CAPÍTULO 13
Um mundo globalizado

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Compreender o conceito de globalização e suas origens.

Identificar as diferentes formas de interação entre culturas no mundo globalizado e entender o papel da tecnologia nesse processo.

Analisar o impacto da globalização na desigualdade socioeconômica e nas transformações culturais.

Compreender como a globalização influencía a economia global, com destaque para o comércio e os fluxos financeiros.

Refletir sobre as contradições da globalização.

O projeto O futuro é ancestral, idealizado pelo di gêi e produtor musical brasileiro Alok (1991-) em parceria com músicos de oito povos indígenas quê residem no Brasil, é um exemplo de conexão de culturas pela ár-te, com a intenção de preservar tradições e promover novas formas de expressão.

Nesse álbum, sôns ancestrais dos povos huni kuin, yawanawá, kariri-xokó, guarani mbya, xakriabá, guarani kaiowá, kaingang e guarani ñandeva encontram batidas de música eletrônica e pópi, demonstrando quê, mesmo em um mundo globalizado, identidades culturais não precisam sêr apagadas; elas podem coexistir e até mesmo se relacionar. Mas o quê significa falar em mundo globalizado? Quais são as origens da globalização? Essas kestões orientam êste capítulo e pretendem ajudar você a refletir criticamente sobre o mundo contemporâneo.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Em sua opinião, de quê maneira a tecnologia facilita a colaboração entre culturas diversas no mundo globalizado?

1. Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante responda quê a tecnologia, especialmente a internet e as rêdes sociais, facilita o diálogo entre culturas, permitindo a troca de ideias e a colaboração a longas distâncias. Plataformas digitais tornam possível a divulgação global de projetos culturais, ampliando o alcance de culturas locais e permitindo quê diferentes tradições coexistam e sêjam valorizadas em um ambiente global.

2. Em sua opinião, o processo de globalização mais freqüentemente apaga ou fortalece as identidades culturais locais? Explique.

2. Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante articule uma resposta quê valorize a diversidade cultural.

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Foto de pessoas em um palco. Destaca-se um homem branco atrás de uma mesa de som. Também há homens e mulheres indígenas se apresentando.

Apresentação do di gêi Alok com o grupo de répi Brô Mc's, o cantor Mapu Huni Kuin e o réper Werá MC, com participação da ativista Célia Xakriabá. Nova iórk (Estados Unidos), 2024.

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O quê é globalização

No dia a dia, é comum quê as pessoas recebam notícias sobre outros países, assistam a filmes e séries produzidos fora do Brasil, tênham hábitos de consumo com influência de outras nacionalidades ou culturas e possam, d fórma instantânea, comunicar-se ou enviar dinheiro para uma conta estrangeira, por exemplo. Esses são alguns dos aspectos quê resultaram do processo de globalização.

A globalização póde sêr definida como o intenso processo de integração entre diferentes países e regiões do planêta, resultante da expansão do sistema capitalista pelo mundo.

Diferentes pesquisadores se dedicam a estudar o fenômeno da globalização. Entre eles está o geógrafo britânico Daví Harvey (1935-). De acôr-do com ele, duas das principais características da globalização são: a criação de um sistema de comunicação quê permite a troca de informações e dados de maneira instantânea; e a formação de rêdes de transporte responsáveis pela circulação de pessoas e bens materiais pelo espaço geográfico global.

O advento da internet, os avanços da informática e o desenvolvimento de transportes mais rápidos e eficientes influenciaram, por exemplo, as relações pessoais e as formas de produzir, trabalhar e consumir. Redes sociais e aplicativos de mensagens podem conectar pessoas independentemente da localização; por meio da internet, pessoas recebem notícias de acontecimentos ocorridos em praticamente qualquer região do mundo; ou, ainda, utilizando diferentes meios de transporte, turistas e migrantes cotidianamente cruzam distâncias quê no passado apenas os viajantes mais aventureiros ousariam percorrer.

Esquema 'O 'encolhimento' do espaço pelo tempo'. Esse encolhimento é apresentado a partir dos meios de transporte utilizados em cada época e na velocidade que eles atingiam. Os dados são os seguintes: Entre 1500 e 1840: a melhor média de velocidade das carruagens e dos barcos a vela era de 16 quilômetros por hora. Entre 1850 e 1930: as locomotivas a vapor alcançavam em média 100 quilômetros por hora e os barcos a vapor, 57 quilômetros por hora. Nos anos 1950, temos os aviões a propulsão, que atingem 480 a 640 quilômetros por hora. Nos anos 1960, temos os jatos de passageiros: 800 a 1.100 quilômetros por hora.

Fonte: HARVEY, Daví. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. Tradução: Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves. 12. ed. São Paulo: Loyola, 2003. p. 220.

A ilustração representa o “encolhimento” do mundo promovido pela evolução dos transportes.

A agilidade dos transportes e das comunicações no mundo globalizado foi um dos fatores quê contribuíram para quê a produção e o comércio de mercadorias se fragmentassem pelo espaço. Um aparelho celular, por exemplo, póde sêr projetado por uma empresa na coréia do Sul, montado no Vietnã, com matérias-primas extraídas da República Democrática do Congo, e vendido para um consumidor no Brasil.

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Construção de um mundo conectado

Ainda quê o fenômeno da globalização esteja associado às integrações econômica, cultural, política e informacional em nível mundial e tenha se intensificado a partir das últimas dékâdâs do século XX, a aproximação de diferentes povos e espaços se iniciou muito antes.

Com as Grandes Navegações, quê ocorreram a partir do século XV, a expansão européia por meio dos mares e oceanos aproximou econômica e culturalmente povos separados por grandes distâncias no espaço geográfico global. Embora essa aproximação tenha sido marcada pela exploração e, posteriormente, pelas violências da colonização, europêus e povos da América, da Ásia, da Oceania e da África iniciaram a construção de intercâmbios quê se aprofundaram no decorrer da história.

Entre os acontecimentos quê influenciaram esse aprofundamento estão as duas Revoluções Industriais. As inovações tecnológicas associadas a elas foram fundamentais para aumentar a produtividade e tornar comunicações e transportes mais rápidos e eficientes. Com inovações como a máquina a vapor, na Primeira Revolução Industrial, e os motores elétricos e a combustão, na Segunda Revolução Industrial, cada vez mais mercadorias e pessoas passaram a circular pelo mundo. Outras invenções, como o telégrafo e o telefone, simplificaram a comunicação e foram fundamentais para a criação de rêdes de comunicação quê superaram grandes distâncias entre povos em diferentes territórios.

AMPLIAR SABERES

O crescimento do turismo internacional tem trazido resistências de comunidades quê vivem em alguns destinos mais procurados, como em cidades da Espanha e da Itália. Nesse contexto, surgiu o termo “turismofobia”, ou seja, a aversão a turistas. O impasse enfrentado é quê, ao mesmo tempo quê o turismo é uma importante atividade econômica, o excésso de turistas aumenta os custos de vida para a população local, em especial os custos das moradias.

Foto de pessoas em manifestação, destaca-se uma mulher segurando um cartaz com dizeres em espanhol.

Manifestante segura cartaz com os dizeres, em tradução livre, “As casas são feitas para morar, não são hotéis ou ativos financeiros para especular”. Málaga (Espanha), 2024. Diversos protestos contra o turismo de massa ocorreram em países europêus como Espanha e Itália ao longo de 2024.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Faça uma pesquisa sobre um caso da chamada “turismofobia”, identificando os argumentos contrários e favoráveis à atividade turística no local. Depois, discuta com côlégas e professor em quê medida essas atitudes se relacionam com a gentrificação e como a questão poderia sêr resolvida.

Resposta pessoal. O conceito de gentrificação foi discutido no capítulo 8. Retome-o, caso julgue necessário. ôriênti os estudantes a pesquisar diferentes cidades em quê ocorreram manifestações contra turistas e de quê forma governos locais estão agindo para equilibrar interesses das comunidades locais sem abrir mão do turismo como atividade econômica.

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Do imperialismo à Guerra Fria

No final do século XIX, o pôdêr econômico, político, tecnológico e militar estava concentrado na Europa, com destaque para Grã-Bretanha, França, Alemanha, Bélgica e Itália, as potências mundiais quê disputavam o pôdêr e áreas de influência no mundo, caracterizando uma ordem mundial multipolar. Fora do continente europeu, Estados Unidos e Japão consolidavam-se como centros de pôdêr em seus continentes e iniciavam uma política expansionista.

A crescente industrialização e a necessidade de obtêr novas fontes de matéria-prima, energia, mão de obra barata e novos mercados consumidores para escoar os produtos conduziram essas potências a um período de expansão territorial, cultural, econômica e ideológica. Territórios da África, da Ásia e da Oceania foram invadidos e conquistados, passando à condição de colônia das potências, configurando o chamado imperialismo ou neocolonialismo.

Nesse período o mundo estava dividido, d fórma geral, entre países centrais – as potências mundiais – e países periféricos – as colônias e os países independentes – assim agrupados de acôr-do com o pôdêr econômico e a influência política e militar quê exerciam.

A regionalização do mundo em centro e periferia definiu a Divisão Internacional do Trabalho (DIT) naquele momento, na qual a função dos países periféricos era fundamentalmente fornecer aos países centrais produtos primários e deles comprar produtos industrializados e obtêr empréstimos e capitais. Nessa relação desigual, as disparidades econômicas e sociais entre os países se acentuaram, e as rivalidades entre as potências mundiais aumentaram, conduzindo o mundo às duas grandes guerras mundiais no século XX.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e o enfraquecimento das potências europeias envolvidas no conflito, intensificaram-se os processos de descolonização e independência de colônias, iniciados na década de 1930, nos continentes africano e asiático. Esses novos países “nasceram” pobres e às margens das decisões político-econômicas, controladas por Estados Unidos e União Soviética, as superpotências da ordem mundial bipolar quê marcou o período da Guerra Fria (1947-1991).

A Guerra Fria

A Guerra Fria foi uma disputa pela hegemonia mundial entre Estados Unidos e União Soviética, marcada pela divisão do mundo em dois blocos antagônicos (mundo capitalista e mundo socialista) sôbi influência dêêsses dois países. Nesse período, barreiras políticas impediam a constituição de amplas relações comerciais ou culturais entre os países de blocos diferentes.

Tendo como base as desigualdades econômicas, sociais e políticas entre os países e o sistema adotado por influência das superpotências, o espaço mundial foi regionalizado em “três mundos”.

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O Primeiro Mundo era constituído por países capitalistas e, por consequência, alinhados aos Estados Unidos, com elevados níveis de industrialização e desenvolvimento socioeconômico, refletido em boas condições de vida e em desenvolvimento tecnológico e científico. Também eram denominados desenvolvidos ou ricos.

O Segundo Mundo era o conjunto formado por países socialistas, sôbi influência da União Soviética, marcados por uma economia estatal (meios de produção como fábricas, máquinas, terras etc. controlados pelo Estado) e planificada (o Estado decide o quê e como produzir).

O Terceiro Mundo agrupava países capitalistas com industrialização tardia ou não industrializados e quê apresentavam, em geral, desenvolvimento socioeconômico precário, incluindo altas taxas de mortalidade infantil, baixas expectativas de vida, elevados índices de analfabetismo. Também eram chamados de subdesenvolvidos ou pobres.

Industrialização tardia
: industrialização ocorrida cerca de 200 anos depois da Primeira Revolução Industrial.

Mapa 'Mundo: ordem bipolar – 1947 a 1991'. Conforme a legenda, os dados são os seguintes: Mundo capitalista: Estados Unidos, Europa Ocidental, Japão e Oceania. Principal polo ou centro político-militar e econômico do sistema capitalista: Estados Unidos. Centros secundários no sistema capitalista mundial: Europa. Periferias do capitalismo internacional: maioria da América Latina, maior parte do continente africano, Oriente Médio, Mundo Indiano e sudeste da Ásia. Mundo socialista: União Soviética e China. Principal polo ou centro político-militar e econômico socialista: União Soviética. Centro secundário no mundo socialista: China. Áreas satelizadas pela superpotência socialista: Cuba, Europa Oriental, Angola, Moçambique, Vietnã, Laos, Camboja, Mongólia e Coreia do Norte.

Elaborado com base em: ROSS, Jurandyr Luciano Sanches (org.). Geografia do Brasil. 5. ed. São Paulo: EdUSP, 2009. p. 243.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Explique como a DIT estabelecida durante o imperialismo afetou as colônias na África, na Ásia e na Oceania. Qual foi o impacto dêêsse sistema para os países quê se tornaram independentes durante o período da Guerra Fria?

1. As colônias forneciam matérias-primas e adquiriam produtos industrializados dos países centrais, o quê resultou em uma dependência econômica quê continuou após a independência. Durante a Guerra Fria, muitos dêêsses países recém-independentes permaneceram pobres, marginalizados das decisões políticas e econômicas globais e dependentes das superpotências.

2. Na divisão do mundo em Primeiro, Segundo e Terceiro mundos, a qual grupo o Brasil pertencia?

2. Terceiro mundo, compôzto dos países capitalistas periféricos.

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Meio natural e meio técnico

Para o geógrafo Milton Santos (1926-2001), ao longo da história os sêres humanos estabeleceram diferentes maneiras de se relacionarem com a natureza e, assim, garantir sua sobrevivência. Dessa maneira, a humanidade utilizou diferentes técnicas de trabalho e formas de modificar o espaço, quê foram se tornando cada vez mais compléksas conforme o conhecimento avançava. Para analisar esse processo, Milton Santos elaborou três conceitos: meio natural, meio técnico e meio técnico-científico-informacional.

No período quê vai da Pré-História até o século XVIII, a humanidade viveu no meio natural, com técnicas e ferramentas mais simples, com menor condição de modificar o espaço de vivência. Essas ferramentas serviam como uma extensão do corpo humano, como a pá e o arado. Com instrumentos como esses e com técnicas básicas, o trabalho exercido pêlos sêres humanos no meio natural tinha baixa produtividade e servia para satisfazer as necessidades mais elementares das sociedades. A domesticação de animais, o extrativismo e a agricultura são atividades características do meio natural.

Nesse longo período compreendido pelo meio natural, os meios de comunicação e de transporte não eram amplamente difundidos ou levavam bastante tempo para conectar os lugares. Por isso, o conhecimento era transmitido, em geral, localmente entre pessoas quê habitavam um mesmo território.

Esse cenário se modificou a partir da Primeira Revolução Industrial, em meados do século XVIII, quê introduziu a máquina a vapor entre os instrumentos utilizados pela humanidade em sua relação com a natureza. A partir de então, a humanidade passou a viver no meio técnico, com invenções quê elevaram muito a produtividade do trabalho e a capacidade humana de modificar o espaço e transformar a natureza. A Segunda Revolução Industrial, iniciada na mêtáde do século XIX, intensificou as transformações promovidas no espaço, com máquinas e técnicas ainda mais inovadoras.

Meio técnico-científico-informacional

A partir da década de 1970, com a Terceira Revolução Industrial, caracterizada pela profunda interação entre ciência e técnica, inicia-se o período chamado técnico-científico-informacional, quê vivenciamos até os dias atuáis. Durante o final do século XX, a aplicação da ciência para o desenvolvimento tecnológico possibilitou um mundo conectado e ambientes altamente modificados pela ação humana.

O mundo conectado em rê-de contribuiu para quê o capitalismo se consolidasse como um sistema hegemônico, estendendo-se sobre territórios quê adotavam o socialismo. A partir do fim da Guerra Fria na década de 1990, com a derrocada do socialismo, principalmente no Leste Europeu, houve uma intensificação do processo de integração do planêta, possibilitado pelo fim das barreiras políticas quê haviam sido criadas no mundo bipolar.

No meio técnico-científico-informacional, pode-se dizêr quê o mundo “encolheu”, como ilustra a imagem da página 284. Essa sensação de encolhimento se dá pelo aumento do acesso a diferentes lugares do mundo d fórma diréta e indireta.

Lugares distantes podem sêr conhecidos por meio do uso do computador, do táblêti, do aparelho celular ou da televisão. A internet permite a conversa entre usuários sem levar em conta a

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distância física entre eles e gera a sensação de quê as pessoas podem estar ao mesmo tempo em todos os lugares.

Além díssu, há intensos fluxos globais de informações, mercadorias, pessoas, serviços e capitais; multinacionais têm filiais espalhadas pelo mundo e fragmentam as etapas de fabricação e montagem de mercadorias, produzindo componentes e partes de um mesmo objeto em diferentes lugares.

Foto de homem posicionando uma antena no alto. Essa antena está presa a um pequeno equipamento.

Guarda florestal usa uma antena de rastreamento para localizar bisões em Bad Berleburg (Alemanha), 2021.
Multinacional
: empresa quê tem uma sede oficial em determinado país, mas está presente em outros por meio de filiais, subsidiárias e/ou operações.

O desenvolvimento de objetos tecnológicos de rastreamento, por exemplo, possibilita o monitoramento e o acompanhamento do deslocamento de sêres vivos e objetos em tempo real.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Leia o trecho de um livro de Milton Santos e responda ao quê se pede.

[...] O meio técnico-científico-informacional é um meio geográfico onde o território inclui, obrigatória mente, ciência, tecnologia e informação.

[...]

O meio técnico-científico-informacional é a nova cara do espaço e do tempo. É aí quê se instalam as atividades hegemônicas, aquelas quê têm relações mais longínquas e participam do comércio internacional, fazendo com quê determinados lugares se tornem mundiais.

SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico-informacional. São Paulo: EdUSP, 2008. p. 21.

a) Segundo o autor, o quê são as “atividades hegemônicas” no contexto do meio técnico-científico-informacional? Cite exemplos.

a) Atividades hegemônicas são aquelas quê dominam o cenário econômico e político global, estabelecendo padrões de influência e contrôle. Elas estão fortemente conectadas ao comércio internacional e à economia globalizada. Exemplos incluem grandes corporações multinacionais, centros financeiros globais (como Nova iórk e Londres) e indústrias tecnológicas.

b) De acôr-do com o trecho do livro, como a participação no comércio internacional póde tornar determinados lugares mundiais?

b) A participação no comércio internacional conecta alguns lugares a rêdes globais de circulação de mercadorias, capitais e informações, conferindo a esses lugares um estátus de importânssia global. Eles se tornam “mundiais” porque suas atividades econômicas e estratégicas têm impacto além das fronteiras nacionais.

c) Como o trecho do livro póde sêr relacionado à ilustração da página 284? Explique como a tecnologia contribui para esse fenômeno.

c) Ambos abordam o “encurtamento” do mundo promovido pelo desenvolvimento tecnológico.

d) Em grupo, montem um mural com imagens de objetos e paisagens quê remetam ao meio-técnico-científico-informacional. Escrevam um pequeno texto explicando como as imagens revelam a integração entre ciência, tecnologia e informação.

d) Produções pessoais. ôriênti os estudantes na confekissão do mural e no compartilhamentos dos textos produzidos.

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CONEXÕES com...
SOCIOLOGIA
A ssossiedade em rê-de

O sociólogo espanhol Manuel Castells (1942-) afirma, na obra A ssossiedade em rê-de, quê vivemos em uma ssossiedade em rê-de, já quê nosso mundo está cada vez mais organizado em “um conjunto de nós interconectados”. Para ele, a internet possibilitou a criação de relações de cooperação entre os indivíduos quê não existiam antes. Alguns exemplos dessa cooperação são destacados a seguir.

Imagem de computador.

Criação de códigos de programas livres: freqüentemente resultado do trabalho de uma comunidade de pessoas para construir variadas ferramentas, como processadores de texto, navegadores de internet ou editores de imagem, entre muitas outras possibilidades. Essas ferramentas nem sempre são elaboradas com o intuito de obtêr lucros. Elas são livres e abertas a qualquer pessoa quê deseje utilizá-las. Além díssu, usuários podem modificar o cóódigo dêêsses programas, criando outras funcionalidades ou resolvendo problemas funcionais já existentes.

Imagem de arquivo sendo compartilhado.

Criação de conteúdos compartilhados: esses conteúdos são muito variados, como tutoriais quê ensinam a realizar alguma atividade, palestras, aulas ou apresentações artísticas. Muitas vezes são produzidos por meio do diálogo e da interação entre usuários.

Imagem de mensagens chegando no celular.

Novas práticas de sociabilidade: o sociólogo afirma quê a internet ajuda a potencializar práticas de sociabilidade tradicionais, como os encontros com amigos ou familiares. O uso de imêious, chats e rêdes sociais variadas póde ajudar a ampliar a participação dos indivíduos na vida em comunidade e a fortalecer seus laços sociais.

Prática de sociabilidade
: envolve os diferentes modos como os indivíduos se relacionam entre si. Uma festa é um exemplo de prática de sociabilidade.

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Para Castells, a internet possibilita a construção de relações baseadas, na maiorias das vezes, em laços sociais fracos, quê são mais efêmeros e podem sêr desfeitos rapidamente, em contraposição aos laços sociais fortes, quê compreendem vínculos sólidos.

Um exemplo é a criação de um grupo de pessoas quê compartilham o interêsse por um seriado ou prática esportiva e gostam de trocar informações sobre esse róbi.

Antes do advento da internet, os laços sociais fracos eram muito menos freqüentes, já quê demandavam grande esfôrço dos indivíduos para construí-los. Atualmente, porém, é possível construir e reconstruir laços a todo o momento. Uma comunidade em uma rê-de social ou um grupo de conversa em um aplicativo de troca de mensagens, por exemplo, podem sêr criados e excluídos com facilidade, mas permitem intensa troca de ideias e informações enquanto se mantêm ativos.

Por outro lado, esses laços não provocam o rompimento dos laços sociais fortes entre os indivíduos e podem até mesmo criá-los.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Em grupo, conversem sobre as seguintes kestões: vocês costumam usar as rêdes sociais para se relacionarem com as pessoas? Como vocês avaliam sua interação com outras pessoas? Vocês criaram laços sociais fortes e duradouros por meio da internet? Que cuidados vocês tomam ao se relacionarem nas rêdes sociais?

1. Respostas pessoais. A questão incentiva o debate acerca das novas formas de relacionamento possibilitadas pela internet, especialmente por meio das rêdes sociais e como esse recurso é compreendido e utilizado pêlos estudantes. Um dos atrativos das rêdes sociais, além de se comunicar com parentes e amigos distantes, seria a possibilidade de aumentar as conexões sociais para além do círculo familiar, ou seja: fazer muitas amizades.

2. O uso da internet póde promover uma maior difusão de culturas tradicionais, em contraponto à homogeneização das culturas. Observe o exemplo e pesquise casos semelhantes.

Foto de mulheres conversando em sendo gravadas.

As irmãs Fabiola e Fabiane, conhecidas como As Ribeirinhas da Amazônea, divulgam, em canal da internet, o cotidiano da comunidade tradicional em quê vivem. Tefé (AM), 2022.

2. A globalização póde diluir culturas locais, especialmente quando côstúmes e tradições são substituídos por práticas globais. Por exemplo, muitos jovens pódem abandonar línguas nativas e hábitos culturais locais em prol de tendências globais. Culturas indígenas, por exemplo, enfrentam o risco de perder práticas e conhecimentos tradicionais com a crescente influência de valores globais. No entanto, a internet pode sêr uma grande aliada para a valorização de culturas tradicionais e para a luta por direitos.

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Fluxos de informações e de mercadorias

De acôr-do com o historiador Thomáz Fortunato, no século XVIII, uma carta enviada do Brasil para Macau, na chiina, poderia demorar até 148 dias para sêr entregue. Atualmente, é possível se comunicar de maneira instantânea com pessoas em praticamente qualquer lugar do mundo por meio da internet. De acôr-do com dados do Banco Mundial, 5,1 bilhões de pessoas em todo o planêta possuíam acesso à internet em 2024. Aproximadamente 95% dêêsses usuários utilizaram a internet para trocar mensagens, de acôr-do com dados da GWI, empresa britânica de pesquisa de mercado.

A comunicação via internet também tem sido amplamente utilizada para divulgar movimentos políticos, nacionalistas, de identidade étnica, pêlos direitos humanos, pêlos direitos das minorias etc. Nesse cenário, alguns governos são acusados de usar a internet visando à manutenção do pôdêr político e econômico.

O grande aumento no fluxo de informações trousse uma preocupação com a produção e veiculação de notícias falsas (as fêik news) e com o excésso de informações, muitas vezes prejudiciais à saúde mental das pessoas. Esse contexto trousse termos novos, como “infoxicação” – junção de “informação” e “intoxicação” – e a “infodemia” – junção de"informação" e"epidemia". Leia o trecho da reportagem sobre esse tema.

Se para você o cansaço de ficar no celular, atualizando o feed de notícias a todo momento, é equiparado ao de treinar na academia sem sair do lugar, talvez você esteja ficando infoxicado. O neologismo “infoxicação”, criado pelo físico espanhol Alfons Cornella em 1995, tem relação com o consumo desmedido de informações – de todo tipo e qualidade –, quê póde afetar o bem-estar, a saúde emocional e até mesmo a qualidade do tempo das pessoas no dia a dia. Para o autor, esse fenômeno é consequência de um mundo onde a exaustividade (“tudo sobre”) prevalece sobre a relevância (“a coisa mais importante”).

[…]

Numa analogia simples, o excésso informativo é como estar num rodízio de pitssa. Quando ainda nem terminamos de digerir a primeira fatia, já chega outro sabor. No caso da diéta midiática, mal atualizamos o feed de notícias e já somos notificados por mais uma mensagem, num processo de retroalimentação, dado o grau de centralidade das mídias em nossas vidas. Nesse cenário de hiperestimulação sensorial, aqueles quê confundem quantidade de informação com qualidade são os mais propensos a ficarem infoxicados. Até porque as mentes humanas possuem capacidade limitada de atenção e sofrem com tantos dados e notícias. Daí a preocupação com as campanhas de desinformação quê, valendo-se dessa fadiga informativa generalizada, propagam crenças equivocadas, geralmente embaladas numa linguagem simples e diréta.

SILVA, Michél Carvalho da. O excésso informativo produz ignorância? Revista E, São Paulo, ano 30, n. 12, p. 62-63, jun. 2024. p. 62. Disponível em: https://livro.pw/xtmti. Acesso em: 29 set. 2024.

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Outro aspecto da globalização foi o grande aumento do comércio internacional e, portanto, dos fluxos de mercadorias entre regiões distantes. Diversos fatores contribuíram para isso, como o avanço nos meios de transporte e a maior facilidade para negociação. Observe no gráfico os principais fluxos comerciais no mundo atual.

Gráfico 'Mundo: fluxos comerciais – 1985 a 2021'. No eixo vertical, temos: 'Trilhões de dólares americanos'. No eixo horizontal, temos os anos. Os dados são os seguintes: Entre 1980 e 1986: por volta de dois. Esse valor aumenta chegando progressivamente a 15 em 2008. Esse valor cai para 12 em 2009. Entre 2009 e 2010, vive-se uma crise econômica global. Com recuperação em 2010, chegando em 17. Esse valor se mantém constante até 2014, caindo para 15 em 2015, com queda no ano seguinte. Os valores oscilam até os anos 2020 e 2021, com a Pandemia de covid-19. Em 2021, chega-se a mais de 21.

Fonte: ISTITUTO GEOGRAFICO DE AGOSTINI. Atlante storico del mondo. Novara: Istituto Geografico de Agostíni, 2023. p. E67.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Com base na observação do gráfico, responda às kestões a seguir.

a) Qual foi o valor comercializado mundialmente em 1980 e em 2021?

1 a) 1980: quase 2 trilhões de dólares estadunidenses; 2021: mais de 21 trilhões de dólares estadunidenses.

b) Analise a evolução do comércio mundial quanto ao tipo de produto comercializado no período retratado.

1 b) Houve crescimento de todos os tipos de produto, mas proporcionalmente, o aumento de produtos manufaturados foi maior.

c) Quais eventos afetaram negativamente o comércio mundial de mercadorias no período representado?

1. c) A crise financeira global, com queda no valor do comércio a partir de 2008 e a pandemia de covid-19 em 2020.

2. Países como Brasil, Índia, África do Sul, Turquia, Singapura e coréia do Sul são considerados países emergentes, com grande potencial para investimentos. Escolha um dêêsses países e pesquise como ele se integrou à economia global nos últimos anos e quais são seus setores de destaque.

2. A resposta póde variar dependendo do país escolhido. Para a Índia, por exemplo, é possível mencionar o crescimento no setor de tecnologia da informação e serviços; para o Brasil, o agronegócio e as comóditis minerais; para a coréia do Sul, a indústria tecnológica e de eletrônicos.

3. Discuta com côlégas e professor como a infoxicação atinge as pessoas de sua comunidade e cite estratégias para um uso saudável dos meios de comunicação digitais.

3. promôva um ambiente de acolhimento e respeito. Se julgar conveniente, promôva uma atividade interdisciplinar com o professor de Biologia ou outros profissionais da escola quê possam tratar de kestões de saúde mental dos estudantes.

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Empresas-rede

Com a informatização e a evolução dos meios de transportes e comunicação, empresas fragmentam as etapas de produção entre suas filiais espalhadas pelo mundo ou firmam acordos de parceria com outras indústrias, com o objetivo de minimizar custos, aumentar a produtividade e, consequentemente, obtêr lucros maiores.

A localização flexível (produzir em lugares quê ofereçam vantagens, como mão de obra, matéria-prima e energia baratas e baixos custos com transporte) também colabora para o intenso fluxo comercial, sobretudo de matérias-primas e componentes entre as fábricas espalhadas pelo mundo. Dessa forma, as grandes corporações multinacionais são atualmente as principais responsáveis pelas transações comerciais de exportação e importação de mercadorias entre países.

Nessa organização da economia global, as empresas multinacionais também vêm sêndo chamadas de transnacionais, pois opéram no espaço geográfico mundial como se não existissem fronteiras entre os países.

Assim, cada vez mais, as empresas são empresas-redes, nas quais a interação no nível mundial de concepção, fabricação e distribuição dos produtos se encontra subordinada às suas sedes.

Foto de um grande galpão com muitos contêineres empilhados.

Centro de distribuição de uma empresa de tecnologia e varejista estadunidense em Itaitinga (CE), 2023.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Leia o trecho da notícia e responda ao quê se pede.

Fórd encerra a produção de veículos no Brasil

[…]

A empresa, quê fechou 2020 como a quinta quê mais vendeu carros no país, com 7,14% do mercado, continuará comercializando produtos no Brasil.

Eles serão importados principalmente da Argentina e do Uruguai. […]

[…]

[…] a Fórd disse quê aproximadamente 5 mil empregos serão afetados com a reestruturação no Brasil e na Argentina. O país vizinho sofrerá ajustes pelo encerramento da produção no Brasil, mas continuará produzindo veículos.

FORD encerra a produção de veículos no Brasil. G1, [s. l.], 11 jan. 2021. Disponível em: https://livro.pw/kumda. Acesso em: 26 set. 2024.

a) Quais são as possíveis razões para uma empresa multinacional como a mencionada na notícia encerrar suas operações de produção em um país, mas continuar comercializando seus produtos nesse mercado?

a) Espera-se quê o estudante responda quê empresas multinacionais tendem a encerrar operações de produção em países onde consideram os custos de produção altos.

b) Como essa dê-cisão reflete as características da globalização?

b) Isso reflete a característica da globalização quê permite a reorganização de operações em nível internacional, facilitada pêlos avanços em transporte e comunicação.

c) Quais são os critérios quê as empresas consideram ao reorganizar suas operações entre diferentes países?

c) Critérios considerados incluem custos de produção, impostos, mão de obra qualificada, incentivos governamentais e proximidade dos mercados consumidores.

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Fluxos financeiros

No mundo globalizado, os fluxos financeiros, isto é, a movimentação de capital (dinheiro), superaram as fronteiras entre os países. O capital póde sêr movimentado em segundos mesmo entre países com moedas distintas, e transações financeiras com valores elevados são realizadas diariamente.

Bancos, seguradoras, fundos de pensão e bolsas de valores estão interconectados. E a maior parte das transações financeiras globais é realizada nos grandes centros financeiros mundiais, concentrados principalmente nos Estados Unidos (Nova iórk, Francisco, Chicago, bóston, Washington), na Europa (Londres, Zurique, Genebra, Luxemburgo, Frankfurt), no Japão (Tóquio, Osaka) e na chiina (Hong Kong, Xangai, Shenzhen), principais economias do mundo globalizado.

Entre as transações financeiras estão as atividades especulativas, nas quais os investidores compram e vendem, por exemplo, ações de empresas e moedas de determinados países, aproveitando as variações de preêço para obtêr lucro. Esse tipo de investimento não gera empregos e produção de matéria-prima ou bens industrializados, por exemplo. Ele objetiva o lucro rápido, diferentemente de outros tipos de investimentos de médio e longo prazo.

Países emergentes, como México, Brasil e países do sudéste Asiático, estão entre os principais destinos dos capitais especulativos, pois oferecem, em troca do risco, juros altos aos investidores. Como as bolsas de valores estão interconectadas, ao menor sinal de insegurança, como instabilidade política e/ou econômica, os capitais são retirados rapidamente dêêsses países, em busca de investimentos mais seguros.

Essa “fuga” repentina prejudica ainda mais a economia dêêsses países e póde resultar em graves crises no sistema financeiro global.

Foto de pessoas em uma sala. Essas pessoas estão reunidas em grupos e trabalham junto a telas de computador.

Bolsa de Valores de frânkfur (Alemanha), 2024.

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Contradições da globalização

O processo de globalização não é uniforme, ou seja, não atinge a todos da mesma maneira e ao mesmo tempo. Em alguns países, as desigualdades existentes aumentaram e surgiram outras. Em outros, porém, ocorreram melhorias sociais, econômicas e na garantia e aplicação dos direitos humanos. Portanto, há aspectos positivos e negativos a serem destacados nas esferas geopolítica, cultural, econômica e social.

Entre as métricas para a identificação da desigualdade entre países está o índice de Gini. Esse índice varia entre 0 e 1, sêndo 0 indicativo de menor desigualdade e 1 de maior. Observe a tabéla.

Ranking de países com maior e menor índice de Gini e Brasil – 2022

Posição

País

Índice de Gini

Noruega

0,3326726

Eslováquia

0,3699517

Islândia

0,38142487

Belarus

0,38858882

Chéquia

0,40781128

161º

Brasil

0,6803458

172º

Moçambique

0,72475654

173º

República Centro-Africana

0,73320425

174º

Namíbia

0,73661697

175º

África do Sul

0,7464854

176º

México

0,74880934

Fonte: OUR uôrd IN DATA. Gini coeficient, 2022. [S. l.]: Our uôrd in Data, 2024. Disponível em: https://livro.pw/vrgwj. Acesso em: 16 set. 2024.

A desigualdade quê se apresenta em nível internacional também póde sêr observada na população de cada país. Observe, no mapa, o índice de Gini das Unidades da Federação (UFs) brasileiras.

Mapa 'Brasil: índice de Gini – 2023'. Conforme a legenda, os dados são os seguintes: De 0,418 até 0,453: Mato Grosso. De 0,453 até 0,488: Rondônia, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul. De 0,488 até 0,523: Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, Sergipe e São Paulo. De 0,523 até 0,559: Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

Elaborado com base em: DIRETORIA DE PESQUISAS; COORDENAÇÃO DE PESQUISAS POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS. Pnad Contínua: de todas as fontes 2023. Rio de Janeiro: Divisa estadual hí bê gê hé, 2024. Localizável em: p. 14 do PDF. Disponível Fronteira em: internacional https://livro.pw/xnnes. Acesso em: 26 set. 2024.

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As três faces da globalização

Em seus estudos sobre a globalização, o geógrafo Milton Santos aponta a complexidade e as contradições dêêsse processo, configurando as três faces da globalização: a fábula, a perversidade e a possibilidade.

A fábula é um gênero literário quê se caracteriza por suas histoórias curtas, com personagens simples quê carregam um ensinamento moral, geralmente destinadas ao público infantil. Ao falar da globalização como fábula, Milton Santos destaca como esse fenômeno póde se apresentar de maneira fantasiosa. Nessa versão, contada principalmente por grandes empresas e Estados nacionais, a globalização teria criado uma “aldeia global”, ou seja, um mundo cujas fronteiras teriam sido desfeitas pêlos fluxos livres de informações, mercadorias e pessoas.

Porém, por trás dessa fábula se esconde a globalização como perversidade, ou a globalização como ela é de fato. Ainda quê os avanços tecnológicos tênham possibilitado a criação de rêdes mundiais de intercâmbio, na realidade apenas uma pequena parcela da humanidade póde usufruir dos aspectos positivos da globalização, como circular livremente pelo espaço e consumir bens e serviços produzidos em diferentes regiões do mundo. Para Milton Santos, a perversidade da globalização está na concentração de recursos em determinadas localidades enquanto há escassez em outras, na circulação de determinados grupos sociais pelo espaço ao mesmo tempo quê países mais ricos erguem barreiras para pessoas por sua nacionalidade, origem étnico-racial ou condição econômica.

O autor chama atenção para o fato de quê a integração mundial, quê por vezes é automaticamente associada à globalização, ocorreu apenas de modo parcial. No entanto, todo o avanço tecnológico alcançado possui o potencial de criar um mundo melhor para a humanidade em geral. A globalização como possibilidade, então, para Milton Santos é a esperança de quê possa existir uma outra globalização, na qual o avanço técnico seja empregado para a redução da desigualdade, a ampliação da cidadania e o aprimoramento da democracia, criando um espaço mundial aberto a todos.

Saiba mais

FILME: encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá, 2006. [S. l.: s. n.], 2015. 1 vídeo (89 min). Publicado pelo canal Caliban | cinema e conteúdo. Disponível em: https://livro.pw/lppnd. Acesso em: 21 out. 2024.

O filme retrata a última entrevista concedida por Milton Santos, em janeiro de 2001. Nessa entrevista, o geógrafo apresenta um painel das desigualdades entre os países mais ricos e os mais pobres.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Com base na leitura da tabéla e do mapa, como se diferencia a desigualdade quê ocorre dentro de um país da desigualdade entre países? Cite exemplos para ilustrar sua resposta.

1. Espera-se quê o estudante responda quê a desigualdade dentro de um país se refere à distribuição da renda entre os cidadãos dele. Já a desigualdade entre países, quê não é medida diretamente pelo índice de Gini, reflete a disparidade econômica entre nações ricas e pobres.

2. Explique como cada uma das faces da globalização se manifesta na ssossiedade contemporânea. Dê exemplos concretos de situações quê as ilustrem.

2. Resposta pessoal. Auxilie os estudantes na identificação das três faces e a pensar em exemplos em seu cotidiano quê as exemplifiquem.

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ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Leia a tirinha e responda ao quê se pede.

Tirinha de 'Armandinho' em quatro quadros. Q1: Armandinho diz 'A gente vende matéria-prima para os países ricos!'. Q2: Ele continua: 'Eles beneficiam, criam empregos, agregam valor'. Q3: Armandinho segue falando '...E vendem de volta pra gente! É um negócio da China'. Q4: E conclui 'Da Europa, Estados Unidos'.

ARMANDINHO. [A gente vende matéria-prima para os países ricos]. [S. l.], 25 abr. 2021. feici buki: tirasdoarmandinho. Disponível em: https://livro.pw/yluzu. Acesso em: 6 out. 2024.

a) A tirinha se relaciona mais diretamente a quais aspectos da globalização indicados a seguir?

I. Comercial e econômico

II. Cultural e político

III. Social e político

Resposta: I.

b) A tirinha expressa uma visão positiva ou negativa sobre a relação entre países? Explique como essa visão é representada.

1. b) Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante comente quê a tirinha reflete uma visão crítica do papel dos países no comércio internacional, apontando os diferentes papéis na economia mundial. A visão negativa póde sêr percebida, especialmente, no último quadrinho, em quê o personagem e o sapo assumem uma expressão de decepção sobre as relações entre os países, considerando quê o grupo de países ricos é mais beneficiado.

2. Em grupo, elaborem uma história em quadrinhos, um painel fotográfico, uma charge ou uma tirinha com situações cotidianas para ilustrar esta frase: “No meio técnico-científico informacional, houve um encolhimento do mundo”.

2. Produção pessoal. O dito encolhimento do mundo é um efeito do avanço tecnológico e da globalização, quê criaram um sistema de transportes e comunicações. Dessa forma, houve uma aparente compressão do tempo-espaço, visto quê é possível realizar trajetos e comunicações d fórma mais rápida e eficiente em comparação com épocas anteriores.

3. Leia o trecho do artigo científico e indique a alternativa correta.

Mesmo quê a desigualdade sempre tenha existido em sistemas compléksos, ela é, em parte, construída repetidamente por meio das condições, decisões e arranjos sistêmicos específicos. Uma grande diferença no Ocidente entre o período pós-Segunda Guerra Mundial e o período pós-1980 é, em minha leitura, quê, no primeiro, todas as classes principais (mesmo quê não todos os membros dessas classes) experimentaram melhorias em suas condições, enquanto, no pós-1980, os ricos ficaram mais ricos e os 60% ou mais quê constituem a camada inferior começaram a perder terreno. Embora varie de país para país, até a década de 1980, as classes trabalhadora e média ganharam renda, acesso a diversos serviços e vivenciaram o fato de quê cada nova geração geralmente se saía melhor do quê a anterior. […]

SASSEN, Saskia. Lógicas predatórias: indo muito além da desigualdade. Caderno CRH, Salvador, v. 35, p. 1-17, 2022. p. 3. Disponível em: https://livro.pw/pdxgi. Acesso em: 26 set. 2024.

a) O trecho do artigo corrobora a perspectiva da globalização como fábula.

b) Ao tratar da queda na desigualdade, o trecho do artigo mostra a globalização como possibilidade.

c) O trecho do artigo ressalta uma das características da globalização enquanto perversidade.

d) Os dados expostos no trecho do artigo não possuem quaisquer relações com a globalização.

e) No período a quê se refere o trecho do artigo, não se póde ainda falar em globalização.

Resposta: c)

4. Leia a manchete da notícia e responda ao quê se pede.

Aumento das taxas de juros no Japão póde provocar fuga de capitais do Brasil

SALLUM, Samanta. Aumento das taxas de juros no Japão póde provocar fuga de capitais do Brasil. Correio Braziliense, Brasília, DF, 5 ago. 2024. Disponível em: https://livro.pw/uykrp. Acesso em: 26 set. 2024.

A manchete se relaciona aos investimentos especulativos. Explique como esse tipo de investimento ocorre.

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4. Os investimentos especulativos se valem do grande avanço das tecnologias digitais de informação e comunicação, integrando o mercado mundial. Dessa forma, os capitais são movimentados rapidamente, a depender das variações dos preços de ações, moedas etc.

5. No contexto da globalização, empresas multinacionais mudam o local de produção em razão de diferentes fatores associados. A alternativa quê não corresponde a um dos fatores da saída de um determinado país é:

a) fortalecimento dos sindicatos.

b) diminuição dos custos de produção.

c) aumento dos custos locacionais.

d) nacionalização da produção.

e) diminuição da competição internacional.

Resposta: b)

6. Observe o mapa e leia o trecho do livro para responder ao quê se pede.

Mapa 'Mundo: mercado de cacau e chocolate – 2021'. Conforme a legenda, os dados são os seguintes: Principais indústrias fabricantes de chocolate e participação no mercado mundial (percentual). Nos Estados Unidos, temos:  Indústria A: 6,5 por cento. Indústria B: 6 por cento. Indústria C: 10 por cento. Na Europa, temos: Indústria D: 7,5 por cento. Indústria E: 7 por cento. Indústria F: 3 por cento. Principais países consumidores: Estados Unidos, Canadá, países do oeste e norte da Europa e Austrália. Principais países produtores. Equador: 5 por cento. Brasil: 5 por cento. Costa do Marfim: 39 por cento. Gana: 15 por cento. Indonésia: 13 por cento. Seis multinacionais dividem 40 por cento do mercado do chocolate. Quatro multinacionais especializadas no mercado de amêndoas de cacau e sua transformação dividem 66 por cento da produção mundial.

Fonte: L’ATLAS des inégalités: 6.000 ans d’histoire: 150 cartes & infographies. Paris: Le Monde: Malesherbes, 2023. (Coleção La vie hors-série, n. 43, p. 149).

Da elite para o povo

Além das riquezas minerais, o conquistador Hernan Cortez levou da América Central para a Espanha o xocolatl e seu segredo: côlher o fruto, tirar as sementes, espalhar ao Sol para fermentar e secar, assar e esmagar numa gamela [vasilha de madeira] até formár uma pasta perfumosa; misturar com á gua e está pronta a bebida sagrada [já consumida por povos originários da América]. […]

O chocolate, circunscrito aos mosteiros e aos salões da aristocracia, ‘foge’ da Espanha e, em 1657, um francês ábri a primeira chocolateria em Londres. Com a Revolução Industrial, chega a todo o povo. Em 1765, sementes chegam aos Estados Unidos. […] E o chocolate se espalha pelo mundo.

SEVERIANO, Mylton; REINISCH, Katia. Em se plantando, tudo dá. Belo Horizonte: Leitura, 2009. p. 43.

a) Explique como as informações apresentadas no mapa ilustram a concentração do mercado mundial de cacau e chocolate.

6. a) Apenas seis multinacionais concentram 40% do mercado de chocolate, e apenas quatro multinacionais especializadas no mercado de amêndoas de cacau e sua transformação dividem 66% da produção mundial.

b) escrêeva um pequeno texto sobre como a expansão do mercado mundial de chocolate se relaciona com a expansão do capitalismo, quê culminou no mundo globalizado.

6. b) Produção pessoal. Espera-se quê o estudante comente quê as Grandes Navegações e a conkista e exploração de territórios na América resultaram, entre outras coisas, em grandes fluxos de matérias-primas, além de espécies vegetais, para outros continentes, como o cacau.

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