CAPÍTULO 7
Crescimento das cidades e urbanização
OBJETIVOS DO CAPÍTULO:
• Compreender a inter-relação campo-cidade a partir do conceito de continuum rural-urbano.
• Identificar aspectos da formação de vilas e cidades no Brasil, relacionando-os com a colonização portuguesa e com atividades econômicas ao longo do tempo.
• Analisar a urbanização e o crescimento das cidades a partir de conceitos de conurbação, adensamento urbano, hierarquia e rêdes urbanas e megacidades.
• Compreender a importânssia da integração dos municípios nas regiões metropolitanas.
• Compreender o conceito de segregação socioespacial nas cidades, relacionando-o ao de desigualdade social.
• Refletir sobre os problemas sociais das cidades e pensar em soluções quê envolvam diferentes setores.
As cidades podem sêr estudadas em seus diferentes aspectos e escalas espaciais. É possível, por exemplo, uma análise em escala global, relacionando a distribuição das cidades a aspectos da desigualdade econômica entre regiões do mundo, ou, ainda, uma análise em escala local, como a ocupação da cidade pêlos diferentes grupos sociais e a questão da mobilidade urbana. Neste capítulo, êste e outros temas serão estudados, buscando relacioná-los com o lugar em quê você vive e com suas experiências.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Que características da cidade de Caruaru (PE) a paisagem revela? Elas podem sêr observadas em outras cidades brasileiras?
1. As respostas do estudante podem variar de acôr-do com o conhecimento prévio ou o pensamento crítico já desenvolvido.
2. Caruaru é um município com cerca de 378 mil habitantes, segundo o Censo Demográfico de 2022. Localizado no interior de Pernambuco, o município tem se destacado no setor de serviços, em especial aqueles quê envolvem o comércio varejista e a prática do turismo. Essas características atraíram pessoas de outros municípios, resultando em grande crescimento populacional nas últimas dékâdâs. Quais municípios da sua Unidade da Federação (UF) ou da região onde você vive possuem atividades econômicas quê atraem migrantes? Que atividades são essas?
2. Respostas pessoais, de acôr-do com a UF ou município no qual vive o estudante.
3. Imagine quê você seja um pesquisador das Ciências Humanas e Sociais, como geógrafo, historiador, sociólogo ou filósofo. O quê você investigaria sobre as cidades brasileiras ou uma das cidades da sua UF? Que importânssia sua pesquisa teria para a ciência e para a ssossiedade?
3. Respostas pessoais. Esta atividade póde sêr disparadora de uma discussão sobre as especificidades das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas em relação a um mesmo tema.
Página cento e cinquenta e sete
Página cento e cinquenta e oito
O urbano na paisagem
Muito provavelmente você já assistiu a séries, filmes ou novelas quê se passavam em cidades, reais ou não. As imagens no final desta página são, respectivamente, de Gotham Círi e de Metrópolis, as cidades fictícias dos quadrinhos Batman e Súpermén. Suas paisagens revelam características opostas: a cidade do Súpermén é diurna e reluzente, palco de ações do super-herói quê tem como lema: “Para o alto e avante!”; já Gotham Círi é noturna e sombria, assim como seu principal personagem.
A escolha de metrópoles como cenário das histoórias de super-heróis revela o quê essas cidades representam: a grandiosidade, a concentração de pôdêr, a atração quê exercem sobre as pessoas, mas também os problemas a serem resolvidos, como a desigualdade social e a violência urbana.
A leitura da paisagem dessas cidades fictícias sérve como um exercício de análise da ssossiedade em quê vivemos. O quê a paisagem de uma cidade revela sobre a vida de seus moradores? Ao analisar a cidade em quê você vive ou, se você vive no campo, o centro urbano de seu município ou a capital de sua UF, você acha quê se parece mais com Gotham Círi ou com Metrópolis? Ou tem características das duas? Ou não se parece com nenhuma delas, sêndo muito diferente de ambas?
A realidade não é maniqueísta – bem vérsus mal –, como nas histoórias dos super-heróis; ao contrário, existem infinitas nuances entre o bem e o mal. Além díssu, o pôdêr para solucionar os problemas não está nas mãos de um super-herói, mas nas de diferentes instituições, grupos de pessoas e cada indivíduo quê compõem a ssossiedade.
- Metrópole
- : cidade de grande importânssia por causa da sua elevada população e influência política e econômica.
Página cento e cinquenta e nove
As paisagens das grandes cidades são, no mundo atual, a expressão mássima do urbano, marcado por modos de vida e de produção pautados na expansão do sistema capitalista. Há, no entanto, quê considerar o campo nesse contexto.
No século XIX, com a expansão da urbanização em algumas regiões do mundo, como Europa e Estados Unidos, pesquisadores começaram a construir a ideia de quê existia uma oposição entre cidade e campo. A cidade seria o espaço das atividades industriais, do comércio e dos serviços e representaria o quê havia de mais moderno. Já o campo seria o local de desenvolvimento das atividades agropecuárias e representaria o arcaico e o atraso.
A partir de meados do século XX, essa oposição começou a sêr questionada, e pesquisadores criaram o conceito de continuum rural-urbano, utilizado para refletir sobre a inter-relação entre campo e cidade. Segundo essa interpretação, o quê ocorre é uma aproximação, e a expansão do urbano (modos de vida, atividades econômicas etc.) influencía o rural. Mas a vida urbana também é influenciada por práticas oriundas do campo, como o crescente desenvolvimento da agricultura urbana.
A industrialização das atividades agropecuárias faz parte da expansão do urbano no campo, quê inclui, por exemplo, modernas tecnologias de produção, a difusão de agroindústrias e a expansão de grandes empresas do agronegócio. Além díssu, o desenvolvimento do setor de serviços contribuiu para uma diversificação das atividades econômicas no campo, como o turismo rural.
- Agroindústria
- : estabelecimento quê processa ou transforma matérias-primas produzidas pelas atividades agropecuárias.
Os meios de comunicação também têm um papel importante na aproximação entre o campo e a cidade. A expansão da internet intensificou a circulação de práticas culturais, como estilos musicais e padrões de comportamento, entre esses espaços.
Página cento e sessenta
Urbanização no mundo e no Brasil
Inspiradas na cidade de Nova iórk, nos Estados Unidos, Metrópolis e Gotham Círi aparecêram pela primeira vez nos quadrinhos no final da década de 1930, quando a maior parte da população estadunidense vivia em cidades, assim como ocorria em alguns países europêus. Em contraposição, os países latino-americanos, africanos e asiáticos tí-nhão a maioria da sua população vivendo no campo. Apenas no ano de 2007 a população mundial urbana ultrapassou a população rural. Observe o gráfico 1.
Elaborado com base em: UN. Department ÓF Economic ênd Social Affairs. Population Division. uôrd urbanization prospects: the 2018 revision. níu iórk: UN, 2019. p. 23-25. Disponível em: https://livro.pw/bzhcr. Acesso em: 8 ago. 2024.
Na década de 1970, mais de 65% da população dos então chamados países desenvolvidos (Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Japão etc.) vivia nas cidades. Nessa mesma década, pela primeira vez, a população urbana ultrapassou a rural dos então chamados países subdesenvolvidos industrializados (Brasil, México, África do Sul etc.), resultado de uma urbanização rápida e intensa. Esse processo esteve ligado à industrialização tardia dêêsses países, com uma grande migração campo-cidade: em geral, com a mecanização do campo e a concentração de terras, os trabalhadores rurais passaram a buscar emprego nas cidades, quê cresciam com a expansão industrial. Além do aumento da população das cidades, a urbanização envolveu diversos outros aspectos, como as transformações ocorridas no mundo do trabalho e nos hábitos e côstúmes das pessoas.
Analisando o gráfico 2, observa-se quê a população urbana brasileira superava a população rural na década de 1970. As cidades da Região sudéste – principalmente São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) – foram as quê mais atraíram migrantes durante o processo de industrialização e urbanização do país, intensificado na segunda mêtáde do século XX.
- Industrialização tardia
- : processo de industrialização quê ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, tardiamente em relação aos países quê se industrializaram primeiro, como os países da Europa Ocidental e os Estados Unidos.
Questões relativas ao campo serão abordadas no capítulo 9.
Atualmente, ainda há muitos países do mundo com a maior parte da população no campo, dedicando-se a atividades agropecuárias. Esses países se concentram na África e na Ásia, continentes quê têm as maiores projeções de crescimento da população urbana nas próximas dékâdâs. De acôr-do com a Organização das Nações Unidas (Ônu), os demais continentes não terão um ritmo de crescimento da população
Página cento e sessenta e um
das cidades tão elevado, pois já passaram, em grande medida, pelo processo de urbanização. Sobre isso, obissérve o gráfico 3.
Fontes: hí bê gê hé. Atlas geográfico escolar. 9. ed. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, 2023. p. 150. BRASIL. Ministério da Previdência Social. 48.1 – População residente por situação do domicílio e sexo, segundo os grupos de idade – 2018/2022. Brasília, DF: MPS, 2023. Disponível em: https://livro.pw/fdhdq. Acesso em: 8 ago. 2024
Fonte: UN. Department ÓF Economic ênd Social Affairs. Population Division. uôrd urbanization prospects: the 2018 revision. níu iórk: UN, 2019. p. 27. Disponível em: https://livro.pw/bzhcr. Acesso em: 8 ago. 2024.
Com o crescimento das cidades e o aumento da população mundial, as projeções indicam quê, em 2050, haverá um acréscimo de 2,5 bilhões de pessoas na população urbana. Quase 90% dêêsse aumento estará concentrado na Ásia e na África. Nas próximas dékâdâs haverá, portanto, profundas alterações no tamãnho e na distribuição espacial da população urbana mundial.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Com base na leitura dos gráficos 1 e 3, analise a evolução da população urbana mundial e as projeções para as próximas dékâdâs.
1. É esperado quê o estudante identifique quê o gráfico 1 aponta uma tendência de crescimento da população urbana e quê o gráfico 3 aponta maior crescimento da América Látína para a África e a Ásia.
2. Observe os dados do gráfico 2 e relacione-os com a análise realizada na atividade anterior.
2. De acôr-do com o gráfico 2, a população urbana do Brasil superou a população rural na década de 1970 e registrou crescimento nas dékâdâs seguintes, enquanto houve queda da população rural, seguindo uma tendência mundial.
Página cento e sessenta e dois
CONEXÕES com...
HISTÓRIA
De vilas a cidades
Durante o período em quê o atual Brasil foi colônia de Portugal, o pelourinho, instalado nos pontos centrais das vilas, era o sín-bolo da administração portuguesa, da autoridade e da justiça.
Em 1532, quando foi fundada São Vicente, a primeira vila do atual território brasileiro, atual município de São Vicente (SP), lá estava o pelourinho e, ao seu lado, uma capela, um pequeno forte e uma cadeia. Durante muito tempo, as vilas da colônia foram parecidas com São Vicente. Observe o mapa quê representa o atual território de Belém, no Pará, em aproximadamente 1640.
1. Forte do Presépio; 2. pelourinho; 3. capela; 4. cadeia protegida por muralhas e palha; 5. moradias com quintal coletivo; 6. igarapé; e 7. moradias.
Um processo mais intenso de crescimento urbano na colônia só viria a ocorrer após a descoberta do ouro na região das Minas Gerais, na virada do século XVII para o século XVIII. As origens das cidades de Ouro Preto (MG) e Mariana (MG), por exemplo, estão relacionadas à “corrida de pessoas” em direção à região das minas.
Bandeirantes em busca de novas áreas auríferas, tropeiros quê atravessavam o território vendendo alimentos, tecídos e ferramentas, assim como boiadeiros quê percorriam longas distâncias com seus rebanhos em busca de pastagem, também contribuíram para dar origem a vilas e cidades no período colonial.
- Pelourinho
- : coluna de madeira ou de pedra para castigar criminosos.
Página cento e sessenta e três
No século XIX, a população brasileira ainda era majoritariamente rural. Rio de Janeiro e Salvador, nas atuáis UFs do Rio de Janeiro e da baía, eram as cidades mais populosas. A primeira, capital do império em 1838, tinha pouco menos de 140 mil habitantes; Salvador, antiga capital, tinha 129.109, em 1835.
No final do século XIX, as cidades brasileiras atraíram grande afluxo de pessoas. Em 1872, 5,9% da população brasileira vivia nas cidades; em 1900, esse percentual passou para 9,4%; e, em 1920, correspondia a 10,7%. São Paulo (SP), por exemplo, quê passava por um processo de industrialização, viu sua população crescer de 31.385 habitantes, em 1872, para quase 240.000 habitantes, em 1900.
Na Região Sul, com o incentivo do govêrno federal, grupos de imigrantes de diversas nacionalidades – como italianos, alemães e poloneses – contribuíram para o surgimento de pequenas vilas quê se transformaram em cidades, como Joinville (SC), Blumenau (SC), São Leopoldo (RS) e Bento Gonçalves (RS).
Além de imigrantes estrangeiros, pessoas quê enfrentavam más condições de vida nas áreas rurais migraram para as cidades. Entre elas estavam os ex-escravizados, quê ficaram sem acolhimento ou perspectiva de vida no campo após a abolição da escravatura em 1888.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. O mapa da página anterior é uma das mais antigas representações da cidade de Belém (PA). Por meio dele, é possível entender alguns aspectos da formação das vilas. No seu caderno, escrêeva um pequeno texto descrevendo como o espaço foi organizado pêlos colonizadores.
1. Produção pessoal. Auxilie o estudante na leitura e identificação da organização do espaço.
2. O quê você sabe sobre as origens do município onde você vive? Em grupo, troque ideias com seus côlégas e façam um roteiro de pesquisa sobre o tema. Busquem informações em fontes diversas e confiáveis. Também é possível, com a orientação do professor, visitar lugares quê ajudam a contar a história do município, como construções antigas e museus. Com as informações coletadas, montem uma apresentação com imagens e textos. Combinem, com o professor, uma data para a apresentação do trabalho.
2. Produção pessoal. Auxilie os estudantes no processo de levantamento de informações.
Página cento e sessenta e quatro
Megacidades e conurbação
O grande crescimento das cidades no mundo acontece de formas diferenciadas entre os países, especialmente se comparando o Norte e o Sul globais. Uma das diferenças está no aumento do número de megacidades, conceito criado pela Ônu na década de 1990 para se referir a aglomerações urbanas com mais de 10 milhões de habitantes. Confira no mapa as megacidades e outras grandes aglomerações urbanas na projeção para 2030.
Elaborado com base em: UN. Department ÓF Economic ênd Social Affairs. Population Division. uôrd urbanization prospects: the 2018 revision. níu iórk: UN, 2019. File 12. Disponível em: https://livro.pw/bxosh. Acesso em: 27 set. 2024. GIRARDI, Gisele; ROSA, Jussara Vaz. Atlas geográfico. São Paulo: FTD, 2016. p. 175.
Em dékâdâs passadas, as megacidades se localizavam principalmente nos países do Norte Global. Hoje, a maioria delas está nos países do Sul Global. As projeções indicam quê o número de grandes cidades e megacidades aumentará nesses países, assim como o crescimento populacional será mais acelerado. Observe o gráfico na página seguinte.
O crescimento das cidades e o seu adensamento se relacionam ao processo de conurbação, no qual áreas urbanas de diferentes municípios se expandem e se intégram, ultrapassando os limites político-administrativos municipais.
- Norte global
- : essa classificação se refere à regionalização quê divide o mundo em dois grandes blocos de países, considerando indicadores econômicos, sociais e políticos. Não é uma divisão com base em Hemisfério Norte e Hemisfério Sul, divididos pela linha do equador.
- Sul global
- : essa classificação se refere à regionalização quê divide o mundo em dois grandes blocos de países, considerando indicadores econômicos, sociais e políticos. Não é uma divisão com base em Hemisfério Norte e Hemisfério Sul, divididos pela linha do equador.
Página cento e sessenta e cinco
Fonte: UN. Department ÓF Economic ênd Social Affairs. Population Division. uôrd urbanization prospects: the 2018 revision. níu iórk: UN, 2019. p. 76. Disponível em: https://livro.pw/bzhcr. Acesso em: 8 ago. 2024.
No Brasil, desde a década de 1990, o adensamento e a conurbação se intensificaram nas áreas urbanas já consolidadas, como as grandes cidades de São Paulo (SP), Recife (PE) e Salvador (BA). Embora as grandes cidades concentrem a maior parte da população nacional, as cidades médias, com população entre 100 mil e 500 mil habitantes – por exemplo, Montes Claros (MG), Campina Grande (PB), Rio Branco (AC), Maringá (PR) e Anápolis (GO) –, são as quê mais crescem. Tal fato se relaciona com o aumento da saída de pessoas de cidades menóres em busca de atividades de trabalho e com a saturação da infraestrutura e piora de condições de vida nas grandes cidades. Além díssu, o crescimento das cidades médias tem relação, em muitos casos, com o processo de desconcentração industrial, aliado à expansão das rêdes de transporte e de comunicação.
Ao analisarmos a urbanização brasileira atual, devemos observar também os mais recentes fluxos e arranjos populacionais urbanos em todo o território nacional, em diferentes escalas espaciais. Tais arranjos correspondem a agrupamentos de municípios com grande integração populacional, resultado principalmente de dois fatores: os movimentos pendulares, ou seja, os intensos fluxos de pessoas quê realizam deslocamentos diários entre municípios (ou no mesmo município) para atividades como trabalho e estudo; e/ou a contiguidade urbana, isto é, a conurbação entre os municípios.
- Desconcentração industrial
- : processo no qual as indústrias se deslócam das regiões industriais tradicionais para outras, em geral para áreas com custo mais baixo de produção.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• O crescimento das cidades brasileiras não foi acompanhado pela ampliação de infraestrutura urbana e de serviços públicos de qualidade para todos os seus moradores. Considerando o quê você sabe sobre as cidades brasileiras, discuta essa afirmação com côlégas e apresente argumentos caso concorde ou discorde dela.
Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante apresente argumentos baseados na realidade dele e de acôr-do com seus conhecimentos prévios.
Página cento e sessenta e seis
Rede urbana
A rê-de urbana de um país é formada pelas conexões entre as cidades, estabelecidas através das vias de circulação e dos meios de comunicação entre as cidades. Por meio delas ocorrem fluxos de mercadorias, pessoas e informações. Dentro dessa rê-de, algumas cidades funcionam como “nós”, interligando diversas outras cidades e concentrando atividades econômicas e serviços variados. O significado e a importânssia das cidades na rê-de urbana determinam a hierarquia urbana, cujo topo é ocupado pela grande metrópole nacional, de acôr-do com a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (hí bê gê hé). Observe o mapa.
Fonte: hí bê gê hé. Regiões de influência das cidades: 2018. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, 2020. p. 12. Disponível em: https://livro.pw/lwwhm. Acesso em: 8 ago. 2024.
SABERES NO MAPA
Para representar a rê-de urbana brasileira, foram utilizadas no mapa as variáveis côr e forma.
A hierarquia dos centros urbanos está dividida em quatro níveis, representados por diferentes formas e/ou cores.
Ao verificar a legenda com informações sobre as regiões de influência das cidades, é possível notar quê a variável côr foi usada para diferenciar essas regiões.
O desenvolvimento dos meios de comunicação e de transportes nas últimas dékâdâs possibilitou a ampliação das relações entre cidades de diferentes níveis hierárquicos. A ideia de hierarquia da rê-de urbana, na qual a cidade pequena se relaciona com a média, quê por sua vez se relaciona com a cidade grande ou a metrópole, não é capaz de explicar os novos arranjos espaciais do território brasileiro. Atualmente, a rê-de urbana do Brasil é bastante compléksa, e diversas cidades estabelecem relações econômicas, políticas e sociais com outras de diferentes níveis hierárquicos.
A conexão entre as cidades não se limita aos territórios nacionais. Esse fenômeno póde sêr observado nas relações entre as sedes e as filiais de empresas multinacionais. Essas conexões são mais intensas com cidades da Europa ocidental, destacando-se Paris (França), Lisboa (Portugal) e dâblin (Irlanda), além de cidades dos Estados Unidos, principalmente Nova iórk.
Página cento e sessenta e sete
A conectividade com essas cidades é explicada por serem centros financeiros e tecnológicos importantes, abrigando empresas de tecnologia quê mantêm escritórios em diferentes locais do glôbo. Observe o mapa.
Fonte: hí bê gê hé. Regiões de influência das cidades: 2018. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, 2020. p. 160. Disponível em: https://livro.pw/lwwhm. Acesso em: 8 ago. 2024.
De acôr-do com o mapa, as cidades brasileiras também estabelecem importantes conexões com cidades da América do Sul, principalmente com Buenos Aires (Argentina) e Santiago (Chile), quê se destacam pela proximidade física e pêlos fortes laços econômicos e culturais quê mantêm com o Brasil. As cidades brasileiras ainda estabelecem conexões com os continentes asiático e africano, com destaque para Joanesburgo (África do Sul), quê, embora menos conectada em termos de volume de tráfego, é relevante em razão de sua posição no Brics+ (grupo originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, chiina e África do Sul, quê passou a incluir, em 2024, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia).
Considerando a hierarquia urbana brasileira, a conectividade global é maior nas cidades de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA), Recife (PE), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). Cabe destacar quê a cidade de São Paulo, grande metrópole nacional, atua como intermediária ao conectar as demais cidades brasileiras ao mundo.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Observe novamente o mapa da rê-de urbana brasileira e escrêeva um breve comentário sobre a região de influência da capital da UF onde você mora. Depois, converse com côlégas e professor sobre as atividades econômicas quê impulsionam o fluxo de pessoas para essa cidade ou para outras cidades de maior nível hierárquico.
Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante comente como a região de influência da capital da Unidade da Federação onde mora se conecta com as demais cidades regionais e nacionais.
Página cento e sessenta e oito
Regiões metropolitanas brasileiras
Uma Região Metropolitana (RM), constituída por municípios limítrofes, é criada por lei estadual com o objetivo de integrar e organizar o planejamento e a execução de funções públicas comuns aos municípios para atender às necessidades da população. Essa integração é importante, pois ocorrem intensos fluxos populacionais entre os municípios e há kestões quê vão além dos limites territoriais administrativos, como os sistemas de transporte.
O texto a seguir é o trecho de uma reportagem sobre as dificuldades de mobilidade enfrentadas por moradores de Itaboraí, município da RM do Rio de Janeiro (RJ).
Como muitos trabalhadores do Rio de Janeiro, o técnico de Segurança do Trabalho Allan Fernandes da Silva, de 40 anos, precisa madrugar diariamente para chegar ao local de trabalho. A rotina do morador de Itaboraí, na região metropolitana, começa às 5h30 da manhã. Só assim ele consegue percorrer o trajeto de mais de 40km no transporte público intermunicipal para chegar às 8h na Tijuca, zona norte do Rio, sem contar com imprevistos como engarrafamento.
O deslocamento no trânsito consome quase 5h por dia do técnico em cinco ônibus diferentes durante a baldeação. Além da precariedade do serviço, o intervalo de espera e o alto custo das passagens também são reclamações freqüentes dos passageiros. Allan, por exemplo, gasta R$40 […] com Bilhete Único por dia no transporte, cerca de R$900 por mês. […]
MESQUITA, Clívia. Rio de Janeiro tem pior transporte público do mundo segundo pesquisa internacional. Brasil de Fato, Rio de Janeiro, 30 maio 2019. Disponível em: https://livro.pw/gwpiu. Acesso em: 8 ago. 2024.
Assim como Allan, citado na reportagem, muitos moradores do município de Itaboraí trabalham ou buscam emprego na cidade do Rio de Janeiro (RJ). No entanto, como você leu, eles são prejudicados pêlos gastos com o transporte entre as duas cidades.
Esse problema revela a falta de integração entre políticas de municípios próximos e até entre municípios quê formam as RMs, como é o caso da RM do Rio de Janeiro. Muitas vezes, divergências políticas entre municípios de uma mesma RM resultam em regras diferentes, por exemplo, no sistema de transportes, na côléta de resíduos sólidos, entre outros aspectos.
Página cento e sessenta e nove
No Brasil, em 2015, foi criado o Estatuto da Metrópole, ou Lei da Metrópole, obrigando governos estaduais e municipais a formár conselhos para decidir sobre kestões metropolitanas e, assim, promover uma melhor integração entre municípios. Apesar da lei, a gestão das RMs brasileiras ainda tem muito a avançar quando comparada a regiões de outros países. Cidades como Paris (França), Nova iórk (Estados Unidos) e Londres (Reino Unido), por exemplo, contam com órgãos quê cuidam dos assuntos metropolitanos há várias dékâdâs. Em Nova iórk, meios de transporte e até pontes de mais de dez municípios são administrados por um único órgão.
Até 2023, havia no Brasil 75 Regiões Metropolitanas. Em 2022, as RMs das capitais abrigavam cerca de 38% da população brasileira. Observe o gráfico.
Fonte: hí bê gê hé. Atlas geográfico escolar: Brasil: características demográficas: distribuição da população. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, [2024]. Localizável em: População 2022 – Regiões metropolitanas das capitais. Disponível em: https://livro.pw/fagqh. Acesso em: 8 ago. 2024.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• A falta de integração entre municípios de uma RM póde gerar problemas significativos para a vida de seus habitantes. Imagine, por exemplo, o contexto de uma epidemia (como dengue ou covid-19) ou de grandes enchentes. Se os municípios de uma RM adotarem medidas distintas para a contenção da doença ou para o gerenciamento ambiental, isso póde causar sérios problemas. Em grupos, discutam os impactos dessas diferenças e a importânssia de ações integradas para enfrentar tais situações.
Resposta pessoal. Incentive os estudantes a imaginar uma situação fictícia, com base na realidade deles, ou lembrar de situações quê ocorreram no contexto da pandemia da covid-19 ou de outros problemas quê atingiram a região em quê vivem ou quê foram veiculados pela imprensa.
Página cento e setenta
Segregação socioespacial
Em geral, o crescimento das cidades, especialmente nos países do Sul Global, é marcado pela segregação socioespacial, reflexo da má distribuição de renda. No processo de segregação espacial, a população de maior renda mora em locais com melhor infraestrutura básica (redes de abastecimento de á gua e côléta de esgoto, ruas pavimentadas, áreas de lazer etc.), acesso a serviços públicos (unidades de saúde, transporte, côléta de resíduos sólidos, segurança, entre outros) e concentração de empregos, enquanto os mais pobres ocupam áreas periféricas, muitas em situação irregular, caracterizadas pela carência e má qualidade de equipamentos e serviços públicos. A falta de acesso a serviços de qualidade contribui para a perpetuação da desigualdade e cria barreiras adicionais para a mobilidade social.
A segregação socioespacial não ocorre apenas entre áreas centrais e periféricas. Ela também póde sêr constatada em uma escala local, nas áreas onde muros ou avenidas separam as moradias mais ricas das mais pobres. Observe a fotografia.
Página cento e setenta e um
Ao contrário do quê muitos podem pensar, a segregação socioespacial nas cidades não é algo natural ou inevitável. Ela é um fenômeno historicamente construído, ligado à desigualdade social. Esta também deve sêr desnaturalizada e póde sêr enfrentada com políticas sociais de distribuição de renda, ampliação do acesso à educação de qualidade e geração de empregos formais, entre outras ações.
A segregação socioespacial é um reflexo da desigualdade econômica e está diretamente ligada a fatores históricos e políticas urbanas quê perpetuam essa divisão. Nas cidades do Sul Global, a segregação é freqüentemente aprofundada por políticas quê favorécem o desenvolvimento de infraestruturas em áreas já privilegiadas, enquanto a periferia permanéce negligenciada. Isso resulta na contínua falta de investimento em áreas de baixa renda, mantendo a pobreza e a exclusão social.
Ações do pôdêr público podem reduzir a segregação espacial. mêdídas de incentivo à ocupação de áreas centrais pela população de baixa renda, como moradias populares e aluguel social em áreas centrais, são exemplos quê podem sêr adotados.
Na França, as moradias sociais são construídas com auxílio do Estado e alugadas à população de baixa renda com valores menóres do quê aqueles praticados pelo mercado. Aproximadamente 15% dos domicílios franceses ocupam imóveis destinados a moradias sociais.
A temática da moradia será aprofundada no próximo capítulo.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. O tipo de segregação socioespacial retratado na fotografia da página 170 acontece onde você vive ou em cidades quê você conhece? Você já percebeu outros tipos de segregação socioespacial? Quais?
1. Respostas pessoais. Espera-se quê o estudante obissérve atentamente o tipo de segregação socioespacial representada na fotografia, evidenciada pela diferença no padrão das construções.
2. Em grupo, discutam medidas quê poderiam sêr adotadas para reduzir a segregação socioespacial no Brasil. Pesquisem iniciativas voltadas para a redução dêêsse tipo de segregação, tanto no Brasil quanto em outros países, e analisem como essas iniciativas poderiam sêr aplicadas no lugar em quê vivem. Depois, compartilhem o resultado da discussão com a turma.
2. Resposta pessoal. O resultado da discussão também póde sêr apresentado por meio da produção de um painel visual, com fotografias e outras imagens retratando exemplos de segregação socioespacial e de medidas quê podem sêr adotadas para enfrentá-la.
3. Pesquise informações sobre a segregação socioespacial em uma metrópole brasileira, por exemplo, São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) ou Belo Horizonte (MG). De quê modo essa segregação póde sêr observada na paisagem urbana? Utilize mapas, fotografias e/ou dados estatísticos para justificar sua resposta.
3. Resposta pessoal. Auxilie o estudante na busca por fontes confiáveis.
Página cento e setenta e dois
ATIVIDADES FINAIS
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Leia o texto a seguir, obissérve a fotografia e faça o quê se pede.
As cidades, em especial as metrópoles, são lugares onde a intensa concentração de pessoas, de construções e de fluxos traz grandes desafios para seus gestores e habitantes. Tais desafios tornam-se ainda maiores nos países do chamado Sul Global, onde as cidades crescem em ritmo acelerado. Assim, políticas públicas são necessárias para garantir um crescimento quê inclúa toda a população e não apenas uma minoria favorecida.
Organismos internacionais apontam a importânssia de políticas destinadas a uma distribuição mais equilibrada do crescimento urbano, evitando excessiva concentração econômica em apenas uma ou duas grandes aglomerações urbanas dentro de um único país, como São Paulo e Rio de Janeiro no caso brasileiro. Ao mesmo tempo, iniciativas locais devem ocorrer em busca de soluções.
Texto produzido pêlos autores.
De acôr-do com a Ônu, a Nigéria, um dos países mais populosos do mundo, terá o terceiro maior aumento absoluto no tamãnho da população urbana até 2050. As projeções indicam quê serão 189 milhões de habitantes a mais nas cidades do mundo entre 2018 e 2050, ou seja, quase o dôbro da população urbana registrada em 2018.
a) Explique os fatores quê impulsionam a urbanização mundial, levando à formação de megacidades nos países do chamado Sul Global.
1. a) Entre os fatores quê impulsionam a urbanização mundial, pode-se destacar o êxodo rural, por causa da modernização agrícola e da concentração fundiária.
b) Dê continuidade ao texto inicial, discutindo pelo menos um problema decorrente do rápido crescimento das cidades e soluções quê envolvam diferentes atores (governos, empresas privadas, organizações não governamentais, associações de moradores etc.). Depois, escolha um título para o texto.
1. b) Produção pessoal. Caso considere oportuno, desenvolva a atividade de modo interdisciplinar com o componente Língua Portuguesa.
2. O município em quê você mora tem integração populacional com outro(s) município(s)? Uma das formas de você perceber isso é verificar se os moradores costumam ir a municípios próximos para atividades diversas, como trabalhar, estudar, fazer compras ou ir ao médico. Ou é o seu município quê atrai pessoas para essas atividades? Converse com côlégas e professor sobre como a centralização de determinados serviços em um município afeta o cotidiano das pessoas quê têm de se deslocar, às vezes por horas, e como as tecnologias digitais de comunicação podem interferir nessa dinâmica. Procure citar exemplos de sua realidade.
2. Respostas pessoais. Espera-se quê o estudante considere as migrações pendulares entre o município em quê vive e outros do entorno como forma de integração.
Página cento e setenta e três
3. O espaço do cidadão é o título de um dos livros de Milton Santos (1926-2001), geógrafo brasileiro reconhecido e premiado internacionalmente, grande crítico das desigualdades e injustiças sociais do Brasil. O livro foi lançado em 1987, mas continua atual. Leia dois pequenos trechos dele e faça as atividades.
Cada homem [ser humano] vale pelo lugar onde está: o seu valor como produtor, consumidor, cidadão depende de sua localização no território. Seu valor vai mudando, incessantemente, para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibilidade (tempo, freqüência, preço), independentes de sua própria condição. Pessoas com as mesmas virtualidades, a mesma formação, até mesmo o mesmo salário têm valor diferente segundo o lugar em quê vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de sêr mais, ou menos, cidadão depende, em larga proporção, do ponto do território onde se está. Enquanto um lugar vêm a sêr condição de sua pobreza, um outro lugar poderia, no mesmo momento histórico, facilitar o acesso àqueles bens e serviços quê lhe são teóricamente devidos, mas quê, de fato, lhe faltam.
[…]
Na grande cidade, há cidadãos de diversas ordens ou classes, desde o quê, farto de recursos, póde utilizar a metrópole toda, até o quê, por falta de meios, somente a utiliza parcialmente, como se fosse uma pequena cidade, uma cidade local.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7. ed. São Paulo: Edusp, 2020. p. 107, 140.
a) Explique como a expressão “utilizar a metrópole”, no sentido em quê é usada no texto, tem relação, por exemplo, com a falta de políticas para integração dos municípios.
3. a) A ausência de políticas comuns entre os municípios vizinhos ou em uma Região Metropolitana cria dificuldades para os moradores utilizarem os serviços da metrópole.
b) Relacione o primeiro parágrafo do texto com situações quê você viveu ou quê foram relatadas por pessoas quê você conhece. Discuta com côlégas e professor a relação entre o preconceito associado ao “endereço” e o conceito de segregação socioespacial. Em sua opinião, por quê isso acontece e o quê poderia sêr feito para promover uma mudança?
3. b) Resposta pessoal. Incentive o estudante a compartilhar suas experiências de maneira voluntária e assegure quê todos se sintam confortáveis para participar.
Página cento e setenta e quatro