Orientações gerais

A Política Nacional de Ensino Médio

No panorama das políticas públicas voltadas para a educação, em fevereiro de 2017 entrou em vigor a Lei número 13.415, quê foi elaborada com o objetivo de reformar a organização curricular do Ensino Médio. Entre outras finalidades, pretendia-se com essa lei reduzir os índices de evasão e reprovação escolar, dois dos principais desafios do Ensino Médio atualmente.

De acôr-do com o cronograma definido pelo govêrno federal, a implementação de um Novo Ensino Médio deveria ocorrer de maneira progressiva até 2024. Foram, contudo, identificados problemas durante a implementação da reforma, antes mesmo quê ela fosse concluída. Em razão díssu, o Ministério da Educação decidiu retomar as discussões sobre o Ensino Médio e instituir a Política Nacional de Ensino Médio (Lei número 14.945, de 2024). Essa lei revogou parcialmente a Lei número 13.415, de 2017, e alterou a Lei número 9.394, de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB) Nota 1, promovendo outra reforma do Ensino Médio, cuja implementação foi adiada para 2025.

O movimento do govêrno federal para instaurar uma renovação curricular das instituições públicas e privadas quê oferecem vagas para esse segmento de ensino é resultante do Plano Nacional da Educação vigente no período de 2014 a 2024, cujas metas 3 e 6 preveem, respectivamente, a universalização progressiva do atendimento escolar de jovens de 15 a 17 anos, além da renovação do Ensino Médio, com abordagens interdisciplinares e currículos flexíveis, e a ampliação da oferta da educação de tempo integral, com estratégias para o aumento da carga horária e para a adoção de medidas quê otimizem o tempo de permanência do estudante na escola. Essa proposta, portanto, é proveniente de um longo debate educacional quê começou a tomar forma com a promulgação da Constituição Brasileira, em 1988, e com a LDB, em 1996, e se viabilizou juridicamente com as mais recentes regulamentações.

Além da ampliação da carga horária, a reforma inclui a flexibilização do currículo escolar, especificando uma parte para a Formação Geral Básica (FGB) – na qual os conteúdos são obrigatórios e comuns a todas as escolas de Ensino Médio – e outra a sêr definida com a participação dos estudantes, quê poderão escolher Itinerários Formativos (IF) segundo seus interesses e a disponibilidade nas instituições de ensino. Essas duas partes do currículo devem se complementar de maneira quê uma ajude a outra a atribuir significado ao processo de ensino-aprendizagem. No qüadro comparativo a seguir, são apresentadas as principais mudanças quê devem sêr implementadas a partir de 2025, de acôr-do com a Lei número 14.945, de 2024.

Antes da Política Nacional de Ensino Médio

A partir da Política Nacional de Ensino Médio

Eram estabelecidas 1.800 horas de carga horária obrigatória para a FGB).

Eram estabelecidas 1.200 horas de carga horária para os IF.

São estabelecidas 2.400 horas de carga horária obrigatória para a FGB.

São estabelecidas 600 horas de carga horária para os IF.

As escolas podiam definir os IF a serem ofertados.

As escolas precisam ofertar, no mínimo, dois IF, quê devem contemplar todas as áreas de conhecimento.

Matemática e Língua Portuguesa eram os únicos componentes curriculares obrigatórios em todos os anos do Ensino Médio.

Todos os componentes curriculares obrigatórios na FGB devem sêr oferecidos em todos os anos do Ensino Médio.

Eram estabelecidas 1.800 horas de carga horária obrigatória para a FGB no Ensino Técnico.

Eram estabelecidas 1.200 horas de carga horária para os IF do Ensino Técnico.

São estabelecidas 2.100 horas de carga horária obrigatória para a FGB, podendo sêr dedicadas 300 horas a conteúdos da FGB quê estejam relacionados ao Ensino Técnico.

São estabelecidas até 1.200 horas de carga horária para os IF do Ensino Técnico.

Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Panorama MÉC: Política Nacional do Ensino Médio. Brasília, DF: MÉC, 2024. Disponível em: https://livro.pw/kqopu. Acesso em: 9 out. 2024.

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A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Nota 2, homologada em 2018, orienta a elaboração dos currículos alinhados ao Novo Ensino Médio e garante uma base comum mínima para todos eles. A principal finalidade da BNCC é promover a equidade na educação brasileira ao balizar as aprendizagens essenciais em todos os segmentos da Educação Básica. Isso contribui para alinhar a educação às demandas sociais atuáis e melhorar a articulação entre os diferentes atores envolvidos no processo escolar. Na prática, essas aprendizagens se efetivam por meio do desenvolvimento, pêlos estudantes, das competências e habilidades mobilizadas em sala de aula. A BNCC também êsplicíta os fundamentos pedagógicos quê devem nortear a concepção de educação a sêr praticada nas escolas: o foco no desenvolvimento de competências e o compromisso com a educação integral dos estudantes. Na elaboração dessas orientações, não se desconsiderou o conhecimento acumulado pela humanidade, mas se entendeu quê ele precisa sêr contextualizado e problematizado a fim de sêr reconstruído e consolidado, possibilitando a construção de outros conhecimentos quê possam sêr aplicados no entendimento do mundo contemporâneo, identificando problemas e propondo soluções.

Essencial ao novo projeto para o Ensino Médio, a formação integral é definida na BNCC como o desenvolvimento intencional dos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais dos estudantes por meio de processos educativos quê promovam a autonomia, o comportamento cidadão e o protagonismo “em sua aprendizagem e na construção de seu projeto de vida” Nota 3. Para quê essa prática seja alcançada, a organização curricular deve propiciar a devida articulação dos conteúdos dos diferentes componentes curriculares com as práticas sociais dos diversos campos da atividade humana, tendo como consequência esperada a atribuição de significado a esses conteúdos pêlos estudantes.

Outra novidade implementada no Novo Ensino Médio é a organização curricular por área do conhecimento. Embora já estivesse presente nos documentos educacionais oficiais, essa proposta foi consolidada de maneira efetiva na BNCC, por meio do agrupamento das competências e habilidades em quatro áreas do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

É nesse contexto da reforma do Ensino Médio, tendo a BNCC como principal referência pedagógica, quê se inserem as propostas de Projetos Integradores apresentadas nesta obra, buscando atender às demandas do cenário educacional atual com base em seus pilares de protagonismo juvenil, flexibilização e formação integral. Isso faz parte do esfôrço da educação brasileira para aprossimár os estudos da realidade dos estudantes, capacitando-os à participação e à intervenção neste mundo, marcado pela transformação das formas de trabalho e de socialização.

Com essas características centrais, pretende-se favorecer as práticas escolares quê atribuem significado aos processos de ensino-aprendizagem, ajudando os estudantes a consolidar seus projetos de vida – os quais, por vezes, incluem o enfrentamento dos exames seletivos de acesso ao Ensino Superior – e a desenvolver as competências e as habilidades necessárias para o exercício da cidadania e para a atuação no mercado de trabalho.

Práticas escolares quê contribuem para atribuir significado ao processo de ensino-aprendizagem, a flexibilização curricular e o protagonismo dos jovens na construção de seu conhecimento não são ideias novas; algumas são seculares. Logo, no contexto do Novo Ensino Médio, o novo não está no âmbito das ideias, mas em sua implementação, considerando as possibilidades e limitações do atual cenário social, econômico, cultural e tecnológico do país. O novo está no efetivo cumprimento dos objetivos quê justificam a proposição dessa reforma, quê é colocar a educação a serviço da construção de uma ssossiedade mais justa, democrática e inclusiva.

Nesse sentido, pretende-se, com os seis Projetos Integradores quê compõem êste volume, atribuir sentido aos conceitos estudados ao longo da vida escolar e relacioná-los ao conhecimento a sêr construído pêlos jovens, em um processo de aprendizagem por meio da leitura e da interpretação dos fenômenos naturais e sociais, da identificação e da descrição dos problemas observados nesse contexto, bem como da proposição e da validação de estratégias para a solução dessas demandas.

As propostas foram elaboradas com o objetivo de servir a estudantes e professores como recursos auxiliares na construção de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores inseridos em uma relação entre o ensino e a aprendizagem na qual é considerado o contexto dos jovens e da comunidade escolar. Nelas, assume-se como princípio o envolvimento dos estudantes, de maneira individual e coletiva, na identificação e na solução de problemas. Assume-se também como princípio o uso ético e responsável dos recursos tecnológicos digitais disponíveis na busca, na produção e no compartilhamento de informações, muitos dos quais já são sistematicamente utilizados fora da escola.

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Trabalho com competências e habilidades

Um dos princípios pedagógicos estabelecidos na BNCC é o foco no desenvolvimento de competências. De acôr-do com esse documento, competência é:

[...] a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas compléksas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho Nota 4.

Portanto, ao orientar a elaboração dos currículos da Educação Básica de acôr-do com um conjunto de competências e habilidades, a BNCC busca superar a concepção de uma educação voltada à transmissão e à memorização de conhecimentos pêlos estudantes ao longo da vida escolar. Essa abordagem favorece o compromisso com a formação integral, pois promove um modelo de aprendizagem centrado nos sujeitos, e não nos conteúdos dos componentes curriculares. Nesse sentido, com a mudança para o ensino de competências, o foco do processo educativo se desloca para os estudantes, a fim de quê estes não só se apropriem dos conhecimentos, mas também sêjam capazes de aplicá-los em diferentes contextos Nota 5.

Para garantir a efetivação das propostas para o Ensino Médio e balizar a especificação das partes obrigatória e comum, espera-se quê os materiais didáticos e as práticas realizadas nas escolas de todo o país estejam alinhados às competências e habilidades apresentadas na BNCC. Por isso, é importante entender como elas estão organizadas para o Ensino Médio e como elas se materializam na prática em sala de aula.

Como comentado anteriormente, a BNCC define as aprendizagens essenciais quê devem sêr garantidas pelas escolas ao longo da Educação Básica como forma de garantir os dirétos de aprendizagem estabelecidos por outras legislações no âmbito da educação brasileira. Essas aprendizagens essenciais são expressas no documento por meio de um conjunto de competências e habilidades quê os estudantes devem desenvolver ao longo do percurso escolar.

A princípio, a BNCC define dez competências gerais, quê devem sêr mobilizadas em todas as áreas do conhecimento ao longo da Educação Básica. Essas competências envolvem conhecimentos, habilidades, valores e atitudes quê contribuem para promover a formação integral dos estudantes, contemplando aspectos sociais, culturais, físicos, afetivos e cognitivos. São elas:

1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma ssossiedade justa, democrática e inclusiva.

2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflekção, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.

4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos quê lévem ao entendimento mútuo.

5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação d fórma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e ezercêr protagonismo e altoría na vida pessoal e coletiva.

6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências quê lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escôlhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

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7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns quê respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência sócio-ambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planêta.

8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com auto crítica e capacidade para lidar com elas.

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários Nota 6.

No Ensino Médio Nota 7, as competências gerais se desdobram em competências específicas, a fim de demonstrar como aquelas podem sêr abordadas no contexto de cada uma das quatro áreas do conhecimento previstas para essa etapa da escolaridade. Em razão de sua relação intrínseca com as competências gerais, as competências específicas de área devem sêr desenvolvidas tanto na FGB como nos IF. Além díssu, para garantir a progressão dos conteúdos d fórma articulada com o Ensino Fundamental, as competências específicas de área dos dois segmentos estão associadas.

Com enfoque maior no desenvolvimento cognitivo, a cada competência específica corresponde um conjunto de habilidades a fim de garantir, na prática, seu desenvolvimento em contextos específicos, trabalhando conceitos e processos atrelados a cada área do conhecimento. A exceção é a área de Linguagens e suas Tecnologias, na qual são apresentadas habilidades específicas também para o componente curricular Língua Portuguesa Nota 8.

Assim, conforme as habilidades específicas de determinada área são mobilizadas em sala de aula pela perspectiva de cada componente curricular, ao final de cada etapa da escolaridade, entende-se quê os estudantes desenvolveram as competências específicas dessa área. Com o desenvolvimento das competências específicas de cada área, por sua vez, espera-se quê os estudantes se tornem capazes de lidar com diferentes situações cotidianas de acôr-do com sua faixa etária, selecionando os conhecimentos necessários para enfrentá-las com autonomia e eficiência, atuando d fórma crítica e propositiva em sua realidade.

Uma vez entendidos os fundamentos da BNCC, é importante refletir sôbire o modo como isso se expressa nas práticas pedagógicas. Cabe ao professor avaliar como o componente curricular sob sua responsabilidade póde contribuir para quê essas competências e habilidades sêjam efetivadas em sala de aula e, ao mesmo tempo, atender ao projeto político pedagójikô da escola e a suas intencionalidades pedagógicas. Essa é uma tarefa compléksa quê não deve sêr feita d fórma isolada, mas com a colaboração dos gestores e de outros integrantes do corpo docente, sobretudo daqueles quê lecionam componentes curriculares da mesma área do conhecimento. Além díssu, pela perspectiva de uma aprendizagem ativa, espera-se quê os estudantes desempenhem um papel importante nesse processo.

Nesta coleção, são sugeridos alguns caminhos quê favorécem esse trabalho pedagójikô. Esses caminhos, porém, não esgotam todas as possibilidades, sêndo importante analisar todas as propostas e avaliar a necessidade ou não de adaptá-las a seu contexto escolar, principalmente porque as realidades das escolas brasileiras são diversas.

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Estudante protagonista

No desenvolvimento dos Projetos Integradores, ao intervir na realidade de sua comunidade, os jovens podem se tornar sujeitos ativos de seu processo de aprendizagem e sêr reconhecidos pela comunidade escolar e familiar com base em sua individualidade e potencialidade. Essa perspectiva de educação envolve um plano de ação complékso, quê prioriza, por exemplo, a criação de manifestações artísticas e culturais voltadas para a solução de problemas reais da escola ou da comunidade.

Dessa maneira, os estudantes são reconhecidos como agentes de transformação social capazes de tomar iniciativas e se responsabilizar por suas escôlhas, exercendo uma postura cidadã Nota 9. Nesse papel, os estudantes dêsênvólvem habilidades inerêntes à liderança, uma vez quê o empreendedorismo e a gestão de projetos são reforçados, cabendo ao professor atuar como mediador e incentivador de debates e encaminhamentos.

Em 2019, foi produzido um relatório contendo 27 propostas voltadas à criação de caminhos para a construção de um Ensino Médio democrático, inclusivo, integral e transformador, com base na participação presencial e virtual de estudantes, educadores, gestores e pesquisadores, entre outros envolvidos na área da educação. Nesse relatório, foram apresentados princípios orientadores válidos para os projetos cujo tema é o protagonismo juvenil. Esses princípios são:

Inclusão

O ensino médio brasileiro deve não só reconhecer, mas também valorizar as diferenças de idade, origem, raça, côr, religião, gênero, orientação sexual, condições físicas e habilidades, quê caracterizam a diversidade sócio-cultural e humana. Há ainda quê se reconhecer a potência da diversidade das juventudes brasileiras: urbanas centrais e das periferías, vilas e favelas; as do campo, ribeirinhas, as indígenas. Assim, as orientações educacionais devem dialogar com as diversas expectativas e culturas juvenis, apoiando a constituição de escolas quê garantam as condições para quê todos se sintam acolhidos, pertencentes e incluídos em processos qualificados de aprendizagem, sem qualquer tipo de discriminação, e valorizem o convívio e aprendizado com os diferentes.

Democracia

A democracia implica, em primeiro lugar, a universalização do acesso ao direito para o fortalecimento de uma educação pública de qualidade e gratuita. Implica, também, a participação qualificada dos diversos segmentos nos processos decisórios, tanto na gestão das escolas quanto na elaboração e realização das políticas públicas. O princípio constitucional da gestão democrática da educação não se esgota em escolha de dirigentes, mas se realiza de fato na participação cotidiana da comunidade escolar nas decisões e responsabilidades quê dizem respeito ao convívio e às aprendizagens. [...]

Integralidade

A educação é processo contínuo e permanente, desde o nascimento até o fim da vida, e ocorre em todos os ambientes em quê as pessoas se relacionam. A escolarização representa uma parte importante dêêsse processo, porque tem a intencionalidade de educar e é a grande depositária dessa responsabilidade pela ssossiedade. Mas, para as pessoas se desenvolverem integralmente – em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social e cultural –, é preciso integrar todos os agentes e setores sociais envolvidos em propostas quê dialoguem com seus contextos históricos e territoriais.

Contemporaneidade e Transformação

O conjunto de propostas apresentadas neste documento reconhece a potência dos estudantes, dos professores e das escolas, quê enfrentam os desafios sócio-ambientais do presente e promóvem a justiça social para gerar transformações positivas na ssossiedade. A realização dessa potência se torna ainda mais urgente no mundo contemporâneo, marcado pela constante transformação, no qual as regras, hierarquias e institucionalidades se tornam cada vez menos eficazes, mas em quê a tecnologia amplia a incidência das pessoas e dos coletivos nos processos sociais Nota 10.

Página duzentos e dezesseis

Com base nesses princípios, devem sêr desenvolvidos projetos quê contribuam para quê os jovens se conheçam, apreciem-se e cuidem melhor de si, dos outros e de seu entorno, reconhecendo e desenvolvendo seu potencial como agentes de transformação da própria realidade e do mundo quê os cerca. Essa abordagem, portanto, está alinhada com o foco no ensino de competências preconizado na BNCC, uma vez quê possibilita a mobilização de todos esses aspectos por meio do desenvolvimento integral dos estudantes, priorizando sua formação cidadã e para o mundo do trabalho.

Culturas juvenis

O esfôrço para implementar o Novo Ensino Médio no país advém dos desafios enfrentados pêlos jovens brasileiros, sobretudo no contexto educativo. É na juventude quê muitos dos problemas sociais ficam ainda mais evidentes, afetando diretamente a vida dos indivíduos. Embora os jovens sêjam reconhecidos como sujeitos de direitos na legislação, faltam políticas públicas quê garantam efetivamente esses direitos. O primeiro passo para dar visibilidade aos jovens e a suas demandas é entender o quê se considera juventude e como se constituem as culturas juvenis. Dessa forma, é possível delinear suas especificidades e valorizar suas vivências, seus anseios e seus saberes Nota 11.

O Ensino Médio representa um momento importante no processo de formação da identidade dos jovens, pois é nessa fase quê eles experimentam os limites e as possibilidades de sua condição juvenil por meio da inserção social na escola e em outros meios.

Embora a juventude possa sêr considerada uma fase de maturação biológica quê precede a vida adulta, é importante ter em mente o fato de quê delimitar essa fase apenas do ponto de vista biológico é simplificar as diferentes formas de experimentar a juventude, principalmente porque ela ganha contornos diversos de acôr-do com os contextos culturais, sociais e históricos em quê os jovens estão inseridos. Portanto, ao conceber a ideia de juventude no Brasil, é preciso considerar quê ela é plural e reflete condições sociais muito distintas Nota 12. De acôr-do com a BNCC:

Adotar essa noção ampliada e plural de juventudes significa, portanto, entender as culturas juvenis em sua singularidade. Significa não apenas compreendêê-las como diversas e dinâmicas, como também reconhecer os jovens como participantes ativos das sociedades nas quais estão inseridos, sociedades essas também tão dinâmicas e diversas.

Considerar quê há muitas juventudes implica organizar uma escola quê acolha as diversidades, promovendo, de modo intencional e permanente, o respeito à pessoa humana e aos seus direitos. [...] Nota 13

Assim, tratar de juventudes em sua forma plural nestes Projetos Integradores significa reconhecer toda a diversidade social e cultural quê as compõe, considerando côr, etnia, gênero, orientação sexual, religião e modo de vida. Isso ocorre na obra por meio da valorização da experiência de aprender com o outro, reforçando a busca da erradicação de qualquer tipo de discriminação. Para isso, é importante também refletir sobre quêm são os jovens quê povoam as escolas e como eles vivenciam suas juventudes na realidade em que estão inseridos.

Isso se reflete nas culturas juvenis, quê são as formas de os jovens se expressarem, por meio da comunicação e das relações interpessoais quê estabelecem ou dos comportamentos, dos valores e das atitudes quê assumem. Essas expressões simbólicas típicas da condição juvenil se orientam por diferentes aspectos, como manifestações culturais, kestões de gênero e sexualidade, diferenças territoriais, condições sociais e identidades étnico-raciais Nota 14.

No espaço escolar, os jovens têm oportunidade de experimentar diferentes formas de sêr e de se vêr no mundo, podendo construir sua identidade com base no meio quê os cerca, influenciados pelo agrupamento específico ao qual se associam. Sendo assim, como o ambiente tem um impacto muito forte no desenvolvimento dos jovens, o professor e a escola podem ajudar na formação deles. Para isso, é importante quê o entendimento sobre quêm são os jovens brasileiros quê chegam às escolas se efetive em sala de aula por meio de práticas curriculares acolhedoras e respeitosas da diversidade que lhes permítam experenciar situações nas quais possam explorar seus limites e suas potencialidades, protagonizando ações de transformação social locais e globais e aumentando seu engajamento nos estudos.

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Contextualizar para dar sentido à aprendizagem

Em uma educação comprometida com a formação integral dos estudantes por meio do ensino de competências, espera-se quê as práticas pedagógicas sêjam voltadas para uma aprendizagem ativa, na qual os estudantes vivenciem experiências quê os instiguem a mobilizar conhecimentos, habilidades, atitudes e valores em situações semelhantes às quê ocorrem no dia a dia. Por essa ótica, o processo educativo deve aprossimár a vivência em sala de aula da realidade dos estudantes, contextualizando a aprendizagem para quê esta faça sentido para eles, e engajá-los nesse processo Nota 15. Em outras palavras,

Ensinar competências implica utilizar formas de ensino consistentes para responder a situações, conflitos e problemas relacionados à vida real, e um complékso processo de construção pessoal quê utilize exercícios de progressiva dificuldade e ajuda eventual, respeitando as características de cada aluno Nota 16.

Nesse processo é preciso quê se estabeleçam relações d fórma intencional e sistematizada entre os conhecimentos prévios dos estudantes e akilo a sêr aprendido. Essa abordagem promove uma aprendizagem significativa e está atrelada a um ensino contextualizado em sala de aula. O processo de contextualização curricular, portanto, é uma forma de facilitar o entendimento e a aplicação dos conhecimentos das diferentes áreas por meio da aproximação entre os conteúdos escolares e as experiências dos estudantes, reforçando as conexões entre o quê eles já sabem e o quê estão aprendendo. Dessa forma, pode-se entender a contextualização como uma prática pedagógica por meio da qual os estudantes podem atribuir sentido aos saberes escolares, reconhecendo-se como sujeitos do processo de ensino-aprendizagem. Cabe ao professor impulsionar os estudantes nesse processo, de modo quê eles se tornem aptos a integrar e extrapolar os conhecimentos aprendidos no contexto de cada componente curricular para situações quê vão além do quê é abordado em sala de aula Nota 17.

Em consonância com essa perspectiva, nos Projetos Integradores foram tomados como referência os Temas Contemporâneos Transversais (TCT) para a contextualização dos conteúdos e conhecimentos abordados. Assim, cada projeto é orientado pêlos TCT propostos na BNCC e pela articulação de componentes curriculares de diferentes áreas do conhecimento.

De forma articulada aos TCT, também são abordados nos Projetos Integradores os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), assumidos pêlos países-membros da Organização das Nações Unidas (Ônu), na Agenda 2030 Nota 18. Por meio do trabalho com os TCT e os ODS, abordam-se kestões sociais, ambientais, econômicas e políticas de interêsse global e com forte impacto na realidade dos jovens, o quê possibilita problematizar e contextualizar conteúdos relevantes e quê estejam alinhados com as demandas da ssossiedade atual.

Cabe ao professor avaliar a relevância social de quaisquer dos temas propostos nos Projetos Integradores para os estudantes, considerando a realidade deles e adaptando, se necessário, as atividades propostas ao contexto escolar. Considerando os temas abordados nos projetos, o ideal é o professor procurar sempre apresentar exemplos, fatos, dados e informações da realidade local ou regional para quê os estudantes consigam se reconhecer como parte da solução para as kestões emanadas dos contextos estudados.

Temas Contemporâneos Transversais

No contexto da implementação do Novo Ensino Médio, o Ministério da Educação sugere alguns TCT quê contextualizam os conteúdos para despertar o interêsse dos estudantes e favorecer sua atuação na ssossiedade.

Nos Projetos Integradores, deve-se considerar uma concepção de transversalidade na qual os conteúdos tradicionais possam sêr compreendidos como instrumentos para o trabalho com temas relevantes à atuação dos estudantes na ssossiedade a fim de conectar a escola à realidade dêêsses jovens e da comunidade em quê estão inseridos. Dessa forma, espera-se superar uma abordagem fragmentada dos conhecimentos e favorecer uma visão sistêmica e mais OR GÂNICA da realidade.

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Outro aspecto quê contribui para o desenvolvimento dos Projetos Integradores tendo como referência os TCT é a associação das habilidades e competências previstas na BNCC em um contexto de resolução de problemas. Ao se optar por uma educação comprometida com o ensino de competências, faz-se necessário aplicar estratégias de ensino para propor situações de aprendizagem quê representem a realidade e, consequentemente, sêjam compléksas e exijam a seleção e a integração de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores em um contexto específico.

Pragmaticamente, a abordagem dos TCT deve contribuir para quê os estudantes desenvolvam habilidades relacionadas à educação financeira, ao cuidado com a própria saúde, ao uso das tecnologias digitais, à preservação do meio ambiente, ao entendimento das diferenças e ao respeito a elas, bem como o reconhecimento e a compreensão de seus direitos e deveres como cidadãos.

Dessa forma, a transversalidade dêêsses temas, quê podem sêr explorados de diversas maneiras e relacionados às quatro áreas do conhecimento de maneira desfragmentada,

[...] orienta para a necessidade de se instituir, na prática educativa, uma analogia entre aprender conhecimentos teóricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as kestões da vida real (aprender na realidade e da realidade). Dentro de uma compreensão interdisciplinar do conhecimento, a transversalidade tem significado, sêndo uma proposta didática quê possibilita o tratamento dos conhecimentos escolares d fórma integrada Assim, nessa abordagem, a gestão do conhecimento parte do pressuposto de quê os sujeitos são agentes da ár-te de problematizar e interrogar, e buscam procedimentos interdisciplinares capazes de acender a chama do diálogo entre diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas Nota 19.

A proposta de abordar temas transversais faz parte oficialmente do contexto educacional brasileiro desde 1997, com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (p c n). Na época, foram sugeridos os temas Saúde, Ética, Trabalho e consumo, Orientação sexual, Meio ambiente e Pluralidade cultural.

Desde então, com as novas demandas sociais e as necessidades de adequações curriculares nas escolas, foi necessário aprimorar esses temas e ratificar sua importânssia. Com isso, a BNCC passou a usar a terminologia Temas Contemporâneos Transversais, designando quê:

[...] cabe aos sistemas e rêdes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e competência, incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos quê afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente d fórma transversal e integradora. [...] Nota 20

É importante salientar quê os TCT são obrigatórios nos atuáis currículos escolares, mas, nos p c n, os temas transversais eram opcionais. Outra mudança significativa é a ampliação de seis para 15 TCT, agrupados em seis macroáreas temáticas, conforme o esquema a seguir Nota 21.

Fluxograma com uma caixa central e setas apontando para outras seis caixas. A caixa central contém o texto: 'Temas Contemporâneos Transversais na BNCC'. As demais caixas contêm os seguintes temas: 'Meio ambiente. Educação ambiental; Educação para o consumo'. 'Economia. Trabalho; Educação financeira; Educação fiscal'. 'Saúde. Educação alimentar e nutricional'. 'Cidadania e civismo. Vida familiar e social; Educação para o trânsito; Educação em Direitos Humanos; Direitos da Criança e do Adolescente; Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso'. 'Ciência e tecnologia'. 'Multiculturalismo. Diversidade cultural; Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras'.

Página duzentos e dezenove

Todas essas temáticas assumem muito significado nas sociedades contemporâneas. A Educação ambiental e a Educação para o consumo, por exemplo, são temas vitais para a coletividade global, principalmente no contexto da crise climática quê aflige o planêta, e um currículo escolar quê se comprometa com a responsabilidade social não póde deixar de contemplá-las. Além díssu, é indispensável repensar as relações do sêr humano com as mudanças tecnológicas para compreender os impactos da revolução digital na ssossiedade contemporânea. Tais impactos afetam diretamente a vida dos jovens no mercado de trabalho, promovendo diferentes formas de trabalhar e criando diversas oportunidades de carreira.

A implementação dos TCT é um dos traços da flexibilização curricular proposta pelo Novo Ensino Médio, uma vez quê não é subjacente a apenas um componente curricular. Para possibilitar essa integração, eles podem sêr abordados de maneira intradisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar.

A abordagem intradisciplinar, ou seja, em apenas um componente curricular, deve integrar diversos conteúdos dêêsse componente. Isso não significa desenvolver outro trabalho na sala de aula paralelamente, mas usar o tema para articular os conteúdos previstos no plano de ensino para a referida fase de escolarização. Nessa abordagem, os objetivos pedagógicos de cada componente curricular são preservados de acôr-do com seus limites, dificultando sua articulação com os de outros.

Em um tratamento interdisciplinar, os limites pedagógicos de cada componente curricular são mantidos e, ao mesmo tempo, são estabelecidas conexões entre os objetivos de cada um deles, possibilitando a relação dos diferentes componentes ou de áreas de conhecimento. Com a proposição de uma organização escolar interdisciplinar, busca-se,

[...] de modo geral, o estabelecimento de uma intercomunicação efetiva entre as disciplinas, por meio do enriquecimento das relações entre elas. Almeja-se, no limite, a composição de um objeto comum, por meio de objetos particulares de cada uma das disciplinas componentes Nota 22.

Com a transdisciplinaridade, os objetivos pedagógicos extrapolam os objetivos pedagógicos definidos em componentes curriculares. Na abordagem transdisciplinar, a ideia central está no fato de quê, “[...] na organização do trabalho escolar, as pessoas, e não os objetos ou os objetivos disciplinares, deveriam estar no centro das atenções” Nota 23. Nessa abordagem, o conhecimento a sêr construído depende do contexto, da prática social a sêr desenvolvida e do propósito quê se pretende alcançar com ela.

Nas escolas de Educação Básica:

[...] Nenhum conhecimento deveria justificar-se como um fim em si mesmo: as pessoas é quê contam, com seus anseios, com a diversidade de seus projetos. E assim como um dado nunca se transforma em informação se não houver uma pessoa quê se interêsse por ele, quê o interpréte e lhe atribua um significado, todo o conhecimento do mundo não vale um tostão furado, se não estiver a serviço da inteligência, ou seja, dos projetos das pessoas.

Naturalmente, tal informação não estabelece qualquer subordinação do conhecimento a uma aplicabilidade prática: a construção do conhecimento está relacionada à produção e à compreensão de significados muito mais do quê à méra produção de bens materiais. Também não é o caso de se associar a linha diréta entre os conhecimentos e os interesses das pessoas a uma superestimação do individualismo Nota 24.

Com a transdisciplinaridade, passa-se a reconhecer a complexidade dos fenômenos e processos, nos quais estão sempre presentes a subjetividade, a emoção e a articulação dos saberes disciplinares quê se aproximam da realidade e da significação do conhecimento. Nessa lógica, ao dividir as dificuldades em partes, não se póde perder a ideia da globalidade, a inter-relação das partes e as características do conjunto, uma vez quê êste é muito maior do quê a simples união dessas partes Nota 25.

Independentemente da abordagem metodológica – intradisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar –, diante do processo criativo de elaboração de soluções, quê envolve a articulação das informações, diferentes percursos podem sêr traçados pêlos professores com os estudantes.

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Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Em 2015, os países-membros da Ônu definiram um conjunto de objetivos e metas universais com o propósito de alcançar o desenvolvimento sustentável nos âmbitos econômico, social e ambiental. Esses objetivos se ancoram nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos em 2000, e envolvem uma abordagem mais ampla e integrada para promover o desenvolvimento sustentável no planêta.

Ao todo, foram estabelecidos 17 ODS, quê se desdobram em 169 metas integradas.

Imagem com ícones coloridos, numerados do 1 ao 17, conforme segue: 1. Erradicação da pobreza; 2. Fome zero e agricultura sustentável; 3. Saúde e bem-estar; 4. Educação de qualidade; 5. Igualdade de gênero; 6. Água potável e saneamento; 7. Energia limpa e acessível; 8. Trabalho descente e crescimento econômico; 9. Indústria, inovação e infraestrutura; 10. Redução das desigualdades; 11. Cidades e comunidades sustentáveis; 12. Consumo e produção responsável; 13. Ação contra a mudança global do clima; 14. Vida na água; 15. Vida terrestre; 16. Paz, justiça e instituições eficazes; 17. Parcerias e meios de implementação.

Fonte: ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Sobre o nosso trabalho para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Disponível em: https://livro.pw/xwdtx. Acesso em: 18 out. 2024.

Tais objetivos e metas representam o resultado de um esfôrço global para promover a Agenda 2030, quê visa

[...] acabar com a pobreza e a fome em todos os lugares; combater as desigualdades dentro e entre os países; construir sociedades pacíficas, justas e inclusivas; proteger os direitos humanos e promover a igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres e meninas; e assegurar a proteção duradoura do planêta e de seus recursos naturais. [...] criar condições para um crescimento sustentável, inclusivo e economicamente sustentado, prosperidade compartilhada e trabalho decente para todos, tendo em conta os diferentes níveis de desenvolvimento e capacidades nacionais. Nota 26.

Como é possível perceber, os ODS propostos na Agenda 2030 abrangem kestões atuáis relacionadas aos grandes desafios globais. Muitos dêêsses objetivos envolvem interesses de crianças e adolescentes e fazem parte do compromisso firmado pela Ônu de proteger os direitos deles, sobretudo ao buscar reduzir as desigualdades sociais, melhorar a qualidade da educação e garantir um planêta saudável para todos. Nesse sentido, pode-se dizêr quê a Agenda 2030

[...] identifica os jovens como agentes críticos de mudança social, econômica e global, e, portanto, todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) requerem ação juvenil para ter sucesso. Os jovens também representam a parcela da população mais afetada pela pobreza, desigualdade, desemprego e mudanças climáticas – fatores quê são focos da Agenda para os próximos dez anos.

Para garantir a participação contínua dos jovens nessas agendas e em outras emergentes, é necessário um forte engajamento dêêsse grupo na implementação e no monitoramento de políticas locais, nacionais e regionais, bem como criar e fomentar espaços de diálogo em nível global para quê reflitam suas preocupações e necessidades dentro da estrutura vigente. [...] Nota 27

A escola póde contribuir com a Agenda 2030 ao promover um espaço em quê os jovens aprendam sobre cidadania e sêjam encorajados a se perceber como agentes de mudança. No contexto dos Projetos

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Integradores desta coleção, os ODS são mobilizados para contextualizar os conteúdos e promover reflekções profundas sobre temas atuáis e de relevância para a vida dos jovens. Essa abordagem possibilita aos estudantes desenvolver uma postura crítica e propositiva, com grande potencial de transformação da própria vida e da comunidade em quê vivem. Conhecer os ODS e discuti-los em sala de aula, portanto, é uma forma de manter os estudantes informados sobre as urgências de seu tempo e prepará-los para os desafios atuáis e futuros.

Para quê isso seja possível, é de suma importânssia quê o professor reconheça e incentive o protagonismo dos jovens quê chegam às escolas. Além díssu, em razão do caráter global dos ODS, cabe ao professor aproximá-los das realidades nacional, regional e local. Nota 28.

Mundo do trabalho e juventudes

A população jovem brasileira é diversa e sofre d fórma desigual os impactos dos problemas sociais, políticos e culturais do país. Em razão dessa discrepância, além dos aspectos individuais, os interesses dos estudantes de diferentes grupos sociais são divergentes, de modo quê, ao término do Ensino Médio, eles podem ter expectativas muito diferentes, as quais podem afetar as escôlhas relacionadas a seu projeto de vida. Para muitos, a oportunidade de trabalhar e ter uma renda estável lhes possibilita contribuir para a economia familiar e melhorar suas condições de vida. Em alguns casos, isso ainda póde representar uma forma de conseguir se manter e/ou prosseguir nos estudos, ingressando, por exemplo, no Ensino Superior Nota 29.

Contudo, a inserção no mercado de trabalho tem sido um desafio para os jovens, quê compõem o grupo com maior índice de desemprego no país. Os jovens não só sofrem com a falta de experiência profissional, como também podem ter de enfrentar problemas ainda maiores sem a devida formação no ensino formal, chegando despreparados ao mercado de trabalho. Em razão dêêsses fatores, formam um grupo vulnerável e propenso ao trabalho informal ou com condições precárias.

Cabe às escolas de Ensino Médio assegurar aos estudantes uma formação quê lhes permita enfrentar os desafios da vida contemporânea. Isso inclui auxiliá-los na construção de seu projeto de vida nos âmbitos pessoal e profissional. Portanto, em uma educação baseada na formação integral, espera-se quê os estudantes desenvolvam competências e habilidades em suas múltiplas dimensões, incluindo a dimensão profissional. Para Zabala e Arnau, é importante quê a escola promôva

[...] uma educação também para o trabalho, mas sem perder a visão global da pessoa como sêr crítico diante das desigualdades e do comprometimento com a transformação social econômica em direção a uma ssossiedade na qual não apenas se garantisse o direto ao trabalho, como ainda êste fosse desenvolvido em função do desenvolvimento das pessoas e não apenas dos interesses de mercado.

Na dimensão profissional, o indivíduo deve sêr competente para ezercêr uma tarefa profissional adequada às suas capacidades, a partir dos conhecimentos e das habilidades específicas da profissão, d fórma responsável, flexível e rigorosa quê lhe permita satisfazer suas motivações e suas expectativas de desenvolvimento profissional e pessoal Nota 30.

Nessa perspectiva, é papel do professor favorecer o desenvolvimento de competências, incluindo as profissionais, para quê os estudantes atuem d fórma crítica, propositiva e responsável nas diversas situações com as quais possam deparar no mundo do trabalho. Nesse contexto, sêr capaz de resolver problemas, sêr criativo, ter autonomia de pensamento, sêr proativo, liderar, trabalhar d fórma colaborativa, saber interpretar dados e informações com criticidade, fazer escôlhas de acôr-do com as próprias reflekções, conseguir se comunicar d fórma assertiva e regular as emoções, entre outras, são características importantes quê os estudantes precisam desenvolver em sala de aula não só para ezercêr seus direitos e deveres como cidadãos, mas também para empregá-las no contexto profissional.

Para desenvolver essas competências, entretanto, é preciso quê os estudantes se apoiem em diferentes saberes quê não se limitam a componentes específicos da área curricular. Trata-se, portanto, de um trabalho conjunto entre as áreas do conhecimento, envolvendo também competências socioemocionais quê perpassam a aprendizagem dos componentes curriculares Nota 31.

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A fim de assegurar essa preparação para o trabalho e a cidadania, os Projetos Integradores presentes neste volume abordam temas relacionados ao contexto do mundo do trabalho, procurando aprossimár os estudantes de diversos campos de atuação profissional.

Atualidade e desafios do mundo do trabalho

No contexto recente do Brasil, diversas mudanças no mundo do trabalho, ocorridas a partir da década de 2010, afetaram diretamente a inserção profissional dos jovens e suas expectativas de obtêr um emprego, especialmente em um contexto de crise econômica e flexibilização das relações trabalhistas. Somadas a isso, ocorreram grandes transformações provocadas pelas novas tecnologias, o quê reflete nas relações humanas e nas demandas por qualificação profissional e aumento da produtividade Nota 32.

Entre os motivos da baixa inserção dos jovens no mercado do trabalho está o baixo nível de experiência e/ou escolaridade. Com isso, ou eles não conseguem sêr contratados pela incompatibilidade com as exigências das vagas, ou tendem a sêr os primeiros dispensados em contextos de crise.

Os efeitos da dispensa em contextos de crise podem se estender por muitos anos até quê a economia se recomponha. Com a pandemia de covid-19, quê teve início em 2020, por exemplo, a atividade econômica foi brutalmente atingida e muitas pessoas perderam seu posto de trabalho, o quê refletiu na inclusão e na permanência dos jovens brasileiros no mercado de trabalho. Os efeitos foram ainda mais alarmantes entre os jovens em situação de vulnerabilidade social. Mesmo com o fim da pandemia, os jovens entre 18 e 24 anos ainda formavam o grupo com a maior taxa de desemprego no país até o segundo trimestre de 2023, chegando a 14,3% da população, de acôr-do com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (pê êne há dê) Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (hí bê gê hé). Embora esteja em queda no país, a taxa de desemprego dessa faixa etária chega a sêr mais do quê o dôbro da apresentada pelo segundo grupo mais atingido pelo problema, mostrando-se bem acima do patamar das demais faixas. De acôr-do com os estudos sobre o tema, em vez de estarem desempregados ou procurando emprego, muitos jovens estão apenas fora do mercado de trabalho, o quê não só impacta no futuro profissional deles, como também nas perspectivas para a economia do país Nota 33.

Os dados estatísticos ainda mostram quê, em 2022, um em cada grupo de cinco jovens brasileiros de 15 a 29 anos não estava estudando e não tinha ocupação. Isso representa 22,3% da população quê está nessa faixa etária, ou seja, 10,9 milhões de jovens em todo o país. Desse total de jovens fora do sistema de ensino e do mercado de trabalho, 61,2% eram pobres e quase mêtáde eram mulheres pretas e pardas, o quê evidên-cía ainda mais o fato de quê esse fenômeno social afeta a população juvenil d fórma desigual. Esses resultados são alarmantes porque escancaram a vulnerabilidade social dos jovens brasileiros e expõem a realidade de quê muitos deles não têm perspectivas de qualificação profissional Nota 34.

Como visto, os jovens representam grande parcela da população brasileira e são os mais afetados em situações de crise, sofrendo com a pobreza, as desigualdades sociais e o desemprego. Por isso, é importante engajá-los civicamente em defesa de uma ssossiedade mais democrática, inclusiva e sustentável, de modo quê possam se tornar agentes transformadores dessa realidade, participando da implementação de políticas públicas com esse enfoque ou do monitoramento delas. Existem diversas políticas públicas voltadas a essas demandas dos jovens, mas, para quê elas se efetivem, é preciso quê eles sêjam ouvidos, e isso póde começar no espaço escolar. A criação de um ambiente acolhedor e a construção de um sentimento de pertencimento à comunidade escolar representam o primeiro passo para envolvê-los no processo de ensino-aprendizagem e contribuir para quê compreendam suas possibilidades de crescimento e desenvolvimento pessoal, tanto no âmbito acadêmico quanto no profissional.

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Projetos Integradores

Alinhados à proposta de consolidação do trabalho organizado em áreas de conhecimento e com o objetivo de buscar a formação integral dos estudantes do Ensino Médio, a proposta dêstes Projetos Integradores, é tornar a aprendizagem mais significativa.

Para o cumprimento dêêsse objetivo, é necessária a conexão dos estudantes ao contexto de sua comunidade. Isso requer o reconhecimento da diversidade de perfis das juventudes existentes no país e de sua potencialidade de avaliar e sugerir políticas educacionais. Especificamente em relação ao Ensino Médio, os marcos regulatórios mostram quê as atuáis políticas favorécem uma reorganização curricular quê possibilite diferentes rótas de aprendizagem (diversificando os tempos e recursos pedagógicos), a multiplicidade de linguagens e a elaboração e a implementação de projetos quê envolvam os estudantes, contribuindo para quê eles desenvolvam um efetivo protagonismo. Dessa maneira, os jovens têm a possibilidade de se reconhecer como participantes das decisões e das práticas e de enxergar-se como cidadãos com direitos e deveres, agindo com ética e responsabilidade.

Além díssu, a fim de despertar o interêsse dos estudantes, é necessário levar a experiência cotidiana para a escola, relacionando conteúdos, produzindo informações e organizando métodos quê, devidamente interconectados, constituem conhecimentos. Por isso, é necessário quê os estudantes desenvolvam o autoconhecimento e conheçam também o mundo no qual estão inseridos, lendo, descrevendo, identificando, interpretando e analisando problemas na perspectiva dos eixos temáticos quê estruturam os Projetos Integradores para, ao final, construírem um produto quê estimule ações com o envolvimento da comunidade escolar e de seu entorno, conforme os objetivos estabelecidos.

Com base nessas premissas, pretende-se, por meio do trabalho com Projetos Integradores propôsto nesta obra, desenvolver ações, individuais e coletivas, quê tragam impactos sociais e ambientais positivos para a comunidade e, ao mesmo tempo, contribuir para quê os estudantes desenvolvam as competências, as habilidades, os valores e as atitudes previstos na BNCC. O trabalho com projetos, nessa concepção, contribui para quê os estudantes lidem com situações práticas a fim de obtêr ganhos concretos para a vida cotidiana, preparando-se também para o mundo do trabalho.

Para um trabalho potencialmente produtivo com Projetos Integradores no Ensino Médio, é importante considerar:

os pressupostos epistemológicos e as especificidades teórico-metodológicas do componente curricular, assim como dos diversos componentes curriculares integrados e das áreas de conhecimento a quê se relacionam;

os contextos da comunidade local, quê possibilitam a identificação de um problema e da quêstão central que desafiam os estudantes, gerando o interêsse e despertando criatividade e envolvimento;

as situações quê favorécem a aprendizagem e a proposição de diferentes percursos para a solução do problema identificado, chegando à elaboração de um produto final;

a reorganização curricular para o desenvolvimento de práticas escolares contextualizadas, garantindo atribuição de significado às aprendizagens construídas pêlos estudantes e aos procedimentos por eles adotados;

as práticas escolares, desenvolvidas de acôr-do com os pressupostos epistemológicos específicos do componente curricular e da área de conhecimento correspondente, com linguagem, recursos e rigor próprios, a serem colocados em prática durante o registro e a análise das experiências vividas e seu compartilhamento;

a redefinição do perfil e dos conhecimentos especializados do professor para o adequado exercício de sua função diante das novas demandas sociais e tecnológicas;

a articulação de atividades condizentes às propostas de trabalho, individuais e/ou coletivas, quê favoreçam a organização e a troca de contribuições a fim de atingir um objetivo comum;

as possibilidades de exploração das potencialidades dos recursos tecnológicos digitais para acessar, analisar, produzir e compartilhar informações de maneira crítica e ética;

as oportunidades de exercitar o pensamento crítico, a argumentação, a leitura inferencial e o pensamento computacional;

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o desenvolvimento das competências socioemocionais para quê os estudantes possam colocar em prática as melhores atitudes e habilidades para compreender e regular emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia e manter relações sociais positivas;

o perfil das juventudes quê chegam a esse nível de ensino, para quê se estabeleçam conexões com as propostas quê dialogam com kestões quê os inquietam e os apoiam na construção de projetos de vida, tanto no aspecto pessoal quanto no profissional;

a proposição de um produto final quê caracterize o conjunto de conhecimentos adquiridos ao longo de todo o projeto e produza impacto na comunidade na qual os estudantes estão inseridos;

os TCT, quê proporcionam as situações propícias para o desenvolvimento das competências e habilidades especificadas na BNCC;

os ODS, com base nos quais é possível trabalhar kestões sociais, econômicas, ambientais e políticas com os estudantes d fórma contextualizada, problematizando temas atuáis e relevantes para eles e promovendo seu protagonismo como agentes de transformações sociais e culturais.

Além díssu, no âmbito do trabalho com Projetos Integradores, espera-se a integração dos componentes curriculares das diversas áreas do conhecimento previstas na BNCC. Esse trabalho precisa sêr coordenado d fórma interdisciplinar pêlos diversos atores envolvidos nos projetos propostos.

Interdisciplinaridade e áreas de conhecimento

A interdisciplinaridade é uma das formas de promover uma educação mais integrada e contextualizada. No Ensino Médio, a preocupação com essa perspectiva de educação evidencia-se com a definição na BNCC de competências e habilidades específicas apenas para as áreas de conhecimento, a fim de favorecer a articulação entre os diferentes componentes curriculares. Essa organização proposta pela BNCC não extingue os componentes curriculares das áreas, mas busca superá-los por meio de uma abordagem mais interconectada com a realidade. Em outras palavras, essa nova estrutura ábri portas para um currículo mais flexível no Ensino Médio, incentivando o trabalho interdisciplinar e contribuindo para quê os estudantes tênham uma visão menos fragmentada da realidade Nota 35.

De acôr-do com Morin:

[...] Não se póde jogar fora o quê foi criado pelas disciplinas, não se póde quebrar todas as clausuras. êste é o problema da disciplina, da ciência e da vida: é preciso quê uma disciplina seja ao mesmo tempo aberta e fechada.

[...] para quê nos serviriam todos os conhecimentos parcelares se não os confrontássemos uns com os outros, a fim de formár uma configuração capaz de responder às nossas expectativas, necessidades e interrogações cognitivas?

[...] um conhecimento em movimento, em circuito pedagójikô, em espiral, quê avança ao ir das partes ao todo e do todo às partes, e é isso quê constitui nossa ambição comum Nota 36.

Tal reflekção evidên-cía o desafio quê é um trabalho interdisciplinar em sala de aula, para o qual é necessário o movimento constante de partir das partes ao todo e do todo às partes. Nesse sentido, para quê a interdisciplinaridade se efetive na prática pedagógica, é fundamental quê haja um planejamento intencional e articulado entre os docentes dos diferentes componentes curriculares. Por isso, os professores precisam ter em mente seu papel nesse processo de tornar a aprendizagem integrada por meio da contribuição de cada área do saber, a fim de promover uma educação quê transcenda a segmentação tradicional dos conteúdos. Ao conectar diferentes saberes, os estudantes podem ter uma compreensão mais global dos fenômenos naturais e sociais e aprender d fórma mais significativa, favorecendo a aplicação dos conhecimentos aprendidos em sala de aula em situações reais e compléksas. A abordagem interdisciplinar, nesse sentido, está alinhada com os princípios pedagógicos da BNCC, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e capazes de entender a realidade de maneira integral e compléksa, estabelecendo relações entre as diferentes áreas do saber e aplicando esses conhecimentos para solucionar problemas concretos.

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Espera-se do trabalho articulado entre professores quê os conteúdos dos componentes curriculares não sêjam abordados d fórma isolada, longe da real complexidade do mundo, mas d fórma OR GÂNICA e dinâmica, em quê as partes se intégram para dar sentido aos fenômenos em estudo. Não se trata, portanto, de associar conteúdos de diferentes componentes d fórma arbitrária, mas de criar uma relação lógica entre diferentes saberes quê possa contribuir para a formação integral e significativa dos estudantes.

Isso póde sêr feito por meio de atividades didáticas com o mesmo tema ou problema quê demandem a aplicação de conhecimentos das diferentes áreas do conhecimento. Nessa perspectiva, os TCT e os ODS podem contribuir para um trabalho pedagójikô interdisciplinar e articulado. Ao colocar em pauta kestões quê desafiam a ssossiedade contemporânea, essa abordagem contribui para quê os estudantes explorem diferentes perspectivas e façam uso de diversos recursos em busca de soluções.

Alinhado a essa perspectiva de ensino, o trabalho com projetos integradores é uma abordagem teórica e metodológica quê favorece a interdisciplinaridade ao empenhar diferentes componentes curriculares em um objetivo comum. Nesse tipo de estratégia didático-pedagógica, os estudantes, com o apôio de professores de diferentes componentes curriculares, dedicam-se colaborativamente a elaborar soluções para as kestões e demandas do mundo real.

Os estudantes precisam lidar com a realidade d fórma compléksa, recorrendo aos conteúdos e conhecimentos dos diversos componentes curriculares para solucionar problemas. Essas interconexões potencializam o desenvolvimento de competências essenciais para a vida e para o mundo do trabalho, uma vez quê os estudantes precisam mobilizar não só conhecimentos, mas também habilidades, valores e atitudes quê perpassam as barreiras entre os componentes.

Considerando esses aspectos, pode-se afirmar quê a interdisciplinaridade é uma demanda do ensino por competências, uma vez quê

Optar por uma educação de competências representa a busca por estratégias de ensino quê definam seu objeto de estudo na forma de responder satisfatoriamente a “situações reais” e, portanto, compléksas. [...]

[...]

[...] O ensino tradicional foi estruturado em torno de disciplinas isoladas, e estas, por sua vez, em corpos teóricos cada vez mais segmentados. A escola, a reboque de uma ciência parcializada, “simplificou” a realidade convertendo em objeto de estudo os meios para seu conhecimento, pretendendo quê o aluno realize por si só o quê o saber estabelecido não soube resolver, ou seja, a abordagem da realidade em toda a sua complexidade.

[...] o conhecimento disciplinar, apesar de seu reducionismo, é imprescindível à compreensão da realidade, mas sempre quando se assume a aplicação de um conhecimento parcial da realidade não se chega a constituir uma ação competente se não se aprendeu a intervir em situações da “realidade global”, cuja essência é a complexidade. De tal modo quê a complexidade não seja apenas uma circunstância na qual se desenvolvam as aprendizagens, mas também quê esta seja objeto prioritário de ensino. Deve-se aprender a agir na complexidade, ou seja, saber responder a problemas e situações os quais nunca na vida real serão apresentadas d fórma simples e, muito menos, nas quais o número de variáveis quê nela intervêm sêjam reduzidas a partir de situações expressadas unicamente com os dados necessários para uma resposta estereotipada a problemas também estereotipados. Assim, uma atuação competente significa não só conhecer os instrumentos conceituais e as técnicas disciplinares, mas também sêr capaz de reconhecer quais deles são necessários para sêr eficiente em situações compléksas, e ao mesmo tempo saber como aplicá-los em função das características específicas da situação. Atuação quê exige um pensamento complékso e, consequentemente, um ensino dirigido à formação para a complexidade Nota 37.

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Portanto, ao estar comprometida com uma educação orientada para o desenvolvimento de competências, a escola assume o papel de mediadora entre os conhecimentos especializados dos componentes curriculares e as demandas da vida cotidiana. Essa mediação precisa sêr feita d fórma intencional e sistematizada, buscando romper as barreiras disciplinares e promover uma educação quê valorize tanto o pensamento crítico quanto a capacidade de adaptação a situações inesperadas e multifacetadas, uma vez quê a realidade exige soluções quê não se encaixam em apenas uma área do conhecimento.

Em outras palavras, com o ensino de competências, pretende-se instrumentalizar os estudantes com os recursos necessários para enfrentar problemas reais, os quais demandam um olhar quê integre diferentes saberes, habilidades, valores e atitudes. Para isso, é essencial quê o planejamento das aulas e atividades inclúa discussões coletivas sobre a articulação dos conteúdos dos diferentes componentes curriculares d fórma contextualizada e integrada, a fim de favorecer a aprendizagem significativa e o desenvolvimento de um pensamento complékso.

Vale destacar também o fato de quê, além de integrar os conteúdos dos componentes curriculares das diversas áreas do conhecimento, a interdisciplinaridade promove a troca de saberes e a colaboração entre os integrantes do corpo docente da escola, contribuindo para uma prática pedagógica mais reflexiva e colaborativa. Em uma escola na qual ainda predomina um ensino fragmentado, muitas vezes, os docentes atuam d fórma isolada e limitada a sua área. Em uma proposta interdisciplinar, em contrapartida, o diálogo entre os componentes curriculares é central, exigindo dos professores uma abordagem colaborativa quê possibilite o alinhamento do quê é relevante para os estudantes e o compartilhamento de estratégias de ensino. Nesse cenário, a escola se torna um espaço de aprendizagem contínua no qual o conhecimento é construído coletivamente, de acôr-do com as demandas reais e atuáis da escola, dos professores e dos estudantes.

A contribuição da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e seus componentes curriculares

A área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas ocupa um lugar central na formação integral dos estudantes do Ensino Médio, oferecendo contribuições indispensáveis para o desenvolvimento de uma visão crítica, ética e responsável do mundo. Essa área abrange os componentes curriculares História, Geografia, Filosofia e Sociologia e seus desdobramentos nos demais componentes do currículo escolar. O propósito dêêsses componentes, muito além da simples transmissão de conteúdo factual, é a formação de cidadãos conscientes, capazes de intervir de maneira responsável e crítica nas kestões sociais, políticas, culturais e ambientais de seu tempo.

A importânssia das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas no Ensino Médio

O estudo das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas possibilita a reflekção sobre a vida em ssossiedade e sobre os processos históricos e culturais quê moldam o presente. Esse campo do conhecimento contribui para a compreensão dos contextos em quê os estudantes estão inseridos, permitindo quê eles se apropriem de ferramentas quê os capacitam a analisar criticamente fenômenos como desigualdade social, processos de globalização, instituições políticas e seu papel, diversidade cultural e desafios ambientais, entre muitos outros temas atuáis e urgentes. O estudo dêêsses componentes também amplia a percepção da diversidade, da pluralidade de opiniões, de crenças e de valores, desenvolvendo a capacidade de diálogo e tolerância.

Formação crítica e autônoma

O ensino de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas no Ensino Médio tem o objetivo de desenvolver uma visão crítica do mundo, fomentando a autonomia intelectual dos estudantes. Ao explorar diferentes perspectivas da realidade social, eles são incentivados a pensar sobre o papel quê dêsempênham como cidadãos ativos e participativos. Essa área do conhecimento tem, assim, a responsabilidade de desenvolver nos jovens a noção dos direitos e dos deveres em uma ssossiedade democrática e plural, bem como o exercício da cidadania em suas dimensões políticas, econômicas, sociais e culturais.

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O desenvolvimento da competência argumentativa é outro aspecto das contribuições dêêsses componentes. O incentivo ao debate e à reflekção crítica proporcionado pêlos componentes curriculares de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas habilita os estudantes a formular, sustentar e defender seus pontos de vista, baseando-se em argumentos sólidos e evidências.

Contribuições do componente curricular História

O estudo de História permite quê os estudantes compreendam os processos de transformação social, política e econômica ao longo do tempo, bem como a construção das identidades culturais. Ao analisar eventos passados, mudanças e permanências, os estudantes refletem sobre as continuidades e as rupturas quê moldaram o mundo contemporâneo. Essa análise crítica do passado é essencial para quê possam entender os desafios do presente e planejar o futuro com responsabilidade. Pelo estudo de diferentes sociedades, culturas e épocas, os estudantes aprendem a reconhecer a complexidade das interações humanas e a importânssia de respeitar as múltiplas formas de organização social e política.

Contribuições do componente curricular Geografia

A Geografia, por sua vez, é fundamental para a compreensão das interações entre ssossiedade e meio ambiente, abordando temas muito presentes e urgentes, como urbanização, globalização, mudanças climáticas e desigualdades socioeconômicas. Por meio do estudo dêêsse componente, os estudantes dêsênvólvem uma visão espacial do mundo, fomentada pela análise crítica do uso dos recursos naturais e dos impactos das atividades humanas no planêta, entendendo a interconexão global entre os países e suas sociedades.

Essa compreensão da interdependência global desperta nos estudantes a percepção de quê suas ações afetam o planêta, tanto em escala local quanto em escala global. Com as propostas dêste projeto, os estudantes são impelidos não apenas a refletir sobre kestões como distribuição desigual de recursos, conflitos territoriais e desafios ambientais, mas também a buscar soluções quê promovam um desenvolvimento mais justo e sustentável, comprometendo-se com o bem-estar do planêta como um todo.

Contribuições do componente curricular Filosofia

A Filosofia, como componente curricular quê quêstiona a natureza da realidade, do conhecimento e dos valores, tem um papel crucial na constituição do pensamento crítico e reflexivo dos estudantes. No Ensino Médio, a Filosofia oferece espaço para que os estudantes explorem kestões fundamentais da existência humana, como o sentido da vida, a natureza da justiça e o conceito de liberdade. Ao confrontar diferentes correntes de pensamento e reflekções filosóficas, os estudantes dêsênvólvem a capacidade de argumentação e de análise lógica, aprendendo a quêstionar pressupostos e a examinar criticamente as ideias que norteiam suas concepções de mundo.

Contribuições do componente curricular Sociologia

A Sociologia, por sua vez, tem como foco o estudo das estruturas sociais e das relações quê permeiam a vida em ssossiedade. No Ensino Médio, a Sociologia oferece aos estudantes ferramentas sistemáticas de análise da realidade social, abordando temas como estratificação social, pôdêr, cultura, instituições sociais e movimentos sociais. O componente promove uma compreensão crítica dos fenômenos sociais quê permite quê os estudantes explorem conceitos como classe, raça, gênero e religião e reflitam sobre a importânssia da justiça social e da construção de uma ssossiedade mais equitativa e democrática.

O papel do professor na área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

O professor de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas desempenha um papel central na mediação do conhecimento, atuando como facilitador do processo de aprendizagem e como incentivador da adoção de uma postura reflexiva e crítica pêlos estudantes. É preciso também quê o professor busque, sempre quê possível, relacionar o conteúdo dos componentes com os interesses e as experiências dos estudantes, tornando o aprendizado mais significativo e atraente. Ao abordar kestões centrais para a compreensão do mundo e da ssossiedade, esses componentes contribuem para o desenvolvimento do pensamento crítico, da autonomia intelectual e da consciência cidadã.

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Aprendizagem baseada em projetos

Por meio da metodologia de trabalho com projetos, propõe-se o estabelecimento de conexões entre os diferentes componentes curriculares das diversas áreas do conhecimento e das práticas sociais nos distintos campos da atividade humana.

Para Hernández e Ventura Nota 38, o trabalho com projetos educacionais deve valorizar o desenvolvimento do conhecimento de maneira contextualizada, globalizada e relacional e consistir na criação de estratégias para resolver problemas ou hipóteses quê facilitem a construção do conhecimento pêlos estudantes, por meio da transformação das informações procedentes dos diferentes saberes disciplinares.

Além díssu, a aprendizagem com base em projetos não póde se desenvolver de maneira individual, solitária; ela requer o trabalho em grupo como condição essencial para dar conta da complexidade dos problemas a serem discutidos, investigados, analisados e repensados no contexto suscitado pêlos temas focados. Nessa proposta, a transmissão de conteúdos, característica do ensino tradicional, perde espaço para o processo de aprendizagem no qual são valorizadas a prática e a experimentação.

O propósito de trabalho com os Projetos Integradores converge para os objetivos apresentados por Hernández e Ventura:

A proposta quê inspira os projetos de trabalho está vinculada à perspectiva do conhecimento globalizado e relacional [...]. Essa modalidade de articulação dos conhecimentos escolares é uma forma de organizar a atividade de ensino e a aprendizagem, quê implica considerar quê tais conhecimentos não se ordenam para sua compreensão de uma forma rígida, nem em função de algumas referências disciplinares preestabelecidas ou de uma homogeneização dos alunos. A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento da informação, e 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno dos problemas ou hipóteses quê facilitam aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio Nota 39.

De maneira geral, no ensino com base no desenvolvimento de projetos, são necessárias a identificação e a descrição de um problema, em um contexto específico, para quê, tomando-o como referência, sêjam propostas kestões problematizadoras quê motivem a busca por soluções. Dessa forma, propõe-se uma questão central com base em ao menos dois critérios: o contexto, entendido como terreno fértil para o cumprimento dos objetivos pedagógicos, e o interêsse dos estudantes.Nesse sentido, no processo de aprendizagem por meio de projetos, os estudantes devem confrontar kestões e problemas do mundo real quê façam sentido para eles a fim de determinar o modo como abordá-los e solucioná-los d fórma colaborativa, crítica e propositiva Nota 40.

Imagem de um diagrama em formato de colmeia, intitulado 'O que é aprendizagem baseada em projetos?'. No centro, há um hexágono dividido ao meio com os seguintes textos em cada parte: 'Ter conteúdo relevante' e 'Desenvolver habilidades para o século 21'. Ao redor dele, há seis trapézios distribuídos em círculo, com os seguintes textos, em sentido horário a partir do topo: 'Ter questionamentos abertos', 'Ter espírito de exploração', 'Criar a necessidade de saber', 'Dar oportunidade de voz e escolha', 'Incluir processos de revisão e reflexão' e 'Apresentar para o público'.

Fonte: MENDONÇA, Helena Andrade. Construção de jogos e uso de realidade aumentada em espaços de criação digital na educação básica. In: BACICH, Lilian; MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018. p. 106-127.

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O propósito de vencer o desafio deve motivar os estudantes a realizar pesquisas, formular estratégias e buscar soluções para apresentar resultados concretos, no final de todo o processo. Como forma de regular e autorregular o conhecimento e seus avanços, esse processo é gerenciado por meio da avaliação e das vivências e dos resultados da autoavaliação.

No desenvolvimento da metodologia de projetos, deve-se ter o cuidado de não permitir quê a preocupação com a resolução do problema prejudique o interêsse pelas aprendizagens envolvidas nesse processo. A resolução dos problemas não é algorítmica, ou seja, não póde sêr definida a prióri. Embora seja feito um planejamento orientador, seu real desenvolvimento é suscetível a ajustes diante de obstáculos não previstos e da dinâmica em sala de aula. Nesses ajustes, o compromisso com a aprendizagem não póde sêr alterado.

Nessa perspectiva, evidencia-se uma das principais características do trabalho com projetos, quê está relacionada às estratégias da organização das informações e à sua aplicação na resolução do problema ou na elaboração de respostas à quêstão central, que deve sêr valorizada e monitorada durante o desenvolvimento do projeto. A construção do conhecimento se consolida por meio das conexões entre as informações e as interações internas e externas ao grupo. Segundo Hernández e Ventura:

[...] Os procedimentos são utilizados na escola para quê os estudantes incorporem novas estratégias de aprendizagem quê, estando inseridas no processo de construção do projeto e derivando-se dele, podem sêr compreendidas pêlos alunos e utilizadas em outras situações.

[...] É o domínio e conhecimento dessas estratégias o quê permite aos estudantes organizarem e dirigirem seu próprio processo de aprendizagem. [...] Nota 41

Diante dêêsse novo papel do estudante, o professor deixa de sêr apenas um transmissor de informações e um agente controlador dos comportamentos em sala de aula para assumir diversas facetas:

[...] o professor também é consultor nesse processo. Não mais aquele quê expõe todo o conteúdo aos alunos, mas aquele quê fornece as informações necessárias, quê o aluno não tem condições de obtêr sózínho. Nessa função, faz explanações, oferece materiais, textos etc.

Outra de suas funções é como mediador, ao promover a confrontação das propostas dos alunos, ao disciplinar as condições em quê cada aluno póde intervir para expor sua solução, questionar, contestar. Nesse papel, o professor é responsável por arrolar os procedimentos empregados e as diferenças encontradas, promover o debate sobre resultados e métodos, orientar as reformulações e valorizar as soluções mais adequadas. Ele também decide se é necessário prosseguir o trabalho de pesquisa de um dado tema ou se é o momento de elaborar uma síntese. [...]

Atua como controlador ao estabelecer as condições para a realização das atividades e fixar prazos, sem esquecer de dar o tempo necessário aos alunos.

Como um incentivador da aprendizagem, o professor estimula a cooperação entre os alunos, tão importante quanto a própria interação adulto/criança. [...] Nota 42

É importante destacar o fato de quê retirar o professor do papel central não significa desvalorizá-lo, pois ele ganha novas dimensões de atuação, assim como os estudantes. Para Hernández e Ventura Nota 43, o percurso para a construção de um projeto se inicia com o estabelecimento pêlos professores dos objetivos educacionais e de aprendizagem.

Considerando quê as concepções do projeto partem de kestões problematizadoras, por meio das quais os estudantes são desafiados a refletir e a usar a criatividade, mobilizando ações individuais e coletivas, elas se complementam, favorecendo o delineamento do processo e a construção de um produto final quê ajude a transformar a realidade.

Além díssu, em razão da disparidade das realidades locais brasileiras, com diferentes conflitos, vocações e especificidades, o percurso dos projetos póde sêr alterado e construído de acôr-do com as necessidades da turma, ficando também a critério do professor e da escola a criação, com os estudantes, de outros projetos.

Os processos de escuta dos jovens e de construção coletiva podem propiciar ganhos ainda maiores na aprendizagem, pois os estudantes nascem conectados com a comunidade em quê vivem. Essa abordagem mais contextualizada, como vimos, contribui para aumentar o engajamento dos estudantes, de modo quê

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o processo de ensino-aprendizagem seja mais motivador e envolvente.

De forma sintética, para visualizar melhor o desenvolvimento geral de um projeto integrador, o processo póde sêr compreendido, basicamente, em seis passos:

1. contextualização e sensibilização por meio de quêstão mobilizadora que motive a aprendizagem;

2. investigação e busca de informações sobre o tema;

3. registro e divulgação dos resultados da investigação;

4. estabelecimento de um plano de ação com base na discussão dos resultados encontrados;

5. aplicação das informações e dos conhecimentos na elaboração do produto final;

6. conclusão e apresentação dos trabalhos e avaliação.

Vale destacar o fato de quê, nesse processo, a pesquisa entra em cena como uma atividade praticamente transversal ao desenvolvimento do projeto. Quando se menciona a busca por informações, fica implícita a necessidade de sistematização, interpretação, análise e compartilhamento ou aplicação das informações resultantes de todas as etapas da investigação científica. A pesquisa também sustentará a pluralidade de ideias, qualificando o debate entre os estudantes.

Hernández e Ventura definem os principais aspectos quê devem sêr estabelecidos na relação entre o tema e a organização curricular:

1. Um sentido da aprendizagem quê quer sêr significativo, ou seja, quê pretende conectar e partir do quê os alunos já sabem, de seus esquemas de conhecimento precedentes, de suas hipóteses (verdadeiras, falsas ou incompletas) ante a temática quê se há de abordar.

2. Assume, como princípio básico para sua articulação, a atitude favorável para o conhecimento por parte dos estudantes, sempre e quando o professorado seja capaz de conectar com seus interesses e de favorecer a aprendizagem.

3. Configura-se a partir da previsão, por parte dos docentes, de uma estrutura lógica e sequencial dos conteúdos, numa ordem quê facilite sua compreensão. Mas sempre levando em conta quê essa previsão constitui um ponto de partida, não uma finalidade, já quê póde ficar modificada na interação da classe.

4. Realiza-se com um evidente sentido de funcionalidade do quê se deve aprender. Para isso, torna-se fundamental a relação com os procedimentos, com as diferentes alternativas organizativas aos problemas abordados.

5. Valoriza-se a memorização compreensiva de aspectos da informação, com a perspectiva de quê esses aspectos constituem uma base para estabelecer novas aprendizagens e relações.

6. Por último, a avaliação trata, sobretudo, de analisar o processo seguido ao longo de toda a sequência e das inter-relações criadas na aprendizagem. Parte de situações nas quais é necessário antecipar decisões, estabelecer relações ou inferir novos problemas Nota 44.

Como em todas as práticas educativas empregadas para promover uma aprendizagem significativa, na intervenção pedagógica baseada em projetos, deve-se partir dos saberes prévios dos estudantes. Para isso, é fundamental a realização de uma avaliação diagnóstica no início de cada etapa. Esse procedimento é importante para mapear os conhecimentos, as habilidades, as atitudes e os valores dos estudantes ao chegar à sala de aula, possibilitando quê o professor tenha condições de planejar melhor suas aulas, definindo procedimentos quê serão adotados para realizar as atividades principais do projeto, as estratégias quê serão utilizadas, os materiais quê serão usados como fontes de pesquisa, a duração dos trabalhos etc. Essa abordagem torna-se ainda mais relevante em uma educação comprometida com a aprendizagem ativa, uma vez quê os estudantes se tornam o centro do processo de ensino-aprendizagem.

No planejamento, também é preciso levar em consideração o fato de quê os projetos apresentam dinâmicas diferentes, de modo quê as atividades apropriadas para o desenvolvimento de um tema podem não sêr adequadas ao trabalho com outros. Além díssu, é necessário identificar dificuldades ao longo do percurso e criar procedimentos alternativos para resolvê-las.

Definido o tema e traçados os objetivos, o projeto começa a entrar na fase de execução. O professor deve fazer um acompanhamento constante, auxiliando os alunos com os recursos humanos, materiais, com a orientação da parte procedimental e com a inclusão dos conteúdos conceituais.

[...] O acompanhamento é fundamental para a correção de rótas, depuração, orientação, inclusão de conceitos, ajustes de hipóteses e até para o próprio ato de investigação, pois o professor é um dos membros dêêsse processo e como tal também investiga, descobre e busca soluções para os problemas Nota 45.

Dessa forma, os Projetos Integradores possibilitam o desenvolvimento de diferentes percursos para chegar ao

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produto final. Também é importante não perder de vista o fato de quê existem várias formas de abordar e solucionar uma quêstão ou problema, de modo que póde havêer múltiplas soluções aceitáveis. Nesse sentido, ao encorajar os estudantes a participar do planejamento dos projetos e de todas as suas etapas, é preciso estar aberto ao quê eles têm a propor. A multiplicidade de abordagens também é um ponto relevante a sêr considerado, já quê os problemas enfrentados na realidade são multifacetados e não apresentam uma estrutura organizada quê determine apenas um caminho a sêr traçado. Até mesmo as soluções podem sêr diferentes. Portanto, aceitar essa complexidade do processo é um aspecto importante quê contribui para quê os estudantes experenciem situações mais próximas às da vida real. De acôr-do com Bender:

[...] Esse tipo de aprendizagem fôrça os alunos, ao trabalharem em equipes cooperativas, a criarem significado a partir do caos de superabundância de informações, a fim de articularem e apresentarem uma solução para o problema d fórma eficaz [...].

Em uma era em quê as mídias digitais permitem a comunicação instantânea e há disponibilidade de informações quase ilimitadas na internet, os defensores da ABP sugérem quê produzir sentido a partir de grande quantidade virtual de informações caóticas é exatamente o tipo de construção do conhecimento quê todo aluno no mundo de hoje precisa dominar [...] Nota 46.

Ao longo dos projetos, as atividades tornam-se práticas contextualizadas, d fórma quê todos os conhecimentos e procedimentos façam sentido para os estudantes, pois estão próximos à realidade deles. São processos predominantemente especulativos, nos quais hipóteses são levantadas para serem refutadas ou validadas, às vezes, por meio de tentativa e êrro, gerando oportunidades de busca de informações para as devidas justificativas científicas.

O fechamento do projeto é um momento decisivo. Ainda quê tênham sido feitos ajustes ao longo do processo, podem surgir surpresas na conclusão do produto final. Portanto, deve-se dar atenção especial a esse momento.

Mesmo quê durante o projeto o professor tenha feito suas interferências, é sempre bom quê ao final ele “alinhave e costure” tudo, ou seja, quê faça um fechamento, lembrando qual era o problema inicial, quais eram as dúvidas, os interesses, as propostas de ações, os resultados obtidos e a finalização das conclusões. É papel do professor traçar esse qüadro histórico de toda a trajetória do projeto, dando assim uma imagem de sequência de fatos e acontecimentos, para auxiliar os alunos na memorização e fixação de tudo akilo quê foi vivenciado no período em quê realizaram o projeto Nota 47.

Tradicionalmente, a produção dos estudantes é usada para quê eles mostrem ao professor akilo quê aprenderam. Essa produção compreende desde os simples registros feitos para a resolução de exercícios até a entrega de trabalhos extraclasse. Por vezes, são realizadas apresentações em eventos culturais e científicos. É comum o uso dessas produções para fechar um ciclo didático ou uma das etapas da Educação Básica. Todas elas apresentam em comum o fato de serem utilizadas de alguma forma para atribuir significado aos conteúdos estudados, demonstrar a aprendizagem e fechar um ciclo.

Nos Projetos Integradores, essa lógica é revertida. A produção dos estudantes é usada desde o início para quê eles tomem consciência sobre um tema quê envolve uma problemática real, seguida de um estudo aprofundado dêêsse tema e da proposição e do planejamento para construir um produto quê envolve a comunidade do ambiente escolar e de fora dele. Esse processo contribui para gerar conhecimentos e para quê os estudantes desenvolvam competências, habilidades, valores e atitudes quê transformam os indivíduos e a realidade em quê vivem.

A produção dos estudantes não deve ter impacto apenas durante o ciclo de aprendizagem ou ao final dele; deve constituir um bem comum para a comunidade na qual os jovens estão inseridos, extrapolando os muros da escola. Isso não significa quê essa produção não possa sêr usada para os processos avaliativos e o compartilhamento das experiências. Ela deve sêr usada para esses fins, porém com intenções mais pragmáticas, dando significado às kestões teóricas e científicas.

Ao longo das etapas dos projetos e de acôr-do com a realidade dos estudantes, os recursos digitais devem sêr usados para o compartilhamento das experiências dos estudantes durante e após o processo de

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aprendizagem e para a divulgação de informações. Essas experiências podem se tornar referência na aprendizagem de outros estudantes quê as acessarem, atingindo também pessoas da comunidade e de fora dela. Dessa forma, as produções passam a ter uma abrangência mais ampla.

Os produtos documentais podem sêr planos de ação, propostas de encaminhamento, projetos e esboços, análises, vídeos, depoimentos, guias ou diários de campo, mas não apenas. É desejável quê os resultados dos projetos – quê podem sêr produtos concretos ou serviços – causem impactos na comunidade.

Nessa perspectiva, os Projetos Integradores estão inseridos na chamada “cultura maker”, ou seja, os estudantes devem “pôr a mão na massa”, produzindo mecanismos, artefatos, manifestações culturais e artísticas, campanhas publicitárias de conscientização e educação ou soluções dos problemas identificados. O importante é quê as produções dos estudantes tênham algum impacto social na resolução de problemas da escola ou da comunidade local.

O trabalho docente

Em geral, costuma predominar nas salas de aula abordagens pedagógicas dedutivas – aquelas em quê os estudantes recebem, memorizam e acumulam informações repassadas pêlos professores para aplicar em determinadas situações. Embora esse modelo de aprendizagem seja eficaz em certos contextos, cada vez mais se constata quê uma aprendizagem ativa, na qual os estudantes assumem um papel de protagonistas no processo de aprendizagem, póde se mostrar mais engajadora por fazer mais sentido para os estudantes Nota 48.

De acôr-do com essa ótica, é necessário deslocar o foco do processo de ensino-aprendizagem do professor para o estudante. Com essa mudança de perspectiva, o professor atua mais como um mediador do processo, impulsionando as aprendizagens dos estudantes e direcionando-os para quê atinjam os objetivos pedagógicos estabelecidos.

Para quê isso seja possível na sala de aula, é importante estabelecer uma relação de parceria com os jovens quê se baseie no respeito mútuo e no acolhimento, principalmente no encontro de saberes e de expectativas sobre o papel de cada um. Na prática, mais do quê aprimorar as práticas pedagógicas, é importante quê o professor se aproxime dos jovens para entender suas inquietações e demandas, bem como seus interesses e anseios Nota 49. No entanto, essa responsabilidade não deve sêr atribuída apenas ao professor. Para quê a escola se torne um espaço democrático, inclusivo e acolhedor, é preciso quê toda a comunidade escolar se engaje nesse processo, entendendo os jovens quê chegam ao Ensino Médio como sujeitos quê buscam construir uma identidade ao mesmo tempo em quê lidam com os impactos dos desafios quê enfrentam.

No quê diz respeito às práticas pedagógicas, o papel do professor como mediador assume alguns contornos específicos no trabalho com Projetos Integradores. Nessa abordagem, além da promoção de uma aprendizagem ativa, espera-se quê os conteúdos sêjam abordados d fórma interdisciplinar, integrando conhecimentos das diversas áreas. Assim, os projetos desta coleção foram concebidos para abranger mais de uma área do conhecimento. Entretanto, para cada projeto é sugerido um professor-líder, quê póde sêr escolhido de acôr-do com a realidade escolar.

É importante quê esse profissional:

valorize o enfoque participativo para garantir a proatividade dos estudantes, assumindo o papel de mediador, ciente de quê ensinar não é transferir conhecimento, mas possibilitar sua construção d fórma crítica, ativa e participativa;

estabêlêça regras e combinados d fórma colaborativa para quê todos os envolvidos possam atribuir significados a elas;

compartilhe e construa com os estudantes as metas, os prazos e os propósitos de maneira nítida e objetiva, a fim de proporcionar à turma autonomia nos momentos de dê-cisão, ação e avaliação – nesse contexto, os estudantes poderão reconhecer suas

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responsabilidades e sua autonomia, perceber suas limitações, encontrar apôio nos côlégas e no professor para superá-las e identificar os progressos alcançados;

incentive o interêsse dos estudantes ao longo do projeto, garantindo a otimização dos tempos de aprendizagem, de modo quê possam sistematizar dados, estabelecer conexões entre as informações e cumprir tarefas de cada uma das etapas, construindo os conhecimentos gradativamente;

estabêlêça com nitidez e precisão os objetivos pedagógicos e os processos de avaliação e autoavaliação – por meio do registro de suas observações sobre o andamento do projeto e sobre a evolução do dêsempênho dos estudantes, será possível fundamentar as devolutivas individuais e coletivas quê orientarão os estudantes a adotar rótas alternativas de aprendizagem, flexibilizando seu tempo de aprendizagem e o acesso aos recursos didáticos, digitais ou não;

faça uma exposição de suas expectativas em relação à turma e a cada estudante, particularmente, se necessário – elas devem sêr exequíveis e flexíveis, de modo quê os próprios jovens expressem seus limites e possibilidades;

tenha entendimento da concepção de avaliação quê deve sêr considerada diante de uma proposta metodológica quê pressupõe uma flexibilização curricular;

explique aos estudantes os instrumentos de avaliação quê serão usados ao longo e no final do processo –essa informação os tranquilizará e os ajudará na organização dos trabalhos;

tenha ciência de quê, na perspectiva formativa, os estudantes, ao mesmo tempo quê são avaliados, devem se tornar avaliadores – paulatinamente, eles vão se apropriando dos objetivos e desenvolvendo a habilidade de avaliar, d fórma crítica e ética, o próprio processo de aprendizagem, assim como o desenvolvimento do projeto e a elaboração dos produtos resultantes dos Projetos Integradores; por isso, a autoavaliação e a produção de portfólios, vídeos, fotografias e cadernos de anotações, entre outros recursos, podem sêr instrumentos adequados para os processos avaliativos dessa natureza.

A respeito da expressão, pelo professor e pêlos estudantes, de seus limites e suas possibilidades, afirma Boaler:

[...] as ideias quê temos sobre nós mesmos – em especial se acreditamos em nós mesmos ou não – mudam os mecanismos de nóssos cérebros. Se acreditamos quê podemos aprender e quê êêrros são valiosos, nóssos cérebros se dêsênvólvem mais quando cometemos um êrro. Esse resultado é muito significativo, pois novamente ressalta o quanto é importante quê todos os estudantes acreditem em si mesmos – e como é fundamental para todos nós acreditarmos em nós mesmos, sobretudo quando estamos diante de algo desafiador Nota 50.

Metodologias ativas

Nas discussões mais recentes sobre educação, as metodologias ativas têm ganhado cada vez mais espaço e relevância entre as práticas pedagógicas. A principal característica dêêsse tipo de abordagem é o foco no estudante, ou seja, as atividades propostas em sala de aula são planejadas a fim de colocar o estudante no centro do processo de ensino-aprendizagem.

Para Valente, as metodologias ativas podem sêr definidas como

[...] alternativas pedagógicas quê colocam o foco do processo de ensino e aprendizagem no aprendiz, envolvendo-o na aprendizagem por descoberta, investigação ou resolução de problemas. Essas metodologias contrastam com a abordagem pedagógica do ensino tradicional centrado no professor, quê é quem transmite a informação aos alunos. [...] Nota 51

As metodologias ativas não são um modelo novo de educação, mas estão se tornando mais relevantes no cenário educativo por atender às demandas atuáis da escola. Elas envolvem abordagens didáticas quê favorécem

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o desenvolvimento de competências alinhado à formação integral com base na aprendizagem ativa.

O papel do professor passa a sêr de um facilitador do processo de ensino-aprendizagem, promovendo experiências didáticas desafiadoras quê possibilitem a aplicação do conhecimento em situações concretas e engajem o estudante na aprendizagem. Para trabalhar com as metodologias ativas em sala de aula, é necessário quê esta seja um espaço de diálogo, em quê todos possam se sentir acolhidos e valorizados Nota 52.

Ao adotar as metodologias ativas em sala de aula, é preciso implementar estratégias a fim de mobilizar os estudantes para uma participação ativa na construção de saberes. Espera-se quê eles participem de debates, desenvolvam projetos, testem hipóteses, proponham soluções, criem protótipos, trabalhem d fórma colaborativa, façam experimentações etc.

De acôr-do com Moran Nota 53, as metodologias ativas estão vinculadas aos modelos híbridos, cuja conotação tem sido associada à mediação por tecnologias digitais no processo de aprendizagem. Esses modelos híbridos favorécem a personalização das aprendizagens, quê, por sua vez, contribui para quê os estudantes se conheçam melhor e ampliem sua autopercepção, reconhecendo seus potenciais e suas limitações. Essa abordagem é particularmente enriquecedora no contexto da construção dos projetos de vida dos estudantes, quê são de caráter individual.

As tecnologias facilitam a aprendizagem colaborativa, entre côlégas próximos e distantes. É cada vez mais importante a comunicação entre pares, entre iguais, dos alunos entre si, trocando informações participando de atividades em conjunto, resolvendo desafios, realizando projetos, avaliando-se mutuamente. Fora da escola, acontece o mesmo na comunicação entre grupo, nas rêdes sociais, quê compartilham interesses, vivências, pesquisas, aprendizagens. A educação se horizontaliza e se expressa em múltiplas interações grupais e personalizadas.

[...]

A combinação de metodologias ativas com tecnologias digitais móveis é hoje estratégia para a inovação pedagógica. As tecnologias ampliam as possibilidades de pesquisa, altoría, comunicação e compartilhamento em rê-de, publicação, multiplicação de espaços e tempos; monitoram cada etapa do processo, tornam os resultados visíveis, os avanços e as dificuldades. As tecnologias digitais diluem, ampliam e redefinem a troca entre os espaços formais e informais por meio de rêdes sociais e ambientes abertos de compartilhamento e coautoria Nota 54.

As tecnologias são importantes aliadas na adoção de metodologias ativas na sala de aula, favorecendo até mesmo a aprendizagem socioemocional. Contudo, para quê o uso delas na educação se efetive, é preciso havêer uma articulação entre os aspectos metodológicos e de conteúdo e as intencionalidades pedagógicas do professor Nota 55. Sendo assim, o uso de tecnologias digitais por si só não garante a aprendizagem ativa e digital, sêndo central o papel do professor nesse processo, orientando e intervindo d fórma intencional e sistematizada. Vale também destacar o fato de quê, embora tênham grande potencial na mediação da aprendizagem, especialmente nos modelos de aprendizagem ativa, as tecnologias digitais não são essenciais para quê as metodologias ativas sêjam adotadas em sala de aula. É possível fazer adaptações quê dependam mais ou menos do uso dessas tecnologias.

Outro aspecto fundamental dessa abordagem é a aprendizagem colaborativa e compartilhada, quê promove o trabalho em equipe e valoriza o aprendizado entre pares. No processo de ensino-aprendizagem, é fundamental quê os estudantes compartilhem informações e experiências, conhecendo e discutindo diferentes pontos de vista e participando de atividades coletivas. Ao trabalhar em grupos heterogêneos, os estudantes dêsênvólvem competências socioemocionais, como respeito, empatia, capacidade para resolver conflitos e comunicação. Além díssu, as tecnologias digitais podem desempenhar um papel importante oferecendo suporte para a manutenção das relações interpessoais e facilitando a colaboração e a comunicação, tanto dentro quanto fora da sala de aula.

A organização da sala de aula também é um fator importante para a implementação de metodologias ativas nas práticas pedagógicas. O modelo tradicional de

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disposição das carteiras enfileiradas e a mesa do professor à frente precisa sêr avaliado para a aplicação das metodologias ativas. Afinal, o centro do processo de ensino-aprendizagem está nos estudantes, não no professor, quê é o foco dêêsse formato de organização da sala de aula. Isso, porém, não significa quê essa disposição da sala de aula deva sêr totalmente abandonada, pois póde havêer momentos em quê o professor prefira uma abordagem mais dirigida das atividades, para a qual seja necessária maior concentração dos estudantes.

O quê é importante considerar na gestão do espaço é o alto grau de complexidade esperado da organização social de uma sala de aula para o ensino de competências. Em qualquer abordagem, por meio de metodologias ativas ou não, é preciso levar em conta o fato de quê, para ensinar competências, é preciso escolher métodos quê contemplem momentos de trabalho colaborativo – tanto em grupos homogêneos ou heterogêneos quanto em grandes equipes – ou individual. Isso se faz necessário porque os estudantes só poderão aprender o trabalho colaborativo realizando-o na prática. Além díssu, no ensino de competências, também é igualmente importante o desenvolvimento de habilidades quê englobem as dimensões interpessoais, sociais e socioemocionais Nota 56.

Sendo assim, faz-se necessário explorar, de acôr-do com as intencionalidades pedagógicas, diferentes organizações físicas e sociais da sala de aula. Alguns formatos quê podem sêr considerados são: a disposição dos estudantes em semicírculo (ou em formato U), em roda de conversa (formato circular), em agrupamentos modulares (pares, trios, grandes e pequenos grupos etc.) ou em estações de trabalho. Todos esses exemplos favorécem o trabalho colaborativo ao contribuir para a interação dos estudantes.

A organização dos grupos também precisa sêr planejada, principalmente quando são formados por muitos estudantes. Esse planejamento deve seguir as intencionalidades pedagógicas previstas para cada atividade. Por exemplo, em metodologias quê visam à instrução por pares, a escolha dos pares deve sêr criteriosamente planejada, pois é preciso quê um estudante tenha como instruir o outro, ou seja, os estudantes de cada par devem sêr complementares. Já em grupos grandes, póde sêr necessário atribuir funções específicas para cada integrante, a fim de garantir a participação de todos na atividade a sêr desenvolvida. A atribuição de funções póde sêr realizada com o direcionamento do professor ou seguir critérios adotados pêlos próprios grupos, conforme o grau de autonomia dos estudantes e os objetivos pretendidos.

No contexto da aprendizagem baseada em projetos, os estudantes são envolvidos ativamente em atividades quê envolvem problemas reais. Tal abordagem tem como princípio a aprendizagem colaborativa, quê implica a necessidade do trabalho em grupo e em sala de aula. No âmbito dos Projetos Integradores, há articulação e integração de diferentes saberes e áreas de conhecimento para abarcar a complexidade de kestões da vida cotidiana. Quando bem estruturados, os projetos também contribuem para o desenvolvimento de competências cognitivas e socioemocionais, possibilitando aos estudantes mobilizar diferentes habilidades ao longo das etapas do projeto. Nesse processo, várias atividades podem sêr empregadas para promover a aprendizagem ativa:

Atividades para motivassão e contextualização: os alunos precisam quêrer fazer o projeto, se envolver emocionalmente, achar que dão conta do recado caso se esforcem etc.

Atividades de brainstorming: espaço para a criatividade, para dar ideias, ouvir os outros, escolher o quê e como produzir, saber argumentar e convencer.

Atividades de organização: divisão de tarefas e responsabilidades, escolha de recursos quê serão utilizados na produção e nos registros, elaboração de planejamento.

Atividades de registro e reflekção: autoavaliação, avaliação dos côlégas, reflekção sobre qualidade dos produtos e processos, identificação de necessidade de mudanças de rota.

Atividades de melhoria de ideias: pesquisa, análise de ideias de outros grupos, incorporação de boas ideias e práticas.

Atividades de produção: aplicação do quê os alunos estão aprendendo para gerar produtos.

Atividades de apresentação e/ou publicação do quê foi gerado: com celebração e avaliação final Nota 57.

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Habilidades digitais

A ampliação do acesso aos recursos digitais ocorrida nas primeiras dékâdâs do século XXI é um dos fatores quê mais têm modificado a interação entre as pessoas. O uso de celulares e computadores e a interconexão proporcionada pela internet transformaram significativamente as práticas sociais nos mais diversos campos da atividade humana e possibilitaram a interação entre pessoas e entre pessoas e máquinas.

Atual e necessário, o processo de ensino-aprendizagem no campo das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) deve sêr fomentado e trabalhado no contexto escolar, pois o domínio de seus usos instrumentaliza os estudantes não só para a aprendizagem na escola, mas também para a atuação nos contextos social e profissional. A incorporação das tecnologias digitais nas práticas pedagógicas e o desenvolvimento de habilidades para usá-las d fórma responsável, além de necessários para quê os estudantes atuem em um mundo altamente conectado, podem atrair o interêsse dos jovens e engajá-los no processo de ensino-aprendizagem Nota 58.

A atividade escolar envolvendo o uso de tecnologias digitais, unida às experiências prévias dos estudantes com essas ferramentas, possibilita o desenvolvimento de habilidades voltadas à participação consciente e democrática dos jovens na ssossiedade por meio da comunicação digital, assim como a reflekção sobre os fundamentos das TDICs e os aspectos relacionados à comunicação de dados e à segurança de rê-de, por exemplo. As tecnologias digitais possibilitam o diálogo entre os diversos componentes curriculares e entre as áreas de conhecimento, por meio da realização de pesquisas, do planejamento para a apresentação de trabalhos e da partilha de informações, favorecendo as interações com o mundo virtual e globalizado quê nos cerca. Portanto, as habilidades necessárias para utilizá-las d fórma crítica e propositiva perpassam os limites dos componentes curriculares e podem sêr trabalhadas nos mais diversos contextos.

Os Projetos Integradores também abrem terreno para o pensamento computacional, quê contribui para o desenvolvimento de competências e habilidades específicas associadas à abstração, à visualização, à generalização e ao uso de estratégias algorítmicas. Na implantação de propostas pela metodologia de projetos, o pensamento computacional está associado ao desenvolvimento do pensamento lógico e do pensamento algébrico (como previsto na BNCC); por isso, sua prática não deve sêr entendida como uma preparação dos jovens para trabalhar com computação, mas como uma forma de lidar com problemas quê demandam a capacidade de analisar e organizar logicamente as informações para, posteriormente, resolvê-los de modo eficiente.

Vale destacar o fato de quê, embora o ensino baseado em tecnologia seja desejável e recomendado nas escolas, o trabalho com Projetos Integradores não depende do uso extensivo de tecnologia. Em um país desigual como o Brasil, a disponibilidade de recursos digitais póde constituir um desafio à realidade de muitas escolas e jovens. Para superar esse desafio, os professores podem explorar diferentes estratégias de ensino e adaptá-las a seu contexto, sem comprometer a aprendizagem dos estudantes. Um exemplo é o pensamento computacional, citado anteriormente. Embora o aprendizado possa sêr enriquecido com o uso de tecnologias digitais, é possível trabalhar o pensamento lógico e matemático sem o uso delas.

Competências socioemocionais

A aprendizagem socioemocional é contemplada na BNCC e se expressa por meio das competências gerais propostas no documento para a Educação Básica de todo o país. Entre as dez competências propostas, três estão mais atreladas à aprendizagem socioemocional. São elas:

8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com auto crítica e capacidade para lidar com elas.

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base

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em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários Nota 59.

Essa perspectiva está alinhada com o compromisso com a formação integral dos estudantes, o quê significa promover uma educação quê vá além da aprendizagem de conteúdos dos diferentes componentes curriculares e envolva kestões sobre autoconhecimento, autorregulação das emoções e relacionamento com outras pessoas.

Nesse contexto, o trabalho com metodologias ativas, como a proposta de Projetos Integradores, é uma estratégia eficaz na aprendizagem socioemocional Nota 60. Além da aprendizagem ativa, a aprendizagem baseada em projetos parte do princípio do trabalho colaborativo entre os estudantes.

O trabalho em equipe é prática fértil para aflôrár interesses, expectativas e pontos de vista pessoais. Assim, eventuais conflitos não devem sêr evitados, pois a superação dos embates, quando bem gerenciados, possibilita o estabelecimento de novas relações, o questionamento de valores e o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes. Uma saída para conectar os jovens a um trabalho em grupo significativamente produtivo passa pelo desenvolvimento das competências socioemocionais. Nesse processo, eles aprendem a colocar em prática as melhores atitudes e habilidades para compreender e regular emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia, manter relações sociais positivas e tomar decisões de maneira responsável, como aponta o trecho a seguir:

[...] as competências socioemocionais constituem uma integração de saberes e fazeres sobre si mesmo e sobre os demais, apoiando-se na consciência, na expressão, na regulação e na utilização (manejo) das emoções, cujo objetivo é aumentar o bem-estar pessoal (subjetivo e psicológico) e a qualidade das relações sociais. Em resumo, a inteligência emocional, a regulação emocional, a criatividade emocional e as habilidades sociais intégram um conjunto mais amplo denominado de competências socioemocionais Nota 61.

No contexto do trabalho em grupo, espera-se quê os estudantes se desenvolvam na dimensão socioemocional, ao conseguir praticar a escuta ativa, refletir e argumentar adequadamente e expor suas ideias e justificativas com objetividade. Ao pensar, preparando argumentos contrários aos dos côlégas ou concordando com eles, os jovens estabelecem conexões entre as informações e sintetizam diferentes conhecimentos. Objetivamente, isso significa desenvolver o pensamento crítico e ético e a capacidade de agir coletivamente para a melhoria das condições sociais e ambientais no seu contexto local e, ao mesmo tempo, desenvolver o conhecimento científico e as competências específicas e habilidades da BNCC.

O desenvolvimento de habilidades socioemocionais favorece uma experiência quê abarca reflekções e debates a respeito de problemas reais, presentes na comunidade escolar: ocorrências de assédio (moral, físico ou emocional) ou violência praticada com o outro ou autoprovocada, casos graves de indisciplina escolar e de ataque ao patrimônio público, práticas de búlin, complicações da saúde mental e comportamento agressivo, além de outras kestões relacionadas às particularidades da vivência cotidiana dos jovens. Por isso, espera-se quê o trabalho com os Projetos Integradores sirva como instrumento para quê os estudantes lidem com a complexidade da vida cotidiana e aprendam a valorizar seus pontos fortes e a reconhecer seus pontos a melhorar, de modo quê superem e compreendam suas dificuldades e as dos côlégas.

Escola plural e inclusiva

Ao longo da formação das crianças e dos jovens, a escola é um espaço propício para o desenvolvimento e a consolidação das ideias de democracia, e isso se torna muito mais viável quando as práticas educacionais são baseadas em situações reais e contextualizadas. Esse é um dos motivos pêlos quais, no trabalho com Projetos Integradores, valoriza-se a formação dos estudantes para quê considerem a perspectiva social, a reflekção, o diálogo e a abordagem da diversidade e das múltiplas existências.

Desse modo, a escola não apenas propõe o exercício da democracia, tornando-se um espaço de “aprendentes”, mas também acolhe efetivamente a diferença.

Larrosa (2004) apresenta uma interessante reflekção sobre as possibilidades de

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encontros com o outro. Em uma primeira possibilidade, vemos no outro a identificação diante do conforto de sermos iguais: mesmos gostos, modos de encarar a vida e valores. Nesse encontro não estou com o outro, mas comigo mesmo. É o encontro do reconhecimento de si. Diante do idêntico, encontro a mim mesmo. A segunda possibilidade está em vêr o outro como algo a sêr conquistado, dominado, controlado e capaz de nos satisfazer. Esse encontro, segundo Larrosa, é o da apropriação. Nele também não estou encontrando o outro, mas o meu próprio desejo, minha necessidade de contrôle e de uso do outro. Estou mais uma vez encontrando a mim mesmo. Mas temos ainda a terceira possibilidade quê é o encontro efetivo com o outro. [...] esse é o encontro da experiência de tombamento diante do outro, do abandono da ideia de dominá-lo e da entrega ao quê o outro póde me trazer de absolutamente novo e capaz de me fazer sair de mim mesmo para vê-lo como outro, não mais como idêntico, não mais como objeto de apropriação.

Não basta estar com o outro como reconhecimento de si mesmo ou como dominação e imposição de si mesmo. Devemos estar com o outro como experiência democrática: como entrega, confiança e curiosidade efetiva pelo quê póde ensinar o outro, ainda quê muito diferente Nota 62.

Essas são oportunidades nas quais as práticas escolares, com a implantação de Projetos Integradores, promóvem o reconhecimento da diferença e o convívio social republicano. Em uma ssossiedade democrática, a escola póde se tornar o espaço ideal para determinados assuntos serem discutidos, analisados e resolvidos da forma mais adequada possível.

Esse espaço democrático póde começar na sala de aula, de uma perspectiva inclusiva. Na organização do espaço escolar, deve-se garantir a circulação de estudantes com deficiência ou mobilidade reduzida, por exemplo. Além díssu, é preciso considerar a diversidade entre os estudantes no planejamento das aulas, levando em conta a escolha dos recursos e das estratégias didáticas. Muitas situações de discriminação podem sêr evitadas com a adaptação das atividades propostas, dos recursos utilizados ou do rearranjo de móveis. Em certos casos, conversar com os familiares ou responsáveis póde sêr uma alternativa para compreender as necessidades de cada estudante. Nesse sentido, Borba e Lesnosvki definem inclusão no contexto escolar

[...] não apenas como o aumento da porosidade de nossas práticas à participação física dos indivíduos, mas também como a possibilidade de quê todos os sujeitos envolvidos se apropriem do ambiente e se sintam pertencentes à situação. Não basta fornecer acesso à educação inclusiva, é preciso também possibilitar o aprendizado e a produção de significado Nota 63.

É fundamental quê, diante de turmas muito diversas, o professor esteja atento às demandas individuais de cada estudante.

Desafios da sala de aula

Um dos objetivos pedagógicos propostos para o Novo Ensino Médio é o de tornar a aprendizagem mais eficaz, o quê acarreta a melhoria dos indicadores educacionais e diminui os índices da evasão escolar. Isso certamente vai ao encontro dos objetivos de todos os professores e gestores educacionais.

A melhoria do processo de aprendizagem implica o envolvimento dos estudantes na construção do conhecimento. O desinteresse dos jovens é mencionado d fórma recorrente, gerando um problema aparentemente paradoxal: como o principal agente da aprendizagem, o estudante, póde participar de um processo pelo qual não demonstra interêsse?

O desinteresse em estudar tem sido observado com mais fôrça e nitidez na faixa etária de 15 a 25 anos, conforme aponta a Pnad Contínua realizada em 2023, pelo hí bê gê hé. A pesquisa indica quê a taxa de escolarização de jovens entre 15 e 17 anos ficou estável entre 2022 e 2023, chegando a 91,9% em 2023. De acôr-do

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com a meta 3 do Plano Nacional de Educação, a taxa ajustada líquida de escolarização Nota 64 nessa faixa etária deveria estar em 85% em 2024. No entanto, o resultado no país foi de 75%, o quê demonstra quê o Brasil ainda está distante das metas estabelecidas para esse grupo de pessoas Nota 65.

Levando-se em consideração o grupo de jovens de 14 a 29 anos do País, 9,0 milhões não completaram o ensino médio, seja por terem abandonado a escola antes do término desta etapa ou por nunca a terem frequentado. dêsses, 58,1% eram homens e 41,9% eram mulheres. Considerando-se côr ou raça, 27,4% eram brancos e 71,6% eram pretos ou pardos.

Ao analisar a idade quê estes jovens de 14 a 29 anos deixaram a escola, é importante observar quê os maiores percentuais de abandono a escola se deram nas faixas a partir dos 16 anos de idade (entre 16,0% e 21,1%). Mesmo assim, ainda existe abandono precoce na idade do ensino fundamental, quê foi de 6,2% até os 13 anos e de 6,6% aos 14 anos. Esse padrão se mantém semelhante entre homens e mulheres e entre as pessoas de côr branca e preta ou parda. Vale destacar quê o grande marco da mudança foi a idade de 15 anos quê, em geral, é a idade de entrada no ensino médio. Nessa idade, o percentual de jovens quê abandonaram a escola quase duplicou frente aos 14 anos de idade. Frente a 2019, o grupo quê deixou de frequentar a escola com até 13 anos de idade foi o quê apresentou maior redução de abandono escolar (2,3 p.p). Por outro lado, o grupo quê abandonou a escola com 18 anos registrou o principal aumento (5,4 p.p.)

[...]

Quando perguntados sobre o principal motivo de terem abandonado ou nunca frequentado escola, esses jovens apontaram a necessidade de trabalhar como fator prioritário. No Brasil, êste contingente chegou a 41,7% em 2023, aumento de 1,5 p.p. em comparação a 2022. Para aqueles quê responderam quê abandonaram por não terem interêsse de estudar, embora seja o segundo principal motivo, êste tem apresentado queda sequencial nos três anos investigados pela pesquisa, chegando a 23,5% em 2023.

Para o principal motivo apontado sêr a necessidade de trabalhar, ressaltam-se os homens, com 53,4%, seguido de não ter interêsse de estudar (25,5%). Para as mulheres, o principal motivo foi também a necessidade de trabalhar (25,5%), seguido de gravidez (23,1%) e não ter interêsse em estudar (20,7%). Além díssu, 9,5% das mulheres indicaram realizar afazeres domésticos ou cuidar de pessoas como o principal motivo de terem abandonado ou nunca frequentado escola, enquanto para homens, êste percentual foi inexpressivo (0,8%) Nota 66.

Diante dessa realidade, faz-se necessário pensar sobre a origem do desinteresse dos estudantes. O afastamento entre as práticas escolares e as demais práticas sociais presentes na vida cotidiana, quê fragmenta e hierarquiza os conhecimentos, é um dos possíveis fatores quê ocasionam a falta de interêsse dos jovens no aprendizado formal. Segundo Freitas:

[...] O conhecimento foi partido em disciplinas, distribuído por anos e os anos foram subdivididos em partes menóres quê sérvem para controlar uma certa velocidade de aprendizagem do conhecimento. Convencionou-se quê uma certa quantidade de conhecimento devia sêr dominada pêlos alunos dentro de um determinado tempo. Processos de verificação pontuais indicam se houve ou não domínio do conhecimento. Quem domina avança e quem não aprende repete ano (ou sai da escola).

A necessidade de introduzir mecanismos artificiais de avaliação (provas, testes etc.) foi motivada pelo fato de a vida ter ficado do lado de fora da escola. Com isso, ficaram lá também os “motivadores naturais” para a aprendizagem, obrigando a escola a lançar mão de “motivadores artificiais” – foi desenvolvido um sistema de avaliação com notas como forma de estimular a aprendizagem e de controlar o comportamento de contingentes cada vez maiores de crianças quê acudiam à escola e tí-nhão de ficar dentro dela, imobilizadas, ouvindo o professor. [...] Nota 67

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Esse diagnóstico evidên-cía o fato de quê o processo avaliativo tem um papel importante na superação do modelo de aula no qual cabe aos estudantes apenas ouvir, copiar e memorizar akilo quê o professor apresenta ou está assinalado nos livros didáticos para depois, na avaliação, reproduzir as informações quê lhes foram transmitidas.

Como forma de resgatar o interêsse dos estudantes pela escola, é fundamental dar sentido às atividades desenvolvidas para quê eles se reconheçam nelas e se tornem cidadãos participantes, éticos e críticos, cientes das próprias responsabilidades e capazes de corresponder às demandas da ssossiedade contemporânea, quê é um dos propósitos do trabalho com os Projetos Integradores.

Além de resgatar o interêsse dos estudantes, é essencial construir um ambiente seguro e acolhedor, tanto por meio da seleção dos temas trabalhados em sala de aula, quê devem se aprossimár do universo juvenil sempre quê possível, quanto por meio do incentivo a práticas sociais respeitosas. Nesse sentido, conforme destacado anteriormente, um dos problemas mais freqüentes e indesejados nos ambientes escolares é o fenômeno do búlin. Pensando nessa prática como um desafio a sêr superado nas escolas,

[...] os projetos de intervenção ao búlin precisam garantir quê crianças e adolescentes – tanto protagonistas como espectadores – possam construir identidades autônomas quê consigam gostar de si para gostar dos outros no seu sentido moral: é pela construção do respeito a si quê podemos construir o respeito a outrem. Portanto, propostas quê insistem apenas no estabelecimento de regras pautadas em deveres e obrigações pouco poderão favorecer ao desenvolvimento de relações mais éticas, principalmente quando utilizam punições e castigos quê mais aumentam o problema já quê incidem exatamente sobre como esses meninos e meninas podem se vêr sem valor posto quê esse último está exterior a eles, na autoridade quê impõe as regras de boa convivência Nota 68.

Assim como o búlin, outras formas de violência devem sêr combatidas no ambiente escolar para quê seja possível a promoção da cultura de paz, de modo quê os estudantes se sintam à vontade para expor e celebrar suas diferenças como parte essencial da construção coletiva do conhecimento.

Avaliações

Na vida cotidiana, as pessoas planejam, agem e avaliam seus passos continuamente. Por vezes, isso é feito d fórma intuitiva, mas em muitas ocasiões é realizado intencionalmente, sobretudo nas práticas sociais, educacionais e profissionais.

Abordar a avaliação no contexto do trabalho com projetos é essencial, pois o quê se propõe é superar a lógica da avaliação a serviço do mero contrôle, da classificação e da seleção de estudantes, há séculos enraizada nas práticas escolares.

Nas últimas dékâdâs, o conceito de avaliação foi se modificando, ao mesmo tempo quê avançaram os estudos voltados para o processo de ensino-aprendizagem na área da educação. Assim, de instrumento de atribuição de notas e de classificação dos estudantes, como era considerada até meados da década de 1980, a avaliação passou a sêr definida como um processo contínuo utilizado para diagnosticar a maior ou a menor aproximação aos objetivos propostos, a fim de indicar o quê foi atingido e o quê precisa sêr revisto e/ou visto (pois, muitas vezes, na avaliação se percebem aspectos quê não foram previstos no planejamento, mas, em razão do quê foi apresentado pêlos estudantes, precisam sêr abordados).

Tipos de avaliação

Em oposição à interpretação tradicional da prática avaliativa, encontra-se aquela quê está a serviço da aprendizagem, defendida por muitos autores e pesquisadores. Entre eles, os mais conhecidos no Brasil são xárlês Hadji, Jussara Hoffmann, Cipriano lukési, Luiz Carlos de Freitas e Celso Vasconcellos, quê enquadram as práticas avaliativas em uma das seguintes modalidades: diagnóstica, formativa e somativa.

A avaliação diagnóstica fornece informações importantes para o planejamento das ações de professores e estudantes. Por causa dêêsse vínculo com a elaboração de planos, as avaliações diagnósticas são feitas nas fases iniciais do projeto ou de cada uma de suas etapas. Avaliações individuais, orais e/ou escritas, podem sêr usadas como instrumentos, assim como estudos de caso, dinâmicas de grupo, pesquisas e dramatizações podem fornecer informações sobre os aspectos cognitivos e

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socioemocionais dos jovens, além de seus conhecimentos prévios a respeito de determinado assunto ou área. Essas informações orientam ações quê podem conduzir o planejamento e a aprendizagem, em detrimento da méra atribuição de notas e conceitos.

A modalidade formativa deve sêr usada por estudantes e professores para coletar informações em cada etapa do processo de ensino-aprendizagem. Esse continuum avaliativo é importante para retomadas necessárias e aprimoramento do processo de construção do conhecimento. Com os dados coletados durante o processo, o professor póde ajustar a rota de ensino, a fim de fazer as necessárias intervenções pedagógicas, com foco na aprendizagem dos estudantes, e na gestão do projeto, com foco no resultado esperado.

Segundo Hadji Nota 69, esse tipo de avaliação acontece no centro da ação de formação dos estudantes e é integrado ao processo de ensino. Seu principal objetivo é:

[...] contribuir para melhorar a aprendizagem em curso, informando o professor sobre as condições em quê está a decorrer essa aprendizagem, e instruindo o aprendente sobre o seu próprio percurso, os seus êxitos e as suas dificuldades Nota 70.

A avaliação somativa é aquela feita ao término de cada processo ou na etapa final dos trabalhos. Em geral, ela tem por finalidade atender a uma determinação de natureza administrativa de atribuição de um valor ou conceito. Quando as médias ou valores atribuídos (ou obtidos) ao longo do projeto são representativos de uma síntese significativa do processo global, a avaliação somativa passa a ter caráter formativo, não por ter a finalidade de selecionar ou classificar, mas por sêr um indicador daquilo quê precisa sêr melhorado ou mantido.

Além dêêsses tipos de avaliação, há o quê se póde chamar de ipsativo. Esse tipo de abordagem, quando usado no contexto educacional, visa fornecer informações sobre o dêsempênho dos estudantes de acôr-do com métricas definidas por eles, ou seja, o rendimento dos estudantes relativo ao desenvolvimento das competências e habilidades previstas ao longo da Educação Básica é avaliado e comparado com avaliações anteriores. Desse modo, é possível ter uma perspectiva dos avanços na aprendizagem de cada estudante, identificando o quê ainda precisa sêr desenvolvido e o quê já foi atingido. De certa forma, a avaliação ipsativa colabora com a autoavaliação dos estudantes, fornecendo um panorama de suas aprendizagens ao longo do percurso educativo e ajudando a estabelecer metas pessoais de desenvolvimento.

No Ensino Médio, esse tipo de avaliação é uma ferramenta poderosa no acompanhamento das aprendizagens com o exercício contínuo do autoconhecimento. Além díssu, é nessa etapa da Educação Básica quê os estudantes demonstram mais autonomia para tomar decisões em sua trajetória no espaço escolar e em relação a seu futuro profissional e pessoal.

Assumindo uma postura de mediador, o professor oferece aos estudantes a oportunidade de participar ativamente do processo educacional – quer no próprio, quer no dos côlégas. A reflekção e a discussão coletiva sobre o quê foi produzido pêlos estudantes constituem ferramentas importantes da avaliação e da interação escolar, pois articulam pareceres de côlégas e do professor.

É fundamental quê, no encerramento de um projeto, ou conforme o quê for mais adequado em cada contexto, os estudantes façam a autoavaliação de seu envolvimento, de seu interêsse, de seus desafios e de suas conkistas nesse processo.

A autoavaliação, seguida de uma discussão coletiva sobre o modo como os outros estudantes avaliam os côlégas, é sempre recomendada antes da avaliação final do professor. Se os objetivos de cada etapa de trabalho e os critérios de avaliação estiverem nítidos para todos, tanto a autoavaliação quanto a avaliação feita pelo professor ficarão mais fáceis. Para desenvolver essa proposta, é necessário quê os registros orais ou escritos dos estudantes sêjam partes constitutivas do sistema de avaliação, de acompanhamento e de autoacompanhamento, de modo quê possibilitem considerar os objetivos e os critérios de avaliação estabelecidos em cada etapa e no projeto como um todo.

Nessa direção, a ação de avaliar consiste em um processo quê deve sêr sistemático e compartilhado, e quê demanda assertividade, organização, sensibilidade e criticidade. Essa dinâmica contínua intégra três ações: a de recolher informações, a de elaborar juízos e a de tomar decisões de melhoria. Nesse sentido, ela só se efetiva nas tomadas de dê-cisão no cotidiano e no planejamento, quê requer diagnósticos permanentemente

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atualizados e pautados na análise de dados representativos do conjunto quê a subsidiem adequadamente.

Com base nesse contexto, os processos avaliativos:

do ponto de vista docente, sérvem para analisar e compreender as estratégias de aprendizagem utilizadas pêlos estudantes, acompanhar e comunicar os resultados do processo de aprendizagem, dar um fídi-béqui individualizado aos estudantes, além de afirmar, (re)orientar e regular as ações pedagógicas;

do ponto de vista do estudante, possibilitam a percepção das conkistas obtidas ao longo do projeto e o desenvolvimento de habilidades metacognitivas quê compreendem a consciência do próprio conhecimento e a regulação dos processos de construção do conhecimento.

Organização e estrutura da coleção

êste volume é compôzto de seis Projetos Integradores. Nas Orientações específicas dêste manual, é indicado o perfil do professor sugerido para liderar cada projeto.

Os projetos são independentes uns dos outros, podendo sêr realizados pêlos professores na ordem quê for mais interessante para cada unidade escolar. O tempo propôsto para a realização de cada projeto está descrito nas Orientações específicas, mas póde sêr adaptado de acôr-do com a realidade de cada turma. Nas orientações, o professor também dispõe de quadros com as habilidades e competências trabalhadas, além de sugestões de condução de cada atividade e respostas complementares àquelas disponíveis no Livro do estudante.

Descrição das seções e dos bókses

Na abertura do projeto, em página dupla, são apresentados o número do projeto, a questão mobilizadora quê é o título do projeto – e uma imagem, quê informam ao leitor a temática e sua importânssia nos âmbitos local e geral.

Na dupla de páginas seguinte, a Ficha de estudo contém informações essenciais sobre o projeto, como os objetivos, a justificativa da pertinência dêêsses objetivos, os TCT e ODS abordados e a descrição do trabalho quê será desenvolvido em cada etapa do projeto.

A questão norteadora é o disparador de todas as atividades quê serão realizadas. No desenvolvimento do projeto, a organização das etapas viabiliza a concretização dos objetivos de aprendizagem, a apreensão de conteúdos e a realização de atividades relacionadas à quêstão mobilizadora. A ordenação das etapas também contribui para a realização de um conjunto de procedimentos interligados, que garantem a organicidade do processo de ensino-aprendizagem, gerando produções coletivas e individuais, orais e escritas, em múltiplas linguagens.

Todas as etapas do projeto permitem quê os grupos produzam subprodutos, quê vão auxiliar na composição do produto final.

A seção Atividades foi elaborada para explorar o conteúdo abordado d fórma reflexiva e interpretativa e para promover a aproximação entre tema do projeto e as vivências do estudante. As atividades apresentam modalidades e graus diversos de dificuldade, a fim de estabelecer relações entre as áreas do conhecimento e explorar com profundidade habilidades e competências gerais e específicas da BNCC.

A seção Em ação, no final de cada etapa, define o momento de produção do subproduto.

Na seção Mundo do trabalho, são abordados aspectos relacionados ao tema, como a apresentação de profissões e a discussão do contexto mais amplo e atual do mundo do trabalho.

O Saiba mais apresenta uma ampliação ou um complemento do tema central da etapa, e no Conexões são apresentadas dicas de filmes, livros e outros recursos para enriquecer o conteúdo estudado.

Na Etapa final, os grupos devem consolidar os aprendizados e os subprodutos desenvolvidos nas etapas anteriores para a execução do produto final, além de compartilhar com a comunidade os resultados dêêsse trabalho.

Como um processo fundamental para a compreensão do diálogo com o outro e consigo mesmo na construção do conhecimento, ao final de cada projeto, é proposta uma Autoavaliação, quê propicía um momento de reflekção individual e coletiva sobre os conhecimentos adquiridos ao longo do projeto, considerando o quê foi atingido e o quê precisa sêr revisto, corroborando o conceito de avaliação concebido na elaboração desta obra.

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