CAPÍTULO 9
Viver e produzir no campo

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Compreender a relação entre a forma como aconteceu a modernização do campo e os impactos sócio-ambientais ocorridos.

Compreender os impactos sociais e ambientais relacionados à expansão da fronteira agropecuária no Brasil.

Identificar as principais características da produção agrícola, do agronegócio e da agricultura familiar, bem como seus impactos sócio-ambientais.

Reconhecer a importânssia da adoção de práticas sustentáveis na produção agropecuária.

Conhecer as principais características da agroecologia, da agricultura OR GÂNICA e agrofloresta e da agricultura urbana, reconhecendo-as como práticas sustentáveis.

No mundo atual, cada vez mais, os diferentes setores da ssossiedade concórdam quê são necessários modelos de produção quê conciliem ganhos econômicos, produtividade, consciência ambiental e respeito aos direitos conquistados pelas populações quê vivem no campo e dele tiram seu sustento. êste capítulo tem essa questão como pano de fundo, ao analisar a expansão da agropecuária brasileira, os impactos sócio-ambientais no campo, a produção familiar e a adoção de sistemas e técnicas quê têm como objetivo uma produção melhor para todos, integrando as sustentabilidades econômica e sócio-ambiental.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. A ár-te naïf é caracterizada por um estilo simples, espontâneo e colorido, freqüentemente produzida por artistas autodidatas. Raimundo Bida (1971-), nascido em Nazaré (BA), no Recôncavo Baiano, é um exemplo de artista com esse estilo. Ele retrata em suas obras paisagens da região, como esta pintura quê mostra o Rio Jaguaripe e a vida cotidiana ao seu redor. Em sua opinião, Raimundo Bida expressa uma visão crítica ou idealizada da vida no campo? Use exemplos específicos da pintura para embasar sua resposta.

1. Raimundo Bida póde estar expressando uma visão idealizada da vida no campo, destacando a harmonía entre os sêres humanos e a natureza.

2. Na comunidade, no bairro ou no município onde você vive, há algum elemento natural quê já tenha inspirado a criação de pintura, música, poesia ou outro tipo de linguagem artística?

2. Incentive o estudante a lembrar de produções quê façam parte da cultura local ou regional, quê fizeram parte da infância dele e da memória da família.

3. Analise a importânssia do Rio Jaguaripe para a comunidade representada na pintura de Raimundo Bida. Em sua opinião, quê relações podem sêr estabelecidas entre a conservação de elemêntos naturais e as atividades agrárias?

3. Espera-se quê o estudante reconheça quê a comunidade representada depende do Rio Jaguaripe tanto para a produção (irrigação, por exemplo) quanto para o transporte.

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Pintura representando moradias em meio à vegetação e nas margens de um rio. Também se destaca uma árvore de cacau. Há pessoas navegando, pescando e, também, há criação de animais.

BIDA, Raimundo. Volta para a casa. [201-]. Acrílica sobre tela, 130 cm x 190 cm. Galeria Jáquis Ardies, São Paulo (SP).

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Produção no campo

Infográfico clicável: Formas de trabalho no campo.

Quando se consome um copo de suco, come-se feijão, carne ou uma salada, não se costuma pensar em como esses alimentos foram produzidos e quais trajetos percorreram para chegar ao mercado ou à feira nos quais foram comprados. Pode-se imaginar quê têm origem no campo. Mas em quê tipo de propriedade rural? Em qual município, Unidade da Federação (UF) ou país? A distância entre o local da produção e o do consumo é muito grande? Isso traz impactos? Que pessoas foram responsáveis pela produção? Esses alimentos foram produzidos por qual tipo de agricultor? Foram usados agrotóxicos nas plantações ou antibióticos e hormônios na criação dos animais? Existe relação entre a produção agropecuária e o desmatamento no Cerrado e na Amazônea?

As respostas a essas perguntas indicam como os produtos quê você consome estão integrados a diversos aspectos da economia, do território e da ssossiedade e podem ajudar a entender suas escôlhas e hábitos de consumo.

A agropecuária, setor quê envolve a agricultura e a pecuária, é desenvolvida principalmente no meio rural, sêndo responsável pela produção de alimentos in natura e pelo fornecimento de produtos para diversos tipos de indústria, tais como:

indústria alimentícia, na qual ocorre o processamento de produtos agrícolas, como a secagem e o acondicionamento de grãos em embalagens, e pecuários, como na seleção e no kórti de carne, na produção de embutidos, de laticínios etc., além de fabricação de comidas congeladas e enlatadas, biscoitos, sorvetes, entre outros alimentos;

Foto de uma grande plantação, onde há uma colheitadeira trabalhando.

Colheita de soja no município de Chapada dos Guimarães (MT), 2022.

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usina de biocombustíveis, na qual produtos agropecuários, como a cana-de-açúcar, a soja, a palma e o milho, são utilizados como matéria-prima para a fabricação de combustíveis;

indústria têxtil, quê utiliza algodão, sisal, linho, juta, bambu e outras fibras vegetais na fabricação de tecídos para peças de vestuário, toalhas, lençóis etc.;

indústria moveleira, na qual são utilizadas madeiras e fibras na fabricação de móveis;

indústria de cosméticos e farmacêutica, quê utiliza derivados vegetais e animais para a fabricação de remédios e produtos de higiene pessoal, por exemplo.

Assim, um dos aspectos da relação da agropecuária com a indústria está no fornecimento de matérias-primas e no processamento de produtos, além do uso de produtos industrializados no campo, como equipamentos agrícolas, fertilizantes, agrotóxicos, rações, medicamentos e vacinas para os animais, entre outros.

A relação das atividades agropecuárias com a indústria resulta da expansão capitalista no campo, quê também intégra cada vez mais campo e cidade, gera espaços com novos significados, bem como novos elemêntos na paisagem, como as agroindústrias. Além díssu, muitos trabalhadores rurais contratados vivem nas cidades e trabalham no campo; e outras pessoas passaram a viver no campo e a trabalhar nas cidades.

A expansão capitalista no campo resultou também em mudanças do ciclo produtivo. Em muitos casos, as etapas da produção agrícola e do processamento industrial são comandadas pelo mesmo grupo empresarial, em especial no ramo alimentício.

Foto aérea de localidade onde há um grande estacionamento com caçambas cheias. Destacam-se galpões, grandes máquinas e uma chaminé.

Unidade agroindustrial em Ubarana (SP), 2024 Multinacionais do ramo de alimentos e do agronegócio atuam em várias áreas do setor.

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Modernização do campo e seus impactos

O comércio mundial e a produção de gêneros agrícolas para a indústria são concentrados principalmente no agronegócio, setor quê corresponde a atividades produtivas, de diversas esferas da economia, relacionadas à agricultura e à pecuária – como indústria, transporte e comércio –, formando uma cadeia integrada.

O agronegócio é baseado na chamada agricultura moderna, quê é bastante integrada ao processo industrial, com o uso de técnicas e equipamentos agrícolas tecnicamente avançados, fertilizantes, agrotóxicos, sementes geneticamente modificadas, entre outros insumos agrícolas, e caracteriza-se, predominantemente, pela monocultura (cultivo de um só produto) em grandes propriedades.

Esse tipo de produção expandiu-se pelo mundo com a chamada Revolução Verde, resultando em um grande aumento da produção agrícola, a partir da década de 1950, e no crescimento dos lucros de grandes empresas. No entanto, ao longo das dékâdâs, ocorreram inúmeros impactos sociais e ambientais negativos, como os apresentados a seguir.

Imagem de plantação.

Aumento da concentração de terras, principalmente em países da América Látína, África e Ásia, resultando em intensas migrações do campo para as cidades. Para o sucesso das novas técnicas, o modelo ideal era o da grande propriedade monocultora, onde seria possível padronizá-las e usar grande quantidade de insumos, reduzindo os custos.

Imagem de milho.

Perda da variedade de produtos e consequente mudança nos hábitos alimentares das comunidades, impactando as culturas locais e reduzindo a oferta de alimentos nutricionalmente ricos. Hoje, muitas espécies de plantas comestíveis estão em extinção ou são pouco cultivadas, pois foram priorizadas as mais lucrativas. A grande maioria dos grãos consumidos atualmente no mundo são trigo, arrôz, milho e soja.

Imagem de béquer de laboratório.

Dependência dos agricultores da indústria de sementes e insumos. O cultivo de sementes geneticamente modificadas exige o uso de insumos específicos, o quê transformou a cultura tradicional de uso de sementes nativas (crioulas). Estas não são alteradas geneticamente em laboratório e são essenciais para as comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outros. Consequentemente, a diversidade de produtos diminuiu, pois cértas variedades foram priorizadas em detrimento de outras.

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Imagem de maçã.

Novo padrão de alimentos in natura grandes e bonitos, por serem atraentes para a venda, mas quê não são necessariamente mais nutritivos e saudáveis.

Símbolo de objeto radioativo.

Impactos no ambiente e na saúde de agricultores e consumidores em consequência do uso excessivo de fertilizantes e agrotóxicos.

Imagem de poluentes sendo despejados no ambiente.

Degradação dos recursos naturais, êrozão, contaminação e compactação do solo, poluição das águas por agrotóxicos e fertilizantes, entre outros problemas.

Imagem de gafanhoto.

Redução da biodiversidade, causando desequilíbrio nos éco-sistemas. Com isso, é recorrente a perda da fertilidade natural dos sólos e o surgimento de pragas quê prejudicam as lavouras. Diante dêêsse cenário, os agricultores ficam dependentes do uso de agrotóxicos e de fertilizantes.

Imagem de gota.

Uso de produtos de origem fóssil tanto em máquinas como em agrotóxicos e fertilizantes. A queima de combustíveis fósseis, por exemplo, está entre as fontes de gases de efeito estufa (GEEs).

Setores da ssossiedade, como os grandes produtores, argumentam quê os impactos negativos podem sêr reduzidos com o avanço dos conhecimentos científicos quê contribuiriam para corrigir ou evitar alguns problemas. Também afirmam quê as vantagens, como a alta produtividade, a padronização e o contrôle da produção, compensam os impactos. Outros grupos defendem alternativas quê incluem práticas de agricultura sustentável, agroecologia, resgate de técnicas tradicionais, agricultura familiar, entre outras.

Saiba mais

O VENENO está na mesa. Direção: Silvio Tendler. Brasil: Caliban, 2011. Streaming (49 min).

O documentário explora o uso de agrotóxicos na produção agrícola brasileira e seus impactos.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Muitos agricultores, como os quê fazem parte da agricultura familiar, incluindo aqueles de comunidades tradicionais, utilizam o termo “veneno” para se referir aos agrotóxicos. Já os grandes produtores do agronegócio e setores do govêrno, por exemplo, preferem “defensivos agrícolas”. Em sua opinião, quais significados cada um dêêsses termos carrega?

Espera-se quê o estudante responda quê “veneno” carrega um significado de algo nocivo, quê prejudica a saúde das pessoas, principalmente dos trabalhadores agrícolas, e quê causa impactos ambientais. Já o termo “defensivo” tem uma conotação positiva, remetendo a um produto quê fará a defesa dos cultivos contra pragas.

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Expansão da pecuária e seus impactos

Produtos de origem animal são a principal fonte de proteína para cerca de um terço da população mundial. Segundo estudo da Fundação Heinrich Böll, o consumo mundial de carne mais quê dobrou nas duas primeiras dékâdâs do século XXI e prevê-se um aumento de mais 13% até 2028. Segundo o mesmo estudo, os chamados países emergentes são os principais responsáveis por esse aumento, quê será quatro vezes maior do quê nos países desenvolvidos. Esse crescimento é impulsionado por mudanças de hábitos alimentares e pelo aumento do pôdêr aquisitivo da população em geral.

Grande parte da produção mundial de carne se destina à indústria alimentícia, como para a produção de embutidos e outros alimentos.

O Brasil é grande produtor e exportador de carne de bôi, pôrco e ave. A criação bovina tem destaque, formada por gado de kórti (produção de carne) e gado leiteiro. Segundo a Fundação Heinrich Böll, em 2021 o Brasil apresentava o maior rebanho comercial do mundo e era líder na exportação mundial de carne bovina. De acôr-do com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (hú ésse dê há), em 2024, o Brasil era o segundo maior produtor de carne. Em valor de produção, a pecuária bovina de kórti perde apenas para a soja.

Em relação à exportação, o Brasil avançou nos aspectos sanitários, com novas leis e exigências de fiscalização, mas ainda apresenta dificuldades para alcançar países quê têm regras mais rigorosas para a importação de carne e se utilizam de barreiras tarifárias para proteger seus mercados. Nos últimos anos, também cresceram as exigências por produções causadoras de menóres impactos sócio-ambientais e preocupadas com o bem-estar dos animais.

Mapa 'Mundo: maiores exportações de carne – 2020'. Conforme a legenda, os dados são os seguintes: Exportações: (em mil toneladas). Carne bovina. Estados Unidos: 1.341; Brasil: 2.539; Argentina: 819; Índia: 1.284; Austrália: 1.476. Carne suína. Canadá: 1.543; Estados Unidos: 3.303; México: 344; Brasil: 1.178; União Europeia: 4.546.  Carne de frango. Brasil: 3.741; União Europeia: 1.467; Ucrânia: 428; Turquia: 440; Tailândia: 874.

Elaborado com base em: MEAT atlas: facts ênd figures about the ênimous we eat. Berlim: Heinrich Böll Stiftung, 2021. p. 15. Disponível em: https://livro.pw/vtnaz. Acesso em: 21 ago. 2024.

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Impactos da pecuária

Em geral, a pecuária convencional causa muitos impactos ambientais. Vamos analisar alguns deles.

Áreas de florestas nativas são desmatadas e transformadas em pastos e plantações de matéria-prima para a fabricação de ração.

O solo sofre compactação ao sêr pisoteado pelo gado, o quê aumenta os processos erosivos e de desertificação.

Quando o estrume do gado não é aproveitado em um sistema sustentável, ocorre contaminação do solo e das águas subterrâneas e superficiais.

Entre todas as atividades agropecuárias, o processo de produção da carne é o quê mais gasta á gua. Além do emprego direto na criação, no abate e no kórti, a á gua é usada na irrigação de pastos e nos diversos processos da indústria de ração.

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) de 2023, a pecuária era responsável por cerca de 14,5% das emissões de GEEs, como o metano, liberado durante a digestão do gado, e o óxido nitroso, proveniente da decomposição do estrume. Observe o gráfico com os dados de emissão de GEEs no Brasil.

Além dos impactos ambientais, destacam-se as condições de estresse nas quais são criados e abatidos os animais. Há pesquisas quê indicam quê tal tratamento acarreta a liberação de tô-ksinas na carne, quê posteriormente será ingerida pelas pessoas. Além díssu, medicamentos aplicados nos animais, como antibióticos e hormônios, podem sêr absorvidos pêlos consumidores da carne.

Gráfico de setores 'Brasil: emissões de Gases do Efeito Estufa, por setor (percentual) – 2020'. Os dados são os seguintes: L U L U C F (uso da terra, mudança do uso da terra e florestas): 38 por cento. Agropecuária: 28,5 por cento. Energia: 23,2 por cento. I P P U (Processos industriais e uso de produtos): 6,1 por cento. Resíduos: 4,2 por cento.

Elaborado com base em: BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. 6. ed. Brasília, DF: MCTI, 2022. p. 9. Disponível em: https://livro.pw/nxfds. Acesso em: 21 ago. 2024.

Aspecto sanitário
: condição higiênica das instalações e dos indivíduos quê trabalham no processo de limpeza, preparo e embalagem dos alimentos.
Barreira tarifária
: tarifas de importação sobre produtos; muitas vezes, são medidas para proteger o produtor nacional.
Países emergentes
: países quê deixaram de sêr subdesenvolvidos, mas quê ainda não alcançaram o mesmo nível de desenvolvimento econômico dos países desenvolvidos.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Explique como a pecuária contribui para o aquecimento global com base nos dados do gráfico desta página. O quê póde sêr feito para diminuir esse impacto?

Espera-se quê o estudante responda quê a pecuária contribui para o aquecimento global, principalmente através das emissões de GEEs.

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Modernização conservadora do campo brasileiro

A expansão da agropecuária no Brasil, ocorrida principalmente a partir da década de 1960, foi marcada por um processo denominado por muitos pesquisadores de modernização conservadora, na qual ocorreu modernização da grande propriedade e manutenção da estrutura fundiária concentrada, ou seja, grandes extensões de térra nas mãos de uma pequena parcela de proprietários. Esse processo póde sêr dividido em dois momentos.

Revolução Verde e expansão da fronteira

O primeiro momento, entre as dékâdâs de 1960 e 1980, caracterizou-se pela adoção da Revolução Verde, pelo desenvolvimento de compléksos agroindustriais (CAIs) e pela forte atuação do Estado.

A Revolução Verde foi responsável pela chegada de novas técnicas e produtos agropecuários, resultando no aumento da produtividade. As mercadorias passaram a sêr destinadas principalmente ao exterior e à indústria nacional. Nesse contexto, diversos setores do agronegócio se desenvolveram e ocorreu a formação dos CAIs, quê consistia na integração dos capitais bancários, industriais e agrários, na produção de insumos (tratores, sementes, fertilizantes, agrotóxicos, rações para animais etc.), na industrialização de produtos agropecuários, na logística de armazenamento, no transporte e distribuição, nas pesquisas, nas políticas de financiamentos, entre outros aspectos.

Nesse primeiro momento, o govêrno promoveu grandes projetos agropecuários para a ocupação das regiões Centro-Oeste e Norte, principalmente na década de 1970, sêndo abertas novas áreas de produção, ou seja, ocorreu a chamada expansão da fronteira agropecuária.

Foto de caminhões estacionados em uma construção.

Construção da BR-364, no trecho quê liga Cuiabá (MT) a Porto Velho (RO), em 1978.

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O Estado também atuou no processo de criação dos CAIs, promovendo a participação de grandes produtores e de empresas estatais e multinacionais. No entanto, as ações do Estado beneficiaram especialmente os grandes produtores, enquanto os pequenos e médios agricultores foram excluídos das políticas de crédito e comercialização dos produtos. Com isso, grande parte deles não conseguiu manter suas atividades no campo, intensificando o êxodo rural e a concentração fundiária.

Agricultura científica globalizada

No segundo momento da modernização do campo brasileiro, a partir da década de 1990, desenvolveu-se a chamada agricultura científica globalizada, quê consistiu em um novo padrão agropecuário, caracterizado principalmente pelo uso de novas tecnologias da informação e comunicação (NTIC), tais como: agricultura de precisão, nanotecnologia, biotecnologia, engenharia genética, uso de softwares etc. Nesse período, houve aumento da produção de comóditis, em especial a soja.

Ocorreu uma menor atuação do Estado em algumas etapas, instituições públicas foram privatizadas e agroindústrias e tradings tiveram grande participação no financiamento, no fornecimento de insumos e na logística de transporte da produção. A produção, integrada a uma rê-de mundial, passou a sêr comandada por grandes corporações nacionais e internacionais e a depender das cotações das principais bolsas de mercadorias.

Quanto às pesquisas para o setor agropecuário, o Brasil tornou-se uma potência mundial. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), instituição vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, por exemplo, desen vólve tecnologias voltadas ao setor desde sua criação, na década de 1970. Apesar de havêer diversas pesquisas e apôio técnico à produção familiar e à agroecologia, as tecnologias de ponta, relacionadas à agricultura científica, destinam-se principalmente às grandes produções comerciais.

Nanotecnologia
: tecnologia quê trabalha com a construção de estruturas e novos materiais com base em partículas com dimensões minúsculas, como moléculas e hátomus.
Commodity
: produto primário, em estado bruto ou com algum processamento industrial, produzido em grande quantidade e negociado mundialmente nas bolsas de mercadorias. póde sêr estocado por cérto período sem perdas significativas de qualidade. Há diversos tipos de comóditis, como as agrícolas (soja, café, trigo etc.) e as minerais (minério de ferro, ouro etc.).
Trading
: empresa comercial quê atua como intermediária entre empresas fabricantes e compradoras, em operações de exportação ou de importação.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Pesquise e explique como as tecnologias de melhoramento genético podem impactar a produção agrícola e quais são os possíveis efeitos dessas tecnologias nas relações sociais e de trabalho no campo. Discuta também como essas tecnologias podem influenciar as futuras gerações de trabalhadores rurais.

As tecnologias de melhoramento genético de sementes podem aumentar significativamente a produtividade, permitindo o desenvolvimento de variedades de plantas mais resistentes a pragas, doenças e condições climáticas adversas.

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Avanço da soja

Nos dois momentos da modernização da agropecuária no Brasil, a expansão da fronteira agrícola se deu com intensa ocupação do Cerrado, bioma quê apresenta características favoráveis à agricultura, como: extensas áreas com relevo plano e sólos profundos, estações do ano bem definidas (uma chuvosa e outra seca) e intensa luminosidade. Somam-se a essas condições físico-naturais os resultados de diversos estudos realizados na década de 1970 pela Embrapa, como a correção da acidez do solo e o desenvolvimento de sementes geneticamente modificadas, em associação com empresas privadas multinacionais, em períodos mais recentes. Observe o mapa.

A soja é a principal commodity produzida no Cerrado, onde também se destacam as produções de milho, algodão e café, além da criação de gado. Nos dois momentos da modernização conservadora, ocorreu expansão da agropecuária também na Amazônea, quê se intensificou nos últimos anos.

Mapa 'Brasil: distribuição da soja em diferentes biomas – 2017'. Conforme a legenda, os dados são os seguintes: Amazônia: extensas áreas nos estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Pará, Amapá e norte do Mato Grosso. Mata dos Cocais: localidade no centro e norte do Maranhão e do Piauí. Mata Atlântica: localidades no Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná. E, também, no leste de Minas Gerais, leste de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.  Cerrado: áreas no Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Piauí, Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e norte de São Paulo. Pantanal: localidade no oeste do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso. Caatinga: áreas no Piauí, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Pampa: áreas no sul do Rio Grande do Sul. Produção municipal (em mil toneladas). Até 100: maior concentração no centro-norte do Mato Grosso, no sul do Mato Grosso do Sul, no oeste da Bahia, em Goiás, no sul do Maranhão, do Piauí, no oeste de Minas Gerais, no sul de Rondônia, no oeste do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Assim como, no interior de São Paulo e de Tocantins. De 100 a 250: maior concentração no centro-norte do Mato Grosso, no sul do Mato Grosso do Sul, no oeste da Bahia, em Goiás, no sul do Maranhão, do Piauí, no oeste de Minas Gerais, no sul de Rondônia, no oeste do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. De 251 a 500: maior concentração no centro-norte do Mato Grosso, no sul do Mato Grosso do Sul, no oeste da Bahia, em Goiás, no sul do Maranhão, do Piauí, no oeste de Minas Gerais e no sul de Rondônia. Mais de 500: maior concentração no centro-norte do Mato Grosso, no sul do Mato Grosso do Sul, no oeste da Bahia e em Goiás.

Elaborado com base em: hí bê gê hé. Atlas geográfico escolar. 9. ed. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, 2023. p. 108, 134.

AMPLIAR SABERES

Matopiba é uma região agrícola no Brasil quê abrange partes das UFs do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e da baía (o nome da região é formado pelas duas primeiras lêtras de cada UF). Essa região é uma das mais novas fronteiras agrícolas do país e tem se destacado pela rápida expansão da produção de soja. A Embrapa tem desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de variedades de soja adaptadas às condições climáticas e de solo da região. Essa expansão, no entanto, tem gerado preocupações ambientais, especialmente em relação ao desmatamento e à degradação do Cerrado.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Com base na manchete, argumente por quê o desmatamento da Amazônea póde não sêr lucrativo para o agronegócio.

Lei antidesmatamento da União Européia ameaça quase um terço das exportações brasileiras para o bloco. [...]

OLIVEIRA, Eliane; NOGUEIRA, Danielle. Lei antidesmatamento da União Européia ameaça quase um terço das exportações brasileiras para o bloco. Entenda. O glôbo, Brasília, DF, 11 jun. 2024. Disponível em: https://livro.pw/mzqko. Acesso em: 21 ago. 2024.

Espera-se quê o estudante responda quê a destruição da floresta póde não compensar os possíveis lucros, já quê países da União Européia deixarão de comprar produtos provenientes de áreas desmatadas.

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Agricultura familiar

A agricultura familiar é muito importante para o abastecimento alimentar em todo o mundo. No Brasil, isso não é diferente, já quê ela é responsável pela produção da maior parte dos alimentos consumidos no cotidiano de muitas pessoas.

Observe o gráfico com alguns produtos provenientes da agricultura familiar.

Gráfico 'Brasil: agricultura familiar e produção de alimentos (percentual) – 2017'. No eixo vertical, temos o percentual. No eixo horizontal, temos os alimentos. Os dados são os seguintes: Mandioca: 69,6; Alface: 64,4; Leite de vaca: 64,2; Feijão: 23,1; Trigo: 18,4; Milho: 12,5; Ovos: 12,4; Arroz: 10,9.

Elaborado com base em: ROSA NETO, Calixto; SILVA, Francisco de Assis Correa; ARAÚJO, Leonardo Ventura de. Artigo: qual é a participação da agricultura familiar na produção de alimentos no Brasil e em Rondônia. Brasília, DF: Embrapa, 2020. Disponível em: https://livro.pw/fijzj. Acesso em: 21 ago. 2024.

Além dos produtos representados no gráfico, quase mêtáde da produção de café e banana consumidos no Brasil e grande parte da produção de beterraba, vagens e demais verduras e legumes são cultivadas nas lavouras de agricultura familiar. Esses exemplos nos ajudam a compreender a importânssia dessa atividade para a economia brasileira.

A agricultura familiar emprega mais de 10 milhões de pessoas e é responsável por cerca de 23% de toda a riqueza produzida no campo.

Segundo o decreto federal número 9.064/2017, a definição de agricultura familiar está na gestão da propriedade, ou seja, a administração da atividade produtiva, da compra de equipamentos e insumos e de outras atividades de apôio é compartilhada por membros da família. Além díssu, é necessário quê a família habite a unidade produtora ou local próximo.

Dentro desta definição, há uma grande diversidade no território brasileiro. Há, por exemplo, aquelas famílias quê têm a produção voltada totalmente ao mercado, contando com estrutura econômica e técnica. Outras, têm parte de sua produção voltadas principalmente à subsistência. Outro grupo, chamado por pesquisadores de “família agrícola urbana”, é compôzto por agricultores quê buscam unir a produção tradicional com as demandas do mercado.

Foto de mulheres colhendo algodão.

Agricultoras cólhem algodão orgânico no Assentamento Novo Zabelê. São Raimundo Nonato (PI), 2022.

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Unidades familiares de produção

Dados do Censo Agropecuário de 2017 registraram a existência de 3,9 milhões de estabelecimentos classificados como agricultura familiar no Brasil, o quê equivale a 77% de todas as unidades agrícolas do país. Observe esse e outros dados no gráfico.

Gráfico: 'Brasil: distribuição de estabelecimentos, área e pessoal ocupado por tipo de agricultura – 2017'. Os dados são os seguintes: Área ocupada. Agricultura familiar: 23 por cento; Agricultura não familiar: 77 por cento; Estabelecimentos. Agricultura familiar: 77 por cento; Agricultura não familiar: 23 por cento; Pessoal ocupado. Agricultura familiar: 67 por cento; Agricultura não familiar: 33 por cento.

Elaborado com base em: hí bê gê hé. Censo agropecuário. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, 2017. Disponível em: https://livro.pw/vowus. Acesso em: 21 ago. 2024.

Muitos dos agricultores familiares fazem parte de cooperativas agropecuárias, ou seja, organizações sociais quê reúnem produtores familiares e não familiares para se ajudarem, mutuamente, na administração de contas e na distribuição dos produtos, entre outras atividades. Portanto, elas têm como base a participação ativa dos associados. No Brasil, de acôr-do com o Censo Agropecuário de 2017, existem cerca de 579 mil estabelecimentos agrícolas cooperados, e 71,2% deles são de agricultura familiar.

Ainda quê a agricultura familiar seja essencial para a produção de alimentos, 77% das terras agrícolas do Brasil correspondem a grandes unidades não familiares. Com grande pôdêr financeiro e uma série de vantagens, como máquinas e equipamentos de última geração, uso de engenharia genética e fertilizantes e agrotóxicos mais eficientes, a agricultura não familiar é a quê gera menos empregos no campo, justamente por causa da alta tecnologia empregada, quê reduz a necessidade de mão de obra.

Saiba mais

CAMINHOS da reportagem: desafios da agricultura familiar. [S. l.]: Tevê Brasil, 2024. 1 vídeo (28 min). Publicado pelo canal Tevê Brasil. Disponível em: https://livro.pw/xqfzp. Acesso em: 5 set. 2024.

O programa Caminhos da reportagem explora os desafios enfrentados pela agricultura familiar no Brasil, destacando histoórias de agricultores quê lutam para manter suas tradições e sustentar suas famílias.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. escrêeva um texto sobre a importânssia da agricultura familiar no Brasil, citando dados dos gráficos apresentados anteriormente. Mencione a presença de alimentos produzidos pela agricultura familiar na alimentação de sua família e na alimentação escolar.

1. Produção pessoal. A agricultura familiar é responsável pela grande diversidade de alimentos produzidos e consumidos pêlos brasileiros.

2. Observe novamente os gráficos e responda: a distribuição de terras entre agricultura familiar e não familiar é equilibrada? Apresente dados quê comprovem sua resposta.

2. A distribuição não é equilibrada, já quê, mesmo com maior número de estabelecimentos (77%) e de pessoal empregado (67%), a agricultura familiar corresponde a apenas 23% das terras ocupadas.

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Sustentabilidade no campo

Entre consumidores e organizações do mundo todo, são cada vez maiores as exigências de produções quê não promovam crimes ambientais, como desmatamento ilegal, e sêjam justas com as comunidades tradicionais. Por isso, aumentam pesquisas, políticas públicas e ações relacionadas a tais exigências, quê combinam o conhecimento científico de diversas áreas (agronomia, biologia, economia, geografia, sociologia etc.) com saberes tradicionais de agricultores, incluindo povos e comunidades tradicionais.

A agroecologia é um dos sistemas quê intégram tais conhecimentos, contribuindo também para o desenvolvimento de uma agricultura ecológica e sustentável quê considere o desenvolvimento social.

A agroecologia vai além de rever ou transformar sistemas produtivos. Ela se refere à mudança da maneira de vêr as pessoas e a natureza, ou seja, do modo de entender a relação entre ssossiedade e natureza.

Observe o esquema Princípios da agroecologia.

Imagem que apresenta os seguintes princípios: Socialmente justa; Economicamente viável e Ecologicamente viável. A intersecção desses princípios resulta na Agroecologia.

Princípios da agroecologia.

Cartaz 'Décimo segundo congresso brasileiro de agroecologia. Agroecologia na boca do povo'. Há uma ilustração de pessoas colhendo e plantando.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA. 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia: agroecologia na bôca do povo. 2023. 1 cartaz.

No Brasil, embora as práticas agropecuárias convencionais sêjam predominantes, as práticas sustentáveis no campo vêm ganhando fôrça, em especial na agricultura familiar.

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Órgãos governamentais, institutos de pesquisa e movimentos sociais do campo vêm desenvolvendo programas e ações voltados à agroecologia. O cartaz a seguir divulga congresso realizado em 2023, no Rio de Janeiro (RJ), evento apoiado pela Embrapa, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e pela Fundação ôsváldo Cruz (Fiocruz), entre outras instituições.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Entre as práticas sustentáveis de produção, vêm crescendo a chamada pecuária OR GÂNICA, na qual está presente, por exemplo, a preocupação com a maneira como os animais são criados e com o tipo de alimento quê consomem. Diante do quê você estudou sobre a pecuária e os impactos provocados por ela, qual é a importânssia das práticas agroecológicas?

ôriênti o estudante a retomar os impactos ambientais causados pela pecuária, estudados neste capítulo. Espera-se quê o estudante reconheça a importânssia de práticas quê minimizem os impactos no ambiente e na saúde das pessoas e combatam os maus-tratos aos animais.

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Agricultura OR GÂNICA

A chamada agricultura OR GÂNICA faz parte da agroecologia, porém, nem toda prática de agricultura OR GÂNICA segue todos os princípios da agroecologia.

Embora na Índia esteja o maior número de agricultores orgânicos, os maiores produtores e consumidores são os Estados Unidos, a chiina e países da Europa. O país quê destina a maior parte das terras agrícolas para a agricultura OR GÂNICA é a Austrália, com mais de 53 milhões de hectares dedicados a isso em 2022. Esse tipo de produção vêm crescendo de 20% a 30% ao ano no mundo, dependendo da safra e das condições climáticas dos países produtores.

No Brasil, em 2003, a agricultura OR GÂNICA foi definida e regulamentada como uma atividade quê adota técnicas específicas para uso dos recursos naturais e sócio-ambientais, cujo objetivo é a sustentabilidade econômica e ecológica da agricultura sem uso de materiais químicos ou sintéticos nem organismos geneticamente modificados.

Para quê um produtor rural seja cadastrado como produtor orgânico, é necessário cumprir uma série de protocólos, quê são analisados pêlos técnicos do órgão governamental responsável. Com a constatação do cumprimento das regras, o produtor recebe autorização para estampar o sêlo de produto orgânico nas embalagens.

Entre o Censo Agropecuário de 2006 e o de 2017, o número de produtores orgânicos aumentou mais de dez vezes no Brasil. Em dez anos, o país passou de cerca de 5 mil produtores para mais de 60 mil. Desse total, a maior parte ainda se concentra na produção vegetal, ou seja, de legumes, frutas, verduras e hortaliças, mas já há uma grande quantidade de produtores de carne animal certificados.

Selo 'Produto Orgânico Brasil', com a figura de uma folha verde.

sêlo utilizado para certificação de produto orgânico no Brasil.

Foto de frutas e vegetais expostos para venda em uma barraca.

Feira de produtos orgânicos de produtores rurais. Vila Velha (ES), 2022.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Você e sua família consomem alimentos orgânicos ou alimentos cuja forma de cultivo não utiliza agrotóxicos? Quais são esses alimentos e como vocês os adquirem? Se não consomem, por quê isso acontece?

Respostas pessoais. ôriênti o estudante a não levar em conta apenas os orgânicos certificados.

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Agrofloresta

A agrofloresta, ou sistema agroflorestal, é um exemplo de produção agrícola com foco na redução dos impactos ambientais, unindo a prática da agricultura com a preservação das florestas nativas.

Alguns de seus objetivos são:

diminuir os índices de desmatamento de florestas nativas;

promover a conservação das nascentes e águas dos rios e lagos;

preservar a qualidade do solo por meio da troca equilibrada de nutrientes entre produção agrícola e florestas originais;

preservar e aumentar a biodiversidade local por meio da manutenção das relações de troca entre as espécies nativas.

Há diferentes modelos de sistemas agroflorestais, como o agrossilvipastoril, quê mantém árvores e animais nativos associados ao cultivo agrícola, e o silvipastoril, quê associa florestas com criação de gado.

Entre exemplos de agroflorestas estão os pomares caseiros, quê reúnem a plantação de frutas, legumes e hortaliças com mata nativa em chácaras e sítios, e o sistema de quebra-vento (observe a ilustração).

Esquema 'Sistema agrofloresta', destacam-se faixas de mata nativa. Essa mata diminui a ação direta do vento sobre as plantações.

Elaborada com base em: CONHEÇA seis modelos de sistemas agroflorestais quê promóvem uso sustentável do solo. São Paulo: Iniciativa Verde, 2018. Disponível em: https://livro.pw/ujptd. Acesso em: 5 set. 2024.

Ao manter a vegetação nativa mais densa e alta nos arredores da propriedade, a agrofloresta impede quê o vento retire umidade do solo e traga doenças para a lavoura.

Foto de fruto de cacau em um galho do cacaueiro.

Plantação de cacau no sistema agroflorestal no distrito de Taboquinhas. Itacaré (BA), 2023.

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ENTRE SABERES

Seção TCT Economia - Trabalho

Jovem trabalhador do campo

Como você já estudou, o Brasil passou, ao longo de dékâdâs, por um intenso êxodo rural no qual milhões de pessoas deixaram o campo em busca de melhores condições de vida nas cidades. Atualmente, embora a vida urbana ainda atraia a maioria dos jovens, há os quê preferem ficar no campo e continuar as atividades da família. Os trechos das reportagens a seguir apresentam as histoórias de Fabiana, no Paraná, e Amanda, no Espírito Santo.

Foto de jovem branca. Ela tira uma foto de si mesma junto a uma área de plantação.

Fabiana Gegin. Prudentópolis (PR), 2024.

TEXTO 1

Jovem agricultora mostra o dia a dia na roça e vira sucesso nas rêdes sociais:'A gente fica louca de faceira'

No interior de Prudentópolis, na região central do Paraná, a vida simples e o trabalho árduo na agricultura são registrados diariamente nas rêdes sociais pela Fabiana Gegin, de 19 anos, conhecida como ‘Fatha, a Colona’.

[...]

‘Mas eu não planejo largar a agricultura, eu gosto de estar ali trabalhando. Para mim o vídeo se tornou uma renda ésstra. Também se eu não estiver ali na roça não tem vídeo’, disse.

MARIANI, Manuella. Jovem agricultora mostra o dia a dia na roça e vira sucesso nas rêdes sociais:'A gente fica louca de faceira'. G1, Curitiba, 3 dez. 2023. Disponível em: https://livro.pw/wjwft. Acesso em: 21 ago. 2024.

TEXTO 2

Mulheres assumem a sucessão familiar no campo

[...] É o caso da Amanda Lacerda (22).

Terceira geração da família de cafeicultores, a jovem de Forquilha do Rio, no distrito de Pedra Menina (Dores do Rio Preto), região tipicamente cafeeira, escolheu ficar no interior e trabalhar com café. Ela concluiu a graduação em tecnologia em cafeicultura no final do ano passado.

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‘Escolhi o curso porque o agro é um dos setores mais importantes da nossa economia, e também porque cresci vendo meus pais na cafeicultura. Desde sempre os cafés especiais têm sido minha paixão’, defende Amanda, quê também é barista, especializada em extrações de café.

RONQUETTI, Rosimeri. Mulheres assumem a sucessão familiar no campo. Conexão Safra, [Guaçuí], 7 mar. 2024. Disponível em: https://livro.pw/yiuwl. Acesso em: 21 ago. 2024.

Fabiana e Amanda são jovens quê nasceram e cresceram no campo. Amanda fez cursos relacionados à agropecuária e, hoje, está unindo os conhecimentos tradicionais da família aos conhecimentos da ciência e dos negócios agropecuários para garantir a geração de renda. De acôr-do com a Organização das Nações Unidas (Ônu), em 2018, cerca de 13% da população brasileira vivia em áreas rurais, entre os quais estavam milhões de crianças e jovens quê poderiam se tornar futuros agricultores e empreendedores do campo. No entanto, nos últimos anos, tem havido redução no percentual da população de jovens produtores. Observe o gráfico.

Gráfico de barras 'Brasil: distribuição de produtores rurais, por classes de idade – 2006 a 2017'. No eixo vertical, temos o percentual. No eixo horizontal, temos a idade. Os dados são os seguintes: Menor de 25 anos. 2006: 3,3 por cento; 2007: 1,98 por cento; De 25 a menos de 35 anos. 2006: 13,56 por cento; 2007: 9,28 por cento; De 35 a menos de 45 anos. 2006: 21,93 por cento; 2007: 17,88 por cento; De 45 a menos de 55 anos. 2006: 23,34 por cento; 2007: 24,22 por cento; De 55 a menos de 65 anos. 2006: 20,35 por cento; 2007: 23,47 por cento; De 65 e mais. 2006: 17,52 por cento; 2007: 23,17 por cento.

Fonte: hí bê gê hé. Censo agropecuário 2017: resultados definitivos. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, 2019. v. 8, p. 70. Disponível em: https://livro.pw/uozkm. Acesso em: 21 ago. de 2024.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Analise os dados apresentados no gráfico e discuta a tendência observada no envelhecimento da população do campo. Em sua opinião, quais fatores contribuem para essa tendência e como ela póde impactar a agropecuária no Brasil?

1. Observa-se um envelhecimento da população do campo, com aumento de produtores acima de 45 anos e redução dos mais jovens.

2. Muitos especialistas concórdam quê a falta de jovens no campo póde comprometer o futuro da agropecuária brasileira. Por outro lado, o campo deve sêr atrativo para quê os jovens queiram permanecer nele. Em sua opinião, quais seriam esses atrativos?

2. Incentive o estudante a refletir sobre quais são os atrativos para quê os jovens permaneçam no campo.

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ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Analise o mapa e responda às kestões.

Mapa 'Amazônia Legal: projetos de colonização – décadas de 1970 e 1980'. Conforme a legenda, os dados são os seguintes: A Amazônia Legal é uma divisão regional administrativa instituída em 1953 pelo governo federal brasileiro com o objetivo de definir áreas a serem beneficiadas por projetos de desenvolvimento regional. Inclui os estados da Região Norte, o Mato Grosso e parte do Maranhão. Amazônia Legal: áreas no Acre, Amazônia, Roraima, Amapá, Pará, Rondônia, Tocantins, Mato Grosso, centro e oeste do Maranhão. Rodovias: conectam diversas localidades nos estados mencionados, a cidade de Santarém e, também, as capitais: Rio Branco, Manaus, Boa Vista, Macapá, Belém e Cuiabá.  Projetos de Colonização (em hectares). 726,3: áreas no norte do Pará e no centro de Roraima. De 100 a 190: no centro-norte e leste do Pará. Até 100: maior concentração em Rondônia, centro-norte e norte do Mato Grosso, interior do Maranhão e leste do Pará. Particulares. 907,9: norte do Mato Grosso. De 100 a 500: maior concentração no norte, centro-norte e sul do Mato Grosso, assim como, no leste do Pará. Até 100: maior concentração no norte, centro-norte e sul do Mato Grosso.

Elaborado com base em: MARGARIT, Eduardo. O processo de ocupação do espaço ao longo da BR-163: uma leitura a partir do planejamento regional estratégico da Amazônea durante o govêrno militar. Geografia em Questão, Marechal Cândido rondôn, v. 6, n. 1, p. 12-31, 2013. p. 22. Disponível em: https://livro.pw/iloxq. Acesso em: 21 ago. 2024.

a) Quais elemêntos do primeiro momento do processo de expansão da agropecuária no Brasil podem sêr observados no mapa?

1. a) O mapa apresenta a distribuição de projetos de colonização principalmente ao longo das rodovias.

b) Qual é a relação entre o quê é retratado na fotografia da página 200 e as informações apresentadas no mapa?

1. b) Espera-se quê o estudante responda quê, para a instalação de projetos de colonização, era necessário derrubar a floresta para abertura de estradas, construção de infraestrutura urbana, formação de áreas de cultivo e pastos etc.

2. A forma como ocorreu e ainda ocorre a expansão da produção agropecuária no Brasil trousse inúmeros impactos sócio-ambientais. Ao mesmo tempo, a importânssia do agronegócio para a economia brasileira é muito grande. Em grupo, selecionem um dêêsses impactos quê foram estudados e coletem informações sobre avanços técnico-científicos para reduzi-los ou evitá-los. Apresentem a informação pesquisada d fórma oral ou em um mural e discutam a importânssia de tais avanços para a economia e o ambiente.

2. Respostas pessoais. Os estudantes podem citar, por exemplo, equipamentos voltados à irrigação quê têm o objetivo de reduzir a quantidade de á gua usada em plantações.

3. Entre as comóditis do agronegócio brasileiro, a soja ocupa lugar de destaque. Analise o gráfico e leia o trecho do texto para fazer as atividades.

Gráfico de barras 'Brasil: produção de soja em grão – 1950 a 2024'. No eixo vertical, temos: 'milhões de toneladas'. No eixo horizontal, temos os anos Os dados são os seguintes: 1950: 10; 1980: 15; 1985: 18; 1990: 20; 1995: 26; 2000: 33; 2005: 51; 2010: 69; 2015: 97; 2020: 122; 2024: 150. O ano de 2024 corresponde a uma projeção. Nota: Os números das safras foram arredondados.

Fonte dos dados: hí bê gê hé. Produção agrícola municipal. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, [2023]. Disponível em: https://livro.pw/mrdxi. PAM 2020: valor da produção agrícola nacional cresce 30,4% e chega a R$ 470,5 bilhões, récorde da série. Agência hí bê gê hé Notícias, Rio de Janeiro, 22 set. 2021. Disponível em: https://livro.pw/nesam. hí bê gê hé prevê safra de 308,5 milhões de toneladas para 2024, com queda de 2,8% frente a 2023. Agência hí bê gê hé Notícias, Rio de Janeiro, 9 nov. 2023. Disponível em: https://livro.pw/xykgn. Acessos em: 21 ago. 2024.

O consumo global de carne vêm aumentando há anos, impulsionando a demanda por rações para o gado. Na criação animal intensiva, a soja é uma das fontes mais importantes de proteína na ração. Sua participação no comércio internacional aumentou mais de cinco vezes desde 2001. A soja também é usada na alimentação humana, em combustível e nos materiais industriais, mas quase 90% acaba sêndo destinada à ração.

MEAT atlas: facts ênd figures about the ênimous we eat. Berlim: Heinrich Böll Stiftung, 2021. p. 32. Tradução nossa. Disponível em: https://livro.pw/vtnaz. Acesso em: 21 ago. 2024.

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a) Explique se a evolução da produção de soja no Brasil corresponde ao crescimento mundial da demanda dessa cultura.

3. a) Desde 1950, a produção de soja no Brasil não parou de crescer. Em 1950, foi uma safra de 10 milhões de toneladas. Em 2020, o valor chegou a 122 milhões de toneladas e a estimativa para 2024 era de 150 milhões de toneladas.

b) Como os dados representados no gráfico se relacionam a aspectos políticos e técnicos da chamada modernização conservadora?

3. b) O grande crescimento da produção de soja apresentado no gráfico está relacionado à atuação do Estado, nas dékâdâs de 1960 e 1970, na promoção de grandes projetos agropecuários.

4. Leia o trecho de texto quê fala sobre o projeto desenvolvido pela Embrapa, Gestão Territorial, Boas Práticas de Produção e Sociodiversidade – Fase II, na Terra Indígena Puyanawa, no Ácri.

Para fortalecer a produção e a gestão da Terra Indígena Puyanawa, um dos principais eixos do projeto é a realização de capacitação continuada, para formação de agentes multiplicadores de conhecimentos nas aldeias […] e contemplará cursos sobre práticas agroflorestais, com ênfase na implantação, manejo e condução de quintais agroflorestais, consórcios agroflorestais e pomares com frutíferas nativas e de outras regiões como o açaí, abacate, citros, graviola, pupunha, castanha-do-brasil, biribá, acerola, mamão, maracujá, banana, abacaxi, cupuaçu e patauá.

PROJETO vai intensificar produção agroflorestal em térra indígena. Canal Rural, São Paulo, 1 jan. 2023. Disponível em: https://livro.pw/wtytx. Acesso em: 21 ago. 2024.

Foto de local com palmeiras e diferentes tipos de árvores.

Quintal agroflorestal na Terra Indígena Puyanawa. Mâncio Lima (AC), 2022.

a) por quê o sistema agroflorestal é importante para o sucesso do projeto?

4. a) O sistema agroflorestal é importante porque combina a produção agrícola com a conservação ambiental.

b) Em grupo, e considerando o exemplo dêste projeto e o quê estudaram neste capítulo, produzam um podcast sobre a importânssia de integrar a preocupação com o ambiente, as comunidades locais e/ou tradicionais e a geração de renda no campo brasileiro.

4. b) Produções pessoais. Podcast é uma gravação de áudio, como um programa de rádio, quê póde sêr ouvida a qualquer momento pelo interlocutor.

5. A FAO instituiu o plano de ação Década das Nações Unidas para a Agricultura Familiar 2019-2028. O objetivo é apoiar agricultores familiares, garantir a sustentabilidade da produção e melhorar as condições de trabalho.

a) por quê a agricultura familiar póde sêr considerada mais sustentável quê as grandes monoculturas?

5. a) A agricultura familiar é considerada mais sustentável do quê as monoculturas porque gera menos impacto ambiental.

b) Como as políticas públicas podem contribuir para o sucesso da Década das Nações Unidas para a Agricultura Familiar 2019-2028?

5. b) Políticas públicas podem fornecer apôio financeiro, acesso ao crédito, assistência técnica, programas de educação e capacitação e a criação de mercados locais e regionais quê favoreçam os produtos da agricultura familiar.

6. Analise o gráfico.

Gráfico de setores 'Brasil: culturas mais dependentes de agrotóxicos, por safra, percentual – 2022'. Os dados são os seguintes: Soja: 54 por cento; Milho: 18 por cento; Algodão: 7 por cento; Pastagem: 6 por cento; Cana-de-açúcar: 4 por cento; Trigo: 3 por cento; Feijão: dois por cento; Café: um por cento; Arroz: um por cento;  Citros: um por cento; Batata, cebola e frutas: um por cento;  Outros: um por cento.

Fonte: MONTENEGRO, Marcelo; DOLCE, Julia (org.). Atlas dos agrotóxicos: fatos e dados do uso dessas substâncias na agricultura. Rio de Janeiro: Fundação Heinrich Böll, 2023. p. 15. Disponível em: https://livro.pw/xexjk. Acesso em: 29 ago. 2024.

a) Qual cultura é a mais dependente de agrotóxicos no Brasil?

6. a) Soja.

b) De acôr-do com o quê você estudou, ela é produzida principalmente pela agricultura familiar ou pelo agronegócio?

6. b) Principalmente pelo agronegócio.

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