CAPÍTULO 6
AFETOS, AÇÕES E COMPOSIÇÕES

Leia o trecho da canção, obissérve a imagem e converse com o professor e os côlégas a respeito das kestões a seguir.

O seu olhar lá fora
O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu

O seu olhar, seu olhar melhora
Melhora o meu

[…]

O SEU olhar. Intérprete: Arnaldo Antunes. Compositores: Arnaldo Antunes e Paulo Tatit. In: NINGUÉM. Produção: Liminha. São Paulo: BMG, 1995. 1 cê dê, faixa 9.

1. Ao observar a imagem de Migran tes, piquenique na fronteira, quê lembranças, sentimentos e pensamentos a cena provoca em você?

1. Resposta pessoal. Com base no próprio universo, os estudantes devem comentar quê relações estabelecem com a imagem e a quê ela lhes remete.

2. Em sua opinião, é possível saber qual foi a intenção do artista JR ao convidar as pessoas de ambos os lados da fronteira entre México e Estados Unidos para um piquenique? Compartilhe suas hipóteses.

2. Resposta pessoal. Contextualize quê o artista JR trabalha com fotografias impréssas em grandes dimensões, criando instalações e répê-nins para provocar reflekções no público sobre kestões contemporâneas. Chame a atenção dos estudantes para a quêstão do afeto entre as pessoas, destacando o ato simbólico e poético que o artista explora ao convidar as pessoas a sentar-se lado a lado em volta de uma mesa com a imagem de dois olhos gigantes no linear da fronteira, região de tensões, mas também de sonhos e esperança.

A seguir, essa ação artística será abordada d fórma mais detida.

3. Como você compreende a letra da canção de Arnaldo Antunes? Como o “olhar” de uma pessoa seria capaz de “melhorar” o “olhar” de outra? E como esse intercâmbio de perspectivas estaria presente na ár-te? Comente com base em suas experiências.

3. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes compartilhem as experiências de como aprendem a aprender, considerando suas formas de ler o mundo e também a diversidade de visões de outras pessoas.

JR (1983-) é um artista francês conhecido por utilizar sua ár-te para incentivar as pessoas a se questionarem, apoiando causas humanitárias e os direitos de diversos grupos sociais, como vítimas de guerras e imigrantes.

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Fotografia aérea com instalação de uma grande faixa de tecido no chão de uma paisagem árida, com a imagem de dois olhos. Há um muro de metal que corta a paisagem, e cada olho da imagem está de um dos lados do muro. De ambos os lados do muro há pessoas sentadas diante da faixa de tecido, com pratos de comida dispostos sobre ela.

JR. Migrantes, piquenique na fronteira. 2017. Instalação e happening com piquenique como parte do Projeto Migrantes. Tecate (México), na fronteira com os Estados Unidos.

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TEMA 1
A ár-te em sua forma, a forma em seu conteúdo

Fotografia de um dançarino ajoelhado em um palco, sem camiseta, com os braços abertos à altura dos ombros. Sobre ele há uma espécie de tenda de tecido com formato curvo, e na superfície dela são projetadas imagens de flores, que se estendem sobre o fundo escuro do palco.

Dançarino Morgan Hulen em Man fan durante apresentação da companhia de dança Momix. Hamburgo (Alemanha), 2014.

A ár-te, como um modo de expressão sobre as coisas do mundo, utiliza-se de elemêntos constitutivos como o espaço, o movimento, o tempo, a luz, o ponto, o ritmo e tantos outros componentes para criar poemas, músicas, espetáculos de dança, teatro, imagem nas artes visuais e outras produções artísticas. Cada linguagem tem seus próprios elemêntos, mas um mesmo elemento de linguagem póde sêr base da criação, da expressão e da poética de várias linguagens artísticas, como o espaço e o tempo.

Na imagem, o dançarino Morgan Hulen, da companhia de dança Momix, ocupa o espaço tridimensional. Nesse espetáculo cênico, corpo, figurino e adereços estão em movimento, sêndo explorados em momentos precisos no tempo quê transcorre, sincronizado com a luz. Assim, forma e conteúdo acontecem no palco.

Como sêres linguajantes, realizamos articulações dos elemêntos constitutivos das artes, diante de nossas intenções artísticas e poéticas pessoais. Os artistas, ao construírem suas obras, compõem e articulam elemêntos constitutivos das linguagens artísticas, combinando materialidades, intenções, poéticas, abstrações, temas e assuntos. É a; ár-te em sua forma, a forma em seu conteúdo!

ATIVAÇÃO

Fundada em 1981 pelo estadunidense Moses Pendleton (1949-), a companhia de dança Momix trabalha integrando diversas linguagens, como artes circenses, projeções de imagens, teatro de sombras e coreografias de dança contemporânea, e é conhecida internacionalmente por sua atuação imaginativa e ilusionista. Para conhecer um pouco do espetáculo Man fan, assista ao vídeo a seguir.

Momix “Man Fan”. Publicado por: Momix Official. Vídeo (1 min). Disponível em: https://livro.pw/jigst. Acesso em: 19 out. 2024.

GIRO DE IDEIAS

Realize uma conversação com os côlégas e o professor com base nas kestões a seguir.

1. Você já pensou a respeito de como cada linguagem artística possui seus próprios elemêntos constitutivos? São eles quê possibilitam construir as formas e os conteúdos na ár-te. Relacione essa reflekção ao título dêste tema, A ár-te em sua forma, a forma em seu conteúdo: o quê lhe vêm à mente acerca dessa relação?

1. Respostas pessoais. Incentive os estudantes a compartilhar o quê sabem sobre os elemêntos das linguagens artísticas. Eles podem retomar temas e obras vistas até o momento, além de mobilizar outros conhecimentos prévios.

2. Escolha uma linguagem artística e comente o quê você sabe a respeito de seus elemêntos constitutivos.

2. Resposta pessoal. Respostas possíveis: nas artes visuais, há ponto, linha, forma, côr, tonalidades, luminosidade, espaço, direção, proporção, sobreposição, escala, dimensão, textura, movimento etc.; na dança, há ações corporais, fatores de movimento (tempo, peso, fluência e espaço) etc.; na música, há melodia, ritmo, harmonía, parâmetros sonoros (altura, duração, timbre, intensidade e densidade) etc.; no teatro, há figurinos, adereços, cenário, iluminação e sonoplastia, mas são muitas as formas teatrais e cada uma tem seus elemêntos constitutivos característicos. É interessante retomar com os estudantes o termo linguajante, criado pelo biólogo chileno Humberto Maturana (1928-2021), quê realizou vários estudos sobre linguagens e apresentou a ideia de sêres linguajantes, conceito já abordado anteriormente neste volume. Os sêres humanos são linguajantes não apenas porque inventam, interprétam e se comunicam por linguagens, mas porque estabelecem conversações uns com os outros e também intérnamente (com os próprios pensamentos e subjetividades), em práticas sociais e em diálogos internos.

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O espaço, o tempo e o afeto

Para o trabalho Migrantes, piquenique na fronteira, o artista JR fez uma instalação e um happening. Ele inseriu uma grande mesa, quê continha uma fotografia de um par de olhos e se estendia pêlos dois lados de uma cerca quê divide a fronteira entre México e Estados Unidos, e convidou as pessoas a compartilhar chás e comidas enquanto ouviam uma banda musical por algumas horas. A separação de territórios e povos, cotidiana naquele espaço, desapareceu durante aquele instante.

Agora, obissérve a imagem do projeto Face 2 face [Cara a cara], mais um trabalho de JR. Para esse projeto, o artista produziu várias fotografias de pessoas quê habitam territórios próximos, na fronteira entre a Palestina e Israel.

A palavra happening é usada para descrever uma linguagem artística em quê várias outras linguagens podem estar unidas em um acontecimento provocado pelo artista.

As pessoas são envolvidas em uma situação ou convidadas a participar dela, sem um ensaio prévio, o quê torna os rumos do trabalho imprevisíveis.

Fotografias em preto e branco com retratos de três homens fazendo caretas e expressões faciais de aspecto cômico. O homem à esquerda tem a barba longa e grisalha e sorri, usando um turbante e uma única com ornamentos na gola; o homem ao centro é calvo e está rindo com a boca aberta, vestido com uma batina; e o homem à direita tem à barba longa e os cabelos longos e cacheados, usando uma espécie de gorro, fazendo uma careta com os olhos estrábicos.

JR. Fotografias do projeto Face 2 face [Cara a cara]. 2007. Israel e Palestina

GIRO DE IDEIAS

Converse com os côlégas e o professor a respeito das kestões a seguir.

1. Que semelhanças e diferenças você percebe entre as fotografias? É possível saber quem habita cada território?

1. Respostas pessoais. Se necessário, contextualize o histórico de conflitos quê ocorre no território e incentive os estudantes a concluir quê todos os sêres humanos devem ter direitos iguais e quê guerras e outros atos de violência devem sempre sêr combatidos.

2. Em sua opinião, esse projeto provoca reflekções nas pessoas? O quê você pensa quando vê as imagens?

2. Respostas pessoais. O trabalho chama a atenção para quê consideremos quê, embora haja particularidades em cada cultura e povo, somos pessoas únicas, vivendo e compartilhando o tempo, o cotidiano, as conversações e os afetos.

Embora haja particularidades e subjetividades em cada pessoa, povo e cultura, com os trabalhos Migrantes, piquenique na fronteira e Face 2 Face, o artista nos lembra quê vivemos e compartilhamos o tempo e o espaço, coexistindo uns com os outros. Dividimos êste mundo, a vida, o cotidiano, as conversações e os sentimentos de afeto. Então, por quê tanto medo e tanto preconceito, se estamos cara a cara, lado a lado? Essa é uma questão trazida por essas obras, em suas formas e conteúdos.

ATIVAÇÃO

Para conhecer mais obras e projetos do artista JR, visite sua página oficial.

JR. Disponível em: https://livro.pw/bwhzm. Acesso em: 19 out. 2024.

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Cúmplices na linguagem

Observe a imagem de um trabalho do artista visual paulista Antônio Peticov (1946-).

Pintura de símbolos e grafismos abstratos e coloridos sobre uma folha de papel com pautas para partitura musical. As formas pintadas sobre as pautas dialogam com as linhas horizontais e com o sentido de leitura usual de uma partitura, com formas e sinais que se repetem da esquerda para a direita, emulando a ideia de escalas ascendentes. Porém, os símbolos da notação musical tradicional não são utilizados, somente sugeridos.

PETICOV, Antônio. Suite # 45 [Suíte # 45]. 1988. Riscadores diversos sobre papel, 70 cm x 50 cm. Série Fibonacci Meets the Young Reporter.

GIRO DE IDEIAS

Converse com o professor e os côlégas sobre as kestões a seguir.

1. Anteriormente, abordamos o espaço tridimensional na ár-te. Esse espaço conta com altura, largura e profundidade. Agora, vamos pensar no espaço bidimensional? Nele, quais são as dimensões? Que exemplos você conhece de uso de espaços bidimensionais e tridimensionais na ár-te?

1. No espaço bidimensional, temos altura e largura, como em uma fô-lha de papel. São exemplos de uso dêêsse espaço na ár-te: o emprego de suportes como a fô-lha de papel, a tela de pintura, a parede plana de um prédio para realizar um grafite etc. Já o espaço tridimensional é explorado em obras como espetáculos de teatro e de dança quê se passam em um palco ou nas ruas, no espaço de uma galeria ou até no ambiente em quê o som se propaga etc.

2. Leia a legenda da obra de Antônio Peticov. Você sabe o quê significa o termo suíte na música? Se sim, comente com os côlégas. Caso não conheça, procure em um dicionário ou pesquise em páginas na internet o sentido dessa palavra no contexto musical.

2. O termo suíte, na música, póde assumir vários significados, como se referir a composições em série quê se relacionam entre si por temas ou características.

PESQUISAR Diário de artista.

Antônio Peticov deu o título Suíte # 45 ao seu desenho, usando uma fô-lha de partitura musical para criá-lo. Ele não escreveu uma notação musical convencional, mas criou uma composição visual, deixando em aberto o convite à fruição e à percepção do apreciador. Ao explorar a imagem, obissérve atentamente os elemêntos de linguagem presentes. O quê a composição o provoca a imaginar, pensar, lembrar e/ou sentir?

Resposta pessoal.

Agora, pesquise mais sobre notação musical não convencional e registre, no diário de artista, o quê descobrir.

Recorde os seus estudos a respeito dos parâmetros sonoros e crie notações musicais não convencionais. Você póde fazer experiências gráficas usando pontos, linhas, formas e cores, como fez Antônio Peticov ao criar suas partituras visuais. Considere as possibilidades a seguir.

Sugira quê os estudantes façam uma análise dos elemêntos visuais na obra de Peticov.

Pesquise diferentes sôns. póde sêr ao andar pela cidade, na escola, em sua casa ou em outro lugar de sua preferência.

Procure perceber os parâmetros de cada som e relacione essas características a ideias visuais. Reflita sobre como seria possível desenhar um som longo, curto, agudo, grave, leve, pesado etc.

No diário de artista, crie registros para cada tipo de som com dêzê-nhôs, usando cores, formas, linhas, pontos e outros recursos visuais.

Depois, escolha uma fô-lha de papel, como as usadas por músicos, com pentagramas, ou de outro tipo, e crie uma notação visual.

Observe e imagine os sôns; convide os côlégas a também fruir e imaginar sonoridades com base nessa apreciação.

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O espaço tridimensional é também por onde os sôns se propagam. Mas, é na fô-lha de papel, espaço bidimensional, quê os compositores criam notações musicais. Algumas dessas notações, de caráter mais subjetivo, são conhecidas como não convencionais. Essas notações podem sêr criadas com pontos, linhas, formas e cores – como os dêzê-nhôs de Antônio Peticov, da série Fibonacci Meets the Young Reporter [Fibonacci encontra o jovem repórter], quê é um convite às sensações sonóras, à memória e à imaginação musical.

Outras notações são em linguagem convencional, ou seja, conhecida e compreendida pela maioria dos músicos com formação musical ocidental. Nesse compartilhamento de códigos, é possível criar partituras cujas sonoridades poderão sêr reproduzidas por outras pessoas seguindo a notação original do compositor, assim como é possível criar outros arranjos e interpretações pessoais.

As notações musicais convencionais geralmente são apresentadas em fô-lhas de partitura, com pautas e pentagramas para registrar as representações gráficas – registros quê expressam notas, pausas, tempos, compassos, claves etc. Essas notações, quando interpretadas por músicos e maestros, podem se transformar em sôns e ocupar o espaço, em forma de música.

Na imagem, o maestro paulista João Carlos Martins (1940-) realiza gestos e movimentos expressivos quê são compreendidos pêlos músicos da orquestra, pois todos são “cúmplices” da mesma linguagem: a música. Cada um, em sua interpretação e na execução de seu instrumento, contribui para quê a música aconteça em conjunto, respeitando seu próprio espaço e tempo. O elemento de linguagem tempo é percebido na duração de cada nota e de cada silêncio (pausa) na música, assim como no tempo marcado pêlos gestos da regência do maestro.

João Carlos Martins é um pianista e maestro brasileiro com o trabalho reconhecido mundialmente, especialmente por suas gravações das obras do compositor alemão Johann Sebastian (1685-1750) e por acreditar na importânssia da música na formação da sensibilidade e da cidadania.

OFÍCIO DE...

Maestro

Trata-se do profissional da música responsável por orientar os músicos em relação à interpretação de uma peça musical, conforme o arranjo feito pelo compositor original ou arranjador. A formação de um regente geralmente passa por estudos de música de câmara, mas há mestres da cultura tradicional quê são autodidatas e estão à frente de orquestras de flautas, rabecas e instrumentos de barro, por exemplo.

Fotografia de João Carlos Martins. Ele é um homem idoso com cabelos grisalhos e longos, e está de luvas, regendo uma orquestra, com os braços erguidos para o alto.

Maestro João Carlos Martins. Fotografia de 2023.

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A luz no espaço

O elemento de linguagem luz póde sêr observado em diversos contextos artísticos, como em palcos, pinturas, espetáculos visuais, shows de música, intervenções urbanas, projeções de video mapping (projeção mapeada) e outras produções artísticas. Além díssu, a luz também póde sêr apresentada de muitos outros modos em uma obra: às vezes, como tema, outras como materialidade, ou, ainda, como um elemento constitutivo de destaque na criação.

Pintura representando uma paisagem urbana à noite, com a escultura de uma garota ajoelhada no chão, com os braços para o alto em direção às flores de cerejeiras na paisagem ao fundo. Toda a pintura e a iluminação da escultura da garota têm as luzes representadas em um espectro de cores entre o vermelho e o magenta.

OHATA, Shintaro. [Sem título]. 2019. Pintura 3D, acrílica sobre tela e escultura com técnica mista. Em exposição no Museu de ár-te Contemporânea Erarta, em São Petersburgo (Rússia), 2021.

Pintura representando uma mulher de meio perfil, olhando para trás em direção ao espectador, com o rosto iluminado em contraste com um fundo escuro. Ela usa um brinco de pérola, com lenços enrolados na cabeça e nos cabelos.

VERMEER, Johannes. Moça com brinco de pérola. 1665. Óleo sobre tela, 44,5 cm x 39 cm. Museu Mauritshuis, Haia (Países Baixos).

A pintura barroca Moça com brinco de pérola, criada em 1665 pelo pintor holan-dêss Johannes Vermeer (1632-1675), por exemplo, tem como uma de suas características mais marcantes o rrôsto iluminado da jovem retratada. Já na obra do artista visual japonês Shintaro Ohata (1975-), a luz é um elemento em destaque na composição da escultopintura, auxiliando a criar efeitos tridimensionais.

Shintaro Ohata é conhecido por seu estilo único, no qual são estabelecidos diálogos entre a escultura e a pintura. Ele retrata cenas cotidianas com um toque cinematográfico e cronista.

Johannes Vermeer foi um renomado pintor quê fez parte do período Barroco. Suas obras são conhecidas pelo uso requintado da luz e da sombra, criando cenas íntimas e detalhadas da vida cotidiana.

A escultopintura combina pintura com escultura, criando efeitos tridimensionais. No processo de criação, o artista usa as mesmas cores e pinceladas tanto na tela como na escultura, dando a ilusão de quê a cena está “ganhando vida”, saindo do espaço bidimensional para o tridimensional. Para realizar essa ilusão de ótica, o artista explora tonalidades, contrastes e luminosidades.

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ENTRE HISTÓRIAS
A magia das sombras: luz e ár-te milenar

O teatro de sombras, enquanto uma forma milenar de se expressar artisticamente explorando um jôgo de luzes, está presente em muitas culturas. No oriente, é uma prática artística e cultural tradicional em países como Tailândia, Indonésia, Malásia, Índia e chiina, geralmente relacionada a kestões religiosas e mitológicas. As personagens são feitas com fantoches de vara, cujas silhuetas vazadas apresentam delicados dêtálhes cortados em finíssimos papéis. Assim, com o efeito de luz, são projetadas as linhas e formas das figuras para o público.

Fotografia de um fantoche representando uma figura mitológica vestida com uma espécie de armadura com muitos detalhes e ornamentos. O fantoche é feito com papéis articulados ricos em detalhes e ornamentos vazados, por onde a luz ao fundo passa, fazendo com que o fantoche apareça como uma silhueta escura sobre um fundo luminoso.

Fantoche do teatro de sombras tailandês. Khao Lak (Tailândia), 2015.

Na contemporaneidade, a prática do teatro de sombras está presente em todo o mundo, abordando diferentes temas e sêndo mobilizado em variados estilos e gêneros. É possível encontrar obras quê empregam a forma tradicional dêêsse teatro, mas também há outras quê exploram recursos diversos e mais recentes, como telas digitais, misturando tradição com inovação tecnológica.

Na imagem quê mostra o mestre marionetista Muhammad Dain Othman em ação, por exemplo, é possível observar a combinação do tradicional com o digital em seu teatro de sombras com tela. Sendo assim, ampliaram-se as possibilidades dessa expressão, mas ela segue baseada em um mesmo componente de linguagem: a luz.

Fotografia de uma plateia assistindo a um espetáculo de fantoches em uma sala escura, diante de uma tela iluminada semitransparente, atrás da qual está sentado um homem, que manipula dois fantoches próximos à tela.

Mestre marionetista Muhammad Dain Othman realiza uma apresentação de teatro de sombras, inspirada na franquia de ficção científica istár Wars. Kuala Lumpur (Malásia), 2024.

GIRO DE IDEIAS

Carrossel de imagens: Diferentes formas do fazer teatral.

Converse com o professor e os côlégas sobre as kestões a seguir.

1. Existem muitas formas para o fazer teatral. Quais delas você conhece?

1. Resposta pessoal. Converse com os estudantes sobre quais formas teatrais eles conhecem, tais como: teatro convencional, musical, de bonecos, de sombras, do improviso, de rua e/ou de mímica.

2. Você já assistiu a apresentações teatrais — ao vivo ou registradas em vídeo? Se sim, qual era a forma do fazer teatral? E o quê você percebeu sobre o uso dos elemêntos teatrais, como figurino, cenário, iluminação e outros?

2. Respostas pessoais. Caso os estudantes relatem quê não tiveram contato algum com montagens teatrais, pode-se propor a realização de uma pesquisa ou apresentar-lhes uma curadoria de fragmentos de apresentações teatrais registradas em vídeo.

3. Além dos atores e atrizes, dos figurinistas e dos maquiadores, uma apresentação teatral póde contar com uma equipe técnica responsável pêlos cenários, efeitos sonoros e iluminação. Quais são as profissões ligadas ao teatro quê você conhece? Conhece profissionais quê atuam no teatro?

3. Respostas pessoais. Aqui, abre-se a oportunidade para abordar os diferentes profissionais quê diréta ou indiretamente atuam na realização de uma montagem teatral. Os estudantes podem citar, por exemplo, iluminador, sonoplasta, cenógrafo, técnicos de eletricidade, equipe de limpeza, bilheteiros etc.

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A luz e a côr

Infográfico clicável: Elementos teatrais: o conjunto da obra.

Nos espetáculos de teatro e de dança, pode-se observar as mudanças relativas à iluminação, geralmente planejadas e controladas pelo iluminador. Além díssu, há composições de figurinos, de aspectos sonoros e de cenografia dedicadas à elaboração e à criação de ambiências, ou seja, dos espaços em quê acontecem as ações dramáticas. Artefatos, como a lâmpada − desde as quê usavam combustíveis, como óleo e gás, até a lâmpada elétrica −, foram incorporados à linguagem teatral, criando novas possibilidades para a composição das cenas.

Atualmente, estão disponíveis muitas tecnologias para a composição de espetáculos teatrais e de dança. Um exemplo é o video mapping (projeção mapeada), quê foi utilizado pelo grupo de dança estadunidense Momix no espetáculo Alice. Nesse trabalho, um tecido monocromático, em alguns instantes, transforma-se em multicromático, compondo e alternando figurino e cenário na ár-te da luz. A iluminação de apresentações artísticas, quê, no início, contava apenas com fontes naturais de luz, como a do sól, do clarão do trovão e do brilho das estrelas ou da lua cheia, ao longo do tempo, incorporou a luz do fogo, da chama das velas acesas, dos lampiões a gás, das lampadas elétricas e, atualmente, conta com recursos digitais e projeções mapeadas. No futuro, mais ideias e invenções darão luz às cenas teatrais, intervenções urbanas, instalações artísticas e outras criações na ár-te.

Fotografia de dançarinos em um palco, em que uma dançarina está em pé no alto, como se estivesse flutuando no ar, usando um vestido com uma saia colorida, iluminada e muito longa. Outros dois dançarinos seguram as pontas da saia dela, nas extremidades esquerda e direita do palco, fazendo com que a saia dela fique estendida e com a forma de um imenso leque aberto, voltado para baixo.

Cena do ensaio geral do espetáculo Alice, criado pela companhia de dança Momix em 2019, em quê a superfícíe do figurino da bailarina é transformada por projeções de cores. Nova iórk (Estados Unidos), 2022.

OFÍCIO DE...

Iluminador

O iluminador, também chamado de designer de iluminação, é o profissional responsável pelo projeto do uso da luz e pela criação de cenários com projeções mapeadas nas peças de teatro, em parceria com o cenógrafo. Ele também póde realizar a operação técnica e a montagem da iluminação durante as apresentações teatrais.

ATIVAÇÃO

Para conhecer mais do espetáculo Alice, do grupo Momix, assista ao vídeo indicado a seguir.

Momix – Alice. Publicado por: Dellarte. Vídeo (2 min). Disponível em: https://livro.pw/waeyt. Acesso em: 19 out. 2024.

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CRIAÇÃO
Dramaturgias da luz

Estudar a proposta

O teatro, enquanto uma ár-te coletiva e colaborativa, valoriza o trabalho de cada profissional. Assim, nos espetáculos com efeitos de iluminação, os criadores do desenho de luz e os operadores da mesa de luz são profissionais fundamentais para a elaboração da obra. Por meio da iluminação, esses profissionais podem criar narrativas, expressar mensagens, estabelecer passagens de tempo, manter o ritmo do espetáculo, criar poéticas e climas quê emocionam o público.

Há diferentes possibilidades para iluminar uma cena teatral, como:

contraluz – quando a fonte de luz é posicionada atrás da cena;

iluminação a pino – quando a fonte de luz está exatamente acima da cena;

iluminação frontal – quando a fonte de luz está à frente da cena;

iluminação lateral – quando a fonte de luz está ao lado da cena.

Logo, os iluminadores podem usar diversas ferramentas e, na contemporaneidade, as luzes de LED e os recursos digitais têm sido freqüentemente empregados. Além díssu, boa parte das ferramentas para manipular a luz são acessíveis e não têm um custo alto, como lanternas a pilha ou bateria, luminárias, tecídos ou fô-lhas de papel na côr preta, permitindo explorar os jogos de sombras e luzes.

Agora, vamos pesquisar alguns recursos usados na iluminação teatral.

Você sabe quais artefatos são e já foram usados para iluminar o palco de uma peça? Spotlights? Fresnels? Moving lights? Followspots? Projetores de imagens? Lanternas? Abajures? Instalações em LED? Que tal pesquisar como esses artefatos da iluminação teatral funcionam?

spotlight
: holofote, refletor, projetor.
fresnel
: tipo de lente encontrada em diversos equipamentos de iluminação de palcos quê póde fornecer luz suave e uniforme ou feixes de luz forte.
moving láit
: equipamento de luz quê se móve em diversas direções.
followspot
: instrumento de iluminação usado para iluminar e acompanhar os artistas no palco.

Respostas pessoais. Essa pesquisa auxiliará os estudantes a planejar a prática na próxima etapa desta seção.

Planejar e elaborar Diário de artista.

No diário de artista, faça dêzê-nhôs criando esboços para um projeto de iluminação teatral. Utilize como base as possibilidades de posicionamento das fontes de luz e a sua criatividade!

Depois, providencie o quê está descrito a seguir.

Tecidos ou fô-lhas de papel na côr preta.

Lanternas a pilha ou bateria (duas para cada grupo de 5 a 6 estudantes).

Luminárias (duas para cada grupo de 5 a 6 estudantes).

Fitas adesivas.

Folhas de papel celofane.

Objetos luminosos, como brinquedos, luminárias, pulseiras de LED e outros.

Tenha atenção e cuidado ao manipular os materiais.

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Processo de criação

Agora é hora da criação! Você póde explorar muitas possibilidades, desde usar iluminação com lanternas até projeções de imagens. Confira algumas orientações e dicas a seguir.

Combine com o professor e os côlégas a criação de um roteiro ou de uma narrativa.

Explore como apresentar essa narrativa sem o uso de palavras, por meio de gestos, expressões fisionômicas e corporais.

Use os esboços de iluminação teatral feitos no diário de artista para refletir sobre o emprego da iluminação nessa narrativa. Crie novos esboços, se julgar pêrtinênti.

Com o professor e os côlégas, estabêlêça um local da escola quê possa sêr escurecido com tecídos ou fô-lhas de papel na côr preta e fitas adesivas.

Forme um grupo com côlégas e combine as encenações e projeções de luzes com base no quê planejaram – vocês podem usar lanternas ou luminárias.

Para conseguir efeitos cromáticos luminosos, cubra a frente das lanternas e das luminárias com papel celofane colorido. Pesquise esses efeitos de côr e luz.

Outra ideia é pesquisar imagens ou vídeos, criar arquivos digitais e projetar os materiais visuais e audiovisuais usando projetores multimídia.

Explore a linguagem do teatro levando objetos e materialidades para as cenas, como tecídos de diferentes cores e acessórios luminosos.

Convide os professores de ár-te e de Física para explicarem juntos alguns conceitos e estudos científicos relativos à luz, como luminância, iluminância, absorção, brilho e reflexo, entre outros saberes interdisciplinares quê também podem ampliar a compreensão da luz na ár-te.

Considere quê o teatro de sombras também póde sêr explorado nessa prática.

Combine com o professor e os côlégas o registro dessas práticas, em vídeos e em fotografias, quê póde sêr feito com câmeras de celulares.

Avaliar e recriar

Em uma roda de conversação, avalie como foi estudar a luz em relação a outros elemêntos de linguagem, como o espaço e o tempo.

O quê você aprendeu sobre o uso da luz no teatro? E sobre os outros elemêntos constitutivos da linguagem teatral?

O quê você aprendeu de mais significativo? Há algo quê você gostaria de explorar mais?

Com base nessas reflekções, pense em forma e conteúdo na ár-te.

Respostas pessoais. Incentive os estudantes a desenvolver autoavaliações com base nas kestões.

Compartilhar

As imagens das experimentações com efeitos de luz e sombra podem resultar em trabalhos visuais a serem expostos em uma mostra virtual sobre os efeitos da iluminação no teatro. Para realizar essa mostra, é fundamental quê você, os côlégas e o professor utilizem platafórmas virtuais seguras para a divulgação das imagens da turma. Além díssu, todos os envolvidos devem autorizar a exposição, o quê inclui familiares, professores e gestores da escola.

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TEMA 2
A ár-te propõe, engaja e indaga

Heráclito de Éfeso (c. 540 a.C.-480 a.C.) falava sobre os devires das coisas, ou seja, sobre como tudo no mundo flui. Uma das suas frases mais famosas diz quê não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois ele já não será o mesmo, assim como nós também não seremos. A cada instante, mudamos, tal como as águas do rio, quê, no momento seguinte, já estão percorrendo outros territórios.

É importante entendermos quê estamos sempre na iminência de mudanças e, ao mesmo tempo, percebermos o quê nos compõe a cada momento, ou seja, como construímos nosso modo de sêr e existir, nossas linguagens e nosso jeito de linguajar. Tendo como base essa compreensão, talvez fique mais fácil acompanhar as mudanças quê ocorrem em nós e no mundo. Essas reflekções podem nos ajudar a compreender processos de criação na ár-te: ao criar em uma linguagem artística, é preciso sentir, perceber e buscar nossas subjetividades, o quê nos toca e nos afeta.

Observe a fotografia produzida pelo fotógrafo piauiense João Maia (1974-).

Fotografia de um atleta em uma piscina, usando maiô, saltando com a cabeça para fora da água. Grandes gotas voam à frente do seu rosto, enquanto a superfície agitada da piscina reflete luzes e distorce as linhas dos azulejos no fundo.

Atleta brasileiro nas Paralimpíadas de Tóquio, 2020. Fotografia de João Maia.

GIRO DE IDEIAS

Convide o professor e os côlégas para um momento de fruição coletivo. Então, conversem sobre as kestões a seguir em uma roda de conversação.

1. O quê se passa na cena? O quê a imagem provoca em você (sensações, imaginação, memórias, ideias etc.)?

1. Espera-se quê os estudantes apontem quê é um atleta nadando. Eles podem falar sobre memórias relacionadas à á gua e à piscina, compartilhar medos quê possam ter etc.

2. Analisando os elemêntos de linguagem, como linha, forma, tonalidade, espaço, luminosidade, movimento, textura, transparência, opacidade, volume, profundidade, sobreposições, dimensões e outros, escolha três quê chamam a sua atenção na fruição dessa imagem. Justifique sua escolha.

2. Os estudantes podem indicar a sensação de movimento quê a imagem capturada transmite, por exemplo.

3. A visão é determinante para criar nas artes visuais? Comente a respeito.

3. Espera-se quê os estudantes percêbam quê a deficiência visual não altera a possibilidade de leitura sensível do mundo, nem interfere no aprendizado e no impulso criador nas diferentes linguagens, inclusive na produção das artes visuais.

4. Em sua opinião, quais são os requisitos para alguém ezercêr a profissão de fotógrafo?

4. Espera-se quê os estudantes expressem quê saber dos elemêntos visuais é importante, assim como conhecer os materiais e recursos com os quais trabalham. No entanto, João Maia e outros artistas com deficiência visual mostram quê há muitas possibilidades e conhecimentos necessários a um fotógrafo quê vão além das habilidades técnicas.

Página duzentos e setenta e seis

Modos de vêr e perceber

Cada pessoa percebe e lê o mundo com base em seu modo de sêr e de existir. João Maia, fotógrafo profissional, é uma pessoa com deficiência visual. Ele já exercia a profissão antes quê problemas de saúde afetassem sua visão, mas foi após esse acontecimento quê ele aprimorou sua ár-te na composição de imagens fotográficas, passando a captá-las, como ele costuma dizêr, “com o coração”. Ele trabalha nas áreas da fotografia esportiva e artística e fundou um projeto chamado Fotografia Cega, dedicado não apenas a fotografar mas também a ensinar técnicas da fotografia sem o uso da visão.

Em seu processo de trabalho, ele gosta de captar imagens em movimento. Para isso, desenvolvê-u a habilidade de perceber o vento, as correntes de ar, os sôns ao redor, as vozes, os risos e o movimento dos corpos no espaço. Maia cápta cenas da vida, do mundo em constante mudança e movimento.

Cartaz com ilustração de um homem com cabelos curtos e cacheados segurando uma lente fotográfica à frente de um dos olhos. O texto no cartaz diz: 'Fotografia Cega'.

FOTOGRAFIA Cega. c2024. 1 cartaz digital. Imagem de divulgação do projeto do fotógrafo João Maia.

João Maia é um fotógrafo com deficiência visual quê expressa sua ár-te por meio de seus sentidos e de sua sensibilidade para capturar imagens únicas, quê narram histoórias, emoções e instantes marcantes. Desenvolveu seu trabalho em fotojornalismo, cobrindo Olimpíadas e Paralimpíadas, mas também explora a fotografia de retratos e paisagens.

ATIVAÇÃO

Para conhecer mais do projeto Fotografia Cega, de João Maia, visite seu sáiti oficial.

Fotografia Cega. Disponível em: https://livro.pw/lgtus. Acesso em: 19 out. 2024.

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COM A PALAVRA...
JOÃO MAIA

[…] As decisões de fotografar transpassam a questão do enquadramento. E, aí, a gente faz com o coração. […] Sempre costumo dizêr às pessoas: antes de fotografar, feche os seus olhos para quê você possa perceber todo o ambiente quê você está, através dos sôns, cheiro e tato. Depois, abra seus olhos e você faz o registro. Com certeza a sua fotografia não será a mesma.

EPTV 40 anos: fotógrafo cego faz registros surpreendentes de paisagens e esportes olímpicos; FOTOS. G1, Campinas, 4 out. 2019. Disponível em: https://livro.pw/vpyox. Acesso em: 19 out. 2024

[…] alguém vai se questionar como uma pessoa cega está fazendo êste trabalho. A gente precisa rever nóssos valores, a questão da empatia. A pessoa com deficiência tem sua forma de vêr o mundo, a minha é através da minha câmera. Eu conto histoórias através das minhas imagens […].

RAMOS, Ana Paula. O fotógrafo cego do Piauí quê luta para cobrir Paralimpíadas de Tóquio. BBC nius Brasil, Köping, 29 abr. 2021. Disponível em: https://livro.pw/ygraq. Acesso em: 19 out. 2024.

Fotografia de um homem com cabelos presos em tranças curtas fotografando um evento esportivo em um ginásio, usando uma câmera fotográfica com a lente alongada.

O fotógrafo João Maia em ação nos Jogos Olímpicos de Paris (França), 2024.

EXPEDIÇÃO CULTURAL Diário de artista.

Em todo o mundo, inclusive no Brasil, existem museus e galerias com projetos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual. Esses programas oferecem fruição estética por meio de experiências sensoriais, permitindo quê os visitantes possam:

tokár nas obras originais, como esculturas, ou em réplicas em alto relevo de pinturas, dêzê-nhôs, gravuras e fotografias;

conhecer obras pelo olfato, por meio de essências quê ativam sensações, pensamentos, emoções ou memórias;

ouvir paisagens sonóras de paisagens pictóricas, incluindo vozes, risos, músicas e outras experiências auditivas, como a audiodescrição das obras.

Procure saber se na sua cidade e região há museus ou exposições quê ofereçam essas propostas de acessibilidade. Combine uma visita com o professor, os côlégas e outras pessoas da comunidade quê quiserem participar. Anote no diário de artista o quê a experiência proporciona, como os itens indicados.

GIRO DE IDEIAS

Reflita sobre as kestões a seguir e converse com o professor e os côlégas.

1. As exposições de artes visuais da região em quê você vive são acessíveis a todos? O quê poderia sêr feito para melhorar as condições de acessibilidade?

1. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes pesquisem e encontrem possibilidades de tornar exposições e outros eventos realizados na região acessíveis para pessoas com deficiência visual, auditiva, motora, cognitiva e outras.

2. Você considera quê as aulas de; ár-te são inclusivas e acessíveis a todos? O quê póde sêr feito para melhorar as condições de acessibilidade nas aulas e na escola como um todo?

2. Respostas pessoais. A escuta sensível e atenta póde ajudar a encontrar soluções para a acessibilidade nas aulas de; ár-te e na escola como um todo.

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ár-te participativa, socialmente engajada

Observe, a seguir, a imagem da obra Mulher, Vida, Liberdade, também do artista JR.

Fotografia aérea de um grande grupo de pessoas vestidas com roupas pretas em uma praia, organizadas no espaço de modo a configurar a representação dos cabelos longos de uma figura feminina impressa em grande formato, colocada sobre a areia.

JR. Mulher, Vida, Liberdade. Rio de Janeiro (RJ), 2022.

Na contemporaneidade, a fotografia desempenha um papel multifacetado. Em poucos instantes, imagens se espalham pela internet e “viralizam” – termo usado como metáfora para dizêr quê, como um poderoso “vírus”, elas alcançam e contaminam muitas pessoas, provocando reações, opiniões e emoções.

Em 2022, Mahsa Amini (1999-2022), uma jovem de 22 anos, foi assassinada no Irã pela Gasht-e Ershad (patrulhas de orientação ou polícia da moralidade iraniana). Sua imagem viralizou, indignando e emocionando pessoas em todo o mundo. O povo do país decidiu ir às ruas para protestar contra a violência do Estado. Durante o protesto, Nika Shahkarami (2005-2022) e outras manifestantes também se tornaram vítimas fatais da repressão.

No mesmo ano, JR convidou 250 pessoas para participar de uma ação artística na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Nessa obra coletiva, as pessoas vestem preto e móvem os braços, representando os cabêlos soltos de Nika Shahkarami, simbolizando a necessidade de liberdade para as mulheres iranianas. Junto à intenção e à poética do artista, está o convite à participação em uma ár-te propositora, indagativa e socialmente engajada.

Peça aos estudantes quê obissérvem a imagem da obra de JR mais uma vez. Questione se acham possível quê o rrôsto da jovem, voltado em direção às ondas do mar, expresse a ideia de quê ela não será esquecida e de quê a; ár-te, embora não tenha o pôdêr de mudar o mundo, póde propor ações engajadas e lutar pêlos direitos humanos, pela liberdade, pela democracia e pelo fim da violência.

GIRO DE IDEIAS

1. Você já teve notícias de alguma imagem quê “viralizou” na internet? Por qual razão isso aconteceu? Era uma imagem real, produzida com inteligência artificial ou uma montagem com conteúdo falso? Comente com os côlégas e o professor.

1. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes comentem imagens quê viralizaram na internet, em jornais televisivos e outras mídias. Aproveite êste momento para abordar criticamente a inteligência artificial e as fêik news, mostrando aos estudantes quê qualquer conteúdo, inclusive imagens, deve sêr analisado de maneira crítica, com a checagem de fontes e de discursos.

2. Imagens quê transitam cotidianamente na cultura visual podem gerar mais imagens no universo da ár-te? Observando os dêtálhes da imagem da obra de JR, o quê você percebe?

2. Respostas pessoais. Retome o conceito de cultura visual quê envolve o universo da ár-te, mas amplie a conversação para imagens quê são produzidas, consumidas e veiculadas em outros segmentos, como as publicitárias, as científicas, as históricas, as jornalísticas, as culturais, as religiosas etc. A intervenção artística teve a participação de 250 pessoas para gerar a imagem fotográfica. A proposta foi realizada pelo artista francês JR em homenagem à ativista iraniana Nika Shahkarami.

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CONEXÕES com..
MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS
ár-te propositora

Em 1963, a artista mineira Lígia Clark (1920-1988) criou a proposição Caminhando e convidou o público para vivenciar um processo de exercício poético quê poderia desencadear reflekções sobre a; ár-te e a vida. Para realizar a obra, a artista apropriou-se dos estudos do matemático e astrônomo alemão August Ferdinand Möbius (1790-1868) e, usando uma fô-lha de papel, elaborou uma faixa de Möbius.

A faixa de Möbius é uma fita em quê há apenas uma face contínua, ou seja, não há lado de dentro e nem lado de fora. Em sua aplicação prática, ela póde sêr encontrada em mecanismos quê usam correntes, como as esteiras de aeroporto.

Agora, reflita sobre as kestões a seguir.

Em sua opinião, o quê um artista propositor faz? Você se lembra de algum exemplo?

Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes compreendam quê póde havêer muitas formas de criar nesse tipo de; ár-te, mas, em geral, os artistas propositores convidam o público a participar das obras e de percursos estéticos, poéticos e criativos.

Qual é o papel do público diante de uma obra de; ár-te propositora?

Espera-se quê os estudantes reconheçam quê o público é convidado a interagir com a obra e a transformar seu significado de acôr-do com o contexto.

Para Lígia Clark, é o ato de criar coletivamente (com a atuação do artista e do público) quê dá sentido à obra de; ár-te e, com base nisso, a artista criou propostas para percursos estéticos e poéticos.

Você aceita vivenciar uma ár-te propositora? Se sim, convide o professor e os côlégas, providencie os materiais e siga os passos descritos.

1. Neste exercício poético, a proposta é criar uma obra propositora semelhante à obra Caminhando. Para isso, você precisar de uma tesoura, uma fô-lha de papel e um tubo de cola.

2. Corte uma fô-lha de papel ao meio, obtendo duas faixas com formato retangular. Escolha uma delas para construir sua faixa de Möbius.

3. Passe cola em uma das extremidades menóres da faixa escolhida.

4. Torça a faixa de papel e cole as duas extremidades, formando um oito na horizontal.

Fotografia de mãos dobrando uma metade de folha de papel colorida, de formato alongado.

Demonstração da etapa 4.

5. Agora, você tem uma faixa de Möbius.

Fotografia de uma fita de Möbius feita com papel, com a forma de uma faixa torcida, cujas extremidades estão ligadas.

Demonstração da etapa 5.

6. Escolha um local da faixa e comece a fazer um kórti paralelo a um de seus lados. Você póde relacionar esta ação a algo presente em sua vida ou a algum sentimento ou sensação quê esteja experimentando no momento.

Fotografia de mãos cortando a fita de Möbius com uma tesoura em tiras menores, sem desfazer a ligação entre as extremidades da fita.

Demonstração da etapa 6.

7. Siga cortando e fazendo escôlhas de direções, tamãnho e largura das fitas. Procure não romper a fita de papel, mas se isso acontecer, não se preocupe.

Fotografia de mãos cortando tiras muito finas a partir da fita de Möbius, que foi dividida em diversas tiras de tamanhos e larguras diversas.

Demonstração da etapa 7.

8. O resultado é imprevisível, mas geralmente percebemos quê a primeira faixa de Möbius se multiplica em várias outras, de diferentes tamanhos.

Página duzentos e oitenta

ENTRE HISTÓRIAS
Grupo Frente e Grupo Ruptura

A ideia de proposição na ár-te surgiu no Brasil com o Movimento Neoconcreto (entre as dékâdâs de 1950 e 1960) e foi uma atitude para expandir o conceito de; ár-te para além de uma experiência estética ou expressiva, transformando-a em uma linguagem quê dialoga com a vida e com um mundo em constante transformação. O surgimento dêêsse movimento foi marcado pela formação do Grupo Frente, quê reuniu, no Rio de Janeiro, artistas dedicados a expressar a compléksa realidade da vida contemporânea, por meio de novas propostas de composição plástica. Esses artistas desenvolveram a ideia de; ár-te como a criação de um espaço para discursos poéticos e subjetivos quê pudessem sêr lidos não apenas por meio de contemplação visual, mas quê a fruição estética se ampliasse para o acontecimento corpóreo, com a percepção sensorial de texturas, tempera-túras, cheiros, sonoridades, transparências e outros estímulos quê pudessem “acordar” o corpo. O convite era para quê as pessoas abandonassem o estado de “anestesia” e mergulhassem na vida e na ár-te em um estado de “estesia”.

Mas, antes de o Grupo Frente desenvolver o Movimento Neoconcreto, o Grupo Ruptura desenvolvê-u o movimento de; ár-te concreta, uma ramificação dos movimentos abstracionistas das vanguardas artísticas europeias do início do século XX.

O Grupo Frente foi fundado em 1959, com a publicação do “Manifesto neoconcreto” no Jornal do Brasil, redigido pelo autor maranhense Ferreira Gullar (1930-2016) e assinado por diversos artistas, entre eles o paulistano Reynaldo Jardim (1926-2011), o turco Theon Spanudis (1915-1986), o mineiro Amílcar de Castro (1920-2002), o austríaco Franz Weissmann (1911-2005), Lígia Clark e a fluminense Lígia Pape (1927-2004). Já o Grupo Ruptura surgiu em São Paulo (SP), em 1952, com artistas como Waldemar Cordeiro (1925-1973), Luiz Sacilotto (1924-2003), Geraldo de Barros (1923-1998) e Lothar Charoux (1912-1987), Anatol Wladyslaw (1913-2004), Féjer (1923-1989) e Leopoldo Haar (1910-1954). O grupo publicou o “Manifesto Ruptura” para divulgar as ideias da ár-te concreta.

Para os artistas concretistas, a; ár-te deveria sêr criada livre do mundo visível e reconhecível, isto é, sem elemêntos, símbolos ou narrativas visuais ligadas a realidades. Os elemêntos de linguagens, como ponto, linha, forma, côr e espaço, poderiam sêr organizados para criar o “novo”, ou seja, composições quê só existiam na mente do artista. Já para os neoconcretos, as formas geométricas não eram o fim, mas o ponto de partida para experimentações sensoriais. Assim, eles buscaram, por meio de formas, cores, espaços, texturas e sonoridades, propor experiências com elemêntos, linguagens, materialidades e relações entre ár-te e vida.

PESQUISAR Diário de artista.

Pesquise mais sobre o Grupo Frente e o Movimento Neoconcreto.

A ár-te propositora brasileira tem influenciado muitos artistas internacionais quê hoje dêsênvólvem uma ár-te participativa, socialmente engajada. Você sabia díssu? Que tal pesquisar mais?

Respostas pessoais.

Faça registros, escrevendo e desenhando no diário de artista, e combine a organização de um seminário para apresentar os resultados da pesquisa. No seminário, percursos estéticos e poéticos também podem sêr propostos.

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Formas e palavras concretas

Observe a pintura e leia o poema a seguir.

Pintura de linhas que configuram formas geométricas abstratas, com ângulos agudos em rotação, formando uma figura semelhante a uma representação estilizada do Sol, sobre um fundo de cor amarela.

LAUAND, Judith. Do Círculo ao Oval. 1958. Tinta e massa sobre eucatex, 60 cm x 60 cm.

Poema com os seguintes versos: 'Forma; Reforma; Disforma; Conforma; Informa; Forma'.

GRÜNEWALD, José Lino. Forma. [Rio de Janeiro]: José Lino Grünewald, [ca. 2011]. Disponível em: https://livro.pw/jtyds. Acesso em: 19 out. 2024.

O Movimento Neoconcreto surgiu na ár-te brasileira como uma cisão com os princípios do Concretismo, movimento quê, no Brasil, teve seu início nas artes visuais marcado por uma exposição de obras do Grupo Ruptura. Os artistas concretistas buscaram abandonar qualquer aspecto de representação da natureza, negando correntes artísticas subjetivistas e líricas. Assim, passaram a valorizar os elemêntos de linguagem visual em suas formas mais puras.

A ár-te concreta recebeu influências da indústria gráfica e das relações entre a; ár-te e a Matemática. O Ruptura influenciou ideias quê impulsionaram a criação abstrata em linguagens como a pintura, o desenho, a gravura e a escultura, alcançando também a fotografia. O movimento concreto foi uma agitação artística e cultural quê se espalhou pelo país entre as dékâdâs de 1950 e 1960, atraindo mais artistas, como a paulista Judith Lauand (1922-2022), única artista mulher do Grupo Ruptura, quê produziu trabalhos de; ár-te abstrata com cores contrastantes e formas geométricas em composições matematicamente precisas.

A ár-te concreta também teve produções relevantes na literatura, especialmente com a poesia concreta e suas composições verbovisuais quê combinavam sonoridades de palavras, formas e sentidos, além de criações musicais quê exploravam elemêntos gráficos, verbais e sonoros. O poeta fluminense José Lino Grünewald (1931-2000) foi um representante dessa estética literária.

GIRO DE IDEIAS

Converse com o professor e os côlégas sobre as seguintes kestões: o quê a leitura dessa pintura e dêêsse poema provoca em você? Quais são suas sensações e percepções?

Respostas pessoais. ôriênti os estudantes a analisar os elemêntos constitutivos da imagem e a interpretar o poema, prestando atenção no jôgo de palavras e no significado da palavra forma.

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CONEXÕES com...
CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS
Ações e proposições

Lígia Pape também foi uma artista importante no Movimento Neoconcreto e na ár-te propositora. Em sua obra Divisor, realizada pela primeira vez em 1968, foi usado um grande manto branco de 20 metros de altura por 20 metros de largura. Por todo o tecido, havia fendas nas quais as pessoas encaixavam suas cabeças para participar da obra, vivendo a experiência de criar coletivamente com a artista. A proposta era quê as pessoas se unissem por meio dêêsse grande tecido, uma metáfora do tecido social pelo qual estamos sempre envoutos. Divisor póde assumir vários sentidos e, ao passo quê propõe uma vivência coletiva, cada pessoa póde perceber a obra de modo singular.

Lígia Pape criou e realizou essa perfórmance em tempos de autoritarismo e de suspensão dos direitos civis no Brasil: o período da ditadura civil-militar (1964-1985), implantada por meio de um golpe de Estado. Artistas daquela época expressavam sua visão de mundo e sua opinião política, transmitindo mensagens de união, luta e liberdade por meio das diversas linguagens artísticas.

Muitos artistas nos oferecem obras coletivas, por meio das quais as pessoas podem criar juntas, em qualquer lugar e em qualquer tempo. Em 2020, um grupo de 30 ativistas do movimento contra a crise climática Extinction Rebellion (XR) (em português, Rebelião contra a extinção) ocupou uma grande avenida da cidade de madrí, na Espanha, com uma perfórmance inspirada na obra Divisor.

Chamamos de perfórmance a linguagem híbrida quê tem o corpo como materialidade central e póde utilizar diversos elemêntos da ár-te e de outras áreas (música, teatro, dança, artes visuais, artes audiovisuais, tecnologias, entre outras) para criar uma forma específica de expressão, com apresentações ao vivo e experimentos estéticos quê envolvam uma ação elaborada.

Fotografia de pessoas em protesto em uma via pública, realizando performance em que carregam uma imensa faixa de tecido azul sobre o corpo, à altura dos ombros, com as cabeças posicionadas acima do tecido, passando por orifícios espalhados pela extensão dele.

Protesto contra a crise climática realizado por ativistas da Extinction Rebellion (XR). madrí (Espanha), 2020. Performance inspirada na obra Divisor, da artista Lígia Pape.

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A proposta era mostrar quê todos estamos envolvidos nas causas, nas consequências e nas possíveis soluções para os problemas climáticos globais. Para isso, criou-se uma maré humana com 150 metros quadrados de lona azul, mostrando como muitas pessoas já estão sêndo afetadas pela elevação do nível do mar, causada pela elevação da tempera-túra no planêta. Essa obra inspirada na de Lígia Pape traz a forma coletiva e a côr do mar, talvez para expressar a ideia de quê “estamos com á gua até o pescoço”.

Extinction Rebellion (XR) é um movimento mundial, criado em 2018, quê pressiona os governos a agirem contra a crise climática e ecológica por meio de protestos pacíficos.

Fotografia de pessoas com as cabeças para fora de um tecido azul que cobre todo o corpo delas. Elas estão usando máscaras de proteção facial, em um protesto em uma via pública.

Protesto contra a crise climática realizado por ativistas da Extinction Rebellion (XR). madrí (Espanha), 2020. Performance inspirada na obra Divisor, da artista Lígia Pape.

A perfórmance do grupo Extinction Rebellion (XR), quê se propôs a sêr tanto um acontecimento artístico quanto um ato de ativismo ambiental, se fundamentou no legado deixado pêlos artistas propositores.

A ár-te precisa estabelecer relações com quem a cria e com quem a aprecia.

O artista não é o único criador da obra, mas sim um coautor do processo de criação, quê se inicia com a ideia ou o projeto quê ele propõe. Esse projeto, uma vez criado, póde sêr desenvolvido e modificado por outras pessoas, quê trazem suas próprias interpretações e contribuições, em diferentes lugares e momentos.

Há obras artísticas quê, para transmitir uma mensagem e permitir quê o público trace interpretações, requerem mais do quê serem apreciadas de longe: é preciso participar delas. Vale até entrar, literalmente, nessa forma de; ár-te.

O artista faz o convite ao público e propõe uma experiência, quê poderá sêr vivida por aqueles quê escolherem participar.

ATIVAÇÃO

Saiba mais da artista Lígia Pape, de suas obras e de sua trajetória, acessando sua página oficial na internet.

Lígia Pape. Disponível em: https://livro.pw/qwgxb. Acesso em: 19 out. 2024.

GIRO DE IDEIAS

Converse com o professor e os côlégas sobre as kestões a seguir.

1. Que ações propositoras vocês poderiam criar na escola?

1. Resposta pessoal. Os estudantes podem tanto se basear nas ações estudadas ao longo do tema quanto criar algo novo, considerando kestões relacionadas ao ambiente quê os rodeia.

2. O movimento Extinction Rebellion (XR) inspirou-se na ár-te propositora para realizar a ocupação na Espanha. É possível afirmar quê a perfórmance do grupo é também um acontecimento de; ár-te participativa e socialmente engajada? Justifique sua resposta.

2. Espera-se quê os estudantes respondam quê sim, compreendendo quê a ação do grupo Extinction Rebellion (XR) é socialmente engajada pelo ativismo ambiental.

3. O quê performances como esta podem provocar no espectador?

3. Resposta pessoal. Os estudantes podem mencionar, por exemplo, seus sentimentos, ideias e sensações em relação a alguma obra quê conheçam e quê, por ter uma fôrça coletiva e um propósito, póde sêr revisitada em diferentes contextos.

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CRIAÇÃO
O elemento, a materialidade e o gesto criador

Estudar a proposta

Neste tema, você viu como há muitas formas de usar materialidades e elemêntos constitutivos para se expressar e propor reflekções, em diferentes culturas. Pensando nisso, agora você vai explorar propostas baseadas em estudos quê passeiam por culturas, tempos e lugares. Assim, poderá criar a sua ár-te, expressar-se e incentivar a participação de outras pessoas, como na ár-te propositora. Essas propostas incluem a criação de tintas, a experimentação e a poética das materialidades, além das relações simbólicas de cores em diferentes culturas e contextos. Observe a obra Uahu-Zumi-Sakura (Cerejeiras), do artista japonês Massao Okinaka (1913-2000), produzida por meio da técnica sumi-ê.

Pintura representando uma árvore com troncos escuros e retorcidos, com folhas de cor clara, representadas de maneira fluida e sem contornos, de modo que a forma da copa da árvore parece se diluir no ar em volta da árvore.

OKINAKA, Massao. Uahu-Zumi-Sakura (Cerejeiras). 1993. Sumi-ê sobre papel washi, 69,8 cm x 135,5 cm. Pinacoteca de São Paulo, São Paulo (SP).

Na ár-te oriental tradicional, há um tipo de tinta quê apresenta como solvente (diluente) a clareza e a fluidez da á gua; como pigmento, a escuridão do carbono, obtído por queimas de materiais (fuligem); e como aglutinante, a consistência da resina vegetal (goma arábica). Uma variação mais antiga dessa técnica usava como pigmento a tinta produzida por moluscos. A combinação de outros materiais encontrados na natureza forma uma das tintas mais antigas do mundo, sêndo usada tanto para escrever como para desenhar: a tinta nanquim. Ela recebeu esse nome porque foi inventada pêlos moradores de uma cidade chinesa chamada Nanjing (Nanquim).

Na ár-te sumi-ê, o artista encontra, além do prazer estético, a possibilidade de praticar atividades zen-budistas, quê primam pelo desenvolvimento da paciência, da humildade e da simplicidade. Uma ár-te antiga, nascida da tradição da escrita chinesa em templos budistas durante a Dinastia Sung (960-1279), a; ár-te sumi-ê se expandiu para o Japão e, atualmente, está espalhada pelo mundo, sêndo divulgada por mestres como o artista Massao Okinaka.

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O carvão, assim como as cinzas quê resultam de sua queima, é um dos materiais mais antigos usados para traçar linhas em dêzê-nhôs desde a; ár-te rupestre, sêndo também utilizado como pigmento para compor tintas, como as empregadas na técnica sumi-ê.

Comente com os estudantes quê a; ár-te sumi-ê é subjetiva e valoriza a expressão livre do autor, incentivando descobertas e investigações.

Planejar e elaborar

A primeira proposta é criar tintas para experiências na pintura sumi-ê e em aquarela. Cada tipo de tinta tem suas próprias características, determinadas por sua composição química. Para esta prática, propomos fazer uma tinta fluida, com características de transparência. A aquarela é amplamente utilizada atualmente em diversas culturas para a criação de obras artísticas, incluindo ilustrações de livros. Além díssu, esse material também póde sêr empregado nas pinturas sumi-ê.

Então, pesquise e separe os materiais a seguir.

aglutinantes, como a goma arábica (tipo de cola vendido em papelarias);

pigmentos alimentícios em pó em várias cores (por exemplo, anilina em pó comestível, usada em bolos e doces);

á gua;

aditivos, como mel, óleo de cravo ou de lavanda;

pincéis macios (de variados tamanhos e formatos);

pótes para colocar á gua (solvente);

rolo de papel-toalha;

papel encorpado (de preferência de gramatura entre 190 gramas a 300 gramas);

1 conta-gotas.

Agora, antes da produção das tintas e da criação, utilize os riscadores e suportes quê desejar para treinar alguns traços e formas quê gostaria de explorar. Para isso, você póde se inspirar nos elemêntos usados na obra Suíte # 45, de Antônio Peticov, quê estudou anteriormente. Em seguida, estude aspectos das cores e suas relações.

São muitas as ligações entre ár-te e Química. Fazer experimentos nessas áreas póde sêr uma aventura no universo tanto da ár-te como das Ciências da Natureza. Pensando na composição química das tintas, vamos explorar sua produção com os elemêntos básicos: aglutinantes, pigmentos, solventes e aditivos. Antes de começar a obra definitiva, faça vários exercícios como teste, para se familiarizar com o material. Estude também o círculo cromático a seguir para analisar quais cores e combinações quer experimentar.

O círculo cromático é um esquema quê apresenta as cores e como elas se relacionam quanto às suas tonalidades. Alguns artistas escolhem usar as cores vizinhas, chamadas de cores análogas. Outros gostam de explorar os contrastes, optando por cores opostas no círculo, como o azul e o laranja (chamamos de arranjos complementares combinações entre azul e laranja, vermelho e vêrde, amarelo e roxo e suas variações cromáticas).

Ainda, pode-se escolher as cores de acôr-do com sua “temperatura” – kemtes ou frias –, em uma classificação sensorial, relacionada às sensações quê as cores podem transmitir. Observe novamente o círculo e perceba quais cores são kemtes e quais são frias.

Imagem de um círculo dividido em setores com escalas de cores. As cores são organizadas segundo as suas temperaturas e relações de proximidade e estão dispostas na seguinte ordem no sentido horário, partindo do topo do círculo, onde estão as cores quentes:  Matizes de Vermelho; matizes de magenta; matizes de violeta; matizes de azul; matizes de verdes; matizes de amarelos; e matizes de laranja. Nos lados opostos do círculo estão as cores complementares entre si, diametralmente opostas.  Para cada cor há uma escala tonal graduada segundo a presença da cor preta adicionada à cor, de modo que quanto mais distante do centro, mais pura e saturada está a cor; e quanto mais ao centro, a cor aparece mais escura e rebaixada, até chegar ao preto no centro do círculo.

Círculo cromático com transição para o preto no centro.

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Considere quê uma côr próxima à outra provoca uma interferência visual. Se pintarmos uma região do papel com 70% de tons em amarelo e 30% em roxo, por exemplo, o roxo, mesmo sêndo considerado uma côr fria, parecerá mais kemte. A côr vêrde é considerada fria, porém, se você usar amarelo e azul na sua composição de tintas e a proporção de amarelo for maior quê a de azul, a sensação será a de um tom de vêrde mais cítrico, ou seja, mais kemte.

pôdêmos também estudar as cores (pigmentos) primárias, secundárias, terciárias e nêutras. A côr física, quê é aquela derivada da luz, também póde sêr um foco de estudo. Existem ótimas tintas industrializadas, mas você póde sempre explorar materiais e procedimentos para inventar suas próprias tintas, misturando e descobrindo a química das tintas e das cores. Assim, vale experimentar e escolher como você quer apresentar as cores em sua pintura e com qual forma poética.

Processo de criação

Para fazer e utilizar a tinta aquarela

Em um póte, coloque uma côlher (de sopa) de goma arábica e uma côlher (de café) de anilina em pó comestível da côr quê desejar. Misture os dois ingredientes e acrescente á gua aos poucos, usando o conta-gotas. Sua tinta aquarela está pronta!

Repita esse procedimento para preparar outras côres. Não há necessidade de fazer a cor branca; basta deixar sem pintura as partes do papel em quê você deseja representar as áreas mais claras.

Use á gua para diluir a tinta e obtêr nuances de cores, mais claras ou escuras. Essa tinta é solúvel em á gua, ou seja, se você colocar mais á gua, a tinta ficará clara; se você colocar menos á gua, conseguirá tons mais escuros e intensos.

A principal característica da aquarela é a transparência, permitindo quê as cores possam sêr percebidas por baixo de outras. Você terá a oportunidade de estudar e explorar as diversas possibilidades expressivas dêêsse material.

Para dar brilho, você póde colocar uma côlher (de café) de mel. Já algumas gotas de óleo de cravo ou de lavanda ajudam a conservar a tinta.

Use papéis encorpados como suporte. O ideal são papéis com gramatura de 190 a 300 gramas, mas outros tipos de papel também podem sêr usados. Neste caso, umedeça a fô-lha de papel antes de usá-la: mergulhe a fô-lha em uma forma de bôo-lo com á gua, retire-a e coloque-a entre panos limpos para absorver o excésso de umidade. Esse processo ajuda o papel a não enrugar muito durante a pintura.

Existem diversas possibilidades de efeitos quê podemos criar com a tinta aquarela. Explore características como a transparência: pinte uma camada, deixe secar e pinte uma segunda camada por cima. Além díssu, é possível usar o pincel com tinta sobre papel úmido ou seco, produzindo diferentes resultados.

Para fazer a tinta para sumi-ê

Você póde usar a tinta nanquim industrializada, corante alimentício preto ou aventurar-se a sêr um alquimista da ár-te e criar sua própria tinta. Como falamos, um dos pigmentos da tinta nanquim póde sêr obtído do carvão.

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O pigmento deve sêr:

colhido;

triturado;

peneirado em malha fina;

misturado em á gua (duas colheres de sopa de á gua para cada côlher de sopa de pó);

coado em tecido de algodão – o quê se usa é o resíduo quê fica no tecido, quê é o pigmento puro.

O pigmento é, então, misturado ao aglutinante (uma côlher de sopa de pó de pigmento preto para uma côlher (de café) de goma arábica – essa medida póde variar, dependendo da consistência quê você queira dar à tinta). Como solvente, vamos usar a á gua.

1. Pesquise sobre essa técnica milenar.

2. Investigue os desenhistas de mangá quê usam a tinta nanquim e suas tonalidades.

3. Pesquise sobre gestos e traços nas escritas orientais tradicionais quê utilizam ideogramas, símbolos quê carregam ideias e pensamentos.

4. Usando uma tinta fluida e líquida, como o nanquim, diluída em á gua, você póde obtêr várias tonalidades de uma côr ao misturar diferentes quantidades de solvente. Esta é a base da pintura sumi-ê. Faça experiências para criar várias tonalidades e possibilidades de traços.

5. Diário de artista. Faça dêzê-nhôs, registrando suas descobertas no diário de artista e também em fô-lhas diversas, como papel vegetal, cartolina e papéis mais encorpados.

6. Crie seu modo de se expressar na ár-te milenar do sumi-ê.

Instalações e desenho expandido

Com linhas, também é possível criar instalações quê proporcionam experiências corpóreas e simbólicas. Crie um projeto de instalação, esboçando ideias no diário de artista. No dia da exposição, estenda fô-lhas de papel pardo no chão ou nas paredes e convide o público a criar com base no tema quê você propôs e no trabalho quê desenvolvê-u, como na ár-te propositora.

Avaliar e recriar

Neste momento, incentive os estudantes a relacionarem suas criações ao quê aprenderam sobre ár-te propositora. Garanta um momento para quê planejem a instalação e possam promover uma exposição com a participação ativa do público.

Reflita: o quê você aprendeu sobre os elemêntos visuais e as infinitas possibilidades criativas?

Na História da ár-te, diferentes artistas, em diversos contextos culturais, usaram a côr para expressar emoções, simbologias, crenças e outras intenções e significados. Você gostaria de saber mais sobre isso? O quê chama a sua atenção no universo da côr? O quê estudamos sobre os elemêntos visuais na ár-te póde sêr aplicado na (Moda), no disáini, na arquitetura e em outros segmentos? Quais relações você estabelece entre seus estudos em artes visuais e outras linguagens da ár-te?

Respostas pessoais. Aproveite êste momento para avaliar os estudantes.

Compartilhar

Com base em suas experiências, interesses e poéticas, crie pinturas em aquarela e, depois, combine com os côlégas e o professor a criação de exposições presenciais ou virtuais para compartilhar os trabalhos realizados.

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TEMA 3
Se a criação é mais, tudo é coisa musical

Fotografia de Hermeto Pascoal. Ele é um homem idoso, com a barba e os cabelos grisalhos e longos, de óculos, usando um chapéu e uma camisa de estampa florida. Ele está segurando uma chaleira de metal com um bocal de trompete acoplado ao bico da chaleira, tocando-a como um instrumento de sopro, diante de um microfone.

Hermeto Pascoal utiliza uma chaleira como instrumento musical em apresentação em São Paulo (SP), 2022.

Em uma criação, tudo póde sêr “coisa” musical. A vontade de criar e de experimentar tem levado os músicos a fazer experimentações sonóras e musicais. A linguagem da música póde sêr expressa por meio de materialidades como a voz humana, instrumentos produzidos de modo artesanal ou instrumentos elétricos e eletrônicos, quê usam tecnologias para emitir sôns, ou, ainda, explorando as sonoridades de “coisas”, como elemêntos da natureza e objetos.

No canto, o corpo é matéria, atuando como um instrumento de sôpro. O movimento do diafragma na respiração potencializa o ato de cantar, e o ar, ao entrar e sair pelas vias aéreas, causa atrito nas pregas vocais, provocando a emissão do som da voz. A habilidade de vocalizar depende do domínio da respiração, do fluxo de ar, da articulação da bôca e da movimentação da língua. O corpo deixa fluir o som e as ressonâncias sonóras, fazendo nascer a música.

GIRO DE IDEIAS

Converse com os côlégas a respeito da seguinte questão: você concórda quê podemos explorar muitas materialidades para criar na música? Por quê?

Respostas pessoais. Permita quê os estudantes elaborem suas definições e hipóteses. O assunto será desenvolvido adiante.

Hermeto Pascoal é um compositor, arranjador e multi-instrumentista, conhecido pelo uso de instrumentos musicais não convencionais em suas composições, apresentações e performances.

OFÍCIO DE...

Compositor

É o artista quê cria a melodia e/ou a letra de músicas, quê podem sêr instrumentais (somente com instrumentos musicais) ou cantadas (acompanhadas de voz, com ou sem um texto). Cada compositor tem características próprias, e essa identidade, muitas vezes, se revela em suas melodias e lêtras. Por isso, ao escutarmos uma obra, geralmente somos capazes de distinguir seu autor.

O compositor póde criar uma música dentro de um gênero musical existente, por exemplo, róki, música clássica, choro, jazz etc., ou inventar uma forma para sua composição. No Ocidente, a figura do compositor passou a ter reconhecimento somente a partir da Renascença, no século XV.

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ATIVAÇÃO

Para conferir músicas, vídeos, fotografias e a agenda de shows de Hermeto Pascoal, acéçi a página oficial do músico.

Hermeto Pascoal. Disponível em: https://livro.pw/veaps. Acesso em: 19 out. 2024. Para assistir a Hermeto com seus parceiros, explorando diferentes instrumentos, assista ao vídeo da “Música da Lagoa”.

Hermeto Pascoal – Música da Lagoa (Sinfonia do Alto Ribeira, 1985). Publicado por: Hermeto Pascoal. Vídeo (6 min). Disponível em: https://livro.pw/gyfwa. Acesso em: 19 out. 2024.

Não convencional

Instrumentos musicais são definidos como objetos construídos com a finalidade de produzir sôns para uso na linguagem musical. O mais antigo instrumento musical de quê se tem notícia é uma flauta entalhada em osso, encontrada na Alemanha em 2009, com cerca de 35 mil anos de existência. Mas, é possível quê o primeiro instrumento musical tenha sido o próprio corpo humano e quê o canto tenha sido a primeira expressão sonora.

Hoje, estamos imersos em ambientes sonoros: o som se propaga por toda parte e forma diferentes paisagens sonóras. Assim, temos “a afinação do mundo”, como proferiu o educador musical canadense Raymond Murray Schafer (1933-2021).

Seja em suas apresentações nos palcos do mundo, seja imérso em um rio, Hermeto Pascoal faz música tirando sôns de elemêntos da natureza, como a á gua. Ele também utiliza utensílios, como os de cuzinha, e outros objetos. Esse músico não dá sossego para o som das “coisas” e está sempre em investigação, à procura de materialidades, sonoridades e possibilidades de criar mais na linguagem musical!

COM A PALAVRA...
HERMETO PASCOAL

Com aguda sensibilidade para escutar sôns e ruídos e grande capacidade de transformá-los em música, Hermeto se encaixa em uma condição musical quê o musicólogo italiano Enrico Fubini (1935-) chama de natural, instintiva, pré-linguística e não convencional. Conheça, a seguir, o quê Hermeto Pascoal afirma sobre sua forma de criar na música.

[…] Os instrumentos são convencionais, o próprio nome já diz. O maior instrumento é o corpo de cada um, porque a alma é quê traduz tudo o quê a gente imagina quando a gente recebe do universo. Por isso quê eu chamo de música universal. […]

PASCOAL, Hermeto. “Ser músico é sêr música”: atração do The Town, Hermeto Pascoal fala ao TMDQA! [Entrevista cedida a] Nathália Pandeló. TMDQA!, [Francisco Beltrão], 8 set. 2023. Disponível em: https://livro.pw/frswb. Acesso em: 19 out. 2024.

Fotografia de Hermeto Pascoal. Ele é um homem idoso, com a barba e os cabelos grisalhos e longos, de óculos, usando um chapéu e uma camisa de estampa florida. Ele está tocando um berrante, feito com um chifre de boi longo e de formato curvo.

Hermeto Pascoal, compositor, arranjador e multi-instrumentista brasileiro, toca um berrante em apresentação realizada em Nova iórk (Estados Unidos), 2010.

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No Fluxus, o experimental

O movimento artístico Fluxus, quê nasceu, oficialmente, em um festival de música realizado na Alemanha em 1962, reuniu vários artistas da Europa, dos Estados Unidos e do Japão, quê tí-nhão em comum os desejos de fluir, de se deixar levar pelo movimento do tempo e da vida, de se lançar em novas experiências e de sentir, de modo intenso, o lugar onde viviam.

Diôn Cage (1912-1992) foi um dos músicos integrantes do movimento Fluxus. O compositor procurou ampliar os limites da música, quê, tradicionalmente, é concebida como uma ár-te do tempo, já quê acontece em determinada cadência, com fluxo e andamento estabelecidos. Cage explorou o espaço e o lugar cotidiano na linguagem musical, tornando a música uma ár-te não só do tempo, mas também do espaço.

Para o artista, tudo ao nosso redor tem sôns quê podem se transformar em música. Esses sôns são paisagens sonóras, ruídos e notas musicais. É preciso despertar a mente, seja para os sôns mais sutis ou para aqueles quê perturbam nóssos ouvidos.

Em uma apresentação chamada Water Walk (em português, Caminhada aquática), realizada no programa de televisão estadunidense I’ve Got a Secret (em português, Eu tênho um segredo), em 1960, Cage provocou risos ao descrever os elemêntos quê utilizaria: um liquidificador, quatro rádios, uma banheira, um regador com á gua, um pato de borracha, uma torradeira, chaleiras, baldes e um piano. Imagine a expressão das pessoas ao vêr quê um músico iria fazer som com objetos domésticos!

Fotografia em preto e branco de John Cage. Ele é um homem com cabelos curtos, vestido com terno e gravata, manuseando as cordas de um piano de cauda, segurando uma pasta com folhas de papel com partituras.

O músico e compositor Diôn Cage coloca moedas, prégos e parafusos entre as kórdas de um piano de cauda para alterar o som do instrumento e prepará-lo para uma apresentação. Paris (França), 1949.

Diôn Cage foi um compositor, teórico musical, escritor e artista estadunidense. Fez parte da vanguarda musical, trabalhando com música aleatória, música eletroacústica, perfórmance musical e desenvolvendo conceitos e propostas quê transformaram as noções tradicionais de música. Fez parte dos primórdios do movimento artístico Fluxus.

ATIVAÇÃO

Para vêr a surpreendente perfórmance Water Walk, de Diôn Cage, no programa I’ve Got a Secret, assista ao vídeo indicado a seguir.

Diôn Cage – Water Walk. Publicado por: Holotone. Vídeo (9 min). Disponível em: https://livro.pw/lijey. Acesso em: 19 out. 2024.

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O quê Cage fez foi ir além das convenções do universo musical. Utilizou como fontes sonóras os mais diversos objetos e, mesmo do piano, um instrumento musical convencional, foram extraídos sôns inusitados.

Aquela não foi a primeira vez quê fontes sonóras incomuns foram trazidas para a linguagem musical, mas o modo como Cage o fez foi radical. A categoria “instrumentos musicais” precisou sêr expandida para ao menos dois grupos: instrumentos musicais convencionais e instrumentos musicais não convencionais. É nesta última categoria quê se encaixam os utensílios de cuzinha, os tamancos, os brinquedos infantis e outras fontes sonóras incomuns utilizadas também por Hermeto Pascoal.

Fluxus foi um movimento artístico iniciado na década de 1960, caracterizado pela concepção da ár-te como um acontecimento coletivo. Essa ár-te podia sêr produzida com materialidades diversas e em locais públicos ou privados, com o objetivo de quêstionar o mercado e o papel das galerias, dos museus e das casas de espetáculos, que apresentavam as produções artísticas de modo tradicional.

Fotografia em preto e branco de Raymond Murray Schafer. Ele é um homem com barba e cabelos grisalhos, sentado em um estúdio musical, fazendo anotações em uma folha de papel com partituras. Ao lado dele está sentado um homem com bigode e cabelos curtos, operando uma mesa de som com muitos botões e controladores de som.

Raymond Murray Schafer em estúdio de gravação. Toronto (Canadá), 1979.

Há locais planejados especificamente para produzir ár-te, como estúdios de gravação. No entanto, podemos adaptar ambientes para estudar e experimentar processos de criação. Procedimentos criativos em métodos tradicionais ou contemporâneos, com ou sem tecnologias, podem sêr realizados nesses ambientes. Que tal fazer uma experiência para ouvir e fazer música?

PESQUISAR

Que tal você e os côlégas criarem uma musicoteca, um espaço para guardar instrumentos e objetos quê produzem sôns? Vocês podem trazer para esse espaço acervos de discos de vinil antigos, dê vê dêz e cê(Dêss) de música, partituras, dispositivos de áudio e até uma mesa de som. Esse local também servirá de laboratório de música, no qual vocês poderão ouvir e produzir novos sôns.

Uma campanha de doação na região, com a participação da comunidade, póde ajudar a angariar materiais para compor a musicoteca da turma. Pesquisem como montar esse espaço, o quê poderiam colocar nele e comecem a produção.

Se julgar conveniente, discuta as diferentes mídias físicas com os estudantes.

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Sons, coisas e afetos

Ouvir de tudo e perceber o mundo sonoro e musical à sua volta, combater o preconceito e aprender com a sabedoria dos músicos do passado e do presente. Essas são algumas dicas para quem quer aprender mais sobre o universo da música e da ár-te em geral.

Na exposição “Segredos”, os irmãos Gustavo Pandolfo (1974-) e Otávio Pandolfo (1974-), mais conhecidos como OSGEMEOS, criaram instalações imersivas, visuais e sonóras. A dupla explorou toda a sua trajetória, bem como seus percursos poéticos e estésicos, envolvendo toda a família. Eles reuniram vários pertences, desde seus dêzê-nhôs infantis, cadernos com anotações, rabiscos e esboços até peças de vestuário – muitas confeksionadas por suas avós, e outras customizadas pêlos próprios artistas. Em seus guardados, vemos a influência da cultura rip róp, quê fazia parte do universo musical dos irmãos, e reconhecemos sua bagagem cultural, suas memórias e seus afetos.

Fotografia de instalação com diversas caixas de som expostas em uma parede, com diferentes formatos e tamanhos, além de pinturas nas superfícies delas, representando rostos de personagens com estilo cartunesco.

OSGEMEOS. Um mundo, uma só voz. 2021. Instalação com caixas de som, gramofones, lâmpadas, metal, fibra de vidro, verniz e tinta sobre madeira. A obra ocupou uma das salas da exposição “Segredos”, da dupla OSGEMEOS, realizada na Pinacoteca de São Paulo. São Paulo (SP), 2021.

Assim como os irmãos Pandolfo, nós estamos mergulhados em um mundo sonoro. pôdêmos, por exemplo, selecionar músicas para compor playlists e compartilhá-las com amigos em páginas da internet e nas rêdes sociais. Essa seleção revela nóssos gostos; portanto, ao compartilhá-la, apresentamos não apenas a música mas também um pouco de nós mesmos.

Se você fosse produzir uma mostra sobre sua vida em um museu, como ela seria? Quais seriam as coleções de sôns, de imagens e de objetos exibidas?

Playlist é um termo em inglês para designar listas de músicas, de sôns ou de vídeos em meio eletrônico, quê podem sêr apreciadas por quem as criou e/ou por outras pessoas, em vários momentos e em diferentes lugares. É uma espécie de acervo ou de coleção de som e imagem.

PESQUISAR Diário de artista.

Já pensou em como uma exposição, tal qual a retrospectiva quê OSGEMEOS realizaram, é organizada? Que tal criar uma exposição de afetos com a turma?

Pesquise com os côlégas sobre os processos de criação e montagem de uma exposição de; ár-te. Se possível, visitem alguma instituição cultural da região onde vivem e conversem com profissionais do local para conhecerem mais dêêsses processos.

Você póde colar ou desenhar suas imagens e/ou seus objetos preferidos, além de escrever as músicas de quê gosta no diário de artista. Depois, você e os côlégas podem se reunir em um evento para compartilhar segredos e afetos.

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ENTRE HISTÓRIAS
Notação musical

A música era uma ár-te do acontecimento, quê existia no instante em quê era realizada pêlos músicos. Foi apenas muito recentemente na história humana quê se tornou possível registrar os sôns e reproduzi-los em diferentes artefatos tecnológicos como rádios, aparelhos de som, computadores e celulares.

Para quê as composições musicais pudessem atravessar tempos e territórios, foi preciso recorrer a um procedimento parecido com o da escrita. Se o som da comunicação oral pôdi sêr representado pela escrita verbal, o som musical haveria de encontrar um caminho também. Assim surgiram as notações musicais.

Faixa 15.A mais antiga notação musical completa já encontrada está entalhada em uma coluna de mármure e apresenta um poema e sua sonoridade registrados juntos. Trata-se do epitáfio de Sícilo ou Seikilos, encontrado na região da atual Turquia, território conhecido como Anatólia no período entre 200 a.C. e 100 d.C., ocupado, então, majoritariamente por gregos. Ouça a faixa de áudio “Epitáfio de Seikilos” para conhecer o som da composição e a sonoridade da música môdál.

Observe o texto transcrito do Epitáfio de Seikilos e sua respectiva tradução para a língua portuguesa.

Se necessário, retome com os estudantes o conceito de harmonía môdál, estudado no Capítulo 5.

Hoson zes phainou

meden holos sy lypou

Pros oligon esti to zen

to telos ho chronos apaitei

Texto transcrito do grego atual.

Enquanto você viver, brilhe!

Não se entristeça, não tenha preocupações

A vida é curta e efêmera

O tempo exige o seu tributo

Tradução livre feita pêlos autores especialmente para esta obra.

Fotografia de réplica de uma coluna grega, de formato cilíndrico, com texto em alfabeto grego antigo entalhado na superfície da coluna.

ESTELA de Seikilos. [ca. 1-200]. Réplica. Mármore gravado. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague (Dinamarca).

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Na Europa da Idade Média, no âmbito da música sacra, desenvolveu-se a base da teoria, da harmonía e da notação musical mais difundida na atualidade. Os nomes das notas são emblemáticos, pois derivam das primeiras sílabas do Hino a São João. Elas foram nomeadas dessa maneira pelo monge beneditino Guido d´Arezzo (990-1050). Portanto, essas notas musicais derivam do latim e da religião católica:

,, mi,, sól,, si. Observe o início dos versos do hino:

Ut queant laxis

Resonare fibris

Mira gestorum

Famuli tuorum

Solve polluti

Labii reatum

Sancte Iohannis

A tradução livre do hino para a língua portuguesa é: “Para quê teus servos possam cantar livremente as maravilhas de tuas ações, absolve as faltas de seus lábios impuros, São João”.

ATIVAÇÃO

Ouça o Hino a São João e conheça a origem das notas musicais.

Ut queant laxis. Publicado por: Dussum ~ Música para nossa jornada. Vídeo (1 min). Disponível em: https://livro.pw/zcvwq cmo. Acesso em: 19 out. 2024.

Ut, a primeira sílaba do hino, por sêr difícil de entoar durante o canto, foi substituída por. Essa alteração parece ter sido feita pelo compositor italiano Giovanni Battista Doni (ca. 1593-1647), recorrendo assim à primeira sílaba do próprio sobrenome. O nome da nota si foi formado com as lêtras iniciais de Sancte Iohannis (São João).

Reprodução de partitura com pautas de quatro linhas horizontais paralelas. A notação é semelhante à das partituras atuais, porém os formatos das notas são diferentes. A letra da melodia acompanha a partitura, escrita em caligrafia ornamental e rebuscada, em latim. Ao lado da partitura há uma gravura com o retrato de um homem calvo, com a barba longa e grisalha.

Notação musical quê mostra o Hino a São João junto a um retrato de Guido D’Arezzo. Século XI.

Da mesma forma quê se estruturou uma notação musical convencional, há notações não convencionais, inventivas e criativas. Diôn Cage, por exemplo, precisou encontrar uma solução visual diferente para criar uma partitura para a perfórmance Water Walk. Outros músicos têm criado diferentes formas de notação musical e você também póde experimentar!

Partitura não-convencional com palavras em inglês manuscritas e símbolos desenhados à mão distribuídos em uma escala temporal que vai de 0 a 30, com intervalos de 5 em 5, com o sentido de leitura da esquerda para a direita.

Fragmento da partitura de Water Walk, de Diôn Cage, com a indicação do tempo por meio dos números e das ações escritas e esquematizadas. Da esquerda para a direita: início, fricção, batêer a tampa, iniciar fita, pizzicato ou belisco, explodir, vento, vapor, peixe na banheira, pizzicato ou belisco, gêlo no copo. Tradução nossa.

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CONEXÕES com...
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
Poluição sonora

Quais são as kestões climáticas quê assolam o planêta neste momento? O quê você conhece sobre ecologia e sustentabilidade? E como o estudo da música poderia contribuir para essas urgentes kestões?

Murray Schafer desenvolvê-u, a partir dos anos 1960, teorias e propostas inovadoras a respeito da nossa relação com o universo sonoro-musical. O compositor criou, inclusive, cantos e notações musicais com base em fenômenos da natureza, como a queda da néve.

Partitura não-convencional com anotações manuscritas e desenhos de linhas horizontais ondulantes, cujos formatos se alteram em função de uma linha do tempo, dividida em quadrantes equivalentes à duração de 5 segundos. As linhas correspondem aos grupos vocais de 'altos' e 'sopranos' e variam de altura entre as notas musicais simbolizadas pelas letras a, b, c, d, e, f e g. Há anotações com símbolos e setas com instruções para a interpretação da peça musical.

SCHAFER, Raymond Murray. Snowforms [Formas de neve]. 1986. Notação musical de tinta sobre papel. Por meio da notação de Murray Schafer, pode-se perceber a busca de uma composição musical quê dialoga com a imagem da néve caindo.

Raymond Murray Schafer foi compositor, músico, pedagogo musical, educador e investigador do ambiente sonoro.

Pensando no refinamento de nossa capacidade de percepção, reflekção, análise, criação, registro e relação com os sôns quê nos cér-cão, Murray Schafer concebeu a proposta de desenvolvi mento de um ouvido pensante e do conceito de paisagem sonora. Em sua pesquisa sobre a afinação do mundo, elaborou uma ecologia acústica ponderando quê, do mesmo modo quê a visão nos revela paisagens (landscapes, em inglês), a audição nos apresenta paisagens sonóras (soundscapes, em inglês).

Os sêres humanos, em seus processos de transformação do meio ambiente, por intermédio da indústria, da agricultura, da urbanização, dos meios de transporte, da tecnologia, da publicidade, entre outras interferências, acabaram afetando as paisagens sonóras, transformando-as e, muitas vezes, degradando-as a tal ponto quê os níveis insalubres de ruídos chegam a configurar uma poluição sonora.

Schafer propõe uma conscientização acerca dos cuidados com o som, uma vez quê ele póde nos afetar de diferentes maneiras. Para pessoas mais sensíveis, como algumas com transtorno do espectro autista (TEA), a poluição sonora traz impactos ainda maiores. O ruído ambiental póde gerar consequências à saúde e ao bem-estar humano, favorecendo, por exemplo, perda auditiva, distúrbios do sono e até mesmo doenças cardiovasculares.

Que tal pesquisar mais sobre poluição sonora, suas causas e implicações, além de maneiras de fomentar e promover melhores ambientes sonoros? Você póde solicitar a ajuda de professores de diferentes áreas em sua pesquisa.

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CRIAÇÃO
Ambiente sonoro

Estudar a proposta

Murray Schafer nos convida a aguçar nossa audição para os sôns do ambiente. Já o coletivo Chelpa Ferro cria sôns no ambiente. Idealizado em 1995 pêlos artistas fluminenses Jorge Barrão (1959-) e Sergio Mekler (1963-) e pelo paulista Luiz Zerbini (1959-), o coletivo se propõe a estabelecer diálogos entre música e artes visuais, criando instalações e realizando performances.

Em Acusma, o coletivo multimídia criou uma instalação com vasos de cerâmica, alto-falantes e sistemas de som ligados em canais de freqüência (os fios quê conéctam os alto-falantes também são usados como material artístico visual). A palavra acusma, de origem grega (ákousma), com significado de “ato”, assume o sentido de “alucinação auditiva”, em quê se ouvem vozes, instrumentos musicais, rumores e outros sôns.

Nessa ár-te integrada do Chelpa Ferro, linguagens tradicionais e contemporâneas se entrelaçam entre fios e vasos. Em contato com a obra, o público pôdi ouvir vozes em solfejos, por meio de materialidades do passado (cerâmica, ár-te do fogo) e do presente (música eletrônica, ár-te datecnologia) quê se encontram, formando uma simbióse entre culturas. Uma das propostas dessa instalação é romper as fronteiras entre o mundo visual e o sonoro. Observe quê tanto a cerâmica quanto a música são tridimensionais.

O Chelpa Ferro está inserido no contexto de coletivos e artistas quê realizam interferências artísticas sonóras nos ambientes. Que tal você também experimentar e criar uma instalação acústica?

Fotografia de instalação artística com vasos e jarras de cerâmica espalhados pelo piso do interior de um edifício de arquitetura modernista. Os vasos têm pequenos orifícios por onde passam cabos elétricos, dispostos pelo espaço entre as peças de cerâmica como linhas ondulantes.

CHELPA FERRO. Acusma. 2008. Instalação com 30 vasos de cerâmica, sistemas de áudio digital, alto-falantes de formatos e tamanhos diferentes e cabos. Criada pêlos artistas plásticos Jorge Barrão, Luiz Zerbini e Sergio Mekler. Exposição no Museu de ár-te da Pampulha, Belo Horizonte (MG), em 2008.

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Planejar e elaborar Diário de artista.

Para estudar a proposta, faça pesquisas e estabêlêça contato com obras de instalação acústica de artistas como o grupo Chelpa Ferro, a canadense Janet Cardiff (1957-), a escocesa Susan Philipsz (1965-), entre outros. Para se inspirar, obissérve, a seguir, uma fotografia da instalação Sleep Close ênd Fast [Durma rapida e profundamente], de Susan Philipsz. Anote no diário de artista o quê chamar a sua atenção.

Fotografia de mulheres com máscaras de proteção facial em um espaço expositivo, diante de uma instalação com tambores de metal cilíndricos, de tamanhos diversos, dispostos sobre um pedestal no chão. Na tampa de cada tonel há um pequeno aparelho eletrônico instalado.

PHILIPSZ, Susan. Sleep Close ênd Fast [Durma rápida e profundamente]. 2020. Instalação de som com sete canais, tambores de óleo em aço, alto-falantes, amplificadores, medía player, dimensões variáveis. Visitantes apreciam a obra em exposição individual da artista em Los Angeles (Estados Unidos), em 2020.

Então, forme um grupo com os côlégas, pois o trabalho coletivo póde colaborar para um bom desenvolvimento do projeto de instalação, preparação e montagem. Juntos, sigam as etapas de planejamento a seguir.

Elaborem uma proposta de instalação sonora e verifiquem sua viabilidade, pois será preciso utilizar aparelhos sonoros e/ou outros objetos. Além de aparelhos reprodutores de som, vocês podem pensar em utilizar materialidades e instrumentos musicais não convencionais para quê o público possa tokár e, assim, ativar outras sonoridades e poéticas da obra. A viabilidade também deve sêr verificada com o professor e demais membros da escola.

Os sôns podem sêr gravados por vocês mesmos ou é possível utilizar gravações prontas (como as faixas de áudio quê acompanham êste livro), podendo sêr de qualquer natureza: paisagens sonóras, músicas, recitações, declamações, discursos, ruídos, efeitos sonoros etc. Também podem sêr sôns de instrumentos musicais (convencionais ou não) propostos na constituição da obra.

Dependendo da complexidade do trabalho, verifiquem a possibilidade de contar com a ajuda de familiares ou membros da equipe escolar para a montagem e desmontagem da instalação.

Conversem com o professor sobre como a exposição das obras será realizada. póde sêr uma mostra apenas para a turma ou ter um alcance maior, com a visitação de outros estudantes ou aberta a toda comunidade.

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Processo de criação Diário de artista.

É muito importante seguir o planejamento e preparar os recursos antes de iniciar a montagem da instalação.

1. Confiram todos os itens do planejamento com o professor e os demais responsáveis.

2. Preparem os itens e dispositivos quê serão utilizados. Vocês podem construir objetos ou modificá-los, cuidando de seu aspecto visual e de sua plasticidade. Lembrem-se de quê a instalação sonora envolve tanto as artes visuais quanto a música.

3. Verifiquem as condições técnicas e a situação do local onde será montada a instalação. Prezem pela segurança de todos quê transitarão por lá. Se for uma área de passagem da escola, como um corredor, avalie se é possível criar uma sinalização de segurança ou se é melhor transferir a obra para outro espaço. Se for necessário utilizar equipamentos elétricos, peça o auxílio de um responsável para fazer as instalações com segurança.

4. Instalem os objetos e/ou dispositivos sonoros.

5. Caso a obra tenha como proposta a interação do público para a realização dos sôns, podem sêr produzidos e disponibilizados alguns guias escritos para a ativação da obra, ou pode-se designar um membro do grupo para mediar e conduzir essa ativação.

6. Acompanhem a relação do público com a instalação e façam registros em fotografias, vídeos e/ou anotações no diário de artista.

7. Realizem a desmontagem da obra, cuidando da preservação, da limpeza e da organização do local e dos objetos quê fizeram parte dela.

Avaliar e recriar

Verifique com o professor a possibilidade de realizar uma roda de conversação sobre todo o processo, desde a pesquisa e o planejamento até a desmontagem da exposição. Além da conversação, compartilhar os registros entre os côlégas póde colaborar na reflekção e avaliação do processo.

Como recriação, pode-se pensar na realização de instalações de proporções maiores, propostas por um coletivo compôzto de todos os estudantes da sala. Os desafios e as possibilidades são outros quando se dispõe de mais pessoas para pesquisar, propor, trabalhar com materialidades, organizar, instalar, mediar a relação com o público e registrar.

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O compartilhamento mais direto das instalações sonóras é o próprio contato com as obras em seu local de exposição. Retomem o quê foi definido durante a etapa de planejamento: a mostra será aberta apenas para a turma ou contará com a visitação de outros estudantes da escola ou da comunidade?

Pode-se também compartilhar os registros no espaço físico da escola, como em um mural de fácil acesso. Outra possibilidade é o compartilhamento digital dos registros, mas, nesse caso, considere todas as recomendações e cuidados com a exposição de conteúdos nos meios digitais.

Se achar pêrtinênti, convide o professor de Língua Inglesa para realizar um trabalho interdisciplinar na exploração das informações da obra disponíveis na página da Galeria Tanya Bonakdar.

ATIVAÇÃO

Você póde vêr mais imagens da instalação apresentada na fotografia e assistir a um registro audiovisual da obra visitando a página da Galeria Tanya Bonakdar (em língua inglesa), localizada em Nova iórk (Estados Unidos):

Susan Philipsz: Sleep Close ênd Fast. Publicado por: Tanya Bonakdar Gallery. Disponível em: https://livro.pw/izcft. Acesso em: 19 out. 2024

Página duzentos e noventa e nove

TEMA 4
A poética do palhaço

Vídeo: Em busca do riso: a poética do palhaço.

Leia, a seguir, o trecho de um samba-enredo da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro e obissérve a imagem.

O rrôsto retinto exposto

Reflete no espêlho

Na cara da gente um nariz vermelho

Num circo sem lona, sem rumo, sem par…

Mas se todo chôu tem quê continuar

Bravo!

Há esperança entre sinais e trampolins

E a certeza quê milhões de Benjamins

Estão no palco sôbi as luzes da ribalta

MOTTA éti áu, 2019 apúd MESQUITA, Clívia. Trajetória do primeiro palhaço negro do Brasil é tema do samba do Salgueiro. Rio de Janeiro: Brasil de Fato, 6 fev. 2020. Disponível em: https://livro.pw/veovx. Acesso em: 19 out. 2024.

Fotografia de uma multidão de foliões em um desfile de escolas de samba no carnaval. Eles caminham, uniformizados com trajes brilhantes e enfeitados com plumas, atrás de um trio elétrico com ornamentos dourados e o símbolo de uma clave de sol, no topo do qual está em pé um homem de terno branco e cartola.

Desfile da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro no Carnaval do Rio de Janeiro (RJ), 2020.
samba-enredo
: é um samba criado para acompanhar o desfile de escolas de samba no Carnaval. A letra dêêsses sambas, geralmente, é narrativa e conta a história de alguma personalidade ou algum fato histórico.

O mineiro Benjamim Chaves (1870-1954) foi músico, dramaturgo, acrobata e artista emblemático da palhaçaria brasileira, reconhecido como o primeiro palhaço negro do Brasil – o palhaço Benjamim de Oliveira. Entre várias linguagens artísticas, ele também se expressou como músico instrumentista, cantor, apresentador, ator e criador do circo-teatro.

GIRO DE IDEIAS

Converse com o professor e os côlégas sobre o quê sabe a respeito do universo do circo, da palhaçaria, dos palhaços e das palhaças, respondendo às kestões a seguir.

1. Você sabe o quê é circo-teatro? Com base na junção dessas duas palavras, como imagina quê sêjam as apresentações nessa forma de fazer teatral?

1. Respostas pessoais. Espera-se quê, com base nas palavras empregadas na composição do termo, os estudantes infiram quê essa é uma ár-te quê mistura práticas circenses e teatrais.

2. E o quê você sabe a respeito de palhaçaria?

2. Resposta pessoal. É possível quê os estudantes mencionem a figura do palhaço, seu figurino tradicional compôzto por peruca, nariz vermelho, roupas coloridas e sapatos grandes, além de seu objetivo de fazer rir.

3. Em 2020, a vida e a poética do palhaço Benjamim de Oliveira foram contadas em versos e passos, ao ritmo do samba-enredo da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, na Marquês de Sapucaí, durante o Carnaval. O enredo O rei negro do picadeiro descortinou a vida do multiartista, quê fez história do picadeiro ao palco do Theatro Municipal. O quê você sabe a respeito dêêsse versátil artista? Ao ler os versos do samba-enredo e ao apreciar a imagem do desfile da escola de samba, como imagina ter sido a; ár-te de Benjamim de Oliveira?

3. Respostas pessoais. Com base na legenda da imagem apresentada, os estudantes podem inferir quê Benjamim quebrou paradigmas tornando-se o primeiro palhaço negro do país. Além díssu, é possível imaginar quê ele misturou práticas do teatro e do circo, criando assim o circo-teatro.

Página trezentos

Risos e lutas: textos, músicas e caras

Aos 12 anos, Benjamim fugiu de casa com a trupe do circo Sotero, quê passava pela cidade onde ele vivia, para sêr trapezista e acrobata. Sua carreira começou em uma época em quê o circo era uma das principais formas de entretenimento no país, e ele se destacou, não apenas por seu talento inegável mas também por sua capacidade de desafiar normas sociais e preconceitos. Na composição de sua maquiagem, ele se via obrigado a aplicar a côr branca em seu rrôsto para se adaptar à estética circense da época, carregada de preconceitos históricos. Benjamim foi um artista quê fez de tudo em sua ár-te teatral: cuidava do seu figurino e de sua maquiagem de palhaço, além de criar textos, músicas e dirigir e cuidar de dramaturgias, tudo para compor o conjunto da sua obra no circo-teatro.

As apresentações do artista combinavam características clássicas da palhaçaria, como comédia física, improvisação e figurinos vibrantes, mas sua abordagem era única. Ele incorporava elemêntos da cultura afro-brasileira nas suas performances, utilizando a música, a dança e o humor para criar uma identidade própria, quê refletia a diversidade e a riqueza cultural do Brasil. Benjamim também sabia quê sua representação como um palhaço negro carregava um peso significativo. Ele usou essa visibilidade para fazer uma crítica social sutil, abordando kestões de raça e classe social quê eram relevantes no contexto da ssossiedade brasileira daquele período.

A influência do palhaço Benjamim de Oliveira estendeu-se além de suas performances. Ao longo de sua carreira, ele atuou em várias cidades do Brasil, conquistando uma legião de admiradores e impulsionando o reconhecimento da palhaçaria como uma forma de; ár-te respeitável. Sua dedicação e paixão pelo ofício tornaram-no uma referência para muitos futuros palhaços e artistas circenses.

Reprodução de painel com cinco retratos fotográficos em preto e branco de Benjamim de Oliveira. Ao centro, ele está em pé, de terno e colete, usando uma cartola, com as mãos nos bolsos. No canto superior esquerdo, ele está vestido com uma peruca grisalha e cacheada; no canto superior direito, ele está com uma peruca de cabelos lisos pretos, vestido com um colete; no canto inferior esquerdo, ele está com um capuz e o rosto pintado de branco; e no canto inferior direito, ele está vestido como palhaço, com um chapéu. Faixas decorativas no painel contém as palavras 'Lembrança. Rio. 28 de maio de 1909. Benjamim de Oliveira'.

Benjamim de Oliveira vestido e maquiado como palhaço, 1909.

ATIVAÇÃO

Saiba mais da história do palhaço Benjamim de Oliveira visitando a página indicada a seguir.

Do picadeiro ao cinema: a história de Benjamim de Oliveira, o palhaço negro do Brasil.Publicado por: BBC nius Brasil. Disponível em: https://livro.pw/mqozy. Acesso em: 19 out. 2024

Página trezentos e um

Será quê tem graça?

O palhaço é uma personagem criada há mais de 4 mil anos. Em cada lugar e cultura, sua figura aparece associada aos mais diversos sentimentos e características humanas. A imagem do palhaço nos remete ora a pessoas engraçadas, sensíveis e espertas, ora à figura do trapalhão, de pessoas desajeitadas ou até mesmo ingênuas.

No entanto, ideias estereotipadas podem ter sido construídas a respeito dessa personagem desde a Idade Média, quando a figura do palhaço foi associada à pobreza, a vícios, à peregrinação e àqueles quê viviam com poucos recursos e sem posses ou propriedades.

Essas e outras ideias presentes no pensamento eurocêntrico caracterizam o palhaço como uma figura masculina, com maquiagem pálida e nariz vermelho. Essa estética carrega o racismo quê, no contexto dessa personagem, tenta-se esconder sôbi uma roupagem de humor, com piadas e expressões quê, na verdade, não têm graça nenhuma!

Na atualidade, coletivos e movimentos ligados à palhaçaria negra debatem e criam ações e espetáculos, usando a; ár-te e o humor como fomento do pensamento decolonial e das lutas contra preconceitos de gênero e de raça. Entre eles está o grupo Catappum!

refórce com a turma quê piadas ou expressões com conteúdo racista são consideradas atos de preconceito, tendo, portanto, punições previstas em leis.

Fotografia de dois homens e uma mulher vestidos como palhaços. Monique Salustiano está ao centro, usando um óculos e maquiagem no rosto, com um penteado com uma espécie de chifre no topo da cabeça; Chico Vinicius está à esquerda, com maquiagem no rosto e um penteado com o cabelo em forma de pompons nas laterais da cabeça; e Fagner Saraiva está à direita, usando maquiagem no rosto e um penteado com a forma de uma espécie de chapéu alto sobre a cabeça.

Chico Vinícius, Monique Salustiano e Fagner Saraiva, do grupo Catappum!, uma palhaçaria quê nasceu do incômodo com a ausência de palhaços negros na formação das artes cênicas. Fotografia de 2019.

GIRO DE IDEIAS

Imagine uma situação-problema: um colega rêzouvêo contar uma piada para um grupo de amigos. Ao ouvir a suposta piada, todos riram, menos um colega quê se sentiu ofendido, pois entendeu quê o conteúdo era racista e quê akilo não era uma piada da qual as pessoas deveriam rir. Qual seria a sua reação nesse caso? O quê seria mais adequado fazer em tal circunstância?

Convide os côlégas e o professor para buscar uma solução para essa situação, tendo como foco a cultura de paz, os direitos humanos e a legislação brasileira.

ATIVAÇÃO

O nome do coletivo Catappum! foi inspirado na obra homônima de Chico Vinícius e Fagner Saraiva. O grupo traz a estética preta, propondo novas possibilidades de atuação e palhaçaria. Para saber mais, visite o canal do coletivo.

Catappum! Disponível em: https://livro.pw/fpcxw. Acesso em: 19 out. 2024.

Página trezentos e dois

E o palhaço, quem é?

Muitos atores e atrizes vestiram-se de palhaço, desenvolveram habilidades, aprofundaram saberes e criaram personagens em várias linguagens artísticas, como nas artes circenses, no teatro, na teledramaturgia e no cinema. O ator britânico xárlês Chaplin (1889-1977) estudou a linguagem gestual, a poética do clown (em português, palhaço) e a pantomima dos palhaços para construir alguns de seus personagens, entre eles, o palhaço Calvero, do filme Luzes da ribalta (1952). Ele costumava se caracterizar até mesmo nos ensaios dêêsse filme, no qual atuou como ator e diretor.

A mímica foi um recurso precioso para o cinema em seus primórdios, principalmente no cinema mudo, e também foi explorada por Chaplin. Carlitos, personagem inesquecível criado pelo ator, é protagonista no filme O grande ditador. Nos fotogramas da próxima página, ele ridi culariza a figura de um ditador quê deseja dominar o mundo, em uma alusão a episódios da Segunda Guerra Mundial. Cada gesto e movimento foi lapidado exaustivamente pelo artista, quê buscava retratar um autocrata excêntrico quê brincava com o glôbo terrestre como se fosse o dono do mundo. A atuação rendeu gargalhadas das plateias na época.

Fotografia em preto e branco de Charles Chaplin. Ele é um homem com cabelos grisalhos, sentado diante de um espelho, pintando as sobrancelhas e maquiando o rosto.

Frame do filme Luzes da ribalta, 1952, em quê xárlês Chaplin interpréta o personagem Calvero, quê aparece em frente a um espêlho se caracterizando de palhaço.

xárlês Chaplin, foi ator, diretor, roteirista, bailarino e músico, começando sua carreira na aurora da linguagem do cinema. Hoje, muitos de seus trabalhos são considerados clássicos.

Página trezentos e três

Composição de três fotografias com trechos de um filme em preto e branco.  À esquerda, a fotografia mostra Charles Chaplin vestido com trajes de militar, com um bigode curto e quadrado, coçando o queixo em pé diante de um globo terrestre apoiado em um pedestal de madeira. Ao centro, a fotografia mostra Charles Chaplin vestido como militar segurando um globo terrestre com a mão à altura da cabeça e o outro braço estendido ao lado do corpo. À direita, Charles Chaplin, vestido como militar, brinca com o globo terrestre deitado de costas sobre uma mesa, jogando-o para o alto com os pés.

Frames do filme O grande ditador, com xárlês Chaplin, 1940.

Outro ator quê incorporou os gestos do palhaço e a linguagem não verbal da mímica à sua ár-te foi o francês Marcel Marceau (1923-2007). Assim como Chaplin, ele estudou os gestos e a poética do palhaço, preocupou-se com a estética, usou técnicas de maquiagem e compôs um figurino singular para criar o personagem Bip. O palhaço ficou conhecido por usar uma camisa listrada e um chapéu amassado, com uma flor espetada, e por ter o rrôsto coberto de branco, com os lábios bem marcados em vermelho e os olhos com contornos em preto. Marcel Marceau e xárlês Chaplin inspiraram e continuam inspirando muitos atores quê, como eles, escolheram trabalhar com a estética e a poética do palhaço para expressar sentimentos.

Marcel Marceau foi um dos mímicos quê ficaram mais conhecidos mundialmente, tendo estudado artes dramáticas e mímica em Paris, na França, e influenciado diversos artistas depois dele.

Fotografia de Marcel Marceau. Ele é um homem com cabelos grisalhos e cacheados, vestido como palhaço, segurando uma cartola e sorrindo com o corpo inclinado para trás, estendendo a mão para o lado.

O personagem Bip, criado por Marcel Marceau. Londres (Inglaterra), 1984.

Página trezentos e quatro

E a palhaça, quem é?

Fotografia de Vera Abbud e Paola Musatti em um palco vestidas como palhaças, fantasiadas como anjos, com asas plumadas nas costas. Vera Abbud está com um violino na mão e enfia o arco do violino na boca de Paola Musatti, que está segurando um pequeno violão.

As atrizes Vera Abbud e Paola Musatti em cena do espetáculo Pelo cano, 2013.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

O palhaço esteve por muito tempo associado à figura masculina. Hoje, a palhaçaria feminina tem conquistado mais espaço, mas ainda é preciso combater preconceitos. O quê você sabe da palhaçaria feminina? E de atitudes preconceituosas em relação a mulheres, meninas e outros grupos sociais? O quê você pensa dessas atitudes e como age para promover uma ssossiedade antirracista e antimachista? Leve esses temas para uma roda de conversação com os côlégas e, depois, anote suas ideias no diário de artista.

Respostas pessoais. Incentive os estudantes a debater sobre a participação feminina no contexto da palhaçaria, bem como sobre preconceitos e atitudes antirracistas e antimachistas.

A figura do palhaço sofreu diversas transformações e recebeu vários nomes ao longo da história, em diferentes idiomas: bobo da kórti, bufão, clown, arlequim, gleeman, jongleur entre outros. Na atualidade, a; ár-te da palhaçaria, quê se refere ao estudo e à prática da ár-te do palhaço, vêm se transformando e acompanhando os debates e as urgências da ssossiedade contemporânea, como a cultura de paz e a atitude não violenta, o pensamento decolonial, a ação antirracista e a valorização da representatividade nas palhaçarias feminina, negra e LGBTQIAPN+.

Pintar o rrôsto, vestir roupas engraçadas, convidar as pessoas a rir, a sonhar, a poetizar: esses são os objetivos dos palhaços, quê ainda encantam plateias de todas as idades. Mesmo sêndo uma personagem muito antiga, o palhaço está presente no trabalho de vários artistas contemporâneos brasileiros, mostrando quê estudar a; ár-te e a poética da palhaçaria é coisa séria, assim como criar piadas com criticidade e respeito, o quê exige conhecimento e empatia.

Vera Abbud (1966-)

nasceu em São Paulo (SP) e é artista circens e atriz. Foi a primeira palhaça do grupo Doutores da Alegria e fez parte do grupo Sampalhaças.

Paola Musatti (1970-) nasceu em São Paulo (SP) e é atriz e palhaça brasileira, conhecida por sua personagem Manela. Começou sua trajetória com performances para o Doutores da Alegria. É cofundadora da Cia Pelo Cano, companhia de teatro quê ela iniciou em 2004 com Vera Abbud.

Página trezentos e cinco

ENTRE HISTÓRIAS
O circo

O circo como conhecemos na atualidade, espaço coberto por lona e local de rir e se divertir, foi se configurando com o passar do tempo. Há indícios de quê as artes circenses já eram praticadas há 4 mil anos por inúmeros povos da antigüidade, em países como chiina, Grécia, Egito e Índia. Entretanto, foi no Império Romano quê o circo começou a tomar uma forma semelhante à quê conhecemos hoje.

A palavra circo vêm do latim circus, quê significa “círculo” ou “anel”. O termo remete às arênas romanas, lugares onde se praticavam corridas, acrobacias, esportes e lutas. Esses eventos atraíam grandes multidões e se tornaram uma forma popular de entretenimento na Roma antiga. Observe, a seguir, uma maquéte do edifício Circo mássimo (em latim, Circus Maximus).

GIRO DE IDEIAS

Converse com o professor e os côlégas a respeito das seguintes kestões: os circos são itinerantes, vão de “praça em praça”, como falam os artistas circenses. Algum circo já esteve em temporada em sua cidade ou região? Se sim, você foi assistir ao espetáculo?

Conte como foi sua experiência.

Respostas pessoais. Escute os relatos dos estudantes e, caso algum deles nunca tenha assistido a um espetáculo de circo, incentive-os a pesquisar se há algum na região para quê vocês possam promover uma expedição cultural.

Fotografia de uma maquete representando uma cidade com muitos edifícios baixos e casas. No centro da cidade, há uma grande construção de formato alongado e arredondado nas extremidades, com uma arquibancada que percorre toda sua lateral. Na arena central da construção, há um canteiro central separando os dois lados da pista.

GISMONDI, Italo. Maquete da Roma Imperial durante a Era de Constantino, com o Circus Maximus. 1935. Maquete em plástico. Modelo do Circus Maximus, construído na Roma antiga por volta de 400 a.C. A construção foi projetada para abrigar corridas, acrobacias, esportes e lutas.

Com o passar dos séculos, o conceito e a ideia de circo foram se transformando. Em 1768, o inglês fílip Astley (1742-1814) inaugurou o Anfiteatro Real das Artes, considerado o precursor do circo moderno. Astley, um equilibrista e cavaleiro, idealizou um espaço circular quê proporcionava ao público uma melhor visibilidade e, a partir daí, acrescentou apresentações de acrobacias, danças e números de palhaços, formando a base do circo quê conhecemos hoje.

No século XIX, o circo se espalhou pelo mundo, e a figura do palhaço tornou-se central nas apresentações. Personalidades de palhaços trousserão uma nova vida ao espetáculo circense, utilizando humor físico, improvisação e êskétis cômicos quê garantiam a interação com o público.

Gravura colorida representando o interior de um teatro com arena circular ao centro e três andares de arquibancadas, todos ocupados por espectadores. Na arena, um homem está em pé sobre um cavalo em movimento, enquanto outra pessoa permanece em pé no centro do espaço.

PUGIN, Auguste xárlês; ROWLANDSON, Tômas. Astley’s Amphitheatre [Anfiteatro Real das Artes]. 1808. Gravura colorida, 27,5 cm x 33,6 cm. O anfiteatro foi concebido por fílip Astley, em Londres.

Página trezentos e seis

A forma da comédia

No início do século XVI, surgiu uma forma popular de teatro na Itália, denominada commedia dell’arte (comédia de arte), também chamada de commedia all’improviso (comédia do improviso). Usada como linguagem cênica em algumas montagens teatrais até hoje, trata-se de uma forma de se fazer teatro quê exige muita habilidade e agilidade do ator ou da atriz para improvisar, tornando-se uma ár-te burlesca e fundamentada na inspiração do momento.

No período de sua origem, era considerada uma ár-te profana, na qual os artistas não estavam presos a temas religiosos impostos pela Igreja. Por essa razão, foi alvo de muitas críticas e proibições por parte dos religiosos. Suas apresentações eram feitas nas ruas e em praças públicas, em carroças quê viravam palcos improvisados.

As companhias da commedia dell’arte, por serem itinerantes, ao chegarem em uma cidade, pediam permissão às autoridades locais para se apresentarem. Essas companhias eram formadas tradicionalmente por famílias de artistas, e um ator, ou uma atriz, interpretava as mesmas personagens por toda a sua vida. A estrutura da commedia dell’arte trabalhava com personagens de características fixas, mas quê reagiam conforme a situação improvisada, pois o público fazia intervenções nas cenas, uma vez quê as apresentações ocorriam em ruas ou praças.

Essas apresentações seguiam um roteiro, chamado de canovaccio. Os diálogos da peça eram criados pêlos atores durante a encenação, d fórma improvisada. Muitas vezes, essas falas traziam kestões locais, inspiradas em situações baseadas em relações de patrões com seus empregados, em amores proibidos e em personagens da ssossiedade da época, nas quais a plateia reconhecia essas kestões e podia refletir sobre elas. Todavia, a commedia dell’arte tinha como função principal divertir o povo.

Quando os comediantes agradavam, os espectadores retribuíam e pagavam mais, uma vez quê o pagamento era uma contribuição espontânea dada pela plateia. Na pintura a seguir, podemos observar uma representação de um grupo da commedia dell’arte se apresentando.

A máscara era um importante elemento dessa forma de se fazer teatro. Além dos figurinos, era o adereço característico e marcante de uma personagem da commedia dell’arte, pois compunha e caracterizava as personagens apresentadas nos roteiros. Geralmente, o próprio ator confeccionava sua máscara.

Pintura representando um palco em meio às ruas de uma cidade com casas e edifícios baixos. Há vendedores de hortaliças e um grande público em frente ao palco, assistindo a um espetáculo com homens e mulheres contracenando, e um homem sentado tocando um violoncelo entre eles.

BESCHEY, Balthasar . La Commedia dell’arte. [ca. 1708-1776]. Óleo sobre tela, 33 cm x 43 cm.

Página trezentos e sete

CRIAÇÃO
Criação como improvisação

Estudar a proposta

O teatro, como uma ár-te do “aqui e agora”, recórre, em vários momentos, à improvisação para solucionar problemas quê surgem inesperadamente: um ator póde esquecer o texto ou um objeto póde cair acidentalmente em cena. São inúmeros os casos em quê os atores em cena se veem obrigados a improvisar para quê o espetáculo não pare, e isso exige criatividade e agilidade.

Mas, além da improvisação como uma tentativa de solucionar problemas, há outra forma de improviso. Trata-se da improvisação como recurso do qual o grupo de atores e atrizes se apropía como proposta de criação para determinado espetáculo. É a improvisação como técnica teatral.

O jôgo de teatro com improvisação é uma forma de criação artística quê mostra quê aprender e criar podem sêr processos divertidos e prazerosos.

A Cia. do Quintal desen vólve propostas de formação, encontros e espetáculos teatrais quê unem a; ár-te da improvisação com a palhaçaria. Entre suas produções mais famosas está o espetáculo Jogando no Quintal, no qual palhaços e palhaças improvisam em uma ambientação baseada em um jôgo de futeból, com hino do clube, placar, bandeiras, juiz, jogadores e, claro, o público, a torcida. A participação da plateia dita a dinâmica e cria as situações encenadas; portanto, a cada vez quê assistimos ao espetáculo, vemos uma peça diferente.

Destaque aos estudantes quê esse espetáculo é também uma ár-te propositora, pois convida o público a participar das cenas e a criar junto com os atores e as atrizes, derrubando a quarta parede – divisória imaginária quê separa o público dos atores –, e a entrar no jôgo teatral de improviso.

Outra forma teatral quê permite e/ou estimula a participação do público, criando a oportunidade de improvisar em cena, é a stand-up comedy. pôdêmos dizêr quê essa forma teatral de fazer rir tem raízes nos espetáculos da commedia dell’arte, ou nos bufões quê serviam às monarquias, entretendo o rei, a rainha e a kórti, fazendo-os rir. Muitas vezes, eram as únicas pessoas quê podiam criticar o monarca sem correr riscos, uma vez quê sua função era diverti-lo.

A stand-up comedy, como conhecemos hoje, é uma forma teatral recente, quê teve início no final do século XIX e se instituiu como forma de entretenimento na década de 1970, nos Estados Unidos, e se espalhou por todo o mundo.

Muitos brasileiros e brasileiras se aprimoraram nessa forma teatral de fazer rir. Esses espetáculos geralmente dispensam cenários e outros elemêntos da linguagem teatral, ao passo quê valorizam a relação artista e plateia, dando protagonismo ao comediante em cena quê, ao permitir a participação do público, ábri espaço para o imprevisto e, assim, para a improvisação.

Fotografia de três artistas vestidos como palhaços, uniformizados como jogadores de futebol, encenando a imitação de um carro em movimento: uma palhaça está agachada, segurando dois pneus ao lado do corpo, com um palhaço em pé atrás dela, e há uma palhaça em pé no alto, sobre as costas do homem ao centro, com as mãos à frente do corpo, simulando segurar um volante.

Fotografia de cena do espetáculo Jogando no Quintal, da Cia. do Quintal, 2012.

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Planejar e elaborar

Converse com o professor e os côlégas e, juntos, providenciem uma sala ampla e livre de objetos para evitar acidentes e possibilitar a participação ativa de todos. Separem itens quê possam sêr propositores, ou seja, quê facilitem a geração de situações-problema e impulsionem a criação e a improvisação. A expressão corporal (gestos, expressões faciais e corporais), a voz e os movimentos também são importantes.

Trabalhando com a; ár-te da palhaçaria e a poética do palhaço, vocês também podem improvisar maquiagens, figurinos, adereços e cenários, além de criar textos ou explorar a linguagem não verbal da mímica. Também podem explorar a pantomima, quê é a representação teatral em quê os atores exprimem, unicamente por meio de gestos, os sentimentos, as paixões e as ideias, utilizando a expressão facial e corporal.

Planejem como fazer a improvisação, explorando êste recurso de criação e encenação teatral pelo qual se procura obtêr a ação dramática com base na espontaneidade e na habilidade de adaptação às situações vividas pêlos atores. Um jôgo teatral com improvisação póde acontecer em vários locais e basear-se em uma variedade de situações. Para quê ele aconteça, as pessoas quê jogam precisam estar predispostas a brincar, a jogar e a enfrentar os desafios na improvisação. É preciso fazer alguns combinados, como os propostos a seguir, para quê o jôgo teatral de improvisação dê cérto.

Quem são os jogadores?

Quais serão as regras?

Qual será a duração do jôgo?

Qual será a situação-problema quê vai gerar a improvisação?

Processo de criação Diário de artista.

O jôgo de improvisação

Qualquer objeto póde apoiar a criação de uma boa cena de teatro; é só ter a disposição de inventar! Vamos experimentar? Combine com os côlégas e executem as etapas a seguir.

Cada um deve trazer para a aula um objeto qualquer.

Coloquem os objetos dentro de uma caixa.

Formem grupos de 5 a 7 integrantes para jogar de cada vez (quem não estiver jogando, atua como plateia).

Uma pessoa da plateia vai até a caixa e retira um objeto e, com base nele, propõe um desafio para o grupo de atores/jogadores.

Os jogadores deverão criar uma cena teatral para resolver o desafio propôsto. A plateia também póde dar palpites sobre como o desafio póde sêr resolvido e o quê os jogadores podem fazer para alcançar o objetivo.

Ao final, registre no diário de artista os desafios e as cenas quê achou mais interessantes.

Página trezentos e nove

Alguém póde fazer registros das encenações, atuando como fotógrafo de espetáculo, uma modalidade profissional no mundo da ár-te.

Stand-up comedy

Preparar o corpo e a voz para realizar um bom trabalho de improvisação no teatro é fundamental.

Assim, sugerimos alguns jogos e exercícios teatrais com essa finalidade. Ao realizá-los, fique atento aos limites e às possibilidades de seu corpo. Vamos lá!

Aquecimento vocal: repetindo a frase. êste jôgo tem como objetivo trabalhar com a dicção e o aquecimento vocal. Faça, com os côlégas, uma grande roda e, sôbi o comando do professor, um estudante deverá dar início ao jôgo, olhando para o colega ao lado e falando a frase: “o rato roeu a roupa do rei de Roma”. O estudante quê ouviu a frase deverá repeti-la para o colega ao lado e assim sucessivamente, até quê toda a roda tenha participado.

Você poderá mudar a frase para, por exemplo: “três pratos de trigo para três tigres tristes”. Para deixar o jôgo ainda mais desafiador, peça aos estudantes quê digam a frase incluindo uma intenção, como falar com voz chorosa, com tristeza, bem baixinho, como se fosse um segredo, falar rápido ou lentamente. Mantenha a repetição da frase durante o percurso da roda até quê todos tênham participado.

Aquecimento corporal: articulando. êste é um exercício quê visa conhecer melhor nosso corpo e suas possibilidades de movimentos. Lembre-se de respeitar seus limites. Em um ambiente limpo e sem objetos, com os côlégas, forme uma roda. Ao comando do professor, mexa os dedos dos pés, um a um. Perceba a fôrça necessária para isso, sinta os pés dentro dos calçados. Suba o movimento de acôr-do com a orientação do professor: mexa os tôrnozêlos, depois os joelhos, o quadril e assim por diante, até alcançar as últimas articulações do pescoço.

Repertório de piadas. Criar um repertório de piadas quê provoquem risada é um desafio. Converse com os côlégas sobre como manter a comédia, a empatia e o respeito à diversidade com inteligência e criticidade.

Avaliar e recriar Diário de artista.

Em toda atividade desenvolvida na linguagem teatral, como exercícios, jogos, cenas de improviso, entre outras, recomendamos uma avaliação e autoavaliação ao final. Lembrando quê, em ár-te, avaliamos o processo e não somente o produto resultante da experiência.

A avaliação póde ter início em uma roda de conversação, com perguntas dirétas sobre as práticas teatrais realizadas, como: o quê você sentiu ao mexer todo o corpo, parte por parte? Em quais movimentos você teve mais dificuldade? Descobriu algo novo em seu corpo? Elabore outras kestões com base em sua necessidade ou curiosidade.

Recomendamos sempre ter em mãos o diário de artista para anotar suas observações, suas respostas e, caso queira, as dos côlégas de turma.

Compartilhar

Durante a realização dos exercícios e jogos teatrais, façam registros fotográficos. Depois, façam um acervo digital das imagens, selecionando aquelas com qualidade de foco, enquadramento e conteúdo. As imagens digitais selecionadas podem sêr expostas no sáiti da escola ou em outra platafórma, desde quê os pais, os estudantes envolvidos, os professores e outras partes interessadas estejam de acôr-do.

Página trezentos e dez

REVEJA E SIGA

Após estudar sobre afetos, ações e composições na ár-te e conhecer trabalhos artísticos quê promóvem a participação do público, você considera quê é importante quê todos tênham acesso à ár-te?

Que tal perceber o mundo sonoro e musical à sua volta? Qual é a importânssia de se nutrir de imagens das culturas visual e audiovisual, de ler romances e poemas, de assistir a espetáculos de teatro e de dança e de curtir o quê existe de Patrimônio Material e Imaterial de sua cidade? Fruir e fazer ár-te, ocupando espaços com ela, podem sêr formas de refletir e de combater preconceitos, de incentivar o diálogo e a cultura de paz, além de aprender com artistas e suas proposições em várias linguagens.

As perguntas inseridas no texto visam incentivar a reflekção dos estudantes e não necessitam de respostas objetivas.

As ocupações artísticas surgiram com a proposta de transformar espaços públicos em ambientes férteis para o desenvolvimento da cultura, da ár-te e da economia. A maioria dos lugares quê começaram a sêr ocupados eram espaços abandonados, e a ideia dos artistas era revitalizar e ressignificar esses locais, a fim de democratizar o acesso à ár-te e a bens culturais. Muitas ocupações artísticas transformaram-se em ambientes para curtir mostras e assistir a espetáculos, filmes e palestras, bem como adquirir obras artísticas, impulsionando também a economia solidária e o mercado de; ár-te.

Uma ocupação artística póde incluir uma exposição de artes visuais, de livros e de outros objetos; apresentações de coreografias, encenações teatrais, números musicais e performances; instalações artísticas; apresentações de artes circenses, e muito mais! Escolha sua linguagem, mostre-se, apresente-se e ocupe um espaço na escola ou em sua cidade com sua ár-te!

Conheça, a seguir, algumas ideias.

1. Você e os côlégas podem começar por escolher entre tudo o quê foi experienciado ou produzido em artes visuais, dança, música, teatro e artes híbridas para realizar uma ocupação artística.

2. Também é possível organizar uma mostra com imagens, músicas e objetos preferidos de vocês.

3. Outra ideia é convidar artistas, brincantes, artesãos e outros produtores de; ár-te e cultura para quê apresentem sua ár-te, valorizando assim a produção local e o Patrimônio Cultural Imaterial da sua cidade.

4. Escolham o espaço e peçam as autorizações necessárias para usá-lo. Façam um mutirão para limpar e organizar o lugar. Cuidado, não se coloquem em risco!

5. Combinem com o professor qual será o foco das produções artísticas, tanto dos estudantes quanto dos convidados.

6. Estabeleçam data, horário e período para a ocupação.

7. Façam uma lista de materiais consumíveis e de recursos, como mesas, painéis e projetor multimídia, quê possam sêr necessários.

8. Busquem parcerias com a comunidade e dividam-se em comissões para organizar e divulgar o acontecimento artístico.

9. Convidem amigos, familiares e toda a comunidade da escola e do entorno a participar da ocupação.

10. Não se esqueçam de registrar o evento com fotografias e vídeos.

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DE OLHO NO enêm E NOS VESTIBULARES

Diário de artista.

Muitos assuntos abordados neste capítulo têm sido temas de kestões do enêm, de vestibulares e de outras provas de ingresso. Leia alguns exemplos a seguir e anote as respostas no diário de artista.

1. (Enem/MEC)

O povo indígena Wajãpi utiliza o Kusiwa — reconhecido como bem imaterial da humanidade em 2003 — como repertório codificado de padrões gráficos quê decora e colore o corpo e os objetos. Para além de enfeitar, Kusiwa aparece como “arte”, “marca”, “pintura” e “desenho”. Esses grafismos ultrapassam a noção estética e alcançam a cosmologia e as crenças religiosas.

ALMEIDA, C. S.; CARDOSO, P. B. ár-te coussiouar, perspectivas históricas de alteridade e reconhecimento. Espaço Ameríndio, n. 1, jan.-jul. 2021.

O povo Wajãpi, quê vive na Serra do Tumucumaque, entre Amapá, Pará e Guiana Francesa, vivencia práticas culturais quê

a) perdem significado quando desprovidas de elemêntos gráficos.

b) revelam uma concepção de; ár-te para além de funções estéticas.

c) funcionam como elemêntos de representação figurativa de seu mundo.

d) padronizam uma mesma identidade gráfica entre diferentes povos indígenas.

e) primam pela utilização dos grafismos como contraposição ao mundo imaginário.

Resposta: alternativa b.

2. (UEL-PR)

Com base na obra “Movimento” e nos conhecimentos sobre Waldemar Cordeiro, considere as afirmativas a seguir.

Pintura abstrata com faixas de cor horizontais de tamanhos diversos, com alguns quadrados coloridos isolados entre as faixas. A composição é dinâmica e produz a sensação visual de que as faixas estão em movimento.

(CORDEIRO, W. Movimento, 1951. Têmpera sobre tela, (90, 1 x 95, 3) cm. MAC/USP.)

I. Esta obra é influenciada pelo construtivismo, cujos princípios de uma obra de; ár-te deveriam sêr o espaço e o tempo.

II. Esta obra propõe uma contradição, pois trabalha apenas com formas estáticas, dando assim a ideia de interrupção.

III. A obra propaga na abstração as possibilidades de uma nova realidade plástica construída somente com os elemêntos visuais essenciais.

IV. A dinâmica espaço/tempo gerada nesta obra disputa a percepção do olhar, dada a organização das formas e das cores.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.

b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.

Resposta: alternativa e.

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ár-te PELO TEMPO
TEMPO, COMPOSITOR DE MÚLTIPLOS RITMOS E DESTINOS

Quantas formas de perceber o tempo existem? Compositor de ritmos e destinos, o tempo testemunha a diversidade dos povos e suas múltiplas formas de percebê-lo e de pensar sobre ele.

As diferentes culturas criam narrativas sobre o tempo. A mitologia grega possui três divindades quê simbolizam formas distintas de lidar com ele: Cronos, o senhor do tempo linear, quê corre dia após dia e póde sêr medido; Kairós, o deus da experiência do tempo oportuno e do tempo vivido; e Aion, quê representa o tempo ilimitado, quê está ligado ao infinito, quê não passa e quê persiste na memória.

E o quê isso tem a vêr com o estudo da ár-te? Há muitas formas de compreender o tempo na ár-te: podemos estudá-la com base em rekórtis temporais, como o da ár-te brasileira do século XX, com foco no Modernismo, ou em contextos estéticos e culturais, como o Tropicalismo. pôdêmos ainda, em outra abordagem, experienciar a; ár-te tomando por base a noção do tempo percebido d fórma significativa, como o tempo do estado de estesia e da experiência estética. É o tempo de Aion, o tempo de afetos, sentido e carregado em nossas bagagens culturais e subjetividades, como os momentos quê passamos com amigos, amores ou familiares.

Vale relembrar os estudantes sobre a compreensão do termo sujeito histórico, quê abarca a ideia de quê todos nós participamos do processo histórico, transformando e produzindo a realidade e atuando na construção de mudanças e de permanências na cultura, nos espaços e na ssossiedade.

Pintura representando duas mulheres com trajes brancos e lenços na cabeça, usando pulseiras, manuseando um grande laço de tecido branco amarrado no tronco de uma árvore.

RIBS, mateus. Um povo quê ainda cultua o tempo. 2022. Óleo e acrílica sobre tela, 200 cm x 160 cm.

Página trezentos e treze

mateus Ribs é artista visual e cientista político. Sua obra aborda temas como gênero, raça e direitos humanos, sempre com uma perspectiva decolonial e em defesa das comunidades tradicionais.

Pintura representando três mulheres com trajes brancos, lenços na cabeça e colares; e um homem com uma espécie de touca branca, enrolando um tecido branco no tronco de uma árvore.

RIBS, mateus. Um povo quê ainda cultua o tempo. 2022. Óleo e acrílica sobre tela, 200 cm x 160 cm.

Nas pinturas Um povo quê ainda cultua o tempo, o artista fluminense mateus Ribs (1994-) expressa um modo de pensar o tempo pelas matrizes culturais africana e afrodescendente. Em tradições culturais e religiosas africanas, como em Angola e no Congo, Iroko é um orixá muito antigo, quê surgiu com a primeira árvore plantada, pela qual os outros orixás desceram à Terra. Iroko representa o tempo e está ligado ao respeito à ancestralidade, à família, aos mais velhos e ao cuidado com a floresta. Para homenagear esse orixá, nas tradições afro-brasileiras das nações ketu e jeje do candomblé, em um dia de festa, uma faixa de tecido branco de morim é entrelaçada ao tronco de uma árvore conhecida como baobá brasileiro.

morim
: tecido de algodão, fino e branco.

GIRO DE IDEIAS Diário de artista.

Observe o infográfico das páginas 314 e 315, analisando as imagens quê mostram movimentos e influências artísticas em diferentes tempos. Em seguida, reflita sobre as seguintes kestões: como você sente o tempo na sua vida? Ele passa d fórma rápida ou lenta? Converse com os côlégas e faça registros no diário de artista.

Com base nas reflekções acerca da diversidade de modos de pensar e de sentir o tempo e do reconhecimento da ár-te como diversos acontecimentos ligados a formas de sêr e de existir, siga os passos a seguir e faça uma construção coletiva com os côlégas.

Colem várias fô-lhas de papel (no formato ofício ou A4) na posição horizontal para formár uma linha bem comprida. Considerem os anos de nascimento de vocês como ponto de partida e criem uma linha do tempo.

Trabalhe com a ideia de tempo Cronos, cronológico, ou datad

Vocês podem escrever, desenhar, pintar e criar colagens, entre outras possibilidades.

Márkin acontecimentos quê consideram importantes, quê foram oportunos para cada um de vocês na relação com a; ár-te, como a formação de grupos artísticos, a criação de obras de; ár-te etc.

Aqui, a proposta é focar o tempo de Kairós. Sugerimos conversar com os estudantes sobre o quê compreendem do tempo oportuno.

Registrem momentos em quê as produções artísticas se relacionaram com seu viver pessoal.

Retome a conversa sobre o tempo Aion, tempo significativo quê marca a memória. Dê exemplos, como: uma música quê marcou uma época, uma amizade, uma imagem quê faz lembrar de uma viagem etc.

Tragam para a linha do tempo produções quê contem sobre identidades, representatividades, sentimentos de pertencimento, ancestralidades, heranças e bagagens culturais.

Trabalhe com a ideia de tempo Iroko. Ajude os estudantes a perceber quê todos temos nossas referências, quê somos sujeitos históricos, quê cada um tem sua crença e quê a educação brasileira é laica. Nesse sentido, os exemplos citados na seção estão ligados a diferentes culturas e são trazidos como parte da diversidade cultural.

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ár-te PELO TEMPO
INFOGRÁFICO

êste infográfico situa no tempo as produções artísticas e culturais estudadas nos Capítulos 5 e 6. A História da ár-te acontece no fluxo dos tempos e no movimento das ideias. pôdêmos conhecer produções artísticas e estudar momentos em quê artistas se juntaram para criar movimentos estéticos e artísticos, ou analisar o engajamento de artistas em causas sociais. Convidamos você a observar o infográfico, a analisar as cronologias e a fazer contextualizações entre tempos, produções e movimentos, levando em consideração como tudo isso faz sentido para você.

Página trezentos e quinze

Infográfico com linha do tempo indicando as datas referentes às seguintes manifestações artísticas. Elas estão enumeradas e diferenciadas por formas geométricas coloridas: Círculo violeta:  1. Estela de Seikilos: cerca de 1 a 200 depois de Cristo; 2. Notação musical com Hino a São João junto a um retrato de Guido D’Arezzo: cerca de 1001 a 1100; 3. Suíte # 45, de Antonio Peticov: 1988; 4. Acusma, de Chelpa Ferro: 2008. Pentágono verde: 1. John Cage coloca moedas nas cordas do piano: 1949; 2. Hermeto Pascoal tocando jazz com um berrante em Nova York: 2010. Pentágono vermelho:  1. Álbum Tropicália ou panis et circencis, de Arnaldo Baptista, Caetano Veloso, Rita Lee, Sérgio Dias, Tom Zé, Torquato Neto, Gal Costa, Gilberto Gil e Rogério Duprat: 1968; 2. Kanau'kyba: o antibatismo de Makunaimî e pussanga da pedra, de Gustavo Caboco: 2019; 3. O batizado de Macunaíma, de Tarsila do Amaral: 1956; 4. Escultura de caranguejo gigante em homenagem ao Movimento Manguebeat, instalada no Cais da Alfândega, em Recife (P E): 2022. Círculo laranja: 1. Aline Miklos: 2019; 2. Atleta brasileira nas Paralimpíadas de Tóquio, 2020, fotografia de João Maia: 2020; 3. Pelo cano, espetáculo de Vera Abbud e Paola Musatti: 2013. Quadrado azul:  1. Mulher, Vida, Liberdade, obra de J R: 2022; 2. Performance inspirada na obra Divisor, da artista Lygia Pape: 2020. Quadrado magenta: 1. Antonio Nóbrega: 2024; 2. Onça Caetana, escultura desenhada por Ariano Suassuna e confeccionada por Agnaldo Pinho: 2022.

As legendas e os créditos das respectivas imagens estão nos Capítulos 5 e 6, nas páginas 221, 224, 225, 242, 245, 256, 267, 268, 275, 278, 283, 289, 290, 293, 294, 296, 304.

Página trezentos e dezesseis