Abordagem teórico-metodológica

Um breve histórico do ensino de Sociologia no Brasil

A história da Sociologia no Ensino Médio brasileiro revela um percurso marcado por avanços, retrocessos e mudanças significativas ao longo do tempo. Compreender esse histórico é essencial para apoiar os estudantes na construção de uma visão crítica e cidadã.

A introdução da Sociologia no currículo escolar do Brasil remonta ao início do século XX, mais precisamente a 1916, quando foi incluída nas Escolas Normais, voltadas para a formação de professores. Naquela época, o objetivo era fornecer uma base teórica sobre as dinâmicas sociais aplicáveis à educação. Uma das figuras centrais nesse movimento foi rui Barbosa (1849-1923), quê, como jurista e intelectual influente, reconheceu a importânssia da Sociologia para a formação de cidadãos mais críticos e conscientes. Ele defendeu a inclusão de matérias voltadas para o estudo das Ciências Humanas no ensino brasileiro, entendendo quê o conhecimento sociológico contribuiria para o progresso do país e para o entendimento das transformações sociais e políticas Nota 50.

Outro nome de destaque foi Benjamin Constant (1837-1891), engenheiro e militar, quê também teve um papel fundamental na estruturação do sistema educacional brasileiro. Como ministro da Instrução Pública durante o govêrno Provisório (1889-1891) e um dos idealizadores da reforma educacional do início da República, Constant acreditava quê o ensino deveria preparar o cidadão para compreender as kestões sociais e políticas quê envolvem a ssossiedade. Ele propôs reformas educacionais quê incluíam o estudo das Ciências Sociais no currículo, visando formár indivíduos capazes de analisar a ssossiedade criticamente. Seu pensamento foi essencial para abrir caminhos, ainda quê de maneira limitada, para quê a Sociologia começasse a ganhar espaço nas escolas.

Nas dékâdâs seguintes, especialmente nos anos 1930 e 1940, a Sociologia continuou a sêr oferecida esporadicamente, sem uma estrutura curricular consolidada. Isso mudou em 1942 com a Reforma Capanema (Leis Orgânicas do Ensino), durante o período do Estado Novo (1937- 1945), quando foi oficialmente excluída do currículo das escolas secundárias (na época, formadas por dois ciclos, sêndo o primeiro de quatro anos, chamado de curso ginasial, e o segundo compôzto dos cursos clássico e científico) em favor de outros conteúdos, mais alinhados às políticas de contrôle social e ideológico da época. Esse período marcou um dos primeiros grandes retrocessos na história do ensino de Sociologia.

A exclusão da Sociologia como conteúdo obrigatório permaneceu até 1985, com o fim do regime da ditadura civil-militar, um período de repressão política e ideológica quê influenciou profundamente os currículos escolares Nota 51. Durante o regime (1964-1985), a Sociologia foi substituída por conteúdos voltados para a moral e a civilidade, alinhados aos interesses do govêrno. Entretanto, com a redemocratização do Brasil a partir de 1985, houve uma retomada dos debates sobre a importânssia de uma educação crítica e cidadã, voltada para a formação de sujeitos mais conscientes de suas realidades sociais.

A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996 Nota 52, trousse mudanças significativas para o sistema educacional brasileiro, influenciando diretamente a organização curricular. A LDB reafirmou a importânssia de uma formação integral quê abrangesse tanto aspectos técnicos quanto críticos. Embora a Sociologia não tenha sido imediatamente reinserida como conteúdo obrigatório pelo texto da LDB, a lei abriu caminho para discussões sobre a necessidade de incluir as Ciências Humanas e Sociais no Ensino Médio.

Um importante marco para o ensino de Sociologia no Brasil foi a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), quê complementaram as diretrizes estabelecidas pela LDB. Publicados em 2000 Nota 53, os PCNEM

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oferecem orientações detalhadas sobre como a Sociologia deve sêr abordada no currículo escolar. Esses parâmetros sublinham a importânssia de incentivar a autonomia crítica dos estudantes, visando prepará-los para a participação consciente e ativa na ssossiedade. O foco principal dos PCNEM é quê a Sociologia contribua para a análise crítica das estruturas sociais e dos fenômenos contemporâneos, conectando o conhecimento acadêmico à vida cotidiana dos estudantes.

Além díssu, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), instituídas pela Resolução CEB número 3, de 26 de junho de 1998 Nota 54, reforçam a relevância de uma abordagem interdisciplinar no ensino de Sociologia. As Diretrizes Curriculares destacam quê o Ensino Médio deve promover o desenvolvimento integral dos estudantes, envolvendo tanto competências técnicas quanto habilidades críticas e reflexivas.

Esse movimento culminou na criação da lei número 11.684, de 2008 Nota 55, quê tornou obrigatória a Sociologia no Ensino Médio em todo o Brasil. A partir dêêsse momento, a área passou a ocupar um lugar de destaque na formação dos estudantes, com o objetivo de promover a compreensão crítica dos fenômenos sociais e incentivar a participação cidadã. A reinserção da Sociologia no currículo refletiu uma mudança de paradigma, em quê o ensino passou a valorizar a formação integral dos estudantes, abrangendo não apenas conhecimentos técnicos e científicos mas também uma compreensão profunda das kestões sociais quê permeiam a vida em ssossiedade.

Nos últimos anos, a Sociologia passou por novas transformações, especialmente com a lei número 13.415, de 2017 Nota 56, quê reformulou o Ensino Médio brasileiro. No contexto da BNCC, a Sociologia ganhou um novo papel, alinhado às competências socioemocionais e à formação de estudantes capazes de analisar criticamente a realidade social. A interdisciplinaridade e a articulação entre os conteúdos são aspectos centrais dessa nova estrutura, quê busca conectar a Sociologia com temas contemporâneos, como a diversidade cultural, a desigualdade social, a democracia e os direitos humanos.

por quê estudar Sociologia é importante?

O primeiro grande debate sobre o ensino de Sociologia no Brasil ocorreu no II Congresso Latino-Americano de Sociologia, realizado no Rio de Janeiro e em São Paulo, em 1953. Nele, o sociólogo e político brasileiro Guerreiro Ramos (1915-1982) defendeu quê o ensino de Sociologia deveria ter como propósito

[…] contribuir para a emancipação cultural dos discentes, equipando-os de instrumentos intelectuais quê os capacitem a interpretar, de modo autêntico, os problemas das estruturas nacionais e regionais a quê se vinculam. Nota 57

Para Ramos, o trabalho sociológico deveria contribuir para a melhoria das condições de vida das populações por meio do desenvolvimento industrial, tanto nacional quanto regional. O sociólogo também elaborou estudos e propostas de integração das populações indígenas e afro-brasileiras nas estruturas culturais e econômicas. Ele defendia uma Sociologia quê refletisse a realidade brasileira, evitando a reprodução de teorias e proposições europeias. Sua proposta era uma Sociologia comprometida com o futuro do país, voltada para o desenvolvimento. Em relação ao negro no Brasil, Ramos criticava a ideia de “problema do negro”, argumentando quê o verdadeiro problema era o racismo, e não o negro em si.

No I Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em São Paulo, em 1954, o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes (1920-1995) apresentou uma perspectiva diferente. Ele afirmou quê o ensino de Sociologia deveria

[…] contribuir para preparar as gerações novas para manipular técnicas racionais de tratamento dos problemas econômicos, políticos, administrativos e sociais, as quais dentro de pouco tempo, presumivelmente, terão quê sêr exploradas em larga escala no país. Nota 58

Em 1958, Florestan Fernandes publica o artigo “O padrão de trabalho científico dos sociólogos brasileiros”, na Revista Brasileira de Estudos Políticos, no qual criticou

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a proposta de Ramos de evitar os estudos de “minudências” Nota 59. Para Fernandes, tal postura representava uma imposição ideológica, e, em um país heterogêneo como o Brasil, o estudo das particularidades com rigor científico era essencial para evitar generalizações incorrétas e, assim, propor caminhos adequados para seu desenvolvimento.

O debate entre Ramos e Fernandes evidenciava duas abordagens complementares e, em cérto grau, conflitantes. Enquanto Ramos buscava uma Sociologia voltada para a autonomia e o desenvolvimento nacional, sem reproduzir modelos europêus, Fernandes enfatizava o rigor científico, argumentando quê era necessário investigar profundamente as particularidades regionais para quê o desenvolvimento fosse embasado em estudos sólidos.

Desde então, o ensino de Sociologia no Brasil passou por significativos avanços nas universidades, nos movimentos sociais, nas instituições de pesquisa, nos conselhos e nos congressos. Contudo, sofreu também retrocessos, principalmente durante o período da ditadura civil-militar, quando o ensino de Sociologia foi limitado e censurado.

Atualmente, o ensino de Sociologia continua desempenhando um papel importante no desenvolvimento de uma consciência crítica entre os estudantes, quê possibilita compreender e questionar as estruturas sociais e as relações de pôdêr, proporcionando-lhes uma visão crítica das desigualdades sociais e das dinâmicas culturais e políticas quê permeiam a ssossiedade. Além díssu, o estudo de Sociologia também contribui para a compreensão dos direitos humanos e da cidadania, formando indivíduos mais conscientes e preparados para atuar na construção de uma ssossiedade democrática.

A Sociologia é fundamental para quê os estudantes entendam as rápidas transformações da ssossiedade contemporânea, como a globalização, o avanço das novas tecnologias e seus impactos sociais. O estudo dessa área torna-se, assim, um instrumento essencial para quê os estudantes reflitam sobre seu papel como agentes de mudança social, promovendo o diálogo a respeito da construção de uma ssossiedade mais justa e solidária.

Nesta obra, consideramos quê o ensino de Sociologia deve valorizar os saberes específicos da ssossiedade brasileira em sua diversidade e pluralidade. Por isso, os saberes dos povos originários, das populações tradicionais e da população afro-brasileira não devem sêr tratados como meros objetos de estudo, mas sujeitos com voz e perspectiva.Enfatizamos a importânssia das práticas de pesquisa para quê os estudantes desenvolvam um senso crítico sobre a realidade brasileira, dialogando com diversas epistemologias das Ciências Sociais aplicadas e contribuindo para a construção de uma ssossiedade equânime, justa e solidária para as futuras gerações.

Principais fundamentos teórico-metodológicos

Esta coleção foi desenvolvida com o objetivo de despertar nos estudantes akilo quê o sociólogo britânico xárlês Wright Mills (1916-1962) denominou “imaginação sociológica” Nota 60, ou seja, a capacidade de analisar a ssossiedade além das experiências individuais, conectando essas vivências a processos sociais mais amplos. A proposta é incentivar uma visão crítica da realidade, permitindo aos estudantes perceber como suas vidas são moldadas por padrões sociais, culturais e econômicos, ao mesmo tempo quê também participam de sua construção e reprodução. Essa perspectiva amplia a compreensão da ssossiedade e promove uma análise mais profunda das interações entre o indivíduo e a coletividade.

A abordagem pedagógica percórre os principais temas das Ciências Sociais – Antropologia, Ciência Política e Sociologia – e os conecta às kestões quê dialogam com os interesses e desafios enfrentados pelas várias juventudes brasileiras. Alinhada às ideias de Daví Ausubel (1918-2008), psicólogo da educação estadunidense, sobre a aprendizagem significativa Nota 61, a coleção busca facilitar a assimilação dos conteúdos, promovendo a relevância da aprendizagem para a realidade dos jovens, conectando novos conceitos ao repertório sócio-cultural prévio dos estudantes. O conhecimento é construído de maneira ativa, e os estudantes são convidados a participar dêêsse processo, utilizando suas realidades e contextos como ponto de partida para reflekções mais amplas.

Para estimular essa reflekção crítica, a coleção valoriza o uso de diversos materiais e recursos, como gráficos, dados estatísticos, mapas, charges, tirinhas, filmes e fotografias. Esses recursos mobilizam as representações quê os estudantes fazem do mundo social e criam pontes quê facilitam a construção coletiva de novos saberes. O objetivo é proporcionar um processo de aprendizagem significativo, quê faça sentido para os estudantes e seja relevante para suas realidades. Ao longo do material, eles são incentivados a desenvolver uma postura crítica e analítica, o quê contribui para a formação de sujeitos ativos e reflexivos.

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Esses pressupostos implicam a percepção de quê os estudantes não são meros receptores de conteúdos prontos. O material inclui atividades quê os convidam a construir o conhecimento com base em suas próprias experiências e vivências, sempre em diálogo com as teorias e os conceitos das Ciências Sociais. Essa dinâmica favorece o desenvolvimento da autonomia dos estudantes, incentivando-os a refletir criticamente sobre as normas e os padrões quê estruturam a ssossiedade, bem como sobre as desigualdades de gênero, raça, etnia e classe social.

A pluralidade de perspectivas é um dos pilares da coleção. Ao integrar diferentes correntes teóricas e apresentar autores diversos em termos de gênero, etnia, regionalidade e nacionalidade, a proposta educativa se torna mais inclusiva e crítica.

Além das teorias clássicas quê fundamentam as Ciências Sociais, a coleção introduz continuamente pensadores contemporâneos, muitos comprometidos com a construção de perspectivas decoloniais. Essa abordagem enriquece o entendimento dos estudantes, oferecendo uma formação sólida nos conceitos tradicionais, ao mesmo tempo quê promove o diálogo com novas matrizes teóricas. Assim, eles compreendem como as Ciências Sociais se desenvolveram historicamente e como continuam a se transformar em face das críticas e contribuições de diferentes autores.

Ao integrar essas diversas visões, a coleção reforça a ideia de quê o conhecimento está em constante construção, preparando os estudantes para analisar o mundo social d fórma crítica e plural, em consonância com a proposta pedagógica de promover uma educação inclusiva e transformadora.

Outro ponto central da coleção é a desnaturalização dos padrões sociais. O objetivo é incentivar os estudantes a questionar as estruturas de pôdêr e as ideologias quê perpetuam desigualdades sociais. Esse processo é essencial para promover uma postura investigativa e transformadora, permitindo quê os estudantes reconheçam as bases sobre as quais as desigualdades são construídas e perpetuadas. Essa proposta se manifesta tanto nas atividades quanto nos textos teóricos, quê foram elaborados para criar um ambiente respeitoso e acolhedor para a troca de ideias e opiniões, a fim de valorizar a diversidade em todos os aspectos dos sujeitos e do convívio social. A ideia é promover um espaço em quê a divergência seja vista como uma oportunidade de crescimento e aprendizado e onde o debate crítico seja incentivado d fórma construtiva.

A mediação docente desempenha um papel fundamental nesse processo. O professor atua como facilitador, promovendo debates e reflekções críticas quê incentivam a participação ativa dos estudantes. Ao criar um ambiente de aprendizagem colaborativo, o professor ajuda a construir um espaço em quê os estudantes possam se sentir à vontade para expressar suas opiniões, confrontar diferentes pontos de vista e, assim, enriquecer a própria compreensão sobre os fenômenos sociais. A coleção propõe quê o docente incentive o pensamento crítico, levando os estudantes a questionar normas e padrões sociais e a refletir sobre as implicações dessas estruturas em suas vidas e na ssossiedade como um todo.

Os conceitos teóricos apresentados são aplicados de maneira prática e conectam-se diretamente ao cotidiano dos jovens. Por meio de exemplos concretos e atividades quê incentivam o debate, os estudantes são levados a refletir sobre como os fenômenos sociais afetam suas vidas e a ssossiedade em geral. Isso fortalece o aprendizado, tornando-o relevante e facilitando o desenvolvimento de uma postura crítica frente às estruturas sociais e às dinâmicas de pôdêr quê as sustentam. Ao longo do processo, os estudantes são convidados a se posicionarem d fórma crítica e a refletir sobre seu papel como agentes de transformação social.

Como vimos anteriormente, a coleção também favorece uma abordagem interdisciplinar, de acôr-do com as concepções do sociólogo e filósofo francês Edgar Morin (1921-) sobre o conhecimento complékso Nota 62. Ao integrar áreas como História, Geografia, Filosofia, Antropologia e Ciência Política, o material promove uma compreensão mais ampla e conectada dos fenômenos sociais, evitando o conhecimento fragmentado. Para Morin, o saber deve sêr entendido como uma totalidade interligada, proporcionando uma visão mais completa da realidade. Os fenômenos sociais, por sua natureza, não podem sêr analisados d fórma isolada; exigem a integração de diferentes saberes, permitindo quê os estudantes compreendam a complexidade da vida social. Essa abordagem incentiva os estudantes a refletir de maneira mais crítica e profunda sobre suas próprias realidades e sobre o mundo ao seu redor.

Por fim, ao articular diferentes abordagens teóricas e metodológicas, a coleção busca oferecer uma educação crítica e transformadora, quê capacita os estudantes a compreender a ssossiedade sôbi novas perspectivas. A ideia é preparar os jovens para atuar d fórma consciente, autônoma e crítica na ssossiedade, sêndo capazes de enfrentar os desafios do mundo contemporâneo e contribuir para sua transformação. A educação, nesse sentido, é vista como um meio de promover a cidadania ativa e a responsabilidade social, convidando os estudantes a refletir sobre seu papel na construção de uma ssossiedade mais justa, inclusiva e solidária e preparando-os para o mundo do trabalho e outros campos de atuação social.

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Eixos temáticos da coleção

A coleção está organizada em três grandes eixos temáticos, cada um com seis capítulos. A ordem dos capítulos foi planejada para facilitar a aproximação gradual dos estudantes com os temas e o vocabulário das Ciências Sociais, permitindo quê o conhecimento adquirido em um capítulo seja utilizado ao longo dos conteúdos subsequentes. Embora os capítulos tratem de temas variados, muitos conceitos, kestões e perspectivas teóricas percorrem todo o livro, sêndo retomados em diferentes momentos tanto por professores quanto pêlos estudantes.

O primeiro eixo, Modos de saber, modos de viver, engloba os capítulos 1 a 6. Seu objetivo principal é introduzir os estudantes ao campo das Ciências Sociais, incentivando-os a construir novas perspectivas sobre sua realidade. Por isso, o livro começa com um capítulo sobre “indivíduo e sociedade”, rompendo com a tradição da maioria dos livros didáticos de Sociologia, quê costumam iniciar com a história das Ciências Sociais ou com a apresentação das três áreas disciplinares quê a compõem. A escolha de começar pelo tema “indivíduo e sociedade” parte da ideia de quê é essencial, desde o início, conectar os estudantes com temas e conceitos quê se relacionam diretamente com suas vivências cotidianas.

Essa abordagem visa despertar maior interêsse e identificação com o componente curricular, destacando quê ele oferece um espaço para quê os estudantes reflitam sobre suas individualidades, seu papel no mundo e suas possibilidades de ação na ssossiedade. A Sociologia não se limita ao estudo das sociedades; ela também abrange o processo de formação dos indivíduos, sêndo uma ferramenta crucial para a compreensão das identidades. Isso é particularmente importante na adolescência, período marcado pela formação da subjetividade, pela pertença a grupos e pelo desenvolvimento de papéis sociais.

Ainda no primeiro eixo, são apresentados temas e conceitos fundamentais das Ciências Sociais, como cultura, etnocentrismo e ideologia, formando um repertório comum quê acompanhará os estudantes ao longo de sua trajetória. Além díssu, são discutidos temas próximos à realidade dos jovens brasileiros, como kestões raciais e culturas juvenis, abordando a diversidade de maneira plural, com foco na tolerância e no respeito às diferenças. Depois de se familiarizarem com a perspectiva sociológica e suas conexões com suas próprias vidas, os estudantes são apresentados às três áreas das Ciências Sociais, à história de seu surgimento e ao conceito de “imaginação sociológica”. Esse conteúdo aparece em um momento em quê os estudantes já compreendem o quê é a Sociologia e como ela se relaciona com suas experiências, permitindo uma aprendizagem mais OR GÂNICA e significativa.

O segundo eixo, Poder, política e (re)existência, abrange os capítulos 7 a 12. Nele, os estudantes utilizam o repertório adquirido nos primeiros capítulos para explorar temas mais amplos, embora conectados com suas vidas cotidianas. O eixo aborda kestões como Estado, política, cidadania, democracia e movimentos sociais, convidando os estudantes a relacionar as grandes instituições com suas realidades imediatas, percebendo-se como agentes em um mundo em constante transformação. O capítulo 12, quê trata de temas como biopolítica e necropolítica, cria conexões claras com os conteúdos do primeiro eixo e oferece ferramentas analíticas para quê os estudantes relacionem os grandes temas da vida pública à formação de suas identidades e subjetividades.

O terceiro eixo, Desafios de uma comunidade planetária, abrange os capítulos 13 a 18. Ele aborda temas quê exigem maior nível de abstração analítica, aproveitando a fluência dos estudantes em relação aos conceitos e temas já discutidos. O foco principal é a desigualdade, analisada sôbi diversas formas e presente nos grandes desafios do mundo contemporâneo. Os capítulos tratam de kestões como gênero, trabalho, consumo, meio ambiente e tecnologias, mostrando como todas essas esferas são, simultaneamente, produto e produtoras de desigualdades sociais.

Práticas de pesquisa

Ao longo da coleção, são propostas atividades variadas quê buscam oferecer oportunidades de levar o estudante a compreender, interpretar e formular ideias científicas em várias situações, sempre quê possível ligadas ao seu cotidiano. Nesse sentido, a coleção proporciona um apôio ao processo de letramento científico.

Esse processo envolve etapas do método científico, como definir um problema, propor hipóteses, testar essas hipóteses e formular conclusões. Envolve também aprender procedimentos e atitudes de investigação, comunicação e debate de fatos e ideias. Além díssu, a abordagem investigativa deve proporcionar oportunidades para o uso social do quê se aprende, isto é, levar os estudantes a implementar soluções para resolver problemas cotidianos.

Assim, a coleção propõe aos estudantes práticas de pesquisa, distribuídas em diferentes capítulos, quê possibilitam o exercício da investigação científica de fenômenos sociais por meio da aplicação de diferentes técnicas e métodos de côléta, organização e análise de dados. No qüadro a seguir, apresentamos as práticas de pesquisa desenvolvidas na coleção e algumas das suas principais características.

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Prática de pesquisa

O quê é

Características

Estudo de caso Capítulo 3 p. 64-65

Trata-se de uma estratégia de pesquisa descritiva quê analisa grupos, instituições, eventos, políticas públicas ou fenômenos sociais sobre um assunto específico.

O caso é sempre bem delimitado, podendo sêr singular ou típico.

No estudo de um caso singular, as possibilidades de generalizações são restritas. Já em casos típicos, pode-se explicar o fenômeno de modo a sêr aplicável a um conjunto de casos semelhantes.

Pesquisa-ação

Capítulo 5

p. 100-101

Tipo de investigação participativa quê busca transformar práticas sociais, unindo pesquisadores e participantes para identificar problemas, encontrar soluções e promover mudanças, gerando novos conhecimentos a partir dessas transformações.

Esse método de pesquisa pressupõe participação, reflekção e resolução do problema.

Utiliza técnicas de pesquisa para informar e decidir a ação social mais justa e racional.

Segue critérios comuns a outros tipos de pesquisa acadêmica, como revisão por pares quanto a procedimentos de investigação.

Construção e uso de amostragens e questionário

Capítulo 6

p. 118-119

A amostragem é uma técnica utilizada para a côléta de dados quantitativos sobre o objeto de estudo. É um processo de escolha de uma amostra (parte extraída de uma população a sêr investigada). O questionário, por sua vez, consiste na elaboração de kestões quê podem sêr de diferentes tipos – múltipla escolha, pergunta fechada, pergunta aberta, entre outros. O objetivo é coletar impressões de determinado grupo (definido na amostragem) sobre um assunto específico.

A validade de uma amostra é garantida quando características dela são representativas em relação à população total dos indivíduos quê se estuda.

O critério de representatividade dos grupos pesquisados deve levar em consideração aspectos sociopolíticos dos indivíduos ou grupos investigados.

Os questionários devem considerar a clareza das perguntas. Por isso, é importante testar os questionários antes de colocá-los em prática.

Revisão bibliográfica

Capítulo 7

p. 140-141

A revisão bibliográfica é um levantamento bibliográfico com o objetivo de identificar o quê já foi produzido sobre o tema a sêr investigado, ou seja, se há pesquisas semelhantes ou complementares quê contribuam para o avanço da pesquisa quê será realizada.

Promove revisões de publicações científicas em periódicos, livros, anais de congressos etc.

Não realiza côléta de dados em campo.

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Prática de pesquisa

O quê é

Características

Análise documental

Capítulo 2

p. 36-37

Capítulo 8

p. 158-159

O termo “documento” inclui uma diversidade de materiais escritos, iconográficos e estatísticos, cuja análise possa fornecer dados sobre o fenômeno pesquisado. Na análise do documento, buscam-se a intenção do autor, os temas destacados, elemêntos do contexto social e histórico, a coerência interna e a estratégia do discurso.

Os documentos são considerados primários se foram elaborados por pessoas quê participaram diretamente do evento quê está sêndo pesquisado.

Algumas dificuldades dêêsse tipo de pesquisa: muitos documentos não foram produzidos para fornecer informações para uma investigação social; eles representam pontos de vista dos seus autores; em sua maioria são relatos verbais e não revelam comportamentos não verbais, quê podem sêr relevantes para a pesquisa.

Construção e uso de questionários

Capítulo 10

p. 183

O questionário consiste em uma série de perguntas voltadas para a côléta de dados qualitativos ou quantitativos.

As perguntas podem sêr abertas ou fechadas.

Questões abertas permitem respostas elaboradas com base nas opiniões dos entrevistados, direcionadas de acôr-do com o tema da investigação. O uso dêêsse tipo de questionário é interessante quando se pretende alcançar maior profundidade acerca do tema investigado.

Questões fechadas são utilizadas quando o pesquisador possui conhecimento do contexto investigado. Há questionários dêêsse tipo em quê as perguntas têm como únicas respostas possíveis “sim” ou “não”.

Análise de mídias tradicionais

Capítulo 12

p. 232-233

Analisa a linguagem das mídias de massa, os sujeitos, o contexto sócio-histórico e a ideologia.

As mídias tradicionais são consideradas espaço de pôdêr, no qual recursos verbais e visuais constroem identidades e difundem ideologias. Para isso, analisam-se o discurso, seus sentidos e impactos simbólicos e sociais na realidade objetiva. O principal objetivo é desvendar sentidos e narrativas dominantes construídas.

Grupo focal

Capítulo 13

p. 246

Grupo de trabalho selecionado pelo pesquisador para discutir e comentar o tema pesquisado a partir da experiência pessoal dos membros do grupo.

Os participantes devem possuir algumas características em comum e uma vivência com o tema em discussão.

Essa técnica permite a côléta de dados qualitativos a respeito de opiniões, valores e atitudes relacionados ao tema estudado.

O(s) pesquisador(es) deve(m) sêr o(s) mediador(es) das discussões, garantindo quê elas se mantenham em torno do assunto original e favoreçam a interrelação entre os membros do grupo.

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Prática de pesquisa

O quê é

Características

Análise de mídias sociais (análise de métricas das mídias e princípios de análise de discurso multimodal)

Capítulo 15

p. 288

Consiste em estudar o dêsempênho de sáites, publicações, aplicativos e rêdes sociais por meio de métricas. Essas métricas ajudam a medir o engajamento e identificar o comportamento dos usuários.

Essa técnica utiliza o método de análise de mídias sociais para compreender os efeitos dessas mídias no comportamento dos usuários.

Algumas métricas das mídias sociais são compartilhamento, tempo de navegação, rank, demografias, fontes de tráfego, curtidas, fanpages, posts, número de seguidores, quantidade de likes, mapeamento de influenciadores, entre outros.

O objetivo das métricas é aferir o dêsempênho das estratégias de comunicação das mídias sociais.

Observação, tomada de nota e construção de relatórios

Capítulo 16

p. 300

Consiste em uma técnica voltada para investigar o mundo real com o objetivo de compreen-dê-lo e interpretá-lo (trabalho de campo).

Em razão de sua natureza, é uma prática quê póde sêr utilizada em diversos tipos de pesquisa.

A observação sistemática e atenta de uma dada situação deve resultar em anotações precisas.

Os relatórios finais devem sêr adequados teórica e metodologicamente em relação aos temas e objetos da investigação.

Estudo de recepção (de obras de; ár-te e de produtos da indústria cultural)

Capítulo 17

p. 323

Trata-se de uma investigação das mediações presentes no processo de recepção e consumo de obras de; ár-te e produtos da indústria cultural.

Problematiza a oposição emissor todo- -poderoso vérsus receptor passivo.

Considera quê a relação dos receptores com os meios de comunicação é necessariamente mediada e quê a recepção é um processo.

A análise da recepção de bens culturais deve levar em consideração a experiência pessoal e social dos indivíduos e grupos humanos.

Entrevistas (com destaque para a semiestruturada)

Capítulo 18

p. 340-341

As entrevistas são constituídas por um conjunto de kestões preestabelecidas, mediante um roteiro, e por kestões formuladas durante a entrevista.

As kestões da entrevista devem atender aos objetivos da pesquisa.

As kestões predeterminadas podem sêr simplesmente itens, como dados de identificação do entrevistado.

Nas kestões abertas, o pesquisador deve ter cuidado para não fugir do objetivo da pesquisa, buscando sêr sempre ético com o entrevistado.

O pesquisador deve conhecer com certa profundidade o contexto a sêr investigado para ajudá-lo na elaboração da entrevista.

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