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Césio-137: uma ferida ainda aberta em Goiânia

Os materiais radioativos têm diversas aplicações no cotidiano: na produção de energia elétrica, no tratamento de doenças como o câncer, em exames médicos e em aparelhos radiológicos. Eles proporcionam vários benefícios, mas também podem causar acidentes. No Brasil, o maior acidente fora de uma usina nuclear aconteceu em Goiás com o elemento Césio-137, afetando mais de mil pessoas no total.

Transcrição do áudio para acessibilidade

[VINHETA DE ENTRADA]

[LOCUTORA]

Césio cento e trinta e sete: uma ferida ainda aberta em Goiânia.

[VINHETA DE INICIAÇÃO]

[LOCUTORA]

Boas-vindas novamente ao nosso podcast de ciências da natureza! Hoje, iremos falar sobre um incidente que aconteceu na cidade de Goiânia no fim da década de mil novecentos e oitenta com materiais radioativos. Acompanhe essa história.

[EFEITO SONORO DE SIRENE]

[MARI]

A vida de centenas de pessoas mudou para sempre em um dia comum na cidade de Goiânia. Era treze de setembro de mil novecentos e oitenta e sete. Começava um evento trágico, conhecido como o Acidente do Césio cento e trinta e sete, que marcou a história do local e se tornou um dos maiores desastres radiológicos do mundo. Dias antes, no prédio abandonado onde havia funcionado o Instituto Radiológico de Goiânia, dois rapazes acharam um velho equipamento médico desativado. Eles procuravam sucata para vender e esse objeto, pesando mais de cem quilos, seria a oportunidade de ganhar algum dinheiro. Tudo começou em um ferro-velho no centro de Goiânia, de propriedade de Devair Ferreira. Os catadores de sucata venderam ao Seu Devair o equipamento e, dentro da máquina, ele encontrou algo curioso: uma cápsula pesada com um brilho azul intenso. Sem saber que se tratava de uma fonte radioativa abandonada no edifício do Instituto Radiológico, Devair e mais alguns amigos manipularam o material, abriram a cápsula e espalharam o pó azul por toda parte. Aquele pó era cloreto de Césio cento e trinta e sete, um sal extremamente perigoso, composto por um isótopo radioativo do Césio. Devair levou um pouco do pó de coloração azul para casa e o mostrou para a mulher, Maria Gabriela. Dias depois, Seu Devair e Dona Maria Gabriela começam a apresentar sintomas típicos de exposição a alta radiação, como náusea, tontura, diarreia e vômito. O irmão de Seu Devair, Ivo Ferreira, foi fazer uma visita aos doentes e saiu de lá carregando um pouco do pó azul. Quando chegou em casa, apresentou aos filhos e à mulher aquele brilho novo. Aos poucos, muitas pessoas começaram a desenvolver os mesmos sintomas que o núcleo familiar de Seu Devair. Elas foram levadas inicialmente aos postos de saúde e hospitais de Goiânia. Primeiro, foram tratadas como se tivessem uma doença qualquer, afinal não se sabia ainda da contaminação por radiação. Foram dezessete dias desde a abertura da cápsula contendo Césio cento e trinta e sete, até a identificação da contaminação por radiação. Nesse meio-tempo, diversas pessoas haviam entrado em contato com o pó altamente radioativo. A notícia desse acidente se espalhou rápido. Então, o pânico tomou conta da cidade. As autoridades não sabiam como lidar com a situação. Muitos dias se passaram até a identificação da fonte da radiação e o início da contenção do material. Mais de mil pessoas foram contaminadas, muitas com graves sequelas de saúde. Quatro pessoas morreram em decorrência da exposição ao material radioativo. A área contaminada foi isolada. Casas foram demolidas e parte do solo foi removida.

[EFEITO SONORO DE RÉ DE CAMINHÃO]

[MARI]

Esse acidente gerou mais de seis mil toneladas de lixo radioativo, que foi depositado em quatorze contêineres. Esses contêineres foram enterrados no município de Abadia de Goiás, a vinte quilômetros de Goiânia, debaixo de uma parede de concreto e chumbo. Se não tivesse sido contido corretamente, o Césio cento e trinta e sete poderia ter provocado contaminação no solo por um longo período. Por se ligar facilmente às partículas do solo, ele poderia afetar a produção agrícola, o que colocaria em risco a saúde de animais e seres humanos que consumissem produtos cultivados na área contaminada. O Césio cento e trinta e sete poderia ter sido transportado pela água da chuva e por rios, contaminando lençóis freáticos e as fontes de água potável. Essa contaminação poderia causar diversos problemas de saúde, como câncer, doenças renais e problemas reprodutivos. Isso causaria a morte de animais, plantas e microrganismos, levando ao desequilíbrio dos ecossistemas e à perda de biodiversidade.

[EFEITO SONORO DE ATENÇÃO]

[MARI]

Nos seres vivos, e em especial nos seres humanos, a exposição à radiação do Césio-cento e trinta e sete pode provocar náuseas, vômitos, diarreia, queda de cabelo e, em casos graves, morte. A exposição de longo prazo pode levar ao desenvolvimento de câncer, doenças do sangue, problemas reprodutivos, doenças cardíacas, além de danos genéticos no DNA que podem ser transmitidos para as próximas gerações. Isso pode levar ao aumento de doenças congênitas e malformações em bebês. Esse acidente expôs falhas graves na destinação de materiais hospitalares. Medidas de segurança precárias, procedimentos ineficazes no descarte de materiais e a falta de informação da população contribuíram para a tragédia. Depois desse acidente, houve mudanças nas regras para o uso de fontes de radiação: não se pode mais utilizar pó em aparelhos radiológicos. O acidente com o Césio cento e trinta e sete causou um grande trauma na população de Goiânia. As vítimas e seus familiares sofreram com medo, ansiedade, depressão e outros problemas psicológicos. O acontecimento serviu de lição e, atualmente, temos protocolos de segurança mais rigorosos.

[VINHETA DE SEPARAÇÃO]

[MARI]

Como está Goiânia hoje? A região afetada pelo Césio cento e trinta e sete ainda carrega as marcas do acidente. O local continua isolado e é monitorado, e a memória das vítimas e dos sobreviventes é preservada em museus e memoriais. A tragédia serve como um lembrete constante da importância da segurança nuclear e da responsabilidade no manejo de materiais radioativos. As pessoas afetadas pelo acidente se uniram em uma associação para lutar pelos seus direitos. O governo começou a pagar pensões vitalícias para cerca de duzentas e cinquenta vítimas. Posteriormente, outras duas mil pessoas exigiram esses benefícios. Eram motoristas, bombeiros e policiais que haviam trabalhado nas unidades de emergência, expondo-se também à alta radiação.

[VINHETA DE ENCERRAMENTO DO ASSUNTO]

[MARI]

Esse episódio com Césio cento e trinta e sete em Goiânia foi um capítulo sombrio na história do Brasil, um evento que ensinou sobre os perigos da negligência e a importância da prevenção. A ferida ainda está aberta, mas a luta por justiça e reparação continua para que as vítimas e seus descendentes não sejam esquecidos.

[VINHETA DE CRÉDITOS]

[MARI]

Essa produção usou áudios de Yan Maran e Envato Elements. Voz de Mari Guedes.

Conhecer o grave acidente com o Césio-137 é um alerta para os cuidados na utilização e no descarte dos elementos radioativos e dos aparelhos que os contêm. Devemos ter consciência de que as consequências de um acidente com elementos radioativos podem se prolongar por muitos anos.