CAPÍTULO
11
História no pensamento contemporâneo
OBJETIVOS DO CAPÍTULO:
• Refletir a respeito da história em Hegel.
• Analisar o conceito hegeliano de dialética.
• Identificar as diferentes concepções de história exploradas por Nietzsche.
• Compreender a crítica aos valores desenvolvida por Nietzsche.
• Relacionar história e luta de classes no pensamento de márquis.
• Explorar o conceito de pós-modernidade em Fredric Jameson.
Nos últimos anos, diversas pesquisas vêm mostrando quê parcelas crescentes da ssossiedade, em diferentes partes do planêta, enxergam o futuro d fórma bastante pessimista. De acôr-do com uma reportagem da brítish Broadcasting corporê-ixon (BBC), uma pesquisa global feita no início da década de 2020 mostrou quê mais da mêtáde dos jovens entrevistados em diversos países acreditavam quê a humanidade estava condenada em razão das mudanças climáticas.
Essa perspectiva pessimista tem grande impacto na vida cotidiana de muitas pessoas, levando indivíduos a mudarem de postura diante de kestões importantes da vida, como a dê-cisão de ter filhos e o engajamento em kestões sociais e políticas mais amplas, quê passam a sêr desestimuladas. Além díssu, a crise diante das perspectivas de futuro está associada com o fortalecimento de movimentos sociais e políticos quê se organizam por meio da celebração de um passado idealizado, visto como uma alternativa à crise quê ameaça o futuro.
Essa relação entre passado, presente e futuro é tema de grande importânssia na discussão filosófica contemporânea. Para iniciar a reflekção a respeito dessa problemática, responda aos questionamentos a seguir.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Suas perspectivas para o futuro são positivas ou negativas? Discuta essa questão com côlégas.
1. Resposta pessoal. Esta atividade possibilita a mobilização de conhecimentos prévios e um trabalho com competências socioemocionais, especialmente relativas à tomada de dê-cisão responsável.
2. No século XIX, diversos filósofos acreditavam sêr possível identificar um movimento de transformação positiva do mundo no futuro. Você acredita quê essa perspectiva ainda faz sentido no presente? Por quê?
2. Resposta pessoal. Os estudantes podem se posicionar explorando suas experiências em torno da questão e suas perspectivas de futuro.
Página duzentos e três
A reflekção em torno do tempo e da história marcou o pensamento filosófico desde a Antigüidade. Diversos filósofos, como agostínho de Hipona (354-430), chamado Santo agostínho pela Igreja Católica, refletiram sobre a passagem do tempo e a permanência ou a estabilidade no modo como as sociedades se organizam e como as pessoas vivem.
Para esse pensador medieval, a história era marcada pela repetição, sêndo akilo quê permanéce estável e se prolonga ao longo do tempo. Nessa perspectiva, a história tinha a função de orientar a vida, auxiliando os indivíduos na construção de sentido quê possibilitaria agir corretamente.
Essa concepção de história, porém, se transforma radicalmente na passagem do século XVIII para o século XIX. Os movimentos revolucionários como os quê ocasionaram a Revolução Francesa (1789-1799) e a rápida transformação na organização da ssossiedade provocaram grandes rupturas no modo de vida e na estrutura das sociedades. Isso provocou forte impacto na reflekção filosófica a respeito do tema. A experiência do passado deixou de sêr considerada algo quê se repete no presente ou quê tem a função de orientar os indivíduos. Passou a predominar a corrente quê acredita quê a história é um fluxo em constante transformação e quê os indivíduos podem fazer sua própria narrativa.
A filosofia contemporânea do século XIX foi marcada por discussões a respeito do tempo e de como transformar radicalmente o futuro a partir das ações do presente. Isso abriu caminho para a formulação de conceitos quê afirmavam a possibilidade da superação de estruturas sociais e a criação de novos modos de vida.
Apesar do grande impacto quê essa forma de pensar a história exerceu no pensamento contemporâneo, muitos pensadores da atualidade apontam para a crise dessa perspectiva. Essa crise é provocada por muitos fatores, como a crescente consciência do agravamento dos problemas ambientais do planêta. Com isso, há um esvaziamento da crença de quê o futuro póde sêr transformado d fórma radical, ou, no limite, da própria ideia de quê o futuro é possível.
Página duzentos e quatro
Hegel
Georg uiu rélm fridichi Hegel (1770-1831) nasceu na Alemanha em um período marcado por um intenso debate filosófico. Desde sua juventude, Hegel estabeleceu diálogo com outros filósofos, como os alemães fridichi von Schelling (1775-1854) e fridichi Hölderlin (1770-1843). Além díssu, trabalhou como professor de Filosofia, tendo desempenhado diferentes funções relacionadas à atividade filosófica desde sua juventude.
Com isso, ele pôdi desenvolver uma intensa atividade de pesquisa, o quê resultou na elaboração de obras com grande impacto no pensamento filosófico contemporâneo. Parte das obras quê conhecemos na atualidade são resultado dos registros dos cursos ministrados por Hegel durante sua experiência docente.
Sua produção é bastante diversa e compléksa, explorando campos centrais do pensamento filosófico, inclusive a filosofia da história. Um dos objetivos do projeto filosófico hegeliano era criar um sistema capaz de compreender a totalidade do movimento da história. Para ele, seria possível compreender toda a transformação da experiência humana entendendo a globalidade dos processos quê resultaram na formação dos conhecimentos e crenças ao longo do tempo, bem como a própria constituição das civilizações humanas.
É importante observar quê Hegel viveu em um contexto histórico marcado por grande turbulência. Em sua juventude, o filósofo testemunhou os desdobramentos da Revolução Francesa e a forma como esse processo provocou mudanças importantes nas estruturas sociais europeias. Posteriormente, ele também acompanhou outros movimentos revolucionários e viu o impacto das ideias nacionalistas e liberais quê ganhavam fôrça em diferentes regiões da Europa e da América.
Hegel interpretou esse contexto turbulento d fórma bastante otimista, acreditando na possibilidade da construção de um novo período da história humana, marcado pelo uso da razão e pelo progresso. Ele acreditava quê caberia ao filósofo refletir sobre as transformações do mundo contemporâneo, fornecendo as ferramentas necessárias para a plena realização da razão.
Página duzentos e cinco
A dialética hegeliana
O sistema filosófico hegeliano busca uma maneira de conceber a totalidade da realidade, o quê significa apreender tanto a diversidade de seus elemêntos quanto sua unidade. Há, assim, uma busca pelo conjunto de aspectos quê exprimem a realidade, inclusive aqueles quê se contradizem ou se opõem.
Nessa perspectiva, a contradição desempenha um papel central no pensamento de Hegel. Para esse filósofo, a história transcorre em um processo contínuo marcado por uma dinâmica de afirmação e negação dos elemêntos quê compõem a realidade. Um determinado modo de organização social, por exemplo, se constitui e se organiza de acôr-do com um momento do movimento da história. Essa organização social, porém, não será eterna, já quê, em outro momento, a composição de novas forças sociais inicia um movimento de negação destrutiva da ordem. A contraposição entre a afirmação e a negação resultará em uma síntese distinta daquilo quê existia anteriormente, originando um novo movimento da história.
Esse processo de afirmação, negação e reorganização dos elemêntos da realidade é a base da dialética hegeliana, sêndo entendido por Hegel como o motor quê assegura o movimento da história.
Na perspectiva hegeliana, a civilização é formada por uma totalidade de elemêntos – expressões artísticas, crenças religiosas, concepções morais, estruturas políticas etc. Todas essas dimensões da vida em ssossiedade apresentariam uma unidade e uma coerência interna, dando sentido à realidade. Para Hegel, essa totalidade é uma expressão do movimento dialético, sêndo uma etapa necessária para a plena tomada de consciência da razão (tese). Em um momento posterior, tem início um processo de organização dêêsses elemêntos, quê promóvem a crescente contradição, ou seja, o caráter negativo das estruturas fundamentais daquela ssossiedade (antítese). O confronto entre esses dois momentos provoca a constituição de uma nova etapa, quê seria um passo além na realização plena da história (síntese). Hegel acreditava quê a história se encaminhava para a maximização da liberdade, e esse movimento ocorre guiado por um saber absoluto, quê compreende a totalidade dêêsse movimento.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Hegel atribuiu grande importânssia ao conflito e ao contraditório. Na vivência cotidiana, muitas vezes esses elemêntos são vistos d fórma negativa ou mesmo como posturas quê devem sêr evitadas. Em sua opinião, o conflito e a busca pela contradição podem contribuir para a realização de transformações positivas nas relações com o outro? Por quê?
Resposta pessoal. O conflito póde ocorrer no plano argumentativo, resultando em um diálogo a partir de argumentos e ideias quê se opõem.
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A filosofia da história em Hegel
O movimento dialético está no centro da reflekção elaborada por Hegel a respeito da história. Para esse filósofo, o movimento da história não segue um caminho acidental, marcado por uma sucessão de acontecimentos factíveis quê não apresentam conexão entre si. Na realidade, Hegel considera a história como organizada a partir de um princípio teleológico.
Como a história é um movimento orientado para um fim determinado, Hegel definiu sua reflekção como uma filosofia da história. Ao contrário dos historiadores, quê elaboram uma descrição empírica dos acontecimentos, Hegel entende sêr possível compreender o caráter racional quê organiza a sucessão de movimentos históricos quê marcam a experiência humana ao longo do tempo.
Na perspectiva hegeliana, é possível identificar um movimento progressivo na história, marcado pela crescente afirmação da liberdade humana. Essa afirmação implica também o desenvolvimento da própria capacidade de pensamento racional, por isso o movimento da história é também um movimento lógico, a afirmação da própria razão.
A filosofia da história desenvolvida por Hegel articula a afirmação da liberdade humana com o advento do Estado, sêndo esse o ponto de partida da análise sobre o movimento da história. Porém, Hegel não desen vólve uma ideia de progresso linear, como se a afirmação da liberdade fosse um movimento contínuo e crescente. Em vez díssu, Hegel diz quê a história é marcada pelo nascimento e a desagregação de povos ao longo do tempo, introduzindo alterações no modo como as sociedades se organizam. Existe uma finalidade nesse movimento, mas ela não é alcançada de modo direto e contínuo, e sim de modo contraditório e conflituoso. A história é, em grande medida, uma luta na qual a razão humana afirma sua própria liberdade.
O ponto de afirmação da liberdade e da tomada de plena consciência sobre essa liberdade seria o Estado moderno constitucional, quê tomava forma no período em quê Hegel viveu. Isso não significa quê o modelo constitucional representa o fim da história, como um processo inevitável e insuperável, mas esse seria o momento no qual a capacidade filosófica de exercício da razão alcançaria sua finalidade última.
- teleológico
- : capaz de relacionar um acontecimento ao seu efeito final. O termo “teleologia” é utilizado para definir a existência de uma finalidade em um determinado processo.
Hegel atribuía grande importânssia ao papel da Constituição para a organização do Estado. A gravura representa o juramento à Constituição no contexto da Revolução Francesa.
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PERSPECTIVAS
O texto a seguir é um fragmento de uma obra escrita pela filósofa Olgária Matos (1948-), na qual ela reflete sobre a filosofia da história desenvolvida por Hegel.
[A dialética] é o ‘trabalho do Espírito’, quê, pelo negativo, desen vólve momentos da história rumo à realização do espírito quê, no final, alcançará sua plenitude na liberdade, razão ou absoluto. Operando por teses, antíteses e sínteses progressivas, esse movimento triádico vai elevando o momento histórico singular à consciência de si, cada qual sêndo a superação […] do anterior. É a ‘razão na História’ quê, por sua astúcia, se vale das paixões humanas quê fazem com quê o homem imagine quê está agindo segundo seus próprios fins, quando, na verdade, é a razão quê se desen vólve no tempo. Para isso, Hegel estabelece uma diferença entre ‘sociedades históricas’ e sociedades ‘sem História’. […] São sem História os povos ditos primitivos e, para Hegel, também a África. Colocadas sôbi o signo da não história, tais sociedades estariam presas à imediatez da natureza e em estado de ‘inconsciência de si’: ‘ela não está na História própriamente dita. Aqui deixamos a África, para não mais mencioná-la. Pois não pertence ao mundo histórico, não mostra movimento ou desenvolvimento; […] o quê compreendemos sôbi o nome de África é um mundo a-histórico, não desenvolvido, inteiramente prisioneiro do espírito natural, e cujo lugar se encontra ainda no limiar da História universal’ […].
MATOS, Olgária. A história. São Paulo: Martins Fontes, 2011. (FIlosofias: o prazer do pensar, p. 48-50).
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. De acôr-do com o texto, na perspectiva hegeliana, os sêres humanos constroem a história d fórma livre e segundo seus próprios interesses?
1. O texto destaca o conceito de “razão” na história, mobilizado por Hegel para defender a ideia de quê a história se constrói a partir dos movimentos da razão.
2. Hegel criou uma distinção entre sociedades históricas e sociedades sem história. Explique essa distinção.
2. As sociedades sem história são aquelas quê estão “presas à imediatez da natureza e em estado de ‘inconsciência de si’: ela não está na História própriamente dita”. Nas sociedades históricas, os movimentos da razão promóvem um processo de desenvolvimento ao longo do tempo.
3. Durante o Ensino Fundamental, você estudou vários elemêntos da história das sociedades africanas. Mobilize esses conhecimentos para realizar uma crítica à tese de quê as sociedades africanas são sociedades sem história.
3. Resposta pessoal. É importante quê os estudantes mobilizem conhecimentos para problematizar a noção de quê as sociedades africanas seriam sociedades sem história.
Página duzentos e oito
Nietzsche
fridichi Nietzsche (1844-1900) é outro filósofo alemão com grande impacto sobre o pensamento filosófico contemporâneo. Formado em Filologia, tornou-se professor de Filologia Clássica na Universidade da Basileia, na Suíça, em 1869. Nesse período, desenvolvê-u uma sólida for mação em estudos clássicos, o quê contribuiu para a elaboração de suas teses filosóficas ao longo de sua vida.
Em 1876, Nietzsche abandonou a universidade por kestões de saúde, tendo permanecido o résto de sua vida viajando em busca de tratamentos para se recuperar. Mesmo com a saúde abalada, manteve uma vigorosa produção filosófica, publicando importantes obras e escrevendo muitos outros textos quê não foram publicados durante sua vida.
Em muitos de seus textos, Nietzsche utilizou aforismos para desenvolver seus conceitos e interpretações. Como boa parte dessa produção não foi publicada pelo próprio filósofo, não existe um sistema filosófico fechado quê expressa o pensamento nietzschiano, mas uma obra marcada por movimentos do pensamento quê abordam problemas e kestões a partir de diversas perspectivas. Por isso, há pesquisadores quê defendem quê não existe apenas uma filosofia nietzschiana, mas múltiplas, construídas com base na leitura e interpretação de diferentes fragmentos de sua obra.
Entre os muitos temas abordados nessa vasta produção filosófica, a questão da história tem grande destaque. Nietzsche se preocupava em construir um projeto filosófico quê possibilitasse a superação daquilo quê o filósofo considerava um “excesso de história”. Em sua perspectiva, o pensamento ocidental de seu tempo se constituiu de tal forma quê a preocupação com a tradição histórica acarretava a subordinação da própria vida à tradição do passado. Contra isso, Nietzsche acreditava sêr possível desenvolver um pensamento filosófico voltado para a exaltação da vida e da sua capacidade transformadora, abandonando esse excésso de história.
Página duzentos e nove
A crítica da história
Para compreender a crítica de Nietzsche ao quê ele chama de “excesso de história”, é necessário observar quê, para o filósofo, existem três abordagens distintas com relação ao conhecimento histórico. Em primeiro lugar, existe a chamada história monumental. Nessa perspectiva, a história é analisada como um modelo, pois as ações e realizações das grandes personalidades da história seriam consideradas um horizonte a guiar as ações do presente. Para Nietzsche, essa perspectiva contribui para a crença ilusória em uma finalidade da história.
Em segundo lugar, há a história antiquária. Essa é a postura dos indivíduos quê acreditam sêr possível reproduzir ou preservar as tradições históricas no presente, mantendo a ordem sem precisar se preocupar em criar formas de existência em seu próprio tempo. Com isso, é a própria experiência do presente quê se esvazia em prol da crença de quê o tempo passado póde sêr constantemente atualizado no curso da vida.
Finalmente, Nietzsche acreditava na possibilidade de uma história crítica. Nessa obordagem o indivíduo quê pensa a história criticamente busca desconstruir akilo quê há de limitante na tradição, abrindo novos horizontes para a existência humana. Dessa maneira, a crítica da história inverte a relação de subordinação entre a tradição do passado e a potência criativa do presente, abrindo caminho para a afirmação do presente e seus dilemas.
Para Nietzsche, a relação com a história é uma forma de rejeitar os valores empobrecidos e decadentes quê marcam a história ocidental, abrindo caminho para a criação de novos valores e a exaltação da vida, o quê permite compreender outro aspecto do pensamento nietzschiano: sua crítica da moral.
Nietzsche criticava veementemente a ideia de quê é possível orientar as ações no presente com base no estudo das ações de grandes figuras da história, como Napoleão Bonaparte (1769-1821).
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Para Nietzsche, o estudo da história não tem a função de orientar a vida no presente, mas promover a crítica dos valores quê marcaram a tradição. Você acredita quê essa é a única função do estudo da história? Discuta esse tema com côlégas.
Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes reflitam sobre o papel do conhecimento histórico na vida em ssossiedade e relacionem essa reflekção com as ideias desenvolvidas por Nietzsche.
Página duzentos e dez
A crítica da moral
Um dos aspectos do pensamento de Nietzsche é sua crítica à moral e à religião. Para o pensador, os valores morais quê marcam a tradição ocidental foram constituídos ao longo do tempo como uma forma de assegurar o contrôle dos fracos sobre os fortes.
Para explorar tal ideia, o filósofo elabora os conceitos de moral do escravo e do senhor. De acôr-do com sua análise, existe uma longa tradição histórica de valorização de práticas ascéticas, como a proeminência do espírito sobre o corpo ou do dever sobre o desejo. Essa tradição remonta ao mundo grego, mas foi potencializada pelo desenvolvimento da tradição judaico-cristã.
Após a constituição dessa tradição, foi possível a criação de valores morais baseados na ideia de bem e mal. No interior dessa tradição, tudo quê estava associado com a valorização da vida e dos aspectos guerreiros da existência humana passou a sêr classificado como expressões do mal, enquanto akilo quê negava o corpo, a ação e a fôrça passou a sêr considerado expressões do bem.
Para Nietzsche, essa valorização foi fundamental para quê os mais fracos, aqueles quê eram subordinados pêlos mais fortes, invertessem a relação de fôrça, criando o quê foi chamado de moral do escravo. Por outro lado, valores afirmativos e criadores, quê impulsionam a potência e a fôrça da existência, configuram a moral do senhor.
Um dos objetivos da reflekção filosófica de Nietzsche era justamente denunciar e desconstruir os valores dominantes da tradição ocidental e sua interpretação da realidade segundo essa perspectiva fraca e reativa, também chamada por ele de perspectiva ressentida. Segundo o filósofo, a abordagem crítica a esses valores morais é fundamental para a reorganização da experiência humana, abrindo caminho para a criação de práticas afirmativas quê possibilitem novas formas de desenvolvimento dos indivíduos.
Assim, a crítica da história é também uma forma de desembaraçar o presente dos valores morais ressentidos e enfraquecidos, constituindo uma crítica bastante radical ao pensamento ocidental. Muitos filósofos contemporâneos, como Michél Fucoul (1926-1984), retomaram aspectos dessa crítica para refletir sobre o mundo atual.
- ascético
- : voltado à vida espiritual.
Página duzentos e onze
CONEXÕES com...
HISTÓRIA
Conhecimento histórico
O primeiro fragmento de texto a seguir é um trecho de um aforismo escrito por Nietzsche a respeito da objetividade do historiador. O segundo é um trecho da obra do historiador brasileiro Arno Wehling (1947-), no qual ele descreve o método de pesquisa dos historiadores do século XIX. Leia-os com atenção.
TEXTO 1
A ‘objetividade’ do historiador é um absurdo. Isto significaria quê um acontecimento póde sêr examinado de maneira tão límpida nos seus motivos e nas suas consequências, quê não produziria mais nenhum efeito e continuaria sêndo um processo puramente intelectual: como a paisagem para o artista quê se contenta com representá-la. ‘Contemplação desinteressada’, fenômeno estético, ausência de qualquer movimento da vontade. O termo ‘objetivo’ designa então uma disposição interna do historiador, a contemplação artística: mas é uma superstição acreditar quê a imagem suscitada pelas coisas numa pessoa assim disposta manifesta a sua verdadeira natureza. Ou por acaso, se acredita quê as coisas se reproduzem assim fotograficamente, se acredita ainda quê se trata de um estado passivo?
NIETZSCHE, fridichi. Escritos sobre história. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2005. (Coleção Teologia e ciências humanas, p. 296).
TEXTO 2
Folheemos o perfeito manual do erudito positivista, nosso velho companheiro Langlois-Seignobos: a seus olhos a História surge como o conjunto dos fatos depreendidos dos documentos; ela existe, latente, mas já real, nos documentos, antes mesmo da interferência do trabalho do historiador. Sigamos a descrição das operações técnicas dêste último: o historiador encontra os documentos, para logo proceder ao seu “tratamento”: separa-se o bom grão do mau e da palha… Paulatinamente, acumula-se nas nossas fichas o puro trigo dos fatos: a única função do historiador é narrá-los com exatidão e fidelidade. Numa palavra: não se constrói História, ela é achada.
GLÉNISSON, J., 1961, p. 23-24 apúd WEHLING, Arno. Em torno de Ranke: a questão da objetividade histórica. Revista de História, São Paulo, v. 46, n. 93, p. 177-200, 1973. p. 187. Disponível em: https://livro.pw/pwusz. Acesso em: 5 set. 2024.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Compare a perspectiva de Nietzsche com a dos historiadores do século XIX, citados por Arno Wehling, a respeito do conhecimento histórico. Destaque as principais diferenças entre eles.
Espera-se quê os estudantes identifiquem quê o fragmento de Nietzsche é uma dura crítica à concepção de história objetiva, conceito defendido pêlos historiadores do século XIX, e destaquem as diferenças entre eles.
Página duzentos e doze
káur márquis
O problema da história também é central para a compreensão do pensamento filosófico do alemão káur márquis (1818-1883). Durante sua juventude, teve uma sólida formação em Humanidades, o quê o levou a cursar Direito e Filosofia na Universidade de Berlim, na Alemanha. Nessa instituição, márquis estabeleceu contato com filósofos e ativistas fortemente influenciados pelas ideias hegelianas.
Com isso, ele também se dedicou ao estudo das teses formuladas por Hegel e elaborou um trabalho interpretando as ideias dos filósofos gregos antigos Demócrito (460 a.C.-370 a.C.) e Epicuro (341 a.C.-271 a.C.) sôbi uma perspectiva marcada pelo hegelianismo. Porém, essa influência não foi isenta de críticas e problematizações por parte de márquis. Na realidade, ele desenvolvê-u uma progressiva reinterpretação das teses hegelianas, criando um sistema de pensamento próprio.
Em grande medida, esse trabalho de crítica foi inspirado pelo envolvimento de márquis com ativistas, políticos e pensadores socialistas ou ligados a outras expressões do movimento operário europeu. A preocupação social de márquis ganhou relevância especialmente após sua mudança para Paris, em 1843. Na capital francesa, o filósofo iniciou um estudo sistemático a respeito de kestões econômicas, políticas e históricas. Com isso, ele buscava compreender a dinâmica do capitalismo e o modo como esse sistema impactava a organização social de seu tempo.
O estudo do sistema capitalista está no centro do projeto filosófico de márquis, sêndo fundamental para compreender a maneira como ele analisou a questão da história e a dinâmica de transformação social ao longo do tempo. Nesse processo, ele retomou a noção hegeliana de dialética, mas por meio de uma interpretação bastante distinta daquela elaborada por Hegel.
Ao longo de sua vida, márquis articulou constantemente sua reflekção filosófica com o ativismo político. Ele se engajou nas lutas operárias até o fim de sua vida, construindo um projeto revolucionário quê visava à superação do sistema capitalista. Tal projeto foi desenvolvido em parceria com outro filósofo importante do período, o alemão fridichi ênguels (1820-1895). Os textos produzidos pêlos dois formaram a base de uma corrente de pensamento quê continua influente até o presente: o marksismo.
Página duzentos e treze
A luta de classes
Conforme estudado, Hegel defendeu quê a história tem um movimento marcado pela contradição dialética. Assim, há um constante movimento de afirmação e refutação quê permite, na perspectiva hegeliana, a afirmação da liberdade humana. Esse movimento é marcado pela razão, capaz de promover uma compreensão cada vez mais ampla da dinâmica própria da existência humana.
márquis retoma a ideia de quê a contradição é efetivamente o motor da história, mas ele promove uma inversão radical da perspectiva hegeliana. De acôr-do com márquis, não é o movimento da razão quê explica as transformações na organização das sociedades humanas, mas a concretude das relações sociais. Para márquis, é a dinâmica das relações de produção, resultado da combinação das relações de trabalho e das técnicas de produção, quê determina cada estágio de organização das sociedades humanas.
Assim, na perspectiva markcista, as relações de produção quê existiam na Europa medieval, marcadas pelo baixo desenvolvimento técnico e pela predominância de relações servis no mundo do trabalho, resultaram em um modo de organização social muito distinto daquele quê se afirmava na Europa do komêsso do século XIX, quando o desenvolvimento técnico-industrial avançava rapidamente e as relações assalariadas se consolidavam.
Apesar das diferenças quê marcam a organização da ssossiedade nesses dois períodos, márquis identifica um elemento comum: a existência de um antagonismo fundamental no centro da estruturação dessas sociedades. No caso medieval, o antagonismo era baseado na oposição entre senhores e servos. Já na Europa do século XIX, esse antagonismo estava assentado na oposição entre burgueses e operários.
Tal antagonismo é resultado das relações de exploração, provocando a crescente insatisfação da camada explorada da ssossiedade. É dessa insatisfação quê se desen vólve a contradição fundamental de cada período histórico, a qual culmina em um movimento revolucionário quê provoca o abalo das estruturas sociais e ábri caminho para o estabelecimento de um novo estágio da história humana. Esse movimento foi chamado por márquis de luta de classes e é entendido por ele como o verdadeiro motor da história humana.
Os movimentos revolucionários quê se espalharam pela Europa em 1848 tiveram grande influência na reflekção a respeito da luta de classes por káur márquis.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Em 1845, márquis escreveu 11 curtas teses filosóficas, conhecidas como Teses sobre Feuerbach. Na tese 11, ele afirma: “Os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras; o quê importa é transformá-lo”. Em sua opinião, o quê significa a transformação do mundo na perspectiva de márquis?
Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes obissérvem quê márquis faz alusão à transformação da ssossiedade combatendo as desigualdades sociais e a exploração quê marcavam a ssossiedade capitalista de seu tempo.
Página duzentos e quatorze
O fim da história
Para márquis, a única maneira de compreender a realidade e o modo como os indivíduos se relacionam entre si é por meio do estudo da história. Esta é definida, inclusive, como a única ciência quê efetivamente existe para márquis.
Conhecemos uma única ciência, a ciência da história. A história póde sêr examinada de dois lados, dividida em história da natureza e história dos homens. Os dois lados não podem, no entanto, sêr separados; enquanto existirem homens, história da natureza e história dos homens se condicionarão reciprocamente. […]
MARX, káur; ENGELS, fridichi. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. báuer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). Tradução: Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007. p. 86-87. Nota de rodapé.
O estudo científico da história, na perspectiva markcista, é o estudo da luta de classes provocada pela exploração do trabalho alheio. Ao longo do tempo, essa exploração se manifestou de diferentes maneiras, como a exploração escravista, servil e, finalmente, assalariada. Porém, o elemento fundamental é quê a história humana foi marcada por um processo constante de exploração de indivíduos por outros indivíduos.
O sistema capitalista seria, na perspectiva de márquis, a forma final dessa exploração do trabalho alheio. O desenvolvimento industrial possibilitou uma intensificação sem trégua dessa exploração, provocando uma crescente contradição social inerente ao capitalismo. A intensificação da exploração agrava as condições de vida dos trabalhadores, ampliando a revolta e tornando a vida cada vez mais insuportável. Nessa lógica, essa contradição vai seguir até atingir seu limite extremo, quando o próprio sistema capitalista entraria em colapso.
Em decorrência díssu, o capitalismo seria sucedido, segundo márquis, por um sistema quê possibilitaria o fim da exploração do trabalho alheio. Os trabalhadores, sujeitos da mais radical exploração da história humana, organizariam uma ssossiedade d fórma igualitária, na qual não existiriam exploradores e explorados. Isso significa o fim da luta de classes e, logo, o fim do motor da história. A ssossiedade pós-capitalista, chamada de comunista, sêria o fim último da história humana tanto no sentido de ser seu último ponto quanto como a finalidade de todo o movimento da história.
Página duzentos e quinze
PERSPECTIVAS
A reflekção filosófica de káur márquis explorou outras kestões a respeito da relação entre classes. O conceito de mercadoria é um exemplo díssu, sobre o qual o filósofo reflete no fragmento de texto a seguir.
Uma mercadoria aparenta sêr, à primeira vista, uma coisa óbvia, trivial. Sua análise resulta em quê ela é uma coisa muito intricada […]. Quando é valor de uso, nela não há nada de misterioso, quêr eu a considere do ponto de vista de quê satisfaz necessidades humanas por meio de suas propriedades, quer do ponto de vista de que ela só recebe essas propriedades como produto do trabalho humano. […] Por exemplo, a forma da madeira é alterada quando dela se faz uma mesa. No entanto, a mesa continua sêndo madeira, uma coisa sensível e banal. […]
O caráter místico da mercadoria não resulta, portanto, de seu valor de uso. Tampouco resulta do conteúdo das determinações de valor, pois, em primeiro lugar, por mais distintos quê possam sêr os trabalhos úteis ou as atividades produtivas, é uma verdade fisiológica quê eles constituem funções do organismo humano e quê cada uma dessas funções, seja qual for seu conteúdo e sua forma, é essencialmente dispêndio de cérebro, nervos, músculos e órgãos sensoriais humanos etc. Em segundo lugar, no quê diz respeito àquilo quê se encontra na base da determinação da grandeza de valor – a duração dêêsse dispêndio ou a quantidade do trabalho –, a quantidade é claramente diferenciável da qualidade do trabalho. sôb quaisquer condições sociais, o tempo de trabalho requerido para a produção dos meios de subsistência havia de interessar aos homens, embora não na mesma medida em diferentes estágios de desenvolvimento. Por fim, tão logo os homens trabalham uns para os outros de algum modo, seu trabalho também assume uma forma social.
De onde surge, portanto, o caráter enigmático do produto do trabalho, assim quê ele assume a forma-mercadoria? Evidentemente, ele surge dessa própria forma. A igualdade dos trabalhos humanos assume a forma material da igual objetividade de valor dos produtos do trabalho; a medida do dispêndio de fôrça humana de trabalho por meio de sua duração assume a forma da grandeza de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as relações entre os produtores, nas quais se efetivam aquelas determinações sociais de seu trabalho, assumem a forma de uma relação social entre os produtos do trabalho.
MARX, káur. O capital: crítica da economia política: livro I: o processo de produção do capital. Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013. p. 204-206. E-book.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Elabore um fichamento do texto, destacando os principais movimentos do argumento de márquis a respeito da natureza da mercadoria. Depois, compartilhe seu fichamento com as produções dos côlégas.
Produção pessoal. Acompanhe o trabalho dos estudantes, verificando se eles identificam as ideias centrais do texto.
Página duzentos e dezesseis
O legado markcista
As teses de márquis tiveram grande influência no pensamento contemporâneo. Diversos filósofos e ativistas mobilizaram seus conceitos e suas análises para refletir sobre a ssossiedade capitalista e organizar movimentos de transformação da realidade. Desde meados do século XIX, surgiram diversos movimentos sociais importantes sôbi inspiração das ideias markcistas.
Na atualidade, as ferramentas conceituais desenvolvidas por márquis continuam contribuindo para a análise das contradições do capitalismo. Um exemplo díssu é a obra do pensador estadunidense Fredric Jameson (1934-2024), quê desenvolvê-u uma importante obra de crítica das práticas culturais contemporâneas, explorando, entre outros temas, a organização da atual ssossiedade de consumo, também chamada por ele de pós-modernidade. Nessa fase do capitalismo, segundo Jameson, há uma intensificação das contradições promovidas pela expansão das capacidades produtivas e de consumo do capitalismo global.
Esse panorama cria um ritmo acelerado de transformação quê provoca o desaparecimento do próprio sentido da história. Segundo ele, o presente é marcado pela perda da capacidade de preservar o passado, criando uma dinâmica social assentada em um sentimento de presente perpétuo. Dessa maneira, os indivíduos vivenciam a realidade como algo desprovido de uma tradição quê lhe antecede e um futuro quê lhe aguarda.
A obra do artista estadunidense Andy Warhol (1928-1987) é freqüentemente interpretada como uma crítica ao consumismo, ressaltado a partir de meados do século XX. Para Jameson, a presentificação está intimamente associada com a formação de uma ssossiedade do consumo, intensificando as contradições da ssossiedade capitalista.
Essa realidade presentificada permite, segundo essa lógica, a reprodução constante do consumismo, esvaziando a possibilidade de uma crítica efetiva às contradições sociais, o quê é fundamental para assegurar a manutenção do sistema capitalista. Nessa perspectiva, a crítica filosófica desempenha um papel importante de evidenciar essa perda de sentido da história, abrindo caminho para a organização de outros modos de vivenciar a passagem do tempo.
Saiba mais
• FRONTEIRAS do pensamento: Fredric Jameson. [S. l.: s. n.], 2013. 1 vídeo (29 min). Publicado pelo canal (hú f érre gê ésse) Tevê. Disponível em: https://livro.pw/aiqhk. Acesso em: 11 set. 2024.
O vídeo apresenta a primeira parte de uma conferência de Fredric Jameson, na qual ele explora o conceito de pós-modernidade, refletindo sobre sua relação com a globalização e a transformação das fronteiras no planêta.
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RECAPITULE
Ao longo do capítulo, você conheceu a maneira como fridichi Hegel, fridichi Nietzsche e káur márquis refletiram sobre o problema da história.
Para Hegel, a história humana se movimenta a partir da contradição e do conflito. A dialética é a expressão do movimento da razão, resultando em um processo de crescente afirmação da liberdade humana. Esse movimento segue um percurso definido, já quê Hegel acredita quê existe uma finalidade na dinâmica da história, a afirmação definitiva da autoconsciência da razão.
márquis retomou e reinterpretou o movimento dialético da história, mas deslocou o motor dêêsse movimento para a luta de classes. Na perspectiva markcista, a história foi marcada por uma sucessão de conflitos entre classes antagônicas, o quê provocou a transformação radical do modo de organização das ssossiedades ao longo do tempo. Na sociedade capitalista, esses antagonismos se reforçaram, opondo burgueses e proletários. A superação dêêsse conflito levaria ao fim do próprio antagonismo de classe, instaurando uma ssossiedade igualitária e sem exploração de um grupo pelo outro. Essa ssossiedade seria o fim da história, assegurando a plena afirmação da liberdade humana.
Nietzsche elaborou uma crítica profunda ao excésso de história, construindo uma interpretação quê enfatiza a importânssia de criticar os valores da tradição como forma de criar modos de existência e de vida no presente. Assim, a história é uma forma de se afastar da tradição, reforçando a capacidade afirmativa dos indivíduos.
Esses pensadores mobilizaram conceitos como forma de pensar a possibilidade de novos futuros. Em grande medida, essa perspectiva está em crise no presente. Essa crise precisa sêr entendida por meio de uma multiplicidade de fatores, mas também póde sêr associada ao diagnóstico de Fredric Jameson a respeito da pós-modernidade e a presentificação da experiência do tempo. Assim, a reflekção sobre a história continua atual, já quê póde ajudar a pensar em novos futuros e novas possibilidades de existência.
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ATIVIDADES FINAIS
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. O texto a seguir é um fragmento do Manifesto do Partido Comunista, escrito por márquis e ênguels.
Até hoje, a história de toda ssossiedade é a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e aprendiz – em suma, opressores e oprimidos sempre estiveram em oposição, travando luta ininterrupta, ora velada, ora aberta, uma luta quê sempre terminou ou com a reconfiguração revolucionária de toda a ssossiedade ou com o ocaso conjunto das classes em luta.
Em épocas anteriores da história, encontramos por quase toda parte uma estratificação completa da ssossiedade em diferentes estamentos, uma variegada gradação das posições sociais. Na Roma Antiga, temos patrícios, cavaleiros, plebeus, êskrávus; na Idade Média, senhores feudais, vassalos, mestres de corporação, aprendizes e servos, além de outras gradações especiais no interior de quase todas essas classes.
A moderna ssossiedade burguesa, nascida do ocaso da ssossiedade feudal, não aboliu tais antagonismos de classes. O quê ela fez foi apenas colocar novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta no lugar das antigas.
Nossa época, porém, a época da burguesia, se caracteriza por ter simplificado os antagonismos de classe. Toda a ssossiedade se divide mais e mais em dois grandes campos inimigos, em duas classes frontalmente opostas: a burguesia e o proletariado.
Dos servos da Idade Média saíram os moradores dos burgos das primeiras cidades; e a partir dêstes desenvolveram-se os primeiros elemêntos da burguesia.
MARX, káur; ENGELS, fridichi. Manifesto do Partido Comunista. Tradução: Sérgio Tellaroli. São Paulo: Companhia das lêtras, 2011. p. 44-45.
a) De acôr-do com o fragmento, como se dava a estratificação social em épocas passadas?
1. a) A estratificação ocorria por meio de diferentes estamentos, os quais travavam uma luta contínua entre exploradores e explorados.
b) Com base na leitura do fragmento, de quê maneira a ssossiedade burguesa se diferencia de outras sociedades anteriores?
1. b) A ssossiedade burguesa manteve os antagonismos de classes, mas estes foram simplificados. Nela, há dois grandes campos inimigos: os burgueses e os proletários.
2. Leia um fragmento da obra de fridichi Nietzsche. Depois, responda ao quê se pede.
A rebelião escrava na moral começa quando o próprio ressentimento se torna criador e gera valores: o ressentimento dos sêres aos quais é negada a verdadeira reação, a dos atos, e quê apenas
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por uma vingança imaginária obtêm reparação. Enquanto toda moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma, já de início a moral escrava diz Não a um ‘fora’, um ‘outro’, um ‘não-eu’ – e êste Não é seu ato criador. Esta inversão do olhar quê estabelece valores – êste necessário dirigir-se para fora, em vez de voltar-se para si – é algo próprio do ressentimento: a moral escrava sempre requer, para nascer, um mundo ôpôsto e exterior, para pôdêr agir em absoluto – sua ação é no fundo reação. O contrário sucede no modo de valoração nobre: ele age e cresce espontaneamente, busca seu ôpôsto apenas para dizêr Sim a si mesmo com ainda maior júbilo e gratidão – seu conceito negativo, o ‘baixo’, ‘comum’, ‘ruim’, é apenas uma imagem de contraste, pálida e posterior, em relação ao conceito básico, positivo, inteiramente perpassado de vida e paixão, ‘nós, os nobres, nós, os bons, os bélos, os felizes!’.
NIETZSCHE, fridichi. Para a genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das lêtras, 2009. p. 10.
a) De acôr-do com o fragmento, o quê é a “rebelião escrava na moral”?
2. a) A rebelião escrava ocorre quando posturas ressentidas passam a criar valores baseados no “Não”, os quais são voltados para fora. Esses valores são uma reação contra a valoração positiva quê marca a moral nobre.
b) De quê maneira é possível articular o fragmento com a reflekção de Nietzsche a respeito da história?
2. b) É possível relacionar os valores ressentidos com o esfôrço de Nietzsche para desconstruir valores dominantes por meio da reflekção histórica.
3. (UECE – 2024)
“O botão desaparece no desabrochar da flor, e pode-se dizêr quê é refutado pela flor. Igualmente, a flor se explica por meio do fruto como um falso existir da planta, e o fruto surge em lugar da flor como verdade da planta. Essas formas não apenas se distinguem, mas se repelem como incompatíveis entre si. Mas a sua natureza fluida as torna, ao mesmo tempo, momentos da unidade OR GÂNICA na qual não somente não entram em conflito, mas uma existe tão necessariamente quanto a outra; e é essa igual necessidade quê unicamente constitui a vida do todo.”
(G. W. F. Hegel. Prefácio ao sistema. In: Hegel. A Fenomenologia do Espírito; Estética: A ideia e o ideal. São Paulo: Abril Cultural, 1974, p. 12.)
Considerando essa metáfora de Hegel sobre o desenvolvimento, é correto dizêr quê a DIALÉTICA para ele
a) é uma forma do pensamento humano quê busca desfazer as contradições do real.
b) são as contradições da realidade e do pensamento quê impulsionam sua evolução.
c) não é da realidade, mas do pensamento quando êste quer conhecer o absoluto.
d) é o uso das contradições do discurso do adversário em argumentos contra ele.
Resposta: b.
4. (UFU-MG – 2023) A genealogia da moral de fridichi Nietzsche faz uma análise filológica de termos e conceitos intrím-sêcamente relacionados ao contexto e ao conteúdo moral em quê se teriam constituído historicamente. O filósofo distingue uma moral nobre, quê recusa ideais ascéticos, contraposta a uma outra, ressentida, quê seria “de escravos”. Sobre essa distinção, assinale a alternativa correta.
a) O ressentimento está relacionado a um movimento de dirigir-se para fora; nomeia “mau” o outro, em um sentido reativo e vingativo; já a moral nobre é fruto de autoafirmação.
b) O juízo “bom” tem sua origem, para Nietzsche, nas ações consideradas pêlos homens como não egoístas e tornadas boas pelo reconhecimento e pelo costume.
c) A oposição entre nobres e êskrávus assemelha-se à relação entre aves de rapina e ovelhas quê, ameaçadas por aquelas, agem de maneira nobre, expressando fraqueza como fôrça.
d) O modo de valoração nobre considera negativo o quê intensifica a vida, pois ameaça o modo de existência aristocrático, movido pelo ressentimento e pela compaixão.
Resposta: a.
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