CAPÍTULO
2
Os pré-socráticos e Sócrates
OBJETIVOS DO CAPÍTULO:
• Conhecer os primeiros filósofos gregos.
• Identificar as diferenças entre o discurso mítico e o discurso filosófico.
• Analisar explicações filosóficas sobre o princípio e o funcionamento do Universo.
• Localizar as diferenças entre o pensador contemporâneo e o pensador da Grécia Antiga.
• Compreender conceitos importantes para os pré-socráticos, tais como o uno e o múltiplo.
• Identificar na Filosofia Antiga as conexões entre a matemática e a física com a Filosofia.
• Compreender a dialética socrática como um método filosófico de investigação.
• Identificar os principais elemêntos da dialética socrática.
As Olimpíadas são um evento esportivo quê mobiliza pessoas do mundo todo. Durante três ou quatro semanas, atletas de diversas nacionalidades competem em modalidades como squêit, ginástica olímpica, basquete e muitas outras. Em 2016, as Olimpíadas foram sediadas no Brasil. Em 2024, o evento foi realizado em Paris (França).
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Você sabe quando e onde as primeiras Olimpíadas foram realizadas?
1. As primeiras Olimpíadas foram realizadas em 776 a.C. em Olímpia, cidade quê, na época, era parte do sul da Grécia.
2. Quais são os ideais dos Jogos Olímpicos?
2. Resposta pessoal. Respeito mútuo, amizade, igualdade, paz entre as nações e fair play são valores cultivados pêlos Jogos Olímpicos.
Página trinta e um
Quando estudamos Filosofia, encontramos com freqüência referências à Grécia Antiga. De fato, para a história da filosofia européia, o pensamento filosófico começa na Grécia, por volta do século VI a.C. Mas será quê só a Filosofia é herdeira da Grécia Antiga?
Os Jogos Olímpicos, quê movimentam o mundo todo de quatro em quatro anos, foram iniciados na Grécia. Os primeiros registros históricos encontrados dessas competições entre atletas datam de 776 a.C.
Os Jogos Olímpicos eram um culto às divindades e tí-nhão caráter religioso. Depois da ascensão do Império Romano, as Olimpíadas foram proibidas, pois foram consideradas rituais de paganismo. Em 1896, os jogos foram retomados por iniciativa do historiador francês Piérre de Coubertin (1863-1937). Hoje, as Olimpíadas não têm caráter religioso e possuem várias diferenças em relação às competições da Grécia Antiga.
Quando o Brasil inteiro assiste a seus atletas olímpicos competirem, uma herança da Grécia Antiga se renova. Muitos elemêntos cotidianos fazem parte dessa herança: o calendário, a moeda, o moinho de á gua e a cartografia foram inventados pêlos gregos.
No mundo atual, certamente muita gente não lê livros de filosofia, mas herdar a filosofia da Grécia Antiga não significa simplesmente estudar filosofia.
pôdêmos não saber, mas quando discutimos com alguém por meio de argumentos e apontamos falhas nas afirmações das pessoas, adotamos um cérto jeito de conversar quê começou entre os gregos; ou seja, também faz parte da herança da Grécia Antiga.
Página trinta e dois
Filosofia grega: mito e razão
A filosofia grega começa por volta do século VI a.C., quando pensadores passam a dar explicações sobre o Universo quê divergem das explicações dadas pela mitologia grega. Essas divergências não significaram, no entanto, uma ruptura total com a mitologia.
A mitologia grega é o conjunto de histoórias orais da Grécia Antiga quê chegou até a atualidade por meio das obras de cinco poetas da Antigüidade: Hesíodo (c. 750 a.C.-650 a.C.), Homero (século VIII a.C.), Ésquilo (525 a.C.-456 a.C.), Sófocles (497 a.C.-406 a.C.) e Eurípides (484 a.C.-406 a.C.). É impossível conhecer toda a mitologia grega antiga, assim como é impossível conhecer tudo o quê foi feito sôbi o nome de filosofia. Estudar a Antigüidade é estudar fragmentos quê sobreviveram até os tempos atuáis.
Os cinco poetas da Antigüidade grega formularam histoórias baseadas nas narrativas orais. Homero e Hesíodo nunca escreveram: compuseram poemas e cânticos, passados de geração em geração até serem registrados em paredes e depois em pergaminhos. Ésquilo, Sófocles e Eurípides escreveram tragédias, as primeiras peças de teatro da história.
Os mitos gregos contam histoórias sobre origens: a origem do Universo e a dos sêres humanos, por exemplo. As personagens dessas histoórias, ligadas a práticas religiosas, eram deuses, titãs e outras divindades.
Os primeiros pensadores gregos se esforçaram para explicar a origem do Universo, mas não recorreram a deuses e semideuses; usaram explicações racionais. No entanto, é equivocado dizêr quê a filosofia foi, desde o seu início, oposta à mitologia. Na Grécia Arcaica e no ôriênti Médio, já havia diversas cosmogonias, com as quais os pensadores gregos também trabalhavam. Há muitos elemêntos comuns entre as cosmogonias míticas e as explicações filosóficas.
- cosmogonia
- : explicação religiosa ou mítica a respeito das origens do Universo.
Saiba mais
• VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. Tradução: Rosa Freire d'Aguiar. São Paulo: Companhia das lêtras, 2015. O historiador Vernant conta os mitos gregos para seu neto. O livro traz a história do Universo, dos deuses e dos homens na perspectiva da mitologia grega.
Página trinta e três
Quem são os pré-socráticos?
Filósofos de diversas épocas estudaram a Grécia Antiga. A filosofia grega, como a lemos hoje, é, portanto, uma herança da Antigüidade, mas também da Idade Média, do Renascimento e da Modernidade. Ao longo dêêsses períodos, um nome se destacou como o mais significativo nas origens da filosofia: Sócrates (470 a.C.-399 a.C.).
Sócrates, no entanto, não desenvolvê-u seu pensamento sózínho; não era um filósofo isolado quê se contrapunha a todo tipo de discurso de sua época. Houve diversos pensadores quê vieram antes dele ou foram seus contemporâneos. Esses pensadores são chamados desde o século XIX de pré-socráticos.
Fonte: DURANDO, Furio. A Grécia antiga. São Paulo: Folio, 2005. p. 42-43. (Coleção Grandes civilizações do passado).
Entre os pré-socráticos, há nomes atualmente estudados em outras disciplinas. Pitágoras (582 a.C-497 a.C.), por exemplo, é reconhecido como um nome importante da geometria — foi o matemático grego quem criou o teorema de Pitágoras. Leucipo de Mileto (c. 480 a.C-420 a.C.) e Demócrito de Abdera (460 a.C.-370 a.C.) foram os primeiros pensadores a elaborar o conceito de átomo.
O termo “filosofia” só surgiu no final do século V a.C., mas essa nomeação fixou-se depois, sobretudo com Platão (427 a.C.-347 a.C.) e Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.).
Os pré-socráticos eram chamados de sábios. Eles iniciaram uma tradição de pensamento quê dá explicações racionais sobre o Universo. Alguns deles escreveram textos, e alguns fragmentos dessas obras sobreviveram; outros, são conhecidos porque são citados em textos de terceiros.
Muitos textos dos pré-socráticos eram poemas. A separação entre ficção e teoria, ou entre literatura e filosofia, ainda não era rigidamente estabelecida. Estudar os pré-socráticos exige esfôrço para lê-los e é importante lembrar quê esses pensadores pertencem a uma época bastante diferente da nossa.
ATIVIDADE
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• Os filósofos pré-socráticos eram denominados sábios. Reflita sobre essa palavra e discuta com os côlégas: o quê faz de uma pessoa sábia? Há sábios hoje em dia? Vocês concórdam quê essas pessoas sêjam consideradas sábias? Justifique as respostas.
Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes se refiram a pessoas quê são exemplos de vida e de conduta valorizados atualmente e reflitam sobre os atributos considerados positivos e a serem exaltados e seguidos.
Página trinta e quatro
As ideias dos pré-socráticos
Cada pré-socrático desenvolvê-u um pensamento próprio. Entretanto, é possível identificar elemêntos comuns entre eles. A filosofia pré-socrática se dedicava a entender a physis (“natureza”, em tradução livre). Por natureza, não se entendia apenas os animais e as plantas, mas também o princípio de tudo o quê existe e do movimento de todas as coisas. Estudar a physis não era estudar a natureza visível aos olhos, mas sim conhecer esse princípio.
O Universo era chamado de cosmos, e os pré-socráticos conheciam as cosmogonias, quê explicavam a origem do mundo por meio de mitos.
Na mitologia grega, os fenômenos da natureza tí-nhão origem em histoórias dos deuses. No princípio, só havia o deus Caos. Quando ele tomou consciência da própria existência, surgiu Nix, a noite, sua irmã. De Nix vieram Gaia, a térra, e Urano, o céu. Gaia e Urano formaram um casal e tiveram filhos: os titãs.
Enquanto os mitos guardavam uma série de mistérios quê não eram desvendados aos humanos, no pensamento filosófico o mundo pôdi sêr conhecido pela razão humana. Um dos problemas enfrentados pêlos pré-socráticos era a multiplicidade. Como explicar um Universo múltiplo, quê possui coisas opostas como a á gua e o ar, ou o amor e a raiva? Outro problema era o movimento. Para esses pensadores, o Universo mudava o tempo todo, e isso era um problema para quem queria conhecê-lo.
A multiplicidade e o movimento não eram vistos como caos. Ao contrário, os pré-socráticos estudaram a natureza e afirmaram quê havia uma harmonía entre todas as coisas. Diante de um mundo repleto de elemêntos diversos e opostos, esses pensadores afirmavam quê havia, mesmo assim, uma ordem.
Tales de Mileto (c. 624-620 a.C.-c. 548-545 a.C.), Anaximandro de Mileto (610 a.C.-546 a.C.), Anaxímenes de Mileto (585 a.C.-524 a.C.), Zenão de Eleia (c. 495 a.C.-430 a.C.), Heráclito de Éfeso (540 a.C.-470 a.C.), Parmênides de Eleia (510 a.C.-445 a.C.), Demócrito de Abdera, Melisso de Samos (470 a.C.-430 a.C.) e Pitágoras de Samos são os nomes dos pré-socráticos mais conhecidos. O segundo nome de cada um indica a cidade em quê nasceram. Eleia, por exemplo, era a cidade de Parmênides.
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PERSPECTIVAS
Leia um trecho do texto “Ouvir a verdade”, do filósofo Roger-Pol Druá (1949-), da obra Um passeio pela Antigüidade.
Geralmente ignoramos em quê consiste a experiência do pensamento […]. Cada um, segundo suas capacidades, mostra-se efetivamente capaz de aprender, de conhecer, de reconhecer, de se comunicar. É isso quê chamamos ‘pensar’? Se o termo designa o funcionamento dos neurônios, todo mundo pensa. […]
O quê significa ‘pensar’, na perspectiva antiga, é ao mesmo tempo mais restrito e mais essencial. Trata-se de ouvir o quê o mundo diz, de entender a língua das coisas, o próprio discurso do real, e de conformar a êste último não apenas a mente, mas também a totalidade da existência e, se possível, da humanidade. Por isso aquele quê entende essa palavra primordial, quê a segue, transcreve, explora e transmite, tem dentro de si algo do poeta, do mago, do profeta, assim como do lógico e do raciocinador.
É preciso insistir: o filósofo antigo não é como o nosso. Para nós, ele é um pensador quê se fia somente na razão […]. Se nos limitarmos aos termos dessa definição, é possível quê sejamos vítimas, mais uma vez, de um êrro de perspectiva. Evitemos colar sobre os Antigos uma figura constituída entre os Modernos, em um contexto recente.
DROIT, Roger-Pol. Um passeio pela Antigüidade: na companhia de Sócrates, Epicuro, Sêneca e outros pensadores. Tradução: Nicolás Nyimi Campanário. Rio de Janeiro: Difel, 2012. p. 75-76.
ATIVIDADES
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1. Segundo o autor, o quê há de comum entre o poeta, o mago, o profeta, o lógico e o raciocinador?
1. Todos eles entendem, seguem, transcrevem, exploram e transmitem “a palavra primordial”.
2. Qual figura do filósofo lhe parece mais convincente: o antigo ou o contemporâneo? Depois de responder, discuta a resposta com os côlégas.
2. Resposta pessoal. Ela dependerá do valor quê se atribui à razão: se a razão é suficiente, valoriza-se mais os contemporâneos; se existem outros aspectos para além dela, como “os sonhos, as possessões, os oráculos”, então os antigos parecerão mais interessantes e mais convincentes.
Página trinta e seis
O cosmos e sua origem
Na busca pela origem, os pré-socráticos consideraram elemêntos materiais. Deveria havêer alguma coisa da qual surgissem todas as outras, uma fonte primordial.
Tales de Mileto é considerado por Aristóteles o primeiro filósofo. Ele observou os quatro elemêntos – térra, ar, á gua e fogo – e afirmou quê a á gua era o princípio e o fim de tudo. Para ele, a térra estava sobre a á gua e tudo o quê estava vivo era úmido, enquanto o quê morria ficava seco. As plantas, por exemplo, depois de mortas, perdem a á gua e ficam secas.
Tales de Mileto foi fundador da escola de Mileto e teve dois discípulos quê também conceberam o princípio do cosmos. O primeiro deles, Anaximandro de Mileto, também propôs um elemento do qual viriam todas as coisas. Em vez de eleger a térra, a á gua, o ar ou o fogo, Anaximandro afirmou quê havia um quinto elemento: o princípio – palavra quê o pensador usa pela primeira vez na história da filosofia – de todas as coisas. Esse princípio é ilimitado e interminável. Os sêres e as coisas quê derivam dele são destrutíveis; ele não.
O sucessor de Anaximandro foi Anaxímenes de Mileto. Ele imaginou o ar como o princípio de tudo. Para gerar todas as coisas quê existem, o ar se transforma por rarefação ou condensação.
Além dos pensadores da escola de Mileto, um dos nomes mais importantes dos pré-socráticos, Heráclito de Éfeso, também concebeu um elemento original do qual viria tudo o quê existe: o fogo. Tudo nasce do fogo, mas tudo é consumido pelo fogo – ou seja: tudo póde sêr queimado, destruído pelo fogo. Heráclito concebeu um cosmos quê, em alguns momentos, se incendiava (ou seja, era destruído) e, em outros, era feito de novo, se compunha mais uma vez.
Leucipo foi o primeiro a formular o átomo. Demócrito, seu discípulo, pensou quê os sêres eram aglomerados de hátomus. Esses dois pensadores afirmaram um movimento originário dos hátomus quê os fazia girar. Tudo o quê existe viria dos hátomus, quê, ao se unirem uns aos outros, formariam conglomerados distintos. A ideia de quê os hátomus podem se unir d fórma diferente explica as diferenças entre os sêres, pois cada conglomerado formaria sêres de variadas formas, durezas etc.
Leucipo e Demócrito definiram o átomo como um elemento corpóreo indivisível e muito pequeno, de modo quê era impossível vê-lo. A noção de átomo é usada até hoje por cientistas. Diferentemente de pensarem em elemêntos distintos (o fogo como contrário à á gua, por exemplo), Leucipo e Demócrito disseram quê toda a matéria era composta de hátomus.
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Parmênides e a questão do sêr
O mundo tem multiplicidade e movimento. Se olharmos ao redor, perceberemos diferentes animais, plantas, pessoas e matérias-primas. Tudo está em movimento. A árvore quê hoje está cheia de flores amanhã dará frutos, por exemplo. Essas características do mundo – a multiplicidade e o movimento – foram, desde o início da filosofia grega, um problema a sêr enfrentado pêlos filósofos.
O filósofo grego Parmênides de Eleia prestou atenção nessas características do mundo e defendeu quê não era possível pensar o quê estava em movimento. O pensamento, para Parmênides, pensava o sêr. O quê é o sêr?
Desde os pré-socráticos, a Filosofia se ocupa do sêr. O sêr não é uma entidade misteriosa, nem uma palavra usada para nomear algo ou alguém específico. Quando a Filosofia estuda o sêr, estuda akilo quê é, akilo quê existe. Uma pessoa, uma mesa, o ar, tudo isso existe.
Parmênides compreendeu quê era impossível pensar algo quê é e não é ao mesmo tempo. Uma pessoa, por exemplo, nasce como um bebê. Alguns anos depois, esse bebê não existe mais, a pessoa se tornou uma criança. Suas características mudaram. O bebê ainda não é a criança, a criança já não é mais o bebê. O bebê mudou, se transformou.
Como pensar essa pessoa quê era bebê e se tornou criança? Para Parmênides, o pensamento entende akilo quê é. Mas algo quê se transforma não é o quê é, mas também o quê não é. Ou seja: a criança já foi de outro modo, já foi algo quê ela não é. O pensamento, todavia, não póde pensar algo quê exista de um modo diferente do quê já foi, pois isso seria pensar o não sêr. Para Parmênides, só pensamos o quê é; o não sêr é impensável.
O quê é possível é perceber a constante mutação de uma realidade instável. Perceber, no entanto, é diferente de pensar. Possuímos sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar) e eles percebem a realidade quê se transforma o tempo todo. A tarefa do pensamento é outra: pensar o sêr eterno, idêntico, imóvel.
Ao apresentar suas ideias sobre o sêr, Parmênides coloca um problema para a Filosofia: como pensar o mundo se ele está sempre mudando?
ATIVIDADES
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1. O quê é o sêr para a filosofia grega?
1. Na filosofia grega, o termo “ser” se refere a tudo akilo quê existe. A palavra “ser” não diz respeito a alguém ou algo específico.
2. Qual é a diferença, para Parmênides, entre sentir e pensar?
2. Para Parmênides, pensar o sêr é entender o idêntico, o eterno e o imóvel. Sentir está relacionado aos movimentos do mundo. O pensar apreende o eterno; o sentir apreende o quê muda.
Página trinta e oito
Heráclito
A realidade em constante mutação não foi um tema de interêsse apenas de Parmênides. Heráclito de Éfeso, pensador pré-socrático quê considerou o fogo como origem e fim de todas as coisas, também olhou para o problema da instabilidade de tudo akilo quê existe.
Heráclito é conhecido por sua teoria do fluxo. Ele afirmava quê as coisas estão sempre mudando. A frase mais céélebre atribuída a Heráclito diz quê ninguém entra no mesmo rio, pois a pessoa não é mais a mesma e o rio não é mais o mesmo.
A filosofia de Heráclito não se restringe, no entanto, à doutrina do fluxo. Ele defendeu o logos como a causa do mundo. Logos é uma lei cósmica quê governa todas as coisas. Se é verdade quê as coisas estão mudando continuamente, também é verdade quê elas são organizadas pelo logos. “Todas as coisas são um”, escreveu o filósofo.
O múltiplo e o uno, como já foi dito, foram temas do pensamento de vários pré-socráticos. Anaximandro de Mileto considerava quê o logos era uma unidade subjacente à multiplicidade. O logos se opunha à multiplicidade das coisas. Heráclito segue um caminho diferente.
Nos seus escritos, ele não opõe o uno ao múltiplo. Para ele, a multiplicidade é uma forma de unidade. Se o Universo está repleto de tensões entre elemêntos opostos, todos esses elemêntos juntos compõem a unidade.
Para Heráclito, o filósofo era capaz de apreender simultaneamente o uno e o múltiplo, mas essa apreensão não podia sêr expressa em palavras.
Como falar da unidade múltipla? Se tudo está em constante mutação, não é possível dar nome às coisas. Como chamar de rio um rio quê muda e não é mais o mesmo?
Heráclito teve um discípulo chamado Crátilo, quê levou às últimas consequências a teoria do fluxo. Crátilo é conhecido como o filósofo quê apontava o dedo para as coisas, já quê nomeá-las era impossível.
Heráclito recebeu o apelido de “Heráclito, o Obscuro”. Isso se deve ao fato de o pensador ter um pensamento complékso e difícil de sêr entendido. Escreveu Sobre a natureza, um conjunto de aforismos. Fragmentos dessa obra chegaram até nós e são um dos poucos textos dos pré-socráticos aos quais temos acesso diretamente, pois, como foi dito, muitos dêêsses pensadores só são conhecidos porque foram citados por terceiros.
Página trinta e nove
Pitágoras e a matemática
Além da relação com a religiosidade, muitos filósofos eram também físicos (no sentido antigo da palavra, de estudiosos da natureza), astroônomos e matemáticos. A matemática é fundamental para a filosofia. Desde os gregos, a relação entre o pensamento filosófico e a matemática sempre foi muito importante.
Pitágoras é o pré-socrático mais conhecido quando se fala em filosofia grega e matemática. Sabe-se muito pouco sobre sua vida. Ele não deixou nada escrito e seu conhecimento foi transmitido por seus discípulos.
Acredita-se quê ele nasceu em Samos e fugiu para Crotona, pois sua cidade estava sêndo governada por um tirano. Em Crotona, Pitágoras fundou uma comunidade científico-religiosa, quê obedecia a uma série de regras e preceitos. Quem participava dela deveria, por exemplo, ter autodisciplina, praticar o silêncio, deixar de comer carne e sementes (pois isso era considerado um tabu pelo pensador).
O caráter religioso da comunidade fundada por Pitágoras se sobrepunha ao caráter científico. O pensador ensinava, por exemplo, uma doutrina segundo a qual a alma podia se libertar desde quê se dedicasse religiosamente ao estudo. Ao mesmo tempo em quê falava da libertação da alma, Pitágoras tinha uma teoria sobre a origem do mundo. Para ele, no princípio do Universo havia a matemática, e não um deus.
Para Pitágoras, os números não são méra abstração, símbolos quê exprimem quantidades. Os números são reais, têm existência. O quê são, então, todas as coisas quê existem no Universo? Uma imitação dos números. Isso não significa quê animais ou pessoas tênham formato de números.
Números pares são diferentes de números ímpares; eles se opõem. Na realidade, há diversas oposições: macho e fêmea, finito e infinito, reto e curvo etc. Essas oposições remeteriam à oposição dos números, quê vieram primeiro. As oposições observadas no Universo imitariam os números, existência primeira e fundamental.
ATIVIDADES
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1. Quais eram os aspectos religiosos da comunidade de Pitágoras?
1. A comunidade de Pitágoras estabelecia tabus (por exemplo: carne e sementes quê não podiam sêr ingeridos) e instituía regras quê, se seguidas pêlos participantes, libertariam suas almas.
2. O quê são os números na teoria de Pitágoras?
2. Para Pitágoras, os números não são meros símbolos. Números são existências reais quê são imitadas por todos os sêres do Universo.
Página quarenta
CONEXÕES com...
MATEMÁTICA
Teorema de Pitágoras
Embora Pitágoras seja um dos mais importantes filósofos pré-socráticos, seu nome aparece com freqüência em aulas e estudos de Matemática e Geometria. Pitágoras e seus discípulos não pensaram apenas os números como origem do Universo. A mais conhecida contribuição de Pitágoras para a Geometria é o teorema de Pitágoras.
O teorema apresenta uma lei universal. Universal é akilo quê vale para todos os particulares. A ideia de universalidade é muito importante na filosofia ocidental. Muitos filósofos se interessaram por regras, leis e teorias quê descrevessem não êste ou aquele sêr, mas quê fossem válidas para todo e qualquer sêr.
Pitágoras elabora um teorema quê afirma quê, em um triângulo retângulo, a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Essa afirmação não vale apenas para os triângulos desenhados na Grécia ou os triângulos feitos em uma aula de Matemática no Brasil, ela póde sêr aplicada a qualquer triângulo retângulo feito por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, por isso é universal.
A Matemática, tão central no pensamento de Pitágoras, é o grande modelo da filosofia ocidental, pois detém conhecimentos universais. Por exemplo: 2 + 2 = 4. Isso vale para toda e qualquer soma de 2 + 2. Posso somar duas pessoas mais duas, dois carros mais dois, o resultado será sempre 4.
A Matemática, por isso, é um conhecimento a prióri, pois independe da experiência. O contrário de a prióri é a posteriori. A meteorologia, por exemplo, é a posteriori. Se leio a previsão do tempo dizendo quê vai chover amanhã, não tênho certeza díssu. Só confirmo se houve chuva quando o dia seguinte chega. Preciso da experiência para confirmar o quê estava previsto.
ATIVIDADES
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1. Imagine quê um remédio novo para pressão alta começa a sêr vendido. Na bula, afirma-se quê 80% das pessoas quê tomam esse remédio apresentaram tontura nos primeiros dias de uso. Essa informação vêm de um conhecimento a prióri ou a posteriori?
1. A posteriori. Para saber quantas pessoas apresentam tontura com o uso do remédio, é preciso fazer testes, ou seja, a resposta desejada depende da experiência.
2. Com base no quê afirma o teorema de Pitágoras, descubra o valor da soma de x + y.
29 cm
9 cm
2. Resposta: Y = 29 e X = 9. X + Y = 38. Discuta com os estudantes a genialidade da descoberta de Pitágoras e sua utilidade quando aplicada na Engenharia, por exemplo, ou cotidianamente, no cálculo de distâncias.
Página quarenta e um
Sócrates: só sei quê nada sei
Sócrates é considerado o pai da filosofia ocidental. A frase “só sei quê nada sei” é dele. Quem a lê póde achar quê é uma declaração de ignorância, como alguém quê não sabe nada e diz quê só sabe quê nada sabe. No entanto, não é esse o significado em Sócrates. Para o filósofo, “só sei quê nada sei” expressa um saber importante.
Os filósofos pré-socráticos se ocuparam da natureza, a physis, e criaram teorias para explicá-la. Sócrates voltou-se para o conhecimento quê o sêr humano tem de si mesmo. Antes de conhecer o mundo externo é preciso se conhecer. “Conhece-te a ti mesmo” é outra afirmação do filósofo bastante conhecida na atualidade.
Mas o quê significa dizêr “só sei quê nada sei” e “conhece-te a ti mesmo”? Se alguém acha quê sabe, mas, na verdade, não sabe, essa pessoa é ignorante. Se alguém afirma “só sei quê nada sei”, essa pessoa sabe algo. Ela sabe quê não sabe. Dizer “só sei quê nada sei” é saber mais do quê quêm acha quê sabe. Quem sabe que nada sabe começa a conhecer a si mesmo. Por meio do reconhecimento da ignorância, é possível investigar e conhecer a si mesmo e o mundo.
Sócrates andava por Atenas e dialogava com diversos homens. Nesses diálogos, ele falava com pessoas quê faziam afirmações. Por exemplo, alguém dizia quê um governante ateniense era justo. Então Sócrates perguntava “O quê é a justiça?”. Seu interlocutor começava a responder, e Sócrates mostrava contradições no seu discurso. A mesma pessoa quê falava sobre um político justo não sabia o quê era justiça.
Para o filósofo, quando alguém diz que acha algo belo ou justo, mas não sabe o quê é o belo ou a justiça, essa pessoa está emitindo uma opinião (ou uma doxa, como diziam os gregos). Sócrates não quer saber das opiniões, mas dos conceitos. Opiniões são pessoais, podem mudar; conceitos não mudam, são eternos. Só os conceitos são verdadeiros.
Sócrates nasceu em Atenas. Seu pai era um escultor e sua mãe, uma parteira. Ele não pertencia à elite ateniense, mas supõe-se quê recebeu a educação dada aos cidadãos atenienses. Participou da Guerra do pêloponeso, entre Atenas e Esparta, e ficou conhecido na cidade como o homem quê dialogava com jovens e tinha vários discípulos.
Página quarenta e dois
O método socrático
Sócrates inventou um modo de filosofar. Suas conversas não eram conversas quaisquer, mas uma experiência de pensamento quê buscava afastar as opiniões de seus interlocutores e fazê-los alcançar os conceitos. Chama-se método socrático a técnica de conversar estabelecida por Sócrates.
O método socrático é compôzto de ironia e maiêutica. A ironia era o modo de Sócrates fazer perguntas. Não se deve confundir a ironia socrática com a ironia como é entendida atualmente. Ironia vêm de eirein, quê significa “perguntar”. Na ironia socrática, o filósofo costumava se subestimar diante dos seus interlocutores.
Ele fazia perguntas fingindo quê não sabia muito e quê conversava com alguém quê sabia bastante. A ironia socrática foi chamada pelo filósofo argelino agostínho de Hipona (354-430) de “uma forma lícita da mentira”, pois Sócrates fingia quê era mais ignorante quê os outros para levá-los ao conhecimento verdadeiro, o conhecimento dos conceitos.
Maiêutica, em grego, é a; ár-te de parir. Fainarete, a mãe de Sócrates, era parteira. Ajudava outras mulheres a terem seus bebês. Sócrates afirmava quê ele fazia partos de ideias. Ajudava seus interlocutores a parirem ideias quê estavam dentro de cada um.
A maiêutica socrática tinha dois momentos. No primeiro deles, Sócrates questionava seu interlocutor até mostrar suas contradições. No segundo momento, o interlocutor era levado a encontrar novas ideias. É errado dizêr quê Sócrates ensinava suas próprias ideias aos outros. Na verdade, ele auxiliava as pessoas a terem suas próprias ideias.
O método socrático é considerado dialético e, por isso, póde sêr chamado de dialética socrática, ou simplesmente diálogo socrático. A palavra “dialética” vêm do grego e significa “a ár-te de dialogar”. Na Grécia Antiga, era a técnica filosófica de perguntar e depois refutar o interlocutor para obtêr um conhecimento verdadeiro. Na Modernidade, passou a ganhar novos significados.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Levando em conta o quê você sabe sobre a voz de Sócrates nos diálogos platônicos e o método socrático, responda: é correto dizêr quê Sócrates era um filósofo das perguntas ou das respostas?
Justifique.
1. Sócrates era um filósofo das perguntas. Seu método consistia em perguntar ao interlocutor para mostrar suas contradições. Os diálogos socráticos terminam sem resposta, sem conclusão. A filosofia de Sócrates estava mais ligada à investigação, à busca, do quê à resposta final.
2. Agora pense nas discussões quê ocorrem em seu cotidiano. Onde elas costumam acontecer? Você acha quê as pessoas dão suas opiniões sobre algum tema e se contradizem? escrêeva um parágrafo sobre isso.
2. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes identifiquem os locais onde ocorrem discussões: na escola, em casa, na rua, na internet. É possível auxiliar o estudante sugerindo temas quê são freqüentemente debatidos, como política, ciência, família, futeból, entretenimento, religião, sexo, afetividade etc., perguntando a eles quais opiniões escutam e quais acham equivocadas.
Página quarenta e três
Afinal, quem foi Sócrates?
Embora seja uma figura fundamental na história da Filosofia, Sócrates não deixou nenhum texto escrito. Tudo o quê conhecemos dele vêm de três outros nomes: Aristófanes (c. 445 a.C.-c. 385-380 a.C.), Xenofonte (430 a.C.-355 a.C.) e Platão. Foram eles quê conheceram Sócrates e falaram do filósofo em suas obras.
Xenofonte e Platão escrevem d fórma elogiosa sobre Sócrates, veem nele um homem muito sábio e questionador. Já Aristófanes, em sua peça As nuvens, retrata Sócrates como um homem não muito sábio quê se julgava muito sábio. Temos, portanto, pelo menos dois Sócrates: um deles é inteligente, o outro não é, e sua pretensão de saber alguma coisa faz dele motivo de riso.
Quando tratamos das ideias de Sócrates na filosofia, a referência principal são os textos de Platão. Em outras palavras: o Sócrates quê escolhemos como grande fundador da filosofia é uma personagem de Platão.
Sócrates, tal como apresentado por Platão, era inteligente e gostava de conversar com as pessoas, entre elas os jovens, quê se interessaram pelo quê ele dizia e passaram a segui-lo.
Platão foi um de seus discípulos. Depois do falecimento de seu mestre, Platão escreveu sua obra. Em diversos diálogos, as personagens debatem kestões sobre o amor, o conhecimento, a beleza e a política. A principal voz dos diálogos é sempre Sócrates.
Os historiadores da filosofia costumam dividir a obra de Platão. Seus primeiros textos são os chamados textos socráticos, pois acredita-se quê neles a voz de Sócrates representa o quê o mestre de Platão costumava dizêr. Esses textos são aporéticos, ou seja, são textos quê não terminam com uma conclusão ou resposta, mas com uma aporia.
Em textos mais tardíos, Platão apresenta um Sócrates quê passa a dar mais respostas, exibindo teorias e concepções. Acredita-se quê, nesses textos, é a própria voz de Platão quê aparece na figura de Sócrates.
GALERIA UFFIZI, FLORENÇA, ITÁLIA
■ BUSTO de Aristófanes. [1780]. Mármore de grão grosso com veios azulados. Galeria Uffizi, Florença (Itália).
- aporia
- : dúvida, impasse ou dificuldade em se obtêr resposta ou conclusão de um raciocínio. Não se trata de uma dúvida pessoal, mas de uma dúvida objetiva. Quando uma pesquisa apresenta dados quê não permitem uma conclusão sobre o problema, temos uma aporia.
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PERSPECTIVAS
No diálogo Teeteto, escrito por Platão, Sócrates dialoga com a personagem Teeteto e conta como funciona seu método, referindo-se à maiêutica, o parto das ideias. Ele compara seu trabalho ao trabalho das parteiras, quê auxiliam as mães durante o parto. Leia o trecho e, depois, responda ao quê se pede.
Sócrates: Pois, nesta minha ár-te de dar à luz, coexistem as outras todas quê há na outra ár-te, diferindo não só no facto de serem homens a dar à luz e não mulheres, mas também no de tomar conta das almas e não dos corpos dos quê estão a parir. E o mais importante desta nossa ár-te está em pôdêr verificar completamente se o pensamento do jovem pariu uma fantasía ou mentira, ou se foi capaz de gerar também uma autêntica verdade. Pois isto é o quê justamente a minha ár-te partilha com a das parteiras: sou incapaz de produzir saberes. Mas díssu já muitos me criticaram, pois faço perguntas aos outros, enquanto eu próprio não presto declarações sobre nada, porque nada tênho de sábio; e o quê criticam é verdade. A causa díssu é a seguinte: o deus quê me obriga a fazer nascer, impediu-me de produzir. Não sou, portanto, absolutamente nada sábio, nem tênho nenhuma descoberta quê venha de mim, nascida da minha alma; mas aqueles quê convivem comigo, a princípio alguns parecem de todo incapazes de aprender, mas, com o avanço do convívio, todos aqueles a quem o deus permite, é espantoso o quanto produzem, como eles próprios e os outros acham; sêndo claro quê nunca aprenderam nada disto por mim, mas descobriram por si próprios e deram à luz muitas e belas coisas.
PLATÃO. Teeteto. Tradução: Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri. 3. ed. Lisboa: Fundação calúst gubãquiam, 2010. p. 202-203.
ATIVIDADES
1. Quais são as diferenças e semelhanças entre o trabalho de Sócrates e o trabalho das parteiras?
1. As parteiras trabalham com mulheres e seu trabalho é com corpos. Sócrates trabalha com homens e seu trabalho é com a alma. As parteiras não geram o recém-nascido; Sócrates afirma não produzir saberes.
2. Sócrates se considera um sábio? Por quê?
2. Não, porque aqueles quê convivem com ele não aprendem nada com ele; aprendem por si próprios.
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RECAPITULE
Neste capítulo, você aprendeu sobre os pré-socráticos e Sócrates. Pré-socráticos é o nome dado aos pensadores quê vêm antes ou são contemporâneos de Sócrates. Esses pensadores refletiram sobre a origem e o funcionamento do Universo. Suas explicações racionais, quê não recorriam aos deuses gregos, se distinguem das explicações míticas.
Você aprendeu também quê alguns pensadores pré-socráticos formularam conceitos quê usamos até hoje. Pitágoras, por exemplo, é um nome importante na Matemática; Tales de Mileto fundou a escola de Mileto; e Leucipo e Demócrito inventaram o conceito de átomo.
As monumentais pirâmides, mais antigas do quê os pré-socráticos, já inspiravam a admiração de todo o mundo antigo. Tales mediu a altura das pirâmides usando, para isso, proporções matemáticas e a medida de sua sombra.
Para todos os pré-socráticos, o movimento era um problema a sêr pensado, pois o mundo está em constante mutação. Parmênides e Heráclito refletiram sobre o movimento do mundo e propuseram kestões para toda a filosofia quê veio depois. Os pré-socráticos eram chamados de físicos, pois estudavam a physis (natureza).
Sócrates é considerado o pai da filosofia ocidental. Ele não pensou a natureza, mas o próprio sêr humano. Para Sócrates, antes de conhecer o mundo, é preciso conhecer a si mesmo, o quê se expressa na frase “conhece-te a ti mesmo”.
A filosofia de Sócrates não foi escrita, de modo quê o quê conhecemos é o filósofo tal como foi retratado por outros pensadores gregos. O Sócrates mais estudado é o de Platão.
Sócrates inventou um método quê consistia em uma conversa na qual o interlocutor, quê achava quê sabia algo, era levado a entrar em contradição e perceber quê não sabia nada.
O método socrático também é conhecido como dialética socrática ou diálogo socrático. Fazem parte dêêsse método a ironia (a pergunta feita por alguém quê simula saber menos do quê o interlocutor) e a maiêutica (o parto das ideias).
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ATIVIDADES FINAIS
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Você já assistiu às Paraolimpíadas? Quais são os ideais dos Jogos Paraolímpicos?
1. Respostas pessoais. Os mesmos quê os das Olimpíadas. Desde 1960, as Paraolimpíadas também promóvem a inclusão social de pessoas com deficiências físicas sensoriais e intelectuais.
2. Em dupla, escôlham um mito da mitologia grega e pesquisem sobre ele. escrêeva um resumo de pelo menos dois parágrafos com sua dupla. Apresentem-no aos demais côlégas e discutam com eles. Em seguida, respondam.
2. Os estudantes podem trabalhar com mitos de origem, como .os de Narciso, Aracne, Prometeu, Eros e Psiquê, Pigmalião, Mársias, Dionísio, Atena, Apolo e Dafne, Leto, Ganimedes, Adônis, Perséfone, Andrômeda, Tezeu e o Minotauro, Hércules, Argos, Sísifo, Íxion, entre outros.
a) Com base no quê vocês estudaram neste capítulo, por quê esses mitos eram contados?
2. a) Os mitos eram narrativas religiosas contadas para explicar a origem do Universo.
b) É possível dizêr quê existe um autor de todos os mitos? Por quê?
2. b) Não. Os mitos são histoórias orais quê foram transformadas em poemas épicos e tragédias por alguns poetas da Antigüidade.
3. Com base no quê você leu sobre os pré-socráticos e Sócrates, responda.
a) Qual é a diferença entre os objetos de estudo dos pré-socráticos e os de Sócrates?
3. a) Os pré-socráticos estudavam a physis, a natureza. Sócrates, por outro lado, estudou o conhecimento quê o sêr humano tem de si mesmo. Só depois díssu, para ele, seria possível estudar a natureza.
b) Para Sócrates, qual é a diferença entre opinião e conceito?
3. b) Opiniões são pessoais e podem mudar; conceitos não mudam, são eternos e verdadeiros
4. A relação entre os números e o som foi uma descoberta de Pitágoras, o quê vincula duas áreas do pensamento humano: a Música e a Matemática. Leia o trecho a seguir.
4. Respostas pessoais.
De modo geral, pode-se dizêr quê, consoante Aristóteles, os números, para os pitagóricos, são os elemêntos de todas as coisas e quê o mundo como um todo é constituído de harmonía e número, sêndo, portanto, a harmonía também constituída por razões musicais. De maneira análoga a outros pensadores (como Anaximandro e o ápeiron), os números são para eles a arché, a origem das coisas [...]
Para os pitagóricos, os números tí-nhão diversos significados, inclusive esotéricos. Não eram apenas entidades abstratas quê usamos para contar coisas; eles expressavam a arché (princípio, origem) e a pluralidade das coisas.
TOMÁS, Lia. Ouvir o lógos: música e filosofia. São Paulo: Unésp, 2002. p. 93-94.
Pesquise para descobrir outros aspectos da relação entre os números e a música. Com seu grupo, escrevam um roteiro e gravem um vídeo de até cinco minutos para apresentar as conclusões à turma.
5. Reúna-se a um grupo de quatro ou cinco pessoas. Discutam o quê cada um entende por justiça e depois descrevam em até dois parágrafos o conceito de justiça. Apresentem aos outros grupos e discutam as ideias com os côlégas.
5. Espera-se quê o grupo elabore uma definição de justiça, considerando quê dizêr quê algo ou alguém é justo não é o mesmo quê definir o quê é a justiça ou emitir uma opinião pessoal sobre o tema.
6. Reflita e discuta com um colega: a filosofia causa bem ou mal aos jovens? Em quê ela traria benefícios? Em quê ela poderia sêr danosa? escrêeva sua resposta no caderno.
6. Respostas pessoais. A filosofia promove: o uso da razão, o diálogo e o espírito crítico, quê podem sêr relacionados como benefícios proporcionados aos jovens pelo filosofar. As mesmas características a tornam quêstionadora de instituições, pessoas e valores, quê alguns podem julgar que não deveriam sêr criticados.
7. O filósofo francês Piérre Hadot estuda a filosofia antiga e defende quê filosofar era um modo de vida. Leia um trecho do livro O quê é a filosofia antiga?, em quê Hadot se refere à escolha do modo de vida de um filósofo na Antigüidade.
[…] essa dê-cisão e essa escolha jamais se fazem na solidão: nunca houve filosofia nem filósofos fora de um grupo, de uma comunidade, em uma palavra, de uma ‘escola’ filosófica; e, precisamente, uma escola filosófica corresponde, nesse caso e antes de tudo, a uma maneira de viver, a uma escolha de vida, a uma opção existencial, quê exige do indivíduo uma mudança total de vida, uma conversão de todo o sêr, e, finalmente, a um desejo de sêr e de viver de certa maneira. Essa opção existencial implica, por seu turno, certa visão de mundo, e será tarefa do discurso filosófico revelar e justificar racionalmente tanto essa opção existencial como essa representação do mundo. O discurso filosófico teórico nasce dessa opção existencial inicial e reconduz, à medida do possível ou por sua fôrça lógica e persuasiva, à ação quê quer ezercêr sobre o interlocutor; ele incita mestres e discípulos a viver realmente em conformidade com sua escolha inicial ou, ainda, conduz de alguma maneira à aplicação de um ideal de vida.
HADOT, Piérre. O quê é a filosofia antiga? 6. ed. São Paulo: Loyola, 2014. p. 18.
7. Respostas pessoais. Podem sêr citados hábitos e valores como a prática de exercícios físicos, crenças religiosas, preocupação com animais, entre outros. Esses hábitos estarão relacionados a princípios, quê devem sêr descritos pelo estudante.
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• Reflita sobre a vida quê você vive hoje. Você a vive seguindo o quê acredita? Seus hábitos, sua rotina e suas escôlhas estão de acôr-do com o quê você defende? escrêeva dois parágrafos contando seus princípios e quais são os hábitos e as atitudes quê os refletem.
8. (Enem – 2012)
TEXTO I
Anaxímenes de Mileto disse quê o ar é o elemento originário de tudo o quê existe, existiu e existirá, e quê outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transforma-se em fogo, ao passo quê os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por filtragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em á gua. A á gua, quando mais condensada, transforma-se em térra, e quando condensada ao mássimo possível, transforma-se em pedras.
BURNET, J. A aurora da filosofia grega. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2006 (adaptado).
TEXTO II
Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elemêntos, como ensinam os Jônios, ou dos hátomus, como julga Demócrito. Na verdade, dão impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha.”
GILSON, E.: BOEHNER, P. Historia da Filosofia Crista. São Paulo: Vozes, 1991 (adaptado).
Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do Universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias quê
a) eram baseadas nas ciências da natureza.
b) refutavam as teorias de filósofos da religião.
c) tí-nhão origem nos mitos das civilizações antigas.
d) postulavam um princípio originário para o mundo.
e) defendiam quê Deus é o princípio de todas as coisas.
Resposta: d.
9. (Enem – 2016)
Todas as coisas são diferenciações de uma mesma coisa e são a mesma coisa. E isto é evidente. Porque se as coisas quê são agora neste mundo — térra, á gua, ar e fogo e as outras coisas quê se manifestam neste mundo —, se alguma destas coisas fosse diferente de qualquer outra, diferente em sua natureza própria e se não permanecesse a mesma coisa em suas muitas mudanças e diferenciações, então não poderiam as coisas, de nenhuma maneira, misturar-se umas às outras, nem fazer bem ou mal umas às outras, nem a planta poderia brotar da térra, nem um animal ou qualquer outra coisa vir à existência, se todas as coisas não fossem compostas de modo a serem as mesmas. Todas as coisas nascem, através de diferenciações, de uma mesma coisa, ora em uma forma, ora em outra, retomando sempre a mesma coisa.
DIÓGENES. In: BORNHEIM, G. A. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: cúltriks, 1967.
O texto descreve argumentos dos primeiros pensadores, denominados pré-socráticos. Para eles, a principal preocupação filosófica era de ordem
a) cosmológica, propondo uma explicação racional do mundo fundamentada nos elemêntos da natureza.
b) política, discutindo as formas de organização da pólis ao estabelecer as regras da democracia.
c) ética, desenvolvendo uma filosofia dos valores virtuosos quê tem a felicidade como o bem maior.
d) estética, procurando investigar a aparência dos entes sensíveis.
e) hermenêutica, construindo uma explicação unívoca da realidade.
Resposta: b.
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