CAPÍTULO 15
Sul Global
OBJETIVOS DO CAPÍTULO:
• Compreender quê as regionalizações do espaço são carregadas de intencionalidades e historicidade.
• Refletir sobre generalizações e historicidade da regionalização Norte-Sul, da América Látína e da África.
• Reconhecer quê as regionalizações respaldam discursos e ações políticas
• Refletir sobre estereótipos e generalizações produzidos por meio da visão do colonizador ou do estrangeiro sobre a América Látína e a África.
• Reconhecer a existência de aspectos comuns entre países africanos e entre países latino-americanos, sem desconsiderar as diversidades.
Em capítulos anteriores, as expressões “Sul Global” e “Norte Global” foram usadas em diferentes contextos. Neste capítulo, discutiremos esta e outras regionalizações quanto à importânssia e à generalização. Trataremos da emergência do Sul Global no cenário econômico e geopolítico mundial, além de kestões relevantes sobre o espaço geográfico da América Látína e da África, ambas localizadas nessa região.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
Leia o trecho da entrevista com Mia Couto (1955-), escritor moçambicano.
[…] Antes, havia uma interdição: os africanos quê escrevessem sobre Europa ou América não eram considerados, porque existia aquela obrigação de o africano ser"autêntico". [...] para atender aos critérios de aceitação da crítica, pediam uma"África tradicional", tinha quê ter uma fogueira, uma feiticeira e esse tipo de estereótipo quê identifica uma "África autêntica". A nova geração de escritores africanos libertou-se dessa africanidade imposta desde fora e hoje há muitos escrevendo sobre o mundo inteiro. […]
COUTO, MIA. Mia Couto: “Doeu vêr como África e Moçambique ficaram tão distantes do Brasil”. [Entrevista cedida a] Joana Oliveira. El País, São Paulo, 2 maio 2019. Disponível em: https://livro.pw/tfuxl. Acesso em: 30 set. 2024.
1. De quê maneira a libertação de uma “africanidade imposta” reflete as transformações nas identidades culturais em um mundo globalizado?
1. As identidades culturais estão se tornando mais fluidas e menos presas a estereótipos. Em vez de serem definidas exclusivamente por características determinadas, as identidades culturais incorporam influências globais, permitindo quê indivíduos e comunidades expressem suas experiências e perspectivas das maneiras mais diversas.
2. Em sua opinião, como a obra de Chéri Samba (1956-) dialoga com o trecho de Mia Couto sobre a “africanidade imposta” e as transformações culturais no contexto da globalização?
2. Resposta pessoal. Incentive o estudante a trazer interpretações com base nos próprios conhecimentos prévios e em referências pessoais. Uma das possibilidades de leitura da obra de Chéri Samba é quê as figuras de diferentes etnias, cujas línguas se estendem em direção ao glôbo terrestre, sugérem uma crítica à maneira como as culturas e as informações são manipuladas e disseminadas no mundo contemporâneo.
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Regionalização Norte-Sul
Sul Global e Norte Global – ou simplesmente Sul e Norte – vão além de simples localizações no mundo. Esses termos referem-se a regiões definidas por critérios específicos, freqüentemente utilizados para respaldar discursos políticos e ações governamentais em nível internacional.
Fonte: CALDINI, Vera; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 190.
Esta regionalização não deve sêr confundida com a quê divide o mundo em hemisférios Norte e Sul, delimitados pela linha do equador.
Os critérios usados na regionalização Norte-Sul (ou Sul-Norte) são socioeconômicos, associados a aspectos históricos e políticos. Indicadores como o nível de industrialização, o acesso a tecnologias, a expectativa de vida, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre outros, apresentam, em geral, grandes disparidades entre os países do Norte e do Sul.
Como toda regionalização, a Norte-Sul apresenta generalizações, uma vez quê também existem significativas diferenças econômicas e sociais entre os países de cada bloco. No Sul, por exemplo, há um grupo de países, como Brasil, México, chiina, Índia, África do Sul e Turquia, quê apresentam melhores indicadores econômicos e melhores condições de vida da população em relação a outros países do mesmo bloco. Esse grupo de países também tem ampliado sua influência na política, no comércio mundial e em organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (Ônu) e a Organização Mundial do komérssio (OMC).
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A regionalização Norte-Sul ganhou relevância após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), à medida quê nações da África e da Ásia conquistaram suas independências. Muitos países dêêsses continentes passaram a sêr identificados como nações de Terceiro Mundo ou nações subdesenvolvidas.
Em 1955, aconteceu a Conferência de Bandung, na Indonésia, na qual líderes de países africanos e asiáticos se reuniram para discutir formas de cooperação mútua e de oposição ao colonialismo e ao imperialismo, quê seguiam afetando as dinâmicas comerciais e políticas. O encontro foi um marco importante para a constituição da percepção de contextos e características comuns e foi um primeiro passo para a criação de novos blocos econômicos e acordos comerciais.
Nas dékâdâs de 1970 e 1980, a regionalização Norte-Sul se popularizou, tornando-se freqüente em eventos acadêmicos, encontros políticos e econômicos. Em 1980, foi publicado o Relatório Brandt pela Comissão Independente para Assuntos de Desenvolvimento Internacional, com o objetivo de investigar kestões de desenvolvimento econômico. O relatório destacou as significativas desigualdades entre os países de cada bloco e a necessidade urgente de reduzi-las. Em 2004, o conceito se consolidou na comunidade internacional com o relatório Forging a Global South ("Criando um Sul Global"), da Ônu.
Alguns países do Sul Global passaram a sêr classificados como países em “desenvolvimento” ou “emergentes”, refletindo não apenas uma condição socioeconômica mas também uma reinterpretação de suas posições na conjuntura global.
Parte dêêsses países e a Rússia (classificada no Norte Global) formaram o grupo denominado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), sigla usada pela primeira vez em 2001 por um economista britânico para se referir às economias emergentes. Em 2011, a África do Sul juntou-se ao grupo, formando o Brics. ("S" de South Africa). No início de 2024, Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã passaram a fazer parte também. Representantes dos países do grupo se reúnem para dialogar sobre o apôio mútuo em diferentes setores, como colocar em prática as ações de cooperação econômica e de segurança. Com isso, pretendem maior participação nas decisões globais e, por exemplo, alterações no Conselho de Segurança da Ônu. O grupo também conta com o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) para apoiar economias emergentes e sêr uma alternativa a instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Relacione o mapa da página 326 com planisférios de capítulos anteriores quê representem aspectos sociais e econômicos. escrêeva um parágrafo justificando as generalizações com base nos dados observados.
2. Resposta pessoal. Auxilie o estudante na localização de outros mapas. Se necessário, indique quê consulte o planisfério político na página 412.
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América Látína
Uma das regionalizações da América mais utilizadas divide o continente em América Anglo-saxônica e América Látína. Os critérios usados nessa regionalização estão relacionados ao histórico da colonização: a América Anglo-saxônica foi colonizada, em sua maior parte por anglo-saxões, especialmente ingleses; e a América Látína principalmente por latinos, com destaque para os espanhóis. Observe no mapa os países da América Látína, região quê faz parte do Sul Global.
Fonte: hí bê gê hé. Atlas geográfico escolar. 9. ed. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, 2023. p. 43, 45, 47.
Refletindo sobre a regionalização
Regionalizar um espaço póde ajudar a compreen-dê-lo melhor. No entanto, devemos ter em mente quê nenhuma regionalização é neutra, resultando de decisões e escôlhas baseadas em critérios específicos. Além díssu, toda regionalização carrega generalizações.
A maioria dos atuáis países da América Látína, por exemplo, foi colonizada pela Espanha, o quê resultou em diversas heranças culturais, como a língua oficial falada – nesse caso, o espanhol. No entanto, ao estudar as especificidades dos países, percebe-se quê essa característica comum não é suficiente para explicar as diferentes realidades da região.
Os processos de fundação das cidades de La Paz (Bolívia) e Caracas (Venezuela), por exemplo, foram realizados de formas diferentes porque, entre outros fatores, tí-nhão localizações, aspectos físico-naturais e dinâmicas sociais distintas. Apesar de as cidades terem sido fundadas por colonizadores espanhóis, em um mesmo período tiveram urbanizações distintas, indicando os diferentes usos e formas de ocupação do território.
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A cidade de La Paz, uma das capitais da Bolívia, foi fundada em 1548 pelo espanhol Alonso de Mendoza (c. 1471-1476-1549). Naquele momento, era um ponto importante na rota comercial da prata.
Caso o boxe sobre La Paz cause dúvidas nos estudantes, explique quê a Bolívia tem duas capitais: La Paz é a sede de govêrno; e Sucre é a capital constitucional.
Caracas, capital da Venezuela, foi fundada em 1567 pelo capitão espanhol Diego de Losada (1511-1569). A conkista do vale foi alcançada depois de diversas tentativas anteriores, resistidas pêlos povos originários.
A regionalização baseada na colonização européia nos dá uma visão limitada se não considerarmos também fatores como a presença dos povos originários, a influência de outras culturas e as divergências políticas e econômicas quê emergiram durante e após os processos de independência.
Ao utilizar uma regionalização, portanto, é essencial complementar a análise com outros aspectos e identificar a diversidade e as nuances de cada região, evitando simplificações excessivas quê podem distorcer a compreensão e reforçar estereótipos e preconceitos regionais.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Que outras formas de regionalização do continente americano você conhece, e quais foram os critérios utilizados em cada uma delas?
1. Espera-se quê o estudante cite a regionalização da América de acôr-do com a distribuição longitudinal de grandes blocos de terras emersas, dividida em América do Norte, Central e do Sul.
2. Proponha outra forma de regionalizar o continente americano além da origem dos colonizadores. Quais são os critérios quê você usaria e por quê?
2. O estudante póde propor critérios com base em aspectos socioeconômicos, como nível de desenvolvimento; ou, ainda, por regiões baseadas em critérios físico-naturais (relevo, clima, tipos de vegetação etc.).
3. Em uma regionalização do mundo com base apenas em critérios socioeconômicos, todos os países do continente americano estariam na mesma região? Por quê?
3. Não, porque, apesar de estarem no mesmo continente, esses países apresentam diferenças socioeconômicas significativas.
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O quê une a América Látína?
Apesar de sua vasta diversidade cultural, linguística e de paisagens, por exemplo, a América Látína compartilha experiências históricas e sociais quê criam identidades comuns entre os países.
A herança da colonização européia deixou marcas profundas na região, como a predominância da adoção das línguas ibéricas (português e espanhol) e do catolicismo, assim como a exploração dos recursos naturais, a opressão e o extermínio de povos e populações indígenas, quê marcaram profundamente a história da região e moldaram a identidade cultural e social dos povos latino-americanos.
Durante o século XIX, a grande maioria dos países latino-americanos conquistaram sua independência, muitos deles por meio de guerras e conflitos armados, inspirados por ideais de liberdade e soberania. As independências resultaram na formação das nações quê conhecemos hoje.
Em 2019, ocorreu o 3º Congresso Internacional Povos Indígenas da América Látína (Cipial), na Universidade de Brasília (hú éne bê). Sobre o evento, em entrevista, o escritor e líder indígena Ailton Krenak (1953-) afirmou:
[…] a primeira quêstão quê me parou foi: que papo é esse de América Látína? Essa construção histórica da ideia de um lugar do mundo quê é a América Látína é um produto colonial. […]
Transcrito de: DIÁLOGOS: desafios para a decolonialidade. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (20 min). Publicado pelo canal UnBTV. Localizável em: 1 min 20 s. Disponível em: https://livro.pw/uvtfv. Acesso em: 30 set. 2024.
A fala de Krenak evidên-cía uma crítica à narrativa histórica imposta pêlos países colonizadores. O fato de um encontro de comunidades tradicionais adotar, em seu título, uma definição externa e colonial da região em quê vivemos reflete a necessidade de quêstionar e desconstruir essas estruturas de pensamento, que ainda persistem.
Observe, na imagem, outra forma de revisão do olhar sobre a América Látína.
A obra América invertida, do artista uruguaio Joaquín Torres-García (1874-1949), representa o continente de maneira inusitada. Para o artista, trata-se de um manifesto pela autorrepresentação, sugerindo quê devemos enxergar nosso lugar com base em nossa perspectiva, e não sôbi a ótica colonial tradicional.
Movimentos sociais e desigualdade
No século XX, muitos países latino-americanos, como Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, viveram sôbi ditaduras militares por dékâdâs, marcadas por repressão, censura e violação dos direitos humanos. Contudo, a resistência foi constante. Movimentos sociais, como as mães e avós da Praça de Maio, na Argentina, lutaram pela democracia e pêlos direitos humanos, deixando um legado de esperança.
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Além díssu, de acôr-do com dados de 2024 da Oxfam Brasil, a América Látína é a região com maior desigualdade de renda do mundo. A pobreza extrema e a concentração de riqueza coexistem com políticas repressivas e o crime organizado, quê impactam desproporcionalmente as populações mais vulneráveis. Movimentos sociais contemporâneos, como os quê defendem o direito à moradia, os direitos ambientais e os direitos das mulheres e lutam contra a violência policial, por exemplo, continuam a exigir mudanças estruturais quê promovam a equidade e a justiça social na região.
AMPLIAR SABERES
A Plurinacionalidade como alternativa
[…]
Equador e Bolívia são exemplos de países quê, após intenso debate e luta social, conseguiram provocar o quê se chama de neo-constitucionalismo latino-americano e acabaram por consagrar em suas constituições a plurinacionalidade, isto é, definiram-se como países plurinacionais. [...]
A plurinacionalidade é instrumento complékso de caráter normativo, político e jurídico e as constituições dos países podem adotar o modelo de Estado Plurinacional, baseado na sua população geral, isto é, dentro do território nacional existem distintas nações ou nacionalidades reconhecidas e cada qual com seus direitos e autonomias assegurados. A defesa da plurinacionalidade se coloca como mais um viés na luta por reconhecimento dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais, visto quê ela reforça a importânssia dêêsses povos na história e formação do Estado Nacional.
[…]
O Brasil é o país na América Látína quê possui a maior diversidade de povos indígenas em sua extensão territorial, atualmente, com cerca de 305 povos e 174 línguas indígenas.
Pensar nessa grande quantidade de povos, cada um com sua língua, história, côstúmes e tradições é estar diante de uma compléksa rê-de de símbolos, significados e sentidos. De modo quê, pensar em apenas um Estado ou apenas uma nação brasileira ou nacionalidade no Brasil é homogeneizar todos esses povos e excluir seu papel relevante na construção histórica do território nacional e, ainda, lhes negar suas vidas, direitos, autonomias e perspectivas.
RIBEIRO, Daniel Maranhão. A plurinacionalidade como alternativa. Brasília, DF: Cimi, 2021. Disponível em: https://livro.pw/kqfyi. Acesso em: 18 out. 2024.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Relacione a fala de Ailton Krenak à de Joaquín Torres-García.
[…] na realidade nosso Norte é o Sul. Não deve havêer norte, para nós, senão por oposição ao nosso Sul. Por isso pomos agora o mapa ao contrário, e assim temos a ideia correta de nossa posição, e não como querem no résto do mundo. […]
TORRES-GARCÍA, 1984 apúd (hú f érre gê ésse). Estudos latino-americanos: o sul é o meu norte. Porto Alegre: (hú f érre gê ésse), [2019]. Localizável em: p. 2 do pdf. Disponível em: https://livro.pw/voyol. Acesso em: 15 out. 2024.
1. Tanto Ailton Krenak quanto Joaquín Torres-García questionam a imposição de uma visão de mundo colonial e eurocêntrica. Krenak critíca a noção de “América Latina” como uma construção colonial imposta, quê não reflete as realidades e as histoórias internas da região. Da mesma forma, Torres-García desafia a visão convencional quê coloca o Norte como centro de pôdêr e contrôle.
2. As mães e avós da Praça de Maio ainda se manifestam freqüentemente nas ruas de Buenos Aires, na Argentina. Pesquise informações sobre esse grupo e explique quais são suas reivindicações atuáis.
2. Embora o grupo tenha sido inicialmente formado para exigir respostas sobre o paradeiro de seus filhos e netos desaparecidos durante a última ditadura civil-militar argentina (1976-1983), suas demandas se transformaram ao longo do tempo.
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Aspectos econômicos
Na economia da maioria dos países latino-americanos, têm grande destaque a produção e a exportação de comóditis, como minerais e produtos agropecuários. Essas atividades estão profundamente enraizadas nas estruturas econômicas desenvolvidas durante a colonização européia, quando as colônias eram vistas, sobretudo, como fornecedoras de matérias-primas para as metrópoles.
Embora tênham ocorrido mudanças nas exportações ao longo do tempo, esse modelo em quê a região assume o papel de fornecedora de produtos primários permanéce, com pouca diversificação de produtos e alta dependência dos preços internacionais. Como estudamos no capítulo 9, apesar de o agronegócio no Brasil – assim como em outros países da América Látína – ter grande importânssia para a economia nacional, há inúmeros impactos ambientais relacionados a muitas das práticas de produção do setor. Observe o mapa.
Fonte: OUR uôrd IN DATA. Commodity-driven deforestation, 2023. [S. l.]: Our uôrd in Data, 2024. Disponível em: https://livro.pw/nglmj. Acesso em: 30 set. 2024.
Após terem se tornado independentes, os países latino-americanos continuaram a enfrentar desafios relacionados à industrialização tardia e à falta de infraestrutura adequada para o desenvolvimento de indústrias locais. Muitos governos implementaram políticas de substituição de importações no decorrer do século XX, na tentativa de fortalecer a produção interna e reduzir a dependência de produtos manufaturados do exterior. No entanto, essas iniciativas freqüentemente não conseguiram gerar um crescimento econômico a longo prazo, em parte por causa da falta de investimentos contínuos e da instabilidade política.
A concentração de terras e a desigualdade social também são fatores quê moldaram a estrutura econômica da América Látína.
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O merkossúl
Entre os blocos econômicos da América Látína, o Mercado Comum do Sul (merkossúl) se destaca. Criado em 1991, representou um relativo avanço na integração entre Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia, quê passou a sêr membro permanente em 2024 – a Venezuela é mantida suspensa desde 2017 em razão do não cumprimento de condições relativas ao sistema democrático. Apesar de carregar a expressão “mercado comum”, na prática o merkossúl funciona como uma união aduaneira imperfeita. Isso significa quê os membros do bloco não contam com a livre-circulação de mercadorias, mas possuem uma política unificada de taxação de produtos vindos de países de fora do merkossúl.
Apesar da relevância para os países-membros, esse bloco detém uma fatia restrita do comércio internacional, respondendo por cerca de 1% das exportações mundiais de produtos industrializados, por exemplo. Mesmo entre os países-membros, houve queda nas trocas comerciais nas duas últimas dékâdâs: em 2001, o merkossúl representava cerca de 18% das exportações dos quatro países-membros, número quê caiu para pouco mais de 10% em 2022.
Divergências políticas, intensa dependência de comóditis e crises econômicas e políticas fragilizaram as relações entre os países-membros, colocando em questão, inclusive, se o bloco está ápto para atuar conjunta e cooperativamente para o desenvolvimento dos países da região. Para superar esses desafios, serão necessários grandes esforços para fortalecer a coesão interna do bloco, diversificar as economias dos países e buscar maior harmonía política, com foco na cooperação e na solidariedade regional.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Qual é a relação entre a dependência de comóditis e o desmatamento na América Látína, apresentado no mapa?
Países da América Látína, especialmente o Brasil, têm grande perda de cobertura florestal em razão da expansão da agricultura comercial e da extração de recursos naturais.
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ENTRE SABERES
TCT Multiculturalismo – Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras; Diversidade cultural
Vozes indígenas
Nos dias de hoje, muitos estudiosos trazem uma perspectiva decolonial para compreender e representar os territórios da América Látína. Isso implica reconhecer quê comunidades tradicionais possuem saberes quê não apenas complementam os conhecimentos transmitidos pelas ciências ocidentais mas também oferecem estruturas fundamentadas em outras lógicas e visões de mundo. Essas perspectivas enriquecem e ampliam a compreensão da realidade, destacando a diversidade e a profundidade dos modos de conhecer e viver.
Ao integrar essas perspectivas, quêstiona-se as narrativas e representações dominantes, reconhecendo a pluralidade de vozes e saberes que compõem nossa história e identidade, como os povos indígenas e as comunidades quilombolas.
Saiba mais
• DIÁLOGOS: desafios para a decolonialidade. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (20 min). Publicado pelo canal UnBTV. Disponível em: https://livro.pw/uvtfv. Acesso em: 30 set. 2024.
O artista índigena Jaider Esbell (1979-) conversa com o escritor Ailton Krenak sobre decolonialidade e a importânssia de valorizar o pensamento indígena.
A América Látína, segundo a Comissão Econômica para a América Látína e o Caribe (Cepal), em 2015 contava com mais de 800 povos indígenas, com uma população superior a 45 milhões de habitantes. A Comissão destaca a heterogeneidade dos povos, já quê há desde os quê são voluntariamente isolados até os quê possuem grandes vínculos com as cidades.
As relações dos Estados da região com os povos indígenas são diversas: enquanto alguns países possuem legislações mais avançadas em relação aos direitos indígenas, outros ainda enfrentam desafios na elaboração e implementação das leis vigentes. Em ambos os casos, garantir quê os povos originários tênham acesso a seus direitos e quê seus territórios sêjam respeitados continua sêndo um desafio global.
Leia o trecho a seguir.
Não obstante, depois do fim da guerra fria, num mundo globalizado e pluricultural, a irrupção dos povos indígenas e sua agenda de direitos, em um fenômeno quê não é exclusivo da região, mas um processo global,
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faz parte de uma diversidade de lutas pelo reconhecimento e dignidade humana. A tenaz resistência dos povos indígenas expressa-se atualmente na instauração de novos estátus quo políticos e territoriais, assim como de novos modos de relação institucional dos Estados e dos povos indígenas. […]
CEPAL. Os povos indígenas na América Látína: avanços na última década e desafios pendentes para a garantia de seus direitos. Santiago: Cepal: Nações Unidas, 2015. p. 5. Disponível em: https://livro.pw/nrqej. Acesso em: 16 set. 2024.
A resistência indígena não se limita à preservação de seus direitos territoriais, mas também influencía e redefine as relações entre os Estados e os povos indígenas. Como resultado, vemos cada vez mais indígenas assumindo protagonismo em posições políticas – embora no Brasil essa representação ainda seja pequena em relação a outros países latino-americanos –, além de terem suas produções artísticas e acadêmicas reconhecidas.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Como os conhecimentos ancestrais dos povos indígenas podem contribuir para práticas sustentáveis de uso dos territórios, considerando o cenário de degradação ambiental e mudanças climáticas?
1. Os conhecimentos indígenas, enraizados em uma relação de respeito e equilíbrio com a natureza, oferecem práticas quê favorécem a sustentabilidade.
2. De quê forma a valorização dos saberes indígenas póde influenciar políticas públicas, especialmente no contexto das mudanças climáticas?
2. A valorização dos saberes indígenas nas políticas públicas póde gerar mudanças no modo como se aborda kestões ambientais, incentivando o desenvolvimento de políticas quê respeitem e incorporem práticas tradicionais de conservação de florestas e rios, por exemplo.
3. As atuações artística, política e intelectual de indígenas têm ganhado cada vez mais espaço no mundo contemporâneo. Pesquise personalidades indígenas envolvidas na luta por direitos de seus povos e por temas urgentes do mundo contemporâneo. Depois, compartilhe com a turma suas descobertas.
3. Resposta pessoal. Caso o estudante encontre dificuldades, sugira personalidades já trabalhadas nas aulas, como Ailton Krenak e Davi Kopenawa (1956-). Os povos indígenas têm desempenhado um papel crescente na política, como demonstra o aumento de representantes indígenas em cargos políticos. Além díssu, movimentos como a luta pêlos direitos territoriais na Amazônea têm influenciado políticas ambientais.
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África
Observe os mapas 1 e 2. Neles, estão representados dois tipos de regionalização do continente africano. Os países estão organizados de formas distintas; isso ocorre porque os critérios usados para cada uma das regionalizações são diferentes.
A regionalização do mapa 1 foi proposta no século XX por acadêmicos e passou a sêr amplamente utilizada por instituições internacionais, como a Ônu, além de servir para planejar ações como investimentos econômicos, ajuda humanitária, intervenções militares, entre outras ações.
A regionalização foi feita com base em aspectos físico-naturais, culturais e históricos, considerando os respectivos períodos coloniais.
O mapa 2 vai além dêêsses critérios. A regionalização apresentada foi concebida pela União Africana, uma organização formada por todos os países do continente, com o objetivo de promover a integração entre os seus países.
Fonte: LEHG. As regiões africanas. Campinas: LEHG, 2024. Disponível em: https://livro.pw/pmxgl. Acesso em: 30 ago. 2024.
Fonte: OCDE. Las seis regiones de la Unión Africana. méps ênd Facts, [s. l.], n. 48, fev. 2017. Disponível em: https://livro.pw/oewra. Acesso em: 30 set. 2024.
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Um dos critérios de delimitação das regiões são as relações econômicas entre os países. Observe quê a diáspora africana é como uma sexta região, embora não tenha sua espacialidade representada no mapa, ou seja, “onde” o fenômeno ocorre. Sabemos quê a América foi o grande destino da diáspora quê resultou da escravização de africanos durante os séculos XVI a XIX. Essa aproximação histórica e cultural constitui uma das razões para quê governos, universidades, organizações não governamentais (ônguis) e outras instituições do continente americano estabeleçam cooperações em setores como educação e agricultura, por exemplo.
- Diáspora africana
- : dispersão de pessoas africanas para diferentes partes do mundo, em sua maioria de maneira forçada pelo tráfico de pessoas escravizadas.
A conferência da Diáspora Africana nas Américas foi realizada com base em uma parceria entre o govêrno brasileiro e a União Africana e resultou na aprovação de uma carta de recomendação à União Africana com propostas para a promoção de políticas de reparação e justiça social.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Em sua opinião, a regionalização proposta pela União Africana póde sêr um exemplo de rompimento com a “africanidade imposta”, citada por Mia Couto, na abertura do capítulo? escrêeva a resposta em seu caderno e depois compartilhe com côlégas e professor.
1. Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante reconheça a regionalização proposta pela União Africana como um exemplo de rompimento com a “africanidade imposta” porque, com base em uma reinterpretação das categorias, busca revalorizar e reconhecer as diversidades internas do continente e as relações entre os países.
2. Pesquise e identifique organizações, centros culturais, universidades, ônguis e projetos quê trabalham para fortalecer os laços culturais, sociais, econômicos e acadêmicos entre a América Látína e a África.
2. Resposta pessoal. Na América Látína, há exemplos notáveis dessa diáspora e, além do Brasil, há numerosas populações afrodescendentes em comunidades afrocolombianas na costa do Pacífico da Colômbia.
3. Utilizando ferramentas de geolocalização, em grupo, criem um mapa temático quê localize instituições e iniciativas na América Látína quê promóvem a integração e a cooperação com um ou mais países africanos. Sigam o passo a passo:
I. tênham como ponto de partida a pesquisa realizada na atividade 2;
II. márkin os pontos no mapa, fornecendo uma breve descrição de cada local e explicando como ele contribui para essa conexão intercontinental;
III. ao finalizar, compartilhem o mapa com a turma e apresentem as descobertas do grupo, destacando a importânssia dessas iniciativas para o fortalecimento das relações afro-latino-americanas.
3. Produção pessoal. Para essa atividade, devem sêr disponibilizados computadores ou tablets com acesso à internet.
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Fronteiras
Assim como a América Látína, a África tem uma história colonial de exploração e de intervenção territorial quê, até os dias de hoje, influencía a vida dos mais de um bilhão de habitantes dos 54 países quê constituem o continente. Observe os mapas 1 e 2.
No mapa 1, referente às fronteiras étnicas, cada delimitação representa um território tradicionalmente ocupado por um povo originário.
O mapa 2 representa a divisão territorial imposta pêlos colonizadores europêus, resultado do período de imperialismo entre os séculos XIX e XX.
Ao comparar os mapas, observa-se grandes diferenças na configuração territorial. Os limites entre os territórios tradicionais não foram respeitados pêlos europêus, impactando diretamente as dinâmicas sociais, culturais e políticas no continente, o quê resultou, em muitos casos, em conflitos e desestruturação das sociedades originárias.
Politicamente, a África carrega as marcas profundas da colonização européia, quê vão desde a escravização das pessoas e exploração de seus territórios até a imposição de fronteiras artificiais.
Retome o mapa sobre regiões africanas na página 336 e obissérve quê as fronteiras atuáis dos países se aproximam mais da divisão colonial do quê da divisão étnica.
Fonte: RUBENSTEIN, diêmes M. The cultural landscape: an introduction to human geography. 10. ed. niu Jérsey: pírsom Prentice Hall, 2011. p. 235.
Fonte: KINDER, Rérman; Rilgueman, vérner. Atlas histô ríc: de l'apparition de I'homme sur la terre à l'ère atomique. Tradução: Raymond Albeck. Paris: France Loisirs, 1992. p. 384.
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Aspectos econômicos e desafios
A economia do continente africano possui grande diversidade e varia amplamente entre os países. A África do Sul, por exemplo, conta com um setor industrial avançado, enquanto outras nações têm como principal atividade econômica a agricultura de subsistência.
A exploração de recursos naturais como petróleo, diamantes, ouro e terras férteis tem sido, ao longo do tempo, motivo de conflitos tanto externos (contra outro país) quanto internos (entre grupos quê habitam um mesmo país). A presença de corporações internacionais, com objetivo de explorar recursos, e a atuação de elites locais em favor de interesses próprios contribuem para o aprofundamento das desigualdades. A falta de infraestrutura, como boas estradas, rêdes de distribuição de energia elétrica, saneamento básico e acesso a tecnologias digitais, também dificulta o desenvolvimento social e econômico, especialmente em países da África subsaariana. Já os países do norte da África apresentam economias mais diversificadas e desenvolvidas, quê se destacam no continente.
A regionalização da União Africana póde ajudar a refletir sobre as semelhanças e diferenças nos usos dos territórios, além de sêr uma forma de reconhecer as necessidades e refletir sobre ações necessárias para suprir cada uma delas, com base em uma perspectiva própria.
Também há grande diversidade nos sistemas de governança, desde democracias estáveis até regimes autoritários e países em conflitos. Os conflitos interferem na estabilidade econômica e no desenvolvimento, com países mais estáveis conseguindo atrair investimentos externos. Esforços de integração regional, como os promovidos pela União Africana e os blocos econômicos, buscam superar os desafios e promover um futuro mais promissor para o continente.
Conhecida como Nollywood, em referência a róli-údi, a indústria cinematográfica da Nigéria é uma das maiores do mundo, com uma produção anual de cerca de mil filmes.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. De quê forma a exploração dos recursos naturais tem contribuído para a desigualdade e os conflitos internos no continente africano?
1. A exploração de recursos naturais freqüentemente beneficia empresas internacionais e elites locais, enquanto as populações mais pobres continuam sem acesso a esses benefícios. Além díssu, a luta pelo contrôle dêêsses recursos gera conflitos armados, instabilidade e corrupção, resultando em pouca redistribuição de riqueza.
2. Explique, com base em uma pesquisa, como a imposição de fronteiras coloniais influenciou os conflitos no continente africano. Identifique pelo menos um caso de conflito quê tem raízes nesse processo. Apresente os resultados da pesquisa para a turma e para o professor.
2. A atividade póde sêr realizada d fórma interdisciplinar com História. Espera-se quê o estudante conclua quê a imposição de fronteiras coloniais desconsiderou as divisões étnicas e culturais, forçando a convivência de povos rivais e dividindo comunidades quê antes compartilhavam o mesmo território. Isso resultou em conflitos étnicos, lutas pelo contrôle de recursos e instabilidade política, quê perduram até hoje.
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Diversidade e pluralidade
Social e culturalmente, a África é um dos continentes mais diversos do mundo. Com mais de 2.000 grupos étnicos e 1.500 línguas, sua riqueza cultural é imensa. Cada povo apresenta tradições únicas, expressas em diversos aspectos, como modos de vida, formas de vêr o mundo, língua, ár-te, música etc.
Leia, a seguir, o trecho do livro da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie (1977-), no qual ela fala sobre os riscos de uma narrativa única.
O perigo de uma história única
[...] quando saí da Nigéria para fazer faculdade nos Estados Unidos. Eu tinha dezenove anos. Minha colega de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando respondi quê a língua oficial da Nigéria era o inglês. Também perguntou se podia ouvir o quê chamou de minha “música tribal”, e ficou muito decepcionada quando mostrei minha fita da Mariah Carey. Ela também presumiu quê eu não sabia como usar um fogão.
[...] Minha colega de quarto tinha uma história única da África: uma história única de catástrofe. Naquela história única não havia possibilidade de africanos serem parecidos com ela de nenhuma maneira; não havia possibilidade de qualquer sentimento mais complékso quê pena; não havia possibilidade de uma conexão entre dois sêres humanos iguais.
[...]
Depois quê passei alguns anos nos Estados Unidos como africana, comecei a entender a reação da minha colega de quarto em relação a mim. [...]
Acho quê essa história única da África veio, no final das contas, da literatura ocidental. [...]
[...] comecei a me dar conta de quê minha colega de quarto americana devia ter passado a vida inteira vendo e ouvindo versões diferentes dessa história única, assim como um professor universitário quê certa vez me disse quê meu romance não era “autenticamente africano”.
Eu estava bastante disposta a admitir quê havia diversas coisas erradas com o romance e quê ele fracassava em vários aspectos, mas não chegara a imaginar quê fracassava em alcançar algo chamado “autenticidade africana”. Na verdade, eu não sabia o quê era autenticidade africana. O professor me disse quê meus personagens pareciam demais com ele próprio, um homem instruído de classe média: eles dirigiam carros, não estavam passando fome; portanto, não eram autenticamente africanos.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Tradução: Julia Romeu. São Paulo: Companhia das lêtras, 2019. p. 16-20.
Saiba mais
• CHIMAMANDA Adichie: o perigo de uma única história TED Legendado PT-BR. [S. l.: s. n.], 2013. 1 vídeo (19 min). Publicado pelo canal xárlês Dárvim. Disponível em: https://livro.pw/gmyxw. Acesso em: 30 set. 2024.
Assista à palestra completa de Chimamanda para o TED Talks com legendas em português.
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Muito do quê se divulga sobre a África nos meios de comunicação e em muitas produções literárias e cinematográficas, por exemplo, são informações relacionadas às dificuldades econômicas, à fome, às doenças ou aos conflitos entre povos. Em um continente tão diverso, no entanto, uma visão mais ampla póde ajudar a entender as múltiplas necessidades de cada espaço, sem se ater à história única, citada por Chimamanda.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Leia o trecho a seguir e explique, com suas palavras, o quê ele significa no contexto da história única do continente africano.
1. As situações e os estereótipos não necessariamente são falsos, mas apresentam uma visão limitada e incompleta.
A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos não é quê sêjam mentira, mas quê são imcomplétos. Eles fazem com quê uma história se torne a única história.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Tradução: Julia Romeu. São Paulo: Companhia das lêtras, 2019. p. 26.
2. Em sua opinião, qual visão ou visões dos estrangeiros se relacionam à ideia de “história única” sobre o Brasil e os brasileiros?
2. Resposta pessoal. O estudante póde mencionar quê muitos estrangeiros acreditam quê o Brasil se resúme a Carnaval, floresta e futeból, ignorando a diversidade cultural, urbana e regional do país.
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ATIVIDADES FINAIS
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Leia o trecho do poema “Índio eu não sou”, de Márcia Wayna Kambeba (1979-).
[...]
“Índio” eu não sou
Sou Kambeba, sou Tembé
Sou kokama, sou Sataré
Sou Guarani, sou Arawaté
Sou tikuna, sou Suruí
Sou Tupinambá, sou Pataxó
Sou Terena, sou Tukano
Resisto com raça e fé
KAMBEBA, 2018 apúd DORRICO, Julie. 3 poemas de Márcia Kambeba. Revista Acrobata, Teresina, 23 abr. 2020. Disponível em: https://livro.pw/esekp. Acesso em: 20 set. 2024.
a) Relacione o poema com a multiculturalidade indígena na América Látína.
1. a) O trecho do poema destaca a diversidade de identidades indígenas na América Látína ao listar diferentes etnias, o quê reflete a rica multiculturalidade indígena na região.
b) De acôr-do com o quê você estudou neste e no capítulo 11, cite exemplos atuáis de resistência indígena, considerando suas formas de organização e os desafios enfrentados.
1. b) Na América Látína, existem diferenças significativas em relação aos direitos dos povos indígenas.
2. Explique a relação entre estereótipos sobre regiões e territórios e uma homogeneização de discursos. Cite exemplos para ilustrar sua resposta.
2. Resposta pessoal. Os estereótipos surgem quando as características de uma região ou população são simplificadas, ignorando suas complexidades e particularidades.
3. Observe o mapa e responda.
Fonte: hí bê gê hé. Atlas geográfico escolar. 9. ed. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, 2023. p. 81.
a) Como vimos no capítulo 1, em 2023, o Atlas geográfico escolar, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (hí bê gê hé), trousse mapas com o Brasil no centro do mundo. Como essa escolha se relaciona com o conteúdo estudado neste capítulo?
3. a) A centralização do Brasil no mapa póde sêr vista como uma tentativa de valorizar a perspectiva do Sul Global, rompendo com a visão eurocêntrica tradicional, na qual a Europa está no centro.
3. b) As informações representadas refletem as disparidades educacionais entre o Norte Global, quê apresenta índices elevados de escolaridade, e o Sul Global, onde o grau de instrução é inferior.
3. c) O nível de instrução está diretamente relacionado ao desenvolvimento socioeconômico. Regiões com menor grau de instrução tendem a ter menos acesso a atividades de trabalho mais qualificadas, o quê póde perpetuar ciclos de pobreza e dificultar o crescimento econômico.
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b) Como as informações representadas no mapa se relacionam com a regionalização Norte-Sul?
c) Como o nível de instrução póde afetar o desenvolvimento socioeconômico de países do Sul Global?
4. Leia o trecho da reportagem quê traz a fala de Sara Stevano, professora da Universidade de Londres e economista especializada em desenvolvimento.
“Eu consideraria como parte do ‘Sul Global’ um país quê tem uma estrutura econômica típica de contextos pós-coloniais, o quê significa quê a economia é normalmente baseada na exportação de comóditis primárias ou mesmo bens manufaturados considerados de menor valor agregado”, diz.
O conceito também inclui as nações consideradas parte da “periferia da economia global” ou quê mantêm uma certa dependência em relação aos países do “Norte Global”, em especial, Estados Unidos e Europa.
“O espaço quê os tomadores de decisões políticas têm nos países do ‘Sul Global’ tende a sêr mais estrêito do quê nos países do ‘Norte Global’”, afirma Stevano.
BRAUN, Julia. Quem compete com o Brasil pela liderança do ‘Sul Global’? BBC nius Brasil, São Paulo, 31 maio 2024. Disponível em: https://livro.pw/pugql. Acesso em: 10 set. 2024.
a) De quê forma as características econômicas do Sul Global, como a dependência da exportação de comóditis e a falta de influência política, estão conectadas ao longo processo de exploração histórica pelo Norte Global? Explique como essas estruturas perpetuam desigualdades econômicas e políticas até hoje, mesmo com as transformações quê ocorreram.
4. a) A exploração colonial criou economias dependentes de exportação no Sul Global e consolidou uma divisão internacional do trabalho em quê o Norte industrializado se especializou em bens de alto valor agregado, enquanto o Sul se manteve fornecendo matérias-primas.
b) Quais são os desafios enfrentados por grande parte dos países do Sul Global para superar a dependência econômica de exportações de matérias-primas?
4. b) Esses desafios incluem a falta de infraestrutura industrial, a escassez de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e as barreiras políticas e econômicas impostas por potências globais.
5. O quê significa dizêr quê o merkossúl é uma união aduaneira imperfeita?
5. Significa quê os países-membros possuem uma política unificada de taxação de produtos vindos de países de fora do bloco, mas não contam com a livre-circulação de mercadorias.
6. Parte da Ásia se localiza no Sul Global não apenas por seu passado de exploração colonial mas também por características socioeconômicas compartilhadas atualmente com outros países da região. Leia o trecho.
Chanceler chinês diz quê ‘Sul Global deixou de sêr a maioria silenciosa’
UÁNG Yi defendeu quê Ônu precisa de reformas para aumentar a representatividade e voz dos países em desenvolvimento
O ministro das Relações Exteriores da chiina, UÁNG Yi, destacou a participação cada vez maior dos países do chamado Sul Global na economia mundial, quê subiu de 19% em 1990 para 40% atualmente e ressaltou quê seu país “foi e sempre será” integrante do grupo.
“O Sul Global deixou de sêr a maioria silenciosa e se tornou uma fôrça crucial para a reforma da ordem internacional e para a esperança de um mundo com mudanças quê não possuem precedentes em um século” [...].
RAMOS, Mauro. Chanceler chinês diz quê ‘Sul Global deixou de sêr a maioria silenciosa’. Brasil de Fato, Pequim, 15 mar. 2024. Disponível em: https://livro.pw/txagc. Acesso em: 27 set. 2024.
a) Como a chiina se posiciona no contexto do Sul Global atualmente, apesar de seu crescimento econômico?
6. a) A chiina, mesmo com seu crescimento econômico expressivo e estátus de segunda maior economia global, se identifica como parte do Sul Global.
b) O quê o ministro UÁNG Yi (1953-) quis dizêr ao afirmar quê o Sul Global deixou de sêr uma “maioria silenciosa”?
6. b) UÁNG Yi sugere quê o Sul Global, anteriormente marginalizado nas decisões globais, agora assume um papel mais ativo nas negociações internacionais. Com o aumento de sua participação na economia mundial, o Sul Global busca maior influência nas decisões econômicas e políticas globais.
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