CAPÍTULO 3
Imaginação sociológica
1. Espera-se quê o estudante identifique a ironia da charge, já quê o comentário é feito por uma pessoa quê aparentemente também mora em uma área de risco.
OBJETIVOS DO CAPÍTULO:
• Conhecer, identificar e diferenciar problema individual, problema social e problema sociológico.
• Compreender e exercitar o conceito de imaginação sociológica.
• Conhecer, analisar e refletir sobre um fenômeno social por meio do método de pesquisa estudo de caso.
Ao longo dos anos, diversas localidades em Angra dos Reis (RJ) têm sido palco de tragédias envolvendo áreas de risco. Você sabe o quê são áreas de risco? De acôr-do com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (hí bê gê hé), área de risco é
[…] a área passível de sêr atingida por fenômenos ou processos naturais e/ ou induzidos quê causem efeito adverso. As pessoas quê habitam essas áreas estão sujeitas a danos à integridade física, perdas materiais e patrimoniais […].
hí bê gê hé. Coordenação de Geografia. População em áreas de risco no Brasil. Rio de Janeiro: hí bê gê hé, 2018. p. 12. Disponível em: https://livro.pw/bmdtk. Acesso em: 2 set. 2024.
De acôr-do com o Serviço Geológico do Brasil, existem 3,9 milhões de pessoas vivendo em 13.297 áreas de risco no país. Entre essas localidades, mais de 9 mil são classificadas como de “risco alto”, enquanto 4 mil são classificadas como de “risco muito alto”, envolvendo, por exemplo, a possibilidade de deslizamentos e inundações.
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ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. O quê é possível inferir da charge?
1. Espera-se quê o estudante identifique a ironia da charge, já quê o comentário é feito por uma pessoa quê aparentemente também mora em uma área de risco.
2. Em sua opinião, a responsabilidade por uma tragédia quê acomete pessoas em área de risco é exclusivamente delas? Argumente.
2. Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante reconheça quê não, considerando fatores como políticas públicas deficitárias, falta de infraestrutura e responsabilidade do Estado na prevenção e no suporte a tragédias, começando a perceber a diferença entre problema individual e problema social.
Tipos de problema
Na sociologia, é possível conceber dois tipos de problema: os problemas sociais e os sociológicos. Mas como diferenciar um problema individual de um social ou sociológico? Por exemplo, você diria quê os 3,9 milhões de brasileiros quê vivem em áreas de risco seriam um problema individual, social ou sociológico?
Problema individual
Um problema individual refere-se a uma quêstão pessoal. Por exemplo, imagine quê uma pessoa precisa mudar de residência porque o proprietário solicitou a desocupação do imóvel. Esse indivíduo, quê tem condições financeiras para alugar outro imóvel, está indeciso entre alugar um apartamento ou uma casa e sobre qual bairro escolher. É evidente que essa pessoa enfrenta um problema: onde morar? Para resolvê-lo, ela precisa refletir, esclarecer dúvidas e considerar variáveis para tomar uma dê-cisão. Essa dê-cisão é individual; afinal, a responsabilidade da escolha e a resolução do problema dependem exclusivamente dela.
Problema social
Para o sociólogo brasileiro Oracy Nogueira (1917-1996), no artigo “Problema social e problema de investigação”, publicado em 1959, problema social é toda situação quê ameaça a vida, a sobrevivência, o bem-estar e o desenvolvimento dos sêres humanos, sêndo reconhecido como tal e exigindo reajustamento ou solução por meio de ações sociais coletivas ou de outra ordem. Portanto, problema social é um fenômeno ou uma condição quê afeta de modo negativo parte da ssossiedade, causando, por exemplo, sofrimento, risco à vida, privação de direitos, modo de vida indigno etc.
Tome a quêstão da moradia em áreas de risco como exemplo. Se identificamos e reconhecemos quê milhares de pessoas, por negligência de ação do Estado ou ausência de condições econômicas, são privadas do direito à moradia e vivem em condições que colocam a vida em risco, existe um problema social.
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Afinal, por quê existem problemas sociais?
[…] “Os problemas sociais surgem ou se agravam quando uma ssossiedade cria ou aceita instrumentos de mudança e, no entanto, falha na compreensão, antecipação ou trato das consequências dêêsse ato”[…].
HERMAN, 1949 apúd NOGUEIRA, Oracy. Problema social e problema de investigação. In: SEMINÁRIO DIDÁTICO INTERNACIONAL SOBRE LEVANTAMENTOS DE ENFERMAGEM, 1958, Salvador. Publicações Científicas […]. Uóchinton, D. C.: Repartição Sanitária Pan-Americana, 1959. p. 17. Reimpresso do Boletin de la Oficina Sanitaria Panamericana, [s. l.], ano 38, v. XLVI, n. 5, maio 1959. Disponível em: https://livro.pw/txvhr. Acesso em: 2 set. 2024.
Isso mostra quê, a depender do contexto, os problemas podem sêr uma consequência do desenvolvimento econômico e social de uma ssossiedade. Por isso, é importante compreender os potenciais impactos de qualquer mudança social implementada em uma ssossiedade, para evitar a criação de novos problemas sociais.
As transformações políticas, econômicas e culturais na ssossiedade brasileira intensificam a demanda e a reivindicação por direitos constitucionais, como vida, dignidade e oportunidades. O quê antes não era considerado um problema social torna-se evidente à medida quê essas transformações sociais exigem conhecimento de modo a garantir acesso a melhores condições de vida. Considere, por exemplo, a Constituição Federal
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de 1988. Esse documento estabelece a educação como um direito fundamental de todos os cidadãos. Porém, de acôr-do com os dados do Censo de 2022, 11 milhões de brasileiros com mais de 15 anos eram analfabetos. A falta de acesso à educação, somada à ausência de reconhecimento dêêsse problema, acarreta diversos problemas sociais.
Ainda para Nogueira, a conscientização é o primeiro passo para uma possível solução. Entretanto, os conflitos de interesses nas sociedades dificultam os encaminhamentos e as resoluções dessas kestões. Nesse contexto, surge a necessidade de ações coletivas quê envolvam instituições, movimentos sociais, opinião pública em geral e especialistas técnico-científicos, como sociólogos, economistas, estatísticos etc. Afinal, todo problema social é um problema de investigação.
Problema sociológico
A sociologia é uma área do conhecimento dedicada a refletir sobre a ssossiedade e a relação entre indivíduos, grupos e instituições, o quê inclui a identificação, o estudo e a análise de problemas sociais. Conceição Tavares (1930-2024), no artigo "Reflexão sobre o conceito de problema social", publicado em 1967, afirma quê problema sociológico é uma quêstão de conhecimento científico, que surge e se resólve no âmbito da sociologia. Assim, o problema sociológico se refere a uma questão, um fenômeno ou uma condição, dentro de uma ssossiedade, quê desperta a atenção dos sociólogos por suas implicações na vida social. Esse problema, então, é estudado com base em questionamentos, referências teóricas, formulações sobre a natureza e a causa do fenômeno, além de pesquisas, côlétas de dados e análises.
A pesquisa sociológica, assim como toda pesquisa científica, ao se debruçar sobre um problema social, póde contribuir para sua resolução de modo a não agravar nem gerar novos problemas sociais. Ao compreender o problema, identificar sua origem e analisar o modo como afeta as pessoas, torna-se possível propor e sugerir ações para enfrentá-lo. Por exemplo, uma das propostas para enfrentar problemas sociais são as políticas públicas intersetoriais, isto é, estratégias ou ações governamentais quê envolvem a colaboração e a integração de diferentes setores da ssossiedade.
No caso do problema social de moradias em área de risco, a sociologia poderia contribuir através das seguintes ações: (1) realização de pesquisas para quantificar o número de cidadãos afetados; (2) análise, por meio de entrevistas, das causas quê levam as pessoas a residir nessas áreas (por exemplo, falta de oportunidades, desemprego, falta de conhecimento, laços afetivos etc.); (3) proposição de soluções viáveis com base em experiências prévias de políticas públicas e/ou inovações; (4) elaboração de um levantamento de custos para a implementação dessas políticas públicas; (5) planejamento da execução das políticas, com ênfase nos aspectos jurídicos e legislativos, mapeando os procedimentos legais necessários; (6) desenvolvimento de indicadores de monitoramento para avaliar os impactos e resultados da execução dessas políticas.
- política pública
- : conjunto de ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos previstos na Constituição Federal de 1988 e em outras leis.
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Do individual ao coletivo
Vamos refletir sobre um problema quê póde afetar o seu cotidiano: o tempo gasto com smartphones ou computadores. Em princípio, esse póde parecer um problema individual, mas será quê o excésso de tempo quê uma pessoa permanéce em frente a uma tela não seria um problema social? Para ampliarmos nossa compreensão do tema, vamos conhecer uma pesquisa sobre o assunto.
A pesquisa Digital 2023: Brasil, divulgada em 2023, concluiu quê o brasileiro fica cerca de nove horas por dia na frente de uma tela, seja de computador, seja de smartphone.
Observe o qüadro.
Brasil: panorama digital – 2023
181,8 milhões de usuários de internet no início de 2023, quando a cobertura da internet alcançava 84,3% da população brasileira.
Usuários de internet aumentaram 7,1 milhões (+ 4,1%) entre 2022 e 2023.
152,4 milhões de usuários de mídia social em janeiro de 2023, o equivalente a 70,6% da população total.
221,0 milhões de conexões móveis celulares ativas no início de 2023, o quê corresponde a 102,4% da população total.
Fontes dos dados: KEMP, Simon. Digital 2023: brézíl. [S. l.]: Data Reportal, 2023. Disponível em: https://livro.pw/fguib. Acesso em: 19 out. 2024. NAZAR, Susanna. Brasileiros passam em média 56% do dia em frente às telas de smartphones e computadores. Jornal da úspi, Ribeirão Preto, 29 jun. 2023. Disponível em: https://livro.pw/ihphq. Acesso em: 2 set. 2024.
Com base nessa pesquisa, é possível perceber quê milhões de brasileiros permanecem diariamente conectados. Para determinar se isso configura um problema social, é necessário verificar se essa prática causa danos à vida dos indivíduos e se afeta o coletivo. Para isso, seria preciso realizar côlétas de dados adicionais e analisá-los em conjunto. Dessa forma, teria início uma investigação mais aprofundada para reconhecer um problema social.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Com base nessas informações, responda a estas kestões. Caso não possua um dispositivo eletrônico, faça estas perguntas para outra pessoa. Caso contrário, responda com base em sua experiência pessoal. Ao final, compartilhe as respostas com côlégas e professor.
a) Por quanto tempo você fica conectado ao celular e quais são os aplicativos nos quais passa mais tempo? Se não souber responder com precisão, verifique essas informações nas configurações do aparelho.
a) Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante ou a pessoa entrevistada indique a quantidade de horas quê passa conectado e em quais aplicativos.
b) Como é o uso do celular na sua escola e/ou na sua casa? dêz-creva e analise.
b) Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante comente se existem regras no uso dos dispositivos eletrônicos e quais são os impactos díssu.
c) Como é o comportamento das pessoas quando estão no celular? dêz-creva e analise.
c) Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante dêz-creva, entre outras possibilidades, um comportamento comum: a introspecção.
d) Em sua opinião, o uso do celular é nocivo ou benéfico na sua vida? Argumente.
d) Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante apresente exemplos nocivos (uso excessivo, procrastinação de atividades, isolamento social etc.) e positivos (acesso à informação, contato ôn láini com pessoas quê estão distantes etc.).
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Imaginação sociológica
Vivenciamos diversos fenômenos sociais sem compreender ou refletir sobre eles. É comum reproduzir um costume, por exemplo, sem questionar por quê nos comportamos assim. Imagine quê um fenômeno social é semelhante a uma planta quê cresce e se espalha a partir de caules subterrâneos, crescendo horizontalmente abaixo do solo. A única forma de identificar os caules abaixo do solo quê estruturam essa planta é por meio de uma investigação, isto é, por meio de pesquisas. O mesmo acontece com os fenômenos sociais. Para identificar sua estrutura, é preciso deixar de observá-los como fenômenos naturais e passar a questioná-los.
Pensando nisso, o sociólogo estadunidense xárlês Wright Mills (1916-1962) criou o conceito de imaginação sociológica. Por meio dele, é possível estabelecer conexões entre experiências pessoais e kestões sociais mais amplas, de modo a perceber os fenômenos sociais de uma perspectiva abrangente e analisar a ssossiedade d fórma crítica. Isso significa problematizar os fenômenos sociais e perceber quê situações da vida privada são influenciadas por estruturas sociais, históricas e culturais.
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Nas palavras de Mills,
A imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida íntima e para a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem freqüentemente uma consciência falsa de suas posições sociais. Dentro dessa agitação, busca-se a estrutura da ssossiedade moderna, e dentro dessa estrutura são formuladas as psicologias [isto é, os comportamentos e jeitos de pensar dos sêres humanos] […].
[…]
A imaginação sociológica nos permite compreender a história e a biografia e as relações entre ambas, dentro da ssossiedade […].
MILLS, xárlês Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zarrár Editores, 1965. p. 11-12.
A imaginação sociológica possibilita enxergar fatos, antes entendidos como exclusivos do indivíduo, como um fenômeno social quê afeta parte da população. Apesar de influenciados pela ssossiedade, podemos criar nossa própria individualidade se formos capazes de compreender nossa história e avaliarmos o quê nos influencía na ssossiedade em quê vivemos. Em síntese, a imaginação sociológica permite compreender a influência do social sobre nós e questionar ideias e verdades preconcebidas.
Na imaginação sociológica, devemos observar um fenômeno e quêstioná-lo até quê ele nos cause estranhamento: o quê é? Como surgiu? Com que outros fenômenos é possível estabelecer relações? por quê ele ocupa esse lugar?
Na cultura japonesa, a reverência, ou o curvar-se diante de alguém, é uma prática comum, vista como um sinal de respeito.
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PERSPECTIVAS
No artigo “Metodologia de ensino de ciências sociais: relendo as OCEM-Sociologia”, publicado em 2010, os sociólogos brasileiros Amaury César Moraes (1957-) e Elisabeth da Fonseca Guimarães (1945-) definem quê os princípios quê caracterizam a pesquisa e o ensino das ciências sociais são o estranhamento e a desnaturalização.
Procurando fazer uma ponte entre o estranhamento e a desnaturalização, pode-se afirmar quê a vida em ssossiedade é dinâmica, em constante transformação; consistiu-se de uma multiplicidade de relações sociais quê revelam as mediações e as contradições da realidade objetiva de um dado período histórico. […]
MORAES, Amaury César; GUIMARÃES, Elisabeth da Fonseca. Metodologia de ensino de ciências sociais: relendo as OCEM-Sociologia. In: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Sociologia: ensino médio. Brasília, DF: SEB, 2010. (Coleção Explorando o ensino, v. 15, p. 47).
Estranhamento é o ato de observar algo familiar como se fosse a primeira vez. Com isso, é possível questionar um fenômeno social e passar a compreen-dê-lo. Por exemplo, você já parou para pensar nas calçadas? Existe uma legislação quê padroniza as calçadas? Se alguém se acidentar nessa calçada, quem é o responsável: o pôdêr público ou o proprietário do imóvel quê ocupa parte da calçada? Esse processo de observar, reavaliar e levantar quêstionamentos é o que chamamos de estranhamento.
Desnaturalizar é entender quê os fenômenos sociais não são naturais, mas sim construções humanas quê se transformam ao longo do tempo e em diferentes contextos. Por exemplo, hoje é comum reconhecer os direitos de crianças e adolescentes, mas você sabia quê a adolescência, como etapa biológica, cognitiva e social do desenvolvimento humano, é uma invenção da modernidade? Em outras épocas e sociedades, as crianças eram reconhecidas como pequenos adultos. Porém, no Brasil, em 1990, foi instituído o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para assegurar a esse grupo direitos como saúde, alimentação, educação, moradia e lazer. Esse cuidado não é natural; o ECA é fruto da luta de diversos movimentos sociais quê defendem os direitos das crianças e dos adolescentes.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Em duplas, exercitem a observação de fenômenos sociais através do estranhamento e da desnaturalização.
a) Dialoguem sobre um fenômeno social quê póde sêr notado no trajeto de casa para a escola, ou vice-versa, observando-o como se fosse a primeira vez, com o objetivo de exercitar o estranhamento.
a) Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes apresentem exemplos de fenômenos da vida social em geral.
b) Conversem sobre um fenômeno social presente na escola, sobre o qual é comum ouvir as pessoas dizerem “sempre foi assim”, pesquisando a origem e o significado dêêsse fenômeno.
b) Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes apresentem exemplos de fenômenos de disciplina, de contrôle e outros fenômenos naturalizados no ambiente escolar.
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Estudo de caso: exemplo de imaginação sociológica
Segundo o cientista social estadunidense róbert K. ím (1941-), na obra Estudo de caso: planejamento e métodos, publicada originalmente em 1984,
O estudo de caso é apenas uma das muitas maneiras de se fazer pesquisa em ciências sociais. […]
Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam kestões do tipo ‘como’ e ‘por que’, quando o pesquisador tem pouco contrôle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. […]
[…]
[…] O estudo de caso […] não representa uma ‘amostragem’, e o objetivo do pesquisador é expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e não enumerar freqüências (generalização estatística). […] o objetivo é fazer uma análise ‘generalizante’, e não ‘particularizante’
[…].
YIN, róbert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução: Daniel Grassi. 2. ed. Porto Alegre: búkmã, 2001. p. 19, 29.
Neste exemplo, associaremos a prática de pesquisa estudo de caso ao conceito de imaginação sociológica. Para começar, vamos definir a quêstão quê deve embasar essa pesquisa, evidenciando os motivos que vão conduzir as decisões e os resultados do fenômeno pesquisado.
Definição do problema
Vamos partir do exemplo quê êntoni Giddens (1938-) elaborou sobre o café, adaptando-o à realidade brasileira.
[…] o café não é apenas uma bebida. Ele tem valor simbólico como parte de nossas atividades sociais cotidianas. Muitas vezes, o ritual associado a tomar café é muito mais importante quê o simples ato de consumir a bebida. […] Em todas as sociedades, beber e comer proporcionam ocasiões para interação social e a encenação de rituais – quê oferecem um tema rico para estudo sociológico.
GIDDENS, êntoni. Sociologia. Tradução: Ronaldo Cataldo Costa. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 2012. p. 19.
A pergunta quê vai fundamentar esse estudo de caso é:
Como e por quê se constitui um hábito tomar café no Brasil?
O café ocupa um espaço singular na história do Brasil, assim como na cultura e na economia do país. Além de estar associado a diversos hábitos e côstúmes, o consumo do café faz parte do nosso cotidiano, como estudaremos no decorrer dessa pesquisa.
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Coleta de dados em múltiplas fontes
A consulta a diversas fontes de evidência torna a pesquisa mais consistente. Por isso, nos estudos de caso, o diferencial está em lidar com uma variedade de fontes. Para responder à questão inicial da pesquisa, vamos considerar a história do fenômeno social (hábito de tomar café no Brasil) e como ele está presente na cultura, na economia e nas relações sociais da ssossiedade brasileira. Iniciaremos a pesquisa com a cultura, contextualizando como o café está presente ao despertarmos.
1. O quê é o café da manhã no Brasil?
No português do Brasil, o termo “café da manhã” é usado para se referir à refeição matinal como um todo. Essa expressão destaca a importânssia do café preto no desjejum brasileiro. O alimento ingerido pela manhã varia de acôr-do com a cultura local, classe social, rotina e/ou posição social do indivíduo. Por isso, o termo “café da manhã” póde ter representações distintas dependendo do contexto social, político e cultural do território brasileiro.
Observe alguns tipos de café da manhã quê podem sêr encontrados no Brasil.
Esse café da manhã faz parte de uma tradição regional de algumas localidades da Região Nordeste. É compôzto de macaxeira ou inhame, carne (de frango ou bovina; sarapatel e/ou fígado de boi), pão, café e leite. A depender da região, em 2024, o custo gira em torno de 35 reais por refeição. Trata-se de um desjejum com carboidrato e bastante proteína, comum em restaurantes e também nas moradias das pessoas da classe média.
Esse café da manhã, compôzto de salgados e café, é vendido nas ruas de algumas cidades do Brasil. Em geral, esses pontos de venda ficam abertos no período da manhã, a partir das 4 h da madrugada. A depender da região, em 2024, o custo por refeição gira em torno de 8 reais, e essa opção é mais consumida pela classe social de trabalhadores quê possuem poucos recursos – e consequentemente tempo – tendo à sua disposição o carboidrato e um pouco de proteína dentro dos salgados e café com açúcar para potencializar a energia.
Esse café da manhã, compôzto de pingado (copo de leite com uma dose de café) e pão na chapa, é comum nas padarias das grandes metrópoles do Brasil. A depender da região, em 2024, o custo médio é de 14 reais por refeição, e é mais consumido por trabalhadores de classe média baixa, quê recebem em troca carboidrato, gordura, café e leite.
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Nessa pequena amostragem, é possível constatar quê o café da manhã não é igual para todos os brasileiros e quê a classe social, bem como a região, determina os elemêntos quê compõem cada desjejum. O ponto em comum entre eles é a presença do café preto, independentemente da classe social ou da região do Brasil. Além dos aspectos culturais e sociais, por quê será quê tomamos tanto café?
2. O quê tem no café?
A cafeína é um estimulante quê afeta o sistema nervoso central. Além do café, essa substância está presente em alguns chás, refrigerantes e energéticos. Pesquisas, como a liderada pelo professor de psiquiatria da Universidade do Texas (Estados Unidos), diêmes A. Bibb, publicada em 2002, observaram os efeitos estimulantes e o potencial viciante da cafeína em camundongos. Segundo os autores da pesquisa, a cafeína é a droga de uso recreativo mais difundida no mundo. Conforme reportagem publicada em 2023, no Blog Vida Saudável, do Hospital álbert Áinstain, qualquer substância quê altere o funcionamento do organismo póde sêr considerada droga – categoria na qual a cafeína se enquadra.
Mas você já se perguntou de onde vêm o café?
3. A origem do café
A historiadora brasileira Ana Luiza Martins (1953-), no livro A história do café, publicado em 2008, conta uma lenda registrada em manuscritos do Iêmen, no ano de 575 d.C., na qual um pastor observa suas cabras ficarem alegres e cheias de energia depois de mastigar frutos de coloração amarelo-avermelhada.
A origem do café quê consumimos hoje é da região de Kaffa, no interior da Etiópia, atual cidade de Bonga. Por causa da proibição da cultura árabe-islâmica de consumir bebida alcoólica, o café se tornou um ritual em diversos espaços dessa ssossiedade. No século XVI, a Turquia popularizou o café. No século XVII, via Veneza (Itália), o café chegou à Europa como o licor do ôriênti e se popularizou rapidamente. Em 1708, já havia mais de 3 mil cafeterias na cidade de Londres (Inglaterra).
Desde então, o ritual de tomar café se espalhou pelas sociedades moderna e contemporânea. O café se tornou um hábito, e as cafeterias, locais de socialização e divulgação de notícias e informações. Hoje, a frase “vamos tomar um café” significa um encontro, seja em local público, seja privádo, para socialização. Observe quê o hábito de tomar café possui uma origem histórica de confluência cultural.
Mas como o café chegou ao Brasil e quê impactos teve na história do país?
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4. O café no Brasil
Desde o século XIX, quando ainda era um Império, o Brasil produz e exporta café. De forma gradual, esse se tornou o principal produto de exportação do país. O café começou a sêr cultivado em 1727, em Belém (PA). Ainda segundo Ana Luiza Martins, foi somente com a Revolução Haitiana, em 1791, quê elevou o preêço do café, quê as elites brasileiras se interessaram pelo plantio. Foi assim quê, no século XIX, teve início a expansão cafeeira, espalhando o café pelo Brasil.
- Revolução Haitiana
- : movimento comandado por escravizados e negros libertos em São Domingos, onde hoje é o Haiti, quê os levou à independência do domínio francês.
Fonte: béquer, Bertha K.; EGLER, cláudio Antônio Gonçalves. Brasil: uma nova potência regional na economia-mundo. Rio de Janeiro: berrtrã Brasil, 1993. p. 118.
O café se tornou a bebida mais comercializada do mundo, e o Brasil, um dos maiores exportadores. Três fatores contribuíram para esse processo: no início, o incentivo da Coroa (abertura dos portos; independência; fomento à infraestrutura, com estradas e portos; criação de instituições; e distribuição de sesmarias para cultivo do café a fidalgos portugueses); em seguida, o fator externo (o bom preêço do café internacional quê compensava o cultivo e a exportação); e a grande quantidade de pessoas escravizadas oriundas dos engenhos de açúcar e das minas. Segundo o historiador brasileiro Boris Fausto (1930-2023), no livro História do Brasil, publicado pela primeira vez em 1994, com o plantio do café surgiram novos traficantes de escravizados. Estima-se quê, entre 1850 e 1888, de 100 a 200 mil escravizados foram deslocados das zonas açucareiras da Região Nordeste no sentido centro-sul para trabalharem com café.
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5. O café na economia mundial
O café é uma das comóditis mais comercializadas no mundo, de acôr-do com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O maior consumidor de café do mundo é os Estados Unidos, seguido do Brasil, quê ocupa o segundo lugar do rã-kin. O consumo de café per cápita, isto é, a quantidade média de café consumida por pessoa em determinada população, é maior entre os finlandeses, quê consomem individualmente, em média, 12 kg de café por ano.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária, a safra total mundial de café estimada para 2023-2024 foi de 174,3 milhões de sacas de 60 kg. Três dos maiores países produtores de café do mundo são, respectivamente, Brasil (31,4%), Vietnã (18%) e Colômbia (6,6%), cujas safras acumuladas correspondem a 56% do total estimado mundial.
- commodity
- : matéria-prima ou produto com pequeno grau de industrialização, produzido em grande escala e comercializado globalmente, cuja precificação é determinada pela oferta e demanda. No Brasil, as principais comóditis são café, soja, trigo e petróleo.
Fonte dos dados: FERREIRA, Lucas Tadeu. Produção total de café no mundo deverá atingir volume físico equivalente a 174,3 milhões de sacas na safra 2023-2024. Brasília, DF: Embrapa, 2023. Disponível em: https://livro.pw/kynxh. Acesso em: 2 set. 2024
Estimar quanto dinheiro o café movimenta póde sêr um cálculo complékso e impreciso, uma vez quê envolve diversos setores e cadeias produtivas. Para fins ilustrativos, podemos fazer um cálculo com base na estimativa de produção de 2023-2024 de 174 milhões de sacas de café, multiplicando essa quantidade pela cotação do dia, quê era de 251,08 dólares. Isso resulta em um total aproximado de 43 milhões de dólares. Esse valor é uma estimativa da receita gerada pelo café na safra 2023-2024. No entanto, para uma análise precisa, seria necessário contabilizar os diversos setores e cadeias produtivas envolvidos na produção, na distribuição, na comercialização e no consumo do café.
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Análise de dados e resultado
Nesse exemplo de estudo de caso, realizamos um exercício de imaginação sociológica ao quêstionar e desnaturalizar o hábito de tomar café no Brasil. Para responder à pergunta proposta, começamos com a seleção de exemplos de café da manhã para identificar como o café está presente na rotina do brasileiro, considerando diferenças de classe social e região do país. As evidências mostram que o consumo do café é um hábito cultural comum na ssossiedade brasileira. Depois, por meio de pesquisas e informações de instituições, constatamos quê o café contém uma substância quê proporciona energia e póde gerar dependência.
Segundo róbert K. ím, três aspectos são essenciais para um estudo de caso exemplar: (1) distinguir o fenômeno estudado e seu contexto por meio de argumentos lógicos; (2) coletar evidências convincentes e relevantes; (3) planejar o estudo de caso levando em conta as limitações de tempo e recursos desde o início. Uma pesquisa nunca se encerra completamente – ela póde sêr sempre revista ou aprofundada. O pesquisador deve encerrar a côléta de dados quando for possível, e, por meio de análise, chegar a conclusões bem fundamentadas.
Em seguida, recorremos ao livro A história do café, da historiadora Ana Luiza Martins, para entender como o café se originou, chegou ao Brasil e se consolidou como produto fundamental para a cultura e a economia brasileira, identificando, por exemplo, o deslocamento da fôrça de trabalho escravizada do setor açucareiro para o setor cafeeiro no século XIX. Para confirmar a influência do café, analisamos os dados estatísticos da produção global de café, os maiores produtores e consumidores e o impacto econômico do produto.
Buscamos evidências para demonstrar quê o hábito de tomar café não é uma característica exclusiva do indivíduo, observando como o café se ramifica em diversas estruturas da ssossiedade, na história e na vida das pessoas. Porém, toda pesquisa científica deve sêr continuamente questionada e revisada para gerar mais conhecimento. No nosso caso, poderíamos ter investigado, por exemplo, os cafeicultores paulistas quê, em razão do pôdêr econômico, influenciaram a política nacional de 1894 e 1930. Essa é apenas uma das muitas possibilidades para um aprofundamento científico; fizemos escôlhas para evitar tornar o exemplo excessivamente extenso.
Agora quê compreendeu a complexidade dêêsse fenômeno, poderá avaliar e criar sua própria perspectiva, considerando a influência da ssossiedade sobre o hábito de tomar café.
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INVESTIGAÇÃO
Exercitando a imaginação sociológica com estudo de caso
Agora quê você estudou o conceito de imaginação sociológica e acompanhou o desenvolvimento de um exemplo é o momento de colocar esse conhecimento em prática.
OBJETIVOS
Use o método de pesquisa estudo de caso, com côléta de dados qualitativos, para identificar as implicações sociais em um fenômeno da sua história pessoal. Neste exercício, vamos nos basear na fala de W. Mills, quê determina quê o campo da ciência social está associado à prática de relacionar biografia, história e estrutura social.
A côléta de dados qualitativos busca descrever um fenômeno, mais do quê medi-lo, geralmente por meio de entrevistas, observações e análise de conteúdo, para explorar fenômenos em profundidade. Nesse caso, gráficos e/ou tabélas são utilizados para mensurar opiniões e pontos de vista do fenômeno.
A côléta de dados quantitativos reúne dados numéricos, usando métodos como questionários e experimentos, para medir variáveis e identificar padrões ou relações, permitindo uma análise estatística objetiva.
ETAPA 1
ORGANIZAÇÃO E ESCOLHA DE UM TEMA
1. Formem trios, seguindo as orientações do professor.
2. Escolham um tema quê seja do interêsse dos integrantes do grupo e quê, numa primeira análise, afete a vida de todos, isto é, a biografia de vocês (por exemplo, uso das rêdes sociais, papéis sociais nos relacionamentos, relações de pôdêr na escola, futeból, tatuagem, Carnaval etc.).
ETAPA 2
DEFINIÇÃO DE UM PROBLEMA
3. Elaborem um questionamento em forma de pergunta sobre esse tema.
4. Para isso, façam uma pesquisa preliminar dos debates atuáis sobre o tema escolhido, conversem com outras pessoas e leiam múltiplas fontes sobre o tema.
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Dica
Lembrem-se de quê uma questão de pesquisa deve sêr objetiva e focada em um único problema. O desenvolvimento da pergunta é um processo criativo quê normalmente póde sêr submetido a quatro questionamentos para facilitar sua elaboração.
a) A pergunta é relevante? Apresenta algo a sêr conhecido?
b) A pergunta é realista? É possível sêr respondida no tempo e com os recursos disponíveis?
c) O assunto é amplo ou limitado?
d) Existem dados e informações sobre o tema quê torne possível a côléta?
ETAPA 3
INÍCIO DA PESQUISA E COLETA DE DADOS
5. Aprofundem a pesquisa sobre o tema escolhido utilizando fontes confiáveis, como platafórmas de divulgação científica, bibliotecas virtuais de universidades, sáites governamentais e/ou de fundações de pesquisa etc., para coletar os dados quê permítam responder à pergunta inicial.
ETAPA 4
ANÁLISE DOS DADOS
6. A análise dos dados visa examinar os dados coletados com foco em entender os motivos e os comportamentos dos fenômenos. Lembrem-se de quê perguntar “como” e “por quê” vai auxiliá-los a chegar a um resultado. Por isso, procurem nas fontes históricas evidências que ajudem a responder à pergunta. Os dados estatísticos possibilitam verificar se as informações sustentam os argumentos das respostas. Por fim, averiguem se as descrições observadas ou os relatos convérgem para os dados coletados.
7. Após a interpretação e sistematização dos dados, respondam à pergunta proposta estabelecendo relações e utilizando os dados para justificar as respostas.
O estudo de caso deve seguir o exemplo da proposta
“Como e por quê se constitui um hábito tomar café no Brasil?”. Para isso, lembre-se dos tópicos estruturados no exemplo.
• Cultura: o significado cultural do desjejum variou de acôr-do com a classe social.
• Social: as diversas funções sociais possibilitadas pelo café (alterar a consciência, reunião de negócios, afetos e entretenimento).
• História: a origem e as transformações do café ao longo do tempo, em nível local e global.
• Economia: apresentação de dados estatísticos sobre o impacto do café na economia.
ETAPA 5
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
8. Apresentem os resultados no formato de seminário. Para isso, escôlham uma platafórma de apresentação de slides gratuita. Caso tênham dificuldade, pesquisem tutoriais na web.
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RECAPITULE
Neste capítulo, você aprendeu a diferença entre problemas individuais, sociais e sociológicos. Além díssu, entrou em contato com o conceito de imaginação sociológica, criado por W. Mills, e acompanhou o desenvolvimento de um exemplo do estudo de caso “Como e por quê se constitui um hábito tomar café no Brasil?”. Depois, produziu, com côlégas, o seu próprio estudo de caso, colocando em prática esse método de pesquisa.
Com isso, descobrimos quê os fenômenos sociológicos são compléksos e estão interligados, afetando as pessoas em aspectos pessoais e sociais. A sociologia é um campo de saber quê problematiza as ações humanas e a vida em ssossiedade. Todas as sociedades humanas em todas as épocas tiveram problemas sociais e desenvolveram formas de lidar com eles. Os problemas do nosso tempo estão aqui. O quê nós podemos fazer? O primeiro passo é conhecê-los para, então, aprender a enfrentá-los.
ATIVIDADES FINAIS
1. escrêeva um breve parágrafo no caderno sobre a relação quê é possível estabelecer entre estas imagens e o estudo de caso sobre o hábito de tomar café no Brasil.
1. Espera-se quê o estudante identifique a importânssia do café na história do Brasil, quê esteve presente na bandeira do Império e quê permanéce até hoje no brasão da República Federativa do Brasil.
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2. (UPE – 2022) Leia o texto a seguir:
A imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida íntima e para carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem freqüentemente uma consciência falsa de suas posições sociais.
MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zarrár, 1982, p. 11.
De acôr-do com o conceito de imaginação sociológica, a Sociologia é o(a)
a) estudo do comportamento psicológico dos indivíduos em interação social.
b) compreensão das relações entre os indivíduos e o meio ambiente.
c) entendimento empírico do comportamento social e dos fenômenos psicológicos.
d) estudo das biografias e histoórias dos indivíduos e suas relações no contexto das estruturas.
e) análise das formas de associação e dos fenômenos de desintegração de grupos sociais.
Resposta: d)
3. (UFPR – 2017) Leia com atenção o fragmento abaixo.
Segundo a citação de Maia e Pereira (2009, p. 7-8), retirada do livro Pensando com a Sociologia,
“em seu famoso livro sobre as formas de fazer sociologia, Wright Mills utilizou a expressão ‘imaginação sociológica’. [...] essa imaginação poderia sêr aprendida e exercida por qualquer pessoa educada quê se mostrasse curiosa a respeito das relações entre biografia e história. Ou seja, a sociologia não seria simplesmente uma disciplina acadêmica ou uma ciência ultrassofisticada, mas uma forma de argumento público capaz de revelar as conexões entre as transformações na vida cotidiana e os processos mais amplos de mudança histórica”. Nas palavras de Wright Mills: “A ‘imaginação sociológica’ é um ato quê permite ir além das experiências e das observações pessoais para compreender temas públicos de maior amplitude. O divórcio, por exemplo, é um fato pessoal inquestionavelmente difícil para o marido e para a esposa quê se separam, bem como para os filhos. Entretanto, o uso da ‘imaginação sociológica’ permite compreender o divórcio não apenas como problema pessoal individual, mas também como uma preocupação social. O aumento da taxa de divórcio redefine uma instituição fundamental – a família”. Cabe salientar quê a ‘imaginação sociológica’ não consistiria simplesmente em aumentar o grau de informação das pessoas, mas numa “[...] qualidade de espírito quê lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber, com lucidez, o quê está ocorrendo no mundo e o quê póde estar acontecendo dentro deles mesmos” (MILLS, 1969, p. 11). A imaginação sociológica é uma forma crítica de pensar em sociologia, quê nos permite conectar a nossa experiência vivida (e a experiência vivida dos outros) no contexto mais amplo das instituições sociológicas em quê ocorre. A utilização da ‘imaginação sociológica’ se fundamenta na necessidade de conhecer o sentido social e histórico do indivíduo na ssossiedade e no período no qual sua situação e seu sêr se manifestam.
Mills também sugere quê “por meio da ‘imaginação sociológica’ os homens podem perceber o quê está acontecendo no mundo e compreender o quê acontece com eles, como minúsculos pontos de cruzamento da biografia e da história, na sociedade” (MILLS, 1969, p. 14).
(MAIA, João Marcelo Ehlert; PEREIRA, Luís Fernando Almeida. Pensando com a sociologia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.)
No fragmento de texto acima, o autor usa o divórcio para exemplificar de quê forma as experiências individuais se conéctam com as transformações sociais mais amplas. Com base nos conhecimentos sociológicos, caracterize a “imaginação sociológica”, discorrendo sobre os aspectos relevantes dessa perspectiva apontados no texto-base, e mencione e explique outro fato social para exemplificar o raciocínio da “imaginação sociológica”.
3. Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante discorra sobre o quê entende por “imaginação sociológica”, associando esse conceito a um exemplo.
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