CAPÍTULO 3
CRIO, LOGO EXISTO

Observe a fotografia do trabalho da artista fluminense Tadáskía (1993-), quê participou da 35ª Bienal de ár-te de São Paulo, em 2023, e leia o trecho do poema da artista. Em seguida, converse com os côlégas a respeito das kestões.

Eu me entrego à mudança

dia sim dia sim

insights em meus voos, durmo e acôr-do;
da escuridão
multiformes
faíscas me guiam

modulando as linhas de vôo
meu bico é um aventureiro

tortas, cores espaçadas, nascendo
– nossa transformação alada –,
eu sei quando não estou nas linhas cértas

admito o êrro constituinte de todo vôo:
redesenho as rótas da minha sensibilidade outra vez

TADÁSKÍA. Ave preta mística. Nova iórk: Studio Miusiãm in Harlem, 24 maio 2024. Tradução nossa. Disponível em: https://livro.pw/vxgzk. Acesso em: 5 out. 2024.

1. Em sua opinião, como acontece uma criação artística? Pensando em suas vivências com processos criativos em práticas artísticas, como elas aconteceram?

1. Respostas pessoais. Incentive os estudantes a refletir se o processo criativo se dá por acaso, se é planejado ou se é baseado em fluxos de experimentações entre acertar e errar, por exemplo. Espera-se quê os estudantes reconheçam, primeiramente, quê, no processo de criação artística, há muitas formas e possibilidades de criar e, em um segundo momento, reflitam sobre seus próprios processos criativos.

2. A criatividade é uma questão de genialidade, espécie de dom de apenas algumas pessoas, ou é possível aprender a sêr criativo? Que ideias lhe vêm à mente ao pensar nessas kestões?

2. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes conversem sobre os muitos sentidos quê o termo criatividade carrega, reconhecendo, por exemplo, quê existe a criatividade para resolução de problemas, a criatividade para comunicação ou para cértas linguagens artísticas etc. Incentive-os a trocar opiniões com base em seus repertórios.

3. Ao ler o trecho do poema de Tadáskía, quê ideias e emoções são provocadas em você? A fruição da imagem e do texto poético despertaram sua imaginação de quê maneira?

3. Respostas pessoais. Cada fruidor terá suas percepções e interpretações, mas proponha o convite à fruição, incentivando quê expressem suas percepções, observações e interpretações de modo pessoal e em conversações com a turma.

Página cento e treze

Fotografia de instalação artística em um ambiente expositivo circular, com desenhos coloridos abstratos de formas curvas e arredondadas ocupando o teto e as paredes, além de desenhos em folhas brancas expostos nas paredes e três esculturas expostas sobre pedestais circulares no chão, feitas com varetas de madeira aglomeradas e justapostas, ao lado de pratos com alimentos.

Espaço da 35ª Bienal de ár-te de São Paulo “Coreografias do Impossível” ocupado pelo trabalho da artista Tadáskía, Fundação Bienal de São Paulo (SP), 2023.

Página cento e quatorze

TEMA 1
Um lugar chamado criação

As kestões no texto são de caráter retórico e visam promover reflekções no momento da leitura. Se julgar pêrtinênti, proponha quê os estudantes pausem a leitura para pensar sobre essas kestões e, em seguida, a retomem. As respostas são pessoais e as reflekções propostas serão aprofundadas ao longo do estudo dêste tema.

Observe a imagem a seguir e leia um trecho da canção “Se liga aí”, interpretada por Gabriel O Pensador (1974-).

Fotografia de Alexandre Orion. Ele usa gorro, camiseta de magas longas e calças, enquanto pinta caveiras nas paredes internas de um túnel.

Alexandre Orion durante a execução da intervenção urbana Ossário. São Paulo (SP), 2008.

Eu não conheço esse lugar!

A gente pensa quê é livre pra falar tudo

quê pensa mas a gente sempre pensa

um pouco antes de falar!

[…]

Pensa! O pensamento tem pôdêr.

Mas não adianta só pensar.

Você também tem quê dizêr! Diz!

Porque as palavras têm pôdêr.

Mas não adianta só falar.

Você também tem quê fazer! Faz!

SE LIGA aí. Intérprete: Gabriel O Pensador. Compositores: Aninha Lima, Gabriel O Pensador e Liminha. In: Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo). Produção: Liminha. São Paulo: sôni Music, 2001. 1 cê dê, faixa 1.

Uma das características marcantes dos sêres humanos é a criação. Trata-se de uma habilidade desenvolvida desde o surgimento da humanidade enquanto sêres culturais e de linguagens. E como se dá a criação na ár-te? De onde vêm tanta criatividade? Será inspiração, genialidade ou a vontade incontrolável de dizêr algo por meio de linguagens? São essas kestões, entre outras relacionadas à criação, quê serão investigadas ao longo dêste tema. A criação artística póde nascer de uma inquietação, de algo quê provoque o artista a querer “dizer”, como sugere a canção de Gabriel O Pensador.

Página cento e quinze

Na fotografia, é possível vêr o artista paulista Alexandre Orion (1978-) em uma intervenção urbana, removendo a fuligem de um muro na rua, d fórma a desenhar caveiras. Desse modo, ele póde estar sugerindo, entre várias outras possibilidades, quê viver em uma cidade grande sem cuidado, sem olhar para o lado ou se importar com o próximo é perigoso, ou quê, por exemplo, guiar um automóvel quê polui os lugares por onde passa póde sêr muito negativo para todos quê vivem naquela cidade.

Já em relação à letra do réper fluminense Gabriel O Pensador, podemos interpretar quê ele nos afirma quê o pensamento tem pôdêr, mas é preciso encontrar um modo de expressá-lo, materializá-lo, torná-lo linguagem, poética, ár-te! Orion escolheu a linguagem do grafite reverso, e Gabriel, a da música, no répi. Qual seria a sua forma de materializar seu pensar, qual seria a sua linguagem, qual é a sua ár-te?

“Penso, logo existo” é uma ideia defendida pelo filósofo e matemático francês Renê Descartes (1596-1650) para pensar nossa existência. “Sinto, logo existo” é outra forma de refletir sobre essa temática, sêndo uma perspectiva do também francês môríss Merleau-Ponty (1908-1961). Com base em seus estudos, Merleau-Ponty defendeu quê ocupamos, com o nosso corpo, o espaço e o tempo e quê, por meio dessa materialidade, vivemos experiências, percebemos e sentimos as coisas e o mundo, desenvolvendo, assim, maneiras de sêr e existir. Dialogando com esses filósofos, “Crio, logo existo” é a expressão quê dá título a êste capítulo. Esse é nosso convite para pensar quê, entre muitos modos de sêr e existir, somos “mente, corpo e ação” e, na integração deles, mesmo depois do nosso tempo, ainda podemos existir por meio da criação.

Gabriel O Pensador é cantor, compositor e escritor. Ele tem suas obras marcadas pela crítica e pela criatividade na maneira de se expressar sobre assuntos polêmicos, como política, economia, educação, violência, qualidade de vida, meio ambiente, entre outros.

ATIVAÇÃO

É possível conhecer mais da intervenção urbana Ossário, de Alexandre Orion, consultando o sáiti oficial do artista.

Alexandre Orion. Disponível em: https://livro.pw/vgqbd. Acesso em: 5 out. 2024.

Grafite reverso é um tipo de grafite em quê o artista remove materialidades, como poeira, utilizando variadas ferramentas, como um pedaço de pano ou uma máquina de limpeza. Assim, o artista cria por meio da remoção, em vez de adicionar tinta, como acontece em outros tipos de grafite. Esse tipo de; ár-te está geralmente ligado a ideologias em defesa do meio ambiente, conscientização do uso dos espaços urbanos e críticas sociais.

PESQUISAR Diário de artista.

Converse com os professores de ár-te e de Filosofia e peça orientação para pesquisar em fontes seguras sobre processos de criação na ár-te.

Registre suas descobertas no diário de artista.

Faça sínteses dêêsses estudos e anote frases de autores quê lhe chamarem a atenção, registrando as referências. Por exemplo, no caso de livro, indicar: SOBRENOME, Nome. Título. Local de publicação: Editora, data de publicação.

Ainda no diário de artista, crie textos poéticos, dêzê-nhôs, imagens com colagens e outras linguagens quê possam expressar seu modo de estudar, conhecer e registrar.

Página cento e dezesseis

Quer dizêr, então diz!

Um artista, ao criar sua ár-te, póde inventar um mundo imaginário, cheio de sentidos, percepções e sensações quê dialogam com as nossas. Assim, uma imagem, como o grafite reverso de Alexandre Orion, ativa nossas interpretações, memórias, referências simbólicas e culturais, reflexos de nossas experiências e visões de mundo. O trabalho Ossário torna-se uma metáfora visual, uma provocação para refletir, e póde nos levar a pensar em várias kestões, como a realidade da poluição nas grandes cidades. Sendo assim, a; ár-te carrega poéticas e sensações de quem a fez, mas também sentidos e interpretações de quem a observa.

Nesse sentido, as imagens são textos visuais carregados d fórmas e discursos, capazes de evocar em nós lembranças de muitas outras experiências e referências. As caveiras, por exemplo, são empregadas em obras visuais de forma simbólica desde a Antigüidade, em expressões como vanitas. Na obra do artista holan-dêss Aelbert Jansz der Schoor (1603-1672), por exemplo, há crânios humanos, velas, ampulhetas, flores, livros e outros símbolos quê podem nos lembrar da finitude material da existência e de quê não levamos riquezas ou estátus social desta vida, ou seja, na morte, não há “vaidade”. No entanto, essa expressão vanitas não tende a representar apenas a morte; ela também póde alertar sobre o valor da vida, pois, sêndo breve, é também bela e preciosa, o quê aponta para cuidarmos da nossa existência.

metáfora
: figura de linguagem usada para estabelecer comparação, associação de significados entre palavras ou expressões. A metáfora visual estabelece similaridades entre ideias, símbolos e imagens.

Pintura representando um conjunto de caveiras, fêmures e mandíbulas em uma mesa, ao lado de flores, uma ampulheta e um candelabro com uma vela acesa.

JANSZ, Aelbert. Vanitas natureza morta. [ca. 1660-1665]. Óleo sobre tela, 63,5 cm x 73 cm. Rijksmuseum, Amsterdã (Holanda).

A vanitas é um tema da ár-te quê remete às ideias de finitude e transitoriedade da vida. No Barroco europeu, a sua presença aparece em composições de natureza morta, gênero artístico dedicado a representar coisas ou sêres inanimados, como frutas e flores.

GIRO DE IDEIAS

Releia o trecho da canção “Se liga aí”, de Gabriel O Pensador, reflita sobre as kestões a seguir e converse com os côlégas.

1. Como você interpréta a letra da canção? Para criar, é importante ter liberdade?

1. Respostas pessoais. É possível aproveitar o momento para propor uma reflekção sobre o conceito de livre expressão e situações-problemas relacionados à temática.

2. Ao observar a intervenção urbana de Orion e a pintura do artista barroco Aelbert Jansz, você reconhece a ideia de vanitas em ambas as obras?

2. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes estabeleçam intertextualidade entre os dois trabalhos e nas representações de símbolos de vanitas, reconhecendo a referência à morbidez ou finitude da vida. Esclareça quê o Barroco é um movimento artístico quê aconteceu entre o século XVI e meados do século XVIII, inicialmente na Itália, difundindo-se pêlos países da Europa e da América. Se julgar pêrtinênti, proponha quê os estudantes façam uma breve pesquisa a respeito.

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Criação como intervenção

O ato de intervir sempre fez parte da nossa história. Intervenções no meio ambiente, como em florestas e desertos, deram origem a habitações e cidades; alterações no curso de rios e a invenção de maquinários foram, e ainda são, capazes de transformar a vida natural. O ato humano de intervir chegou a tal ponto quê, na atualidade, tanto póde oferecer uma vida mais segura como também colocar em risco a existência da própria humanidade.

A intervenção artística, por sua vez, é mais uma forma quê os artistas encontraram de manifestar seus pensamentos em uma comunicação diréta com o público. Trata-se de uma potência poética, uma linguagem expressiva e explícita. No caso das intervenções urbanas, como o grafite reverso de Alexandre Orion, os transeuntes quê passam pelo local não escolheram vêr, ouvir ou sentir uma composição artística – como quem vai a um museu, por exemplo –; eles simplesmente são “capturados” pela ár-te em seu acontecimento e estabelecem contatos com o discurso e a poética dos artistas. As intervenções artísticas podem acontecer nas cidades e em outros locais, assim como outras produções de; ár-te pública – esculturas, grafites, cartazes, teatro, dança e música com apresentações ao ar livre, projeções de imagens, entre outras.

PESQUISAR

Vamos conversar mais a respeito de processos de criação na ár-te? Organize-se com os côlégas em um grupo e, juntos, escôlham um artista quê seguem e de quem gostam. Entre as produções dêêsse artista, escôlham uma para pesquisar a respeito do seu processo de criação. Então, conversem: quando um artista cria algo, de onde surge a ideia?

Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes busquem entrevistas, reportagens e outras fontes quê descrevam o processo de criação do artista. Oriente-os a acessar fontes confiáveis, como o sáiti oficial do artista, páginas de museus e de instituições culturais ou textos publicados pela imprensa digital, sempre analisando e checando se não estão diante de perfis falsos, uso inadequado de inteligência artificial ou conteúdos com fêik news.

COM A PALAVRA...
ALEXANDRE ORION

Analise o quê o artista contou a respeito de seu processo para criar Ossário.

“Meus projetos surgem do pensamento, penso muito antes de começar algo. […] Sempre me preocupou a ideia de o grafite sêr egoísta, de usar o espaço público para expressar algo pessoal, e eu quêria quê ele fizesse parte da vida, queria que a cidade não fosse apenas o suporte, mas a platafórma. […] Visitei um dos túneis de São Paulo, saí de lá com a certeza de quê podia desenhar limpando, mas também assustado com a quantidade de poluição quê encontrei. A ideia da intervenção concretizou-se quando entendi de quê maneira eu usaria a técnica para construir o discurso. E esse é o dado mais importante do Ossário: a relação intrínseca entre a técnica, o local e o discurso. Uma coisa conduz à outra.”

ORION, Alexandre. A ár-te urbana de Alexandre Orion. [Entrevista cedida a] Endrigo Chiri Braz. Revista Cult, São Paulo, abr. 2010. Disponível em: https://livro.pw/adebw. Acesso em: 5 out. 2024

Alexandre Orion explora grafites e intervenções urbanas desde 1995, misturando linguagens, como fotografia, vídeo, pintura, desenho, gravura e outras, procurando sempre utilizar materiais inusitados e explorar a poética da materialidade.

Fotografia de Alexandre Orion: ele é um homem com cabelos cacheados grisalhos e a barba longa, com a boca aberta, usando uma camisa de estampa florida.

Alexandre Orion, 2022.

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Criação como instalação

Observe a imagem a seguir, quê mostra uma instalação da artista Tadáskía.

Fotografia de instalação artística em um ambiente expositivo com desenhos coloridos abstratos de formas curvas e arredondadas e figuras semelhantes a pássaros nas paredes, além de desenhos em folhas brancas expostos nas paredes e duas esculturas feitas com varetas de madeira aglomeradas e justapostas, expostas sobre painéis no chão, também contendo desenhos e pinturas, ao lado de pratos com alimentos.

vista da instalação da artista Tadáskía na exposição “Projects: Tadáskía”, realizada no Museu de ár-te Moderna de Nova iórk (Estados Unidos) em 2024.

Pense em um espaço tridimensional. Uma sala de um museu ou de uma galeria em quê artistas, como Tadáskía, ocupam com sua ár-te, preenchendo-a com linhas, formas e cores. A linguagem da instalação artística oferece diversas possibilidades. Ela recebe esse nome porque, a cada proposta, o artista é desafiado a modificar um lugar, a se instalar, criando um espaço novo em quê sensações podem sêr vividas pelo público ao percorrer o espaço. Geralmente, a ocupação é efêmera e transitória, mas há casos em quê a instalação póde vir a compor o acervo permanente de uma instituição.

O espaço tridimensional apresenta três medidas (dimensões) como base: comprimento, largura e profundidade.

GIRO DE IDEIAS

Com base na imagem da instalação da artista Tadáskía, responda às kestões a seguir em uma conversa com os côlégas.

1. Percorrendo o espaço com o olhar, o quê você póde descrever?

1. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes notem quê a artista ocupou as paredes e o espaço da sala com esculturas em materialidades orgânicas – pigmentos naturais, junco, cascas de ovo e outros.

2. É possível dizêr se a artista cria ao acaso ou se planeja a sua criação? Comente.

2. Resposta pessoal. Os estudantes podem reconhecer a integração de processos híbridos, em quê a artista tanto explora o acaso no seu traçado de linhas como tem a intenção e planeja criar figuras.

Tadáskía é artista visual contemporânea, educadora e escritora. Sua obra é composta por desenho e pintura, explorando as relações entre o figurativo e o abstrato, o misticismo e a diáspora negra.

ATIVAÇÃO

A artista Tadáskía gravou quatro áudios sobre sua exposição “Projects: Tadáskía”, no Museu de ár-te Moderna de Nova iórk (MoMA). Acesse o línki a seguir para escutá-los.

Projects: Tadáskía. Publicado por: MoMA. Disponível em: https://livro.pw/oqbep. Acesso em: 5 out. 2024.

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Dom, virtude, genialidade ou curiosidade

A ideia de “musas quê inspiram artistas” é difundida desde a Antigüidade até os dias de hoje. Na mitologia grega, as musas eram entidades quê tí-nhão a capacidade de inspirar criações artísticas e científicas. Pensando nessa ideia, vários quêstionamentos podem surgir, como: é preciso uma inspiração para criar? Onde podemos encontrá-la? Todo artista é sensível e criativo? Na realidade, é importante reconhecer que a sensibilidade e a criatividade não são exclusividades dos artistas, mas são características inerêntes a todos os sêres humanos e estão presentes em muitas dimensões da vida e áreas do conhecimento.

Escultura em relevo com 9 figuras femininas em pé enfileiradas, usando togas e vestidos. Cada uma apresenta uma atitude ou está em uma posição específica, carregando um objeto simbólico que representa cada uma das musas.

SARCÓFAGO das Musas.[ca. 150 AEC] Escultura romana em mármure, 92 cm x 207 cm x 69 cm. Museu do lúvre, Paris (França). Da esquerda para a direita: Calíope (poesia épica); Tália (comédia); Terpsícore (dança); Euterpe (poesia lírica); Polímnia (hinos); Clio (história); Erato (poesia amorosa); Urânia (astronomia); Melpômene (tragédia).

O conceito de criatividade é histórico e social, ou seja, em cada época e ssossiedade se construiu sentidos para o seu significado. Uma das ideias mais comuns é a de quê sêr criativo ou talentoso para alguma linguagem artística é um dom, e essa concepção vêm da relação com as musas inspiradoras da mitologia grega. Depois, com o cristianismo, o dom não era mais dado por essas figuras mitológicas, mas por Deus ou divindades sagradas segundo cada fé, na diversidade das religiões. Assim, em muitas culturas, sêr criativo sêria um presente, um ato sobrenatural de determinado ser sagrado.

Na imagem, observamos dêtálhes esculpidos em mármure. Nela, estão representadas as nove musas quê, segundo a cultura grega, davam os dons aos homens merecedores. Desse modo, não eram todos quê podiam ter esse “presente”, e uma das exigências era quê só o receberiam os cidadãos livres e com certa instrução. Já as mulheres não podiam receber os dons, mas poderiam aprendê-los e inspirar os homens – daí nasceu a ideia de “musa” e “museu”, êste último seria a “casa das musas”.

Na época do Renascimento, a ideia de “dom divino” ainda estava presente no pensamento ocidental e reforçou a tradição de reconhecer alguns pintores, escultores, músicos, escritores e outros artistas como grandes mestres, gênios do seu tempo. No Maneirismo, artistas desenvolveram seus trabalhos à maneira dos mestres antecessores, embora houvesse inovações na escolha de temas e na forma de retratá-los. Já o Barroco e o Rococó aparecêram como

Problematize com os estudantes essa ideia antiga e com bases machistas, quê colocava os homens como criadores e pessoas instruídas e as mulheres como musas. Aproveite para combater ideias machistas e ressaltar a importânssia do combate a todos os tipos de violência contra as mulheres.

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estilos singulares com desenvolvimentos muito específicos em cada país. No Barroco, cada grupo de artistas criava com base no meio em quê vivia, e novas temáticas e técnicas foram exploradas, como retratos de pessoas do povo, poéticas da luz, composições com narrativas visuais, dramáticas e expressivas.

No Neoclassicismo, os cânones clássicos foram retomados e o virtuosismo técnico foi valorizado; assim, um bom artista era aquele quê dominava a técnica. Já no Romantismo, o valor do artista estava na expressão, em sua subjetividade e sensibilidade.

Então, na virada do século XIX para o XX, a ssossiedade vivia outros tempos, quê mudaram o modo de pensar e a velocidade do ato criador. Surgiram vários movimentos artísticos, e cada grupo defendia a sua própria concepção de criatividade e de; ár-te. Os manifestos publicados no tempo das vanguardas artísticas expressaram os caminhos criativos, ideológicos e estéticos de cada movimento. O termo vanguardas artísticas refere-se aos movimentos estéticos e artísticos quê lideraram mudanças culturais, principalmente na Europa.

O Renascimento foi um dos movimentos mais influentes da Idade Moderna e suscitou grandes feitos também nas áreas científica, filosófica, literária, urbana e comercial. O Maneirismo foi um movimento artístico intermediário quê abarcou o final do Renascimento e o início do Barroco.

O Rococó, por sua vez, marcou a transição entre o Barroco e o Neoclassicismo, sêndo um movimento cuja estética é repleta de curvas e elemêntos decorativos, como laços e flores, e do uso da côr dourada. É uma ár-te quê traduz leveza e vivacidade, sem o ezagêro ornamental do estilo barroco.

Seguindo com esse abandono do ezagêro, surge o Neoclassicismo, um movimento cultural do século XVIII e parte do século XIX, quê defendia a retomada da ár-te antiga, especialmente a greco-romana, considerada modelo de equilíbrio, clareza e proporção. Recebeu fortes influências do estilo renascentista, principalmente nas kestões técnicas em composições de pinturas. Da mesma forma, o Romantismo, entre os séculos XVIII e XIX, manifestou-se em diversas linguagens. Esse estilo artístico foi marcado por uma visão idealista e romântica sobre a vida, quê valorizava mais as emoções, a subjetividade e as intuições dos sêres humanos do quê a razão.

A explicação para a origem de um talento artístico, assim como de qualquer outra habilidade, póde ter muitas versões ou alusões. Contudo, os conhecimentos e as habilidades artísticas dos sêres humanos não se desenvolveram sem um conjunto de influências, pesquisas, experimentações, situações e rêdes de interações. Dom, técnica ou o interêsse em pesquisar e expressar-se poeticamente podem sêr diferentes maneiras para explicar a razão de as pessoas, artistas ou não, serem criativas. No entanto, a ideia de quê existe algo quê determine quem meréce e quem não meréce sêr criativo, ou seja, a ideia de “ter dons”, é algo quê deve sêr totalmente quêstionado na atualidade, levando em consideração quê vivemos mergulhados em uma grande diversidade cultural, em um estado democrático, em quê é preciso considerar as muitas formas de criar, de fazer e de compreender o que é ár-te.

Nesse breve percurso da concepção de criatividade na ár-te, não poderíamos deixar de dizêr quê as mulheres, mesmo muitas vezes sêndo invisibilizadas pela história, sempre foram criativas e fizeram ár-te. Historicamente, muitas mulheres divulgaram suas obras por meio de pseudônimos

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masculinos, ou anonimamente, por causa de uma pressão social quê concebia a; ár-te como uma área dos homens ou a; ár-te da mulher como de menor valor. Assim, ao publicar com esses pseudônimos, as artistas evitavam preconceito de caráter sexista no julgamento de suas obras.

Na contemporaneidade, ocupando um espaço desbravado por tantas mulheres antes dela, a artista paulista Rosana Paulino (1967-) se destaca no cenário da ár-te. Na série Mangue, ela retrata a imagem de uma mulher-árvore, sêr feminino híbrido, bioma-deusa, quê carrega, em seu corpo mitológico, saberes e belezas, e quê, assim como o mangue, já foi maltratada, mas carrega ancestralidade e sapiência. Em sua ár-te, assim como a de outras quê a antecederam, a mulher não é musa, ela é a própria artista.

Rosana Paulino cria suas obras de modo a destacar culturas afrodescendentes, criticar injustiças sociais, dar visibilidade à realidade da mulher negra brasileira, entre outros assuntos quê tocam seus pensamentos e sentimentos.

Pintura representando uma mulher com um vestido de folhas, segurando caranguejos nas mãos. Ela está em pé em um mangue, com quatro árvores ao lado dela, em cujas raízes estão andando outros caranguejos.

PAULINO, Rosana. Caranguejo, da série Mangue. 2023. Grafite, acrílica e pigmento natural sobre tela. 267 cm x 559 cm.

Pesquisadores nomearam tempos e tendências artísticas para facilitar o estudo da ár-te no decorrer da história. A história geral, em uma concepção ocidental, conta e nomeia os tempos como: Antes da escrita (início há 2 milhões de anos); Idade Antiga (c. 3500 a.C.); Idade Média (476); Idade Moderna (1453); Idade Contemporânea (1789).

Agora, vamos pensar em alguns termos quê surgem ao estudar ár-te:

O termo contemporâneos vêm do latim contemporaneus e significa “pertencente ao mesmo tempo”. Artistas de uma mesma época são contemporâneos. A expressão ár-te Contemporânea é usada para nos referir às produções artísticas quê vão da segunda mêtáde do século XX até nóssos dias. Assim, ár-te contemporânea não deve sêr confundida com Idade Contemporânea.

O termo Modernismo refere-se aos movimentos artísticos da virada do século XIX para o início do século XX. Assim, Modernismo não deve sêr confundido com Idade Moderna.

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ENTRE HISTÓRIAS
Tempos e “ismos” na ár-te

Você já reparou quê na língua portuguesa há muitas palavras quê terminam em “ismo”? De origem greco-latina, “ismo” é um sufixo, elemento linguístico quê, acrescentado ao final de algumas palavras, forma nomes de religiões, doutrinas filosóficas ou tendências estéticas e artísticas. No universo da ár-te, há palavras quê contêm o sufixo “ismo” quê se reférem a vários movimentos artísticos, obissérve no infográfico.

Impressionismo

Movimento quê se iniciou por volta de 1862, em Paris, na França. Ao realizar pinturas ao ar livre, artistas fizeram pesquisas sobre as mudanças na atmosféra e suas consequências na composição da côr e da luz. Eles usavam côr e luz em suas obras, compondo imagens fluidas e sem contornos, linhas dissolvidas, mergulhadas em manchas e nuances cromáticas.

Pintura representando duas mulheres de vestido e chapéu em um barco, segurando guarda-chuvas, com patos flutuando na água ao lado delas. A pintura é feita com pinceladas soltas e dinâmicas, expressando a vibração da luz e dos reflexos na água.

MORISOT, Berthe. Summer’s day [Dia de verão]. 1879. Óleo sobre tela, 45,7 cm x 75,2 cm. Né chionál Gallery, Londres (Inglaterra).

Simbolismo

Movimento quê expressava kestões mais subjetivas do sêr humano e radicalizava os ideais românticos. Surgiu por volta de 1880 e procurava questionar os estados mentais, tendo preferência por temas místicos e imaginários. A ár-te simbolista revelou, por meio de símbolos, uma realidade quê escapava à consciência.

Pintura representando mulheres indígenas seminuas sentadas no chão e sobre pedras, com animais diversos, em uma paisagem noturna com árvores e montanhas ao fundo.

GAUGUIN, poou. De onde viemos? O quê somos? Para onde vamos? [1897 ou 1898]. Óleo sobre tela, 139,1 cm x 374,6 cm. Museu de Belas Artes, bóston (Estados Unidos).

Fauvismo

Pintura representando uma mulher com os cabelos presos em um coque. Ela tem cores diversas no rosto e a pintura é feita com cores vivas e não naturalistas.

MATISSE, Henri. Retrato de Madame Matisse. 1905. Óleo sobre tela, 40,5 cm x 32,5 cm. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague (Dinamarca).

Os artistas quê criaram o Fauvismo, iniciado na França entre 1905 e 1907, eram conhecidos como fauves (feras). Nas suas pinturas, percebemos o uso de cores puras, composições quê abusam do contraste e da intensidade das cores. Os fauves não se preocupavam com a realidade, criando imagens provocadoras e explorando contrastes e novas composições cromáticas.

A proposta do infográfico é apresentar alguns dos movimentos quê mais influenciaram nas mudanças ocorridas entre o final do século XIX e XX, principalmente na Europa.

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Expressionismo

Nasceu na Alemanha, no início do século XX, em meio a conflitos e guerras. Os expressionistas refletiam a respeito das condições sociais da existência, subvertiam o equilíbrio na composição e na harmonía tradicional no uso da côr, buscando maior dinamismo.

Pintura representando uma mulher com um chapéu enfeitado com uma flor. A pintura é feita com pinceladas justapostas de cores vivas e não naturalistas.

WEREFKIN, Marianne von. Autorretrato. 1910. Óleo sobre tela, 51 cm x 34 cm. Galeria Municipal da Lenbachhaus, Munique (Alemanha).

Cubismo

Do Pós-Impressionismo ao Cubismo (entre 1907 e 1914), imagens foram criadas por meio da análise das formas. poou Cézanne (1839-1906) traduziu cenas da natureza em paisagens geometrizadas, em estudos quê, tempos depois, inspirariam artistas como Páblo Picásso (1881-1973) e diórges Braque (1882-1963) a criarem o Cubismo.

Pintura representando um grupo de mulheres seminuas em poses diversas. Os corpos e rostos delas são estilizados e têm formas geometrizadas, arqueadas e cônicas, e os rostos de algumas delas são semelhantes a máscaras tradicionais africanas.

PICASSO, Páblo. As senhoritas de Avignon. 1907. Óleo sobre tela, 243,9 cm x 233,7 cm. Museu de ár-te Moderna de Nova iórk (Estados Unidos).

Futurismo

Movimento artístico originado na Itália, em 1909, com o lançamento do Manifesto Futurista. O sêr humano sempre foi fascinado por imagem e movimento. Nas obras do Futurismo, as imagens têm dinamismo de formas, linhas e cores, revelando o fascínio do sêr humano pela velocidade das máquinas e pela visualidade do cinema.

Fotografia de escultura representando uma figura humana em movimento. As formas do corpo são fragmentadas e fluidas, dificultando a definição precisa dos contornos e dos membros, pois a figura é representada em múltiplos momentos simultâneos do deslocamento.

BOCCIONI, Umberto. Formas únicas de continuidade no espaço. 1913. Escultura em bronze, 121,3 cm x 89,5 cm x 40 cm. Museu Metropolitano de ár-te, Nova iórk (Estados Unidos).

Dadaísmo

Fotografia de uma escultura feita com canos metálicos enrolados, com encaixes e peças que se acoplam.

FREYTAG-LORINGHOVEN, Elsa von; SCHAMBERG, Morton. “Deus” por Baronesa Elsa von Freytag- Loringhoven e Morton Schamberg. 1917. Impressão de papel de gelatina e prata, 24,1 cm x 19,2 cm. Museu Metropolitano de ár-te, Nova iórk (Estados Unidos).

Manifestou-se segundo uma concepção de; ár-te sem delimitações entre as linguagens (poesia, teatro, música e artes visuais). Alguns de seus representantes foram: Elsa von Freytag-Loringhoven (1874-1927), Man rei (1890-1976) e Marcel Duchamp (1887-1968).

Surrealismo

Movimento surgido no início do século XX, em Paris, fruto da influência de Sigmúm Fróide e de todas as transformações políticas e econômicas ocorridas na Europa nesse período. O marco foi o lançamento do Manifesto Surrealista, escrito por André Breton (1896-1966), em 1924. Alguns princípios eram: ausência da lógica, exaltação da liberdade de criação, de um mundo irracional, onírico e inconsciente.

Pintura representando uma mulher gigante com pés, mãos e a cabeça pequena em relação ao corpo, caminhando descalça sobre uma paisagem com o mar ao fundo. Ela usa uma túnica e um manto, e sob o manto há gaivotas que saem voando em torno da mulher.

CARRINGTON, Leonora. A gigante (A guardiã do ovo). [ca. 1947]. Têmpera sobre painel de madeira, 117 cm x 68 cm. Coleção particular.

Abstracionismo

Surgiu no início do século XX e passou a sêr um movimento tão extenso quê precisou ganhar sentidos particulares, desmembrando-se em outros “ismos”: Expressionismo abstrato, Suprematismo, Construtivismo, Neoplasticismo, Espacialismo, Minimalismo abstrato, entre outros.

Pintura abstrata com quadrados e retângulos coloridos e faixas pretas horizontais e verticais adjacentes aos quadrados e retângulos, sobre um fundo branco.

MONDRIAN, Piet. Composição II em vermelho, azul e amarelo. 1930. Óleo sobre tela, 45 cm x 45 cm. Museu de Belas Artes, Zurique (Suíça).

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CONEXÕES com...
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
Poluição: problema e poética

Os problemas ambientais, quê acarretam as mudanças climáticas, estão cada vez mais em pauta nos últimos tempos e requerem uma tomada de consciência coletiva, além de um esfôrço conjunto de toda a ssossiedade para saná-los.

A contemporaneidade, por um lado, apresenta avanços tecnológicos importantes para a ssossiedade e condições mais confortáveis de vida; por outro lado, também traz problemas quê, se não forem discutidos por toda a ssossiedade para viabilizar soluções, poderão tornar a vida insustentável. Os debates sobre essas kestões já estão em alta há algum tempo, mas, ainda assim, temos conhecimento de incêndios criminosos quê provocam queimadas; do aumento de circulação de veículos automotores, muitos sem manutenção; de setores da indústria e do agronegócio despejando substâncias poluentes no ar e nas águas; e de outras ações antrópicas quê causam a presença de substâncias poluentes no meio ambiente, prejudicando o ar, a á gua e o solo. Por consequência, é afetada a saúde de todo o sêr vivente, entre eles os sêres humanos.

Vários artistas, reconhecendo a urgência de conscientizar as pessoas a respeito das kestões relacionadas ao meio ambiente, têm se dedicado a essa temática ambiental. Esse é o caso de Alexandre Orion, e essa tendência póde sêr observada em sua obra Ossário, abordada anteriormente. Com essa obra, realizada dentro do Túnel Max Feffer, em São Paulo (SP), o artista evidenciou a poluição da cidade e incentivou reflekções sobre os perigos quê essa poluição póde nos oferecer.

Muitas vezes, não é possível perceber quê estamos inalando tanta poluição, capaz de nos levar a desenvolver problemas de saúde respiratórios e outros. O artista Alexandre Orion, então, tornou essa situação-problema visível, e sua intervenção artística ganhou tanto destaque nas mídias quê a gestão da prefeitura da época decidiu lavar o túnel, porém apenas na parte em quê Orion tinha feito suas caveiras, sua expressão de vanitas. A produção do artista foi uma ár-te efêmera, apagada do suporte original, mas foi registrada em vídeos e fotografias, por meio das quais é possível difundi-la em outros tempos e contextos, como aqui. Mesmo quê sua obra já não exista fisicamente, permanéce a ideia e o poderoso discurso do artista, expressos em linguagem estética e poética.

GIRO DE IDEIAS

Em conversações com o professor e os côlégas, compartilhe opiniões e possíveis soluções com base nas kestões a seguir.

1. O quê você sabe a respeito da poluição atmosférica?

1. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes citem quê a poluição atmosférica póde sêr definida como a concentração de matérias poluentes quê alteram a qualidade do ar e podem afetar a saúde de sêres humanos, animais, plantas e todo o equilíbrio da vida no meio ambiente.

2. Quais ideias podem sêr propostas para melhorar a qualidade do ar em sua cidade e região?

2. Resposta pessoal. Auxilie os estudantes a pensarem em possíveis soluções ou melhorias considerando como esse problema afeta a região onde vivem.

As ações antrópicas são aquelas realizadas pêlos sêres humanos e quê afetam o meio ambiente de maneira positiva ou negativa. No caso dos impactos negativos, elas podem gerar problemas como a poluição de rios, mares, ar e solo, intensificando as mudanças climáticas.

ár-te efêmera refere-se a produções artísticas transitórias, quê não têm caráter de permanência. Para documentar a realização do projeto, ou como parte da proposta do artista, são realizadas fotografias e vídeos quê podem sêr expostos ao público em momentos e contextos diferentes do acontecimento.

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Para a série de trabalhos intitulada Polugrafia, Orion pesquisou durante três anos como continuar usando a poluição como poética da materialidade. Ele reconheceu quê veículos pesados, como caminhões, ao circular pela cidade, queimam combustível e emitem fuligem. Diante díssu, fez matrizes de metal com dêzê-nhôs de crânios vazados, uma espécie de estêncil. Uniu esses estênceis a tecídos brancos e os instalou na saída do escapamento de caminhões. Assim, quando os veículos emitiam a fuligem, esta passava por entre as partes vazadas da imagem atingindo o tecido e imprimindo a forma dêêsse sín-bolo de vanitas. Veja as imagens a seguir.

Fotografia de uma estrutura metálica contendo um painel com uma tela de algodão instalada em frente à saída de um escapamento de caminhão. Na tela de algodão está desenhada uma caveira.

Impressão da fuligem êspelída pelo escapamento de caminhões durante 7 dias. Fotografia de 2009.

Desenho de uma caveira com manchas de poluição na região das cavidades nasais, feito sobre uma tela de algodão emoldurada.

ORION, Alexandre. Polugrafia 1. 2009. Poluição sobre algodão orgânico, 60 cm x 60 cm. Obra realizada por meio da côléta da fuligem êspelída pelo escapamento de caminhões.

ATIVAÇÃO

Para saber mais do processo criativo de Alexandre Orion na série Polugrafia, assista ao vídeo quê apresenta as etapas da produção dêêsse trabalho.

Polugrafias. Pollugraphy: Alexandre Orion. Publicado por: telatv. Vídeo (4 min). Disponível em: https://livro.pw/agbiv. Acesso em: 5 out. 2024.

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CRIAÇÃO
Matérias quê ocupam espaços

Estudar a proposta

Povos antigos usavam pigmentos naturais e sopravam sobre uma superfícíe impregnada com algum tipo de aglutinante (resina, gordura etc.) para criar imagens. No caso da Caverna das Mãos, na Argentina, os pintores do passado usaram as mãos como estêncil – ou seja, como matriz ou “máscara”, quê sérve para aplicar uma imagem em uma superfícíe. No caso da série Polugrafia, de Orion, ele criou uma matriz de metal, como já visto.

Nesta prática artística, propomos quê você crie uma intervenção na sua escola explorando o recurso do estêncil. Assim, convide alguns côlégas para criar uma composição coletiva.

Pintura rupestre sobre uma parede rochosa, com imagens de diversas mãos configuradas por manchas de tinta em torno das silhuetas das mãos.

Pinturas rupestres com mais de 9.000 anos encontradas na Caverna das mãos, localizada na província de Santa Cruz, na Patagônia (Argentina). Fotografia de 2014.
aglutinante
: substância quê faz o pigmento (material responsável pela cor) aderir à superfícíe (qualquer tipo de suporte). Gordura, resinas e óleos podem sêr aglutinantes.

Planejar e elaborar

Para começar, com os côlégas, analise os espaços da escola quê podem sêr explorados na intervenção artística. Então, juntos, solicitem à gestão da escola a permissão para usar um deles nesta prática. Caso não seja possível fazer pinturas diretamente em muros ou paredes, a alternativa é criar painéis com placas de papelão e tecídos encorpados.

Depois de escolhido o local da intervenção, é preciso planejar o desenho individualmente. Para isso, reflita sobre os pontos a seguir.

Qual é a sua intenção artística, seu discurso e sua poética pessoal?

Resposta pessoal.

Sua imagem será figurativa ou abstrata?

Resposta pessoal.

Você deseja se inspirar em algum movimento artístico da História da ár-te quê estudou? Se sim, qual?

Respostas pessoais. Os estudantes devem planejar a intervenção com base em seus interesses e gostos, além de refletir a respeito daquilo quê desê-jam transmitir à comunidade escolar. Incentive-os a dialogar em grupos para chegar aos combinados necessários à prática artística.

O importante é quê você explore o seu potencial criador e a sua poética pessoal, criando com altoría e autonomia! Fazer vários dêzê-nhôs, como esboços em fô-lhas de sulfite em grandes formatos, para ter maior liberdade de expressão, são estudos importantes para chegar à imagem desejada.

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Processo de criação

Definida a imagem, é hora de escolher o material para criar a matriz do seu estêncil. Indicamos uma fô-lha de papel grosso, placa de papelão ou fô-lha de acetato. Pensando na relação ár-te e sustentabilidade, você póde reutilizar materiais, como, por exemplo, embalagens de papelão.

Para pintar, muitos grafiteiros utilizam latas de tinta em spray, mas esse material póde sêr prejudicial à saúde. Embora existam alternativas mais ecológicas, elas ainda não são muito acessíveis. Assim, sugerimos usar materiais naturais para você e os côlégas produzirem as tintas. Para isso, pesquise como fazer tintas naturais na internet ou consulte artistas da comunidade quê você conheça, ou siga as orientações do professor.

Depois de resolvida a questão da tinta, é hora de passar para a matriz e criação artística. Para isso, considere os passos a seguir.

1. Para criar com estêncil, faça um desenho sobre o suporte escolhido para a matriz.

2. Com uma tesoura, com cuidado para não se machucar, retire as partes do desenho por onde você quêr que a tinta passe.

3. Agora, prepare as tintas para uso separando-as por tonalidades em recipientes largos o suficiente para pôdêr espalhar a tinta com um rolo de pintura e/ou uma trincha. Use recipientes e rolos e/ou trinchas diferentes para cada côr.

4. Prenda o estêncil no local quê a turma escolheu para a composição coletiva, utilizando fita adesiva, se necessário. Comece o processo de entintar, ou seja, passar o rolo ou a trincha com tinta sobre a máscara de estêncil, com cuidado para quê a tinta passe apenas pelas partes vazadas do desenho. Não exagere na quantidade de tinta e espere alguns segundos para retirar o estêncil.

Avaliar e recriar Diário de artista.

Diante do quê estudou e experimentou até aqui sobre o processo de criação artística, reflita e escrêeva no diário de artista como você percebe o seu processo criativo. Trata-se de um texto de autoavaliação em quê você deve descrever como gosta de produzir, abordando, por exemplo, quê linguagem e quais materialidades prefere explorar.

Em outro momento, dialogue com o professor e os côlégas sobre o quê reconheceu em seu próprio processo criativo, relacionando suas descobertas com a prática da intervenção artística realizada.

Compartilhar

Faça registros em vídeos ou fotografias durante e após o processo de criação. Para isso, é possível usar câmeras de celulares. Assim, o material poderá sêr compartilhado por meio digital com estudantes de outras escolas da região. Para isso, busque criar um projeto digital de intervenção artística com intercâmbio entre diversas comunidades escolares da região ou de várias cidades do país.

OFÍCIO DE...

Grafiteiro

O grafite, durante muito tempo, foi considerado uma linguagem marginal, porém, com a preocupação da revitalização urbana, o trabalho do grafiteiro alcançou respeito e notoriedade. O trabalho dêêsse profissional póde sêr apresentado em grandes áreas, como as paredes de um prédio ou muros extensos, ou em dêtálhes ao longo dos espaços da cidade – sempre com a devida autorização. Dependendo da técnica, poética e reconhecimento profissional do artista, esse trabalho póde sêr bem remunerado. Por meio de alguns cursos e oficinas disponíveis no mercado, é possível se especializar em uma das linguagens do grafite e atuar d fórma autônoma.

É imprescindível quê os estudantes compreendam a importânssia de avaliar, em um processo de reflekção individual, como eles estão aprendendo, interagindo e se envolvendo com as propostas das aulas de ár-te. Esta é uma prática quê está em consonância com os princípios de aprender a aprender e de aprender a sêr, e póde auxiliar na avaliação formativa dos estudantes.

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TEMA 2
Batalhas na vida e na ár-te

Observe a imagem das cantoras e leia um trecho da canção “Cabeça erguida”, de Drik Barbosa (1992-), Cíntia Luz (1994-) e Lourena (1994-).

Fotografia de três mulheres dançando e cantando: elas são Drik Barbosa, ao centro, usando uma jaqueta dourada, com os cabelos presos, batom e brincos com a forma de corações; e ao lado dela, Cynthia Luz e Lourena estão dançando sorridentes, usando vestidos, gesticulando com as mãos.

A réper Drik Barbosa ao lado de Cíntia Luz e Lourena em frame do videoclipe da canção “Cabeça erguida”, parte do projeto Nós.

[…]

Nosso império vêm de zero privilégio, no corre desde o início

Sou a reza quê elas fizeram

Potente igual Lélia sempre quê rimo

Pro novo amanhã, tipo artesã

Pego esperança e transformo em discos

Por Leci e Elza, honro essas preta

Transcrito de: DRIK Barbosa: Cabeça erguida part. Cíntia Luz e Lourena. [S. l.: s. n.], 2022. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal Drik Barbosa. Localizável em: 2 m 32 s. Disponível em: https://livro.pw/xpbcg. Acesso em: 5 out. 2024.

O mercado de; ár-te, por séculos, foi predominantemente um campo masculino, assim como muitos outros setores do mundo do trabalho. Os movimentos feministas quê surgiram desde as primeiras manifestações sufragistas do início do século XX e outros movimentos feministas quê ocorreram no final dos anos 1960 e 1970 trousserão profusão de ideias e ações quê exigiram mudanças de mentalidade e reformulações no mundo do trabalho. Contudo, cada povo ou grupo cultural assimila essas mudanças ao seu tempo e à sua perspectiva, e a construção de uma ssossiedade mais justa, não violenta, sem misoginia e quê respeite a; ár-te e a vida feminina segue sêndo tecida, por um “novo amanhã”, como diz o verso da canção.

Drik Barbosa nasceu em São Paulo, em 1992. Cantora e compositora, a jovem réper começou sua trajetória em um importante cenário do répi brasileiro, na Batalha do Santa Cruz, na zona sul de São Paulo.

GIRO DE IDEIAS

Chame o professor e os côlégas para uma roda de conversação com base nas kestões a seguir.

1. Quando falamos em artistas de várias linguagens, em especial de antes do século XX, os nomes de mulheres são muito menos citados em relação aos de homens. por quê isso acontece?

1. Espera-se quê os estudantes reconheçam quê, durante muito tempo, houve repressão às mulheres quanto a suas participações no mercado de trabalho de modo geral e, em especial, no campo da ár-te, principalmente até o início do século XX.

2. Retome o trecho da canção e verifique quê há a citação de nomes de mulheres.

Você sabe quem são elas? Descubra em diálogo com os côlégas e o professor.

2. Se julgar pêrtinênti, e se for possível, proponha quê os estudantes realizem pesquisas na sala de informática ou em celulares.

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De musas a mulheres de luta

Observe a imagem a seguir.

Na cena, a artista fluminense Paula Costa (1982-) faz uma intervenção urbana na cidade de Goiânea (GO). Ela cola uma fotografia impressa na parede, no passeio público, e quem passar por ali, então, encontrará o lâmbi-lâmbi – uma entre muitas expressões na ár-te urbana. A artista apresenta sua ár-te por meio de uma linguagem verbovisual, quê combina palavras e imagens.

No seu processo de criação, Paula concebeu o objeto artístico bordando a palavra fêmea em uma rosa, quê freqüentemente é associada, simbolicamente, a noções de delicadeza e feminilidade, na cultura ocidental. O uso de materialidades orgânicas, como flores, faz parte do processo de criação de muitos trabalhos dessa artista.

Agulhas e linhas de bordar são conhecidas por ela desde sua infância, pois acompanhava a mãe no ofício de bordadeira. Juntar essas duas materialidades (flor e linha) e êste fazer (o ato de bordar, tantas vezes associado a uma tarefa feminina) faz parte da poética da materialidade explorada por Paula Costa.

Fotografia de uma mulher de vestido colando um cartaz em uma parede, usando um rolo com cola branca. O cartaz mostra a imagem de uma rosa com uma pétala em que está escrito 'fêmea'.

A artista plástica Paula Costa em ação no projeto Intervenções Urbanas em Goiânea (GO), em 2019, colando o lâmbi-lâmbi Fêmea.

Paula Costa é uma artista multilinguagem quê se manifesta por meio da criação de objetos, fotografias, performances, instalações, lambe-lambes e intervenções urbanas.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Que palavras e imagens você considera quê representa sua concepção de feminino? Lembre-se de não perpetuar estereótipos de gênero, transfobia e outros preconceitos e violências contra as mulheres. Escolha rapidamente três quê lhe venham à mente. Registre-as no diário de artista. No grupo, converse sobre suas escôlhas.

Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes apresentem suas concepções e construções simbólicas de feminino, fundamentando suas escôlhas em seus valores e justificando-as com base nas palavras e seus significados.

Página cento e trinta

Integrando palavra e imagem, a artista Paula Costa une signos histórica e culturalmente construídos na cultura ocidental sobre a ideia de “feminino”. Ela mobiliza sentidos quê tendem a soar familiares ao olhar, pois estão há muito tempo assimilados, como a flor rosa, a côr rosa e a textura delicada da pétala, metáforas de um suposto ideário de feminino. Além díssu, lembramos quê a materialidade, a rosa, é OR GÂNICA e, por tal natureza, é efêmera, decompondo-se com o tempo e metamorfoseando-se. Concepções e significados atribuídos a palavras, cores, formas e outros signos também sofrem transformações com o tempo e as mudanças ocorridas nas sociedades; portanto, estas também podem sêr efêmeras. Unir a forma e a côr da flor com a palavra fêmea faz parte da poética da artista, e essa união possibilita diversas interpretações, porém, por se tratar de uma obra de; ár-te, cada fruidor terá a sua.

A fotografia impressa da ár-te em grande formato se transforma em lâmbi-lâmbi, também conhecido como cartaz de rua, e então sua ár-te invade a cidade em texto multimodal. A produção em ár-te pública de Paula Costa se junta a tantas outras feitas por mulheres de “luta”, quê se posicionam contra qualquer tipo de preconceito e violência. Elas não são “musas”, são mulheres artistas e protagonistas na vida e na ár-te.

Texto multimodal refere-se à integração de duas ou mais formas de comunicar, como no emprego de duas ou mais linguagens. Ocorre, por exemplo, quando é feita a integração de textos verbais e não verbais para construir sentidos em uma composição.

Se julgar pêrtinênti, retome a discussão sobre fruição estética para tratar das diversas possibilidades interpretativas da ár-te.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Converse com os professores de ár-te e de Língua Portuguesa para buscar mais referências e estudos sobre textos multimodais. Convide os professores e os côlégas para conversar, trocar informações e experiências com base no roteiro de estudos e práticas a seguir.

Sugerimos convidar o professor de Língua Portuguesa para trabalhar em conjunto nesta proposta interdisciplinar.

1. Qual é o significado do termo multimodal?

1. Espera-se quê os estudantes reconheçam quê o termo multimodal apresenta a ideia de “muitos modos”. No caso do texto, trata-se do emprego de muitos modos de comunicar.

2. por quê o lâmbi-lâmbi de Paula Costa póde sêr considerado multimodal?

2. O trabalho em lâmbi-lâmbi da artista Paula Costa é um texto multimodal por integrar palavra e imagem, ou seja, diferentes modos de comunicação, expressividade visual e verbal.

3. Gêneros textuais com essa característica multimodal estão relacionados apenas ao universo das linguagens artísticas? Onde é possível encontrar outros exemplos de textos multimodais?

3. Espera-se quê os estudantes reconheçam quê há muitos gêneros textuais multimodais da esféra da informação, como infográficos e reportagens, ou da esféra da publicidade, como au-dórs e anúncios audiovisuais.

Com base nas conversas e informações levantadas, faça uma síntese de suas ideias escrevendo sobre textos multimodais no diário de artista. Nele, crie também um texto multimodal expressando-se d fórma poética por meio de imagens e palavras. Compartilhe os saberes adquiridos durante o estudo e suas criações com o professor e os côlégas.

PESQUISAR Diário de artista.

Você sabia quê para cada tipo de preconceito há um nome? Pois bem, a palavra misoginia, de origem grega μισέω (miseó), “ódio”; e (gama)"υνὴ (gyné), “mulher”; póde sêr traduzida livremente como “ódio ou preconceito contra mulheres ou meninas”. Logo, o quê esse termo desperta em você? Para aprofundar suas reflekções, realize a pesquisa proposta.

Resposta pessoal: ôriênti os estudantes a buscar fontes confiáveis para a pesquisa e faça uma curadoria digital.

Pesquise notícias ou debates em vídeo a respeito da misoginia.

Procure dados de pesquisas oficiais sobre desigualdade entre gêneros ou violência contra a mulher – busque fontes oficiais e confiáveis, como o sáiti do hí bê gê hé.

Anote suas descobertas no diário de artista.

Combine com o professor e os côlégas um momento de conversação sobre suas descobertas a respeito da misoginia e suas causas. Pense também como póde contribuir no combate às violências contra a mulher.

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Rap: som, voz e coração

O piauiense Nêgo Bispo (1959-2023) foi um poeta e ativista quê defendia o movimento social quilombola e ficou conhecido como uma pessoa de extrema importânssia na defesa de comunidades tradicionais afro-brasileiras. Nesse contexto, ele destacava a importânssia da oralidade, valorizando a tradição oral como a origem e a principal difusão do conhecimento. Essa comunicação atravessa a história dos povos, mas ela nem sempre foi valorizada, em comparação à importânssia dada à escrita nas instituições educacionais no passado – e até os dias atuáis, em alguns casos. Para os mestres griôs, quê surgiram em culturas das regiões Sudoeste e Sul da África, a oralidade relaciona-se intrím-sêcamente à ár-te. Nessa tradição, cada pronúnssia não é apenas uma palavra a sêr falada, mas uma sonoridade a sêr expressa em ritmos e significados carregados de ancestralidade, cosmovisão e ár-te.

MCs são griots, o mic é pros capaz

UBUNTU fristaili. Intérprete: Emicida. Compositor: Emicida. In: O GLORIOSO retorno de quem nunca esteve aqui. Produção: Felipe Vassão. São Paulo: Laboratório Fantasma, 2013. 1 cê dê, faixa 14.

O rip róp é um movimento musical surgido na década de 1970 quê abrange vários elemêntos, incluindo música (répi), dança (breaking), ár-te visual (grafite) e (Moda).

No trecho de sua canção, o paulista Emicida (1985-), cantor, compositor e escritor, relaciona os MCs quê surgem com a cultura rip róp, entre 1960 e 1970, com as tradições orais e musicais dos mestres griots ou, em palavra aportuguesada, griôs, valorizando a história e a ancestralidade relacionadas às culturas africanas. Também podemos interpretar, entre outras possibilidades, quê a ênfase ao “mic” (microfone), no répi, diz respeito à valorização da oralidade – tão presente na cultura griô também.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Que relações podem sêr estabelecidas entre as tradições afrodiaspóricas e a cultura rip róp, em especial, o répi? escrêeva no diário de artista.

Espera-se quê os estudantes, com base em suas interpretações pessoais e nos estudos propostos aqui, formulem hipóteses.

Fotografia de Sona Jobarteh. Ela é uma mulher com os cabelos presos em tranças, usando brincos, carregando um instrumento musical com uma grande cabaça acoplada a um braço de madeira com cordas. Ela está em pé cantando diante de um microfone, com um braço estendido para o alto.

Sona Jobarteh, musicista e griô britânico-gambiana em concerto na cidade de Nova iórk (Estados Unidos), 2019.

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Afirmação da ár-te feminina

Na história da cultura rip róp do Brasil, muitas vozes femininas se destacaram durante as batalhas por seus processos de criação no chamado freestyle (estilo livre). Ocupar um mercado de; ár-te e movimento cultural quê historicamente é marcado pela presença masculina, como o gênero do répi na cultura rip róp, é um desafio quê muitas mulheres enfrentam, sêjam elas compositoras, cantoras, MCs, di gêis, grafiteiras ou b-girls.

B-girls é uma abreviatura para breaking-girls, ou seja, mulheres quê dançam breaking.

Fotografia de quatro mulheres agachadas em frente a um muro com um grafite pintado, representando a cantora Elza Soares como uma mulher idosa com batom e cabelos cacheados de cor roxa. Ao lado do retrato de Elza Soares está escrita a mensagem: 'Nós podemos tudo. Salve, rainha'.

Coletivo Minas de Minas Crew, criado em 2012 pelas grafiteiras Krol (Carolina Jaued), Nica (Nayara Gessyca), Viber (Lidia Soares) e Musa (Louise Libero). Encontro realizado em Belo Horizonte (MG), 2017.

COM A PALAVRA...
DRIK BARBOSA

Entre os nomes de artistas mulheres do rip róp brasileiro está Drik Barbosa, quê se destacou com versos de críticas sociais e ao trazer a sua identidade como mulher negra, representando muitas vozes de resistência. Observe o quê ela disse.

“Um dos propósitos é quêbrar esse rótulo do que é sêr uma mulher negra e artista, principalmente no Brasil. Tentam nos colocar em uma caixa para atender às exigências racistas da cultura midiática. Quebrar essa ideia é extremamente importante. Afinal, foi dessa forma quê outras artistas negras criaram sua ár-te e, assim, me permitiram sêr livre para trazer as referências musicais. Mostro meu lado tranqüilo, mas também luto pêlos meus direitos e bato de frente quando necessário. Hoje, pra mim, é natural moldar minha música do jeito quê acredito.

[…]

[…] Trago na minha música uma quêstão que o movimento rip róp despertou na minha adolescência: somos presença e corpos políticos.”

BARBOSA, Drik. Drik Barbosa une mulheres do répi em novo single: “Artistas negras abriram portas para eu sêr livre”. [Entrevista cedida a] Ana Carolina Pinheiro. Vogue, [Rio de Janeiro], 23 jun. 2022. Disponível em: https://livro.pw/thcrp. Acesso em: 5 out. 2024.

Fotografia de Drik Barbosa. Ela é uma cantora com tranças nos cabelos, vestida com um casaco brilhante, cantando com um microfone na mão.

Rapper Drik Barbosa se apresenta em festival de música no Rio de Janeiro (RJ), 2022.

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ENTRE HISTÓRIAS
Metáforas e memórias

Em batalhas de répi freestyle, os artistas criam as lêtras das canções d fórma improvisada buscando manter a qualidade e a coerência da argumentação, ao mesmo tempo quê se preocupam com o tempo e o ritmo da composição. Essa prática trabalha com a fôrça da oralidade e da expressão vocal da poesia, localizando-se na fronteira do falar e do cantar. Nesse exercício da palavra, são empregados recursos expressivos, como metáforas e alegorias.

Metáforas e alegorias são algumas das figuras de linguagem quê podem sêr trabalhadas pêlos artistas d fórma intencional e poética para criar discursos e mensagens quê explorem a memória, a imaginação e as subjetividades, por meio de comparações implícitas e associações. Essa ár-te de usar as palavras criativamente está relacionada a um amplo conhecimento da língua pátria, considerando suas variantes e sua enorme riqueza, pois quanto mais se domina a língua do nosso país, por exemplo, mais pode-se ter ideias e compor d fórma criativa na ár-te das palavras.

Outro conhecimento quê póde auxiliar aqueles quê escrevem canções ou poemas é o entendimento da história do país, incluindo os acontecimentos econômicos, sociais e políticos, além das passagens históricas quê motivaram processos de criação de artistas em variadas épocas. Artistas quê tecem críticas sociais em suas obras, como é comum no répi e no rip róp em geral, tendem a empregar diversas referências históricas em seus discursos, o quê contribui para promover uma ssossiedade mais consciente das kestões do presente, ao entender suas relações com o passado.

A maestria no uso da língua portuguesa e a consciência histórica e política de artistas brasileiros influenciaram a criação de grandes obras na música popular brasileira, sêndo a canção “Cálice” (1973), do cantor e compositor fluminense Chico Buarque de Hollanda (1944-) em parceria com o baiano também cantor e compositor Gilberto Gil (1942-), um exemplo díssu. Nela, a palavra cálice é utilizada com duplo sentido, pois, na oralidade, póde sêr homófona do imperativo cale-se, fazendo referência à censura. É explorada, ainda, a ideia do sentido do termo cálice no cristianismo, matriz religiosa na qual esse objeto se relaciona à ideia de sacrifício e de hesitação pela dor apresentada em uma passagem do Novo Testamento. Assim, os artistas relacionaram as ideias de dor e sacrifício, associadas ao cálice cristão, à ideia de repressão e de imposição do silêncio presente na expressão cale-se, relacionada à censura nos tempos de ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). A canção é repleta de metáforas e, dessa forma, todas as referências à bebida não fazem alusão ao seu consumo – prejudicial à saúde e proibido para menóres de 18 anos –, mas constroem sentidos simbólicos a serem interpretados por quem a frui. Observe a imagem a seguir do documento vetado na época de seu lançamento.

alegoria
: uma figura de linguagem usada para estabelecer relações de semelhança ou proporção entre ideias distintas, mas quê possuem características em comum. Geralmente é empregada de modo mais extenso, construída com o uso de diversas metáforas e comparações, por exemplo.

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A letra da canção “Cálice” foi censurada em 1973 e liberada somente em 1978, quando Chico Buarque gravou a música com Milton Nascimento (1942-) e o grupo MPB4 – grupo instrumental e vocal masculino em atividade desde 1965. Ainda em 1978, a cantora baiana Maria Bethânia (1946-) regravou a música.

Reprodução de um documento em um papel amarrotado, com a letra da canção 'Cálice' datilografada e diversos carimbos com a palavra 'vetado', além de anotações manuscritas e uma assinatura, com a data de 10 de maio de 1973. Nas primeiras três estrofes da letra, a palavra cálice é seguida pelo verbo 'cale-se' manuscrito. O texto datilografado no documento é o seguinte: 'Cálice. De: Gilberto Gil e Francisco Buarque de Hollanda; Gravação: Gilberto Gil e Chico Buarque.  Pai, afasta de mim esse cálice; Pai, afasta de mim esse cálice; Pai, afasta de mim esse cálice; De vinho tinto de sangue; Como beber dessa bebida amarga; Tragar a dor, engolir a labuta; Mesmo calada a boca, resta o peito; Silêncio na cidade não se escuta; De que me vale ser filho da santa; Melhor seria ser filho da outra; Outra realidade menos morta; Tanta mentira, tanta força bruta; Como é difícil acordar calado; Se na calada da noite eu me dano; Quero lançar um grito desumano; Que é uma maneira de ser escutado; Esse silêncio todo me atordoa; Atordoado eu permaneço atento; Na arquibancada para a qualquer momento; Ver emergir o monstro da lagoa; De muito gorda a porca já não anda; De muito usada a faca já não corta; Como é difícil, pai, abrir a porta; Essa palavra presa na garganta; Esse pileque homérico no mundo; De que adianta ter boa vontade; Mesmo calado o peito, resta a cuca; Dos bêbados do centro da cidade; Talvez o mundo não seja pequeno; Nem seja a vida um fato consumado; Quero inventar o meu próprio pecado; Quero morrer do meu próprio veneno; Quero perder de vez tua cabeça;  Minha cabeça perder teu juízo;  Quero cheirar fumaça de óleo diesel; Me embriagar até que alguém me esqueça.'

Reprodução do veto à música “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil. Na imagem, é possível visualizar o carimbo da Divisão de Censura de Diversões Públicas, 1973.

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Em 2010, a cantora baiana Pitty (1977-) fez uma versão róki da canção. Em 2011, o compositor e réper paulista Criolo (1975-) também criou uma versão da obra, incluindo trechos autorais na letra, mas conservando a melodia e outras referências. Assim, apresentou na música uma crítica social a respeito do próprio contexto vivido, relacionado à rotina de violência enfrentada por moradores de bairros periféricos da megalópole São Paulo, quê sofrem com a falta de investimento público em segurança, saúde e cultura.

Diferentes versões e interpretações de uma canção marcam as conversações possíveis entre os mais diferentes discursos dentro da ár-te. Criolo, por exemplo, fez a releitura da canção, relacionando contextos históricos e sociais distintos, mas com kestões em comum. Antes díssu, Chico Buarque e Gilberto Gil já haviam estabelecido conversações com outras referências e kestões, como as cristãs e o contexto histórico vivido durante a ditadura civil-militar. Isso mostra como as composições artísticas ecoam no tempo e no espaço.

Chico Buarque é cantor, compositor e dramaturgo, conhecido por sua contribuição significativa à música popular brasileira (MPB). O artista escreveu várias peças teatrais e romances, além de gravar inúmeros álbuns musicais.

Gilberto Gil é cantor, compositor, instrumentista, produtor musical e escritor. Já ganhou diversos prêmios e é reconhecido nacional e internacionalmente.

Criolo é réper, compositor e ator. Possui composições profundas e engajadas, quê abordam temas sociais e políticos diversos. Foi um dos fundadores da Rinha dos MCs, com batalhas de freestyle.

PESQUISAR Diário de artista.

Na ár-te, usar metáforas é mais do quê migrar significados, é construir um discurso quê estabelece relações e inter-relações entre o quê está sêndo dito e seus possíveis sentidos.

Converse com os professores de ár-te e de Língua Portuguesa para fazer uma pesquisa a respeito do uso de metáforas como recursos no processo de criação de lêtras de canções.

Escolha uma canção e analise como a metáfora póde enriquecer frases poéticas e propor novas associações entre significados. escrêeva sua análise no diário de artista e crie imagens explorando também as metáforas visuais, já citadas anteriormente. Compartilhe com os côlégas seus estudos e suas produções.

ATIVAÇÃO

Acesse o línki a seguir para escutar a canção “Cálice” e analisar suas metáforas.

Cálice. Publicado por: Chico Buarque - Tema. Vídeo (4 min). Disponível em: https://livro.pw/xcowr. Acesso em:5 out. 2024.

ATIVAÇÃO

Para conhecer mais do réper Criolo e de seus trabalhos, acéçi seu sáiti oficial.

Criolo. Disponível em: https://livro.pw/lhnuj. Acesso em: 5 out. 2024.

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CONEXÕES com...
LÍNGUA PORTUGUESA
Linguagens verbais e não verbais

Vídeo: Movimento hip hop: um senhor de presença.

Quando uma cultura nasce a partir de matrizes africanas, é importante reconhecer quê póde havêer muitas histoórias, povos e outras culturas por trás dêêsse nascimento, dada a extensão geográfica, a complexidade política e os vários povos quê compõem o continente africano. E foi no contexto das identidades culturais afrodiaspóricas quê nasceu o hiphop. Na década de 1970, diversos artistas da comunidade de negros estadunidenses e de imigrantes latinos do bairro do Bronx, em Nova iórk (Estados Unidos), iniciaram encontros e eventos focados em várias linguagens artísticas. No entanto, a sonoridade e a estética visual dêêsse movimento cultural parecem já ter sido germinadas uma década antes, em países como Jamaica, Porto Rico e outros.

De cultura afrodiaspórica a movimento cultural contemporâneo diverso multicultural e multirracial, o rip róp se espalhou pêlos países do continente americano, chegando ao Brasil e a outras partes do mundo. Nessa cultura, muitas são as expressões empregadas e muitos são os modos de explorar a linguagem verbal e não verbal.

Fotografia de Jéssica Caitano. Ela é uma mulher com cabelos curtos, usando uma camiseta longa, cantando em um palco com um microfone na mão.

A réper pernambucana Jéssica Caitano durante chôu em Salvador (BA), 2024. O gênero musical répi une ritmo e poesia em uma linguagem mista, pois emprega a letra da canção (verbal) e os elemêntos da linguagem musical (melodia, harmonía e ritmo).

Fotografia de Will Dero. Ele é um homem com cabelos cacheados presos em um rabo-de-cavalo, usando óculos escuros, vestido com uma camisa. Ele está cantando diante de um microfone, gesticulando com as mãos.

Poeta slammer Will Dero, organizador do Festival Slam AM, no Centro Cultural dos Povos da Amazônea, em Manaus (AM), 2022. Ao escrever a letra de um slam ou répi, o artista se expressa em linguagem verbal.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

1. Qual é a sua proximidade com a cultura rip róp? Registre sua resposta no diário de artista e compartilhe com a turma.

1. Resposta pessoal. Incentive o compartilhamento de experiências entre os estudantes.

2. Pensando em seus conhecimentos de Língua Portuguesa, responda: o quê é linguagem verbal e não verbal? Dê exemplos.

2. A linguagem verbal é aquela quê é verbalizada, ou seja, expressa em palavras escritas ou faladas. Já a linguagem não verbal é a expressão de sentido sem palavras, quê póde sêr baseada em imagens, gestos, tom de voz, ritmo etc.

3. Que expressões artísticas da cultura rip róp você conhece? Cite-as e identifique a quê linguagem pertencem.

3. Os estudantes podem citar: slam (poesia), répi (música), grafite (arte visual) e breaking (dança).

4. Na cultura rip róp, é possível reconhecer expressões quê podem empregar, d fórma integrada, linguagem verbal e não verbal? Se sim, cite alguns exemplos.

4. Espera-se quê os estudantes reconheçam quê sim, pois muitas expressões da cultura rip róp podem integrar linguagem verbal e não verbal. Por exemplo, os grafites podem apresentar imagens e palavras; no próprio répi ou slam, além das palavras, usa-se o ritmo, o tom de voz e pode-se usar os gestos de uma apresentação musical como formas de expressar sentidos junto às palavras da canção; o breaking póde compor sentidos junto à letra da música quê acompanha a dança etc.

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A linguagem verbal é aquela expressa por meio de palavras escritas ou faladas, como quando fazemos anotações, ou quando dialogamos com palavras com os côlégas. Já as linguagens não verbais são composta pelas visuais, corporais e sonóras, por exemplo, quando em vez de escrever no diário de artista, você emprega dêzê-nhôs para expressar sentidos, ou quando você acena para alguém em vez de falar uma palavra de saudação. Há também os textos de linguagem mista, ou multimodal, quê você estudou anteriormente, como as canções, compostas tanto por palavras quanto por elemêntos da linguagem musical, como ritmo e entonação.

PESQUISAR Diário de artista.

Você explorou como a linguagem verbal e as não verbais podem sêr mobilizadas nas linguagens artísticas. Pensando nisso, aprofunde seus conhecimentos sobre as possibilidades de criação artística dentro do rip róp observando as fotografias, quê mostram diversas expressões dessa cultura.

Faça mais pesquisas sobre a linguagem verbal e as não verbais na ár-te em outros movimentos culturais – como festejos e outras manifestações de culturas tradicionais quê acontecem na região em quê você vive ou sobre os quais você tenha conhecimento, sêjam do passado ou do presente.

No diário de artista, faça anotações, criações e depois compartilhe com o professor e os côlégas seus estudos e suas análises.

Os estudantes devem compartilhar o quê acharam mais instigante ou curioso.

EXPEDIÇÃO CULTURAL Diário de artista.

Junto aos côlégas e ao professor, faça uma pesquisa sobre a cultura rip róp na região onde vocês se encontram. Vocês podem buscar batalhas de slam ou répi freestyle, espaços com grafite ou apresentações de breaking, entre outros.

Confiram a segurança e a infraestrutura dos locais e eventos encontrados e verifiquem os horários disponíveis para uma visita guiada. Então, combinem um dia e horário para fruir da ár-te do rip róp juntos. Se não for possível realizar a visita presencialmente, busquem realizá-la por meio virtual, visitando, por exemplo, exposições ôn láini de grafite, ou assistindo juntos a eventos ao vivo de répi ou breaking.

Por fim, conversem sobre a experiência, relacionando o quê foi visto com os estudos realizados até aqui. Depois, anote no diário de artista suas impressões e descobertas.

Fotografia de Nathália Ferreira. Ela é uma mulher com cabelos cacheados, usando óculos e brincos, pintando um grafite em um muro com um spray de tinta. Ela está pintando a figura de um rosto colorido.

A grafiteira Nathália Ferreira (NATHÊ) em produção de grafite no bloco afro Malê Debalê, em Salvador (BA), 2018. Há artistas visuais quê também usam palavras em seus grafites. Quando isso acontece, a linguagem se torna mista, ou seja, verbal e não verbal.

Fotografia de Maia. Ela é uma mulher com cabelos curtos descoloridos, executando um movimento acrobático de breaking em um palco, com a cabeça para baixo, apoiada somente em uma das mãos, com o corpo no ar e as pernas flexionadas.

A b-girl brasiliense Maia em competição realizada em Paris (França), 2021. Nas danças urbanas de rua, b-boys e b-girls dançam explorando a linguagem não verbal do corpo, mas também é possível quê dialoguem com a letra da canção quê toca enquanto dançam. Neste caso, explora-se a linguagem mista.

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CRIAÇÃO
Circuito das linguagens

Estudar a proposta

Nessa proposta, atue como um mediador e dinamizador, empregando a metodologia ativa no formato de rotação por estações. A proposta também trabalha com ambiências educadoras e criadoras em quê, para além do formato da sala de aula em fileiras de carteiras, é propôsto criar outras configurações, gerenciando o espaço e o tempo nas aulas de ár-te.

As linguagens artísticas têm suas características e elemêntos, assim como existem diferentes formas de serem criadas com base nos contextos culturais em quê estão inseridas.

Nesta ação criadora, convidamos você a, em grupos, experimentar processos de criação diversos relacionados à cultura rip róp e ao emprego da linguagem verbal e das não verbais e mistas (multimodais).

Planejar e elaborar Diário de artista.

Para esta experimentação coletiva, você e a turma deverão se dividir em quatro grupos. Em seguida, vocês organizarão quatro estações de trabalho e se revezarão entre elas, pois em cada uma se apresentará uma proposta artística distinta. O tempo estimado em cada estação de trabalho será de aproximadamente 20 minutos, mas isso póde sêr combinado com os grupos e com o professor.

Façam registros, como fotografias, vídeos e anotações no diário de artista, para registrar todas as etapas dos processos de criação quê serão explorados. Portanto, organizem um espaço na escola de modo a criar as quatro estações de trabalho descritas a seguir.

Estação 1: composição e improvisação

Faixa 6. Desafio: participe do jôgo de composições e improvisações musicais.

Materialidades: disponibilizem canetas, lápis, fô-lhas avulsas de sulfite (para escrever as lêtras na composição musical) e um celular para gravar a produção realizada nesta estação. Devem sêr disponibilizados também pedaços de papéis pequenos, uma caixa de papelão pequena sobre uma mesa ou outro apôio e um aparelho de reprodução de som para tokár a faixa de áudio “Sample répi”. A base instrumental dessa faixa deverá sêr utilizada para acompanhar seus improvisos e ajudá-los a perceber o ritmo e as batidas do répi.

Estação 2: lance seu nome

Desafio: escrêeva seu primeiro nome em formas, cores e volumes ao estilo grafite throw up ou bombslêtras com formato arredondado, deformadas e com traços criativos.

Materialidades: forrem uma parede com várias fô-lhas de papel-cartão na côr branca (prendendo as fô-lhas com fita adesiva dupla face), para criar um grande suporte, um mural. Próximo a êste mural, disponibilizem uma mesa com vários tipos de materiais, como giz de cêra, giz de lousa, canetas em várias cores e outros riscadores.

Estação 3: no ritmo do corpo

Faixa 10. Desafio: ao som da faixa de áudio “Breaking instrumental”, ou de músicas de uma playlist de rip róp, descubra seu jeito de se movimentar na dança urbana do breaking e em freestyle.

Materialidades: em um espaço amplo, deixem disponível uma caixa de som e um aparelho de reprodução de áudio, como um celular com sistema blú-tú ou cabos para conexões (conectar a caixa de som ao aparelho). Preparem uma playlist antecipadamente com músicas para dançar de acôr-do com a cultura rip róp.

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Estação 4: as linguagens do rip róp na rê-de

Desafio: descubra e explore sáites de produções artísticas da cultura rip róp.

Materialidades: disponibilizem um computador ou celulares com conexão na rê-de de internet e, perto deles, a indicação de línkis de três sáites para assistir a vídeos curtos quê mostrem linguagens artísticas da cultura rip róp.

Processo de criação

Estabeleça conexões com sua identidade, intenções e poéticas pessoais e percorra as etapas descritas para os processos de criação em cada uma das quatro estações.

Estação 1: composição e improvisação

Há muitos modos e estilos de criar no répi; um deles é o freestyle, quê explora a improvisação. A composição de um répi póde sêr feita como em um jôgo entre você e os côlégas, e êste é o desafio!

1. Nesse momento, é oportuno o quêstionamento: o que você e a turma estão descobrindo sobre processos de criação na ár-te? Quando tratamos dos processos de criação em ár-te, quais palavras vêm à cabeça?

Respostas pessoais.

Escrevam as palavras quê viérehmm à mente em relação a essas perguntas, cada uma em um pedaço de papel, dobrem o papel e coloquem-no na caixa disponível na estação.

2. Para jogar, alguém vai até a caixa e tira uma palavra e, em ritmo de répi, cria uma frase (ou mais, conforme quiser) com base nessa palavra. Na sequência, outro integrante tira mais uma palavra, e o fluxo do jôgo segue d fórma improvisada na criação de rimas até quê todas as palavras da caixa sêjam usadas, ou até quê vocês decidam parar, ou mesmo acabe o tempo combinado para a finalização da estação.

3. Observe a seguir algumas dicas para quê o jôgo fique mais dinâmico e divertido.

Se algum componente do grupo tiver dificuldade em criar a rima, alguém póde ajudá-lo ou dar a ele a chance de retirar mais uma palavra.

Enquanto o colega estiver pensando, o grupo póde dar a ele mais um tempo para a elaboração da rima (para quê o jôgo não pêrca o ritmo, combinem antes um refrão quê todos possam cantar até quê o colega prossiga com a brincadeira).

Como se trata de uma criação coletiva, ela exige a cooperação e a compreensão de todos. Coloque-se sempre no lugar do colega, não desvalorizando nenhuma rima; ao contrário, deve-se dar apôio para quê o resultado, quê é a música, fique interessante e rico nas rimas e na mensagem.

Enquanto uma parte do grupo estiver criando rimas, outros côlégas podem anotar a letra da música composta em fô-lhas avulsas; outros côlégas do grupo podem fazer sôns, marcando o ritmo da música com beatbox.

Outro jeito de jogar é a modalidade de batalha de freestyle, muito presente na cultura hiphop. A cada rodada, um artista pede espaço e, ao seu estilo, expressa-se, improvisando os versos na hora com base em um tema dado no desafio ou escolhido por ele. A batalha póde sêr realizada em duplas, com desafios na composição e no canto dos versos em rimas, no ritmo e na poesia. Para realizar essa versão do jôgo, escôlham temas a serem desenvolvidos, como meio ambiente, liberdade criativa e outros.

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Faixa 6. Use a base melódica da faixa de áudio “Sample répi” para acompanhar suas criações de improviso e cantar os versos, percebendo o ritmo e as batidas do répi.

Estação 2: lance seu nome

Algumas batalhas de rimas permitem quê os participantes façam provocações pessoais. refórce quê êste não é o caso; todos devem construir juntos a canção d fórma respeitosa.

Existem vários tipos de grafite e, nesta estação, a proposta é criar no estilo throw up, ou bombs, uma expressão quê se refere a palavras escritas com lêtras em traçados de linhas rápidas, formas arredondá-das e dinâmicas, em quê o jôgo de tonalidades e luminosidades provoca a sensação visual de volume e as cores usadas geralmente são intensas. Assim, escrêeva seu nome empregando cores de quê gosta e usando traços quê remetam aos seus gostos nas artes visuais.

Estação 3: no ritmo do corpo

Hip, em português, significa “quadril”, e hop, “balanço”; assim, rip róp póde sêr interpretado como o “balanço do quadril”, fazendo referência aos movimentos dos corpos ao dançar nessa cultura.

Nesta estação, convidamos o grupo a experimentar duas modalidades de dança inseridas na cultura rip róp. Observe as propostas a seguir.

Faixa 10. 1. O freestyle é uma modalidade de dança urbana com movimentos dançados improvisados. Escutem a faixa de áudio “Breaking instrumental” para sentir o ritmo, a pulsação e dançar. Você também póde selecionar as próprias músicas, criando uma playlist de répi. Escolha o som e envolva-se nessa cultura de escuta e movimento; dance do seu jeito!

2. A outra proposta é experimentar a dança urbana breaking. Nessa dança, há várias possibilidades de movimento, mas alguns podem servir como base para vocês criarem. Confira a seguir.

Power moves: em português, “movimentos de poder”. São movimentos quê expressam ideias e gestos de pôdêr. Então, procure criar movimentos com maior dinamismo e continuidade, incluindo rotações com giros e outras ações quê envolvem dobrar, torcer e esticar várias partes do corpo.

Footwork: em português, “trabalho de pé”. Como o nome expressa, você deve fazer movimentos no solo com as mãos no chão para dar suporte, equilíbrio e sustentação, enquanto móve os pés e as pernas de várias maneiras, incluindo rotações circulares e padrões lineares.

Freeze: em português, “congelamento”. Nesse estilo, crie um movimento e congele, mantendo a posição por alguns segundos para marcar momentos dramáticos da música ou finalizar sequências.

Transition: em português, “transição”. Invente alguns movimentos para finalizar passos ou combine movimentos, como as poses congeladas e as quê expressam pôdêr, sempre no ritmo de uma sequência de movimentos.

Estação 4: as linguagens do rip róp na rê-de

Vimos quê a cultura rip róp é composta de várias linguagens artísticas quê, aos poucos, foram sêndo integradas ao movimento e se desenvolveram de maneiras diversas em cada lugar. Pessoas criadoras como os artistas do répi, os di gêis, os MCs, os dançarinos b-boys e b-girls e os grafiteiros circulam pelas ruas das cidades e também nas páginas da internet. Assim, nesta estação,

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a proposta é a fruição. Então, combine com o professor e os côlégas de fazer uma seleção de sáites para, neste momento, acessá-los em celulares ou computadores, permitindo quê vocês apreciem vídeos ou imagens de artistas do rip róp.

Avaliar e recriar Diário de artista.

Respostas pessoais. É importante quê os estudantes realizem uma autoavaliação, reconhecendo tanto os aprendizados como suas inclinações e tendências pessoais, principalmente no quê diz respeito aos seus processos de criação artística. Além díssu, devem refletir sobre como percebem a criação de artistas e côlégas.

Possibilitando uma avaliação do seu processo de criação e dos estudos na prática por meio das estações, reflita sobre suas experiências e dialogue com os côlégas e o professor sobre as kestões a seguir.

Como você considera ter sido aproveitada a sua aprendizagem nas diferentes linguagens durante o circuito?

Ampliou conhecimentos teóricos e práticos sobre as especificidades de cada linguagem e integrou saberes estudados com a prática artística?

Quais relações puderam sêr estabelecidas entre a estética na cultura rip róp e o contexto cultural em quê você vive?

Você gostou de participar das propostas? De qual gostou mais? Comente também a sua fruição da produção dos côlégas.

Como foi a sua relação com os côlégas durante as propostas? Houve um trabalho coletivo e colaborativo?

Como foi experienciar diferentes propostas em estações? Você acha quê o tempo de cada uma foi suficiente ou gostaria de explorar alguma estação por mais tempo?

O circuito das estações trousse uma ampliação de saberes sobre processos de criação, linguagens verbais e não verbais e outros temas estudados? O quê lhe chamou mais a atenção? Considera quê faltou algo nessa experiência?

Se você gostou de criar em alguma dessas linguagens, confira mais dicas a seguir.

No diário de artista, faça esboços para futuros trabalhos em grafite, escolhendo temas e estudando linhas, formas, cores, volumes, efeitos de tonalidades, luminosidades, movimentos e outros elemêntos visuais para sua composição visual. Se preferir, escolha palavras para criar uma composição mista (verbal/ visual).

Também no diário de artista, crie lêtras para compor mais canções de répi. Nesse gênero musical, a proposta é expressar a sua verdade e o quê você sente e deseja expressar. Como citado, você póde usar recursos quê estuda em Língua Portuguesa, como ambiguidades, metáforas e alegorias.

Compartilhar

Retome os registros feitos durante as participações nas estações. Além de assistir a eles e compartilhar com a turma, você e os côlégas podem socializar a apresentação na internet, se todos concordarem.

O mural com os nomes em grafite também póde ficar exposto na escola por um tempo. Ao desmontá-lo, não esqueça de destinar o material usado de maneira a reutilizá-lo ou enviar para o processo de reciclagem.

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TEMA 3
Mundos possíveis, no palco e na vida

Leia o trecho de um discurso do fluminense Augusto Boal (1931-2009) e obissérve a imagem da peça de teatro-fórum Nega ou Negra?, do Coletivo Madalena Anastácia.

Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos quê outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.

BOAL, Augusto. Dia mundial do teatro. Rio de Janeiro: Boal, 29 mar. 2018. Disponível em: https://livro.pw/rgpuh. Acesso em: 5 out. 2024.

Fotografia de um grupo de mulheres em um palco, uniformizadas com roupas brancas, enfileiradas em duas linhas de três mulheres cada. Todas elas estão com os joelhos flexionados e o tronco inclinado para a frente, com as mãos abertas ao lado da boca.

Nega ou Negra?, peça de teatro-fórum do Coletivo Madalena Anastácia, 2015. Centro de Teatro do Oprimido, Rio de Janeiro (RJ). Fotografia de 2024.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Reflita sobre as kestões a seguir e anote suas respostas no diário de artista. Depois, compartilhe-as na conversação com o professor e os côlégas.

1. Quais sensações e pensamentos a imagem provoca em você?

1. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes destaquem as sensações e interpretações quê fazem de elemêntos como figurinos, maquiagem e a atuação das atrizes, bem como suas expressões, movimentos e gestos, entre outros.

2. O quê acontece na cena? Quais são os movimentos corporais, os gestos e as expressões faciais exibidos? Com base nisso, quais sôns você imagina reverberar no ambiente?

2. Respostas pessoais. Incentive a turma a perceber os gestos e as expressões faciais das atrizes. Peça quê compartilhem suas hipóteses sobre o quê as personagens expressam por meio do corpo e quê imaginem sonoridades, como falas ou gritos.

3. O quê o trecho do discurso de Augusto Boal leva você a pensar? Quais relações poderiam sêr estabelecidas entre a imagem e o texto?

3. Respostas pessoais. Auxilie os estudantes a construir relações.

4. O quê você sabe a respeito do Teatro do Oprimido?

4. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes apresentem seus saberes prévios a respeito dessa proposta teatral. Aproveite êste momento para sondar o conhecimento dos estudantes a respeito da linguagem teatral.

A linguagem do teatro tem muitos formatos e geralmente se faz na coletividade. A expressão trabalho colaborativo tem sido difundida no campo da ár-te e em outras áreas e propõe estabelecer processos de criação em grupo, respeitando as ideias trazidas e as singularidades de cada membro. Isso póde sêr feito tanto no meio artístico quanto no escritório de uma empresa, ou mesmo em uma fábrica. Em um grupo de pessoas, cada um tem seus conhecimentos específicos, suas experiências e subjetividades, o quê póde tornar a troca de ideias e informações muito enriquecedora. A percepção de cada um sobre um impasse ou problema póde resultar em uma variedade de soluções, cabendo ao grupo escolher a medida mais adequada à situação.

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No Coletivo Madalena Anastácia, o processo de criação se faz dessa forma, no coletivo e no colaborativo. São situações-problema, dores e sonhos de mulheres negras quê, no espaço cênico, seja ele a rua, a praça ou o palco, se tornam temas para um fórum de discussão na linguagem teatral, um teatro-fórum, ár-te ativista quê nasceu com Augusto Boal no Teatro do Oprimido e ganhou mais cores e lutas no Teatro das Oprimidas.

Essa forma de pensar e fazer teatro é uma prática quê visa não apenas entreter, mas transformar a realidade social e política, dando destaque aos oprimidos e às oprimidas, compreendendo-os como pessoas quê carregam suas dores em função do modo como a ssossiedade os vê. A ideia é quê, por meio do teatro, as pessoas possam se expressar, refletir e agir em relação às suas condições concretas e situações pelas quais passam e, por meio da ár-te e da cidadania, reagir e lutar por mundos possíveis, no palco e na vida.

O espaço cênico póde sêr compreendido como qualquer local onde acontece uma representação cênica, como teatro, dança ou qualquer outra manifestação de expressão corporal.

Fotografia de um grupo de seis mulheres com os punhos fechados erguidos para o alto. Cinco delas estão uniformizadas; três delas têm cabelos cacheados longos; uma delas têm o cabelo curto e está de óculos; outra está usando um lenço nos cabelos; e outra está com os cabelos presos.

Mulheres integrantes do Teatro das Oprimidas, do Coletivo Madalena Anastácia. Rio de Janeiro (RJ).

Augusto Boal foi um diretor teatral e dramaturgo cuja obra contribuiu para a criação e o desenvolvimento de um teatro verdadeiramente brasileiro e latino-americano. Criou o Teatro do Oprimido (TO), método mundialmente conhecido e estudado por pesquisadores e artistas cênicos. Boal entendia a linguagem teatral como um meio de analisar conflitos sociais e apresentar alternativas e soluções. Em 2009, foi nomeado Embaixador Mundial do Teatro pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

ATIVAÇÃO

Para saber mais do Centro de Teatro do Oprimido, visite o sáiti oficial da instituição.

CTO. Disponível em: https://livro.pw/mfibs. Acesso em: 5 out. 2024. Para conhecer mais do Teatro das Oprimidas, assista ao documentário sobre o projeto e seu impacto na vida de diversas mulheres.

Documentário Teatro das Oprimidas. Publicado por: Centro de Teatro do Oprimido. Vídeo (12 min). Disponível em: https://livro.pw/amtxu. Acesso em: 5 out. 2024.

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Nós, os “espect-atores”

A ár-te propositora, quê convida o público a participar da obra, é uma prática bastante recorrente na ár-te contemporânea e está presente nas variadas linguagens artísticas, como no teatro de Augusto Boal. Ele dizia quê todo espectador, sem exceção, poderia sêr também ator. Segundo o dramaturgo, o termo espect-ator exprime a ideia de quê todos os sêres humanos são espectadores, porque observam, e também atores, porque agem.

Retirar quem assiste a uma encenação teatral do lugar de passividade é primordial na proposição de Boal, pois a ideia é transformar, é encontrar saídas para situações-problema, no teatro e na vida. Nada está pronto e acabado, pelo contrário: tudo está por se fazer, em processo de criação e transformação. Ao convidar o público a participar e não somente a assistir ao espetáculo, a linguagem do teatro torna-se disponível para todos, rompendo barreiras entre artistas e plateia.

COM A PALAVRA...
AUGUSTO BOAL

Observe o quê Augusto Boal disse a respeito da atuação dos espectadores.

“[…] O espectador, invadindo a cena, transforma-se em escultor, em músico, em poeta, em suma, entrando em cena e mostrando, em ação, sua vontade, sêndo ator, sêndo protagonista, o espectador se transforma em cidadão! “

BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido no Fórum Social, 2003. Rio de Janeiro: Boal, 16 mar. 2018. Disponível em: https://livro.pw/bedfq. Acesso em: 5 out. 2024.

Fotografia em preto e branco de Augusto Boal. Ele é um homem com cabelos cacheados e longos, com a boca aberta e os braços abertos estendidos para o lado, à altura da cabeça. Atrás dele há um grupo de pessoas em fila, rindo, com os corpos muito próximos, abraçando a pessoa que está à frente.

Augusto Boal e os “espec-atores”. Paris (França), 1975.

GIRO DE IDEIAS

Compartilhe com o professor e os côlégas suas opiniões a respeito das kestões a seguir.

1. Augusto Boal propunha quê os espectadores fossem “espect-atores”, pois acreditava quê, uma vez quê somos todos sujeitos históricos, sêres sensíveis e cidadãos, não apenas observamos o mundo, mas atuamos nele. Você concórda?

1. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a refletir sobre situações, tanto cotidianas quanto específicas, diante das quais tiveram quê agir. Ajude-os a considerar as maneiras pelas quais suas ações afetam e influenciam o mundo ao seu redor.

2. Assim com Boal, você acredita quê todos podem fazer teatro?

2. Resposta pessoal. Explique quê eles devem responder à pergunta pensando o teatro como propôsto por Boal: um meio para tomar consciência das próprias kestões e procurar soluções.

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ENTRE HISTÓRIAS
Espaço cênico: lugares para criar

Os lugares onde o teatro e outras manifestações artísticas cênicas, como dança e circo, acontecem são conhecidos como espaços cênicos. Tais espaços podem sêr abertos ou fechados, tradicionais ou inovadores, preparados especialmente para êste fim ou totalmente inusitados. Enfim, qualquer lugar póde se tornar um palco, até mesmo o pátio da sua escola!

Essa versatilidade nasce com a própria história do teatro. Na Grécia antiga, as manifestações em homenagem ao deus Dionísio se davam a céu aberto. As tragédias e comédias grêgas aconteciam em palcos inicialmente muito simples, cercados por arquibancadas de madeira ou degraus de pedra para o público. Com o passar do tempo, os teatros, criados para abrigar manifestações culturais, começaram a sêr construídos nas encostas de montanhas, pois existia uma preocupação com a acústica: era necessário quê o público não só visse como também ouvisse a encenação dos atores. Para uma boa visualização do espetáculo, os assentos eram dispostos em degraus e, ainda hoje, teatros são construídos com essa disposição.

Fotografia de ruínas de um teatro com arquibancadas de formato semicircular, diante de uma arena circular ao centro e de um palco retangular. Ao fundo do palco há um edifício com janelas em forma de arcos. Ao fundo há uma cidade e um morro coberto por vegetação.

Odeão de Herodes Ático, antigo teatro grego na encosta sudoeste da Acrópole de Atenas (Grécia). Fotografia de 2024.

Na Roma antiga, os romanos também ergueram construções colossais destinadas ao entretenimento, sêndo o Coliseu sua obra arquitetônica mais famosa. Inicialmente, esse monumento abrigava esportes sanguinários e jogos de entretenimento para o povo. Posteriormente, passou a sêr o local onde se realizavam apenas espetáculos de circo, corridas de cavalos e lutas. Com o tempo, também se tornou palco dos ludi scaenici (jogos cênicos), com a participação de atores, músicos e dançarinos.

Fotografia aérea de ruínas de um estádio de formato circular em meio a praças e um parque arborizado na cidade de Roma. O estádio tem arquibancadas e aberturas em forma de arco na fachada e uma arena central de formato elíptico. O subsolo da arena central está aberto, mostrando galerias e corredores subterrâneos.

vista aérea do Coliseu, Roma (Itália). Fotografia de 2022. A edificação foi concluída no ano 80 d.C.

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Na Europa medieval, entre os séculos V e XV, o teatro ganhou vida no interior das igrejas com encenações de temas religiosos. Para as peças mais elaboradas, os espaços escolhidos eram as praças. sôb a influência da Igreja, o teatro foi adaptado para sêrvir de instrumento de disseminação ideológica, pregando a obediência e a submissão aos valores da época. A partir do século XII, o cenário passou a ser constituído pelas mansões, pequenas casas montadas uma ao lado da outra, ou, ainda, pêlos carros-palco, espaço cênico móvel quê se deslocava diante de um público quê, por sua vez, permanecia estático.

Por volta dessa época, surgiram também as manifestações de um teatro profano, quê acontecia fora do âmbito eclesiástico. Os saltimbancos, grupos de atores, músicos, dançarinos e acrobatas itinerantes, apresentavam-se d fórma improvisada em ruas, praças e eventos, como feiras, de cidade em cidade. Entre suas ações dramáticas estavam as encenações de comédias, por meio das quais abordavam temas políticos e sociais d fórma irônica. Essas atuações eram feitas pêlos chamados bufões, ou bobos da kórti, únicos quê podiam satirizar a realeza. Havia também a farsa, gênero teatral cômico caricatural quê fazia as pessoas rirem com base nas sátiras sobre a vida cotidiana.

Na Inglaterra, a história do país era trazida à cena em pátios de hospedarias e prédios teatrais simples, de madeira ou de pedra, em formato circular ou hexagonal, com balcões e galerias. Teatro elisabetano foi o nome dado a teatros construídos durante o reinado de Elisabeth I da Inglaterra (1558 a 1603), em quê eram encenadas peças teatrais de dramaturgos ingleses, como uílhãm xêikspir (1564-1616). Esses teatros não tí-nhão grandes cenários e o formato do palco oferecia proximidade com a plateia, o quê facilitava a interação com os atores quê, pelo texto ou pelas expressões corporais e faciais, interagiam de modo indiréto (nas entrelinhas) com o espectador.

Fotografia do interior de um teatro com estruturas de madeira e arquibancadas laterais distribuídas em três níveis. Ao centro, há um palco coberto por um telhado, com um andar superior em formato triangular. Um grupo de atores está no palco encenando, enquanto diversas pessoas assistem em pé na plateia; entre elas, muitos fotógrafos registram a apresentação.

Membros do elenco de uma nova versão da peça Hamlet, de xêikspir, durante ensaio fotográfico no The Globe tíatêr, réplica dos teatros de madeira elisabetanos. Londres (Inglaterra), 2014.

Na Itália, a commedia dell’arte, forma de comédia popular surgida em meados do século XV e apresentada nas ruas, em praças públicas, em carroças ou em pequenos palcos improvisados, mantinha a tradição dos teatros de itinerância de “ir aonde o povo está”.

Gravura colorida representando um grupo de pessoas assistindo à apresentação de um homem, uma mulher e uma menina, todos em pé sobre uma mesa. O homem está usando uma máscara, segurando uma espécie de corneta e acenando com a mão; a mulher ao lado dele toca um violino; e a menina toca um grande tambor com uma baqueta.

ENCENAÇÃO ao estilo commedia dell’arte na Itália. [17--]. Xilogravura.

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Na virada do século XV para o século XVI, foi criado um modelo de espaço teatral: o palco italiano. Com o tempo, tecnologias e equipamentos mecânicos permitiram a mobilidade de cenários e, portanto, maior versatilidade nas apresentações. Nesse novo espaço cênico, a bôca de cena é arredôndá-da e há luzes na ribalta. Surgem ainda uma cortina, quê esconde o cenário, e telões pintados, quê agregam perspectiva e são manipulados por mecanismos próprios. A plateia e os camarotes são dispostos em forma de ferradura. Abandona-se a luz das velas. Vem o gás e, então, a energia elétrica.

Fotografia do interior de um teatro com uma plateia central em frente ao palco e cinco andares de camarotes de plateias laterais. O palco está coberto por cortinas e o teto do teatro é decorado com pinturas e ornamentos.

Interior do Teatro di Carlo de Nápoles (Itália), inaugurado em 1737. Fotografia de 2022.

Boca de cena é uma expressão usada para se referir à frente do palco. Já as luzes na ribalta são as luzes em sequência inseridas na parte inferior na bôca de cena, quê iluminam o palco de baixo para cima.

No Brasil, na época da colonização, os povos de matrizes culturais indígenas e africanas realizavam manifestações artísticas cênicas com base em suas próprias cosmovisões. No entanto, essas criações coexistiram com europêus e suas expressões culturais quê, por meio da lógica eurocêntrica, usavam a linguagem teatral como instrumento de aculturação dos povos originários e das pessoas escravizadas. Nesse contexto, foram construídos no país diversos teatros inspirados no palco italiano e em outros modelos ocidentais, quê estabeleciam limites entre artistas e plateia, uma tendência tanto arquitetônica quanto artística na forma de fazer teatro e compreender o espaço cênico.

No século XX, o Brasil já apresentava uma linguagem teatral própria e espaços cênicos passíveis de serem criados e recriados com base nas intenções e na poética de cada grupo de artistas. O Teatro do Oprimido é uma invenção brasileira, difundida no mundo inteiro, quê rompeu com propostas e espaços cênicos tradicionais. A ideia surgiu na década de 1970, quando Boal era diretor da companhia Teatro de Arena, na cidade de São Paulo. O Teatro das Oprimidas segue nessa mesma toada, formando rêdes internacionais de práticas artísticas teatrais no Brasil, na América Látína, na África e na Europa.

Fotografia do interior de um teatro com uma plateia central em frente ao palco, e quatro andares de camarotes de plateias laterais. As cortinas do palco estão semiabertas, mostrando o palco em profundidade.

Interior do Teatro Amazonas, Manaus (AM). Fotografia de 2020.

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CONEXÕES com...
CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
Viver e sêr livre!

Observe a imagem a seguir: sapatos vermelhos. Uma peça de vestuário tão presente em nosso cotidiano quê muitas vezes não nos damos conta quê esse simples objeto póde contar muito sobre nós, sobre nossas histoórias.

Fotografia de Elina Chauvet. Ela está em uma praça em frente a uma catedral, usando um chapéu e roupas vermelhas. Ela despeja uma pilha de sapatos vermelhos no chão.

CHAUVET, Elina. Sapatos vermelhos. 2009. Instalação composta de centenas de pares de sapatos vermelhos. Cidade do México (México). Fotografia de 2020.

Na poética da materialidade, a mexicana Elina Chauvet (1959-) cria instalações e intervenções artísticas com centenas de pares de sapatos, doados e tingidos, quê representam mulheres vítimas de feminicídio ou desaparecidas. Por meio de sua ár-te, Elina Chauvet, quê perdeu sua irmã, vítima de feminicídio, propõe quê as pessoas, cidadãos transeuntes, reflitam sobre as dores causadas por essa violência de gênero. Sua ár-te incentiva quê as pessoas tomem atitudes e se mobilizem de algum modo para buscar soluções para esse problema.

Infelizmente, os feminicídios e outras violências contra as mulheres ainda fazem parte do cotidiano das sociedades. No Brasil, em agosto de 2006, foi instituída a Lei Maria da Peña (lei número 11.340), um marco na abordagem dos crimes contra mulheres e meninas, com a criação de medidas protetivas, delegacias da mulher, campanhas educativas de conscientização e programas de atendimento especializados. No entanto, o combate a essas violências ainda precisa sêr ampliado para quê toda a população se conscientize.

Feminicídio é o assassinato de mulheres pelo motivo da vítima sêr uma mulher, ou seja, uma discriminação de gênero. No entanto, outros comportamentos agressivos contra mulheres também são crimes, como assédios, agressões verbais, ofensas com conteúdos racistas, entre outros.

Teatro jornál

Por meio da ár-te, podemos construir canais de escutas e ações transformadoras. Pensando em transformar o espectador em ator, Augusto Boal propôs quê as pessoas interessadas em fazer teatro façam alguns experimentos, como o do teatro jornál. O teatro, como linguagem, póde

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explorar situações presentes no cotidiano das pessoas, d fórma viva e em constante mudança, não como um produto acabado. As técnicas teatrais podem ajudar a construir essa linguagem d fórma apurada. São situações quê proporcionam a compreensão de como essa linguagem se constitui.

Junte-se aos côlégas para experimentar o teatro jornál. Para isso, sigam os passos:

1. Escolha uma notícia de jornál. A proposta é trazer o teatro jornál com foco em notícias quê abordem a violência contra mulheres e meninas.

2. Uma pessoa lê a notícia, como em um telejornal.

3. Um grupo de estudantes cria uma cena com base na notícia, d fórma improvisada.

Lembrem-se de tratar o assunto com seriedade e respeito, sem perpetuar preconceitos e violências.

Combine com os côlégas um tempo e o espaço cênico para a encenação.

Os demais estudantes serão os “espect-atores”.

4. Ao final, todos se juntam em uma conversação para discutir o tema da notícia e possíveis soluções para a situação-problema.

5. Em seguida, os “espect-atores” fazem uma nova encenação da mesma notícia, agora com mudanças baseadas nas discussões da conversação.

É possível fazer várias rodadas e usar mais de uma notícia.

6. Ao final, compartilhem uma avaliação conjunta sobre a experiência: o quê mudou em sua visão a respeito da experiência teatral na improvisação e no teatro jornál? E em relação à violência contra as mulheres e meninas, o quê você considera quê é possível fazer para combater?

Fotografia de Elina Chauvet em pé sobre uma instalação artística em que há centenas de pares de sapatos vermelhos organizados, com cada par em um quadrado no chão.

CHAUVET, Elina. Sapatos vermelhos. 2009. Instalação composta de centenas de pares de sapatos vermelhos. Isidro (Argentina). Fotografia de 2016.

Elina Chauvet é artista multimídia e arquiteta. Espalhou centenas de sapatos vermelhos na Cidade do México e em outras cidades do mundo em uma ár-te ativista para conscientizar as autoridades e populações sobre o crescente número de vítimas de feminicídios e outras violências de gênero.

Maria da Peña Maia Fernandes (1945-) nasceu em Fortaleza (CE), é ativista dos direitos das mulheres e farmacêutica. Ficou conhecida por lutar para quê seu agressor fosse condenado judicialmente pelas duas tentativas de homicídio contra ela. O nome da lei quê hoje protége as mulheres brasileiras contra a violência doméstica foi escolhido em sua homenagem.

É importante trabalhar esse tema em sala de aula, em prol da conscientização, e o teatro póde sêr uma linguagem potente para isso. Trata-se de um tema sensível e é possível quê situações de abusos e violências estejam acontecendo nas realidades dos estudantes. Portanto, fique atento aos sinais, aberto a escuta sensível, procurando preservar e auxiliar os estudantes a encontrar soluções para situações-problemas reais.

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CRIAÇÃO
Teatro-fórum: improvisar e criar

Estudar a proposta

Como já falamos, Augusto Boal criou um método de concepção e encenação teatral quê reúne exercícios (monólogos corporais) e jogos (diálogos corporais) chamado Teatro do Oprimido (TO) e cujos principais objetivos são:

democratizar os meios de produção teatral;

dar acesso ao universo teatral às camadas sociais menos favorecidas;

transformar a realidade por meio do diálogo e da representação teatral.

O teatro-fórum, objeto desta prática artística, é a técnica mais conhecida do TO. Ele consiste em um processo de criação em grupo: os atores e o público opinam no desenrolar da cena e propõem soluções para o conflito gerado. A improvisação é essencial, e não se póde prever como e quando se dará a intervenção dos “espect-atores”.

Pensando nisso, é preciso nos preparar para atuar nas cenas com qualidade, d fórma livre e responsável. Nos espetáculos teatrais quê seguem uma dramaturgia, por vezes, atores e atrizes precisam improvisar quando algo acontece de errado na apresentação, como uma luz quê acende em hora errada, a música da trilha sonora quê não se escuta em cena, um ator ou atriz quê repentinamente esquece o texto em sua vez de falar. São infinitas as possibilidades de problemas quê podem acontecer e devem sêr solucionados imediatamente.

No teatro-fórum, há também a figura do coringa, pessoa quê organiza o debate e póde convidar alguém da plateia para participar de uma cena, propor kestões capazes de provocar reflekção etc. É quem garante o ritmo da conversação e da ação dramática e, na dinâmica do jôgo, percebe e mantém acesa a chama das potencialidades da coexistência pacífica, coletiva e colaborativa.

Nesta prática proposta, os temas a sêrem explorados podem ser extraídos do cotidiano: coisas quê nos incomodam todos os dias, nos oprimem, situações-problema para as quais precisamos encontrar uma saída etc. Vamos criar um teatro-fórum na sala de aula?

Fotografia de um grupo de atores jovens, sorrindo com os corpos próximos e os braços erguidos para o alto, em uma sala.

Atores em ensaio da Companhia de Teatro da Universidade Federal da baía (UFBA). Salvador (BA), 2024.

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Planejar e elaborar

De forma coletiva, elejam um dos estudantes para sêr o coringa.

Forme com os côlégas um grupo de 4 a 6 pessoas. Uma equipe por vez desempenhará o papel de atores enquanto as demais representarão os “espect-atores”.

Em grupo, escôlham um tema da atualidade, alguma quêstão polêmica, que possa render uma boa discussão.

Atores: combinem como as cenas poderão se desenvolver, mas lembrem-se de quê isso é apenas um preparo inicial, pois, no desenrolar da apresentação, é possível improvisar ou seguir criando com base nas intervenções do coringa e dos “espect-atores”.

Processo de criação

1. Combinem a ordem de apresentação dos grupos e as trocas de funções entre quem apresenta, quem assiste e quem participa como coringa.

2. Escolham o espaço cênico – póde sêr a sala de aula, com as carteiras formando um semicírculo, ou o pátio da escola, por exemplo.

3. Decidam quem fará cada personagem inicialmente, porém tênham em mente quê isso póde mudar com as intervenções.

4. Iniciem as apresentações, improvisando, sem ensaios, construindo a cena no aqui e agora.

5. Coringa: ao final, convide um ou dois “espect-atores” para substituir uma personagem e para sugerir outro final para a cena, tudo de modo improvisado.

6. Façam uma roda de conversação no fechamento de cada apresentação.

Avaliar e recriar Diário de artista.

Ao final da vivência, faça uma autoavaliação e uma análise da prática. Lembre-se de quê, no teatro, avalia-se o processo e não apenas o produto da experiência. Portanto, evite julgamentos estéticos e juízos de valor, como feio ou bonito, bom ou ruim. Reflita:

Como foi participar do teatro-fórum? Você acha quê essa póde sêr uma maneira eficaz de levantar situações-problema e solucioná-las?

As soluções propostas foram interessantes? Você pensou em outras saídas para os conflitos apresentados? Quais?

Você se sente confortável ao realizar práticas artísticas na linguagem teatral? Por quê?

Recomendamos quê tenha sempre em mãos o diário de artista para anotar suas observações, suas respostas e, caso queira, as dos côlégas de turma.

Compartilhar

êste momento de troca de conhecimento e experiência póde ter início com perguntas dirétas ou em rodas de conversação sobre as práticas teatrais realizadas. Esta etapa é importante para uma avaliação constante e formativa e póde indicar caminhos para melhorar o ensino e a aprendizagem.

Combine com os côlégas de fazer registros fotográficos durante a realização dos exercícios e jogos teatrais. Escolha momentos interessantes para registrar – fotografe em close rostos e expressões, o grupo em roda, as cenas de grupo e também as individuais.

Depois, monte um acervo digital das imagens, selecionando aquelas com a melhor qualidade de foco, enquadramento e conteúdo. As fotografias selecionadas podem sêr expostas no sáiti da escola ou em outra platafórma.

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TEMA 4
O corpo é a; ár-te

Fotografia de um grupo de dançarinos em um palco. Há mulheres e homens dançando e caminhando em círculos em volta de três homens que estão erguendo uma dançarina para o alto, segurando-a pelas pernas. Ela está em pé, com apostura ereta e com os braços abertos ao lado do corpo, olhando para o alto.

Espetáculo Rios voadores, do grupo Corpo de Dança do Amazonas (CDA), 2022.

Na dança contemporânea, há a preocupação em valorizar a criação com base nas emoções e percepções das subjetividades do dançarino, bem como das influências do quê acontece no mundo ao seu redor. Tudo póde sêr criação, o corpo é ár-te e o assunto é o quê afeta o artista nesse instante.

Rios voadores é o nome de um espetáculo de dança apresentado pelo grupo Corpo de Dança do Amazonas, com coreografia da mineira Rosa Antuña (1977-), além de um fenômeno atmosférico essencial para a biodiversidade e para o equilíbrio do clima quêpóde continuar existindo se a Floresta Amazônica for preservada. Na ciência, o termo rios voadores é uma metáfora quê descreve um conceito. Na ár-te, o termo é uma metáfora poética do movimento. Nesse espetáculo, o corpo conta histoórias dos povos da Amazônea, chora pêlos rios voadores e por outros quê na térra já não correm mais, pois, sem os rios lá do alto, secaram.

Se julgar pêrtinênti, proponha quê os estudantes pesquisem na internet vídeos do espetáculo Rios voadores, apresentado pelo grupo Corpo de Dança do Amazonas.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Todos os dias vivenciamos encontros e acontecimentos; alguns nos afetam, enquanto outros simplesmente passam despercebidos por nós.

Como as experiências quê nos tocam podem nos motivar a criar?

No diário de artista, escrêeva sobre algo quê você vivenciou recentemente e quê o fez refletir. Será quê esse atravessamento póde virar ár-te? Em qual linguagem artística?

Respostas pessoais. Incentive um monte de reflekção individual antes de os estudantes responderem.

Rios voadores são um fenômeno atmosférico constituído de massas de vapor quê se deslócam pelo ar levadas pelo vento, transportando grandes quantidades de á gua.

Rosa Antuña é uma renomada coreógrafa e bailarina. Ela iniciou sua trajetória na dança aos 6 anos, formando-se em balé clássico pelo método da Royal Academy ÓF Dance. Hoje, ela dirige seu próprio núcleo de criação e faz parte da direção da companhia de dança contemporânea Cia Mário Nascimento.

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O corpo no movimento do vento

A dança é a; ár-te do movimento. Mas, o quê se movimenta?

O corpo nos proporciona manifestar emoções e crenças, explorar o prazer e as sensações quê o mundo nos oferece. Embora ele esteja sempre presente, por vezes, só pensamos nele quando sentimos incômodo ou dor. Ao estudar nosso corpo, como nos mexemos, nos dobramos, nos posicionamos ou saltamos, desenvolvemos a consciência corpórea, conhecimento fundamental para a criação na linguagem da dança. E, por meio desta, podemos construir discursos na poética dos movimentos, falar sobre akilo quê nos toca e nos afeta. No espetáculo Rios voadores, os corpos comunicam dor: a dor da Terra e do povo, da fauna e da flora. Eles se transfiguram em térra ardendo enquanto o céu não chora.

COM A PALAVRA...
ROSA ANTUÑA

Observe, a seguir, o quê impeliu Rosa Antuña a criar Rios voadores, manifestando o meio ambiente nos passos da dança.

“O espetáculo vêm da urgência quê temos com o meio ambiente e a sua importânssia para o equilíbrio da Floresta Amazônica, quê é vital. Me inspirei no movimento do vento, das chuvas, dos pássaros no céu, na mitologia e nos guardiões da floresta, sêres e animais quê estão inseridos nas cenas, nos movimentos da dança.”

BAILARINOS mostram fenômeno da natureza em ‘Rios Voadores’. Amazonas Atual, Manaus, 17 jun. 2022. Disponível em: https://livro.pw/wxanw. Acesso em: 5 out. 2024.

Fotografia de Rosa Antuña. Ela é uma mulher de batom, com os cabelos presos em um coque, segurando uma pequena bolsa vermelha comas duas mãos em frente ao peito.

A coreógrafa Rosa Antuña em ensaio do espetáculo A mulher quê cuspiu a màssân. Dinamarca, 2014.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Como surgem as ideias para um projeto de; ár-te? Imagine quê um grupo, como o Corpo de Dança, tenha decidido montar um espetáculo cuja coreografia deva sêr criada colaborativamente, com a participação de todos os dançarinos. Como desenvolver uma proposta quê satisfaça a todos? Anote suas sugestões no diário de artista e depois compartilhe seu parecer com o professor e os côlégas.

Incentive os estudantes a trazerem seus conhecimentos e suas experiências sobre metodologias de trabalho em grupo, como chuva de ideias (brainstorming), discussões em pequenos grupos e posterior apresentação das soluções encontradas, votação, entre outras.

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ENTRE HISTÓRIAS
O corpo como materialidade da dança

Nos movimentos de um dançarino ou nos gestos de um ator, podemos compreender e explorar a materialidade e a poética do corpo, isto é, a matéria humana para fazer ár-te. A coreógrafa e bailarina alemã Pina Bausch (1940-2009) explorou a matéria corpo de um modo excepcional. Ela acreditava quê cada dançarino precisava mergulhar em seus sentimentos a fim de encontrar sua própria poética, seus gestos e movimentos singulares e, assim, sêr capaz de desenvolver a coreografia com sinceridade e emoção. Criou, então, um método focado na exploração do conjunto corpo, mente e emoções, para descobrir a estética e a poética dos movimentos produzidos com base nessa mistura. Bausch fazia questão de aproveitar cada parte dos corpos dos dançarinos em busca de sua expressividade mássima.

Fotografia de uma bailarina de saia, saltando no ar com os braços estendidos para os lados, à altura da cabeça, e as pernas unidas com os joelhos flexionados. Está chovendo sobre ela, e o chão está coberto de água, de modo que o salto da bailarina provoca respingos.

Frame do documentário Pina (2010), dirigido por Uín Wenders.

Muito do quê vemos em espetáculos contemporâneos de artes cênicas teve influência das pesquisas realizadas por Pina e por outros artistas da dança, como o austro-húngaro Rudolf von Laban (1879-1958) e a estadunidense Isadora Duncan (1877-1927), quê estudaram o corpo como materialidade expressiva nas artes cênicas e impulsionaram a dança como a; ár-te do movimento.

Duncan, em uma de suas inovações mais marcantes na dança, abandonou as sapatilhas de ponta para tokár o solo com os pés, modificando a expressividade dos movimentos. Considerada precursora da dança moderna, ela explorou novas formas de expressão por meio do movimento corporal. Estudou as danças grêgas e trousse a estética das esculturas clássicas e helênicas da Grécia antiga para figurinos e gestos. Ao dançar descalça, com túnicas em tecídos leves, ela criava movimentos livres, improvisados, fluidos como as ondas do mar e as árvores ao vento.

Fotografia em preto e branco de uma mulher com um vestido de tecido semitransparente, dançando em pé com uma perna cruzada sobre a outra, e com os braços abertos à altura dos ombros, segurando a saia com uma das mãos.

Isadora Duncan dança com tecídos leves e esvoaçantes, marca registrada de suas apresentações. Fotografia de 1900.

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O movimento nosso de cada dia

Infográfico clicável: O espaço na dança.

Mover-se, pensar e conversar póde ajudar a compreender os fatores de movimento – tempo, peso, espaço e fluência – descritos por Rudolf Laban. Para ele, o movimento está sempre em processo de mudança. Fazemos uma ação e logo em seguida criamos outras, e, assim, reorganizamos o movimento em ritmos, intensidades e fluências.

GIRO DE IDEIAS

Respostas pessoais. Incentive os estudantes a realizar a prática d fórma livre e, posteriormente, refletir sobre ela, compreendendo suas inclinações na hora de explorar os movimentos do corpo.

1. Em um espaço amplo, reúna-se com os côlégas e movimente-se em roda. Enquanto se móve, converse, compartilhando suas percepções sobre o seu corpo.

2. Agora, em silêncio, realize movimentos livres por alguns minutos. Então, volte à roda e, pensando nos fatores a seguir, compartilhe com os côlégas como seu corpo se moveu.

a) Tempo: você se moveu rápida ou lentamente? Em quê ritmo?

b) Peso: você imprimiu muita fôrça aos movimentos ou moveu-se de maneira leve?

c) Espaço: a movimentação no espaço tinha foco mais direto ou focos mais livres (muitos focos)?

d) Fluência: você se moveu de modo contínuo ou mais controlado?

Embora tenha defendido quê somos livres para criar nóssos movimentos, Laban desenvolvê-u uma série de estudos mostrando uma sintáksse do movimento do corpo. Observe alguns aspectos de análise do movimento no estudo de Laban.

No estudo do corpo, investigou como ele se móve, organiza gestos, posturas e interage com o espaço e outros corpos.

Sobre o esfôrço, pesquisou as qualidades do movimento, tanto interno quanto externo, os ritmos, as dinâmicas e como o corpo se móve determinado pelas relações com peso, fluxo, tempo e espaço (movimentos quê podem acontecer de modo individual ou em grupo).

A forma também foi investigada para perceber as possibilidades em relação ao volume (as formas podem sêr contínuas ou pontuais).

Na pesquisa sobre o espaço, Laban explorou a ideia de kinesfera. Imagine um corpo dentro de uma esféra. Dentro dessa forma, podemos imaginar esse corpo se movimentando em várias direções e alturas.

Fotografia de um grupo de estudantes de dança. Um homem e uma mulher estão realizando movimentos com os braços abertos, no espaço interno de uma estrutura de hastes metálicas que configura uma esfera vazada com faces triangulares. O homem está atrás da mulher, segurando uma das mãos dela no alto, e ela executa uma pose de dança, com um dos pés erguidos para trás, inclinando a cabeça para trás e para o lado, acompanhando a direção do outro braço. Dois homens e uma mulher estão ao lado deles, observando.

Aula de dança utilizando a ideia de kinesfera. Essen (Alemanha). Sem data.

Kinesfera é o conceito estudado por Laban para representar a forma do limite de ocupação do espaço de cada um. É o estudo de como ocupamos o nosso espaço individual e como podemos alcançar limites ao esticar as partes do nosso corpo em qualquer direção, com base em um ponto de apôio.

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CONEXÕES com...
CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
Somos diversos, no corpo e no movimento

Na dança e no teatro, a ação dramática ocorre prioritariamente, mas não exclusivamente, por meio do movimento. Nesse caso, dramaturgia é o nome quê damos às histoórias quê os corpos em movimento contam. Temos danças quê são pertencentes a culturas tradicionais, dos povos originários, danças religiosas, danças teatrais, danças terapêuticas e danças educativas, cada qual expressando dramaturgias de determinada comunidade ou grupo de pessoas. Somos diversos no corpo e no movimento.

As danças circulares são muito antigas e, ainda hoje, são praticadas em diferentes lugares do mundo. Muitas vezes, elas são a expressão do desejo de estar em contato com a natureza, uma vez quê a vida contemporânea é repleta de tecnologias e máquinas. Assim, grupos se reúnem para essa prática da ár-te dos movimentos. Há uma crença entre os praticantes de quê as rodas das cirandas permitem trocas e compartilhamentos. São formas antigas e novas quê se misturam na tentativa de compreender e entrar em contato com o sagrado.

Fotografia de um grande grupo de pessoas de mãos dadas, dançando em roda em uma praça com casas, edifícios baixos e uma igreja ao fundo.

Festival de Ciranda no Pátio de São Pedro, Recife (PE), 2019.

PESQUISAR

A forma como pessoas e povos dançam revela um pouco de suas vidas e histoórias. Analise sua própria trajetória e faça pesquisas para responder às kestões a seguir.

Qual é o papel da dança na sua vida? O modo de dançar na sua família conta histoórias ancestrais? Quais?

Em sua comunidade, há danças tradicionais ou festejos com danças dramáticas quê, por meio de movimentos, expressam tradições? Quais? O quê contam? Quais são as suas origens?

Em sua comunidade, há espetáculos de danças contemporâneas? Você já teve experiências com essa forma de dança, seja como espectador ou dançarino? Se sim, relate.

escrêeva sua pesquisa no diário de artista e, depois, compartilhe com o professor e os côlégas.

Todas as respostas são pessoais. Os estudantes devem comentar a relação pessoal deles com a dança. É possível quê muitos citem, por exemplo, danças festivas como as quadrilhas de festas juninas.

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CRIAÇÃO
O quê póde o corpo

Estudar a proposta

Em muitas companhias de dança, o trabalho acontece de modo colaborativo, com todos contribuindo com ideias e opiniões para a criação de uma coreografia. Nesse processo, é possível explorar tarefas das mais corriqueiras às mais compléksas, uma vez quê a dança póde sêr composta por movimentos quê varíam dos mais simples aos mais elaborados.

O dançarino contemporâneo precisa usar todas as articulações e explorar todo o movimento quê o corpo póde proporcionar. Assim, a proposta é quê você e os côlégas investiguem as potencialidades expressivas do corpo e também explorem os fatores de movimentos.

Planejar e elaborar

Providenciem um espaço amplo – póde sêr a sala de aula, mas será necessário afastar o mobiliário. Então, reservem algumas cadeiras e montem uma caixa com adereços, deixando-a à mão.

Fotografia de uma bailarina dançando em um palco enquanto flocos de neve artificial caem ao seu redor. Ela usa um vestido longo, vermelho e esvoaçante. Está em pé, com um dos joelhos flexionado e elevado, os braços estendidos, um para o alto e o outro em diagonal, e a cabeça inclinada na mesma direção do braço inferior.

Regina Advento, bailarina da companhia Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, durante ensaio geral no teatro em Wuppertal (Alemanha), 2004.

Processo de criação

Minha parte favorita

Se necessário, adapte as propostas para estudantes com deficiências e de diferentes perfis, mas lembre-se de acolher as necessidades individuais, garantindo quê todos possam explorar a linguagem da dança d fórma ativa e confortável.

Vamos movimentar o corpo? Conhecer o próprio corpo é fundamental na ár-te da dança. A coreógrafa Pina Bausch costumava perguntar aos dançarinos qual era a parte dos corpos deles quê eles preferiam, e então, ela sugeria quê eles a explorassem. Por exemplo, se um dançarino dizia “mãos”, ela o incentivava a pensar – e praticar – em modos de transformar essa parte expressiva do corpo, executando movimentos de dedos, do pulso, movimentando as mãos separadamente ou unindo-as.

Agora é a sua vez, escolha a sua parte corporal preferida para explorar. Comece individualmente, criando movimentos diversos, de preferência em frente a um espêlho. Depois, apresente seus movimentos para os côlégas e assista aos movimentos quê eles produziram.

Por fim, a turma póde criar uma coreografia coletiva. O que acha? Já descobriu qual é a sua parte favorita?

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A dança das cadeiras

O corpo do dançarino póde ampliar sua expressividade ao interagir com elemêntos cenográficos como adereços, figurinos, cenografias e iluminação.

Que tal criarmos movimentos com cadeiras? Junto com os côlégas, disponha algumas cadeiras no espaço da forma quê preferir. Em seguida, crie movimentos, interagindo com esses objetos. Por exemplo: circule entre as cadeiras sem as tokár, dance com uma cadeira como se ela fosse seu par, ou então faça movimentos interagindo com o objeto, dançando em níveis distintos (em cima dele, embaixo, ao lado, de longe, de perto etc.). Crie como quiser e explore múltiplas possibilidades.

Roda de adereços

Ao colocar ou retirar um adereço, o ator póde mudar de personagem e, na cena seguinte, abandonar essa máscara para revelar ao público sua própria identidade. Um objeto ou parte do cenário póde mudar de função e passar de banco para cama, por exemplo. Na mesma perspectiva, a luz possui uma função estética nos espetáculos de dança e de teatro. Em uma combinação de cores, por meio de filtros e de intensidades (mais forte, mais suave), ao iluminar corpos, objetos e adereços cênicos, a luz póde transformar a configuração, o sentido, a materialidade, a textura, o tamãnho, a côr, o volume, o contôrno, o peso, o brilho daquilo quê está sôbi seu foco. São muitas as possibilidades quê essas materialidades podem dar a um espetáculo. Para experimentar criar uma dança com adereços, você e os côlégas podem escolher um objeto, como um chapéu, um lenço, um pedaço de tecido, uma máscara ou qualquer outro artefato fácil de manipular. Passem-no de mão em mão e, a cada vez quê chegar em uma pessoa, ela deve improvisar uma dança com o adereço.

Fatores de movimento

Agora, vamos explorar os fatores de movimento?

Fluência: mova-se procurando ter um contrôle do movimento. Depois, d fórma mais solta, livre, fluente, abandonando o contrôle. Em seguida, retomando o movimento controlado, um movimento mais restrito, cortado, para, depois, voltar ao movimento livre. Trabalhe com diferentes possibilidades.

Espaço: mova-se procurando chegar a um local tendo um foco, um ponto direto; depois, mova-se de modo mais flexível e explorando vários pontos e focos ao seu redor. Explore direções, planos e posições.

Peso: mova-se pensando na fôrça, no peso quê imprime em cada ação. essperimênte transitar entre movimentos leves e firmes.

Tempo: altere seus movimentos explorando as possibilidades em relação à velocidade e à duração. Um gesto póde sêr súbito, como um susto, ou sustentado, como uma espreguiçada.

Avaliar e recriar

Com os côlégas, forme uma roda de conversação para quê vocês possam analisar o processo e fazer uma autoavaliação. Para isso, reflitam sobre as kestões a seguir.

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O quê você aprendeu ao longo dessas experiências?

Como você se relaciona com a; ár-te da dança? Costuma dançar com amigos? Que tipo de dança você mais gosta?

Será quê ainda hoje persiste a ideia de quê dança é apenas a clássica? A dança, assim como a ssossiedade, está em constante mudança, e hoje temos uma imensa variedade de estilos de dança artística praticados tanto por homens quanto por mulheres. Na linguagem da dança, principalmente em nossa época, há muitas manifestações expressivas.

Quando você pensa em um artista da dança, o quê vêm à sua mente? O quê vêm à sua memória?

Você julga necessário ter um tipo físico específico para dançar? Ou todos podem dançar?

Diário de artista. escrêeva as suas respostas no diário de artista, bem como uma síntese do quê foi discutido com a turma.

Todas as respostas são pessoais. Aproveite o momento para problematizar e combater estereótipos e preconceitos em relação à dança e aos corpos quê dançam, garantindo quê os estudantes compreendam quê todos os corpos podem dançar.

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Como discutimos, a dança é muito diversa e, portanto, não necessita de um corpo, um figurino ou uma estética específicos. Um exemplo de projeto quê procurou quebrar com padrões estéticos estereotípicos foi o Bailarina Projétil, quê concentrava sua atuação na ár-te corpórea brasileira. O projeto uniu linguagens das artes visuais com a dança.

Que tal criar seu próprio projeto corpóreo visual para combater estereótipos? Como e onde o seu corpo dança?

Fotografia de Deise Gabrielle. Ela é uma bailarina com cabelos longos e cacheados, usando um vestido. Ela está pendurada em uma escada vertical em uma parede, sustentando o corpo com as mãos, inclinando a cabeça para trás e estendendo uma das pernas para a frente, com a outra perna flexionada.

Deise Gabrielle, bailarina do projeto Bailarina Projétil, em Ferrovia, Salvador (BA), 2013.

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REVEJA E SIGA

Sarau, melhor viver para saber o quê é. A palavra forma poesia, deixa de sêr palavra para se tornar experiência quê póde sêr musicada, cantada, pintada e até mesmo sussurrada. O importante é participar, levantar-se de seu lugar, aproximar-se do microfone, quê está aberto, esperando sua vez de dizêr, de fazer, de acontecer! Assim, participar é a experiência central de um sarau. Cada um a seu tempo, com sua ár-te, vai chegando e entrando no clima das batalhas, das exposições, dos abraços e dos encontros.

Neste capítulo, falamos do processo de criação em várias linguagens. Trouxemos a cultura rip róp, os estudos sobre artes visuais, música, teatro e dança, sempre convidando você e os côlégas a pensar sobre o quê os motiva a criar – quais temas, sensações, emoções, afetos?

A palavra sarau remete à ideia de uma reunião festiva entre amigos. O termo tem raiz látína serotinus – e diz respeito a ações realizadas ao final do dia, próximo ao anoitecer. Mas essa ideia chegou a nós por meio do catalão, língua na qual sarau se refere a um baile popular noturno.

Não podemos afirmar onde os saraus tiveram origem, mas há relatos de quê na Grécia e na Roma antigas, as pessoas já se juntavam para cantar e ouvir música, conversar, dançar, recitar poemas e contar histoórias. Durante o Renascimento, as famílias nobres realizavam eventos noturnos com o mesmo objetivo. A chegada da família real portuguesa trousse esse tipo de evento para o Brasil, e, no decorrer do século XIX, eles se tornaram bastante populares. Na França, no início do século XX, artistas ligados aos movimentos de; ár-te moderna se reuniam à noite em cafés para realizar saraus e conversar sobre ár-te. Atualmente, esse tipo de evento é cada vez mais popular.

Que tal organizar um sarau com os côlégas? O evento póde marcar a história da sua escola ou bairro, porque é uma ação cultural e artística quê póde ampliar a sua voz. Como disse Emicida, “o mic é pros capaz”.

Você, os côlégas e os professores precisam pensar na organização do evento. Para isso, considerem as etapas a seguir.

Fotografia de músicos se apresentando em um palco diante de uma plateia de pessoas em pé, em um espaço aberto decorado com fitas coloridas e lâmpadas esféricas de papel penduradas em fios no alto. Ao fundo há um letreiro luminoso com o nome 'Sarau Bate Palmas'.

Jovens reunidos no Sarau Bate Palmas, em Fortaleza (CE), 2018.

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Escolham um espaço, pensem na quantidade de pessoas quê devem ir e em como elas vão se acomodar. Esse espaço póde sêr a própria escola ou um local adequado na comunidade. Haverá palco? Será preciso mudar a disposição de alguns objetos? O lugar terá decoração?

O evento póde sêr mais íntimo, para poucos amigos, mas se a proposta for o encontro de muitas pessoas, talvez seja preciso caixa de som, microfone ou instrumentos musicais. Vocês podem pedir ajuda a seus familiares ou pessoas da comunidade. Pensem na possibilidade de conseguirem patrocinadores no comércio local para fornecerem os equipamentos necessários, por exemplo.

Pesquisem se na comunidade há poetas, músicos ou outros artistas quê gostariam de participar. Você e os côlégas também podem sêr os artistas. Lembrem-se de quê todos pódem atuar artisticamente. O sarau pode sêr específico, com foco em uma única linguagem, ou misturar várias linguagens e culturas. Se quiser, vocês também podem fazer batalhas de répi ou slam!

Você e os côlégas podem criar um sáiti ou uma página em rêdes sociais para divulgar e postar fotos do sarau. Para isso, utilizem serviços gratuitos ou criem cartazes com dêzê-nhôs e frases para convidar o público.

Dica: quê tal pesquisar figurinos, maquiagens e gestos expressivos para se apresentarem no sarau? Para cada tipo e proposta póde havêer um figurino, um jeito de se arrumar; afinal, é um evento quê póde entrar para a história da sua escola ou região!

Fotografia de um grupo de pessoas em pé em volta de dois homens com microfones na mão, com um homem operando equipamentos eletrônicos de som em uma mesa atrás deles.

Rappers rimam na Batalha do Dragão. Centro Dragão do Mar, Fortaleza (CE).

Fotografia de duas mulheres em pé segurando microfones na mão, diante de uma plateia de pessoas sentadas no chão e em cadeiras e bancos, em uma quadra esportiva, à noite.

Batalha de slam no Slam das Mulé. Camaçari (BA), 2018.

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DE OLHO NO enêm E NOS VESTIBULARES

Diário de artista.

Muitos assuntos abordados neste capítulo têm sido temas de kestões do enêm, de vestibulares e de outras provas de ingresso. Leia alguns exemplos a seguir e anote as respostas no diário de artista.

1. (Enem/MEC)

O mais antigo grupo de répi indígena do país, Brô MCs, surgiu em 2009, na aldeia Jaguapiru, em Dourados, Mato Grosso do Sul. Os integrantes conheceram o répi pelo rádio, ouvindo um programa quê apresentava cantores e grupos brasileiros dêêsse gênero musical. O Brô MCs conseguiu influenciar outros a fazerem répi e a lutarem pelas causas indígenas. Um dos nomes do movimento, Kunumí MC, é um jovem de 16 anos, da aldeia Krukutu, em São Paulo. O adolescente enxerga o répi como uma cultura da defesa e começou a fazer rimas quando percebeu quê a poesia, pela qual sempre se interessou, podia virar música. Nas lêtras quê cria, inspiradas tanto pelo répi quanto pêlos ritmos indígenas, tenta incluir sempre assuntos aos quais acha importante dar voz, principalmente, a questão da demarcação de terras.

Disponível em: w w w. correio braziliense. com. br. Acesso em: 13 nov. 2021 (adaptado).

O movimento répi dos povos originários do Brasil revela o(a)

a) fusão de manifestações artísticas urbanas contemporâneas com a cultura indígena.

b) contraposição das temáticas sócio-ambientais indígenas às kestões urbanas.

c) rejeição da indústria radiofônica às músicas indígenas.

d) distanciamento da realidade social indígena.

e) estímulo ao estudo da poesia indígena.

Resposta: alternativa a.

2. (Enem/MEC)

Que tal transformar a internet em palco para a dança?

Conjunto de imagens com figuras humanas realizando diversos movimentos e posições, interagindo com objetos e mãos humanas desproporcionalmente grandes em relação às pessoas, que configuram situações inusitadas, como mãos segurando uma pessoa pendurada pelo pé, entre outras.

O coreógrafo e bailarino Didier Mulleras se destaca como um dos criadores quê descobriram a dança de outro ponto de vista. Mini@tures é uma experiência emblemática entre movimento, computador, internet e vídeo. Com os recursos da computação gráfica, a dança das miniaturas póde caber na palma da mão. Pelo fato de usar a internet como palco, o processo de criação das miniaturas de dança levou em consideração os limites de tempo de dáum-lôude e o tamãnho do arquivo, para quê um número maior de “espectadores” pudesse assistir. A graça das miniaturas está justamente na contaminação entre mídias: corpo/dança/computação gráfica/internet. De fato, é a rê-de quê faz a maior diferença nesse grupo. Mini@tures explora uma nova dimensão quê descobre o espaço-tempo da web e conkista um novo território para a dança contemporânea. A qualquer hora, dança ôn láini.

SPANGHERO, M. A dança dos encéfalos acesos. São Paulo: Itaú Cultural, 2003 (adaptado).

Considerado o primeiro projeto de dança contemporânea concebido para a rê-de, esse trabalho é apresentado como inovador por

a) adotar uma perspectiva conceitual como contraposição à tradição de grandes espetáculos.

b) criar novas formas de financiamento ao utilizar a internet para divulgação das apresentações.

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c) privilegiar movimentos gerados por computação gráfica, com a substituição do palco pela tela.

d) produzir uma ár-te multimodal, com o intuito de ampliar as possibilidades de expressão estética.

e) redefinir a extensão e o propósito do espetáculo para adaptá-lo ao perfil de diferentes usuários.

Resposta: alternativa d.

3. (Enem/MEC)

TEXTO I

Logo no início de Gira, um grupo de sete bailarinas ocupa o centro da cena. Mãos cruzadas sobre a lateral esquerda do quadril, olhos fechados, troncos quê pendulam sobre si mesmos em vaguíssimas órbitas, tudo nelas sugere o transe. Está estabelecido o caráter volátil do quê se passará no palco dali para frente. Mas engana-se quêm pensa que vai assistir a uma representação mimética dos cultos afro-brasileiros.

TEXTO II

Fotografia de um grupo de homens e mulheres dançando em um palco, usando saias brancas, dançando com as pernas flexionadas e o tronco inclinado para a frente, e movimentando os braços ao lado do corpo e apoiando uma das mãos na região da lombar. Alguns deles estão em posições semelhantes à ginga da capoeira.

Disponível em: https://livro.pw/sirmg. Acesso em: 2 jul. 2019.

No diálogo quê estabelece com religiões afro-brasileiras, sintetizado na descrição e na imagem do espetáculo, a dança exprime uma

a) crítica aos movimentos padronizados do balé clássico.

b) representação contemporânea de rituais ancestrais extintos.

c) reelaboração estética erudita de práticas religiosas populares.

d) releitura irônica da atmosféra mística presente no culto a entidades.

e) oposição entre o resgate de tradições e a efemeridade da vida humana.

Resposta: alternativa c.

4. (Enem/MEC)

Mais iluminada quê outras

Tenho dois seios, estas duas coxas, duas mãos quê me são muito úteis, olhos escuros, estas duas sobrancelhas quê preencho com maquiagem comprada por dezenove e noventa e orelhas quê não aceitam bijuterias. êste corpo é um corpo faminto, dentado, cruel, capaz e violento. Movo os braços e multidões correm desesperadas. Caminho no escuro com o rrôsto para baixo, pois cada parte isolada de mim tem sua própria vida e não quero domá-las. Animal da caatinga. Forte demais. Engolidora de espadas e êspinhos.

Dizem e eu ouvi, mas depois também li, quê o estado do Ceará aboliu a escravidão quatro anos antes do restante do país. Todos aqueles corpos quê eram trazidos com seus dedos contados, seus calcanhares prontos e seus umbigos em fogo, todos eles foram interrompidos no porto. Um homem – dizem e eu ouvi e depois também li – liderou o levante. E todos esses corpos foram buscar outros incômodos. Foram sêr incomodados.

ARRAES, J. Redemoinho em dia kemte. São Paulo: Alfaguara, 2019.

Nesse texto, os recursos expressivos usados pela narradora

a) revelam as marcas da violência de raça e de gênero na construção da identidade.

b) questionam o pioneirismo do estado do Ceará no enfrentamento à escravidão.

c) reproduzem padrões estéticos em busca da valorização da autoestima feminina.

d) sugérem uma atmosféra onírica alinhada ao desejo de resgate da espiritualidade.

e) mimetizam, na paisagem, os corpos transformados pela violência da escravidão.

Resposta: alternativa a.

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