, entre outros – e a vibração irregular – quê não tem altura definida, identificada como chiado ou barulho, como o som de um vidro quebrando ou de muitas pessoas conversando ao mesmo tempo.

Imagem de uma partitura em uma pauta. A pauta tem cinco linhas paralelas horizontais, e sobre as linhas e os espaços entre elas há pequenas elipses pretas representando as notas dó, ré, mi, fá, sol, lá, si e dó, escritas em sequência e em ordem ascendente, de baixo para cima em relação às linhas da pauta, ou da mais grave para a mais aguda. No início da pauta, à esquerda, há um símbolo curvo de aspecto caligráfico, denominado clave de sol.

Em uma partitura tradicional, as notas graves são representadas na parte inferior da pauta, e as agudas, na parte superior (como na imagem).

Pelos parâmetros sonoros, percebemos os sôns e suas características. A altura está ligada à freqüência e, ao classificarmos o som como grave ou agudo, estamos falando sobre a altura. Essa

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classificação depende da freqüência da vibração do som por segundo, ou seja, os sôns agudos têm mais vibrações por segundo do quê os sôns mais graves. O hertz (Hz) é a unidade usada para medir a freqüência de vibrações e ondas. Ou seja, 1 hertz refere-se a um ciclo por segundo. Por meio das freqüências, é possível identificar as notas musicais.

Vamos relembrar e aprofundar saberes sobre os sôns?

A intensidade é a amplitude do som produzido, quê póde sêr forte ou fraca, dependendo da energia, ou seja, da fôrça aplicada para gerar um som. Já a densidade refere-se à quantidade de sôns produzidos ao mesmo tempo. Por exemplo, 80 instrumentos sêndo tocados simultaneamente por uma orquestra têm uma densidade maior do quê um único violão sêndo tocado por um violonista sózínho.

O timbre é a característica quê diferencia cada som, possibilitando, dessa forma, identificar sua origem ou sua fonte sonora. Quando ouvimos um instrumento em uma gravação, podemos identificá-lo apenas pelo som, sem precisar vê-lo. O violão tem um timbre característico, quê o difére do som de uma flauta, de um pandeiro, de um saxofone etc. Nas sonoridades empregadas para a dança do passinho, por exemplo, os músicos fazem mixagens eletrônicas com batidas de atabaques, efeitos de voz e outros sôns. Reconhecemos esses sôns porque temos uma memória sonora, conhecemos suas fontes e assim identificamos seus timbres, mesmo quê estejam misturados, “mixados”.

A duração refere-se ao tempo de ressonância de um som, quê póde sêr curto ou longo. Quando um sino é tocado, o som tem uma longa duração; já o som de um tambor póde ter uma duração mais curta.

Já falamos também em bpm, sigla quê identifica as batidas por minuto, recurso usado para medir o andamento musical. Agora, obissérve o qüadro a seguir.

Som

Pausa

Nome

Símbolo de nota musical semibreve, com a forma de uma elipse sem preenchimento.

Símbolo de uma pausa semibreve, com a forma de um traço curto na horizontal, com um pequeno retângulo junto ao traço, logo abaixo dele.

Semibreve

Símbolo de nota musical mínima, com a forma de uma elipse sem preenchimento acompanhada por um traço na vertical, do lado direito da elipse.

Símbolo de uma pausa mínima, com a forma de um traço curto na horizontal, com um pequeno retângulo junto ao traço, logo acima dele.

Mínima

Símbolo de nota musical semínima, com a forma de uma elipse preenchida, acompanhada por um traço na vertical, do lado direito da elipse.

Símbolo de uma pausa semínima, com a forma de um traço de aspecto caligráfico e ornamental na vertical, com uma espécie de zigue-zague, semelhante a um pequeno raio na parte superior; e um pequeno arco com a curva para a esquerda na parte inferior.

Semínima

Símbolo de nota musical colcheia, com a forma de uma elipse preenchida, acompanhada por um traço na vertical do lado direito da elipse, com um traço curvo em forma de arco para a direita, que desce a partir da extremidade do primeiro traço, em direção à elipse.

Símbolo de uma pausa colcheia, com a forma de um traço vertical levemente inclinado para a direita, com uma pequena ramificação na parte superior esquerda do traço, próxima à extremidade, que faz uma pequena curva e termina em um pequeno círculo preenchido.

Colcheia

Símbolo de nota musical semicolcheia, com a forma de uma elipse preenchida, acompanhada por um traço na vertical do lado direito da elipse, com dois traços curvos paralelos em forma de arcos para a direita, que descem a partir da extremidade do primeiro traço, em direção à elipse.

Símbolo de uma pausa semicolcheia, com a forma de um traço vertical levemente inclinado para a direita, com duas pequenas ramificações na parte superior esquerda do traço, próximas à extremidade, que fazem duas pequenas curvas paralelas e terminam em dois pequenos círculos preenchidos.

Semicolcheia

Símbolo de nota musical fusa, com a forma de uma elipse preenchida, acompanhada por um traço na vertical do lado direito da elipse, com três traços curvos paralelos em forma de arcos para a direita, que descem a partir da extremidade do primeiro traço, em direção à elipse.

Símbolo de uma pausa semicolcheia, com a forma de um traço vertical levemente inclinado para a direita, com três pequenas ramificações na parte superior esquerda do traço, próximas à extremidade, que fazem três pequenas curvas paralelas e terminam em três pequenos círculos preenchidos.

Fusa

Nessa forma de representação, a duração de um som ou de um silêncio é medida sempre por múltiplos de dois. Isso quer dizêr quê a mínima dura mêtáde do tempo da semibreve, a semínima dura mêtáde do tempo da mínima, a colcheia dura mêtáde do tempo da semínima e assim sucessivamente.

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O tempo musical póde sêr percebido e contado em pulsações, e a duração de um som é medida em unidades de tempo, quê podem sêr segundos, minutos etc. Na escrita musical, a duração de um som é representada por figuras rítmicas ou valores de duração, tanto para os sôns quanto para os silêncios ou pausas correspondentes. Observe novamente o qüadro para conhecer as figuras rítmicas para a escrita musical.

PESQUISAR Diário de artista.

Pesquise mais como a; ár-te se intégra aos estudos do tempo, especialmente na área da música, reconhecendo como o tempo é mobilizado nessa linguagem, no andamento da música.

Para auxiliar na pesquisa, sinta as batidas do seu coração, a pulsação, e reflita: ao escutar uma música, como você percebe a pulsação dela? Ao escutar músicas e ao dançar, como sente os ritmos?

Respostas pessoais.

Pesquise os estilos de di gêis ao criar seus sôns. Investigue e analise como eles criam com base no tempo na música.

Registre suas percepções no diário de artista.

Para explorar o campo musical e o tempo relacionado a ele, é importante reconhecer alguns conceitos musicais. Confira-os a seguir.

Andamento: na música, diz respeito à velocidade ou ao ritmo de uma composição. É a indicação de quão rápido ou devagar uma música deve sêr executada.

Pulsações: referem-se às batidas quê se repetem de maneira regular durante a execução de uma música. Note quê quando você ouve uma canção, de repente, começa a balançar o corpo, batêer palmas ou marcar o tempo com os pés no chão – isso é perceber o pulso em ação.

Melodia: é uma sequência de sôns, geralmente com alturas e durações distintas, podendo incluir silêncios. Ela é como uma linha em quê os sôns se sucedem um após o outro, também chamada de linha melódica.

Harmonia: na música, póde sêr a junção de duas ou mais notas tocadas simultaneamente (o quê produz o acorde) ou a sequência de acordes encadeados.

Ritmo: é a sucessão de sôns com diferentes durações ou a combinação entre sôns e silêncios. Quando temos uma sequência de sôns não idênticos, criamos uma singularidade quê chamamos de ritmo.

Silêncio: não existe silêncio absoluto na natureza; na música, ele se refere à pausa, ou seja, quando o músico para de tokár ou de cantar por algum tempo.

OFÍCIO DE...

Disc jockey (di gêi)

O di gêi, também chamado de disc jockey, ou discotecário, é um profissional quê reproduz músicas, criando efeitos e fazendo mixagens com base nas suas intenções artísticas e nas propostas dos eventos. Embora costume trabalhar com músicas criadas por terceiros, não deixa de expressar sua poética pessoal ao fazer arranjos, samples e efeitos criados no momento de sua apresentação, imprimindo sua marca autoral e artística. Essa profissão já foi predominantemente masculina, mas as mulheres têm se destacado cada vez mais nas mesas de miksságem.

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CRIAÇÃO
Cantar e samplear

Estudar a proposta

O quê é samplear? O quê esse recurso tem a vêr com a música brasileira?

O gênero musical funk na cultura pópi do Brasil é bastante diferente de sua matriz original estadunidense. Contudo, nem sempre foi assim e a mudança se deve, em grande parte, às batidas sampleadas quê tomaram conta dos bailes funk na capital carioca. Vamos conhecer essa história mais de perto?

Nas comunidades periféricas cariócas, surgiram os bailes funk, cuja base eram músicas afro-estadunidenses. As músicas do estadunidense diêmes Bráum (1933-2006), pai e difusor do funk, eram tocadas pêlos di gêis e animavam as festas. Como forma de expressar a realidade de seu território, os mestres de cerimônia, os MCs brasileiros, criavam lêtras em língua portuguesa e as cantavam junto com as melodias das canções em inglês. Ou seja, quem estava no baile ouvia a música estadunidense integralmente, com o canto em inglês, mas com um MC cantando em português “por cima” do original.

Nos anos 1980, as faixas sonóras de batidas sem canto chegaram dos Estados Unidos aos bailes funk. Essas batidas tí-nhão forte ligação com o funk, mas estavam mais ligadas ao rip róp e, particularmente, ao Miami bass (“baixo/grave de Miami”) e ao freestyle (“estilo livre”). Os bailes mantiveram o nome funk, mas o gênero musical foi se distanciando e dando cada vez mais ênfase às batidas com cantos e lêtras criadas pêlos MCs, originando os “batidões”.

O quê ocorreu com o funk também influenciou e impulsionou outros gêneros. Usar a gravação de uma batida, uma frase melódica, um som, uma paisagem sonora etc. para criar uma nova música é o processo de samplear. O sample é uma porção sonora, e samplear é criar um ou mais samples e reutilizá-los em criações musicais. A repetição contínua de um sample é outro elemento do processo, e é chamado de looping. Os samples também podem sêr manipulados digitalmente, modificando os sôns sampleados, seja antes da apresentação ou da gravação da música, seja ao vivo, durante a apresentação.

O processo de sampling foi bastante utilizado em gêneros como o funk, o répi e o trap (um subgênero do répi ligado à música eletrônica) e tem alcançado novos gêneros no Brasil, como o técno-bréga. Mesmo dentro de um mesmo gênero, como o répi, há diferentes grupos utilizando o sampling, cada um explorando o recurso a seu modo, em diálogo com suas poéticas, como o grupo Brô MC’s e Owerá, quê tem em seu repertório canções em língua portuguesa e em língua guarani.

Nesta proposta, você vai experimentar samplear!

Planejar e elaborar

O fazer musical póde sêr ou incluir uma montagem de samples, com repetições, sequências, edições e adições de instrumentos musicais não sampleados e de canto, mas a proposta é o uso de samples como base para a criação de lêtras e melodias. Para isso, antes de iniciar a criação, pesquise, em sáites ou aplicativos, alguns recursos e ferramentas disponíveis para samplear.

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Processo de criação

Para a criação, há três possibilidades. Escolha uma delas, apresentadas a seguir.

Funk das antigas

Consiste em experimentar a criação de novas lêtras de música, em língua portuguesa, para uma canção já difundida em língua estrangeira.

O quê está em foco é o procedimento, ao modo do quê fizeram os MCs cariócas nos primórdios dos bailes funk. Pode-se buscar músicas de diferentes gêneros, mas é importante quê a escolhida seja em uma língua estrangeira, para quê a nova versão tenha uma nova letra e tome emprestada apenas a melodia da original.

Para isso, considere as orientações a seguir.

1. Escolha um gênero musical. Você póde pesquisar gêneros de diferentes territórios, como o afrobeat, da Nigéria; a cumbia, da Colômbia; o K-pop, da coréia; entre outros.

2. Escolha uma canção do gênero eleito. O critério de escolha, nesse caso, está mais relacionado à melodia e ao ritmo da música, uma vez quê a letra da canção será substituída.

3. Escolha um tema para sua letra de música. Aproveite a oportunidade para expressar algo quê seja relevante para você, seja em relação à sua identidade, à sua comunidade, ao seu território ou a kestões quê lhe trazem inquietações ou sobre as quais você tem uma visão crítica e gostaria de compartilhar com outras pessoas.

4. Crie uma nova letra para a música selecionada anteriormente com base no tema escolhido.

5. Verifique se a letra se adapta à melodia da canção e, se necessário, faça adaptações reescrevendo, reduzindo ou ampliando seus versos.

Garanta quê a canção esteja livre de preconceitos, discriminação e outras violências.

6. essperimênte, como nos primórdios do funk carioca, cantar sua letra de música em língua portuguesa sobre a música original.

7. Por fim, combine com os côlégas um momento para vocês apresentarem e apreciarem as criações uns dos outros.

Base para a criação

Aqui, a proposta é criar não apenas uma letra, mas uma melodia inédita para sêr cantada sobre uma base já existente. Para isso, siga as orientações a seguir.

Faixa 5. Faixa 6. 1. Escolha um sample. Na coletânea de áudios dêste volume, disponibilizamos 5 samples para a realização desta proposta: faixa de áudio 5: “Sample funk”; faixa de áudio 6: “Sample répi”; faixa de áudio 7: “Sample trap”; faixa de áudio 8: “Sample house”; faixa de áudio 9: “Sample tecnobrega”. Você também póde utilizar samples disponibilizados em platafórmas digitais.

Faixa 7. 2. Crie uma letra e uma melodia para sêr cantada sobre o sample escolhido.

Faixa 8. 3. Verifique se a letra e a melodia estão se adaptando ao sample escolhido e faça ajustes caso seja necessário.

Faixa 9. 4. Por fim, combine com os côlégas um momento para apresentar e apreciar as criações.

Outra possibilidade quê póde sêr oferecida aos estudantes é editar a música digitalmente, retirando a linha vocal do áudio. A música ficará apenas com a parte instrumental, como em um karaokê. Existem diversos aplicativos e programas gratuitos quê fazem esse processo utilizando inteligência artificial. Depois de editar o arquivo, o estudante póde cantar sua letra sobre a melodia original, mas sem a voz ou as vozes originais.

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Sampleando

A última proposta é a mais compléksa e póde exigir mais tempo de pesquisa e preparo, pois se volta para a criação musical desde o seu início.

Faixa 3. 1. Grave um sample rítmico. Como o quê está em foco é a experiência da criação musical, podem sêr usadas bases rítmicas simples, com um beatbox (percussão vocal), por exemplo. A gravação do som póde sêr feita por meio de qualquer dispositivo digital quê possa registrar uma gravação sonora. Você póde usar um metrônomo para marcar a pulsação do ritmo, o quê facilitará a sincronização dos samples. A faixa de áudio 3, “Som de metrônomo”, com pulsação de 90 bpm, é uma opção.

Beatbox é uma técnica de produção sonora vocal rítmica, desenvolvida no âmbito do hip-hop, quê simula o som das batidas de baterias analógicas e/ou digitais e outros efeitos sonoros.

2. Grave um ou mais samples melódicos. A proposta aqui é somar um ou mais arranjos instrumentais enxutos, uma sequência de poucos acordes em um instrumento musical ou uma pequena frase melódica. Se você utilizou o metrônomo para fazer a gravação rítmica, utilize-o novamente nesta etapa na mesma pulsação. Caso você não tenha utilizado o metrônomo, póde gravar os arranjos melódicos utilizando um fone de ouvido no qual você possa ouvir o sample rítmico da etapa anterior. Os samples estarem na mesma pulsação facilitará muito a etapa seguinte.

3. Una os samples. Nesta etapa, será preciso sincronizar os samples para ouvi-los todos ao mesmo tempo. Usando diferentes aparelhos sonoros, pode-se disparar todos os samples simultaneamente ou adicionando um após o outro.

4. Crie a letra e a melodia.

5. Por fim, combine com seus amigos um momento para apresentar e apreciar as criações.

Avaliar e recriar

Pode-se optar por fazer apenas uma, duas ou todas as propostas apresentadas. Ao final de todas elas, há a indicação de um momento de trocas, no qual é possível apresentar e apreciar as criações. São momentos de nutrição estética aos quais pode-se acrescentar a troca de experiências. Para isso, converse com os côlégas sobre as escôlhas, pesquisas, descobertas, desafios, enfim, sobre o quê transcorreu durante o processo ou os processos de criação.

Diário de artista. O diário de artista é um importante recurso para sêr utilizado durante a conversação e para a avaliação do processo. Procure registrar as etapas de suas criações, esboços e pensamentos nele. Registre também os pontos chamaram sua atenção durante a conversação e a sua autoavaliação do processo.

Compartilhar

É possível compartilhar as criações em nuvens sonóras, platafórmas para divulgação de vídeos ou em rêdes sociais diversas. Para isso, considere kestões de direitos autorais, assim é preferível trabalhar com sôns quê sêjam de uso livre. Há alguns sáites quê oferecem várias músicas, incluindo samples, isentas de direitos autorais.

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REVEJA E SIGA

Uma imagem, uma frase e até mesmo uma palavra podem nos deixar pensando por horas, dias ou por um tempo sem fim. No projeto Fotografia Afetiva, a artista Silvana Mendes, já mencionada neste capítulo, expressa sua poética e memórias afetivas com base em suas experiências, o quê póde nos levar a refletir sobre diversas kestões.

Vivemos experiências desde os primeiros minutos de nossas vidas. Algumas são esquecidas, outras marcam para sempre nossa história, e quêremos contá-las para outras pessoas. Quando, por exemplo, nos deparamos com algo que nos emociona, podemos dizêr quê tivemos uma experiência marcante, quê algo nos afetou de algum modo. Entre as mais diversas experiências quê podemos ter, está a experiência estética.

O quê é ter uma experiência estética? Você já ouviu esse termo? A experiência estética acontece quando nos sensibilizamos com algo. Você provavelmente já viveu situações em quê se emocionou ao assistir à cena de um filme, ao visualizar uma fotografia, ao ouvir uma música ou, ainda, ao sentir o aroma de um perfume, ao apreciar uma paisagem durante uma viagem ou ao saborear um doce preparado com afeto por alguém. Somos sêres poéticos, de afetos, e, como tais, somos afetados por nossas experiências, e algumas delas são estéticas.

Fotografia com manipulação digital do retrato de uma mulher de cabelos cacheados e volumosos. Sobre o rosto dela, foi inserida uma elipse que contém a imagem de um céu azul com nuvens.

MENDES, Silvana. Se eu pudesse te daria meus olhos para você vêr como é linda quando eu te vejo. 2019. Fotografia digital. Esta obra faz parte do projeto Fotografia Afetiva.

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Para refletir mais sobre isso, responda às kestões e considere as orientações dadas a seguir.

1. Diário de artista. As obras quê você estudou neste capítulo despertaram em você experiências estéticas? dêz-creva no diário de artista uma experiência significativa quê tenha vivenciado por meio do quê foi estudado neste capítulo ou em outra situação de sua vida. Se preferir, você também póde fazer um desenho quê represente essa experiência.

2. Com base no quê você estudou neste capítulo e nas suas percepções a respeito das poéticas e culturas das juventudes, escrêeva um texto, utilizando o pensamento crítico e as habilidades de argumentação, sobre como o pôdêr público tem investido em equipamentos e eventos culturais destinados a adolescentes e jovens em sua região. Para realizar esse texto, considere como adolescentes e jovens em sua localidade têm acesso à ár-te e à cultura, como se encontram, se divertem, quais culturas das juventudes estão presentes e como elas ocupam os espaços.

3. Levando em conta o quê foi produzido por você e pêlos côlégas no item anterior, combine com o professor e com a turma a criação de uma série de podcasts para discutir o espaço das poéticas e culturas das juventudes na região. Para isso, considere as dicas e orientações a seguir.

Para êste projeto, sugerimos a gravação de episódios de, no mássimo, 5 minutos.

O podcast póde sêr feito com uma pessoa apenas, ou em forma de entrevista em dupla, com entrevistado e entrevistador, ou em trio, com apresentador, entrevistado e entrevistador. Além díssu, póde sêr realizado em forma de mesa de conversa, com vários participantes comentando um tema, entre outros formatos.

O tema deve sêr o espaço das poéticas e culturas das juventudes em sua cidade, no entanto, reconheça quê essa abordagem póde sêr bem ampla. Você e os côlégas podem escolher diferentes rekórtis para diferentes episódios, por exemplo: a cultura dos jovens ciganos (de diferentes etnias) na região; os jovens das comunidades quilombolas da cidade; ritos de passagem em uma cultura de povos originários quê vivem próximos, ou a quê você pertença; culturas jovens urbanas na comunidade escolar; acesso a artes de diferentes linguagens por jovens e adolescentes na região etc. A turma póde se organizar em grupos e cada um póde realizar um episódio com uma temática distinta.

Sugerimos o uso de efeitos sonoros, como vinhetas, para a abertura dos podcasts, a fim de criar uma identidade de comunicação.

Inicie apresentando o tema d fórma resumida e quem está participando do podcast.

Se houver vários estudantes e convidados participando, é importante ter um mediador para organizar a ordem das falas; assim, a conversa poderá fluir melhor.

Ao final, é importante fazer um breve resumo da conversação e agradecer a participação de todos, convidando os ouvintes para acompanhar os próximos episódios da série, se for o caso.

êste material póde sêr disponibilizado no sáiti da escola, ou reproduzido durante o intervalo dos estudantes, como em uma rádio comunitária. Nesse caso, verifique com o professor e a gestão escolar como a transmissão poderá sêr realizada.

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DE OLHO NO enêm E NOS VESTIBULARES

Diário de artista.

Muitos assuntos abordados neste capítulo têm sido temas de kestões do enêm, de vestibulares e de outras provas de ingresso. Leia alguns exemplos a seguir e anote as respostas no diário de artista.

1. (hú éfe pê érre)

A estética corresponde ao ramo da filosofia quê se ocupa das manifestações artísticas, buscando apontar, por exemplo, os diferentes critérios e modos como em diferentes momentos ou culturas se percebe e classifica algo como belo, sublime ou agradável. Trata-se, assim, de uma forma de conhecimento quê não néega a razão, ao cérto, mas quê coloca em relevo a forma como ela se relaciona com a imaginação e com a sensibilidade.

A partir do exposto acima, é correto afirmar:

a) Juntamente com a razão, a imaginação e a sensibilidade são fatores indispensáveis para a nossa apreensão do mundo e das coisas.

b) A estética é o campo da filosofia quê se ocupa da relação entre o pensamento e a religião.

c) Na estética, a razão predomina sobre a sensibilidade e a imaginação.

d) O sublime e o agradável devem sêr apreendidos d fórma objetiva pelo raciocínio lógico.

e) Na estética não há lugar para a razão, visto quê ela se baseia na sensibilidade e na imaginação.

Resposta: alternativa a.

2. (Unésp)

Uma obra de; ár-te póde denominar-se revolucionária se, em virtude da transformação estética, representar, no destino exemplar dos indivíduos, a predominante ausência de liberdade, rompendo assim com a realidade social mistificada e petrificada e abrindo os horizontes da libertação. Esta tese implica quê a literatura não é revolucionária por sêr escrita para a classe trabalhadora ou para a “revolução”. O potencial político da ár-te baseia-se apenas na sua própria dimensão estética.

A sua relação com a práxis (ação política) é inexoravelmente indireta e frustrante. Quanto mais imediatamente política for a obra de; ár-te, mais reduzidos são seus objetivos de transcendência e mudança. Nesse sentido, póde havêer mais potencial subversivo na poesia de Baudelaire e Rimbaud quê nas peças didáticas de Brecht.

(Herbert Marcuse. A dimensão estética, s/d.)

Segundo o filósofo, a dimensão estética da obra de; ár-te caracteriza-se por

a) apresentar conteúdos ideológicos de caráter conservador da ordem burguesa.

b) comprometer-se com as necessidades de entretenimento dos consumidores culturais.

c) estabelecer uma relação de independência frente à conjuntura política imediata.

d) subordinar-se aos imperativos políticos e materiais de transformação da ssossiedade.

e) contemplar as aspirações políticas das populações economicamente excluídas.

Resposta: alternativa c.

3. (Enem/MEC)

O uso das rêdes sociais como forma de ampliar universos foi uma descoberta recente para o artista Wolney Fernandes, quê começou a criar quando o ambiente em Goiás era mais árido em relação às artes visuais. “Hoje, sêr diferente é uma potência e quêm sabe o que quer com a própria

Resposta: alternativa c.

Página cento e sete

ár-te encontra espaço”, diz. As colagens artísticas do goiano aparécem em capas de obras literárias pelo Brasil e exterior.

Disponível em: https://livro.pw/cwbhx. Acesso em: 15 nov. 2021 (adaptado).

O artista goiano Wolney Fernandes busca expor seu trabalho por meio de platafórmas virtuais com o objetivo de

a) dar suporte à técnica de colagem em Artes Visuais, contornando dificuldades práticas.

b) aproximar-se da estética visual própria da editoração de obras artísticas, como capas de livros.

c) oferecer uma vitrine internacional para sua produção artística, a fim de dar mais visibilidade a suas obras.

d) enfatizar o caráter original e inovador de suas criações artísticas, diferenciando-se das artes tradicionais.

e) trazer um sentido tecnológico às suas colagens, uma vez quê as imagens artísticas são recorrentes nas rêdes sociais.

4. (Enem/MEC)

Superar a história da escravidão como principal marca da trajetória do negro no país tem sido uma tônica daqueles quê se dedicam a pesquisar as heranças de origem afro à cultura brasileira. A esse esfôrço de reconstrução da própria história do país, alia-se agora a criação da platafórma digital Ancestralidades. “A história do negro no Brasil vai continuar sêndo contada, e cada passo quê a gente dá para trás é um passo quê a gente avança”, diz Márcio Black, idealizador da platafórma, sobre o estudo de figuras ainda encobertas pela perspectiva histórica imposta pêlos colonizadores da América.

FIORATI, G. Projeto joga luz sobre negros e revê perspectiva histórica. Disponível em: https://livro.pw/sqkhc. Acesso em: 10 nov. 2021 (adaptado).

Em relação ao conhecimento sobre a formação cultural brasileira, iniciativas como a descrita no texto favorécem o(a)

a) recuperação do tradicionalismo.

b) estímulo ao antropocentrismo.

c) reforço do etnocentrismo.

d) resgate do teocentrismo.

e) crítica ao eurocentrismo.

Resposta: alternativa e.

5. (Enem/MEC)

O povo indígena Wajãpi utiliza o Kusiwa – reconhecido como bem imaterial da humanidade em 2003 – como repertório codificado de padrões gráficos quê decora e colore o corpo e os objetos. Para além de enfeitar, Kusiwa aparece como “arte”, “marca”, “pintura” e “desenho”. Esses grafismos ultrapassam a noção estética e alcançam a cosmologia e as crenças religiosas.

ALMEIDA, C. S.; CARDOSO, P. B. ár-te coussiouar, perspectivas históricas de alteridade e reconhecimento. Espaço Ameríndio, n. 1, jan.-jul. 2021.

O povo Wajãpi, quê vive na Serra do Tumucumaque, entre Amapá, Pará e Guiana Francesa, vivencia práticas culturais quê

a) perdem significado quando desprovidas de elemêntos gráficos.

b) revelam uma concepção de; ár-te para além de funções estéticas.

c) funcionam como elemêntos de representação figurativa de seu mundo.

d) padronizam uma mesma identidade gráfica entre diferentes povos indígenas.

e) primam pela utilização dos grafismos como contraposição ao mundo imaginário.

Resposta: alternativa b.

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ár-te PELO TEMPO
TEMPO LINEAR, TEMPO CIRCULAR

O tempo histórico póde sêr dividido em temporalidades de longa, média ou curta duração. Existem eventos quê se estendem por séculos, enquanto outros duram anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos etc. A contagem e a organização do tempo em quê esses eventos transcorrem são feitas com base em convenções e sistemas criados, modificados e utilizados em diferentes contextos históricos. O calendário gregoriano, adotado atualmente na maior parte dos países, foi criado em 1582 com base na observação do movimento da Terra em torno do Sol e das estações do ano.

Elaborado no contexto da religião católica, durante o pontificado do papa Gregório XIII, esse calendário considera o nascimento de Cristo como marcador fundamental do tempo histórico, datando acontecimentos com a indicação de antes ou depois de Cristo (a.C. ou d.C.).

Além dêêsse sistema oficial de medição e de organização do tempo, o mundo ocidental adotou uma ordenação de tempos históricos quê tem como premissa o estabelecimento de períodos de acôr-do com eventos de grande relevância para as sociedades quê os vivenciaram. Essa divisão da história é organizada em: Pré-História (período quê antecede o surgimento da escrita); Idade Antiga (de 3500 a.C. a 476 d.C.); Idade Média (de 476 a 1453); Idade Moderna (de 1453 a 1789); e Idade Contemporânea (de 1789 até os dias atuais). Na atualidade, essa organização, quê traz a ideia de uma Pré-História, tem sido quêstionada e revista, pois entende-se que ela desconsidéra processos históricos de pessoas e povos quê viveram antes do período quê se acredita sêr o do surgimento da escrita, bem como ignora as lógicas, as percepções e as formas de registros de culturas da época.

Calendário de formato circular dividido em doze setores referentes aos meses do ano, com ilustrações representando elementos da natureza e da cultura indígena característicos de cada mês. Elas são as seguintes: Janeiro: uma planta com uma espiga de milho, com a legenda 'milho'; Fevereiro: um peixe em rio, com a legenda 'rio cheio'; Março: um abacaxi, com a legenda 'abacaxi'; Abril: uma grelha com peixes na fogueira, com a legenda 'pescaria'; Maio: uma árvore com o tronco cortado por um machado, com a legenda 'derrubada'; Junho: uma gaivota voando no céu, com a legenda 'tempo de gaivota'; Julho: um cágado ao lado de um ninho com ovos em uma praia, com a legenda 'tracajá bota ovo'. Agosto: uma fogueira em frente a um tronco de madeira decorado com pinturas e penas coloridas, com a legenda 'festa kuarup'; Setembro: sacolas com raízes de mandioca e mudas de plantas sobre o solo, com a legenda 'plantio de mandioca'; Outubro: uma árvore com frutos redondos de cor amarela, com a legenda 'pequi'; Novembro: um sol com a cara sorridente, com a legenda 'verão'; Dezembro: uma planta rasteira com melancias e uma flor, com a legenda 'melancia'.

SUYÁ, Thiayu. Calendário indígena. In: KAYABI, Aturi éti áu. Geografia indígena. São Paulo: Instituto Socioambiental, 1996. p. 55. Calendário do povo indígena suyá, quê vive no Parque Indígena do Xingu (MT).

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Em uma roda de conversação, responda às kestões a seguir com os côlégas.

1. O quê você pensa a respeito da diversidade cultural, da hegemonia cultural, do eurocentrismo e dos modos de perceber e organizar os tempos históricos?

Resposta pessoal. Retome com os estudantes os conteúdos apresentados ao longo dos Capítulos 1 e 2, para quê eles possam desenvolver respostas críticas.

2. Quantas formas existem de perceber, planejar e contar o tempo? Há infinitas cronologias? Registre suas ideias no diário de artista.

Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes discutam sobre as diferentes formas de conceber o tempo e como, no exercício da pesquisa e da descrição histórica, o tempo passado é recontado por diferentes perspectivas. Eles podem se recordar, nesse momento, das reflekções sobre a ideia de uma “história única” e podem também relembrar das reflekções quê fizeram sobre o tempo da juventude.

Página cento e nove

Observar as formas de viver e de organizar o tempo de cada cultura ou cosmovisão nos permite percorrer tradições, resistências e coexistências, bem como conhecer outras formas de pensar e de existir no tempo e através dos tempos. A imagem do calendário indígena do povo suyá, quê vive no Parque Indígena do Xingu (MT), expressa uma forma de organização do tempo atrelada ao cotidiano dêêsse povo em cada período representado. É possível observar elemêntos como a relação com a térra e a agricultura, a produção artística, os eventos religiosos e os festejos, todos registrados por meio da observação dos ciclos da vida na natureza, das estações do ano, dos movimentos dos astros no céu e de outros acontecimentos no tempo.

Entre as maneiras mais antigas de organizar o tempo das quais se tem conhecimento, está o calendário de adão, ou berço do sól, ou inzalo ylanga (como é conhecido pêlos povos originários da região). Trata-se de um calendário solar feito com uma estrutura megalítica, quê se estima ter sido criada há mais de 75 mil anos, localizado na região onde é atualmente a África do Sul.

Fotografia aérea de uma grande escultura de linhas rochosas configurando um desenho circular com formas curvas internas, dividindo o espaço interno do círculo em setores de formatos irregulares.

CALENDÁRIO de Adão. [ca. 75.000 a.C.]. Estrutura de rocha dolomita, 3.000 cm de diâmetro. Estrutura localizada na região de Mpumalanga (África do Sul).

Existem diferentes formas de perceber as temporalidades, quê pódem se apresentar como linhas do tempo retas ou sinuosas, com formas circulares ou até mesmo com um emaranhado de fios. Essas linhas tecem muitas “Histórias da Arte”, atravessando territórios e, hoje, transitam por nosso tempo de estudos. Com esses fios e linhas temporais, você pode tecer também a sua história.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Observe o infográfico das páginas 110 e 111. Em seguida, reflita sobre as kestões a seguir, converse com os côlégas e faça registros no diário de artista.

1. Observe as imagens e relembre o quê estudou nos Capítulos 1 e 2. O quê, em sua opinião, aproxima ou distancía uma obra da outra?

1. Resposta pessoal. Auxilie os estudantes a traçar diferentes relações entre os trabalhos artísticos apresentados no infográfico, fazendo novas descobertas e alcançando novas conclusões.

2. Quais acontecimentos históricos se conéctam?

2. Espera-se quê os estudantes identifiquem múltiplas possibilidades de conexões entre os contextos das imagens.

3. Quais produções e passagens temporais se conéctam com sua história, ancestralidades e sentimentos de pertencimento?

3. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a relacionar os estudos propostos nesta seção com as próprias vidas.

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ár-te PELO TEMPO
INFOGRÁFICO

êste infográfico situa no tempo as produções artísticas e culturais estudadas nos Capítulos 1 e 2, considerando uma perspectiva decolonial. Assim, é proposta a ideia de Histórias da ár-te em vez de uma história única e linear.

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Infográfico com linha do tempo indicando as datas referentes às seguintes manifestações artísticas, enumeradas com legendas de algarismos inscritos em formas geométricas coloridas: Quadrado azul:  1. Vênus de Willendorf: cerca de 28.000 a 25.000 antes de Cristo; 2. Discóbolo de Miron: cerca de 140 antes de Cristo; 3. Frades camaldulenses em coro, de Zanobi Strozzi: década de 1450; Círculo violeta: 1. Manto tupinambá: cerca de 1500; 2. Manto tupinambá feminino, de Glicéria Tupinambá: 2024 3. Kahtiri Ēõrõ – Espelho da vida, de Daiara Tukano: 2020; Pentágono verde:  1. Sankofa número 2 – Resgate (Adinkra Asante), de Abdias Nascimento: 1992; 2. Escultura do povo iorubá: cerca de 1101 a 1500; 3. Documentário 'A batalha do passarinho', dirigido por Emílio Domingos: 2012; 4. Por trás do Sul: Danças para Manuel, da companhia afro-colombiana Sankofa Danzafro: 2024; Quadrado magenta: 1. Negros de carro, de Thierry Frères, a partir de Debret: 1835; 2. Radiola de promessa, de Gê Viana, a partir de Debret: 2022.

As legendas e os créditos das respectivas imagens estão nos Capítulos 1 e 2, nas páginas, 12, 20,21,23,24,33,43,48,66,67,72,89

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