CAPÍTULO 7
Uma ciência do social: clássicos e modernos

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Identificar quais são os autores clássicos das Ciências Sociais.

Conhecer e diferenciar a Sociologia da Ciência Política e da Antropologia.

Comparar diferentes perspectivas dos autores clássicos e modernos.

Compreender os objetos de estudos das Ciências Sociais.

Conhecer, apropriar-se e exercitar a prática de pesquisa “revisão bibliográfica”.

Você sabe o quê faz um antropólogo? Os primeiros antropólogos recebiam relatos de viajantes, missionários e administradores. Então, sentavam-se em seu gabinete e tentavam interpretar esses materiais para produzir uma compreensão da cultura daquele povo. Com o tempo, os antropólogos passaram a estudar essas culturas presencialmente, convivendo, trabalhando e/ou morando com determinado grupo ou comunidade. Para isso, desenvolveram um método chamado etnografia, um trabalho de campo quê envolve observação e/ou entrevista para o entendimento dos elemêntos sociais e culturais de um povo.

Imagem de obra de arte mista que representa dois homens. Um deles, no canto inferior esquerdo, é indígena e está sentado em um tronco. Ele analisa o outro homem, que é branco e está sentado em uma rede, escrevendo com uma pena. À esquerda do homem branco, há um livro aberto sobre uma cadeira, com a figura de um homem indígena. À direita, há penas e tinteiros sobre uma mesinha. Ao redor dele, há um globo terrestre, armário, prateleiras com livros e um pássaro empalhado na parede.

BANIWA, Denilson. O antropólogo moderno já nasceu antigo. 2019. Nanquim e rekórtis colados sobre impressão digital, 17,5 cm x 21,1 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Agora, obissérve a imagem e responda ao quê se pede.

a) Quais são os principais elemêntos retratados?

a) Espera-se quê o estudante cite, entre outros elemêntos, o homem branco, sentado numa rê-de, fazendo anotações; os objetos ao seu redor; e, fora dessa imagem, um homem indígena sentado num tronco observando o homem quê escreve.

b) Em sua opinião, qual relação é possível estabelecer entre o antropólogo de gabinete e o homem indígena quê o observa?

b) Espera-se quê o estudante perceba a crítica quê Baniwa faz ao representar o homem indígena no papel de antropólogo, questionando a prática de estudar culturas com distanciamento e/ou superioridade.

c) O quê o autor quis dizêr com o título O antropólogo moderno já nasceu antigo?

c) Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante comente se tratar de uma crítica à prática da antropologia, quê póde ficar presa a métodos e posturas antigas.

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Um breve contexto da elaboração de uma ciência social

O pensamento historiográfico tradicional elaborou uma linha do tempo ou cronologia da história do Ocidente. Por meio da representação de uma linha do tempo, privilegiaram-se os marcos da civilização européia, e quatro períodos históricos foram determinados como marcos da ssossiedade ocidental: Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Nessa concepção de mundo, foi considerado o marco inicial da história ocidental a invenção da escrita sistematizada – elaborada pêlos sumérios, na Mesopotâmia, entre 3500 a.C. e 3000 a.C. –, isto é, a escrita cuneiforme. Mas será quê algumas histoórias não deixaram de sêr contadas em detrimento de outras?

Observe esta representação.

Imagem de linha do tempo. Da esquerda para a direita, a linha está dividida em períodos, inaugurados pelos seguintes marcos históricos: Idade Antiga: invenção da escrita sistematizada (3500 antes de Cristo a 3000 antes de Cristo). Idade Média: desagregação do Império Romano do Ocidente (476 antes de Cristo). Idade Moderna: Tomada de Constantinopla (1453). Idade Contemporânea: Revolução Francesa (1789).

Exemplo de linha do tempo tradicional da história do Ocidente.

O estabelecimento dos períodos históricos da ssossiedade ocidental não incluiu como critério a história de povos não europêus. Critérios como o grafocentrismo e o etnocentrismo trousserão para a história do Ocidente uma perspectiva parcial para o entendimento do mundo, desconsiderando os diferentes aspectos epistemológicos e cosmológicos quê o compõem.

grafocentrismo
: conceito antropológico e linguístico quê significa quê uma língua e/ou cultura tem como característica central a escrita em detrimento da oralidade e/ou outras linguagens.

Idade Moderna e modernidade

As Ciências Sociais surgiram no contexto da Idade Moderna, através das transformações social, política, econômica e cultural da civilização européia. Na Sociologia, a divisão cronológica tradicional entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea, utilizada para explicar as mudanças sociais, é abordada de modo distinto. Sociólogos como o alemão Max Weber (1864-1920) e o polaco-britânico Zygmunt Bauman (1925-2017) formularam compreensões diferentes para explicar esse momento histórico.

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Nas obras Economia e Sociedade, publicada pela primeira vez em 1921, e A ética protestante e o espírito do capitalismo, cuja publicação original é de 1904, Weber desenvolvê-u o conceito de capitalismo moderno, de racionalismo moderno e de liberdade moderna. Para ele, a época moderna se caracteriza pela racionalização do mundo; pelo surgimento de uma ética quê separa religião e Estado; pela especialização técnica da economia, da administração, do direito e da educação; pela organização política do Estado; e pêlos avanços dos meios racionais de contrôle do sêr humano sobre a natureza.

Nas obras Modernidade líquida, publicada originalmente em 1999, e Modernidade e ambivalência, cuja publicação é de 1991, Bauman caracteriza a modernidade sólida por uma racionalidade quê busca controlar o mundo na tentativa de “torná-lo melhor”. Em Vida líquida, de 2005, o autor afirma quê, em uma ssossiedade líquida moderna, as condições em quê agem os indivíduos mudam tão rápido quê as formas de agir não se consolidam mais em hábitos e rotinas.

Você já se perguntou o quê realmente significa o termo “moderno” nessas expressões? Muitas vezes, utilizamos esse termo como referência àquilo quê é atual, pertencente à nossa época, ou seja, ao contemporâneo. E o termo “modernidade”? Será quê a modernidade é o nosso tempo presente?

O surgimento da ssossiedade moderna (ou modernidade), a partir do século XV na Europa, se deu com base nas seguintes esferas.

Política: momento em quê surge um sentimento de nação e os países se situam com fronteiras demarcadas, autonomia política e Forças Armadas (com algumas exceções). Por meio da política, o pôdêr se organiza no conjunto de instituições com funções exclusivas e legítimas do uso da fôrça, por meio do Estado (dividido em três pôdêris: Executivo, Legislativo e Judiciário), de suas autarquias e das Forças Armadas.

Econômica: vincula-se ao modo de produção capitalista, em quê as relações são baseadas no capital e tudo quê é produzido se transforma em mercadoria.

Social: indivíduos organizados socialmente em classes sociais. As classes sociais possibilitam acessar a riqueza produzida pela ssossiedade e participar dela. Por sêr a posse de capital quê permite o acesso aos bens materiais e simbólicos, existe a possibilidade de mobilidade social.

Pública: na modernidade, há espaços públicos quê a todos pertencem, como ruas, praças, escolas, hospitais etc. No entanto, nem tudo quê é público é gratuito e aberto a todos; por exemplo, para construir uma rua ou realizar sua manutenção são necessários recursos advindos dos impostos pagos pêlos cidadãos. O exemplo de restrição de acesso são os estabelecimentos públicos, em quê certos ambientes são de acesso restrito ao servidor público, como, órgãos administrativos da prefeitura.

Outro elemento constitutivo da modernidade é a imprensa. Os veículos de comunicação possuem a função social de informar os cidadãos sobre assuntos de interêsse público. Para isso, utilizam-se diversas mídias: livro, revista, jornál, rádio, Tevê, blogue, streaming e rêdes sociais.

autarquia
: entidade pública com autonomia administrativa e financeira, criada por lei para desempenhar funções específicas de interêsse público, mas vinculada ao govêrno.

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Nascimento e crise do indivíduo moderno

Como é o sujeito da modernidade? O sociólogo Max Weber, ao estudar a passagem da ssossiedade medieval para a ssossiedade moderna, na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, de 1904, identificou uma mudança na cosmovisão. O sujeito moderno “desencantou do mundo”, ou seja, passou a explicar a realidade por meio de uma crença de quê tudo quê existe no mundo póde sêr compreendido e explicado em detrimento dos mistérios religiosos. Isso não significa quê as pessoas deixaram de ter uma religião ou crença, mas quando observam um avião, por exemplo, sabem quê ele é uma consequência do conhecimento produzido pela humanidade, e não algo mágico ou sobrenatural; essa é a ideia do mundo desencantado.

Um dos elemêntos fundamentais da ssossiedade moderna contemporânea são as instituições sociais, como o Exército, a prisão, a escola, o hospital, entre outras, responsáveis por constituir os indivíduos modernos na tentativa de homogeneizar seus modos de pensar, agir e sentir. No entanto, uma pessoa é constituída por diversas identidades, como estudamos no capítulo 1, como a identidade nacional, a profissional, a religiosa, a cultural, a política etc.

Em um primeiro momento, pode-se acreditar quê a modernidade é um caos, mas, para o sociólogo Zygmunt Bauman, na obra Modernidade e ambivalência, de 1991, a existência moderna contém a ordem como alternativa ao caos. As instituições sociais formam indivíduos para o trabalho e para servir à nação. Apesar da divisão histórica e e da compreensão de quê a pós-modernidade surge depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Bauman diz quê as estruturas da modernidade não se alteraram, essa alternativa de ordem ao caos permanéce na formação dos indivíduos.

Para o sociólogo, o período anterior à Segunda Guerra Mundial é denominado modernidade sólida, quê possuía como projeto o contrôle do mundo pela razão na materialidade do Estado-nação e da ciência. No pós-guerra, com a crise do Estado-nação quê procurou homogeneizar as pessoas, surge a modernidade líquida.

Por exemplo, em uma ssossiedade do consumo, há a construção de necessidades sociais comuns, como a compra de celulares quê interligam as pessoas através de rêdes. Nesse contexto do consumo, prevalecem valores individualistas, e as relações sociais tornam-se efêmeras, isto é, não duradouras.

Saiba mais

ENTREVISTA exclusiva Zygmunt Bauman. [S. l.]: CPFL Energia: Fronteiras do Pensamento, 2011. 1 vídeo (30 min). Publicado pelo canal Núcleo de Pesquisa em Estudos Culturais. Disponível em: https://livro.pw/zrubd. Acesso em: 4 set. 2024.

No vídeo, Bauman explica os efeitos causados pela modernidade líquida para a condição humana.

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O antropólogo francês Bruno Latour (1947-2022) afirma quê a modernidade póde sêr compreendida como um projeto de civilização quê falhou. Na sua constituição, a grande dicotomia entre natureza-cultura, quê estabelece a distinção entre humano e não humano, como vimos no capítulo 4, fez os modernos crerem quê são invencíveis, como se a ssossiedade fosse uma criação exclusiva do sêr humano. No entanto, a pandemia de covid-19 demonstrou quê um vírus póde alterar completamente as estruturas e o funcionamento da ssossiedade.

Uma das grandes marcas da modernidade é a produção dos híbridos, um misto de natureza e artificialidade. Para Latour, eles são:

[…] embriões congelados, sistemas especialistas, máquinas digitais, robôs munidos de sensores, milho híbrido, bancos de dados, psicotrópicos liberados d fórma controlada, baleias equipadas com radiossondas, sintetizadores de genes, analisadores de audiência etc. […]

LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. Tradução: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. (Coleção Trans, p. 53).

O nascimento de uma ciência social: genealogias de saberes

O quê nomeamos no Ensino Médio de “Sociologia” póde sêr definido como a ciência quê estuda a vida humana, as sociedades humanas, os fenômenos sociais, os grupos e as relações entre si. Na verdade, a Sociologia é parte das Ciências Sociais, como também é a Ciência Política e a Antropologia.

Você vai conhecer brevemente alguns dos pensadores considerados clássicos das Ciências Sociais. Esses autores trousserão problematizações e propostas para o momento histórico em quê viveram, possibilitando a sociólogos quê os sucederam interpretá-los para a formulação de novas ideias. Dessa forma, uma obra clássica não é imutável ou inquestionável, mas sim uma fonte teórica quê perdurou no tempo pela sua importânssia histórica e sociológica.

Antes de começarmos a estudar a Ciência Política, vamos pensar um pouco sobre o quê é política?

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Em duplas, leiam o fragmento a seguir e respondam ao quê se pede.

[…] a Política passa a sêr entendida como um processo através do qual interesses são transformados em objetivos e os objetivos são conduzidos à formulação e tomada de decisões efetivas, decisões quê ‘vinguem’. […]

RIBEIRO, João Ubaldo. Política: quem manda, por quê manda, como manda. 3. ed. rev. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. p. 9.

a) Vocês fazem política?

a) Resposta pessoal. Espera-se o estudante identifique em seu cotidiano processos semelhantes ao definido pelo autor.

b) Registrem a reflekção sobre pessoas, lugares ou instituições quê atuam da maneira definida por João Ubaldo Ribeiro e depois compartilhem com a turma.

b) Espera-se quê os estudantes apresentem exemplos cotidianos da escola e das instituições governamentais.

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Ciência Política

A base da Ciência Política como a conhecemos nos dias atuáis se deu com o político e filósofo francês Charles-Louis de Secondat, conhecido como Montesquieu (1689-1755), no livro O espírito das leis, publicado originalmente em 1748. Essa obra versa sobre o funcionamento dos regimes políticos, criando uma tipologia dos governos com base na realidade social-histórica de diferentes sociedades, e não mais pela fôrça da vontade divina. Ao estudar os mecanismos quê geram a estabilidade e a decadência em uma ssossiedade, o autor desenvolvê-u as teorias sobre os regimes de govêrno como o equilíbrio entre os pôdêris. Essa política de “freios e contrapesos” póde sêr identificada, por exemplo, na Constituição Federal de 1988, em quê se determinou quê os pôdêris Executivo, Legislativo e Judiciário são distintos, harmônicos e independentes entre si.

No século XIX, a teoria política recebeu as contribuições de Alékicis de Tocqueville (1805-1859), Max Weber e káur márquis (1818-1883).

Tocqueville, político e pensador francês, escreveu A democracia na América, publicada pela primeira vez em 1835, uma obra quê busca refletir sobre a universalidade da democracia em um contexto histórico de guerras e revoluções na constituição do continente europeu. Além díssu, a experiência na formação da ssossiedade estadunidense, desde a Constituição de 1787 até a formulação de conceitos de democracia e liberdade, também chamou a atenção do autor.

Pintura representando a Convenção Constitucional. À direita, sobre uma plataforma com dois degraus, encontra-se o presidente. Ele está em pé atrás de uma mesa, sobre a qual se encontra a constituição. Em frente à mesa, um homem assina o documento. Diante da plataforma, há três homens sentados. Um indivíduo sobe os degraus em direção à mesa. Os demais membros da convenção estão ao redor da plataforma e perto das janelas. Alguns deles erguem os braços.

CHRISTY, ráuard Chandler. Scene at the Signing ÓF the Constitution ÓF the United States [Cena de assinatura da Constituição dos Estados Unidos]. 1940. Óleo sobre tela, 609,6 cm x 914,4 cm. Capitólio dos Estados Unidos, Uóchinton, D.C. (Estados Unidos).

Saiba mais

IGUALDADE segundo Tocqueville: Inédita Pamonha #78. [S. l.]: Revista Inspire-C, 2021. 1 vídeo (14 min). Publicado pelo canal Clóvis de Barros. Disponível em: https://livro.pw/lcfno. Acesso em: 4 set. 2024.

O jornalista e filósofo brasileiro Clóvis de Barros (1966-) fala sobre a política de hoje e a relação com a teoria de Tocqueville.

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Segundo o sociólogo francês Raymond Aron (1905-1983), em As etapas do pensamento sociológico, obra originalmente publicada em 1967, Tocqueville utiliza-se da teoria de Montesquieu para descrever as causas e as tradições históricas da formação da democracia estadunidense, levando em conta a influência de aspectos como o meio geográfico e a importânssia das leis e dos côstúmes.

Tocqueville elaborou uma espécie de teoria geral sobre o funcionamento da democracia, partindo da seguinte questão: por quê a democracia estadunidense era diferente da de outros países? A resposta a essa pergunta, segundo o pensador francês, é quê a democracia americana se sustentava sobre os princípios do Estado liberal. Suas pesquisas e reflekções contribuíram para consolidar uma tradição metodológica de análise na Ciência Política.

As contribuições do economista alemão Max Weber encontram-se no livro Economia e ssossiedade, de 1921. Além de diferenciar os regimes políticos ao longo de períodos históricos, sua reflekção sobre a política objetivou compreender a relação de dominação entre os sêres humanos. Para o autor, a política significa a tentativa de participar no pôdêr ou influenciar a sua distribuição, seja entre os Estados-nação, o Estado e grupos ou intérnamente, no grupo de pessoas.

O pôdêr significa a probabilidade de impor a própria vontade em uma relação social, independentemente da resistência. A dominação é a probabilidade de encontrar obediência à determinada ordem. Weber problematiza por quê as pessoas obedecem, e a resposta a essa pergunta se encontra na legitimidade da ordem. Em suas formulações, o autor nomeia três tipos de dominação quê as pessoas consideram legítima: tradicional, carismática e racional – quê serão estudadas no capítulo 8. A dominação racional é a quê se encontra mais presente em nosso dia a dia por meio do Estado Moderno, pois não é comum as pessoas questionarem a legitimidade do Estado.

O filósofo e economista teórico alemão káur márquis, em parceria com o teórico alemão fridichi ênguels (1820-1895), escreveu O Manifesto do Partido Comunista (ou O Manifesto Comunista), livro publicado pela primeira vez em 1848. Essa obra surgiu no mesmo contexto dos diversos levantes na Europa, conhecidos como Primavera dos Povos. Nela, aparece uma das primeiras incidências do termo “socialismo científico”, tese dos autores sobre a transição para uma ssossiedade sem classes. Na teoria de márquis, o objetivo de pensar a ssossiedade era transformá-la.

No livro O 18 de brumário de Luís Bonaparte, cuja primeira publicação é de 1852, márquis analisa o golpe de Luís Napoleão Bonaparte em 1851.

Estado liberal
: é aquele quê reconhece e garante os direitos fundamentais, como liberdade de pensamento, religião, imprensa, reunião etc.
Estado Moderno
: forma de organização política quê possui pôdêr centralizado, soberania sobre o território estabelecido e populações regidas por leis e instituições, quê busca assegurar a ordem, a segurança e o bem-estar de seus cidadãos.

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márquis demonstra, primeiro, como ele conhecia muito bem a história e as forças políticas francesas, elemento imprescindível para uma análise política. No decorrer da análise, desen vólve a teoria do materialismo histórico, apresentando como a luta de classes está presente no tensionamento do jôgo político e movimenta as forças políticas. márquis observa quê o golpe fez surgir um Estado quê, sobrepondo-se às classes sociais, visava preservar os valores e a ética liberal-burguesa.

Em O Manifesto do Partido Comunista, márquis e ênguels afirmam sêr o Estado o comitê executivo da burguesia, isto é, criado e chefiado para atender aos interesses dessa classe dominante.

No primeiro volume de O capital, publicado originalmente em 1867, após estudar as relações de pôdêr, márquis compreende quê o conflito de interesses antagônicos entre as classes encontra-se em constante disputa para administrar o Estado. Dessa forma, conclui-se quê a administração do Estado está em constante disputa.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

A cada dois anos, os cidadãos brasileiros se apresentam às urnas para expressar sua cidadania escolhendo quem deve governar e fazer as leis. Por organização política, compreendemos os grupos ou entidades da ssossiedade civil quê buscam influenciar o processo político de uma ssossiedade ou participar ativamente dele, como partidos políticos, organizações não governamentais (ônguis), associações, sindicatos, universidades etc.

a) Em grupos de até quatro pessoas, façam um breve mapeamento da comunidade onde vocês vivem com base neste roteiro.

I. Onde estão localizadas as organizações políticas?

II. Quais temas políticos quê elas discutem?

III. Quais atividades promóvem e em quê dia e horário?

IV. Como formular uma melhoria das condições de vida para as pessoas da comunidade?

b) Com base nos dados levantados, produzam cartazes e os distribuam pela escola ou pela comunidade.

Produção pessoal. Espera-se quê os estudantes compreendam o papel das organizações políticas de seu entorno.

Imagem de pessoas colando pedaços de papel com anotações em um cartaz.

Equipe usa estratégias para debater ideias. Em grupo, é possível dividir tarefas para a formulação de um cartaz, testando possibilidades na disposição das informações.

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Antropologia

A Antropologia póde sêr definida como o campo de conhecimento quê se dedica a estudar o sêr humano e a ssossiedade. Uma das primeiras manifestações da Antropologia como ciência social surgiu no século XIX, marcada pela dualidade entre pesquisador/observador, quê produzia conhecimento sobre o objeto estudado.

Desde o século XV, com a mundialização das relações comerciais e o contato com a diversidade de povos em expedições colonizadoras, surgiu entre os europêus uma curiosidade sobre o diferente.

Como diz o antropólogo francês François Laplantine (1943-),

A extrema diversidade das sociedades humanas raramente apareceu aos homens como um fato, e sim como uma aberração exigindo uma justificação. […]

LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. Tradução: Marie-Agnès Chauvel. São Paulo: Brasiliense, 2003. p. 27.

Com o Renascimento estabeleceu-se o conceito de “homem” (ser humano) em uma perspectiva de cogito ergo sum, ou seja, sêr humano é aquele dotado de razão, excluindo os denominados selvagens. Essa ideia de um sêr humano “universal” significou um desejo de conhecer o outro de acôr-do com a perspectiva e a vivência européias. Nessa perspectiva, colocou-se em prática o eurocentrismo, no qual a cultura europeia tornou-se modelo ideal, desqualificando-se as demais.

O sêr humano ideal deveria sêr inspirado nos valores da Antigüidade Clássica, principalmente na filosofia e cultura greco-romanas. Com esse modelo de sujeito, formava-se a estrutura do racionalismo moderno: um sujeito virtuoso, equilibrado ao cultivar tanto o corpo quanto a mente, estabelecido entre as artes e as ciências. Aqueles quê se dissociassem dêêsse ideal sêriam tratados como"selvagens". Assim, o termo “selvagem”, naquela época, referia-se aos povos originários, não considerados um exemplo de ser humano pensante.

Dessa forma, podemos retomar a imagem de abertura do capítulo e notar quê ela critíca o trabalho do antropólogo como resultado de um olhar isolado, sem diálogo com o outro. Um saber produzido com base em uma consciência e razão antropocêntrica e etnocêntrica, quê póde gerar opressão e exploração de um grupo humano sobre o outro. Em algumas sociedades ocidentais da Antigüidade e do período medieval, estigmatizou-se o outro como “bárbaro”. A partir das sociedades modernas, como primitivo ou selvagem. Na contemporaneidade, como subdesenvolvido.

Renascimento
: movimento filosófico, cultural, econômico e político quê surgiu na Europa do século XIV ao fim do século XVI, inspirado nos valores da antigüidade clássica.
cogito ergo sum
: frase de altoría do filósofo e matemático francês Renê Descartes (1596- 1650), quê significa “penso, logo existo” ou “penso, portanto sou”. A frase foi citada na obra Meditações metafísicas, publicada originalmente em 1641.

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CONEXÕES com...
BIOLOGIA
Dárvim criou o termo “darwinismo social”?

A Antropologia, no século XIX, não se desenvolvê-u isoladamente de outras áreas do conhecimento. O filósofo e biólogo francês Herbet Spencer (1820-1903), por exemplo, analisou as Ciências Sociais aos móldes das Ciências da Natureza.

Apesar de Spencer basear-se em teorias do naturalista francês jã batíst de lamárki (1744-1829), como o princípio do uso e o desuso de partes do corpo (as usadas com freqüência tornam-se mais fortes e desenvolvidas, e as pouco utilizadas se atrofiam), há aspectos de convergência com as teorias de Dárvim ao se apoiar na sobrevivência do mais ápto e na herança dos caracteres adquiridos.

Se não há menção ao termo “darwinismo social” na obra de Spencer, Os princípios da Biologia, publicada originalmente em 1866, por quê se deve fazer essa relação para se referir ao pensamento de Spencer?

O naturalista, geólogo e biólogo inglês xárlês Dárvim (1809-1882) revolucionou a Biologia em sua época ao estudar, entre 1831 e 1836, a diversidade das espécies na Ilha de Galápagos, no Oceano Pacífico. Ele desenvolvê-u a teoria da evolução por seleção natural, quê propõe quê as espécies evoluem ao longo do tempo por meio da sobrevivência e reprodução dos indivíduos mais adaptados ao ambiente. Em sua obra A origem das espécies, publicada pela primeira vez em 1859, Dárvim explicou como variações entre os indivíduos podem levar à adaptação e, eventualmente, à formação de novas espécies.

No entanto, o termo “darwinismo” não foi formulado por Dárvim. Ao usar as teorias de Dárvim sobre a evolução biológica para explicar as diferenças culturais entre as sociedades, Spencer deu origem à ideia de darwinismo social. Apesar de apresentado como uma teoria científica, o darwinismo social consistia em uma ideologia quê passou a sêr empregada para justificar a dominação de um sêr humano e/ou grupo sobre outros, com o argumento de quê havia uma desigualdade natural entre eles. Por meio de pesquisas fundadas no racismo e na intolerância, muitos teóricos da época se apoiaram nessas ideias para defender a manutenção de privilégios sociais dos mais fortes em relação àqueles quê consideravam inferiores – como as populações negras e os povos originários. O darwinismo social foi, assim, uma importante ferramenta para a política do imperialismo europeu no final do século XIX.

Fotografia em preto e branco de Charles Darwin. Ele é branco, idoso, calvo, possui barba longa e usa casaco.

Fotografia de xárlês Dárvim, entre 1870 e 1880.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Na sua opinião, o quê causa a desigualdade social?

1. Espera-se quê o estudante utilize como argumento a naturalização de algumas pessoas terem acesso a oportunidades e outras serem desprovidas dele.

2. Políticas públicas de combate à desigualdade social são eficazes? Justifique.

2. Espera-se quê o estudante argumente quê sim, pois oferecem oportunidades aos menos favorecidos.

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Alguns dos métodos antropológicos

Carrossel de imagens: A fotografia como ferramenta antropológica.

No komêsso do século XX, surgem outras perspectivas na Antropologia. O antropólogo alemão Franz Boas (1858-1942) fundou a escola culturalista, quê refletia sobre a diversidade cultural da ssossiedade humana e a impossibilidade de se pensar as culturas em termos hierárquicos, ou seja, uma crítica diréta ao evolucionismo e ao etnocentrismo.

O polonês Bronislaw Malinowski (1884-1942) criou a escola funcionalista, quê estudava quais elemêntos da cultura possibilitavam o funcionamento da ssossiedade. Com ele, a Antropologia se torna uma “ciência da alteridade”, desenvolvendo um olhar para o “outro”. A escola funcionalista tinha como objetivo estudar as lógicas particulares de cada cultura, afastando-se da perspectiva evolucionista. Com isso, o sêr humano passou a sêr interpretado com base na articulação do social, do psicológico e do biológico.

Malinowski revoluciona o pensamento antropológico ao escrever a clássica etnografia Argonautas do Pacífico Ocidental, publicada originalmente em 1922, quê versa sobre os côstúmes dos trobriandeses (habitantes das Ilhas Trobriand, costa oriental da Papua Nova Guiné). Em seu trabalho, é possível inferir quê outras sociedades humanas com côstúmes diferentes dos das sociedades europeias não seriam mais consideradas primitivas ou atrasadas e, muito menos, transformadas aos móldes da ssossiedade européia.

Fotografia em preto e branco de Bronislaw Malinowski com um grupo de homens indígenas. Eles estão sentados lado a lado em um banco e Malinowski está com maleta sobre as pernas.

Bronislaw Malinowski com as populações originárias das Ilhas Trobriand (Papua Nova Guiné) durante uma de suas pesquisas de campo, entre outubro de 1917 e outubro de 1918.

Permanece, no pensamento de Malinowski, a influência das Ciências da Natureza e a estreita relação entre o social e o biológico ao compreender o funcionamento da ssossiedade como um organismo. No entanto, segundo o antropólogo francês François Laplantine, na obra Aprender antropologia, publicada pela primeira vez em 1993, Malinowski ampliou a compreensão da Antropologia sobre o sêr humano ao considerar, em seus estudos, as motivações psicológicas, os comportamentos, os sonhos e os desejos individuais.

Página cento e trinta e cinco

No decorrer dos séculos XX e XXI, outras escolas antropológicas surgiram com o objetivo de estudar o sêr humano e as relações materiais e simbólicas da vida em ssossiedade. Segundo o antropólogo francês François Laplantine, em Aprender antropologia, podemos identificar cinco polos teóricos do pensamento antropológico contemporâneo.

Antropologia simbólica: seu objeto é a linguagem, com suas múltiplas significações, como religiões, mitologias e a percepção imaginária do cosmos.

Antropologia social: concentra-se no estudo da estrutura e da organização social dos grupos humanos, como instituições, relações de pôdêr e normas sociais.

Antropologia cultural: compreende os modelos biológico, psicológico ou linguístico, freqüentemente empíricos, na busca do sentido e dos critérios da continuidade ou descontinuidade, de um lado, entre a natureza e a cultura; de outro, entre as próprias culturas.

Antropologia estrutural e sistêmica: entendida como a utilização de modelos das teorias psicanalítica, matemática, linguística etc. Essa perspectiva analisa a passagem do consciente para o inconsciente, a lógica da cultura quê busca analisar as estruturas da ssossiedade quê atravessam o sujeito.

Antropologia dinâmica: situada no horizonte do campo sociológico quê procura estudar as relações de pôdêr.

Saiba mais

HISTÓRIA: História e Antropologia: Lilia Schwarcz: PGM 15. São Paulo: Univesp Tevê, 2014.

1 vídeo (29 min). Publicado pelo canal Univesp. Disponível em: https://livro.pw/hmskl. Acesso em: 4 set. 2024.

A historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz (1957-) explica as relações entre a História e a Antropologia.

Sociologia

O capitalismo, como modo de produção, necessitou de aproximadamente 300 anos para se instituir como organizador econômico da ssossiedade, fenômeno quê chamamos de acumulação primitiva do capital. Algumas nações se constituíram no século XV, mas a unificação de povos para formár nações e países continuou. No campo político, d fórma gradual, os regimes absolutistas são substituídos por repúblicas ou monarquias parlamentaristas. No lugar da igreja como organizador da vida material, surgem o Estado, com seus agentes administradores, e a burocracia, quê dita como a lei será aplicada, assim como as tributações.

No século XIX, observa-se quê as revoluções Francesa (1789-1799), Puritana (1640-1660), Gloriosa (1688-1689) e Industrial (segunda mêtáde do século XVIII), as independências nas Américas (principalmente no século XIX) e a produção de conhecimento científico são obras dos sêres humanos. Portanto, nunca se tornou tão necessário estudar o sêr humano e suas produções sociais.

regime absolutista
: sistema político baseado na concentração do pôdêr nas mãos do rei. A vontade dos reis era absoluta e foi estabelecida em consonância com o surgimento do Estado nacional moderno.

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Uma das primeiras incidências do termo “sociologia” é encontrada na obra do filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), considerado o fundador do positivismo. Influenciado pelo método das Ciências da Natureza, Comte nomeia a ciência quê estuda a ssossiedade de “física social”, depois utiliza o termo “sociologia”.

Outro fundador da Sociologia é o sociólogo e antropólogo francês Émile dur-káen (1858-1917), quê acreditava, assim como Comte, quê a ssossiedade deveria sêr estudada com a mesma objetividade das Ciências da Natureza. Para comprovar sua tese, escreveu As regras do método sociológico, publicada originalmente em 1895, em quê explica quê o pesquisador deveria tratar o objeto de estudo como uma “coisa”, livre de paixões, preconceitos e julgamentos prévios.

dur-káen, ao escrever A divisão social do trabalho social, cuja primeira publicação é de 1893, inaugura o fazer sociológico; nele, o autor analisa como a divisão social do trabalho na modernidade é a principal fonte de coesão social. Ao questionar como o conjunto de indivíduos forma a ssossiedade e como se chega ao consenso social, o autor formúla os conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade OR GÂNICA para explicar o funcionamento das sociedades pré-capitalistas e capitalistas. A solidariedade mecânica baseia-se no consenso sobre valores, normas e crenças resultantes de socialização e experiência comuns e faz parte das sociedades pré-capitalistas. A solidariedade OR GÂNICA tem como base uma compléksa divisão do trabalho e faz parte das sociedades capitalistas. Você vai estudar esse conteúdo com mais dêtálhes no capítulo 14.

positivismo
: corrente filosófica quê propõe o conhecimento científico como conhecimento autêntico, por meio de fatos observáveis e verificáveis.
coesão social
: grau de identificação dos indivíduos com o sistema social do qual participam e se sentem obrigados a apoiar, especialmente no quê diz respeito a normas, valores, crenças e estruturas.

Imagem em preto e branco de operários em uma fábrica têxtil. Eles operam máquinas com diversos carretéis que, após preenchidos com a linha, são armazenados em uma caixa na parte frontal.

Operários de fábrica puxam fios em carretéis nos Estados Unidos, c1939.

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Já em As formas elementares da vida religiosa, cuja primeira publicação é de 1912, dur-káen analisa as religiões das populações originárias da Austrália e conclui quê não é apenas por meio das verbalizações quê os sêres humanos representam a realidade. É necessário investigar e classificar os elemêntos de organização da vida social e a forma de pensamento humano, afinal, os interêsses religiosos são formas simbólicas de interesse social e moral. O contexto histórico da França, repleta de revoluções e instabilidade política e econômica, assim como o pensamento científico, póde ter influenciado dur-káen nessa formulação de uma sociologia de funcionamento das instituições.

Na Alemanha, Max Weber dividia sua vida entre a atividade intelectual e algumas ações políticas. Apesar de nunca ter sido político, compôs a comissão quê redigiu a Constituição da República de Weimar (sistema de govêrno da Alemanha de 1918 a 1933) e a Conferência de Paris (1919).

Entre as diversas contribuições para o método sociológico, destacamos a formulação do conceito de tipo ideal de análise histórico-social. Trata-se de um método em quê o pesquisador constrói mentalmente uma referência do fenômeno social para, depois, comparar com o mundo real. Por exemplo: definir a democracia como tipo ideal permite ao pesquisador estabelecer comparação com a democracia real. Obviamente a democracia na ssossiedade é bem distinta do construto abstrato, mas, ao comparar e contrastar regimes políticos reais, podemos observar, com mais nitidez, as suas diversas características. É intencional a ausência de nitidez entre o tipo ideal e o mundo real, pois o objetivo dos tipos ideais não é descrever ou explicar o mundo, mas estabelecer pontos de comparação através do quê é observado.

Nesse processo, não se busca construir tipologias fixas e inflexíveis, muito menos desejáveis, mas um simples recurso técnico quê facilita estruturar terminologias específicas. Para Weber, o objeto do conhecimento não determina a análise, como se já fosse fixo, mas se constitui por meio de procedimentos metodológicos do pesquisador. Cabe ao cientista desvendar a realidade social pesquisada. Nas palavras de Weber, a Sociologia é

[…]'uma ciência voltada para a compreensão interpretativa da ação social e, por essa via, para a explicação causal dela no seu transcurso e nos seus efeitos'. […]

WEBER, [19--] apúd COHN, Gabriel (org.). Weber: sociologia. 7. ed. Tradução: Amélia Cohn e Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 2003. (Coleção Grandes cientistas sociais, v. 13, p. 26).

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Comte, dur-káen e Weber se preocuparam em elaborar uma metodologia científica. Não obstante, outro fundador da Sociologia objetivava escrever para o movimento dos trabalhadores. káur márquis analisou o modo de produção capitalista e formulou a concepção materialista da história. Diferentemente das análises sociológicas da sua época, márquis dizia quê não são as ideias ou os valores as principais fontes de mudanças sociais, mas as relações econômicas. Ao analisar o modo de produção capitalista, o autor conclui a existência de uma classe quê acumula capital, enquanto os quê vendem a fôrça de trabalho em troca de salário compõem a classe de trabalhadores/proletários.

O conflito entre as classes é iminente, já quê os capitalistas (classe dominante) querem lucrar o mássimo, e os trabalhadores, por não possuírem contrôle sobre o processo de trabalho, são explorados. A transição de um modo de produção para outro acontece, às vezes gradualmente, às vezes por revolução, mas sempre como resultado das contradições econômicas. Nas palavras de márquis e ênguels:

capital
: valor em movimento, tudo quê gera mais valor; por exemplo: dinheiro, máquinas, fábricas, lojas, térra, ações etc.

[…] A história de toda a ssossiedade até nóssos dias moveu-se em antagonismos de classes, antagonismos quê se têm revestido de formas diferentes nas diferentes épocas.

MARX, káur; ENGELS, fridichi. Manifesto comunista. 4. ed. Tradução: Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo editôriál, 2005. p. 57.

A categoria de classe social, assim como outros conceitos da sua teoria, continua a sêr reinterpretada dentro de cada contexto social, auxiliando na análise sociológica da vida contemporânea. Considerados os fundadores teóricos clássicos da Sociologia, Comte, dur-káen, Weber e márquis contribuíram para esse campo de saber social.

Em tradução livre dos termos, na base da pirâmide, trabalhadores afirmam: “trabalhamos por todos” e “alimentamos todos”. Na segunda escala, de baixo para cima, a burguesia indica: “comemos por vocês”. Na terceira, o Exército declara: “atiramos em vocês”. Na quarta, o clero afirma: “enganamos vocês”. Na quinta, a nobreza sustenta: “controlamos vocês”. Ao final, no topo da pirâmide, lemos “capitalismo”.

Pôster com a figura de uma pirâmide dividida em seis níveis. A base da pirâmide é sustentada por homens, mulheres e crianças trabalhadores. Os demais níveis, de baixo para cima, são ocupados por membros dos seguintes grupos sociais: burguesia, exército, clero e nobreza. No topo da pirâmide, há um saco de dinheiro representando o capitalismo.

JORNAL INDUSTRIAL WORKER. Pirâmide do sistema capitalista. 1911. 1 Pôster. Museu Internacional da Propaganda. O folheto estadunidense foi inspirado no desenho russo Pirâmide social (1901), de Nicolas Lokhoff.

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PERSPECTIVAS

Harriet Martineau (1802-1876), socióloga britânica, publicou o livro Illustrations ÓF political economy (1832), sobre política e economia, quê descreve a influência da crença unitária na reforma social. Em visita aos Estados Unidos, ela escreveu também Society in America (1837), em quê problematiza a ideia de democracia estadunidense e as práticas reais da ssossiedade. Na obra, ela descreve um método sociológico de estudo quê enfoca os aspectos políticos, religiosos e sociais, além de propor a inclusão do entendimento da vida das mulheres. Harriet Martineau propôs um entendimento sociológico para kestões como casamento, filhos, vida doméstica, religião e relações sociais.

Capa de livro com o retrato de uma mulher branca. Ela usa vestido longo com mangas bufantes e está com o cabelo preso.

MARTINEAU, Harriet. Society in America. quên-brigi: quên-brigi iUnivêrsity Préss, 2020. Capa.

A investigação sociológica levada a cabo por Martineau nos anos 1830 na América compreende seu trabalho mais significativo tanto em termos de pesquisa empírica quanto de análise teórica […].

A sociologia feita por Martineau se baseava em observações empíricas, diferentemente de outros teóricos e pensadores contemporâneos, quê buscavam construir suas teorias com base em leis universais e pela articulação de ideias e conceitos abstratos, a exemplo de Comte. […] a pesquisa da moral e dos côstúmes deveria começar pelo ‘estudo das COISAS’, isto é, as formas objetivadas do social – registros públicos, leis, taxas de natalidade, mortalidade, suicídios, arquitetura, cemitérios, epitáfios, cerimônias e atividades coletivas em geral, canções populares, ritos religiosos, mercado etc. – para só então se passar à côléta e análise dos discursos. […]

[…] Como o campo das ciências sociais ainda estava em vias de desenvolver-se, a autora teve quê criar uma metodologia para realizar sua observação e a pesquisa daí derivada.

CAMPOS, Luna Ribeiro; DAFLON, Verônica Toste. Harriet Martineau: circulação e influência no debate público na primeira mêtáde do século XIX. Sociologias, Porto Alegre, v. 24, n. 61, p. 86-115, set./dez. 2022. p. 96-97.

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INVESTIGAÇÃO
Revisão bibliográfica expositiva sobre a ciência do social

A revisão bibliográfica consiste em conhecer as pesquisas e discussões de diversos autores sobre um tema quê será abordado em um trabalho, incorporando as contribuições teóricas de outros autores para a sua pesquisa; nesse caso, sobre o entendimento do quê é uma ciência social.

Nenhum trabalho acadêmico começa do zero, sempre há alguém quê já escreveu sobre o tema. Por isso, utilizamos as citações e as referências bibliográficas de textos, artigos, livros, periódicos e de fontes confiáveis.

No ambiente de pesquisa acadêmica, a revisão bibliográfica póde sêr de quatro tipos:

expositiva: expõe um tema com base na análise e síntese de diversas pesquisas;

questionadora: propõe identificar concepções para o futuro;

histórica: documenta o desenvolvimento da pesquisa em uma área;

opinativa: evidên-cía um tema específico e os diversos pontos de vista a fim de alterá-lo.

OBJETIVO

Agora, você e os côlégas poderão conhecer a genealogia das Ciências Sociais. Para isso, utilizarão o método de pesquisa revisão bibliográfica na perspectiva expositiva. Para produzir uma reflekção consistente, é importante conhecer as principais abordagens teórico-conceituais quê constituem o campo das Ciências Sociais. O objetivo é exercitar a conexão entre os pensamentos de diferentes autores e escrever uma síntese.

genealogia
: abordagem crítica quê procura investigar as origens históricas e sociais de conceitos, comparando seus valores e suas práticas ao longo do tempo.

ETAPA 1

PREPARO PARA A ANÁLISE

1. Reúnam-se em grupos de no mássimo quatro pessoas.

2. Organizem-se para a leitura com a ajuda do professor.

3. Com base no conceito de ciência do social, cada grupo deve elaborar uma hipótese a sêr validada com a revisão bibliográfica.

Lembrem-se de acessar sáites confiáveis, como repositórios de universidades, bibliotecas públicas, revistas científicas digitais etc., para suas pesquisas. Essas fontes auxiliam na credibilidade da pesquisa, estabelecendo a transparência dos dados coletados e o desenvolvimento do pensamento científico.

ETAPA 2

PESQUISA DE FONTES

4. Iniciem a pesquisa das fontes para descobrir a genealogia das Ciências Sociais.

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ETAPA 3

ANÁLISE DAS FONTES

5. Leiam, com atenção, os textos das referências coletadas.

6. Reúnam informações similares, identificando os pontos de divergência entre elas e as abordagens comuns de cada autor. Se considerar quê alguns trechos apresentam maior dificuldade na leitura, aproveitem para fazer anotações no caderno, a fim de quê, posteriormente, o professor possa auxiliar nessa interpretação.

Lembrem-se de destacar entre aspas os textos citados na íntegra, respeitando a altoría de cada texto. Isso também ajudará em sua organização textual, a fim de quê facilmente seja identificada qual parte do texto foi escrita por vocês, e não pêlos autores pesquisados.

ETAPA 4

ANOTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES COLETADAS

7. Façam uma síntese com as principais informações e pontos de vista dos autores.

8. Organizem um texto final, articulando com o conteúdo trabalhado e dando uma solução para a hipótese levantada.

ETAPA 5

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

9. Com a mediação do professor, apresentem para os demais grupos o texto final da revisão bibliográfica elaborada.

Se preferirem, organizem as informações coletadas em fichas. Para isso, vocês pódem, por exemplo, elaborar painéis, cartazes, apresentações digitais etc. Uma disposição organizada e atraente das informações pode colaborar para um maior rendimento na apresentação dos resultados, bem como para a compreensão da turma.

ETAPA 6

AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS

10. Conversem sobre as dificuldades encontradas e a percepção das melhores práticas durante a realização das etapas de pesquisa e análise dos dados.

Imagem de dois adolescentes estudando. Um deles, à direita, está sentado diante de um computador. O outro adolescente, à esquerda, é cadeirante, segura um bloco de anotações e gesticula com a mão esquerda.

Adolescentes pesquisam dados e informações na internet durante o estudo.

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RECAPITULE

Neste capítulo, Ciência Política, Antropologia e Sociologia foram conceituadas como campo de estudo das Ciências Sociais. Além díssu, concluímos quê o contexto histórico-social influencía na definição e na abordagem do objeto de estudo. Também constatamos como as Ciências Sociais, assim como outras ciências, não produz conhecimentos fixos, ao contrário, eles são provisórios e buscam sempre avançar. Por isso, nas Ciências Sociais, a Sociologia visa produzir questionamentos sobre as ordens e os ordenamentos estabelecidos na ssossiedade, problematizar as verdades e promover o estranhamento dos fenômenos sociais estruturados.

ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. O pensamento historiográfico tradicional elaborou uma linha do tempo, ou cronologia da história do ocidente. Observe, novamente, a linha do tempo da página 125 e responda ao quê se pede.

a) Identifique marcos de etnocentrismo e grafocentrismo nessa representação.

1. a) Espera-se quê o estudante reconheça quê a linha do tempo apresenta somente os marcos da civilização européia, e a história inicia com a invenção da escrita.

b) Para você, quais os problemas do etnocentrismo e grafocentrismo?

1. b) Espera-se quê o estudante comente sobre os problemas de se acreditar quê cértas experiências de um indivíduo ou grupo são mais importantes quê outras.

c) Quais críticas podemos fazer a essa representação histórica?

1. c) Espera-se quê o estudante conclua quê o eurocentrismo e o etnocentrismo desconsideram outras visões epistemológicas e cosmológicas de pensar a história.

2. (Unioeste-PR – 2024)

A tarefa de dotar a sociologia como uma ciência autêntica e reconhecida nos meios acadêmicos será um dos principais objetivos do sociólogo francês Émile dur-káen (1858-1917). Tendo como referência o positivismo de Augusto Comte e a noção de “evolução” da natureza, elaborada por xárlês Dárvim (1809-1882), todas as análises sociológicas de dur-káen estão destinadas a dotá-la com akilo quê ainda não existia na Sociologia: um método de análise e um objeto de pesquisa.

Fonte: SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica: márquis, dur-káen e Weber. Petrópolis: Vozes, 2015.

Sobre as propostas metodológicas de dur-káen, é CORRETO afirmar.

a) Para dur-káen o indivíduo (sujeito) tem precedência sobre a ssossiedade (objeto).

b) Para dur-káen o funcionamento das estruturas sociais está condicionado aos indivíduos.

c) Para dur-káen o indivíduo é uma realidade “sui generis”: a ssossiedade passa, mas os homens ficam.

d) Para dur-káen a tarefa da sociologia é explicar como a ssossiedade condiciona os indivíduos.

e) Para dur-káen, é o indivíduo quê age sobre a ssossiedade, condicionando e padronizando o comportamento social.

Resposta: d)

3. (Udesc – 2018)

"Osproletários nada têm a perder a não sêr suas algemas. Têm um mundo a ganhar. Proletários de todo o mundo, uni-vos.”. Estas frases, escritas por káur márquis e Frederich ênguels, encerram o Manifesto Comunista, publicado em Londres, em 1848.

A respeito das condições de trabalho na Europa, durante o século XIX, é correto afirmar:

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a) O manifesto escrito por márquis e ênguels denunciava as condições de desigualdade social entre, especialmente, a burguesia e o proletariado.

b) O texto escrito por márquis e ênguels afirmava quê uma verdadeira revolução deveria sêr promovida, exclusivamente, pêlos dirigentes do Estado.

c) márquis e ênguels consideravam quê os proletários jamais teriam condições de mudar de situação social, devido à condição de opressão em quê viviam.

d) márquis e ênguels escreveram o Manifesto Comunista após a observação atenta das iniciativas de organização do estado soviético sôbi o govêrno de Stalin.

e) márquis descreveu, no Manifesto Comunista, o detalhamento de seus projetos políticos relativos aos anos em quê governou a Rússia, tendo ênguels no cargo de vice-chanceler.

Resposta: a)

4. (Enem – 2009)

Na década de 30 do século XIX, Tocqueville escreveu as seguintes linhas a respeito da moralidade nos Estados Unidos: “A opinião pública norte-americana é particularmente dura com a falta de moral, pois esta desvia a atenção frente à busca do bem-estar e prejudica a harmonía doméstica, quê é tão essencial ao sucesso dos negócios. Nesse sentido, pode-se dizêr quê sêr casto é uma questão de honra”.

TOCQUEVILLE, A. Democracy in America. Chicago: Encyclopædia Britannica, Incorporêichon, Great Búks 44, 1990 (adaptado).

Do trecho, infere-se quê, para Tocqueville, os norte-americanos do seu tempo

a) buscavam o êxito, descurando as virtudes cívicas.

b) tí-nhão na vida moral uma garantia de enriquecimento rápido.

c) valorizavam um conceito de honra dissociado do comportamento ético.

d) relacionavam a conduta moral dos indivíduos com o progresso econômico.

e) acreditavam quê o comportamento casto perturbava a harmonía doméstica.

Resposta: d)

5. (UECE – 2020) Todos quê nascem e vivem em alguma cultura possuem visões de mundo a partir da medida de valores, princípios morais e formas de pensar muito particulares ou singulares cultivados na cultura a quê pertencem. Por vezes, no encontro de pessoas de culturas diferentes, é possível a ocorrência de incompreensão mútua, julgamentos errôneos, acusações indevidas, dentre outros.

Para as ciências sociais, a visão quê póde desembocar em atitudes de incompreensão, negação ou violência entre indivíduos de culturas diferentes é denominada

a) relativismo.

b) sociodiversidade.

c) multiculturalismo.

d) etnocentrismo

Resposta: d)

6. (UFF-RJ – 2024) Como resultado da racionalização do mundo, o conhecimento científico torna-se a principal referência na análise da realidade.

A respeito da atividade científica, é correto afirmar quê:

a) O conhecimento científico póde sêr considerado uma extensão e comprovação do conhecimento de base religiosa, porém com mais método.

b) Seu método se caracteriza, d fórma integrada, pelo uso da observação metódica, da acumulação de dados, pela comparação entre fenômenos, pela mensuração e pela experimentação, sêndo autocorretivo.

c) A ciência busca sempre por verdades absolutas, baseadas em leis, aplicáveis a todos os fenômenos naturais e sociais.

d) A validação do conhecimento científico dêríva da sua afirmação perante a ssossiedade em geral.

Resposta: b)

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