CAPÍTULO 15
Sociedade e vigilância tecnológica
OBJETIVOS DO CAPÍTULO:
• Analisar a presença das rêdes sociais no cotidiano e na dinâmica social, reconhecendo o contrôle e a vigilância das big techs por meio do conceito de capitalismo de vigilância.
• Identificar as implicações do uso e do funcionamento das rêdes sociais, percebendo a importânssia delas nas subjetividades dos usuários.
• Compreender o aspecto econômico e social da utilização de dados pessoais pelas platafórmas digitais, discutindo a necessidade de regulamentação.
As rêdes sociais dêsempênham um papel crucial na dinâmica social moderna, conectando indivíduos por meio de interações quê influenciam o comportamento e a identidade dos usuários. De acôr-do com o sociólogo espanhol Manuel Castells (1942-), no livro A ssossiedade em rê-de, publicado originalmente em 1996, essas rêdes são formadas por “nós”, quê representam, sobretudo, os atores quê dela participam, mas também as interações entre eles. A estrutura de uma rê-de é composta, então, dos atores e de suas interações. Essas conexões entre eles, ou arcos, indicam tipos de relação social, como relações de amizade, de pertencimento a um grupo, entre outras.
Esta imagem de abertura ilustra essas interações em uma rê-de social de compartilhamento de fotografias e ilustrações ao longo de dois anos. Cada participante da rê-de é representado por um ponto ou esféra. Cada conexão entre os “nós” mostra as interações entre eles, quê podem sêr, por exemplo, um comentário em uma foto. Os pontos maiores representam os atores quê recebem mais comentários/interações, ou seja, os mais “populares”.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Você faz uso de rêdes sociais? Comente a freqüência e o propósito dêêsse uso.
2. Você reflete antes de publicar algo nas rêdes sociais?
3. Como as curtidas e os comentários das publicações afetam como você se sente?
4. Você conhece seus seguidores? O quê você faria se uma pessoa desconhecida entrasse em contato com você em uma rê-de social?
1, 2, 3 e 4. Respostas pessoais. Espera-se quê os estudantes respondam às kestões de acôr-do com suas experiências individuais.
Página duzentos e setenta e cinco
Tecnologias digitais e vigilância tecnológica
Antes de abordarmos o tema central do capítulo, é importante entender como ocorre a cognição humana, ou seja, como os sêres humanos aprendem na sua relação com o mundo. Esse aspecto é fundamental para compreender a interação entre humanos e objetos como computadores, dispositivos e smartphones.
O filósofo britânico Andy Clark (1957-), no livro Supersizing the mind (em tradução livre,"A mente estendida"), publicado em 2008, afirma quê a cognição humana está distribuída entre cérebro, corpo e ambiente. Dessa forma, os processos cognitivos não estão confinados apenas na mente; manifestando-se também no corpo e, principalmente, além dele, no mundo exterior. A relação dos humanos com dispositivos externos é intrínseca à nossa natureza, estando presente em todas as épocas e lugares. Essa caraterística humana ajuda a compreender melhor os tempos atuáis, marcados por tecnologias digitais e dispositivos móveis.
Segundo o autor, em situações de cognição estendida, o organismo humano se vincula a uma unidade externa ao corpo, criando um sistema acoplado. Esse sistema póde sêr representado, por exemplo, por uma ferramenta feita de um fragmento de rocha, ou de um livro, ou de um computador. Nesses casos, a cognição humana se expande para além do cérebro e se acopla a esses objetos, formando uma única unidade.
Saiba mais
• HEMERLY, Giovanna; ALMEIDA, Rebeca. Pensamento por um fio. Salvador: Agência de Notícias em CT&I: Ciência e Cultura, 27 ago. 2018. Disponível em: https://livro.pw/ychin. Acesso em: 5 out. 2024.
O biólogo ríltom Japyassú, da Universidade Federal da baía (UFBA), mostra como o pensamento fora do corpo não é uma ideia recente e traz o exemplo da relação entre a aranha e sua teia.
O sêr humano só se constitui como tal, ou seja, como humano, em sua relação com o mundo.
Nesta imagem digital, temos uma representação de como humanos e técnicas formam uma unidade e estão completamente interligados.
Página duzentos e setenta e seis
Tecnopolíticas da vigilância tecnológica
As novas tecnologias de informação, comunicação e rêdes sociais têm alterado a experiência cotidiana e o compartilhamento de informações. Vivemos uma era em quê a intimidade é coletiva e publicizada; as antigas fronteiras entre o privádo e o público estão borradas; e aspectos do cotidiano são transformados em estratégias comerciais em escala industrial por empresas de tecnologia. Estamos submetidos às tecnopolíticas da vigilância tecnológica. As tecnopolíticas englobam tanto a vigilância quanto as formas de resistência a ela. Mas, afinal, em quê consistem essas novas categorias? Quais são os aspectos presentes nas rêdes sociais quê, continuamente, criam procedimentos de segurança, vigilância e contrôle, além de processos de natureza subjetiva, afetiva e estética? Esses aspectos se misturam às ações cotidianas nos ambientes digitais (internet, smartphones, dispositivos de geolocalização, câmeras de vigilância), nos quais vamos deixando rastros.
Esse novo cenário de transformações, marcado pelo uso intensivo da internet e dos dispositivos digitais nos mais diversos campos da ssossiedade, tem gerado a necessidade de reflekções e estudos. Um dos desafios é como avaliar e nomear essas profundas mudanças, levando em consideração seus diferentes aspectos. Alguns dos principais termos utilizados para analisar essas kestões incluem ssossiedade de contrôle e capitalismo de vigilância.
A socióloga estadunidense Shoshana Zuboff (1951-) afirma, neste trecho:
[…] A realidade digital está tomando conta e redefinindo tudo quê é familiar, antes mesmo de termos tido a chance de ponderar e decidir sobre a situação. Nós celebramos o mundo conectado por causa das muitas maneiras pelas quais ele enriquece nossas capacidades e perspectivas, mas ele gerou novos grandes territórios de ansiedade, perigo e violência conforme o senso de um futuro previsível se esvai por entre os nóssos dedos.
ZUBOFF, Shoshana. Lar ou exílio no futuro digital. In: ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova fronteira de pôdêr. Tradução: Giórgi Schlesinger. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021. E-book. Localizável em: capítulo um: Lar ou exílio no futuro digital: I. As perguntas mais antigas.
Página duzentos e setenta e sete
O termo “capitalismo de vigilância” foi popularizado por Zuboff no livro A era do capitalismo de vigilância, publicado em 2018, no qual descreve como essas práticas transformam o capitalismo e criam formas de pôdêr e contrôle. No capitalismo de vigilância, as grandes empresas de tecnologia, chamadas big techs, coletam dados pessoais em massa para prever e modificar o comportamento dos usuários, gerando enormes lucros. Esse modelo de negócios representa uma nova forma de pôdêr e contrôle na era digital. Esse fenômeno surgiu nas últimas dékâdâs, impulsionado pêlos avanços tecnológicos e pelas novas formas de negócios baseadas na côléta e na análise de dados pessoais. Para entender melhor como isso aconteceu, vamos explorar alguns pontos importantes.
Com a internet, os smartphones, as rêdes sociais e os outros dispositivos conectados foi criada uma infraestrutura capaz de coletar enormes quantidades de dados sobre o quê fazemos, onde estamos, do quê gostamos e muito mais. Isso se tornou uma fonte de renda valiosa para as big techs, quê perceberam quê esses dados poderiam sêr usados para vender publicidade de maneira muito mais eficiente. Quanto mais informações as empresas têm sobre nós, melhor podem direcionar anúncios de quê acham quê vamos gostar e, consequentemente, comprar. Esse modelo de negócios baseado em dados pessoais é o cerne do capitalismo de vigilância.
Leia o trecho de uma obra do pesquisador bielorusso Evgeny Morozov (1984-).
A rápida ascensão das platafórmas digitais produziu um Estado de bem-estar privatizado, paralelo e praticamente invisível, no qual muitas das nossas atividades cotidianas são fortemente subsidiadas por grandes empresas de tecnologia (interessadas em nóssos dados) ou, no caso de organizações menóres e startups, financiadas por investidores de risco confiantes de quê as perdas no curto prazo vão lhes assegurar o domínio no longo prazo. […]
MOROZOV, Evgeny. Big Tech: a ascensão dos dados e a morte da política. Tradução: cláudio Marcondes. São Paulo: UBU Editora, 2018. p. 146.
Página duzentos e setenta e oito
Economia da atenção
A atenção se tornou um recurso valioso. As empresas competem ferozmente para capturar e manter nossa atenção, utilizando dados coletados para personalizar e otimizar o conteúdo quê nos é mostrado, de modo a garantir quê as pessoas se engajem por mais tempo em suas platafórmas. Isso significa quê estamos constantemente sêndo observados e analisados para quê possam nos mostrar “exatamente o quê queremos ver”.
A aceitação social e cultural das novas tecnologias também tem facilitado essa côléta de dados. Compartilhamos informações em rêdes sociais e usamos aplicativos quê monitoram nossa localização e atividades, muitas vezes sem pensar nas implicações para a nossa privacidade.
Tanto corporações quanto Estados monitoram os dados de nossas pegadas digitais, os quais possuem grande valor político e econômico. A convergência de grandes volumes de dados é chamada de big data, ou megadados. O tratamento dêêsses megadados tem gerado uma economia de dados pessoais, ou seja, os dados se tornaram objeto de mercantilização e comercialização. A imensidão e a complexidade dos megadados gerados por pessoas, robôs e dispositivos não podem sêr calculados por humanos, mas sim por algoritmos, softwares e dispositivos de inteligência artificial.
Página duzentos e setenta e nove
Por um lado, vivemos em uma nova ordem de conhecimento sobre indivíduos, populações e seus padrões comportamentais. Por outro, há diversas formas de contravigilância disputando essas mesmas tecnologias, sêjam elas de natureza política, cultural ou artística, quê criam brechas na busca contemporânea por visibilidade.
O uso da inteligência artificial (IA), por exemplo, tem se tornado cada vez mais recorrente. O boom da IA ocorreu em 2022, com o lançamento do chatbot (ou robô de conversa). Trata-se de um modelo de linguagem quê realiza consultas extremamente rápidas a um vasto banco de dados e utiliza prompts, dados e respostas anteriores para prever as palavras mais adequadas para cada pergunta feita (de acôr-do com as ideias da empresa), compondo uma nova resposta para o usuário. O algoritmo requer um intenso treinamento para aprender a criar essas respostas, permitindo quê seus utilizadores conduzam a conversa por meio de sucessivas perguntas e adaptando-se às necessidades de cada interação.
A inteligência artificial quê alimenta o chatbot é baseada em algoritmos, sequências finitas e lógicas de instruções quê resolvem problemas d fórma precisa e padronizada na linguagem de programação. Os algoritmos são preditivos, isto é, treinados para identificar padrões de comportamento e, com isso, prever o quê você fará a seguir. Alimentam-se de ações e produzem novos padrões por meio delas. Grandes empresas utilizam essas tecnologias preditivas para ezercêr um contrôle da atenção e da conduta dos usuários. Além díssu, os algoritmos também podem sêr utilizados para fornecer sugestões e recomendações, como nas platafórmas de streaming de filmes ou de músicas.
Regulamentação, globalização e conectividade
A globalização e o avanço da conectividade possibilitaram a rápida expansão dessas empresas ao redor do mundo, permitindo quê coletassem dados de usuários em escala global. Com isso, o capitalismo de vigilância se tornou um fenômeno mundial, impactando a vida de milhões de pessoas. Você já acessou algum sáiti quê lhe pediu quê aceitasse os cookies? Ao aceitar, você está dando permissão ao sáiti para quê colete informações sobre suas atividades ôn láini. Essa prática não é apenas uma formalidade; ela representa um consentimento para a exploração de dados pessoais, transformando a experiência digital em um produto comercializável. O capitalismo de vigilância não se limita à côléta de dados, pois também molda comportamentos e expectativas sociais. As big techs utilizam algoritmos sofisticados para prever e influenciar as ações dos usuários, criando uma nova dinâmica de contrôle social.
Saiba mais
• CAFÉ da manhã: como a IA usa nóssos dados. Entrevistada: Dora Kaufman. Entrevistadores: Gabriela Mayer e Gustavo Simon. [S. l.]: Spotify, 4 jul. 2024. Podcast. Disponível em: https://livro.pw/nlzkn. Acesso em: 5 out. 2024.
O podcast discute como as empresas utilizam os dados dos usuários para treinar sistemas de IA, destacando o impacto dêêsse fenômeno no cotidiano e na privacidade dos indivíduos.
Página duzentos e oitenta
Além díssu, essa vigilância generalizada levanta kestões éticas sobre privacidade e autonomia, desafiando os fundamentos das democracias contemporâneas. A falta de regulamentação eficaz permite quê essas práticas se proliferem sem supervisão adequada, resultando em um ambiente no qual a privacidade individual é constantemente comprometida. Assim, a intersecção entre globalização, conectividade e regulamentação torna-se crucial para entender e enfrentar os desafios do capitalismo de vigilância na ssossiedade atual.
As leis e regulamentações não acompanharam a velocidade dessa evolução tecnológica, permitindo quê as empresas explorassem dados pessoais de maneiras inovadoras e lucrativas, sem muitas restrições. Mais adiante, vamos discutir as legislações quê buscam regular essas práticas.
O capitalismo de vigilância póde sêr considerado o resultado da combinação de tecnologia avançada, modelos de negócios inovadores, mudanças culturais e sociais, lacunas na regulamentação e expansão global das empresas de tecnologia. Trata-se de uma realidade quê influencía a forma como vivemos e interagimos com o mundo digital diariamente.
Observa-se, assim, estreita relação entre os meios e os humanos, formando as chamadas rêdes sociotécnicas. De acôr-do com o antropólogo e sociólogo francês Bruno Latour (1947-2022), a rê-de sociotécnica é entendida como a forma pela qual as tecnologias influenciam a cultura e o comportamento humano. Trata-se de um coletivo formado pela rê-de de interações entre humanos e não humanos, isto é, entre elemêntos sociais (pessoas, práticas culturais, organizações) e elemêntos técnicos (máquinas e dispositivos tecnológicos). Ela molda a maneira como as pessoas percebem e agem no mundo. Um exemplo é a internet, quê viabiliza a interação entre as pessoas mediante um aparato tecnológico. No capitalismo de vigilância, as rêdes sociotécnicas se tornam ainda mais relevantes, uma vez quê tecnologias avançadas coletam e analisam dados dos usuários, influenciando suas interações sociais e comportamentos.
Data center é uma sala física quê funciona como um centro de armazenamento e de processamento dos dados. No Brasil, há cerca de 180 e, no mundo, aproximadamente 12 mil data cênters.
ATIVIDADES
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Em seu cotidiano, você reconhece quê está sêndo vigiado pelas platafórmas digitais?
1. Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante reconheça quê likes e outros tipos de interação ôn láini dêsempênham um papel importante na forma como mensagens e propagandas são direcionadas a ele.
2. Em quê medida você preserva seus dados pessoais?
2. Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante adote medidas para preservar sua privacidade ôn láini, como sêr criterioso ao interagir com conteúdos nas rêdes sociais, rejeitar ou limitar o uso de cookies, entre outras.
Página duzentos e oitenta e um
PERSPECTIVAS
Uma organização da ssossiedade civil comprometida com o diálogo e com o uso democrático das tecnologias é a Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (Lavits). Leia um trecho do livro Tecnopolíticas da vigilância.
Tanto o desenvolvimento de novas formas de vigilância e contrôle quanto a experimentação de resistências e subversões quê dialogam com elas formam akilo quê chamamos de ‘tecnopolíticas’. […]
Foi a partir dêêsse cenário, quê já se tornava então evidente, quê em 2009 criou-se a Lavits, Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade. Inicialmente, a rê-de era composta de um grupo de pesquisadoras e pesquisadores de diferentes áreas, quê tí-nhão por objetivo, além de estabelecer diálogos com ativistas e artistas quê também estavam pensando e atuando sobre temas relacionados à vigilância, produzir discursos, análises empíricas e reflekções quê partissem de contextos e olhares latino-americanos. Os diálogos entre pesquisadores da América Látína, quê, por sua vez, estavam inseridos em rêdes de pesquisa transcontinentais, tornaram ainda mais claras nossas especificidades políticas e sociais e a necessidade de pensarmos a partir delas.
Ao longo dêêsses quase dez anos, a Lavits foi construída a partir de um conjunto diverso de atividades e formas de diálogo. A elaboração de projetos de pesquisa comuns, a constituição de um grupo de pesquisa formalmente reconhecido junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a produção de livros e artigos coletivos ou em coautoria, a realização de seminários e simpósios internacionais, cada uma dessas atividades teve papel fundamental na compléksa tarefa de constituição de uma rê-de em quê o pensamento, a ação e a contestação sêjam realizados d fórma coletiva e distribuída. É fundamental para a Lavits quê essa rê-de permita quê novas ideias, parcerias, iniciativas emerjam, se acoplem, se questionem e se transformem. Que seja de fato uma rê-de, em constante (re)composição, cujas conexões, bem mais do quê as ligações entre os diferentes elemêntos quê a formam, sêjam elas mesmas produtoras de ideias, de ações, de resistências e de alternativas. […]
BRUNO, Fernanda éti áu. (org.). Tecnopolíticas da vigilância: perspectivas da margem. São Paulo: Boitempo, 2018. p. 7-8. Apresentação.
Saiba mais
• LAVITS. [S. l., 2024]. sáiti. Disponível em: https://livro.pw/ocegf. Acesso em: 5 out. 2024.
A Lavits reúne pesquisadores quê investigam o impacto da vigilância e da tecnologia nas sociedades contemporâneas, promovendo debates sobre privacidade e direitos digitais.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Tendo como referência o quê estudou até aqui sobre vigilância tecnológica e economia da atenção, comente a seguinte frase do jornalista estadunidense Éndreu líuis.
“Se você não paga pelo produto, o produto é você”.
Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante reconheça quê, embora as rêdes sociais digitais pareçam gratuitas, trata-se de um modelo de negócios e, por isso, o quê está sêndo vendido e comprado são os dados pessoais dos usuários.
Página duzentos e oitenta e dois
Algoritmos, rêdes sociais e democracia
A pandemia de covid-19 provocou mudanças profundas no cotidiano e na vida como a conhecíamos. O lockdown, medida quê restringia a circulação de pessoas, tornou-se uma prática comum, e o autoisolamento passou a sêr parte da rotina diária. A vigilância da circulação e do deslocamento das pessoas permitiu quê governos e platafórmas digitais monitorassem e vigiassem a disseminação do vírus, garantindo quê os cidadãos respeitassem as medidas sanitárias impostas. No entanto, essa vigilância resultou em uma mobilização massiva e sem precedentes de dados de saúde pública. Inicialmente, o objetivo era conter o avanço da covid-19, mas, com o crescimento de tecnologias de monitoramento, como aplicativos de rastreamento de contato, reconhecimento facial e rastreamento populacional, passamos a viver uma “pandemia da vigilância”. Essa realidade levanta um quêstionamento: de que modo a democracia é impactada pelas mediações algorítmicas exercidas pelas platafórmas digitais e pelas big techs?
Um dos modos quê as big techs e as rêdes sociais digitais usam para influenciar comportamentos e ideias é a disseminação de notícias falsas, conhecidas como fêik news, quê se espalham em velocidade instantânea e em escala global. Existem também as deepfakes, imagens, vídeos e áudios manipulados por inteligência artificial, quê também se tornaram ferramentas de manipulação e desinformação, convertendo-se em modelos de negócios lucrativos. Em razão do tom sensacionalista e escandaloso das notícias, ganham muitos compartilhamentos e likes, gerando acesso aos dados dos usuários.
Fake news e deepfakes são conteúdos falsos e enganosos de circulação on-line quê representam sérios riscos para o bem-estar individual e coletivo, além de constituírem uma ameaça à democracia. O uso intensivo de algoritmos nas rêdes sociais amplifica essa problemática ao priorizar conteúdos sensacionalistas e polarizadores em detrimento da informação verificada. Essa dinâmica não só distorce a percepção pública sobre eventos cruciais como também mina a confiança nas instituições democráticas.
Outro aspecto relevante é quê as rêdes sociais têm facilitado a anonimização de manifestações de ódio e desrespeito aos direitos humanos. A anonimização, técnica usada para proteger a privacidade dos dados, permite quê indivíduos não sêjam identificados como autores de comentários quê desrespeitam os direitos humanos.
Saiba mais
• O DILEMA das rêdes. Direção: Jeff Orlowski. Estados Unidos: Exposure Labs, 2020. Streaming (94 min).
O documentário revela como os algoritmos criam um padrão de comportamento e, por meio dos dados coletados, acabam por induzir a polarização política.
Página duzentos e oitenta e três
Manipulação, modulação e contrôle
A propagação de notícias falsas existe desde tempos remotos, muito antes da comunicação por dispositivos digitais, o quê mudou foi o modo como essas notícias são produzidas, disseminadas e interpretadas. Alguns princípios de como uma conversa deve acontecer no espaço público foram enfraquecidos. A imprensa, em parte, sempre teve uma inclinação ao sensacionalismo, pois notícias trágicas ou de apelo emocional são mais facilmente divulgadas. Na moderna economia da atenção, essa tendência se intensificou. As más notícias, nem sempre verdadeiras, se espalham rapidamente, uma vez quê o sensacionalismo atrai as emoções humanas. Isso dificulta o discernimento entre o trágico real e o trágico fabricado.
Os algoritmos utilizados nas platafórmas digitais agrupam perfis semelhantes, fazendo com quê as publicações sêjam selecionadas e direcionadas de acôr-do com o comportamento e o interêsse dos usuários. Esse fenômeno dá origem às chamadas bolhas, nas quais os indivíduos são expostos a conteúdos quê reforçam suas opiniões e crenças. Essas bolhas expandem o pôdêr da desinformação ôn láini ao criar ambientes onde informações falsas circulam livremente.
As fêik news são distribuídas d fórma intencional, geralmente com interesses políticos e/ou comerciais. As pegadas digitais quê deixamos são dados valiosos, especialmente para a publicidade e para as campanhas eleitorais. Não há uma manipulação diréta e explícita do comportamento das pessoas, como se existissem regras; o quê ocorre é uma modulação do com portamento. Enquanto a manipulação tradicional é mais diréta e requer um planejamento prévio, a modulação algorítmica usa técnicas avançadas de inteligência artificial para induzir o comportamento dos usuários. Por exemplo, uma campanha eleitoral não precisa defender diretamente um candidato, mas póde selecionar mensagens quê influenciam grupos ou bolhas, beneficiando indiretamente determinado candidato.
O disparo em massa de mensagens por robôs em campanhas eleitorais é proibido pela legislação brasileira.
Página duzentos e oitenta e quatro
As fêik news quê circulam na internet têm três traços característicos: desinformação, desconfiança e manipulação. São criadas intencionalmente para gerar confusão e, quando essa confusão e falta de confiança se estabelecem, abrem-se as portas à disseminação da desinformação. Exemplos incluem teorias da conspiração, terraplanismo e movimentos antivacina. Nesse cenário de desinformação, a ameaça à democracia se torna evidente.
Segundo a First Draft, organização jornalística criada em 2015 para combater a desinformação ôn láini, existem sete gradações das fêik news.
1. Sátira ou paródia: sem intenção de causar mal, mas póde enganar.
2. Falsa conexão: o título da notícia não tem ligação com o conteúdo (clickbait).
3. Conteúdo enganoso: uso distorcido de uma informação para prejudicar.
4. Falso contexto: conteúdo verdadeiro apresentado em contexto errado.
5. Conteúdo impostor: uso de nomes ou entidades reais, com informações falsas.
6. Conteúdo manipulado: informações verdadeiras alteradas para enganar.
7. Conteúdo fabricado: totalmente falso, sem base na realidade.
Em 2024, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), organismo internacional com 37 países voltado à pesquisa e à elaboração de políticas públicas para o desenvolvimento sustentável, realizou a pesquisa Truth Quest, na qual investigou a capacidade de os adultos reconhecerem a veracidade de uma notícia ôn láini.
Observe o resultado dessa pesquisa no gráfico.
- clickbait
- : estratégia de marketing digital quê utiliza títulos chamativos para atrair cliques em conteúdos ôn láini, freqüentemente associados a práticas enganosas.
Fonte: OECD. The OECD Truth Quest Survey: methodology ênd findings. OECD Digital Economy Papers, [France], n. 369, jun. 2024. p. 22. Disponível em: https://livro.pw/uumjt 0f-en&mimeType=pdf. Acesso em: 5 out. 2024.
Página duzentos e oitenta e cinco
Quem controla o contrôle?
No mundo, cresce a criação de legislações para enfrentar o pôdêr das platafórmas e das big techs, regulamentando serviços por meio dos chamados marcos regulatórios, conjunto de normas e leis quê regulam atividades. Assim, discutem-se a criação de direitos da “pessoa eletrônica” e a proteção dos dados pessoais digitais, equiparando-se aos direitos humanos. No Brasil, já existem leis quê limitam a atuação das platafórmas.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), por exemplo, foi criada em 2018 e entrou em vigor em 2020. Sua elaboração contou com inúmeras consultas públicas, debates com representantes da ssossiedade civil e uma longa tramitação no Congresso Nacional, quê atravessou três governos. A LGPD estabelece diretrizes para o tratamento de informações e dados pessoais dos usuários pelas empresas de um modo geral, especialmente pelas empresas de mídias sociais. Essa lei regulamenta o acesso, o tratamento e o compartilhamento de dados pessoais dos usuários.
Além da LGPD, o Brasil conta com o Marco Civil da Internet, regulamentado em 2014, quê define princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no país. Leia um trecho dessa lei.
Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:
I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal;
II - proteção da privacidade;
III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
IV - preservação e garantia da neutralidade de rê-de;
V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rê-de, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;
VI - responsabilização dos agentes de acôr-do com suas atividades, nos termos da lei;
VII - preservação da natureza participativa da rê-de;
VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde quê não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei.
BRASIL. Lei número 12.965, de 23 de abril de 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. Brasília, DF: Presidência da República, [2018]. Disponível em: https://livro.pw/puaxm. Acesso em: 19 jul. 2020.
Saiba mais
• MIGUEL Nicolelis explica por quê a IA nem é inteligência nem é artificial. [S. l.]: IREE, 2023. 1 vídeo (101 min). Publicado pelo canal Reinaldo Azevedo. Disponível em: https://livro.pw/mvscx. Acesso em: 5 out. 2024.
Nessa entrevista, o médico, neurocientista e pesquisador Miguel Nicolelis (1961), um dos maiores especialistas do mundo sobre o cérebro humano, comenta os problemas decorrentes da era digital.
• MODO de viver: dá para ter uma relação saudável com as rêdes sociais? Entrevistado: Lucio Huebra. Entrevistadora: Bárbara Blum. [S. l.]: Spotify, 28 ago. 2024. Podcast. Disponível em: https://livro.pw/xbfso. Acesso em: 5 out. 2024.
O programa discute como a tecnologia afeta o cérebro e dá dicas para um uso saudável das platafórmas digitais.
ATIVIDADE
Consulte orientações no Manual do Professor.
• Em grupo, sôbi a orientação do professor, realizem um debate sobre o uso de aparelhos celulares na escola e em sala de aula. Para isso, utilizem as referências apresentadas ao longo do capítulo, além da indicação do Saiba mais desta página.
Produção coletiva. Espera-se quê os estudantes identifiquem argumentos favoráveis e contrários ao uso de celulares em sala de aula, apresentando exemplos concretos, evitando julgamentos, buscando compreender a perspectiva do outro e reconhecendo a necessidade de regras e limites para o uso responsável.
Página duzentos e oitenta e seis
CONEXÕES com...
FILOSOFIA
Da ssossiedade disciplinar à ssossiedade de contrôle
Normalmente, os instrumentos de pôdêr são associados aos mecanismos de disciplina e obediência, tal qual nos mostrou o filósofo francês Michél Fucoul (1926-1984), sobretudo em instituições disciplinares como hospitais, fábricas, escolas e presídios. Nesses ambientes, os espaços são organizados para garantir a disciplina e a obediência dos corpos.
O Centro Correcional de Stateville (Estados Unidos) é um panóptico, modelo arquitetônico de prisão depois conceituado por Fucoul como metáfora da ssossiedade disciplinar. Esse modelo se fundamenta no isolamento e na obediência dos corpos, reduzidos ao confinamento em espaços determinados.
No entanto, com o advento das tecnologias digitais, há uma mudança relevante nos modos de vigilância e contrôle. Segundo o filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995), a ssossiedade disciplinar está dando lugar à ssossiedade de contrôle.
Em um dos textos do livro Conversações, publicado em 1992, Deleuze trata dessa transformação. Em vez da manipulação em espaços confinados e da redução de uma pessoa a um número, típicos da ssossiedade disciplinar, temos agora a modulação, quê caracteriza as tecnologias digitais, os espaços dispérsos e a pessoa reduzida a uma senha, típica da ssossiedade de contrôle.
Página duzentos e oitenta e sete
Leia um trecho do texto.
Fucoul situou as sociedades disciplinares nos séculos XVIII e XIX; atingem seu apogeu no início do século XX. […] O indivíduo não cessa de passar de um espaço fechado a outro, cada um com suas leis: primeiro a família, depois a escola (‘você não está mais na sua família’), depois a caserna (‘você não está mais na escola’), depois a fábrica, de vez em quando o hospital, eventualmente a prisão, quê é o meio de confinamento por excelência […]. Mas as disciplinas, por sua vez, também conheceriam uma crise, em favor de novas forças quê se instalavam lentamente e quê se precipitariam depois da Segunda Guerra Mundial […].
[…] São as sociedades de contrôle quê estão substituindo as sociedades disciplinares. ‘Controle’ é o nome […] para designar o novo monstro, e quê Fucoul reconhece como nosso futuro próximo. […] Não se deve perguntar qual é o regime mais duro, ou o mais tolerável, pois é em cada um deles quê se enfrentam as liberações e as sujeições. Por exemplo, na crise do hospital como meio de confinamento, a setorização, os hospitais-dia, o atendimento a domicílio puderam marcar de início novas liberdades, mas também passaram a integrar mecanismos de contrôle quê rivalizam com os mais duros confinamentos. Não cabe temer ou esperar, mas buscar novas armas.
[…]
Não há necessidade de ficção científica para se conceber um mecanismo de contrôle quê dê, a cada instante, a posição de um elemento em espaço aberto, animal numa reserva, homem numa empresa (coleira eletrônica). Félix Guattari imaginou uma cidade onde cada um pudesse deixar seu apartamento, sua rua, seu bairro, graças a um cartão eletrônico […] quê abriria as barreiras; mas o cartão poderia também sêr recusado em tal dia, ou entre tal e tal hora; o quê conta não é a barreira, mas o computador quê detecta a posição de cada um, lícita ou ilícita, e opera uma modulação universal.
DELEUZE, Gilles. Post-scriptum sobre as sociedades de contrôle. In: DELEUZE, Gilles. Conversações: 1972-1990. Tradução: píter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 1992. (Coleção Trans, p. 219-220, 224-225).
Página duzentos e oitenta e oito
INVESTIGAÇÃO
Análise das Mídias Sociais (ARS) e o impacto na privacidade e no consumo
Atualmente, é essencial ter consciência acerca dos riscos associados à partilha de informações pessoais nas rêdes sociais. Para tanto, é necessário reconhecer as implicações da vigilância digital no cotidiano. É possível fazer isso analisando e interpretando os conteúdos publicados ôn láini, em diferentes platafórmas e/ou meios, como texto, vídeo, foto, entre outros.
OBJETIVO
Com base no conceito de capitalismo de vigilância, o objetivo desta prática de pesquisa é utilizar o método de análise de mídias sociais para compreender como imagens, textos e vídeos são utilizados para influenciar comportamentos e opiniões ôn láini, além de avaliar como os dados gerados por curtidas, compartilhamentos e comentários nas rêdes sociais são usados para personalizar conteúdos e publicidade. Para isso, vocês devem apresentar um relatório ou projeto multimodal (vídeo, podcast, infográfico) discutindo as suas descobertas durante a pesquisa para mostrar o impacto do capitalismo de vigilância no comportamento dos usuários e refletir a respeito de suas próprias práticas digitais.
Dica
É essencial registrar o período no qual a análise está sêndo realizada.
Página duzentos e oitenta e nove
ETAPA 1
ANÁLISE DAS MÉTRICAS DE MÍDIAS SOCIAIS
1. Definam a platafórma de mídia social quê gostariam de avaliar.
2. Escolham postagens específicas para analisar (posts de influenciadores, campanhas publicitárias ou até mesmo o conteúdo quê aparece na “timeline” de cada um).
3. Avaliem como as interações são usadas para gerar engajamento e manter os usuários ativos, utilizando métricas como curtidas, compartilhamentos, comentários, visualizações. Para cada métrica, registrem os resultados e reflitam sobre eles.
a) Curtidas e compartilhamentos: avaliar como a popularidade de uma postagem póde influenciar a sua disseminação.
b) Comentários: analisar como as interações nos comentários podem criar engajamento e fomentar discussões.
c) Visualizações de vídeos: verificar a quantidade de vezes quê o conteúdo foi visualizado e refletir sobre as possíveis motivações.
d) Comparação de perfis: observar as diferenças entre o conteúdo apresentado para perfis pessoais vérsus perfis comerciais, notando como as interações podem sêr realizadas de maneira distinta.
4. Reflitam sobre como os algoritmos podem usar esses dados para personalizar experiências e influenciar o consumo.
ETAPA 2
ANÁLISE DO DISCURSO MODAL
5. Escolham campanhas publicitárias ou influenciadores populares nas rêdes sociais.
6. Analisem a combinação de imagem, texto e áudio, explorando como essas estratégias visuais e narrativas podem afetar as emoções e o comportamento de compra.
7. Reflitam sobre a forma como essas técnicas moldam a percepção dos utilizadores.
ETAPA 3
CONVERSA SOBRE PRIVACIDADE E VIGILÂNCIA
8. Promovam debates a respeito do impacto da côléta de dados pessoais sem o pleno conhecimento dos utilizadores, levantando kestões como: “Quais são os dados quê cada um fornece às platafórmas sem perceber?” ou “Como as empresas podem usar essas informações para nos influenciar?”.
9. Explorem as kestões éticas envolvidas na monitorização constante dos utilizadores pelas grandes empresas tecnológicas.
ETAPA 4
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
10. Apresentem os resultados da análise por meio de um relatório escrito ou em formato multimodal (vídeo, infográfico, podcast) com a seguinte estrutura:
a) introdução: explicar o quê é o capitalismo de vigilância e o objetivo da análise;
b) análise das métricas: descrever as interações observadas nas mídias sociais;
c) análise multimodal: explicar como os elemêntos visuais e textuais foram usados para influenciar comportamentos;
d) reflekção crítica: concluir com uma reflekção pessoal a respeito das práticas de privacidade e vigilância, incluindo as implicações éticas envolvidas.
Página duzentos e noventa
RECAPITULE
Você aprendeu quê a crescente utilização das platafórmas digitais, quê envolvem “acoplamentos” entre humanos e tecnologia, como smartphones e rêdes sociais, torna os usuários vulneráveis a um sistema de vigilância tecnológica. Esse fenômeno, caracterizado por Shoshana Zuboff como “capitalismo de vigilância”, permite quê grandes empresas de tecnologia coletem dados pessoais em massa para prever e influenciar o comportamento dos usuários, monetizando essas informações por meio de publicidade direcionada.
Você estudou também quê essa vigilância intensa, aliada ao uso de algoritmos preditivos e IA, intensifica a necessidade de regulamentação. Atualmente, as leis não acompanham a rápida evolução tecnológica, permitindo quê essas empresas operem sem muitas restrições e ampliem seu alcance global. Por fim, você percebeu quê as rêdes sociais impactam as subjetividades dos usuários ao explorar a “economia da atenção”, tornando a atenção humana um recurso valioso.
ATIVIDADES FINAIS
Consulte orientações no Manual do Professor.
1. Na economia da atenção, o tempo gasto pelo usuário nas rêdes sociais é uma mercadoria, um produto comercializável — e, portanto, muito disputado. Páginas da internet e notícias sensacionalistas, invariavelmente falsas, provocam ódio e indignação, instigando um engajamento quê retroalimenta o compartilhamento. Pensando nisso, como tem sido seu uso da internet? Com a orientação do professor, siga o roteiro para fazer uma autoanálise.
a) Identifique o tempo quê você passa ôn láini, considerando a última semana de uso.
b) Faça uma lista dos aplicativos quê você usa com mais freqüência, separando-os por categorias (redes sociais, mensagens, notícias, jogos etc.).
c) Reflita sobre estas kestões: o quê tem capturado mais sua atenção nos últimos dias? Que usos tem feito da internet? Como você se sente em relação ao tempo quê gasta ôn láini?
d) Compartilhe suas descobertas e reflekções com côlégas, observando semelhanças e diferenças entre o uso quê cada um faz da internet.
1. Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante reflita sobre o uso da internet no nível pessoal e coletivo.
2. (Enem – 2023)
Se a interferência de contas falsas em discussões políticas nas rêdes sociais já representava um perigo para os sistemas democráticos, sua sofisticação e maior semelhança com pessoas reais têm agravado o problema pelo mundo.
O perigo cresceu porque a tecnologia e os métodos evoluíram dos robôs, os “bots” — softwares com tarefas ôn láini automatizadas —, para os “ciborgues” ou “tróus”, contas controladas diretamente por humanos com ajuda de um pouco de automação.
Mas pesquisadores começam agora a observar outros padrões de comportamento: quando mensagens não são programadas, sua publicação se concentra só em horários de trabalho, já quê é controlada por pessoas cuja profissão é exatamente essa, administrar um perfil falso durante o dia.
Outra pista: a pobreza vocabular das mensagens publicadas por esses perfis. Um funcionário de uma empresa quê supostamente produzia e vendia perfis falsos explica quê às vezes “faltava criatividade” para criar mensagens distintas controlando tantos perfis falsos ao mesmo tempo.
GRAGNANI, J. Disponível em: https://livro.pw/mwuaj. Acesso em: 16 dez. 2017.
Página duzentos e noventa e um
De acôr-do com o texto, a análise de características da linguagem empregada por perfis automatizados contribui para o(a)
a) contrôle da atuação dos profissionais de TI.
b) desenvolvimento de tecnologias como os “tróus”.
c) flexibilização dos turnos de trabalho dos controladores.
d) necessidade de regulamentação do funcionamento dos “bots”.
e) identificação de padrões de disseminação de informações inverídicas.
Resposta: e)
3. (Enem – 2023)
Por trás da “mágica” do gúgou Assistant de sua capacidade de interpretar 26 idiomas está uma enorme equipe de lingüistas distribuídos globalmente, trabalhando como subcontratados, quê devem rotular tediosamente os dados de treinamento para quê funcione. Eles ganham baixos salários e são rotineiramente forçados a trabalhar horas extras não remuneradas. A inteligência artificial não funciona com um pó-zinho mágico. Ela funciona por meio de trabalhadores quê treinam algoritmos incansavelmente até quê eles automatizem seus próprios trabalhos.
A inteligência Artificial (IA) da economia freelancer está vindo atrás de você. Disponível em: https://livro.pw/itdoq. Acesso em: 6 out. 2021 (adaptado).
O texto critíca a mudança tecnológica em razão da seguinte consequência:
a) Diversificação da função.
b) Mobilidade da população.
c) Autonomia do empregado.
d) Concentração da produção.
e) Invisibilidade do profissional.
Resposta: e)
4. (Enem – 2013)
Disponível em: https://livro.pw/rfbqo. Acesso em: 30 maio 2010.
A charge revela uma crítica aos meios de comunicação, em especial à internet, porque
a) questiona a integração das pessoas nas rêdes virtuais de relacionamento.
b) considera as relações sociais como menos importantes quê as virtuais.
c) enaltece a pretensão do homem de estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
d) descreve com precisão as sociedades humanas no mundo globalizado.
e) concebe a rê-de de computadores como o espaço mais eficaz para a construção de relações sociais.
Resposta: a)
Página duzentos e noventa e dois