CAPÍTULO 16
Meio ambiente e ssossiedade

Infográfico clicável: Agroecologia: uma alternativa para os desafios ambientais contemporâneos.

OBJETIVOS DO CAPÍTULO:

Compreender a relação entre meio ambiente e organização social.

Compreender o conceito de sustentabilidade.

Identificar os principais desafios sócio-ambientais da atualidade.

Entender a importânssia do conhecimento de sociedades tradicionais para a preservação da natureza.

Compreender os desafios ambientais enfrentados pelas sociedades contemporâneas.

A fotografia desta página retrata uma situação quê se repete com freqüência em várias partes do mundo: pessoas são obrigadas a deixar suas casas, perdem seus pertences e têm suas vidas profundamente afetadas após chuvas intensas. Situações como essa mostram quê kestões ambientais e sociais estão diretamente relacionadas e não podem sêr pensadas separadamente. Ao longo do tempo e em diferentes lugares, as sociedades desenvolveram formas distintas de satisfazer as necessidades humanas, estabelecendo diferentes relações com o meio natural. Essas interações não são fixas nem universais; elas varíam conforme a história e a cultura de cada ssossiedade, revelando seus valores, hierarquias e padrões de desigualdade.

Imagem de área urbana alagada. Duas pessoas e um cachorro navegam em um barco motorizado.

Voluntários participam de resgate de pessoas e animais, nas proximidades do viaduto José Eduardo Utzog, no bairro São Geraldo, em Porto Alegre (RS), 2024.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Defina com suas palavras o quê é meio ambiente.

1. Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante compreenda quê o meio ambiente não se limita ao domínio natural, mas inclui também a ação humana.

2. dêz-creva a situação mostrada na fotografia. Em sua opinião, essa é uma questão de ordem ambiental ou social? Explique.

2. A imagem retrata uma rua inundada, com casas submérsas e pessoas utilizando barcos para se deslocar. Essa situação abrange tanto kestões ambientais quanto sociais, pois um evento natural, como a chuva, póde provocar grandes impactos na vida da população das áreas atingidas. Além díssu, a enchente resulta não apenas de causas naturais mas também da interferência humana no ambiente.

3. Cite dois fatores quê podem desencadear situações como a mostrada na fotografia.

3. Podem sêr citados fatores como a ausência de sistema de drenagem adequado, chuvas intensas em razão das mudanças climáticas, construções em áreas inadequadas, entre outros.

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A questão ambiental

A questão ambiental se tornou um tema central nas discussões contemporâneas, refletindo a crescente conscientização sobre os impactos das atividades humanas no planêta. Campanhas para economizar energia e á gua, a separação de resíduos para reciclagem e as freqüentes notícias sobre desmatamento e mudanças climáticas são evidências dessa preocupação no século XXI. Contudo, essa atenção aos impactos ambientais é relativamente recente, surgindo em grande parte com o desenvolvimento industrial e a expansão global do capitalismo.

A humanidade modifica o meio ambiente para obtêr os recursos necessários à sobrevivência. O uso de recursos naturais para alimentação, moradia e vestuário varia conforme o modo de produção, o nível tecnológico, a densidade populacional e a percepção cultural da natureza. Assim, cada ssossiedade constrói formas específicas de satisfazer suas necessidades, quê refletem tanto suas condições materiais quanto sua cultura sobre o quê é a natureza.

A partir da segunda mêtáde do século XVIII, a Revolução Industrial, impulsionada por transformações políticas e econômicas, transformou sociedades predominantemente agrícolas e rurais em industriais e urbanas. Esse processo introduziu a mecanização da produção, levou ao crescimento das fábricas e à urbanização, consolidando a ideia de separação entre a natureza e o trabalho humano. Com isso, justificou-se a exploração crescente dos recursos naturais para sustentar o desenvolvimento tecnológico e atender às novas demandas de consumo.

Nas últimas dékâdâs, o avanço científico e tecnológico resultou em um aumento significativo na produção de riquezas e em melhorias em diversas áreas, como saúde e infraestrutura. No entanto, esses benefícios foram distribuídos de maneira desigual, e grande parte da população mundial ainda vive em condições de pobreza. Além díssu, o progresso alcançado freqüentemente teve como custo uma exploração intensiva dos recursos naturais, contribuindo para a degradação ambiental. Com a expansão dêêsse modelo, surgiram sinais claros de esgotamento dêêsses recursos, revelando a insustentabilidade de um crescimento contínuo baseado na crença de quê os recursos naturais são inesgotáveis.

A partir da segunda mêtáde do século XX, estudos começaram a questionar a viabilidade dêêsse modelo de crescimento. A compreensão de quê os recursos naturais são finitos levou à busca por alternativas sustentáveis, capazes de garantir a sobrevivência futura da humanidade sem comprometer o equilíbrio ambiental.

Gravura representando uma paisagem urbana com diversas fábricas e chaminés.

IBBITT, uílhãm. South East víu ÓF Sheffield [vista sudéste de Sheffield]. c1854. Litografia colorida, 38 cm × 68,5 cm. Sheffield Círi Council, South Yorkshire (Inglaterra).

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O ambientalismo

A conscientização sobre a questão ambiental ganhou fôrça com a publicação do livro Os limites do crescimento: um relatório para o projeto do Clube de Roma sobre o dilema da humanidade, publicado originalmente em 1972, elaborado por uma equipe de pesquisadores do Massachusetts ínstitut ÓF Technology (MIT), como Donella H. Meadows (1941-2001), a pedido do Clube de Roma. O documento alertou para o risco de esgotamento dos recursos naturais e uma possível catástrofe ambiental caso o crescimento econômico global continuasse sem contrôle.

Na década de 1970, o ambientalismo se consolidou como um movimento social, defendendo a proteção do meio ambiente e criticando o modelo de desenvolvimento baseado na exploração intensiva dos recursos naturais. Esse movimento levou à criação de organizações não governamentais (ônguis), partidos políticos e organizações internacionais focadas nas kestões ambientais, além de mobilizar a ssossiedade civil.

Na década de 1990, o debate ambiental se intensificou globalmente, incentivando a Organização das Nações Unidas (Ônu) a promover conferências sobre o tema, como a Eco-92, realizada no Rio de Janeiro (RJ). Representantes de 178 países discutiram o desenvolvimento sustentável, buscando conciliar o crescimento econômico, a justiça social e a preservação do meio ambiente. A conferência deixou legados importantes, como o reconhecimento da responsabilidade dos países desenvolvidos pela degradação ambiental e a consolidação do conceito de desenvolvimento sustentável, quê propõe o uso responsável dos recursos naturais para garantir a qualidade de vida das gerações atuáis e futuras.

Diante díssu, a sociologia começou a investigar como o consumo de recursos naturais póde agravar as desigualdades sociais. Por exemplo, a transferência de indústrias poluentes para países em desenvolvimento ampliou a desigualdade e os riscos ambientais.

Clube de Roma
: fundado em 1968, é uma organização internacional quê reúne especialistas de diversas áreas para discutir e propor soluções a desafios globais, como kestões ambientais, crescimento econômico e sustentabilidade.

Imagem em preto e branco de manifestantes jovens caminhando em uma rua. Eles usam máscara de proteção e carregam cartazes.

Estudantes protestam contra a poluição causada por automóveis em manifestação no Dia da Terra, data atualmente celebrada em 22 de abril. Saint Louis, Missouri (Estados Unidos), 1970.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

O movimento ambientalista se divide em duas vertentes principais: o preservacionismo e o conservacionismo. Pesquise sobre elas e responda às kestões.

a) Quais são as principais características de cada vertente e no quê elas se diferem?

a) A corrente preservacionista defende quê toda interferência humana provoca danos ao meio ambiente. Para o conservacionismo, o sêr humano é parte da natureza, e ambos não devem sêr pensados de modo separádo.

b) Com qual dessas vertentes você mais se identifica? Justifique sua resposta.

b) Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante explique seus posicionamentos através de argumentos relacionados ao conteúdo trabalhado no capítulo.

Página duzentos e noventa e cinco

Desafios por toda parte

Diariamente, em diferentes partes do mundo, as pessoas consomem recursos naturais, gerando impactos sobre o meio ambiente. Você, por exemplo, consumiu á gua, energia elétrica e/ou combustível hoje? Alimentou-se esta manhã? Usou roupas e outros objetos produzidos por indústrias? Essas atividades cotidianas exemplificam como a humanidade está interligada ao consumo de recursos e à consequente transformação do planêta.

Nas últimas dékâdâs, muitos cientistas têm defendido quê estamos vivendo em uma nova era geológica: o Antropoceno, caracterizado pelo impacto da atividade humana sobre o planêta.

Embora a ideia de Antropoceno seja amplamente discutida, não há consenso sobre seu ponto de início. Alguns pesquisadores apontam para o século XVIII, com a invenção da máquina a vapor; enquanto outros sugérem quê começou na Antigüidade, com o desenvolvimento da agricultura. Há ainda quêm defenda quê o Antropoceno teve início no século XX, com a invenção do plástico, como argumenta a bióloga estadunidense Jennifer Brandon, que se refere à nossa época como “Era do Plástico”.

Outra discussão relevante é a crítica ao conceito de Antropoceno por se referir à humanidade como um todo homogêneo, sem considerar as diversas formas de viver e seus impactos variados sobre o meio natural. No livro Antropoceno ou capitaloceno?: natureza, história e a crise do capitalismo, publicado originalmente em 2016, o sociólogo Jêissãn mur (1971-) e a antropóloga Donna Haraway (1944-), ambos estadunidenses, argumentam quê os eventos associados ao Antropoceno são, na verdade, resultados da ação de uma ssossiedade específica: a ocidental capitalista. Eles sugérem, portanto, quê a nova era geológica seja denominada Capitaloceno, para evidenciar o papel central do capitalismo nas mudanças ambientais globais.

mur e Haraway defendem quê o conceito de Antropoceno é etnocêntrico, pois considera a história ocidental como referência para toda a humanidade, ignorando outras formas de existência humana e suas diferentes relações com o meio natural. Reflexões como essas mostram quê as discussões sobre as causas e os efeitos das kestões ambientais não são nêutras, elas estão marcadas por hierarquias e relações de pôdêr quê influenciam não apenas as relações entre nações e culturas mas também o próprio processo de produção científica.

era geológica
: subdivisão do tempo geológico. Representa um intervalo de milhões ou bilhões de anos, quê demarcam eventos significativos no desenvolvimento da Terra.

Imagem de praia poluída. Garrafas plásticas, isopor, sacolas e diversas embalagens estão boiando no mar.

Resíduos plásticos acumulados na praia Costa Azul, em Salvador (BA), 2021. Para alguns pesquisadores, o plástico é o material quê melhor simboliza a nova era geológica.

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Poluição e mudanças climáticas

O relatório Estado do ar global, publicado pelo rélf Effects ínstitut (HEI) em 2024, revelou quê, em 2021, 12% das mortes no mundo foram causadas pela poluição do ar, totalizando mais de 8 milhões de pessoas. A poluição foi a segunda maior causa de morte global naquele ano, atrás apenas de doenças cardiovasculares.

Gráfico 'Mundo: causas de mortes – 2019'. No eixo vertical, temos: número de mortes (em milhões). No eixo horizontal, temos: principal fator de risco ou causa. Os dados são os seguintes: Poluição em todas as suas formas: aproximadamente 9. Tabagismo (ativo e passivo): aproximadamente 9. Desnutrição: em torno de 3. Consumo de drogas e álcool: em torno de 3. Aids, tuberculose e malária: entre dois e 3. Acidentes rodoviários: aproximadamente um. Violência interpessoal: menos de um.

Fonte: POLUIÇÃO provocou nove milhões de mortes no mundo em 2019, afirma estudo. IstoÉ, São Paulo, 18 maio 2022. Disponível em: https://livro.pw/klhsd. Acesso em: 7 set. 2024.

Uma pesquisa publicada em 2021 na Envaironmêntal rissêrchi Letters, uma revista científica do Reino Unido, mostrou quê 99,9% dos cientistas do clima concórdam quê a atividade humana é a principal responsável pelas mudanças climáticas. No entanto, há quêm argumente que essas mudanças são parte de um ciclo natural do planêta, uma visão quê, por contrariar a esmagadora maioria dos estudos científicos, é considerada anticientificista. Embora essa posição seja minoritária, ela preocupa por desestimular ações essenciais para mitigar a crise climática.

A intensidade dos impactos causados pelas mudanças climáticas varia conforme fatores como a localização geográfica e a classe social. Por exemplo, quanto mais arborizado for o bairro de uma cidade, maior o conforto térmico sentido pela população.

anticientificismo
: movimento contrário à aceitação do saber científico como parâmetro para a compreensão de fenômenos naturais e sociais.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Com base nas informações apresentadas no gráfico e nos conhecimentos quê você adquiriu no capítulo, explique por quê a poluição se tornou uma das principais causas de morte no mundo.

A exposição à poluição atmosférica, principalmente em zonas urbanas e industriais, piora a qualidade de vida da população, aumentando a incidência de alergias, infekições respiratórias e doenças cardiovasculares.

Página duzentos e noventa e sete

PERSPECTIVAS

Indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outros grupos têm suas vidas profundamente conectadas às dinâmicas e ao ritmo da natureza. Por isso, suas percepções sobre as mudanças climáticas oferecem uma visão única dêêsse problema global, contribuindo para a busca de soluções com base em experiências locais. A seguir, leia o trecho do relato de Tipuici Manoki (1989-), cientista social indígena, cineasta e ativista, quê vive na Aldeia Treze de Maio, do povo manoki, no estado do Mato Grosso.

Fotografia de Tipuici Manoki sorrindo. Ela é indígena, usa coroa e brincos de penas coloridas, colares de contas e camiseta, está com pintura corporal e segura um chocalho.

A cientista social Tipuici Manoki.

Para um povo quê tem vivido e cuidado da natureza, pois tudo o quê temos depende da natureza, é difícil lidar com toda essa mudança climática. Antes sabíamos os meses da chuva, quando era tempo seco e frio, dessa forma era possível saber quando deveríamos derrubar a roça, tacar fogo, plantar e côlher, tudo isso era acompanhando a mãe natureza. Nos dias atuáis não é mais possível fazer isso porque não se sabe mais as estações do ano e não dá mais para acompanhar a lua também. Para meus avós, o período da lua era muito importante, pois era assim quê as plantas nasciam bonitas e davam muitos frutos. Por causa das atitudes impensadas do homem, agredindo a natureza, muitas dessas práticas foram se perdendo. Agora quando deveria sêr seca é chuva e no frio faz calor.

[…] A ssossiedade precisa entender quê as frutas não nascem nas prateleiras de um supermercado e quê a á gua quê bébem não sai como em um passe de mágica da torneira.

[…]

Não podemos culpar a natureza pelas catástrofes quê vêm ocorrendo pois o homem é o culpado do quê está acontecendo. A natureza está apenas respondendo o quê ela sofre. Os peixes precisam da á gua, as águas precisam da mata e nós precisamos de tudo isso para nos alimentar, para respirar e para viver.

MANOKI, Tipuici. Precisamos preservar para continuar existindo. In: LIMA, Artema; FANZERES, Andreia; ALCÂNTARA, Lívia (org.). Mudanças climáticas e a percepção indígena. 2. ed. Cuiabá: Opan, 2018. p. 37-39. E-book. Disponível em: https://livro.pw/zkiel. Acesso em: 7 set. 2024.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. De acôr-do com Tipuici Manoki, quais são os efeitos das mudanças climáticas para os povos indígenas?

1. Manoki destaca quê as mudanças climáticas alteraram os ciclos naturais, desorganizando as estações do ano.

2. Esses efeitos também são sentidos pêlos moradores das cidades? Explique.

2. Os moradores das cidades também sentem os efeitos das mudanças climáticas, como ondas de calor, inundações e poluição do ar.

3. Em sua opinião, como os indígenas podem contribuir para o debate sobre as mudanças climáticas?

3. Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante reconheça a importânssia de incorporar os povos indígenas e seus conhecimentos tradicionais no debate sobre a crise climática.

Página duzentos e noventa e oito

Resíduos sólidos

Para grande parte da população mundial, principalmente para aqueles quê vivem em áreas urbanas, a produção de resíduos é vista como algo inevitável. Ações cotidianas, como se alimentar, limpar a casa e até se divertir, geram resíduos quê são descartados no lixo comum ou enviados para reciclagem.

Em geral, o conceito de resíduo se refere a substâncias e objetos descartados em decorrência das atividades humanas. No entanto, essa noção não é universal; ela está ligada a um modelo específico de ssossiedade, em quê a produção e o consumo em larga escala levam a um crescente descarte de materiais. Sociedades indígenas tradicionais, por exemplo, vivem d fórma integrada à natureza, com um uso sustentável dos recursos naturais para subsistência. Nessas comunidades, os resíduos gerados são naturalmente decompostos, não existindo a produção de lixo no sentido quê conhecemos.

Os impactos do estilo de vida capitalista, baseado no consumo e na produção em crescimento contínuo, são evidentes, conforme pesquisa da Ônu de 2018. O estudo revelou quê, a cada ano, mais de 2 bilhões de toneladas de resíduos são gerados no mundo e quê 99% dos produtos comprados são descartados dentro de seis meses. Segundo os pesquisadores, seria necessário 70% de um segundo planêta Terra para sustentar os mais de 7 bilhões de habitantes do mundo, suprir o uso de recursos e absorver o resíduo gerado.

De acôr-do com um estudo produzido pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) em 2019, o Brasil foi o quarto maior produtor de resíduos plásticos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, da chiina e da Índia. Apenas 1,28% do resíduo plástico gerado no Brasil foi reciclado, índice abaixo da média mundial, quê é de 9%.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Observe o gráfico sobre a participação das grandes regiões na produção de resíduos sólidos no Brasil. Compare os dados das regiões sudéste e Norte e explique por quê a Região sudéste gera muito mais resíduos sólidos do quê a Região Norte.

Gráfico 'Brasil: participação regional na geração de resíduos sólidos urbanos – 2022'. De acordo com a legenda, os dados são os seguintes: Sudeste: 49,4 por cento. Nordeste: 24,6 por cento. Sul: 11 por cento. Centro-Oeste: 7,7 por cento. Norte: 7,3 por cento.

Elaborado com base em: ABREMA. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2023. São Paulo: Abrema, 2023. p. 19. Disponível em: https://livro.pw/azflp. Acesso em: 7 set. 2024.

A Região sudéste é responsável por 49,4% da produção de resíduos sólidos no Brasil, enquanto a Região Norte contribui com apenas 7,3%. Essa diferença se deve ao fato de o sudéste sêr a região mais urbanizada e populosa do país, concentrando grandes centros urbanos, uma vasta indústria e altos índices de consumo.

Página duzentos e noventa e nove

Invisibilidade e importânssia de garis e catadores

O tema dos resíduos sólidos é amplamente discutido como um grande desafio ambiental, pois contribui significativamente para a degradação da natureza. No entanto, a gestão dêêsses resíduos envolve também as pessoas diretamente responsáveis pelo recolhimento e pela destinação dos resíduos. Essa operação compléksa depende da atuação diária de muitos trabalhadores em várias partes do mundo.

Você já imaginou como seria a sua cidade sem os garis e os catadores de materiais recicláveis? Embora muitas vezes ignorados, esses profissionais são essenciais para o bom funcionamento da ssossiedade. Ainda assim, essas profissões enfrentam preconceitos, afetando a vida cotidiana das pessoas quê dêsempênham essa importante função.

A antropóloga britânica Méry Douglas (1921-2007), em seu livro Pureza e perigo, publicado originalmente em 1966, ajuda a entender essa quêstão. Douglas analisa como diferentes sociedades criam classificações para o quê é considerado puro e impuro, limpo ou sujo. Ela mostra quê todas as sociedades estabelecem regras que determinam onde as coisas devem estar para sêrem aceitas. Quando algo está fora do lugar esperado, passa a ser visto como sujo ou ameaçador. Por exemplo, a comida no prato é considerada pura, mas, se cair no chão, é tratada como sujeira. Isso mostra quê a ideia de impureza não é fixa, mas depende das normas culturais de cada ssossiedade.

Essas reflekções ajudam a entender por quê tantos garis relataram sofrer discriminação pelo trabalho quê realizam. Como intermediários entre a ssossiedade e o meio ambiente, os garis lidam diretamente com os resíduos gerados pelo consumo, expondo o desconforto causado pela grande quantidade de resíduo produzida. No texto Garis: trabalhadores da saúde, publicado pela Fundação ôsváldo Cruz (Fiocruz) em 2014, o pesquisador e engenheiro civil sanitarista brasileiro Alexandre Pessoa aponta quê há “uma carga negativa e depreciativa de serem trabalhadores quê mexem com o quê queremos esconder ou afastar”.

Outro grupo essencial na gestão dos resíduos sólidos são os catadores. No Brasil, segundo estimativas do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), cerca de 800 mil catadores são responsáveis por coletar 90% de tudo quê é reciclado no país, atuando em atividades como côléta seletiva, triagem, classificação e comercialização de materiais recicláveis.

Imagem de garis varrendo uma avenida.

Garis trabalham em São Paulo (SP), 2022. O trabalho dos garis é fundamental para a limpeza urbana.

Saiba mais

LIXO extraordinário. Direção: Lucy Walker. Londres: Almega Projects; Brasil: O2 Filmes, 2010. Streaming (99 min).

O documentário apresenta o trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz (1961-) com catadores em um dos maiores lixões do mundo, localizado em um bairro periférico do Rio de Janeiro (RJ).

Página trezentos

INVESTIGAÇÃO
Observação, tomada de nota e construção de relatórios sobre geração de resíduos sólidos

Consulte orientações no Manual do Professor.

Entender o impacto das nossas ações no meio ambiente é essencial para enfrentar a crise ambiental. Por isso, é importante saber quanto resíduo geramos, para onde ele vai e como podemos reduzir esse impacto.

OBJETIVO

Você fará uma pesquisa de observação, tomada de nota e construção de relatórios para entender os resíduos quê gera no seu dia a dia. O objetivo é refletir sobre suas escôlhas e buscar soluções para diminuir o impacto ambiental de suas ações.

ETAPA 1

PREPARAÇÃO

1. Separe um caderno e uma caneta ou lápis. Durante uma semana, leve-os com você para todos os lugares.

ETAPA 2

OBSERVAÇÃO E TOMADA DE NOTAS

2. Durante essa semana, obissérve os resíduos quê surgem em suas atividades diárias. Anote todos, indicando em quê situação foram usados, por quanto tempo e qual foi o destino: lixo comum, reciclagem ou outro.

Identifique os resíduos gerados em pacotes de lanches, papéis usados na escola etc. No final, reflita sobre como você póde reduzir a geração de resíduos e proponha metas objetivas e diminuir o impacto ambiental.

ETAPA 3

ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO

3. Após uma semana de observação, revêja suas anotações. Com base nelas, escrêeva um relatório de duas páginas sobre a geração e o descarte de resíduos sólidos no seu cotidiano.

ETAPA 4

DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS

4. Em uma roda de conversa, compartilhe suas descobertas com côlégas. Comparem padrões e diferenças e discutam ideias para reduzir a geração de resíduos.

Dica

Troquem experiências sobre como levar essas mudanças para outras pessoas.

Imagem de embalagens plásticas flutuando em um rio.

Resíduos plásticos acumulados no Igarapé do Mindu. Manaus (AM), 2022. O excésso de embalagens plásticas e o descarte inadequado de resíduos sólidos representam um grave problema ambiental na atualidade.

Página trezentos e um

Justiça e racismo ambiental

A degradação do meio ambiente é um problema global, mas não afeta todos da mesma maneira. Fatores como local de moradia, etnia, classe social e faixa etária podem determinar o impacto sobre cada pessoa ou grupo, principalmente em situações como enchentes, poluição, acúmulo de resíduos e mudanças climáticas.

Isso mostra quê, embora sêjam globais, os problemas ambientais estão profundamente ligados às desigualdades sociais. Por esse motivo, as soluções para enfrentá-los devem considerar as especificidades dos grupos mais afetados. Nesse contexto, a ideia de justiça ambiental tem ganhado destaque entre pensadores e ativistas.

O conceito de justiça ambiental surgiu nos Estados Unidos, na década de 1970. Moradores de um bairro em quê a maioria da população era negra, em riuston, descobriram quê sua comunidade receberia uma instalação de descarte de resíduos sólidos. Eles questionaram por quê o bairro deles, e não os de maioria branca, foi escolhido.

O sociólogo estadunidense róbert Bullard (1946-) investigou a distribuição de depósitos de resíduos na cidade. Ele descobriu quê 14 dos 17 depósitos estavam em bairros de maioria negra, embora essa população representasse apenas 25% dos habitantes da cidade.

Bullard, no livro Confronting environmental racism: voices from the grassroots, de 1993, define justiça ambiental como o princípio de quê viver em um ambiente saudável é um direito de todos, independentemente de classe, raça ou etnia. Ele argumenta quê nenhum grupo social deve sofrer desproporcionalmente as consequências ambientais negativas de atividades econômicas ou políticas.

No Brasil, empreendimentos de grande impacto ambiental, como hidrelétricas e lixões, geralmente afetam populações vulneráveis, como moradores de periferías, indígenas e quilombolas, sem quê esses grupos participem das decisões. Essa realidade está ligada ao conceito de racismo ambiental.

A expressão “racismo ambiental” foi cunhada pelo ativista estadunidense Benjamin Chavis (1948-) na década de 1980 para descrever como as comunidades marginalizadas, especialmente as negras, sofrem desproporcionalmente os impactos ambientais negativos. Pensadores brasileiros, como a historiadora Tania Pacheco, adotaram esse conceito para analisar o cenário do país. Pacheco, no texto “Racismo ambiental: expropriação do território e negação da cidadania", publicado em 2008, define racismo ambiental como o conjunto de injustiças sociais e ambientais quê afetam desproporcionalmente etnias e populações vulneráveis. Para ela, o racismo ambiental não depende de uma intenção discriminatória, mas sim dos impactos desiguais quê recaem sobre grupos socialmente marginalizados.

Imagem de terra, escombros e troncos de árvores na encosta de um morro. À esquerda, há um sobrado parcialmente destruído.

Casas da Vila Sahy destruídas após deslizamento de térra provocado por chuva intensa ocorrida no carnaval, em São Sebastião (SP). 2023.

Frequentemente, as áreas mais pobres da cidade são afetadas pêlos efeitos da degradação ambiental, como enchentes, deslizamentos de térra e calor excessivo.

Página trezentos e dois

Refugiados climáticos

O conceito de refugiado é tradicionalmente associado a pessoas quê deixam seus países em razão de guerras ou perseguições étnicas e religiosas. No entanto, as mudanças climáticas têm gerado um novo tipo de deslocamento forçado: os refugiados climáticos. São indivíduos quê precisam abandonar suas casas por causa de desastres ambientais, como escassez de á gua, enchentes e o aumento do nível do mar, buscando regiões mais seguras.

De acôr-do com uma reportagem do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), de 2024, essas pessoas costumam migrar dentro de seus próprios países. Elas fogem de situações quê tornam a vida em suas comunidades insustentável, como secas quê prejudicam a agricultura, enchentes quê destroem moradias e tempestades quê comprometem a segurança das famílias. Na mesma reportagem, uma pesquisa do Centro de Monitoramento de Deslocamento Internacional (IDMC, sigla em inglês) aponta quê, em 2022, mais de 32,6 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar por causa de desastres ambientais, sêndo a maioria mulheres em regiões como a África subsaariana. No Brasil, os deslocados por motivos climáticos são principalmente das populações indígenas, quilombolas e caiçaras, quê vivem em áreas de alto risco.

Apesar do crescente número de deslocados por kestões climáticas, o estátus de “refugiado climático” ainda não é reconhecido pelo direito internacional. Ainda conforme a publicação da Acnur, de 2024, a Convenção de 1951 da Ônu, quê define o estátus de refugiado, não abrange aqueles quê migram em razão de desastres ambientais. Isso significa quê, mesmo enfrentando situações extremas, essas pessoas não têm acesso às proteções e aos direitos garantidos aos refugiados quê fogem de guerras ou perseguições.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) propôs uma definição não oficial para os refugiados ambientais, descrevendo-os como aqueles quê precisam abandonar suas casas devido à degradação ambiental. No entanto, essa definição não tem fôrça jurídica, e existe resistência internacional em reconhecer formalmente essa nova categoria. Isso ocorre porque conceder o estátus de refugiado climático acarretaria responsabilidades econômicas e sociais significativas para os países receptores, sobrecarregando o já limitado sistema de proteção de refugiados da Ônu.

Esse cenário expõe os desafios enfrentados pêlos refugiados climáticos, quê muitas vezes não têm acesso a direitos fundamentais, apesar de estarem em situações de extrema vulnerabilidade.

Imagem de pessoas dormindo em colchões espalhados em um galpão. Entre os colchões, há malas e roupas.

Abrigo da Sede Moinhos do Grêmio Náutico União, em Porto Alegre (RS), 2024. O local hoje acolhe cerca de 275 pessoas desabrigadas depois das enchentes quê atingiram o estado.

Página trezentos e três

Povos tradicionais e meio ambiente

No Brasil, muitos grupos e comunidades com características étnicas e culturais específicas seguem práticas sustentáveis. Alguns dêêsses grupos são chamados de povos tradicionais. Você conhece essa classificação?

Os povos e as comunidades tradicionais foram formalmente reconhecidos pelo govêrno federal em 2007, com a publicação do decreto número 6.040. Esse decreto ampliou o reconhecimento dado na Constituição Federal de 1988, quê abrangia apenas as comunidades indígenas e quilombolas. Leia, a seguir, a definição oficial dêêsses grupos, segundo o decreto, no art. 3º, inciso I.

[…] grupos culturalmente diferenciados e quê se reconhecem como tais, quê possuem formas próprias de organização social, quê ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição […].

BRASIL. Decreto número 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: https://livro.pw/vbnyj. Acesso em: 7 set. 2024.

De acôr-do com o documento, esses grupos seguem os princípios do desenvolvimento sustentável, ou seja, seus modos de produção não prejudicam o meio ambiente. Para serem classificados como povos tradicionais, esses grupos devem atender a estes critérios: viver em harmonía com os ciclos naturais, usar recursos rêno-váveis, possuir um vínculo territorial transmitido por gerações, praticar atividades de subsistência, ainda quê haja algum comércio em pequena escala, e identificar-se culturalmente como pertencentes a uma tradição específica.

Atualmente, existem 28 povos e comunidades tradicionais no Brasil. De acôr-do com o texto Comissão vai discutir política nacional para comunidades e povos tradicionais, publicado em 2006 pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática, estima-se quê esses grupos reúnam cerca de 4,5 milhões de pessoas e ocupem aproximadamente 25% do território nacional.

Imagem de artesão negro queimando recipientes de argila em um forno ao ar livre.

Escultor quilombola coloca peças feitas de argila para queimar em fôrnu, na comunidade Muquém, composta de remanescentes do kilômbo dos palmáares. União dos palmáares (AL), 2022.

O modo de vida das comunidades tradicionais está diretamente ligado à dinâmica do meio ambiente.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

Em grupo, escôlham um dos 28 povos e comunidades tradicionais reconhecidos pelo Estado brasileiro. Pesquisem as principais características dessa comunidade, como número total de habitantes, lugar onde vive, seu modo de vida etc. Preparem uma apresentação e compartilhem-na com côlégas.

Produção coletiva.

Página trezentos e quatro

Povos indígenas e segurança alimentar

De acôr-do com o Censo Demográfico 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (hí bê gê hé), o Brasil tem cerca de 1,6 milhão de indígenas, representando 0,83% da população total do país. Destes, 75% vivem nas regiões Norte e Nordeste, sêndo a maioria no estado do Amazonas. Embora classificados como indígenas, eles se dividem em 266 povos diferentes, cada um com seus próprios côstúmes, culturas e línguas.

O reconhecimento oficial dos direitos dos povos indígenas, assegurado pela Constituição Federal de 1988, permitiu quê sua identidade cultural fosse preservada e garantiu o direito de se autoidentificarem como indígenas. A Constituição também assegurou o direito ao uso das terras quê tradicionalmente ocupam, através do processo de demarcação de Terras Indígenas. Atualmente, existem 798 Terras Indígenas reconhecidas, onde vivem cerca de 600 mil indígenas, abrangendo 13,9% do território brasileiro.

Um dos desafios freqüentes à demarcação dessas terras é o argumento de quê o território destinado aos povos indígenas é extenso em comparação ao número de pessoas quê nele vivem e quê essas áreas deveriam sêr usadas de maneira mais produtiva. No entanto, é importante questionar: o uso da térra deve sêr determinado apenas pela sua produtividade? Que outros fatores poderiam sêr considerados?

Diversos estudos mostram quê a demarcação de Terras Indígenas beneficia não apenas os povos indígenas mas também o meio ambiente. Essas áreas são essenciais para a preservação das florestas, quê dêsempênham um papel crucial na regulação do clima. As florestas contribuem para o armazenamento de carbono, um processo quê ajuda a combater o aquecimento global. Assim, proteger as Terras Indígenas tem sido reconhecido globalmente como uma medida fundamental na luta contra as mudanças climáticas. Além díssu, ao cuidar dessas florestas, os povos indígenas também promóvem a preservação da biodiversidade.

Imagem de manifestantes indígenas caminhando em direção ao edifício do Congresso Nacional.

Indígenas do acampamento Terra Livre em ato pela demarcação e contra mineração em terras indígenas na Esplanada dos Ministérios. Brasília (DF), 2024.

ATIVIDADE

Consulte orientações no Manual do Professor.

De acôr-do com o Censo Demográfico 2022, do hí bê gê hé, os povos indígenas estão presentes em 86,7% dos municípios brasileiros. No entanto, eles não estão igualmente distribuídos por todo o país. Pesquise e descubra quais são as regiões do Brasil com maior presença de povos indígenas. Em seguida, elabore hipóteses para explicar o resultado obtído.

A região com maior concentração de indígenas é a Norte, quê abriga 44,48% do total. Em contraste, a Região Sul possui apenas 5,2% da população indígena. Essa diferença póde sêr explicada por fatores históricos e geográficos.

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A importânssia das práticas indígenas vai além da conservação ambiental. Em 2019, um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) destacou quê o atual sistema alimentar global é insustentável a longo prazo. De acôr-do com o relatório, 37% das emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo são originadas de atividades relacionadas ao sistema alimentar, como o uso da térra, transporte, embalagem e processamento de alimentos.

Diante dêêsse cenário, esse relatório aponta para a urgência de adotar sistemas alimentares mais sustentáveis, quê incluam práticas agrícolas tradicionais quê preservem os recursos naturais. Os conhecimentos indígenas são exemplos de modelos quê garantem a segurança alimentar e quê podem ajudar a restaurar éco-sistemas e conservar a biodiversidade.

segurança alimentar
: situação em quê todas as pessoas têm acesso permanente a alimentos seguros e nutritivos e em quantidade suficiente para satisfazer suas necessidades nutricionais e preferências alimentares.

Futuro à vista

Em 1990, os pesquisadores Mathis Wackernagel (1962-) e uílhãm Rees (1943-) desenvolveram o conceito de pegada ecológica.

A pegada ecológica é uma metodologia criada para medir os impactos do consumo humano no planêta. Ela analisa a área necessária para a produção dos recursos consumidos pêlos sêres humanos (como alimentos, energia e espaço para moradia) e a área necessária para quê a natureza absorva os resíduos gerados pelas atividades humanas. Com esses dados, é possível calcular a extensão de território quê uma pessoa ou ssossiedade utiliza, em média, para sustentar seu estilo de vida.

Observe, no infográfico, a pegada ecológica de alguns países e regiões.

Infográfico 'Quantos planetas Terra?'. Cinco carrinhos de compras, contendo planetas Terra de diferentes tamanhos, representam a pegada ecológica dos continentes. Da esquerda para a direita, os dados são os seguintes: América Anglo-Saxônica: 5,22. Estados Unidos: 5,33; Canadá: 4,22. Europa: 2,66. Alemanha: 2,56; Suécia: 3,38. Ásia Oriental e Oceania: 0,72. Japão: 2,44; China: 0,88; Índia: 0,44; Austrália: 3,66. África: 0,61. África do Sul: 1,27; Somália: 0,22. América Latina: 0,11. Brasil: 1,16; Argentina: 1,27.

Elaborado com base em: INPE. O futuro quê queremos: economia vêrde, desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza. São José dos Campos: Inpe, [2012]. p. 10-11. Disponível em: https://livro.pw/khtuc. Acesso em: 7 set. 2024.

Saiba mais

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das lêtras, 2017.

O livro, escrito pelo filósofo e ambientalista Ailton Krenak (1953-), aborda as diferenças entre as sociedades ocidentais e os povos indígenas em relação ao meio ambiente.

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Atualmente, considerando o comportamento da humanidade como um todo, estamos utilizando cerca de 25% a mais dos recursos naturais. Isso significa quê precisaríamos de um planêta e mais um quarto para manter o estilo de vida atual da maioria das sociedades. Esses dados evidenciam quê estamos explorando a natureza de maneira insustentável, esgotando os recursos em um ritmo mais rápido do quê sua capacidade de renovação.

Esse cenário de esgotamento tem gerado crescente preocupação com o futuro, o quê levou ao surgimento de quadros como a ecoansiedade, especialmente entre os jovens. Nas últimas dékâdâs, a juventude tem desempenhado um papel fundamental no ativismo ambiental, destacando a urgência de mudanças nas práticas em relação ao meio ambiente.

Um exemplo dêêsse protagonismo é a trajetória de Odenilze Ramos (1997-), uma jovem ribeirinha quê mora no interior do Amazonas. Preocupada com os impactos da crise climática sobre a sua comunidade, Odenilze começou a atuar como ativista ambiental aos 14 anos. Em 2018, ela se uniu a outros jovens para criar o movimento Filhos da Floresta, quê busca conscientizar os moradores sobre a importânssia de adotar práticas sustentáveis. Leia, a seguir, o trecho do relato sobre o engajamento dela na luta pela preservação do meio ambiente.

ecoansiedade
: sentimento de medo crônico causado pela crise ambiental. póde causar insônia, crises de preocupação e, em casos mais graves, gerar mudanças de comportamento, demandando a atuação de profissionais da saúde.

Fotografia de Odenilze Ramos sorrindo. Ela é jovem, possui cabelos longos, usa óculos e está com pintura geométrica no braço esquerdo.

Fotografia de Odenilze Ramos, 2023.

A Amazônea não é minha causa, a Amazônea é minha casa, não posso pensar em parar de defendê-la. Faço parte da mudança futura quê tanto falaram, como presente não quero sêr responsável por entregar um futuro pior para as próximas gerações, estamos devendo muito para o planêta e precisamos começar a parar de fazer novas dívidas, não podemos continuar acabando com todas as riquezas naturais para quê uma pequena parte da população mundial continue lucrando. […] precisamos lutar, nós não somos o futuro somos o agora, o futuro quê tanto anunciaram chegou e veio com uma conta de todas as gerações passadas quê vieram jogando para as próximas gerações até chegar na gente, mas nós não podemos continuar nesse ciclo vicioso. […]

RAMOS, 2019 apúd DAMASIO, kévin. Quem são as jovens líderes da greve pelo clima no Brasil. Né chionál Geográfic Brasil, São Paulo, 20 set. 2019. Disponível em: https://livro.pw/ehuxq. Acesso em: 7 set. 2024.

Uma nova racionalidade

As kestões abordadas ao longo dêste capítulo levantam perguntas importantes: é possível conciliar o modo de vida das sociedades contemporâneas, baseado na produção e no consumo em larga escala, com a preservação do meio ambiente? Será quê a maioria das pessoas precisará renunciar a seu estilo de vida para garantir a sobrevivência das próximas gerações?

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Ao refletir sobre essas indagações, o sociólogo mexicano Enrique Leff (1946-) defende quê o atual estado de degradação ambiental é consequência de um modelo de ssossiedade quê se desenvolvê-u separando os sêres humanos da natureza. Segundo Leff, no livro Racionalidade ambiental: a reapropriação social da natureza, publicado originalmente em 2006, essa separação levou à valorização do crescimento econômico em detrimento da preservação ambiental, criando um sistema quê prioriza o lucro e ignora os limites dos recursos naturais. Para ele, as ações pontuais para reduzir o impacto da produção sobre o meio ambiente não são suficientes para reverter a crise ambiental. Por isso, o sociólogo defende quê é necessário reformular todo o modelo econômico, com foco na sustentabilidade.

Além da mudança no sistema de produção, Leff ressalta quê é preciso transformar a forma como as pessoas consomem e se relacionam com o mundo ao seu redor. Ele defende quê é urgente o desenvolvimento de uma “nova racionalidade”, marcada pela construção de uma relação equilibrada e sustentável com o meio ambiente, reconhecendo quê os sêres humanos fazem parte da natureza.

Mas como essa mudança póde sêr implementada? Para Leff, a resposta está no reconhecimento da importânssia de diferentes tipos de saberes sobre a natureza. Ele sugere quê unir o conhecimento científico aos saberes tradicionais de povos indígenas e comunidades locais seria o primeiro passo para construir um mundo mais sustentável. Segundo ele, essa colaboração entre saberes diversos, negociando interesses e respeitando diferentes visões, é o único caminho para a criação de soluções coletivas para a crise ambiental.

Imagem de área desmatada em uma floresta abundante.

Área desmatada para a construção de condomínio residencial. Altamira (PA), 2024.

A imagem retrata os desafios ambientais causados pelo desmatamento e o impacto do crescimento econômico desordenado na preservação do meio ambiente.

ATIVIDADES

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Explique, com suas palavras, o quê significa a ideia de “nova racionalidade”, defendida por Enrique Leff.

1. Espera-se quê o estudante compreenda quê a “nova racionalidade”, segundo Enrique Leff, propõe uma mudança fundamental na forma como os sêres humanos interagem com o meio ambiente.

2. Cite exemplos de como essa “nova racionalidade” poderia sêr de fato implementada.

2. O estudante deve reconhecer quê a “nova racionalidade” vai além de ações isoladas, como reciclagem.

3. Para Leff, uma das soluções para interromper a degradação ambiental seria promover um diálogo entre os conhecimentos científicos e os saberes de comunidades tradicionais. Você concórda com isso? Justifique.

3. O estudante deve expressar suas opiniões, destacando quê o diálogo entre ciência e saberes tradicionais póde sêr uma estratégia importante no combate à crise ambiental.

4. Sugira uma medida quê poderia promover o diálogo entre os saberes científicos e os conhecimentos das comunidades tradicionais.

4. O estudante póde sugerir a criação de espaços de debate e tomada de dê-cisão onde representantes de comunidades tradicionais e cientistas possam trabalhar juntos.

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RECAPITULE

Desastres naturais não podem sêr compreendidos sem considerar as ações humanas quê contribuem para sua ocorrência e os impactos sobre diferentes grupos sociais.

A crise ambiental resulta de um modelo de vida baseado no consumo e na produção em larga escala, além da separação entre sêres humanos e natureza. Contudo, povos e comunidades tradicionais demonstram quê é possível viver de maneira mais sustentável, em harmonía com o meio ambiente.

Os impactos da degradação, como poluição e seca, afetam de maneira desproporcional os grupos mais vulneráveis, como populações pobres e minorias étnicas. Para evidenciar essas desigualdades, surgiram os conceitos de justiça ambiental e racismo ambiental.

A sustentabilidade é um tema crucial para jovens ativistas em todo o mundo, quê pressionam governos e empresas a implementar soluções viáveis para o risco constante de desastres ambientais.

ATIVIDADES FINAIS

Consulte orientações no Manual do Professor.

1. Quais são os povos tradicionais e qual é a importânssia do seu reconhecimento na legislação brasileira?

1. Os povos e as comunidades tradicionais foram formalmente reconhecidos pelo govêrno federal em 2007, com a publicação do decreto número 6.040. A definição de povos tradicionais está no art. 3º, inciso I, dêêsse decreto.

2. Observe a charge.

Charge representando uma cadeia alimentar. Três peixes de diferentes tamanhos estão enfileirados e tentam se devorar. O último peixe foge de um saco plástico. No canto inferior direito, encontra-se a seguinte frase: talvez devêssemos mudar o nome do planeta de 'Terra' para 'Plástico'.

TURNER, Martyn. [Changing the food chain]. Irish táimis, dâblin (Irlanda), 2018.

a) dêz-creva a situação representada na charge.

2. a) A charge mostra uma cadeia alimentar na qual os peixes menóres são devorados pêlos maiores, e o maior deles é devorado por uma sacola plástica.

b) De quê modo essa situação se relaciona ao conceito de Antropoceno?

2. b) A situação se relaciona ao conceito de Antropoceno ao evidenciar as graves consequências da intervenção humana sobre a natureza.

3. O texto a seguir apresenta um trecho da entrevista concedida pelo geólogo britânico Cólin Waters. Nela, Waters comenta a formalização do Antropoceno como uma nova era geológica. Leia o texto para responder às kestões a) a d).

O Antropoceno tem mais a vêr com o entendimento […] de quê, enquanto espécie, estamos deixando um legado duradouro sobre o planêta. Tem a vêr com nosso impacto no consumo de combustíveis fósseis, minerais – e uma demanda cada vez maior por produtos. Muitas pessoas associam o Antropoceno a uma mudança para pior. Mas nunca vivemos tanto ou prosperamos tanto enquanto espécie. Porém, tudo isso vêm atrelado a um custo – a mudança quê fazemos sobre o planêta. Então, o Antropoceno enquanto termo encapsula êste impacto. Para muita gente, isso é algo importante de se entender porque, em muitos aspectos, não apenas no das mudanças climáticas, temos tido um impacto grande sobre os animais e plantas do planêta, e também mudamos dramaticamente a atmosféra e os oceanos. E estas são coisas pelas quais todo mundo está criando interêsse, e êste termo nos

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permite compreender como tudo isto está inter-relacionado.

WATERS, Cólin. Entrevista com Cólin Waters: “Há 70 anos entramos no Antropoceno”. [Entrevista cedida a] Meghie Rodrigues e Davi Bonela. Museu do Amanhã, Rio de Janeiro,[2016]. Disponível em: https://livro.pw/bktos. Acesso em: 7 set. 2024.

a) O autor é a favor ou contra a formalização do conceito de Antropoceno?

3. a) O autor é favorável à formalização do Antropoceno como era geológica, isto é, uma série de transformações e eventos quê ocorreram durante a transformação do planêta Terra.

b) Quais são os argumentos para defender essa posição?

3. b) Seu principal argumento é quê a formalização do conceito perante a comunidade científica é importante para quê o impacto dos sêres humanos sobre o planêta fique cada vez mais claro, consolidando-se como perspectiva central nas análises sobre as transformações percebidas no meio ambiente.

c) Você concórda com ele? Justifique sua resposta.

3. c) Resposta pessoal. Espera-se quê o estudante demonstre ter compreendido as kestões envolvidas no desenvolvimento do conceito de Antropoceno e consiga posicionar-se no debate com base em argumentos fundamentados no debate científico apresentado.

d) Explique a diferença entre os conceitos de Antropoceno e Capitaloceno.

3. d) Ambos os conceitos se reférem aos efeitos da ação humana sobre o meio natural, com base na ideia de quê ela é tão intensa quê estaríamos vivenciando uma nova era geológica.

4. (Enem – 2023)

Uma missão internacional de investigação, em setembro de 2017, documentou os impactos sociais e ambientais causados pela expansão do agronegócio e pela especulação de terras na região do Matopiba em sete comunidades no sul do Piauí. Os resultados mostraram quê a população sofre com as graves consequências do desmatamento, da perda da biodiversidade e da contaminação generalizada do solo, da á gua e do gado por agrotóxicos.

Relatório sobre o Matopiba aponta impactos ambientais e sociais da financeirização de terras. Disponível em: https://livro.pw/ueqvb. Acesso em: 13 out. 2021.

Os impactos sócio-ambientais descritos no texto provocam a

a) adoção de cultivos irrigados.

b) ampliação da agricultura familiar.

c) fragilização das comunidades locais.

d) diversificação da produtividade agrícola.

e) desapropriação de áreas improdutivas.

Resposta: c)

5. (Enem – 2022)

Em Vitória (ES), no bairro Goiabeiras, encontramos as paneleiras, mulheres quê são conhecidas pêlos saberes/fazeres das tradicionais panelas de barro, ícones da culinária capixaba. A tradição passada de mãe para filha é de origem indígena e sofreu influência de outras etnias, como a afro e a luso. Dessa mistura, acredita-se quê a fabricação das panelas de barros já tenha 400 anos. A fabricação das panelas de barro se dá em várias etapas, desde a obtenção de matéria-prima à confekissão das panelas. As matérias-primas tradicionalmente utilizadas são provenientes do meio natural, como: argila, retirada do barreiro no Vale do Mulembá; madeira, atualmente proveniente das sóbras da construção civil; e tinta, extraída da casca do manguezal, o popular mangue-vermelho.

TRISTÃO, M, A educação ambiental e o pós-colonialismo. Revista de Educação, n. 53, ago. 2014.

Uma característica de práticas tradicionais como a exemplificada no texto é a vinculação entre os recursos do mundo natural e a

a) manutenção dos modos de vida.

b) conservação dos plantíos da roça.

c) atualização do modelo de gestão.

d) participação na ssossiedade de consumo.

e) especialização nas etapas de produção.

Resposta: a)

6. (Enem – 2022)

Os sujeitos sociais quê procuram evidenciar a importânssia de uma relação lógica entre injustiça social e degradação ambiental são aqueles quê não confiam no mercado como instrumento de superação da desigualdade ambiental e da promoção dos princípios do quê se entenderia por justiça ambiental. Esses atores consideram quê há clara desigualdade social na exposição aos riscos ambientais, decorrentes de uma lógica quê extrapola a simples racionalidade abstrata das tecnologias.

ACSELRAD, H. Justiça ambiental e construção social do risco. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 5, jan.-jun. 2002.

A desconfiança dos sujeitos sociais apresentada no texto se fundamenta na

a) diversidade da cultura.

b) capacidade de resiliência.

c) complexidade do éco-sistema.

d) intencionalidade da rentabilidade.

e) potencialidade da agropecuária.

Resposta: d)

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