SER HUMANO E MEIO AMBIENTE

Ameaças à biodiversidade

Leia o trecho da reportagem a seguir.

PIVETTA, Marcos. O clima no Antropoceno. Pesquisa Fapesp, São Paulo, ano 22, n. 307, set. 2021. p. 32-37.

Professor, professora: Ao ler o trecho de reportagem com os estudantes, explique que o termo homem está sendo usado para se referir à espécie humana (Homo sapiens), e não ao indivíduo do gênero masculino.

Agora, analise o gráfico a seguir.

Consumo mundial de combustíveis fósseis (1800-2023)

Fonte de pesquisa: RITCHIE, Hannah; ROSADO, Pablo. Global fossil fuel consumption. Our World in Data. Disponível em: https://s.livro.pro/xg2x6x.

Acesso em: 11 nov. 2024.

Com base no trecho da reportagem e no gráfico da página anterior, responda às questões a seguir.

Ao longo de sua história na Terra, o ser humano dominou e desenvolveu diferentes fontes e modos de armazenamento e de uso de energia. Nesse cenário, o domínio e o uso de combustíveis fósseis são uns dos principais responsáveis pelos efeitos da ação humana na Terra.

O uso de combustíveis fósseis pelo ser humano representa tanto benefícios quanto malefícios para a sociedade. Se por um lado o acesso a eles possibilitou o crescimento econômico e tecnológico, por outro seu uso excessivo oferece riscos ao meio ambiente e aos seres vivos, inclusive à espécie humana.

A matriz energética refere-se ao conjunto de fontes de energia disponíveis para o uso em diversas atividades, como movimentar veículos automotores, preparar alimentos e gerar eletricidade, e é composta, por exemplo, de energia nuclear, energia hidráulica, energia eólica, energia solar, biomassa, petróleo e seus derivados. Analise os gráficos apresentados.

Participação (%) de cada fonte na matriz energética mundial (2021)

Participação (%) de cada fonte na matriz energética brasileira (2022)

Fonte de pesquisa: BRASIL. Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Matriz Energética e Elétrica. Disponível em: https://s.livro.pro/HuVw2W. Acesso em: 23 set. 2024.

Apesar de mais de 40% da matriz energética brasileira ser composta de fontes renováveis, o uso de recursos naturais não renováveis ainda é significativo, principalmente de petróleo e seus derivados (35,7%), evidenciando a dependência nacional desse tipo de fonte de energia. Esse, no entanto, não é um problema exclusivo do Brasil, atingindo diversos países do mundo.

Além do possível esgotamento ao longo dos anos, por se tratar de um recurso natural não renovável, o uso intensivo de combustíveis fósseis gera impactos ambientais e pode afetar a saúde dos seres vivos, inclusive dos seres humanos.

O uso e a queima de combustíveis fósseis pelos seres humanos são algumas das muitas maneiras de modificar o ambiente. Para entendermos como a ação antrópica interfere no ambiente e nos seres vivos, é preciso conhecer alguns conceitos básicos de Ecologia, a ciência que se ocupa em estudar as relações entre os seres vivos e destes com o ambiente. É sobre esse assunto que vamos estudar a seguir.

Introdução à Ecologia

Crescimento populacional e fatores limitantes

Leia a situação a seguir.

Em 2017, produtores de lichia do município de Pilar do Sul, no estado de São Paulo, tiveram grandes prejuízos com as geadas que castigaram a região. O inverno rigoroso, com temperaturas abaixo de zero, deixou as folhas do pomar de lichia secas e amareladas, e as plantas quase não renderam frutos.

Diante dessa situação, agrônomos aconselharam os produtores rurais a cultivar a uva niágara, a qual é capaz de suportar baixas temperaturas em sua fase de repouso vegetativo, quando não se observa a formação de flores e, consequentemente, de frutos. Nessa variedade de uva, o frio do inverno é necessário para quebrar a dormência das gemas, assegurando um brotamento adequado da videira.

Como você pôde perceber ao responder à questão anterior, as espécies de seres vivos podem ter necessidades ambientais variadas, que interferem em seu crescimento e desenvolvimento. Isso ocorre porque tais condições são específicas para cada espécie. Por exemplo, algumas espécies de plantas necessitam da incidência direta de luz solar durante a maior parte do dia, outras crescem melhor à sombra. Dessa maneira, cada população de um ecossistema tem uma faixa de tolerância a variações ambientais físicas e químicas.

A tolerância às variações ambientais também pode ser diferente entre organismos de uma mesma população, os quais podem, por exemplo, apresentar maior ou menor tolerância às variações de temperatura em seu hábitat. Essas diferentes respostas dos indivíduos se devem a alguns fatores individuais, como a variabilidade genética, as condições de saúde e a idade. Confira o exemplo apresentado.

Imagem elaborada com base em: MILLER, G. Tyler. Ciência ambiental. 11. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 45.

Ao verificar a representação anterior, é possível inferir que, em determinada faixa de temperatura, há grande quantidade de indivíduos de uma espécie de peixe. À medida que essa temperatura aumenta ou diminui, ela se torna fator limitante a essa população, provocando a uma diminuição na quantidade de indivíduos, seguida de eliminação dos indivíduos em condições térmicas extremas.

Quando as características do meio se alteram, por causas naturais ou artificiais, como atividades humanas, o crescimento populacional pode ser alterado. Existem vários fatores que podem interferir no crescimento das populações, os quais são chamados de fatores limitantes. Nesse caso, a falta ou o excesso de um fator abiótico no meio, por exemplo, pode impedir o crescimento de uma população, mesmo que os demais fatores estejam na faixa de tolerância.

De maneira geral, as populações de seres vivos têm um potencial biótico, que se refere à capacidade de crescimento de uma população sob condições ambientais ideais, ou seja, à taxa máxima de reprodução que uma população pode apresentar quando os recursos ambientais são ilimitados. Nessa situação, conforme novos indivíduos são adicionados à população, a taxa de natalidade se eleva, ou seja, a quantidade de novos indivíduos adicionados por unidade de tempo aumenta. Sendo assim, todas as espécies têm potencial para um crescimento ilimitado.

Na natureza, no entanto, nenhuma população natural pode aumentar seu tamanho indefinidamente, pois o ambiente impõe limitações ao seu crescimento. O conjunto de fatores ambientais (bióticos e abióticos) que limitam o crescimento populacional é denominado resistência ambiental. Essa resistência impede que o potencial biótico de uma população seja efetivado, pois o ambiente não é capaz de sustentar uma quantidade ilimitada de organismos.

Assim, a resistência ambiental e o potencial biótico determinam a capacidade de suporte do ambiente, ou seja, a quantidade máxima de indivíduos de certa população que pode ser sustentada pelo ambiente em determinada área ou volume. Essa capacidade ambiental é definida pela disponibilidade de recursos, como alimentos, locais de nidificação e abrigos, e pela existência de doenças, predadores e, em alguns casos, interações sociais.

Professor, professora: Enfatize que as populações e as espécies de seres vivos apresentam padrões de crescimento variável e podem sofrer interferência de diferentes fatores ambientais, em níveis distintos de sensibilidade, levando-as a responder de modo variável às alterações no ambiente onde vivem.

Perda de biodiversidade

Leia o texto a seguir e responda às questões.

Como você estudou anteriormente, as espécies de seres vivos e, por vezes, os indivíduos de uma mesma população têm diferentes taxas de tolerância a variações ambientais, sendo algumas mais suscetíveis a tais alterações do que outras. Dessa maneira, os efeitos sofridos pelas espécies por conta de alterações ambientais, inclusive as causadas pelo ser humano, também variam.

Muitas das relações dos seres humanos com o ambiente e com outros seres vivos podem causar prejuízos, tanto para o próprio ser humano quanto para os demais componentes bióticos e abióticos do meio. Um desses danos é a redução da biodiversidade, que, por sua vez, pode causar a extinção de inúmeras espécies. E embora seja um processo natural, a extinção tem sido acelerada pelas ações antrópicas.

A perda da biodiversidade não se manifesta apenas na diminuição da quantidade de espécies, mas também na redução qualitativa da população, interferindo nas relações ecológicas e na diversidade genética. Essa perda de biodiversidade pode ser resultado de diversas atividades humanas, responsáveis pela eliminação direta de espécimes do ambiente ou por causar alterações nas condições ambientais que prejudicam a manutenção delas. A seguir, vamos estudar algumas atividades antrópicas que prejudicam a biodiversidade e como elas interferem na manutenção das espécies no ambiente, inclusive de Homo sapiens.

Desmatamento e queimadas

Leia o trecho da reportagem a seguir e responda às questões.

[…]

Ao longo de 2020, numerosos incêndios atingiram o Pantanal, maior região de planície alagada do mundo, que abrange áreas do Brasil, Bolívia e Paraguai. Quando o ano chegou ao fim, o fogo tinha impactado cerca de 4,5 milhões de hectares, o que corresponde a 30% do bioma e representa 22 vezes a área queimada entre 2000 e 2018. Quando bombeiros e voluntários lutavam contra as chamas, encontraram onças com patas chamuscadas, antas com manchas vermelhas por toda a pele e corpos de jacarés que não haviam conseguido fugir a tempo.

Agora cientistas conseguiram estimar quantos animais perderam a vida durante os incêndios de 2020 no Pantanal. De acordo com um estudo publicado pela Scientific Reports, foram quase 17 milhões de vertebrados, incluindo mamíferos, répteis e aves.

Tomas [Walfrido Tomas, autor principal do estudo] diz que ainda não está claro como os incêndios e a perda de vida afetarão o ecossistema do Pantanal em longo prazo. "Ninguém sabe", diz ele. "Nós contabilizamos os animais mortos diretamente pelos incêndios, mas muitos certamente morreram depois por queimaduras no corpo, fome e predação. Isso nunca saberemos. Além disso, os invertebrados foram certamente muito afetados, mas não há dados sobre esse impacto. Os dados, contudo, sugerem claramente um impacto profundo, que pode funcionar como efeito cascata, afetando ecossistemas inteiros".

[…]

BARTABURU, Xavier. Quase 17 milhões de animais morreram nos incêndios de 2020 no Pantanal, revela estudo. Mongabay, 17 jan. 2022. Disponível em: https://s.livro.pro/b7hp1o. Acesso em: 12 set. 2024.

A destruição do hábitat é um dos principais motivos pelos quais diversas espécies sofrem o processo de extinção. Ela é causada por ações como desmatamento, queimadas, substituição de áreas naturais por áreas agrícolas, fragmentação de ecossistemas e poluição da água, do solo e do ar.

A retirada de mata nativa por desmatamento ou queimadas elimina o hábitat de diversas espécies e, consequentemente, suas fontes de alimento e locais de abrigo e reprodução, levando-os a se deslocarem para outras áreas, inclusive urbanas, ou causando sua morte. Essa morte pode ser causada diretamente, como reportado no estudo sobre os efeitos dos incêndios no Pantanal, ou indiretamente, pela limitação ou eliminação de recursos necessários aos seres vivos. Além disso, tais atividades humanas interferem na dinâmica dos ambientes, levando a consequências como a intensificação do efeito de borda, a deriva genética e o isolamento de populações.

As bordas das matas têm características diferentes das do seu interior, por exemplo. Nas bordas há maior exposição a ventos e radiação solar, as temperaturas são mais elevadas e a umidade é mais baixa. Essas características influenciam as espécies de seres vivos e sua distribuição no ambiente.

O efeito de borda é variável, podendo se estender por vários metros para o interior do fragmento. Dessa forma, a fragmentação reduz o território de espécies que vivem no interior das matas, podendo interferir em sua alimentação e reprodução, por exemplo.

A fragmentação de hábitat e a redução na quantidade de indivíduos podem, consequentemente, diminuir a variabilidade genética dentro de uma população por conta da deriva genética. Como estudamos anteriormente, quando as populações são muito pequenas, uma quantidade reduzida de indivíduos contribui geneticamente para a próxima geração. Assim, certos alelos podem aumentar sua ocorrência na população, enquanto outros podem ser eliminados. Uma possível consequência dessa redução populacional é torná-la mais suscetível a pragas, doenças e variações climáticas, por exemplo.

Além disso, a fragmentação de hábitats pode levar ao isolamento de populações de determinada espécie, impedindo o cruzamento de seus indivíduos e, dessa maneira, interrompendo o fluxo gênico entre elas. Como resultado, as populações ficam mais sujeitas à perda de variabilidade genética, deixando seus indivíduos mais susceptíveis a alterações ambientais e, consequentemente, à extinção.

Poluição

De acordo com a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, entende-se por poluição a degradação da qualidade ambiental, resultante de atividades humanas diretas ou indiretas que integram ao ambiente matéria ou energia de modo irregular, prejudicando suas características estéticas, sanitárias e ecológicas. Como resultado dessas alterações, há também prejuízos à saúde, à segurança e ao bem-estar da população humana, da fauna e da flora, prejudicando inclusive as atividades econômicas e sociais.

As atividades antrópicas, o uso inadequado dos recursos naturais e a sua exploração exagerada pelo ser humano têm provocado diversos problemas ambientais que impactam diretamente recursos como o ar, o solo e a água, causando, por exemplo, sua poluição.

Ar

Leia o trecho da reportagem a seguir.

LACERDA, Lucas. São Paulo registra a pior qualidade do ar entre as grandes cidades do mundo, diz site. Folha de S.Paulo, ano 104, n. 34.859, 10 set. 2024. p. A43.

Infelizmente, notícias como essa têm se tornado comum não apenas no Brasil, mas também em diversos outros países. Em diversas atividades cotidianas, como ao preparar alimentos em um fogão que envolve a queima de gás liquefeito de petróleo (GLP) e ao utilizar meios de transporte movidos a combustível fóssil, utilizam-se recursos naturais que sofrem combustão e liberam poluentes atmosféricos. Além destas, atividades como queimadas e incêndios, por causas naturais ou provocadas, liberam diversos poluentes no ar atmosférico, o que tem causado vários problemas ao ambiente e aos seres vivos, inclusive à saúde dos seres humanos.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que, todos os anos, a poluição atmosférica é responsável pela morte de cerca de 7 milhões de pessoas, sendo uma das grandes ameaças à saúde humana. Esse tipo de poluição está relacionado a diversos problemas de saúde, principalmente doenças cardiorrespiratórias. Entre elas, alterações na função pulmonar, agravamento de asma e infecções respiratórias, acidente vascular cerebral e câncer de estruturas do sistema respiratório.

A poluição do ar também pode causar um fenômeno conhecido como inversão térmica. Confira a seguir.

Em dias com temperaturas mais elevadas, o ar próximo à superfície terrestre é aquecido, torna-se menos denso e sobe para as camadas superiores da atmosfera terrestre. Os poluentes, liberados a altas temperaturas, também tendem a subir e se dispersar na atmosfera.

Em dias com temperaturas mais baixas, no entanto, uma camada de ar quente se posiciona sobre o ar mais frio. Ao subir, os poluentes encontram a camada de ar quente, que bloqueia seu movimento e promove acúmulo de poluentes próximo à superfície terrestre.

Imagens elaboradas com base em: ROCHA, Julio Cesar; ROSA, André Henrique; CARDOSO, Arnaldo Alves. Introdução à química ambiental. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. p. 111.

O aumento da emissão de poluentes pela queima de combustíveis fósseis em veículos automotores e termelétricas e pelo uso excessivo de fertilizantes no solo também pode causar a chuva ácida. Além de prejudicar as construções, ao atingir o solo e os corpos de água, a água ácida altera as características desses meios, podendo causar a morte de animais, vegetais e outros seres vivos.

Professor, professora: Explique aos estudantes que a água da chuva, naturalmente, é levemente ácida em razão do ácido carbônico abre parênteses H subscrito 2 C O subscrito 3 fecha parênteses$\left({\text{H}}_2{\text{CO}}_3\right)$, formado na reação química da água com o gás carbônico abre parênteses C O subscrito 2 fecha parênteses$\left({\text{CO}}_2\right)$ da atmosfera terrestre.

Solo e água

Analise a imagem a seguir.

11. Como a situação representada na imagem pode poluir a água e o solo?

Resposta: Espera-se que os estudantes respondam que os agrotóxicos aplicados nas lavouras, principalmente por meio de aviões, podem atingir diretamente o solo e os corpos de água, escorrer das plantas e serem lavados pela ação da chuva, atingindo-os, ou ficar em suspensão no ar e, posteriormente, pela ação do vento e da chuva, por exemplo, depositar-se no solo e em fontes de água.

Os agrotóxicos, também conhecidos como defensivos agrícolas, são um conjunto de produtos químicos utilizados com a finalidade de controlar seres vivos considerados nocivos às plantações e, consequentemente, à sua produtividade – as chamadas pragas agrícolas.

De acordo com relatório da FAO, em 2022, o Brasil foi o país que mais consumiu agrotóxicos no mundo, totalizando mais de 800 mil toneladas desses produtos. Esse valor supera em mais de 300 mil toneladas o consumo dos Estados Unidos, segundo maior consumidor de agrotóxicos no mundo.

Apesar de ser considerado uma medida de contenção de pragas agrícolas e de melhoria na produtividade, o uso excessivo e inadequado de agrotóxicos tem causado inúmeros danos ambientais e à saúde de seres vivos, como os humanos.

Ao serem aplicados nas plantações, os agrotóxicos podem se depositar diretamente sobre o solo, escorrer das plantas após sua aplicação ou ser lavados das plantas pela água das chuvas. No solo, tais produtos químicos podem infiltrá-lo, prejudicando sua biota natural e atingindo fontes de água subterrâneas. Além disso, podem escorrer sobre a superfície e atingir corpos de água superficiais, contaminando-os. A introdução desses produtos no solo e na água altera suas características naturais e afeta negativamente a fauna e a flora, podendo prejudicar suas funções vitais e causar sua morte.

Professor, professora: Ao abordar os efeitos dos agrotóxicos, se considerar pertinente, explique aos estudantes que os fertilizantes também são potenciais poluentes dos solos e dos corpos de água, adicionando nutrientes em excesso a esses meios, o que altera suas características e, consequentemente, prejudica os seres vivos.

A água e o solo também podem ser poluídos por conta de descarte e depósito inadequados de resíduos sólidos domésticos e industriais. Esse tipo de contaminação ocorre, geralmente, nos casos de lixões, em que os resíduos são depositados diretamente sobre o solo.

Além dos contaminantes existentes nos próprios resíduos, a decomposição da matéria orgânica resulta na formação do chorume, um líquido escuro, potencialmente poluente, que se infiltra no solo, contaminando-o e podendo atingir corpos de água.

O descarte inadequado de esgoto também é uma potencial fonte poluidora do solo e da água. Essa contaminação ocorre tanto pelo lançamento de esgoto diretamente no ambiente, em razão da falta de serviços de coleta e de tratamento, quanto pelo descarte ilegal desse material. A adição desse tipo de resíduo ao solo ou à água insere poluentes e nutrientes em excesso a esses meios e altera a disponibilidade de gás oxigênio abre parênteses O subscrito 2 fecha parênteses$\left({\text{O}}_2\right)$, prejudicando a fauna e a flora locais.

Além dos prejuízos diretos aos seres vivos, os poluentes adicionados à água e ao solo podem ser transferidos por meio das cadeias alimentares a outros seres vivos, inclusive aos seres humanos.

Superexploração de espécies

O caule mostrado na fotografia desta página é de pau-brasil (Caesalpinia echinata), espécie nativa da Mata Atlântica que, no passado, chamou a atenção do mercado europeu pela coloração avermelhada de sua madeira.

Durante muito tempo, o pau-brasil foi utilizado pela indústria têxtil europeia para obtenção de corante para tecidos. Esse interesse comercial fez centenas de milhares de árvores serem extraídas no território brasileiro pelos colonizadores entre os séculos XVI e XVIII. A exploração do pau-brasil para essa e outras finalidades quase levou a espécie à extinção.

A superexploração de espécies ocorre quando indivíduos de uma população são retirados de seu ecossistema, para uso humano, em quantidades superiores à capacidade de reposição da espécie no ambiente, o que pode levá-la à extinção. Por isso, essa superexploração está entre um dos principais motivos da perda de biodiversidade.

Imagens sem proporção e em cores fantasia.

Pau-brasil (C. echinata): pode atingir aproximadamente 12 metros$12\text{ m}$ de altura.

A ave dodô (Raphus cucullatus) é um exemplo de espécie que foi extinta por conta da ação humana. Essa espécie de ave, que não tinha capacidade de voo, habitava as Ilhas Maurício, na África, e foi intensamente caçada pelo ser humano como item alimentar, no século XVII.

A superexploração de espécies está associada a diferentes atividades humanas que podem colocar em risco a vida de outros seres vivos. É esse assunto que vamos estudar a seguir.

Analise a charge e responda às questões.

SANTOS, Arionauro da Silva. Biopirataria de animais. Arionauro Catuns, 9 set. 2024. Disponível em: https://s.livro.pro/x2f515. Acesso em: 16 set. 2024.

O tráfico de animais silvestres envolve maus-tratos e retirada de espécimes de seus ambientes naturais, reduzindo a quantidade de indivíduos dessas populações. Como resultado, diversos processos são prejudicados, como as cadeias alimentares locais, a reprodução da espécie e, de modo mais amplo, a dinâmica dos ecossistemas. A maior parte dos animais capturados morre antes de chegar ao destino, uma vez que não tem acesso a condições mínimas de sobrevivência, como alimento e água.

Além do tráfico ilegal, algumas espécies sofrem com a superexploração por meio da caça e da pesca predatórias. Ambas as atividades são caracterizadas pelo descontrole e a não sustentabilidade, ou seja, a quantidade de espécies retirada da natureza é maior do que sua capacidade de reprodução e, portanto, de reposição de indivíduos. Assim, como resultado dessa ação humana predatória, ocorre redução das populações de espécies e, por vezes, sua extinção.

Algumas medidas visam proteger as espécies da superexploração, como se observa no caso da pesca. Nessa atividade, é previsto, por exemplo, o defeso. Trata-se de uma paralisação temporária das atividades pesqueiras durante o período reprodutivo das espécies, bem como a proibição da pesca de indivíduos jovens, que ainda não atingiram a fase reprodutiva. Dessa maneira, tais medidas contribuem para a reposição de indivíduos dessas populações.

Outra atividade que deve ser evitada é a pesca com redes de arrasto, que são lançadas nos rios e mares e, ao serem arrastadas, são capazes de capturar uma grande quantidade de indivíduos de diversas espécies, inclusive que não têm valor comercial. Geralmente, as espécies que não são alvo da pesca não são devolvidas ao ambiente, causando sua morte. Assim, essa prática, comumente associada à pesca comercial, exerce forte pressão sobre as populações de espécies aquáticas, colocando-as em risco.

Dica

Visando garantir a fonte de renda de pescadores profissionais artesanais, durante o defeso é previsto em lei (Lei nº 10.779/2003, alterada pela Lei nº 13.134/2015) o pagamento do seguro-defeso.

A captura acidental em redes de pesca é considerada uma das principais ameaças às populações de tartarugas marinhas. Ao ficarem presas nas redes, elas não conseguem chegar à superfície para respirar, morrendo afogadas.

Tartaruga marinha: pode atingir tamanhos variados de acordo com a espécie.

Introdução de espécies exóticas

Leia o trecho da reportagem a seguir.

SCHMIDT, Sarah. Relatório identifica 476 espécies exóticas invasoras no Brasil. Pesquisa Fapesp, ed. 338, abr. 2024. Disponível em: https://s.livro.pro/vhzvu9. Acesso em: 23 set. 2024.

A introdução de espécies exóticas pode causar prejuízos ambientais, econômicos e sociais. A seguir, vamos estudar alguns exemplos de espécies introduzidas no Brasil e os impactos associados à presença delas no território nacional.

O javali (Sus scrofa) é um animal nativo da Eurásia e da porção noroeste da África. No Brasil, essa espécie é considerada exótica, ou seja, não é naturalmente encontrada em território nacional, e sim introduzida pelo ser humano. Atualmente, os javalis estão amplamente distribuídos e ocupam extensas áreas do país.

Os javalis são animais que se alimentam de raízes, tubérculos, produtos agrícolas em geral, pinhões, nozes e outros animais. Têm o comportamento de revirar o solo com o focinho, criando buracos, e se adaptam facilmente aos diferentes ecossistemas. Suas ninhadas são grandes, o que vem causando prejuízos aos seres humanos e à biodiversidade local.

Javali (S. scrofa): pode atingir aproximadamente 2 vírgula 4 metros$\mathrm{2,4}\text{ m}$ de comprimento.

A introdução de espécies exóticas em uma região pode ser feita de maneira intencional, como foi o caso dos javalis no Brasil, ou não intencional, como ocorreu com a espécie invasora coral-sol.

O coral-sol (Tubastraea sp.) é originário do Oceano Pacífico e foi introduzido de maneira não intencional na baía da Ilha Grande (RJ), na década de 1980, trazida por plataformas de petróleo. Essa espécie tem interferido na biodiversidade nativa, competindo por espaço com o coral-cérebro (Mussismilia braziliensis), espécie nativa encontrada apenas no litoral brasileiro.

Coral-sol (Tubastraea sp.): pode atingir aproximadamente 15 centímetros$\text{15 cm}$ de diâmetro.

Quando uma espécie é introduzida em um ambiente no qual ela não ocorre naturalmente, é possível que não haja predadores nesses locais, que, entre outros papéis, ajudam a controlar a quantidade de indivíduos das populações.

Caso a espécie exótica se adapte ao ambiente em que foi introduzida, tendo acesso a alimento em abundância e sem um controle populacional gerado pela predação, por exemplo, ela tende a se reproduzir descontroladamente, formando grandes populações e resultando em diversos prejuízos ambientais, especialmente para as espécies nativas.

Quando passam a prejudicar a biodiversidade local, as espécies exóticas são chamadas de invasoras, como é o caso do javali e do coral-sol. Nesse cenário, podem prejudicar a dinâmica do ecossistema, interferindo nas cadeias alimentares, competindo por território e, muitas vezes, introduzindo nos ambientes agentes causadores de doenças que não existiam naquelas regiões. Ao entrar em contato com esses agentes causadores de doenças, as espécies nativas, por geralmente não serem imunes a eles, tornam-se muito suscetíveis a essas doenças, reduzindo ainda mais suas populações.

Além disso, muitas espécies exóticas podem ser reservatórios de doenças passíveis de serem transmitidas aos seres humanos, as chamadas zoonoses. Assim, essas espécies são capazes de gerar diferentes tipos de dano, incluindo econômicos, ambientais e de saúde pública.

Interferência nos fluxos de matéria e energia no ambiente

A introdução de espécies exóticas em um ambiente, além de prejudicar diretamente a biodiversidade, pode interferir nos fluxos de matéria e energia do meio, afetando indiretamente e de maneira negativa essa diversidade.

Os fluxos de matéria e energia nos ambientes ocorrem, principalmente, por meio das relações alimentares entre os seres vivos e da interação de alguns deles com fontes de energia naturais, como a luz solar, nas chamadas cadeias alimentares e teias alimentares.

As cadeias e teias alimentares são caracterizadas pela interdependência dos seres vivos envolvidos nessas relações. Assim, a retirada ou a inserção de uma ou mais espécies nesses sistemas, bem como alterações na quantidade de organismos das populações, são fatores que podem interferir nas relações alimentares, na estrutura das comunidades e, consequentemente, nos fluxos de matéria e de energia.

As relações alimentares entre os organismos nativos de uma área encontram-se naturalmente em equilíbrio, o que pode ser prejudicado, por exemplo, pela introdução de uma espécie exótica no ambiente. Acompanhe o exemplo a seguir.

O sapo asiático (Duttaphrynus melanostictus) é uma espécie exótica invasora da ilha de Madagascar, apresentando hábitos alimentares similares aos do sapo nativo (Mantidactylus grandidieri). Tal similaridade possibilita, por exemplo, que a espécie invasora ocupe posição similar à do anfíbio nativo nas relações alimentares da ilha.

Apesar de os hábitos alimentares de D. melanostictus e M. grandidieri serem semelhantes, algumas características do sapo asiático fazem sua presença em Madagascar ser prejudicial para esse ambiente, entre elas o rápido crescimento populacional e a capacidade de causar a morte daqueles que o consomem, resultando em desequilíbrios na teia alimentar.

Assim, a espécie invasora pode causar diversas interferências nas relações alimentares da teia exemplificada. Entre elas, podemos citar que, em virtude do grande crescimento populacional do D. melanostictus, por exemplo, é possível que haja aumento no consumo de insetos, como os besouros. Esses insetos se tornam menos disponíveis aos lêmures, que se alimentam de suas larvas, e à espécie nativa de sapo, que se alimenta do inseto adulto. Além disso, pode ser que ocorra redução da população de serpentes, mortas por envenenamento após consumo do sapo asiático. Tal redução, por sua vez, é capaz de causar o aumento da população de cucos, que seriam menos predados.

Mineração

Os minérios fazem parte de diversos produtos comuns em nosso dia a dia, como o cimento usado na argamassa para a construção das paredes que delimitam a sala de aula, a lâmpada elétrica que ilumina o ambiente e o giz que é utilizado para escrever na lousa. Todos foram desenvolvidos com o uso de minérios.

A mineração é a atividade econômica que envolve a exploração e a extração de minérios da crosta terrestre, bem como o beneficiamento e a pesquisa sobre eles. No Brasil, trata-se de uma importante atividade econômica. Observe o gráfico a seguir, sobre produção mineral e Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

Participação da produção mineral (%) no PIB (2011 – 2021)

Fonte de pesquisa: AGÊNCIA NACIONAL DE MINERAÇÃO. Anuário mineral brasileiro interativo. Disponível em: https://s.livro.pro/b5n9hr. Acesso em: 24 set. 2024.

Apesar de ser uma importante atividade econômica, a mineração pode representar riscos e danos tanto ambientais quanto sociais. Alguns dos possíveis impactos negativos dessa atividade são a remoção da cobertura vegetal, intensificação do processo de erosão do solo, poluição sonora e contaminação e poluição do solo e dos recursos hídricos.

Além desses impactos, a extração de minérios envolve a construção de barragens de rejeitos para estocar o material extraído sem valor econômico. Muitas vezes, essas barragens são construídas de maneira ilegal ou precária e sua fiscalização é falha. Quando barragens de rejeitos se rompem, os prejuízos ambientais e sociais costumam ser bastante significativos.

O rompimento de barragens de rejeitos pode causar a contaminação do solo e da água e a perda da fauna e da flora. Além disso, causa prejuízos econômicos e sociais, como a perda da fonte de renda e de moradia da população das áreas afetadas.

Mudanças climáticas

Inicialmente, pode parecer que não existe relação entre mudanças climáticas e biodiversidade, no entanto, esses fatores estão intimamente relacionados. Embora não haja na Terra ambientes que tenham exatamente as mesmas constituições animal e vegetal, é possível agrupar os que são similares quanto à vegetação dominante em sistemas regionais, os chamados biomas. Estes são observados em determinados locais da superfície terrestre e caracterizados por um tipo também específico de vegetação, que por sua vez interfere na fauna local.

Em relação aos biomas terrestres, o clima é o principal fator que influencia a formação e a distribuição desses sistemas. Isso porque a temperatura e a precipitação médias, componentes do clima, interferem diretamente na disponibilidade de água e na distribuição dos recursos e, consequentemente, na distribuição de plantas, animais e outros seres vivos no ambiente. Assim, alterações nos elementos climáticos podem afetar diretamente os componentes bióticos dos biomas, com efeitos em sua estrutura e na biodiversidade.

Apesar da importância do clima para a manutenção dos biomas e dos ecossistemas da Terra, verificou-se que nas últimas décadas houve alterações climáticas, resultantes, por exemplo, do aumento da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera. Confira a seguir.

Professor, professora: Relembre os estudantes de que grande parte do aumento da emissão de gases que intensificam o efeito estufa é consequência do aumento das atividades humanas que liberam poluentes atmosféricos, tais como queima de combustíveis fósseis, queimadas e mudanças no uso do solo.

Temperatura média global ao longo dos anos (1883-2023)

Fonte de pesquisa: GLOBAL temperature. Nasa. Disponível em: https://s.livro.pro/22sfjr. Acesso em: 16 set. 2024.

Analisando o gráfico, é possível perceber que ao longo dos anos, principalmente a partir da década de 1970, a temperatura média terrestre teve um aumento constante e cada vez mais intenso, sendo os valores mais elevados registrados nos últimos anos, caracterizando o chamado aquecimento global.

De acordo com cientistas, mesmo com medidas imediatas de remediação, a temperatura média terrestre continuará aumentando nas próximas décadas, uma vez que os impactos no planeta são intensos e de difícil reversão. Entre as consequências desse aumento estão as alterações na disponibilidade de recursos hídricos; o aumento nos níveis dos oceanos, inundando áreas costeiras e ilhas; e a modificação na estrutura dos biomas, resultando na perda de hábitats e ecossistemas.

Você possivelmente já deve ter lido a respeito dos efeitos do aquecimento global nas regiões polares, onde se observa um derretimento acelerado das porções de gelo. Nessas áreas, animais como o urso-polar têm sofrido com a redução de fontes de alimento e locais de caça.

No entanto, os efeitos das mudanças climáticas não são percebidos somente nas regiões polares. De acordo com o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC), outros ecossistemas têm grande probabilidade de serem prejudicados e perderem biodiversidade, como é o caso dos recifes de corais.

No processo de branqueamento, as algas, que vivem nos tecidos dos corais e são responsáveis pela coloração desses organismos e pelo suprimento de nutrientes, passam a produzir compostos nocivos, forçando os corais a expeli-las. A ausência dessas algas prejudica o suprimento alimentar dos corais e, a longo prazo, pode causar sua morte.

Coral-babão (P. caribaeorum): pode atingir aproximadamente 1 vírgula 5 centímetro$\text{1,5 cm}$ de diâmetro.

Lembre-se de que as espécies de seres vivos apresentam uma faixa de tolerância. Assim, alterações nas condições naturais podem prejudicar a manutenção desses seres vivos no ambiente. Além disso, embora, de maneira geral, as espécies se adaptem e sobrevivam a determinadas mudanças nas condições ambientais, o que se observa atualmente são mudanças intensas e graves. Até que ponto as espécies serão capazes de se adaptar ao aumento da temperatura global em um período tão curto de tempo? Mais importante do que saber essa resposta é frear e reverter os fatores responsáveis pelas mudanças climáticas.

De modo semelhante à interferência que o clima exerce nos biomas, conservá-los é essencial à manutenção das condições climáticas. A degradação dos hábitats naturais, associada a outros efeitos das atividades humanas, como o aumento da temperatura média, tem alterado o regime e a distribuição de chuvas. Como resultado, fenômenos atmosféricos extremos estão mais frequentes, como grandes volumes de chuvas em curto intervalo de tempo, ciclones e estiagens prolongadas.

As mudanças climáticas podem intensificar fenômenos naturais como El Niño e La Niña, afetando o regime de chuvas e as temperaturas médias de determinadas regiões do país. No ano de 2023, a intensificação desses fenômenos junto a outros fatores, como o aquecimento dos oceanos e o desmatamento, contribuíram para uma das piores secas já registradas na Amazônia.

No ano de 2024, entre os meses de abril e maio, chuvas extremas atingiram o Rio Grande do Sul. Estima-se que as mudanças climáticas somadas a características hidrográficas da região, além de problemas de infraestrutura e ocupação desordenada do solo, fizeram diversas cidades serem alagadas durante esse período no estado.

Biodiversidade e seres humanos

Segurança alimentar

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mais de metade da energia obtida de alimentos vegetais no mundo provém de apenas quatro cultivos: milho, trigo, arroz e batata, o que representa um estreitamento cada vez maior de sua diversidade biológica. Além disso, a alimentação humana tem se tornado cada vez mais homogênea no mundo, ou seja, as espécies nativas vêm sendo substituídas pelos cultivos de espécies exóticas.

Esse estreitamento da diversidade biológica ocorre, em parte, pela opção dos produtores de alimentos por variedades selecionadas, de maior valor comercial, mais resistentes a determinadas pragas ou condições ambientais e de floração mais rápida. No entanto, apesar desses cultivos terem suas vantagens comerciais, ainda apresentam baixa variabilidade genética − quando comparados às variedades selvagens − tornando-os mais suscetíveis a variações climáticas, doenças e pragas, que poderiam dizimar plantações no mundo inteiro e colocar em risco a segurança alimentar do planeta.

A segurança alimentar consiste no direito que todas as pessoas têm de ter acesso a alimentos em quantidade e em qualidade adequados à saúde. Para que isso ocorra, é importante manter a biodiversidade conservada, tendo em vista que ela está diretamente relacionada com a produção de alimentos, ao interferir, por exemplo, na qualidade dos solos, na polinização das plantas e no controle natural de pragas agrícolas.

Sendo assim, a biodiversidade é essencial para garantir a produção de alimento ao ser humano. Nesse cenário, visando diversificar a alimentação da população mundial e garantir a segurança alimentar, diversas medidas têm sido adotadas por governos e entidades.

No Brasil, entre essas medidas, temos o incentivo ao consumo de espécies nativas. Atualmente, a maior parte dos alimentos consumidos pela população brasileira é de espécies exóticas, embora o país tenha uma grande diversidade de itens alimentícios nativos. Além de promover o resgate do valor cultural, destacando o conhecimento dos povos tradicionais, a adição de alimentos nativos à dieta brasileira possibilita incrementar a nutrição da população, tornando-a mais variada. Isso porque, em geral, as plantas nativas contêm alto valor nutricional, contribuindo para uma alimentação rica em nutrientes e para a redução de problemas como a desnutrição.

Dica

Muitos dos produtos nativos são obtidos por meio do extrativismo sustentável, uma atividade econômica de extração de recursos naturais, geralmente realizada por povos tradicionais.

O cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum) é nativo da Amazônia e seus frutos, chamados cupuaçus, contêm alto teor de sais minerais, lipídios e vitaminas. Eles podem ser utilizados para diferentes fins, como na culinária e na indústria cosmética. Atualmente, essa árvore é cultivada em diversos estados das regiões Norte e Nordeste.

Cupuaçuzeiro (T. grandiflorum): pode atingir aproximadamente 18 metros$\text{18 m}$ de altura.

Além de ajudar a reduzir a dependência das culturas exóticas, o incentivo à diversificação da alimentação humana, com enfoque em espécies nativas, é uma estratégia para promover a conservação da biodiversidade local. A opção pela extração sustentável de alimentos nativos ajuda a controlar o aumento das áreas desmatadas, muitas vezes relacionado à ampliação de espaços de plantio de culturas exóticas.

Saúde humana

Leia o trecho da reportagem a seguir.

ENQUANTO a pandemia de coronavírus bate recordes, novo relatório da ONU sugere caminho para evitar novos surtos. Nações Unidas, 6 jul. 2020. (Adaptação nossa). Disponível em: https://s.livro.pro/ga3qs4. Acesso em: 20 set. 2024.

Em dezembro de 2019, foi identificado o primeiro caso de covid-19, na cidade de Wuhan, China. Essa doença é causada por um vírus (SARS-CoV-2) transmitido por meio de secreções respiratórias contaminadas. Uma das hipóteses levantadas pelos cientistas é que se trata de um vírus cuja transmissão aos seres humanos ocorreu pelo contato com animais silvestres, como o pangolim-malaio. Rapidamente, o SARS-CoV-2 atingiu diversas regiões do planeta, instaurando uma pandemia, responsável por milhares de mortes no Brasil e no mundo. Atualmente, apesar da redução na transmissão e mortalidade, resultado da vacinação em massa da população, essa doença ainda assola a população mundial.

O pangolim-malaio corre risco de extinção por conta da intensa exploração, principalmente pelo comércio ilegal visando a diversos fins, como culinária e tratamentos de medicina tradicional asiática.

Pangolim-malaio (M. javanica): pode atingir aproximadamente 88 centímetros$\text{88 cm}$ de comprimento.

Entre as diversas lições da pandemia de covid-19 para a humanidade, podemos citar o alerta a respeito do modo como o ser humano se relaciona com o ambiente e os demais seres vivos.

O desmatamento, a invasão e a destruição de hábitats naturais, assim como a caça e o tráfico de animais silvestres, são exemplos de atividades antrópicas que representam não somente impactos ambientais e aos seres vivos diretamente prejudicados por elas, mas também causam danos à saúde humana em diversos aspectos. Um deles é o acometimento por zoonoses, em razão, por exemplo, do contato de seres humanos com animais silvestres com os quais não conviviam naturalmente e que podem ser portadores de agentes patogênicos.

Estima-se que as zoonoses sejam responsáveis por grande parte das doenças contagiosas que acometem a população mundial na atualidade. Elas podem ser transmitidas aos seres humanos por picadas de insetos, por mordidas de certos animais, ao consumir carnes cruas ou malpassadas ou água e alimentos contaminados, ao ter contato com sangue e secreções contaminadas ou mesmo com animais doentes. Confira a seguir exemplos de zoonoses.

Professor, professora: Diga aos estudantes que os animais transmissores de agentes causadores de doenças, como vírus, bactérias, protozoários e vermes, são chamados de vetores.

Professor, professora: Além do contato com animais silvestres ser uma possível razão do aumento de ocorrência de zoonoses, existem diversos outros possíveis motivos. Entre eles, a ampliação da área de ocupação de espécies patogênicas para áreas antes não ocupadas por eles, expondo a população humana local. Além disso, o derretimento de áreas da Terra congeladas há milhares de anos, como o permafrost, possibilita a ativação e liberação de agente patogênicos até então inativos (dormentes).

Professor, professora: Explique aos estudantes que algumas espécies de patógenos necessitam de dois tipos de hospedeiros para completar seu ciclo de vida. O hospedeiro intermediário é aquele que abriga a forma larval do parasita, que realiza reprodução assexuada. Já o hospedeiro definitivo é aquele que abriga a forma adulta do parasita, que se reproduz de maneira sexuada.

Você acabou de estudar alguns exemplos de zoonoses. No entanto, a lista dessas doenças é muito mais extensa e a tendência é de que aumente com o passar do tempo. Nos últimos anos, os surtos de zoonoses têm sido recorrentes, inclusive das que já haviam sido controladas no passado. Diversas razões estão relacionadas ao aumento da frequência desses surtos, entre elas a destruição de hábitats naturais, o que tem aproximado animais silvestres dos seres humanos.

O desmatamento tem sido um dos grandes responsáveis por surtos de doenças como ebola, zika e vírus Nipah nas últimas duas décadas. A remoção da cobertura vegetal força os animais silvestres para fora de seus hábitats e os aproxima das civilizações humanas, criando oportunidade para a transmissão de zoonoses.

Além disso, atividades humanas, como a queima exagerada de combustíveis fósseis, são responsáveis por boa parte do aquecimento global, o que consequentemente impulsiona as mudanças climáticas e ocasiona desequilíbrios nos ecossistemas. Afetados por esses desequilíbrios, os animais silvestres passam a buscar novos hábitats em busca de fontes de alimentos e muitas vezes entram em contato direto com humanos para estabelecer novas condições de sobrevivência.

O aumento da temperatura média global também pode fazer que zoonoses características de períodos mais quentes se prolonguem por todo ano e doenças consideradas tropicais atinjam zonas temperadas.

Outra atividade antrópica que pode favorecer o surgimento de zoonoses é o tráfico de animais, para fins de criação ou consumo humano. Além de contribuir para a extinção de espécies, essa atividade expõe os seres humanos a novos agentes infecciosos.

É possível que muitas outras zoonoses surjam nos próximos anos. Assim, mais importante do que controlar essas doenças é manter o equilíbrio ecológico para que elas não se tornem frequentes. Ecossistemas conservados e biodiversos são mais eficientes no controle de patógenos.

A arara-azul-de-lear é uma espécie endêmica da Caatinga. Atualmente, encontra-se em risco de extinção por diferentes razões, como perda de hábitat, tráfico de animais silvestres e caça.

Arara-azul-de-lear (A. leari): pode atingir aproximadamente 75 centímetros$\text{75 cm}$ de comprimento.

O que estamos vivenciando atualmente é resultado de um desequilíbrio causado pelos seres humanos. Assim, a mudança no modo como nos relacionamos com o ambiente e os demais seres vivos é essencial para frear essas consequências. Além disso, é necessário que governos e sociedade priorizem medidas que favoreçam a manutenção da biodiversidade, atentando não apenas à quantidade de espécies, mas também à sua variabilidade genética, bem como medidas que visem reduzir as alterações climáticas. Em resumo, é preciso que o ser humano passe a agir de modo responsável, ético e sustentável em relação ao meio ambiente.

Convenção sobre Diversidade Biológica

Analise os gráficos e, na sequência, responda às questões 1 e 2.

Professor, professora: Ao abordar o gráfico de emissão de gás carbônico, explique aos estudantes que M t C O subscrito 2${\text{MtCO}}_2$ é a sigla para megatoneladas de C O subscrito 2${\text{CO}}_2$ ou 1 milhão de toneladas desse gás.

População (milhões de habitantes) (1960-2022)

Fonte de pesquisa: WORLD BANK GROUP. Population total. Disponível em: https://s.livro.pro/wu5ef9. Acesso em: 2 out. 2024.

Emissão de gás carbônico abre parênteses M t C O subscrito 2 fecha parênteses$\mathbf{\left(}{\mathbf{\text{MtCO}}}_{\mathbf{2}}\mathbf{\right)}$ (1960-2022)

Fonte de pesquisa: GLOBAL Carbon Atlas. Disponível em: https://s.livro.pro/x562tr. Acesso em: 2 out. 2024.

Como você pode notar ao analisar os gráficos, a população dos países representados aumentou ao longo dos anos e, de modo geral, a emissão de poluentes também sofreu aumento. Tal cenário é percebido em diversos outros países. Afinal, como o crescimento populacional pode estar relacionado à poluição e à degradação ambiental? Isso ocorre porque a população humana exerce uma pressão sobre o meio ambiente e seus recursos.

Para suprir suas necessidades, o ser humano faz uso de diferentes recursos naturais. Assim, quanto maior a população humana, maior é a exploração desses recursos, mais extensas as áreas ocupadas e modificadas e, consequentemente, maior a degradação ambiental.

Nesse contexto, cabe uma reflexão: o modo como o ser humano atualmente se relaciona com o meio ambiente e com os demais seres vivos é possível de ser mantido sem que haja um colapso do meio ambiente e seus recursos? Estudos científicos que analisam os impactos das atividades humanas para o futuro do planeta concordam que é emergencial modificar os hábitos e as políticas que orientam nossa relação com o meio ambiente, visando, entre outros objetivos, manter a biodiversidade e a própria espécie humana. Isso é possível por meio da sustentabilidade.

Com o intuito de proteger a biodiversidade no contexto da sociedade moderna, em 1992 a Organização das Nações Unidas (ONU) criou um tratado denominado Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), do qual diversos países são signatários, inclusive o Brasil. Essa convenção tem entre seus princípios a conservação da biodiversidade e seu uso sustentável, aliando proteção e conservação do meio ambiente e seus recursos naturais com crescimento econômico.

Praticamente todas as atividades realizadas pelo ser humano envolvem o uso de recursos naturais. Quando esse uso é excessivo, ultrapassando a taxa de reposição desses recursos, eles começam a reduzir no ambiente, o que é caracterizado como degradação, pois altera as condições necessárias para a manutenção do equilíbrio ambiental e das diferentes formas de vida.

A conservação ambiental e, consequentemente, da biodiversidade tornou-se emergencial para garantir o futuro da humanidade. A diversidade de espécies aumenta a produtividade do ecossistema. No entanto, o crescimento da população global nos últimos séculos e o avanço de atividades econômicas, como a agropecuária e o extrativismo realizado de modo não sustentável, alterou drasticamente a paisagem e as populações de diversas espécies. Isso tem levado ao desequilíbrio ambiental. Nesse contexto, é essencial desenvolver estratégias de conservação.

Estratégias de conservação

Além de importante para garantir que as futuras gerações tenham acesso aos recursos naturais, a conservação ambiental é essencial para manter a existência de povos e comunidades tradicionais e a permanência de suas culturas. Diante da demanda emergencial, estratégias de conservação foram criadas com o objetivo de minimizar os impactos ambientais e reduzir a exploração predatória de recursos.

A implementação de leis ambientais e a criação de áreas de uso restrito, de uso sustentável ou de preservação permanente são algumas das estratégias criadas para resguardar a vegetação, os recursos hídricos, o solo e a fauna, por exemplo.

Proteção legal de espécies

As leis e os decretos são importantes ferramentas jurídicas de proteção e conservação do meio ambiente e sua biodiversidade, uma vez que podem estabelecer medidas de proteção ambiental, cujo descumprimento prevê punições, e determinar parâmetros de fiscalização. O Brasil tem uma ampla legislação ambiental. Acompanhe alguns exemplos apresentados.

Unidades de Conservação

As UCs são áreas do território nacional, delimitadas e implantadas por lei, que apresentam características naturais relevantes. Sua gestão pode ocorrer nas esferas municipal, estadual e federal. Leia a seguir alguns objetivos das Unidades de Conservação.

Assim, além de visar à conservação da área e de seus recursos, as UCs contribuem para a geração de renda e emprego, principalmente às populações locais, favorecendo a melhora na qualidade de vida desses povos. Essas áreas legalmente protegidas podem ser organizadas em dois grupos: de uso sustentável e de proteção integral.

As Unidades de Conservação de Uso Sustentável buscam o uso sustentável de seus recursos naturais, como a coleta, sem comprometer o equilíbrio e a disponibilidade desses recursos.

As diferentes categorias de UCs têm características específicas, como em relação ao objetivo e às atividades permitidas em cada uma delas. Confira algumas das características das Unidades de Conservação de Uso Sustentável na tabela a seguir.

Fontes de pesquisa: BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Categorias. Disponível em: https://s.livro.pro/4pa5x7.

UNIDADES de Conservação. Sistema Nacional de Informações Florestais, 27 fev. 2020. Disponível em: https://s.livro.pro/6japdx. Acessos em: 2 out. 2024.

As Unidades de Conservação de Proteção Integral, por sua vez, têm como objetivo principal a conservação da natureza. Por isso, nesses locais, é permitido somente o uso indireto dos recursos naturais, ou seja, que não envolve consumo, coleta ou dano, como o turismo ecológico, as pesquisas científicas e as visitas educacionais.

Acompanhe na tabela a seguir as principais características das Unidades de Conservação de Proteção Integral.

Fontes de pesquisa: BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Categorias. Disponível em: https://s.livro.pro/4pa5x7.

UNIDADES de Conservação. Sistema Nacional de Informações Florestais, 27 fev. 2020. Disponível em: https://s.livro.pro/6japdx. Acessos em: 2 out. 2024.

Diferentemente das áreas de preservação, as Unidades de Conservação não são áreas territoriais totalmente intocáveis. A legislação regulamenta atividades específicas que podem ser exploradas nas UCs, especialmente as atividades que contribuem para a geração de renda e a subsistência de famílias locais, como é o caso dos povos extrativistas que vivem da coleta de vegetais em algumas unidades. Além da exploração sustentável, em alguns casos são permitidas atividades de educação com estudantes, pesquisas científicas e turismo.

Professor, professora: A criação de Unidades de Conservação em áreas particulares é possível desde que nelas sejam realizadas atividades compatíveis com o previsto na categoria de UC pretendida.

A pesquisa científica, uma das atividades permitidas, é essencial para a gestão das UCs, pois colabora para a obtenção de informações necessárias ao manejo e à conservação das áreas protegidas. Os trabalhos permitem conhecer, por exemplo, espécies ameaçadas de extinção e, consequentemente, auxiliar na elaboração de projetos que buscam minimizar os impactos sobre essas espécies. Para que as pesquisas sejam realizadas, são necessárias solicitações prévias ao órgão gestor da área, que concederá ou não a autorização. Além disso, os pesquisadores devem estar vinculados a uma instituição de pesquisa e fazer cadastro em sistema gerido por órgãos ambientais para que sejam autorizados a realizar atividades como a coleta de espécimes nas UCs.

As UCs estão distribuídas por todo o território nacional. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, em 2024, havia 2.945 Unidades de Conservação no país, presentes em todos os biomas brasileiros. Conheça a seguir alguns dados sobre as áreas de conservação por biomas.

Fonte de pesquisa: BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Departamento de Áreas Protegidas. Painel Unidades de Conservação Brasileiras. Disponível em: https://s.livro.pro/7m8w79. Acesso em: 2 out. 2024.

Apesar de sua importância, as UCs abrangem uma área relativamente pequena, o que corresponde a aproximadamente 18% em relação à área nacional. Nesse sentido, outras estratégias que visem à conservação ambiental também são necessárias, para além das áreas legalmente protegidas.

Restauração de ambientes degradados

Leia o trecho de reportagem a seguir.

DAMASIO, Kevin. Ação humana é responsável por quase todas as transformações nos biomas brasileiros, diz Tasso Azevedo. National Geographic Brasil, 22 set. 2021. Disponível em: https://s.livro.pro/ol6vlv. Acesso em: 2 out. 2024.

A maior parte das áreas naturais foi alterada ou degradada pela ação antrópica, ou seja, o ser humano é o principal agente transformador dos ambientes. Essas modificações podem prejudicar o equilíbrio ambiental e, consequentemente, a manutenção das espécies no ambiente, inclusive a humana. Assim, a manutenção das condições ambientais adequadas aos seres vivos é essencial para a biodiversidade.

Como você estudou anteriormente, entre os objetivos das Unidades de Conservação está a restauração de ambientes degradados, um processo mediado pelos seres humanos que visa reverter tais danos, ou parte deles, restaurando a função biológica do ecossistema e seu equilíbrio. A restauração é uma importante ferramenta na proteção da biodiversidade e pode envolver o reflorestamento, a reintrodução de espécies nativas, a remoção de espécies exóticas e a remoção de represas, ação que libera o fluxo dos rios.

A restauração florestal envolve o plantio de sementes ou mudas de espécies vegetais, de preferência nativas, possibilitando assim a recuperação da cobertura vegetal. Quando as áreas de restauração estão próximas a comunidades rurais, podem ser plantadas árvores frutíferas, castanheiras ou espécies de interesse comercial. Pode ser realizado também o plantio em consórcio, com produtos de interesse econômico, como cacau, erva-mate ou café.

Para que seja realizado o reflorestamento, é preciso considerar a sucessão ecológica, um processo natural que ocorre nos ambientes e envolve uma sequência de comunidades ecológicas, em que os seres vivos de uma comunidade são substituídos por outros ao longo do tempo. A sucessão ecológica pode seguir estágios e ser classificada como primária ou secundária. Quando os estágios dessas sucessões atingem a maturidade, dizemos que foi estabelecida a comunidade clímax, ou estágio terminal da sucessão ecológica. Acompanhe a seguir.

A sucessão ecológica primária ocorre em locais que não eram ocupados anteriormente. A superfície rochosa é ocupada inicialmente por seres vivos pioneiros, como liquens e microrganismos, que podem secretar ácidos que desgastam as rochas, atuando na formação do solo (A). A morte desses microrganismos contribui para disponibilizar matéria orgânica, auxiliando no desenvolvimento de gramíneas e vegetação rasteira (B e C). Com o tempo, a fertilidade do solo aumenta, o que contribui para estabelecer arbustos (D) e árvores de grande porte (E).

Imagem sem proporção e em cores fantasia.

Imagem elaborada com base em: MILLER, G. Tyler. Ciência ambiental. 11. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 127-128.

Já a sucessão ecológica secundária ocorre em ambientes já ocupados por seres vivos e que passaram por perturbações, como queimadas ou desmatamento. Por isso, o solo já está formado e pode conter mudas e sementes (A), ocorrendo mais rápido do que a sucessão primária. Inicialmente, o solo é coberto por gramíneas (B), que são pioneiras, isto é, estabelecem-se primeiro, e são substituídas por arbustos (C) e árvores de pequeno porte (D). Com o aumento da umidade e da fertilidade do solo, a temperatura diminui, o que favorece o povoamento por espécies de árvores de grande porte (E).

Imagem elaborada com base em: MILLER, G. Tyler. Ciência ambiental. 11. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 127-128.

O restabelecimento da cobertura vegetal, seja por meio do reflorestamento, seja por outra medida, ajuda a proteger o solo, melhorando sua qualidade e auxiliando na proteção e na qualidade dos corpos de água. Além disso, ao restaurar a vegetação, as condições tornam-se adequadas para o estabelecimento de outros seres vivos, incluindo os animais.

Muvuca

O reflorestamento para a recuperação de áreas degradadas pode ocorrer de forma natural ou por meio de técnicas realizadas com a ação humana. Tais técnicas são utilizadas para acelerar o processo de recuperação, como é o caso do plantio de mudas, um dos modelos mais tradicionais de reflorestamento. Além do uso de mudas, há técnicas alternativas, como a conhecida como muvuca.

A muvuca consiste na coleta e na mistura de sementes de diferentes espécies para semear áreas degradadas. As sementes são cuidadosamente selecionadas. Para compor a mistura, são previstas sementes conforme o tamanho e o ciclo de vida das espécies, por exemplo, para simular o processo natural de recuperação após a semeadura. Essa técnica pode apresentar vantagens em comparação a outras, como menor custo, mais eficiência, maior diversidade de espécies e apoio à participação de comunidades tradicionais.

As etapas iniciais da muvuca, como a coleta, o beneficiamento e a comercialização de sementes, geram oportunidades de emprego e de renda para famílias de povos originários e comunidades tradicionais, entre elas os quilombolas e os ribeirinhos. Nessas comunidades, são organizadas redes com centenas de coletores. Essas redes firmam parcerias, por exemplo, com instituições e empresas de reflorestamento, sendo essas parcerias responsáveis por gerar trabalho e renda às comunidades.

Os conhecimentos dos povos tradicionais sobre a floresta e sobre as diferentes espécies vegetais são de fundamental importância para a realização da técnica. Por meio deles, as sementes são cuidadosamente selecionadas e coletadas. Além de engajar as comunidades, a muvuca gera oportunidades de trabalho para muitas mulheres. Atualmente, os grupos de coletores são majoritariamente compostos de trabalhadoras.

Redução da dependência de combustíveis fósseis

Leia o trecho de reportagem a seguir e responda à questão.

CAMPOS, Ana Cristina. Mundo tem de fazer transição energética, dizem especialistas. Agência Brasil, 10 jan. 2024. Disponível em: https://s.livro.pro/p5ylep. Acesso em: 2 out. 2024.

A queima de combustíveis fósseis está associada a diversos problemas ambientais e de saúde. No entanto, eles seguem sendo utilizados em larga escala, principalmente pela sua capacidade de produzir maior quantidade de energia em comparação a outras fontes.

Combustíveis como petróleo, carvão mineral e gás natural representam cerca de 80% da matriz energética do mundo, o que demonstra a dependência desses combustíveis pelos seres humanos. Mas, diante de novas alternativas consideradas renováveis e menos poluentes, por que os combustíveis fósseis continuam sendo os mais utilizados? Muito disso ocorre em virtude da versatilidade que eles oferecem. O petróleo, por exemplo, além de sua capacidade de gerar grande quantidade de energia, é facilmente transportado e sua extração possibilita a obtenção de diferentes tipos de derivados.

Boa parte do petróleo e seus derivados é utilizada em atividades industriais e em veículos. Já o carvão mineral é largamente utilizado para a geração de energia elétrica nas usinas termelétricas, enquanto o gás natural é amplamente usado no consumo doméstico.

A aceleração das atividades industriais, somada ao crescimento populacional do mundo, principalmente nos últimos dois séculos, ocasionou o aumento da demanda pelo fornecimento de energia elétrica, da geração de calor e de combustíveis para mover os meios de transporte. Além disso, a mudança no padrão de vida das pessoas e o consumo excessivo de produtos aceleraram as atividades industriais, demandando mais combustíveis fósseis.

Diante dos problemas ambientais decorrentes da exploração e do consumo dos combustíveis fósseis, bem como da crise energética que poderá ser gerada com o esgotamento desses combustíveis, órgãos internacionais propõem mudanças emergenciais para que os países adotem a transição energética e se comprometam com a redução do consumo de recursos naturais não renováveis.

No contexto da geração de energia, as fontes de energia renováveis são as principais alternativas para atender às medidas propostas de mitigação dos problemas ambientais e reduzir a dependência dos combustíveis fósseis. Energias provenientes de recursos hídricos, solar, eólico e os compostos de origem orgânica, como a biomassa, são alguns exemplos de alternativas ambientalmente sustentáveis.

A eletrificação de motores, como dos automóveis, até então movidos somente a combustão apresenta-se como outra importante alternativa para a redução do consumo de combustíveis fósseis. Nos últimos anos, muitas montadoras passaram a investir na produção de veículos com motores elétricos. No entanto, a produção, assim como a comercialização, ainda segue em baixa escala se comparada com os veículos a combustão.

Povos tradicionais

Quando estudamos a relação entre sociedade e natureza, é comum nos depararmos com os chamados povos tradicionais. Mas, afinal, você sabe quem são esses povos?

Povos tradicionais são grupos de pessoas que compartilham da mesma cultura e vivem em lugares fundamentais para a reprodução do seu modo de organização social, mantendo crenças, costumes e tradições. Esses povos mantêm intensa relação com a natureza, da qual dependem diretamente para a sobrevivência. O respeito com o meio ambiente é passado entre gerações, com o ensinamento de que sejam retirados dele somente os recursos naturais necessários. Os conhecimentos em relação à retirada de pequenas quantidades de madeira para a construção de objetos e moradias, a abertura de pequenas áreas para o plantio, além da obtenção de alimentos por meio da caça e da pesca de subsistência são exemplos do respeito à natureza que os povos tradicionais detêm, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caiçaras, entre outros.

A dependência da natureza não se restringe aos povos tradicionais, mas engloba todos os seres humanos. Nesse contexto, surge a necessidade de mantê-la conservada para garantir que as futuras gerações sigam, de maneira sustentável, usufruindo dos recursos naturais, bem como assegurar a existência dos povos tradicionais e suas devidas culturas. Diante disso, leia a manchete a seguir.

Disponível em: https://s.livro.pro/y0s6si. Acesso em: 2 out. 2024.

A manchete destaca a importância dos povos indígenas, que também fazem parte das populações tradicionais, para a conservação da biodiversidade. Isso se deve à relação respeitosa que esses povos têm com a natureza, detendo intensa conexão com ela e profundo conhecimento da flora e da fauna. Nessa perspectiva, os povos e as comunidades tradicionais têm sido essenciais para a proteção da natureza. Embora fundamentais, muitas comunidades estão há décadas sofrendo invasões, destruições e até mesmo expulsão de seus moradores por criminosos ligados a práticas ilegais de exploração da natureza. Os povos e comunidades tradicionais são reconhecidos pelo governo federal, que, por lei, é o responsável por protegê-los e por garantir todos os direitos previstos a eles.

A devastação de florestas e o uso da violência contra comunidades tradicionais colocam em risco não só os territórios e seus respectivos povos, mas também toda a sociedade. Desse modo, membros das comunidades tradicionais têm se posicionado em defesa das terras e de suas tradições e se mostrado cada vez mais presentes em posições de liderança na questão ambiental.

Diversas lideranças ativistas têm alcançado protagonismo nacional e internacional com suas lutas. Uma delas é Txai Suruí (1997 -), do povo indígena Suruí, em Rondônia. Aos 24 anos, Txai tornou-se a primeira indígena a discursar na abertura da Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, em 2021, na cidade de Glasgow, na Escócia. Seu discurso sobre a necessidade de medidas para frear as mudanças climáticas e a importância dos povos indígenas na proteção da Amazônia representou não somente a luta do seu povo, mas também a voz de todos os outros que, assim como ela, lutam contra a destruição das florestas e as ameaças contra sua existência.

Etnocartografia e Cartografia social

Como estudado anteriormente, a importância dos povos tradicionais é inegável, tanto do ponto de vista cultural como ambiental e social. Para auxiliar na proteção desses povos e de seus territórios, bem como do meio ambiente e dos recursos naturais dessas áreas, foram desenvolvidas as chamadas Etnocartografia e Cartografia social.

Tanto a Etnocartografia como a Cartografia social são recursos que permitem à própria comunidade mapear seu território de vivência. Enquanto a Cartografia social pode contar com o auxílio de alguns profissionais para darem suporte ao mapeamento da comunidade, a Etnocartografia é um trabalho executado inteiramente pelos povos tradicionais. Diferentemente da Cartografia tradicional, esse tipo de mapeamento não se baseia em informações técnicas, mas na percepção da própria população quanto ao território e ao modo de vida, por exemplo. Em suma, os mapas são produzidos com linguagem diversificada, que valoriza os saberes tradicionais sobre o espaço e a natureza. A importância da participação de membros da comunidade envolve não somente os adultos, mas também os jovens e os idosos.

Diante das singularidades, ambos os recursos podem contribuir para a riqueza cultural dos povos tradicionais, bem como promover a conservação e a sustentabilidade das comunidades. A representação de áreas degradadas pelo avanço da exploração ilegal de recursos e a identificação de áreas de riscos para a fauna e a flora são alguns dos exemplos em que a Etnocartografia e a Cartografia social podem auxiliar a implementação de projetos que promovam a conservação da biodiversidade.

Outro importante fator que esse tipo de cartografia permite é o auxílio na delimitação e na demarcação de territórios para a manutenção dos povos tradicionais, pois fornece informações que vão além de aspectos físico-naturais, abarcando as experiências afetivas como forma de garantir a preservação da identidade cultural e do modo de vida. Confira o mapa Terra Indígena Paumari do Lago Marahã – Lábrea (AM), um modelo de Cartografia social.

Imagem elaborada com base em: TERRA Indígena do Lago Marahã – Lábrea (AM). Nova Cartografia Social da Amazônia, 19 dez. 2018. Disponível em: https://s.livro.pro/46onq5. Acesso em: 27 set. 2024.

Na representação, é possível notar elementos que simbolizam, por exemplo, a localização das comunidades e de importantes rios e lagos, além da identificação de áreas com espécies da fauna e da flora para obtenção de alimentos e demais recursos necessários.

De modo geral, mais do que uma forma de representar territórios, a Etnocartografia e a Cartografia social são uma importante ferramenta para que os povos se sintam reconhecidos.

Desenvolvimento sustentável

O agravamento dos problemas envolvendo questões ambientais, especialmente nos séculos XX e XXI, tem gerado preocupação sobre o futuro da humanidade no planeta Terra. O alarmante cenário ambiental mundial desperta a emergência por medidas e ações que possam promover a consciência ambiental e paralelamente contribuir para que as futuras gerações não sejam comprometidas. Perante os problemas ambientais e a necessidade de reduzi-los, surgiu um conceito bastante mencionado nos tempos atuais, o chamado desenvolvimento sustentável.

Professor, professora: Se considerar pertinente, oriente os estudantes a acessar a lista de ODS da ONU para compreender melhor cada objetivo. Disponível em: https://s.livro.pro/5uhtmg. Acesso em: 2 out. 2024.

O termo sustentável remete à condição de um processo ou de um sistema que consegue se sustentar, ou seja, é capaz de permanecer, de modo que o uso presente não prejudique as gerações futuras. Já o termo desenvolvimento foi, durante muitos anos, associado apenas ao crescimento econômico dos países. Ao longo dos anos, porém, entendeu-se que desenvolvimento e sustentabilidade precisam estar aliados; é o chamado desenvolvimento sustentável, que abrange três esferas: econômica, social e ambiental.

De acordo com órgãos oficiais, como a ONU, o desenvolvimento sustentável corresponde, de modo geral, a um modelo de desenvolvimento capaz de suprir as necessidades humanas da atualidade e ao mesmo tempo não esgotar os recursos para o futuro. Por ora, a humanidade se encontra imersa em inúmeros desafios para atingir um desenvolvimento sustentável.

Diante da urgência dessa temática, líderes mundiais e representantes da sociedade civil reuniram-se em 2015 na sede da ONU, em Nova York, Estados Unidos, e traçaram um plano de ação com diversas metas, entre elas a erradicação da pobreza, a proteção do planeta e o alcance da paz entre as nações. Como o objetivo é que as metas sejam cumpridas até 2030, esse plano de ação ficou conhecido como Agenda 2030, no qual estão propostos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Os ODS são: (1) erradicação da pobreza; (2) fome zero e agricultura sustentável; (3) saúde e bem-estar; (4) educação de qualidade; (5) igualdade de gênero; (6) água potável e saneamento; (7) energia limpa e acessível; (8) trabalho decente e crescimento econômico; (9) indústria, inovação e infraestrutura; (10) redução das desigualdades; (11) cidades e comunidades sustentáveis; (12) consumo e produção responsáveis; (13) ação contra a mudança global do clima; (14) vida na água; (15) vida terrestre; (16) paz, justiça e instituições eficazes; (17) parcerias e meios de implementação. Cada um desses objetivos apresenta diferentes ações para alcançá-los.

Sendo assim, para que esse tipo de desenvolvimento seja implantado de modo efetivo, é preciso que haja equilíbrio entre as áreas econômica, social e ambiental.

O papel da sociedade

Para iniciarmos o estudo do tema, responda às questões a seguir.

Você já parou para refletir sobre o quão prejudicial o estilo de vida do ser humano pode ser para o meio ambiente? Seria possível mensurar essa interferência? Refletindo sobre essas questões e considerando que o ser humano deixa "rastros" no meio ambiente, foi proposto o conceito de pegada ecológica, que nos ajuda a perceber o uso de recursos naturais no dia a dia e a refletir sobre práticas sustentáveis em nosso estilo de vida.

O canadense William Rees (1943 -) e o suíço Mathis Wackernagel (1962 -), ambos ecologistas, foram os primeiros a utilizar esse conceito, na década de 1990. Essa "pegada" refere-se à área produtiva da superfície terrestre necessária para fornecer os recursos naturais que sustentam o estilo de vida de uma pessoa, de uma cidade ou de um país. Nesse conceito, também é preciso considerar a biocapacidade de determinada área, ou seja, a capacidade de produzir recursos e absorver resíduos gerados pelo ser humano.

Ao refletir sobre a pegada de carbono da sociedade atual e as principais fontes de energia, podemos verificar, por exemplo, que, apesar das inúmeras fontes de energia renováveis, de modo geral, a sociedade ainda é dependente de recursos naturais não renováveis, como os metais e o petróleo e seus derivados − os combustíveis fósseis. Ou seja, ainda estamos longe de ser uma sociedade sustentável.

No entanto, muito ainda pode ser feito. Sobre esse assunto, leia o trecho da reportagem apresentada.

COMO um estilo de vida sustentável pode ajudar a combater a crise climática. Programa para o Meio Ambiente, 16 ago. 2022. Disponível em: https://s.livro.pro/z71we7. Acesso em: 2 out. 2024.

Diversas ações do dia a dia podem contribuir para um estilo de vida mais sustentável e para o enfrentamento da crise climática, como o uso consciente de água, a economia de energia elétrica, a separação e destinação adequadas dos resíduos sólidos, o não desperdício de alimentos e o consumo de serviços e produtos mais sustentáveis. Vamos estudar algumas dessas atitudes a seguir.

Podemos começar a aplicar a sustentabilidade em nosso cotidiano avaliando e modificando o modo como lidamos com a água, a energia elétrica, os alimentos e os resíduos sólidos, por exemplo, por meio do consumo consciente. Leia a tirinha a seguir.

BECK, Alexandre. Armandinho sete. Florianópolis: A. C. Beck, 2015. p. 12.

A água é um recurso renovável. No entanto, sua disponibilidade à população humana pode ser prejudicada por diferentes fatores, como degradação dos corpos de água, uso inadequado, desperdício e longos períodos de estiagem. Nesse contexto, é essencial adotarmos atitudes que ajudem a conservar esse recurso. Leia algumas dessas atitudes a seguir:

• mantenha o registro do chuveiro fechado enquanto se ensaboa no banho;
• feche a torneira enquanto lava a louça;
• feche a torneira ao escovar os dentes;
• não lave calçadas utilizando mangueira; dê preferência ao uso de baldes.

A energia elétrica no Brasil provém, em sua maioria, do uso de energia hidráulica e, em menor proporção, de usinas termelétricas movidas a carvão mineral e outras usinas elétricas. Ou seja, também dependemos da água e dos combustíveis fósseis para a geração de energia elétrica. Dessa forma, o uso consciente de energia elétrica é essencial para um modo de vida sustentável. Para isso, é possível adotar medidas como as apresentadas a seguir.

• Dê preferência a lâmpadas de LED ou fluorescentes; elas consomem menos energia elétrica e são mais duráveis.
• Apague a luz dos cômodos que não estiverem sendo usados.
• Aproveite a luz solar para iluminar os ambientes no período do dia.
• Retire os equipamentos elétricos da tomada quando não estiverem em uso – no modo stand-by, ainda há consumo de energia elétrica.
• Ao comprar um equipamento eletrônico, prefira os que consomem menos energia elétrica.

A luz solar pode ser utilizada na geração de energia elétrica, em usinas elétricas solares, ou utilizada diretamente para a iluminação interna de ambientes, evitando o uso de lâmpadas elétricas.

Outro recurso que vem sendo amplamente desperdiçado na sociedade moderna são os alimentos. Segundo relatório da ONU publicado em 2024, 1 bilhão de refeições são desperdiçadas todos os dias no mundo. No Brasil, a quantidade diária de alimentos desperdiçados por pessoa é estimada em cerca de 353 gramas$\text{353 g}$ − o que corresponde a 128 vírgula 8 quilogramas$\text{128,8 kg}$ por ano. De acordo com pesquisa realizada em 2018 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em conjunto com a Fundação Getulio Vargas (FGV), os alimentos mais descartados são arroz (22%), carne bovina (20%), feijão (16%) e frango (15%). Embora tais alimentos sejam os mais desperdiçados, muitas pessoas sequer têm acesso a esses e tantos outros, em decorrência das desigualdades sociais e econômicas do país.

Leia a seguir algumas dicas de como, individualmente, podemos contribuir para a redução do desperdício de alimentos.

• Adicione ao prato somente a quantidade de alimento suficiente para saciar sua fome.
• Evite comprar e armazenar grande quantidade de alimentos, pois a data de validade pode expirar antes de seu consumo, necessitando descartá-los.
• Utilize partes de alimentos que seriam descartadas, como cascas, para a elaboração de outras receitas.
• Elabore receitas que aproveitem o alimento preparado no dia anterior, evitando seu descarte.

A alimentação humana sofreu modificações nas últimas décadas, tendendo ao aumento do consumo de alimentos processados e ultraprocessados, que, além de menos nutritivos, requerem o uso de mais embalagens. Com a industrialização, diversos outros produtos também passaram a utilizar embalagens, produzidas com diferentes materiais, como plástico, papel e papelão. Dessa forma, quanto maior o consumo desses produtos, mais recursos são extraídos do ambiente e maior é a quantidade de resíduos sólidos gerados.

As embalagens dos produtos industrializados podem ser de diferentes materiais, sendo o plástico um dos mais utilizados. Além do resíduo gerado por seu descarte, as embalagens requerem a extração de matéria-prima da natureza, como metais, areia, celulose e petróleo.

Os alimentos desperdiçados e as embalagens dos produtos, quando descartados, passam a compor os resíduos domésticos. Antes de descartar os itens, no entanto, é preciso considerar a possibilidade de muitos poderem ser reaproveitados ou reciclados.

No reaproveitamento (reutilização), o produto é utilizado com finalidade diferente daquela para a qual foi produzido. Já quando o material é reciclado, sua matéria-prima é utilizada para a elaboração de outros produtos. Ambas as possibilidades ajudam a reduzir a quantidade de resíduos sólidos lançados no ambiente.

Também é preciso atentar ao material das embalagens. Os diferentes materiais apresentam diferença quanto ao tempo de degradação no ambiente. Por isso, é preciso dar preferência àqueles cuja degradação é mais rápida no ambiente, como o papel. Além disso, sempre que possível, opte por materiais biodegradáveis. Esse tipo de material é degradado naturalmente e de maneira mais rápida no ambiente, além de ser produzido com recursos renováveis. Em outras palavras, o consumo consciente ainda é a melhor opção.

Professor, professora: Ao abordar a geração de resíduos sólidos, explique aos estudantes que lixo é o nome popular dado aos resíduos sólidos produzidos pelo ser humano.

Além do consumo consciente, é importante dar preferência a embalagens retornáveis ou que foram feitas com material reciclável.

Imagem sem proporção e em cores fantasia.

Atitudes sustentáveis também envolvem tornar atividades econômicas mais sustentáveis. A agricultura, por exemplo, é uma das principais atividades econômicas do Brasil e, quando realizada de modo correto, pode auxiliar na conservação ambiental sem prejudicar sua produtividade.

Nesse contexto, podemos citar a agricultura sustentável. Esse modelo adota padrões que envolvem desde o uso de técnicas tradicionais até utilizar tecnologias produtivas, ambas sem praticar a exploração predatória de recursos naturais ou outros danos ambientais, visando, dessa forma, promover o equilíbrio entre produção agrícola e meio ambiente.

Esse tipo de agricultura pode ser realizado, por exemplo, por meio de técnicas que visam à redução do uso de agrotóxicos, também chamados de defensivos agrícolas, e à prevenção da exaustão do solo, como por meio da agricultura orgânica, do sistema agroflorestal e da adubação verde. A seguir, vamos conhecer um pouco mais sobre algumas dessas possíveis técnicas da agricultura sustentável.

O sistema agroflorestal associa o cultivo de alimentos ao plantio de árvores. Esse tipo de sistema de plantio combina, em uma mesma área e por determinado intervalo de tempo, diferentes tipos de vegetação. Além das espécies agrícolas, são cultivadas espécies arbóreas, frutíferas, arbustivas ou para a extração de madeira, que ajudam a manter a nutrição do solo e, no caso do plantio de espécies nativas, atraem animais para o local.

A técnica de rotação de culturas consiste em nutrir o solo, sobretudo de áreas degradadas, por meio da alternância do plantio de espécies vegetais específicas para essa finalidade, entre elas leguminosas, gramíneas, crucíferas ou cereais. Já a adubação verde consiste na técnica de melhorar a qualidade do solo por meio de plantio de espécies vegetais específicas. Por alternar espécies com diferentes exigências nutricionais, essa técnica ajuda a evitar a exaustão do solo, gerando benefícios como o aumento da quantidade de matéria orgânica no solo, a melhora da infiltração de água e a descompactação das camadas do solo, a adição de nutrientes, como o nitrogênio, além de tornar a terra mais úmida.

Garantir sistemas sustentáveis de produção alimentar assim como implementar práticas agrícolas que ajudem a manter conservados os ecossistemas são estratégias utilizadas na agricultura sustentável, conforme recomendam as ações do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 da ONU. Além de beneficiar o meio ambiente, as práticas de agricultura sustentável servem como um importante meio de fortalecimento econômico e da segurança alimentar de agricultores familiares, por oferecer mais valorização comercial dos produtos e ao mesmo tempo atender com suficiência e qualidade ao próprio consumo familiar.

O papel do poder público

Professor, professora: Incentive os estudantes a responder à questão sugerida no primeiro parágrafo desta página.

Até o momento, estudamos como cada cidadão pode colaborar diariamente para o desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável. E quanto ao poder público, de que maneira pode ajudar nessa mudança?

Uma das principais ferramentas dos poderes públicos executivos e legislativos para alcançar a sustentabilidade são as leis e os decretos. Esses mecanismos jurídicos estabelecem, por exemplo, limites de exploração e regras quanto ao lançamento de resíduos no ambiente, bem como preveem punições àqueles que descumprirem essas leis. Leia alguns exemplos a seguir.

O conjunto de leis e decretos contribui para o desenvolvimento de políticas públicas envolvendo a proteção das espécies, a manutenção da biodiversidade e a conservação dos recursos naturais. Eles são a base das diretrizes que estabelecem medidas a respeito das questões ambientais. Além disso, promovem o incentivo às pesquisas científicas, ajudando a traçar os possíveis caminhos para alcançar os objetivos propostos.

Para que as medidas de sustentabilidade sejam viáveis, é necessário, por exemplo, repensar o planejamento urbano, pois cidades cujo crescimento ocorre de modo descontrolado e sem planejamento têm mais chances de problemas, como construção de moradias em áreas de risco e ambientalmente relevantes.

As cidades planejadas, por sua vez, têm inúmeras vantagens, entre elas crescimento mais controlado, melhor mobilidade urbana, melhores condições de vida para a população e menos danos ambientais, tendo em vista que é possível incluir no planejamento o incentivo ao transporte coletivo de qualidade e a veículos que emitem menos poluentes, por exemplo.

O Brasil tem alguns municípios planejados, entre eles Brasília. A capital do país foi inaugurada em 1960, durante o governo do médico brasileiro Juscelino Kubitschek (1902-1976). Seu planejamento contou com a participação de diferentes arquitetos, como o brasileiro Oscar Niemeyer (1907-2012) e o francês Lúcio Costa (1902-1998).

O poder púbico e seus representantes também podem atuar de modo a incentivar pesquisas científicas visando ao desenvolvimento de tecnologias ambientalmente adequadas. Entre elas, podemos citar aquelas que possibilitem a redução do uso de combustíveis fósseis, nos diferentes setores da sociedade que utilizam esse tipo de combustível. Sobre esse tema, leia o texto a seguir.

O FUTURO do mercado de combustível sustentável de aviação. Notícias UFJF, 9 jul. 2024. Disponível em: https://s.livro.pro/a5eni0. Acesso em: 2 out. 2024.

Somado a esse cenário, o poder público pode atuar no desenvolvimento de políticas públicas e infraestrutura de incentivo ao uso de meios de transporte públicos, especialmente os que não utilizam combustíveis fósseis, como os metrôs e ônibus de transporte coletivo elétricos ou movidos a hidrogênio abre parênteses H subscrito 2 fecha parênteses$\left({\text{H}}_2\right)$. Além dessas ações, governos e governantes podem atuar de maneira incisiva na cobrança para que indústrias adotem meios de produção mais sustentáveis. Isso é possível, por exemplo, por meio de incentivos fiscais a esse tipo de indústria.

Tecnologia e sustentabilidade

Ao longo do tempo, a tecnologia tem sido uma aliada do ser humano, facilitando a realização de inúmeras tarefas diárias. Além disso, ela pode auxiliar no desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável. Confira o gráfico "Desmatamento da Amazônia Legal (1990- -2023)" e as imagens de satélite (A e B) da página seguinte.

Desmatamento da Amazônia Legal (1990-2023)

Fonte de pesquisa: TERRA Brasilis. Disponível em: https://s.livro.pro/pca2es. Acesso em: 2 out. 2024.

A.

B.

Os instrumentos espaciais, como os satélites artificiais, possibilitam visualizar todas as áreas da superfície terrestre e as modificações que nelas ocorrem, monitorando-as. O monitoramento das áreas naturais é essencial para sua conservação. Ao identificar aumento ou redução da taxa de desmatamento, por exemplo, é possível alertar os órgãos competentes a respeito da necessidade de medidas que visem reduzir esse tipo de degradação, no caso do aumento, ou apontar que as medidas de contenção estão surtindo efeitos positivos na diminuição desse tipo de dano, quando identificada uma redução.

Além disso, a análise de imagens de satélite possibilita identificar as áreas específicas onde a degradação está ocorrendo, direcionando assim esforços e políticas a esses locais.

O monitoramento por satélites também pode ser realizado com animais. Nesse caso, diversos projetos de pesquisa e conservação da fauna utilizam o monitoramento remoto das espécies, possibilitando aos pesquisadores, por exemplo, acompanhar um indivíduo ou um grupo deles, mapear seu deslocamento e seus hábitos, além de avaliar o comportamento dos animais individual ou coletivamente.

O uso dessa tecnologia possibilita conhecer melhor uma espécie e, assim, desenvolver medidas de conservação de suas populações, sendo especialmente importante no caso de espécies migratórias, que se deslocam por grandes distâncias, ou daquelas ameaçadas de extinção. Além disso, dá a oportunidade de localizar e estudar diferentes animais simultaneamente e sem a interferência do observador, o que possibilita o acesso a informações mais próximas do comportamento natural de determinada espécie.

Os rastreadores por telemetria utilizados para estudar a fauna são de diferentes tipos, podendo ser operados via rádio, satélite ou GPS (Global Positioning System, traduzido como Sistema de Posicionamento Global), sendo este último o mais moderno. Cada um desses tipos tem suas vantagens e limitações e é escolhido de acordo com o animal a ser estudado e o objetivo da pesquisa.

O colar com rastreador via rádio tem uma antena que emite sinais de alta frequência. Ao captar esses sinais, por meio de antenas receptoras, os pesquisadores conseguem localizar o animal.

Sagui-cabeça-de-algodão (S. oedipus): pode atingir aproximadamente 25 centímetros$\text{25 cm}$ de comprimento.

Professor, professora: Ao explorar a imagem do sagui-cabeça-de-algodão, comente com os estudantes que os equipamentos podem ser fixados nos animais de diferentes maneiras, como por meio de colares, implantes e adesivos, a depender das características do animal.

Acompanhe a seguir um exemplo de funcionamento do monitoramento animal – no exemplo, uma onça-pintada (Panthera onca) – por telemetria via GPS.

A.

B.

C.

Fonte de pesquisa: MONITORAMENTO: saiba a diferença entre os colares VHF e GPS. Onçafari, 8 jan. 2020. Disponível em: https://s.livro.pro/dknjvb. Acesso em: 2 out. 2024.

Além da aplicação no setor de combustíveis, visando ao desenvolvimento de fontes de energia ambientalmente mais adequadas, a tecnologia pode auxiliar, por exemplo, no desenvolvimento de instrumentos que reduzem a emissão de poluentes na atmosfera terrestre, como os filtros em chaminés de indústrias e os catalisadores em escapamentos de automóveis.

Professor, professora: Ao abordar o monitoramento da fauna, comente com os estudantes que alguns sensores podem ser anexados aos sistemas de monitoramento, possibilitando a obtenção de informações fisiológicas do animal monitorado, como batimentos cardíacos, atividade e temperatura corporal.

Os catalisadores têm estrutura de colmeia, cujos canais são revestidos por metais. Neles, ocorrem reações químicas que transformam gases com alto poder de poluição, como monóxido de carbono abre parênteses C O fecha parênteses$\left(\text{CO}\right)$ e óxidos de nitrogênio, resultantes da queima incompleta de combustíveis fósseis, em materiais menos poluentes, como dióxido de carbono, ou não poluentes, como gás nitrogênio abre parênteses N subscrito 2 fecha parênteses$\left({\text{N}}_2\right)$ e vapor de água.

Há também tecnologias que ajudam a reduzir os níveis de poluição atmosférica, contribuindo para que os meios de transporte não emitam gases poluentes. Esse é o caso das bicicletas elétricas, que são movidas a bateria, e dos veículos elétricos movidos a gás hidrogênio abre parênteses H subscrito 2 fecha parênteses$\left({\text{H}}_2\right)$. Além disso, a tecnologia é uma importante ferramenta na disseminação de informações, buscando a conscientização dos cidadãos diante dos problemas ambientais e possíveis ações na busca por uma sociedade mais sustentável.

Estilo de vida saudável

Confira a imagem a seguir e responda às questões.

Ao responder às questões anteriores, você foi levado a refletir sobre o que é saúde e quais hábitos colaboram para sua manutenção. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), ter saúde não se refere apenas à ausência de doenças, mas também a um completo bem-estar físico, mental e social. Dessa maneira, sua manutenção envolve uma série de atitudes, em diferentes âmbitos, incluindo o modo como os seres humanos interagem entre si e com o ambiente.

Ao longo de sua história, o ser humano criou uma infraestrutura para se manter no ambiente onde vive, visando, por exemplo, facilitar a realização de tarefas, melhorar a qualidade de vida e adquirir benefícios econômicos. No entanto, algumas relações estabelecidas com outros indivíduos e com o ambiente não trazem apenas benefícios. Muitas podem prejudicar o ser humano e sua saúde.

Junto ao desenvolvimento tecnológico, surgiram demandas cada vez mais exigentes no mundo do trabalho, levando as pessoas a dedicar mais horas de seu dia a essa finalidade. Isso reduziu o tempo destinado ao lazer, ao convívio social e familiar, à prática de atividades físicas e ao preparo das refeições, por exemplo. Além disso, a modernização e os avanços da sociedade contemporânea têm contribuído para níveis alarmantes de poluição, degradação ambiental e problemas de saúde.

Essas e outras mudanças no estilo de vida da sociedade muitas vezes não resultaram em melhorias significativas. Por isso, cabe a cada um repensar seu modo de vida e como está lidando com tudo o que o cerca, buscando priorizar o cuidado de sua saúde de maneira integral.

Infraestrutura e outros serviços básicos

A saúde é um estado de bem-estar que engloba grande diversidade de parâmetros individuais, coletivos, pessoais e governamentais. Os programas de infraestrutura, por exemplo, que impulsionam o desenvolvimento socioeconômico de determinada região, são essenciais para a qualidade de vida da população e, consequentemente, de sua saúde. A infraestrutura inclui serviços como transporte, acesso a energia elétrica, telecomunicações, atendimento de saúde, cobertura vacinal e saneamento básico.

A seguir, vamos estudar alguns desses serviços e seus efeitos na população.

Saneamento básico

Leia o texto a seguir, que cita dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) de 2023.

Fonte de pesquisa: DESIGUALDADE de três dígitos: Ranking do Saneamento 2023 destaca que o tratamento de esgoto é 340% maior nos 20 municípios mais bem colocados do que nos 20 piores do Brasil. Trata Brasil. Disponível em: https://s.livro.pro/7rrk54. Acesso em: 26 set. 2024.

O saneamento básico é um conjunto de serviços, instalações e infraestrutura relacionado à prevenção de doenças, manutenção da saúde e melhoria das condições de qualidade de vida da população. Esses serviços abrangem tratamento e abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, coleta de resíduos sólidos, limpeza urbana e coleta e escoamento da água das chuvas.

Como citado no texto com dados do SNIS, a falta de acesso a serviços de saneamento básico está diretamente relacionada à ocorrência de doenças causadas pela ingestão de água ou alimentos contaminados, as chamadas doenças de transmissão hídrica e alimentar (DTHA). Sobre essa categoria de doenças, analise os dados a seguir.

Fonte de pesquisa: BRASIL. Ministério da Saúde. Surtos de doenças de transmissão hídrica e alimentar no Brasil: informe 2024. Disponível em: https://s.livro.pro/su1dni. Acesso em: 26 set. 2024.

Professor, professora: Ao explorar a tabela com os estudantes, explique a eles que surto se refere a um episódio caracterizado pelo rápido aumento na quantidade de casos de determinada doença, em uma região específica. Além disso, esclareça a eles que expostos se refere às pessoas que foram expostas aos agentes patogênicos, via água ou alimento, enquanto doentes são as pessoas que foram expostas e desenvolveram uma doença.

Como foi possível perceber ao analisar os dados da tabela, no período de 2020 a 2023, observou-se aumento em todos os parâmetros analisados (surtos, expostos, doentes e óbitos). Embora esse tipo de aumento possa ser resultado de diferentes fatores, possivelmente um deles está relacionado à falta de acesso ou à precariedade de serviços de saneamento básico, uma vez que a ausência desses serviços expõe os cidadãos a condições inadequadas de higiene pessoal e ambiental.

Professor, professora: Ressalte aos estudantes que a cobertura de saneamento básico também contribui para evitar danos ambientais, uma vez que garante que o descarte de resíduos e esgoto não tratado seja feito de forma adequada, sem poluir o solo e a água. É preciso, dessa maneira, ampliar os serviços de saneamento básico e os investimentos nessa área.

Serviços de saúde

O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema de saúde pública do Brasil. Ele integra todos os entes da federação, municípios, estados e União, por meio do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais e municipais de saúde.

A saúde, bem como as condições que a asseguram, é direito de todo cidadão, previsto na Constituição Federal de 1988 e na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Nesse contexto, o SUS possibilita a equidade do acesso a serviços hospitalares e às vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental, bem como à assistência farmacêutica.

Dessa maneira, o SUS proporciona o acesso universal ao sistema público de saúde. Esse sistema abrange exames médicos, consultas, cobertura vacinal, acompanhamento pré-natal, internações, cirurgias e transplantes, entre outros serviços. Assim, atua na prevenção de doenças, no tratamento e na reabilitação.

Cobertura vacinal

Um dos fatores que contribuem para a saúde da população é a vacinação, de responsabilidade do Ministério da Saúde, via Programa Nacional de Imunização, o qual disponibiliza, gratuitamente, 31 tipos de vacinas para a população brasileira. As vacinas atuam estimulando as defesas naturais do corpo humano, por meio da produção de anticorpos, em um processo chamado imunização. Assim, é fundamental na prevenção e no controle da disseminação de doenças.

[...]

Até meados de 1980, a poliomielite causava paralisia em quase 100 crianças por dia no planeta, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Somente no Brasil, foram registrados quase 27 mil casos da doença entre 1968 e 1989, ano da última notificação no país. Em 1994, as Américas receberam o certificado de eliminação da doença. [...]

Com o sarampo a história não é diferente. Enquanto de 1990 a 2000 o Brasil registrava mais de 177 mil casos, campanhas de vacinação levaram o país a receber o certificado de eliminação da doença em 2016.

No entanto, em 2019, o país perdeu o reconhecimento após não conseguir controlar um surto [...]

COBERTURA vacinal no Brasil está em índices alarmantes. Fiocruz, 29 ago. 2022. Disponível em: https://s.livro.pro/xkxoon. Acesso em: 27 set. 2024.

No texto, é possível perceber que a vacinação ajudou a reduzir e até erradicar uma das doenças que assolavam o país no passado. No entanto, a falta de adesão às campanhas de vacinação possibilitou que essa doença retornasse ao cenário nacional. Ou seja, é essencial manter o calendário de vacinação atualizado.

Professor, professora: Comente com os estudantes que as vacinas podem ser de diferentes tipos, por exemplo, baseadas em toxinas bacterianas ou em vírus atenuados ou mortos. Enfatize que, independentemente de seu tipo, as vacinas não causam doenças, apenas preparam o organismo para se defender no caso de contato com um agente causador de determinada doença.

Controle epidemiológico

O SUS também é responsável por monitorar os casos de epidemias e endemias no Brasil. Isso possibilita a centralização dos dados provenientes das secretarias municipais e estaduais de saúde. Assim, é possível acompanhar a incidência de doenças, comparando diferentes anos epidemiológicos. Essas informações possibilitam analisar a evolução das doenças e podem ajudar na elaboração de estratégias de combate e prevenção.

Vários cientistas em todo o mundo atuaram e atuam na identificação de organismos relacionados a epidemias. Um exemplo é a parasitologista brasileira Maria von Paumgartten Deane (1916-1995). Durante sua carreira, ela realizou diversos estudos sobre a malária, a filariose e a leptospirose. Seu trabalho auxiliou na erradicação de epidemias.

Segurança alimentar e combate à fome

Analise o mapa a seguir e, com base nele, responda às questões propostas.

Prevalência da insegurança alimentar no mundo (2021-2023)

Fonte de pesquisa: FAO. Disponível em: https://s.livro.pro/lmqmce. Acesso em: 27 set. 2024.

A alimentação adequada é fundamental à saúde. No entanto, infelizmente, ela não é acessível a todos os cidadãos.

Em se tratando de privação de alimentos, é preciso atentar a dois conceitos: insegurança alimentar e fome. De maneira simplificada, a insegurança alimentar pode ser entendida como a incerteza de acesso a alimentos em quantidade e em qualidade adequadas à saúde, de modo permanente. Já a fome é a privação crônica de alimentos, ou seja, quando não há acesso a eles e tal condição se manifesta fisiologicamente, pela dor e falta de energia para realizar funções vitais, podendo levar à morte.

Vários fatores contribuem para os problemas relacionados à alimentação e à nutrição humana, como as guerras em países exportadores agrícolas, eventos climáticos extremos, crises econômicas e desigualdades sociais.

Como é possível observar no mapa, parte da população brasileira encontra-se sob a condição de insegurança alimentar, retornando ao mapa da fome do mundo. Segundo dados do Governo Federal, em 2022, cerca de 33 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar. Em 2023, essa quantidade caiu para, aproximadamente, 8,7 milhões de pessoas. Apesar dessa redução, uma parte significativa da população brasileira ainda não tem acesso a uma alimentação adequada.

Afinal, como é possível reduzir a insegurança alimentar e a fome? Não existe uma medida única capaz de solucionar esses problemas. O que é possível é realizar um esforço conjunto, em diferentes setores da sociedade, que vise, por exemplo, ao aumento da produção de alimentos, à melhor distribuição de itens alimentares, à redução da desigualdade de renda da população e ao combate à miséria e à pobreza.

Uma das possíveis medidas de combate a problemas alimentares e nutricionais é aliar sustentabilidade ambiental à agricultura e à produção de alimentos, como por meio da agricultura familiar. De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, cerca de 77% dos estabelecimentos agrícolas no Brasil são classificados como agricultura familiar, fornecendo ao mercado interno itens como feijão, arroz, frutas e hortaliças. Além da diversidade de itens alimentares, essenciais à alimentação adequada, a agricultura familiar é responsável por empregar milhões de pessoas e adotar técnicas de cultivo sustentáveis, reduzindo os danos ambientais.

Professor, professora: Se considerar pertinente, comente com os estudantes sobre o Sistema Agrícola Tradicional (SAT) das comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, em São Paulo. Nesse sistema, são utilizadas técnicas de manejo que remontam às origens africanas e indígenas no trato com os recursos naturais e a agricultura. Eles utilizam as roças itinerantes, em que a floresta pode se recuperar após a colheita, além de produzir alimentos orgânicos para subsistência.

Outros serviços

Os serviços estudados anteriormente interferem diretamente na saúde. No entanto, há outros serviços que possibilitam melhora da qualidade de vida e do bem-estar da população, por exemplo, e, portanto, interferem indiretamente na manutenção da saúde humana.

Transporte

A mobilidade urbana, via acesso a meios de transporte públicos de qualidade, interfere diretamente na qualidade de vida da população, uma vez que possibilita exercer o direito de ir e vir e acessar diferentes locais, como trabalho, hospitais, farmácias, supermercados, escolas, residências e espaços de lazer.

Entre os objetivos do milênio da ONU estão o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis e sustentáveis. Dessa maneira, é fundamental que haja investimento público na mobilidade urbana, ampliando linhas de metrô e ônibus, por exemplo, especialmente nos grandes centros urbanos. Além disso, empresas de transporte público devem priorizar frotas movidas a combustíveis alternativos, evitando emissão de gases poluentes, contribuindo assim para a sustentabilidade.

Energia elétrica

Leia a manchete a seguir.

BARROS, Diego. Falta de energia prejudica abastecimento de água em Ibateguara. Governo do Estado de Alagoas, 17 jul. 2024. Disponível em: https://s.livro.pro/n8ilns. Acesso em: 27 set. 2024.

Como citado na manchete, a falta de energia elétrica pode afetar diversos serviços, como tratamento de água e esgoto, equipamentos elétricos em hospitais e funcionamento de semáforos. Ou seja, o acesso à energia elétrica é importante em diversos setores da sociedade atual.

Segundo o IBGE, em 2022, grande parte da população brasileira tinha acesso à energia elétrica, mas, na área rural, esse acesso ainda é desigual. Além disso, também há diferenças significativas entre as regiões brasileiras.

Como se trata de um serviço essencial, todos os cidadãos deveriam ter acesso a ele. Para que isso seja possível, é necessário ampliar o acesso de modo sustentável. Por isso, as políticas públicas devem incentivar o uso de fontes de energia alternativas, como energia solar e energia eólica, que causam menos danos ambientais.

Telecomunicações

A internet é um dos diversos serviços de telecomunicação. Além dela, telefonia fixa, telefonia móvel, redes móveis, canais de televisão e televisão por assinatura são exemplos de serviços inerentes à telecomunicação.

Para muitas pessoas, é comum chegar na residência e assistir à televisão, conversar com amigos e familiares por telefone a qualquer hora, acessar notícias pelo celular e interagir nas redes sociais. No entanto, para uma parte da população, esses serviços não são acessíveis.

A pandemia de COVID-19, por exemplo, evidenciou as desigualdades que existem no acesso aos serviços de telecomunicação, especialmente, de internet. Durante as aulas remotas, por exemplo, parte dos estudantes não conseguiu acessar as plataformas digitais e permanecer estudando, prejudicando o processo de aprendizagem.

Além disso, a falta de acesso à informação mantém muitas pessoas desinformadas, tornando-as vulneráveis à disseminação de notícias falsas, uma vez que não podem verificar a veracidade das informações. O acesso à tecnologia tem o potencial de reduzir as desigualdades socioeconômicas, mas isso requer políticas públicas que garantam a inclusão digital e promovam a igualdade de oportunidades para todos.

Influenciadores digitais

A partir da década de 1990, o Brasil e o mundo presenciaram a popularização da internet, que, ao longo dos anos, tornou-se um dos meios de comunicação mais utilizados no planeta, passando, inclusive, a influenciar o modo de vida das pessoas.

O enorme poder de influência que a internet alcançou na atualidade, especialmente após o surgimento de plataformas de vídeos e das redes sociais, fez pessoas, famosas e anônimas, começarem a gravar e publicar vídeos dos mais diferentes tipos de conteúdo. A fácil disseminação possibilitou que esses conteúdos fossem vistos por milhões de usuários, no Brasil ou no exterior, tornando-os conhecidos e ao mesmo tempo gerando a essas pessoas um significativo retorno financeiro por parte das plataformas, que, com o engajamento dos vídeos, passaram a comercializar anúncios de empresas relacionadas ao conteúdo publicado.

Com o aumento da quantidade de produtores de conteúdo digital e com a notoriedade de seus conteúdos, essas pessoas passaram a ser vinculadas a um tipo de profissão da atualidade: a de influenciadores digitais.

Em geral, os influenciadores digitais são pessoas com a capacidade de influenciar opiniões e comportamentos. Além disso, com a nova era da internet, eles têm o poder de expor às pessoas grande quantidade de informações, capazes de influenciar e moldar seus pensamentos e vontades, e impulsioná-las a determinadas ações, como compras e hábitos.

a ) Em sua opinião, quais cuidados devemos tomar ao receber informações na internet, sobretudo de influenciadores digitais?

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconheçam a necessidade de filtrar e checar a veracidade de informações recebidas na internet. Entre os cuidados, devemos, por exemplo, conhecer o histórico do influenciador digital, a fim de saber se tem credibilidade na transmissão de informações; confirmar dados divulgados; analisar possíveis manipulações de imagens; verificar se a informação é atual ou é antiga e está sendo resgatada para distorcer algo ou prejudicar pessoas; avaliar se o tom da linguagem é enviesado, se utiliza termos pejorativos e preconceituosos; analisar se a informação é pertinente ou se é sensacionalista etc.

Adolescência e juventude

Ao longo da vida, o ser humano vivencia diferentes fases de desenvolvimento, desde a concepção até a velhice, passando por infância, adolescência e juventude. Cada uma dessas fases tem suas fragilidades e seus riscos, bem como potenciais e possibilidades. A partir de agora, vamos focar o estudo da adolescência e da juventude. Para defini-las, vamos utilizar como base a idade do indivíduo, que pode variar de acordo com a fonte. Leia os exemplos a seguir.

Independentemente do intervalo de idade em que se inserem essas definições, adolescentes e jovens merecem atenção por parte dos governos, da comunidade e dos familiares. Para assegurar a eles direitos e bem-estar, foram criados o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto da Juventude, os quais apresentam os direitos inerentes às pessoas nessas fases da vida, sendo um deles o direito à saúde. Confira a seguir.

BRASIL. Ministério da Justiça. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Disponível em: https://s.livro.pro/lrMyd6. Acesso em: 14 set. 2024.

BRASIL. Ministério da Justiça. Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013. Disponível em: https://s.livro.pro/osciqe. Acesso em: 14 set. 2024.

A formação cidadã ocorre ao longo de toda a vida. No entanto, é na juventude que passamos a agir de modo mais direto como cidadãos ativos, fazendo parte do mercado de trabalho, exercendo nosso papel durante as eleições por meio do voto, expondo opiniões e defendendo ideias.

Vulnerabilidades das adolescências e das juventudes

Você pode estar se perguntando por que no título deste tema foram utilizados os termos "adolescências" e "juventudes", no plural. Diversos estudiosos do assunto preferem esses termos no plural ao singular, porque consideram que as adolescências e as juventudes são construídas com base em diversos fatores, como cultura, tempo, espaço geográfico, gênero e classe social. Dessa maneira, não existe apenas um tipo de adolescência e de juventude. O que se observa é a coexistência de diversas adolescências e juventudes na sociedade, as quais, apesar de suas peculiaridades, compartilham diversas vivências.

A juventude é uma fase da vida que prepara o indivíduo para assumir seu papel de adulto na sociedade. Ela é marcada pela busca de autonomia nas decisões, emoções e ações e costuma estar cercada de inseguranças. Essas características tornam a juventude uma fase na qual as pessoas estão expostas a diversas vulnerabilidades, assim como na adolescência. Além disso, ambas as fases da vida são caracterizadas por serem permeadas por descobertas, durante as quais os adolescentes e os jovens podem entrar em contato com situações que põem em risco sua saúde.

Alimentação inadequada e sedentarismo

Leia o texto a seguir.

Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde de 2017 mostram que 55% dos adolescentes tiveram uma má alimentação, consumindo rotineiramente alimentos processados, como macarrão instantâneo, salgadinho de pacote ou biscoito salgado. Esses tipos de alimento são pobres em nutrientes e, geralmente, ricos em gordura, sal e conservantes.

Na infância e na adolescência, há um crescimento acelerado do corpo, principalmente em estatura, tornando necessária a ingestão de nutrientes variados e em quantidades apropriadas para que o corpo se desenvolva adequadamente. Além disso, uma alimentação correta pode melhorar o desempenho escolar e prevenir a obesidade na adolescência, na juventude e na vida adulta.

Aliado à má alimentação, o sedentarismo tem aumentado entre adolescentes e jovens, intensificando os riscos à saúde. Parte desse aumento pode ser atribuída ao uso de celulares, tanto para praticar jogos e navegar pelas redes sociais como para conversar com familiares e amigos por meio de aplicativos. Jogos de videogame também são apontados como contribuintes para o sedentarismo. Assim, para que as pessoas mantenham a saúde, além de uma alimentação adequada, é importante praticar atividades físicas com frequência.

Professor, professora: Se considerar pertinente, ao abordar o uso excessivo de telefones celulares, comente com os estudantes que, além do sedentarismo, o uso prolongado desses aparelhos está associado a uma má postura e pode levar a problemas na coluna vertebral.

Consumo de álcool e outras drogas

Leia o trecho da reportagem a seguir.

CONSUMO de álcool por jovens e adolescentes. Observatório Capixaba de Informações sobre Drogas, 25 maio 2022. Disponível em: https://s.livro.pro/r99ppk. Acesso em: 19 set. 2024.

Drogas são substâncias que comprometem tanto o funcionamento do corpo como o comportamento do usuário. Entre as mais consumidas por adolescentes e jovens estão o álcool e o cigarro, e um dos principais problemas relacionados a esse consumo é a dependência química.

O álcool é uma droga lícita, aceita socialmente, que deve ser vendida apenas para maiores de 18 anos. Porém, apesar de sua proibição, o que se tem observado é um consumo cada vez maior dessa droga por menores de idade, como citado no trecho da reportagem.

O consumo de bebidas alcoólicas na infância e na adolescência tem graves consequências. O álcool pode atuar em áreas cerebrais ainda em desenvolvimento, como as associadas às habilidades cognitivas e comportamentais. Seu consumo também pode levar ao déficit de memória e à redução do rendimento escolar.

Quando consumido por pessoas na faixa dos 15 anos de idade, o álcool causa uma maior predisposição a desenvolver dependência. Além disso, pode facilitar o uso de outras drogas mais nocivas e levar a comportamentos de risco, como o aumento da agressividade e o envolvimento em atividades sexuais precoces ou sem proteção adequada, tendo em vista que o consumo de álcool pode prejudicar a compreensão e a tomada de decisão pelo indivíduo.

Além do álcool, a nicotina é outra droga com consumo elevado entre adolescentes e jovens. Entre os produtos que contêm essa substância, podemos citar os que são à base de tabaco e os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF).

O tabaco está presente em diversos produtos, como no narguilé e no cigarro, sendo este a segunda droga lícita mais experimentada entre adolescentes e jovens. Apesar da proibição da venda desse tipo de produto para menores de 18 anos no país, segundo dados do IBGE de 2019, 22,6% dos estudantes entre 13 e 17 anos de idade já haviam experimentado cigarro.

O consumo do cigarro por adolescentes e jovens, assim como outras drogas, está relacionado a diferentes fatores, como a aceitação dos colegas. De modo semelhante ao álcool, a nicotina, presente no cigarro, causa a dependência, e quanto mais precocemente se inicia o hábito de fumar, maiores são os riscos à saúde.

Nessa imagem, as áreas colorizadas em tons de azul representam as bolhas que se formaram nos pulmões em razão do colapso de alvéolos pulmonares, característico do enfisema pulmonar. Esse colapso reduz a superfície para trocas gasosas, causando sintomas como dificuldade respiratória.

De acordo com a OMS, o tabagismo é a principal causa de morte evitável no mundo. O hábito de fumar tabaco contribui para o desenvolvimento de doenças cardíacas e pulmonares, como o enfisema pulmonar, e de diversos tipos de câncer. Além disso, é um fator de risco para o desenvolvimento de doenças como tuberculose, infecções respiratórias, úlcera, impotência sexual, infertilidade e osteoporose.

Embora relatórios sobre o tema apontem para a redução no consumo de cigarro pela população brasileira, outras formas de consumo da nicotina têm aumentado. Sobre o assunto, leia a manchete a seguir.

Disponível em: https://s.livro.pro/dhs8oh. Acesso em: 20 set. 2024.

Nas embalagens de cigarro, é obrigatória a advertência sobre os malefícios causados por essa droga.

Em sua maioria, os DEFs, também conhecidos como cigarros eletrônicos, são dispositivos cujo uso envolve a inalação de aerossóis liberados pelo aquecimento de uma solução líquida. Essa solução pode conter nicotina e outras substâncias que também são prejudiciais à saúde.

Assim como o tabaco, a nicotina presente nos cigarros eletrônicos causa dependência. Além dela, as substâncias adicionadas ao líquido para conferir cheiro e sabor são ricas em açúcares e podem estar associadas a cáries e outras doenças periodontais. Em geral, os efeitos dos componentes dos líquidos presentes nos cigarros eletrônicos ainda estão em estudo. No entanto, muitos deles já foram associados ao câncer e a doenças pulmonares, que podem resultar em morte.

Apesar dos riscos, muitas vezes, os usuários de cigarros eletrônicos não se consideram fumantes e se interessam pelo produto pelo cheiro e sabor adocicados, em especial os jovens. Uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em 2022 sobre o uso de cigarro eletrônico por maiores de 18 anos no Brasil constatou que 20% dos jovens entre 18 e 24 anos já haviam experimentado esse tipo de produto, sendo a faixa etária mais prevalente para esse dado. Nesse mesmo estudo, foi constatado que essa faixa etária também foi a mais prevalente em experimentar o narguilé (17%).

Todos as drogas podem causar prejuízos à saúde. No entanto, os efeitos no corpo humano variam de acordo com o tipo de droga em questão.

Sofrimentos mentais

Além do uso das drogas abordado anteriormente, outras condições podem prejudicar a saúde mental de adolescentes e jovens. As diversas mudanças físicas, emocionais e sociais, características da adolescência e da juventude, e a exposição a fatores como pobreza, violência e abusos podem tornar os adolescentes e os jovens vulneráveis a sofrimentos mentais − entre os mais comuns estão a ansiedade e a depressão.

A depressão é um sofrimento mental que afeta as tarefas e as relações do indivíduo no meio escolar, no trabalho e na família, por exemplo. Esse sofrimento pode se apresentar em diferentes graus, de leve a grave, cujos sintomas podem ser variáveis. De modo geral, as pessoas acometidas por depressão têm humor deprimido, perda de prazer e interesse pelas atividades cotidianas e falta de disposição. Algumas também podem ter distúrbios de sono, crises de ansiedade, baixa autoestima, falta de concentração e distúrbios alimentares.

Já a ansiedade é caracterizada pela preocupação excessiva ou expectativa apreensiva, difícil de controlar e persistente. Esses dois sintomas vêm acompanhados de cansaço, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular e perturbação de sono.

Tanto a depressão quanto a ansiedade podem estar relacionadas a diferentes fatores, como má relação familiar, uso excessivo de redes sociais, não aceitação de si mesmo e simultânea busca pela aceitação do outro, além de dificuldade em lidar com emoções, prejudicando, assim, o bem-estar físico, mental e social. Além do apoio de familiares e amigos, é importante que pessoas com esses sintomas busquem ajuda de profissionais especializados, como médicos e psicólogos, para que sejam feitos o diagnóstico e o tratamento adequados.

Muitos adolescentes e jovens não se sentem confortáveis para falar a respeito de sentimentos e inseguranças com familiares. Nesses casos, o apoio de profissionais especializados, como psicólogos, pode ajudar na superação da ansiedade e da depressão.

Preconceitos contra a diversidade

Como já mencionado, a adolescência e a juventude são marcadas por mudanças e novas experiências em diferentes segmentos da vida do adolescente e do jovem. Alguns dos muitos temas em destaque nessas fases da vida são a sexualidade, o sexo e a diversidade sexual.

Muitas vezes, há uma confusão entre os termos sexo e sexualidade. Entretanto, do ponto de vista biológico, a palavra sexo pode ser empregada junto às palavras feminino e masculino para diferenciar o indivíduo de acordo com seus cromossomos sexuais, X X$\text{X}\text{X}$ ou X Y$\text{X}\text{Y}$ em humanos, além da formação e do desenvolvimento dos sistemas genitais feminino ou masculino. O termo sexo também está relacionado ao ato sexual. Já a sexualidade está relacionada ao sentimento e à forma de se expressar de cada indivíduo.

Leia a seguir a definição de sexualidade apresentada em documento da Unesco.

UNESCO. Orientações técnicas internacionais de educação em sexualidade: uma abordagem baseada em evidências. 2019. p. 17. Disponível em: https://s.livro.pro/tsix8a. Acesso em: 20 set. 2024.

Como abordado na definição, a sexualidade inclui múltiplas dimensões, refletindo a diversidade das experiências humanas.

A manifestação da sexualidade pode ocorrer de maneiras distintas, possibilitando a cada indivíduo se reconhecer de diferentes formas e sentir atração por outras pessoas de maneiras diversas.

Nesse contexto, a orientação sexual refere-se ao desejo de uma pessoa em relacionar-se com outras de mesmo sexo, do sexo oposto ou ambos.

Agora, leia a tirinha a seguir.

BECK, Alexandre. Armandinho nove. Florianópolis: A. C. Beck, 2016. p. 67.

A tirinha apresentada anteriormente apresenta uma situação de preconceito e discriminação, refletindo, infelizmente, a realidade vivenciada por muitos indivíduos na sociedade. São diversas as formas de discriminação, com motivações distintas, como sexualidade, gênero, grupo social e origem étnica.

Algumas pessoas têm relações afetivo-sexuais com pessoas do mesmo sexo biológico e são consideradas homossexuais. Outras, por sua vez, nascem com características físicas de um determinado sexo biológico, mas se reconhecem de maneira diferente, sendo consideradas transexuais. Infelizmente, esses cidadãos sofrem diferentes formas de preconceito e discriminação.

O preconceito contra pessoas homossexuais é chamado de homofobia, enquanto aquele voltado a pessoas transexuais é chamado de transfobia. Ambas as formas de preconceito são reconhecidas como crimes pela legislação brasileira.

Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou o crime de homofobia e de transfobia ao racismo (lei nº 7.716/1989). Em 2023, equiparou tais atos à injúria racial, crime contra a honra do indivíduo, com penalidade que varia de dois a cinco anos de reclusão. Essas medidas viabilizam a punição de agressores, protegendo os cidadãos, tal como preconiza a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que reconhece que todos são iguais perante a lei, sem qualquer distinção e com igual proteção.

Professor, professora: Explique aos estudantes que independentemente de referências feitas ao sexo, à sexualidade e à orientação sexual, somos todos seres humanos e, portanto, dotados dos mesmos direitos e deveres, merecendo respeito.

Saúde reprodutiva e sexual

A saúde reprodutiva e sexual é considerada um direito humano previsto pela ONU e envolve não apenas a ausência de doenças, mas também o completo bem-estar físico, social e emocional, vinculado à reprodução e à sexualidade.

Para manter a saúde reprodutiva e sexual, é essencial o acesso a informações adequadas sobre o tema. Essas informações podem ser encontradas em diferentes fontes, como livros, sites e unidades de saúde. No entanto, mesmo com a disponibilidade de informações, diversos adolescentes e jovens ainda têm relações sexuais desprotegidas, expondo-os à possibilidade de gravidez não planejada e à contaminação por infecções sexualmente transmissíveis (IST).

Tão importante quanto acessar a informação é refletir sobre ela e seus impactos em nossa vida. Isso aproxima o tema de nossa realidade, ao mesmo tempo que ajuda que tais informações sejam traduzidas em atitudes responsáveis.

Gravidez não planejada

Durante a adolescência, há o despertar da sexualidade, surgindo, assim, os interesses afetivos e sexuais. Nesse sentido e diante de todas as mudanças nessa fase da vida, aumentam-se as chances da ocorrência de uma gravidez não planejada, por exemplo.

Após a ocorrência da primeira menstruação, mensalmente, o corpo feminino prepara-se para uma possível gravidez, o que não significa, no entanto, que o indivíduo esteja completamente preparado para lidar com essa situação. A gestação exige não apenas um corpo sexualmente preparado, mas também preparo psicológico e apoio familiar.

A gravidez precoce pode trazer riscos à mãe e ao bebê, pois o corpo de uma adolescente ainda não está completamente desenvolvido. Entre esses riscos podemos citar a pré-eclâmpsia, a anemia, a hemorragia e o parto prematuro. Além dessas complicações, a gravidez precoce ocorre em um momento da vida no qual a adolescente ou a jovem está finalizando a construção de sua identidade e solidificando suas relações com o mundo. Nesse sentido, pode interferir em seu dia a dia, favorecendo, por exemplo, a evasão escolar.

Estudos sobre o tema mostram que muitos adolescentes e jovens, na figura de pais e de mães, abandonam os estudos durante a gestação, e a maioria não retorna. Os motivos são diversos e incluem, por exemplo, inserção no mercado de trabalho, cuidado prolongado com a criança e amamentação, no caso da mãe.

A decisão de iniciar a vida sexual é uma escolha pessoal que deve ser feita com responsabilidade e consciência, levando em consideração questões de adequação e maturidade para cada indivíduo.

Infecções sexualmente transmissíveis (IST)

Além do risco de gravidez precoce, relações sexuais sem o uso de preservativos aumentam o risco de contrair IST. Por isso, quando se inicia a vida sexual, é importante a orientação de um médico e a realização de exames clínicos.

Enquanto a gravidez não planejada pode ser prevenida por meio do uso de diferentes métodos contraceptivos, a prevenção da transmissão de IST é possível apenas por meio do uso de preservativo − masculino ou feminino.

Professor, professora: Ao abordar as IST, explique aos estudantes que os preservativos masculino e feminino não devem ser usados simultaneamente, pois o atrito entre ambos durante a relação sexual pode danificar o material e prejudicar sua eficiência.

Além de evitar a gravidez, os preservativos são eficientes contra a transmissão de IST, pois evitam o contato com secreções que possam conter agentes causadores dessas infecções, como bactérias, vírus e protozoários.

Violência

A Constituição Federal de 1988 e o ECA asseguram à criança e ao adolescente, em seu artigo 227, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência, a salvo de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Assim, é dever de toda a sociedade, da família e do Estado proteger crianças e adolescentes de toda e qualquer forma de violência.

Existem diferentes tipos de violência, como física, psicológica e sexual.

A violência física ocorre quando se infringe a integridade ou saúde corporal do indivíduo. Segundo o "Panorama da violência letal e sexual contra crianças e adolescentes no Brasil", que reuniu dados entre 2016 e 2020, houve 34.918 mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes, o que equivaleria a uma média de 6.970 mortes por ano. Cerca de 31 mil vítimas estavam na faixa etária entre 15 e 19 anos; 1.070 eram menores de 9 anos de idade, sendo 33% dessas vítimas meninas, 44% brancas, e 40% morreram na residência. Na faixa etária entre 10 e 19 anos, 91% das vítimas eram meninos, 80% crianças e adolescentes negros, 13% morreram na residência, e 83% faleceram por armas de fogo.

Outro tipo de violência é a psicológica, que se relaciona a diferentes situações, como: discriminação ou constrangimento emocional; alienação parental, quando um dos responsáveis pela guarda induz o repúdio aos pais, impedindo o vínculo entre pais e filhos; testemunho de algum tipo de violência física.

O bullying é uma forma de violência psicológica que ocorre, geralmente, na escola e nos ambientes virtuais de mídias sociais, sendo, nesse caso, conhecido como cyberbullying. Tanto o bullying quanto o cyberbullying envolvem comportamentos nocivos e repetidos de humilhação e submissão, exteriorizados por meio de apelidos pejorativos, discriminação e produção e divulgação de comentários de cunho maldoso, por exemplo.

Já a violência sexual refere-se à exploração de crianças ou adolescentes em atos libidinosos ou sexuais, seja de forma presencial ou virtual; exploração sexual, sob remuneração ou compensação; tráfico de pessoas, por meio de recrutamento, transporte ou transferência da criança e do adolescente, em território nacional ou estrangeiro, sob coação, rapto, fraude, abuso de autoridade ou vulnerabilidade.

Segundo o mesmo panorama citado anteriormente, entre 2017 e 2020, foram registrados 179.277 casos de estupro com vítimas de até 19 anos, sendo 62 mil destes com crianças de até 10 anos de idade.

Além das violências citadas, praticadas por outras pessoas, há a autolesão, na qual o próprio adolescente ou jovem pratica a violência contra si mesmo. Esse comportamento pode ter como objetivo reduzir emoções negativas, como ansiedade, tensão e autocensura, ou externar dificuldades interpessoais. Alguns fatores que podem desencadear esse comportamento são os problemas familiares, a rejeição por parte de amigos, grupos de pessoas ou pares afetivos e o próprio bullying.

Não violência contra meninas e mulheres

Segundo a Organização das Nações Unidas, a violência contra as mulheres refere-se a qualquer ato de violência de gênero que possa resultar em danos ou sofrimento físico, mental ou sexual, envolvendo coação, privação de liberdade ou ameaças contra pessoas desse grupo. Leia o trecho de reportagem e a tabela a seguir.

MELLO, Daniel. Brasil registra 10,6 mil feminicídios em oito anos. Agência Brasil, 7 mar. 2024. Disponível em: https://s.livro.pro/h4w57v. Acesso em: 22 set. 2024.

Fonte de pesquisa: IPEA. Disponível em: https://s.livro.pro/gyv2w0. Acesso em: 29 set. 2024.

Como foi possível verificar no trecho de reportagem e na tabela, a violência contra a mulher é uma triste realidade em todo o território brasileiro, especialmente nas regiões Nordeste e Sudeste, em 2021.

O quadro de opressão às mulheres no Brasil se consolidou ao longo dos séculos, especialmente durante o período colonial e o Império, quando as normas patriarcais foram profundamente enraizadas nas estruturas sociais, econômicas e políticas da época. A colonização reforçou valores que enfatizavam a autoridade masculina e a subordinação feminina, criando um sistema em que os homens detinham o poder econômico e político, enquanto as mulheres eram limitadas às tarefas domésticas e à educação dos filhos. Essa estrutura perpetuou a subjugação das mulheres, mantendo-as em uma posição de inferioridade e vulnerabilidade, que continua a influenciar a sociedade brasileira até os dias atuais, refletindo um padrão histórico de desigualdade de gênero.

Toda forma de violência deixa marcas na vítima, não somente físicas, mas também emocionais e psicológicas. E é dever de toda a sociedade civil e do Estado assistir pessoas do sexo feminino desde o nascimento, protegendo-as de toda forma de violência.

Professor, professora: Explique que a violência contra a mulher não se restringe ao Brasil. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, entre 2000 e 2018, cerca de 30% da população mundial feminina tenha sofrido algum tipo de violência física ou sexual, principalmente pelos parceiros. Além disso, cerca de 25% das mulheres entre 15 e 49 anos relatam terem sofrido esses tipos de violência de seus parceiros.

Adolescências e juventudes bem vividas

Para iniciarmos o estudo deste tópico, responda às questões a seguir.

É dever do Governo Federal, dos Estados e dos municípios a criação de políticas públicas que protejam e deem assistência a crianças, adolescentes e jovens. No entanto, cabe a cada indivíduo, como cidadão, primar pela sua saúde, buscando atitudes que contribuam para o bem-estar físico, mental e social.

Embora a juventude e a adolescência sejam fases de mudanças e ansiedades, são repletas de aprendizados e experiências que, vivenciadas de maneira saudável, contribuem para a formação de cidadãos ativos e responsáveis.

As escolhas feitas diariamente devem primar pelo cuidado e pela saúde do próprio corpo, bem como respeitar a individualidade de cada cidadão. Além disso, é preciso atentar para o emocional, expressando adequadamente as emoções, dúvidas e incertezas, por exemplo.

Manter a saúde envolve diferentes medidas, já que ela está relacionada a diversos fatores. Acompanhe a seguir algumas atitudes que podem contribuir para que a adolescência e a juventude sejam vivenciadas de maneira saudável.

A escola é um espaço onde adolescentes e jovens podem discutir temas que despertem seus interesses e tirar dúvidas sobre as vivências dessas fases da vida. É também um espaço de acolhida, não somente por funcionários da escola, mas também pelos colegas, os quais estão na mesma fase de desenvolvimento e experimentam os mesmos anseios, medos e dúvidas.

A família também é de fundamental importância para acolher essas vivências e orientar os adolescentes e jovens em suas escolhas. O meio familiar pode dar o apoio necessário para enfrentar situações difíceis e que possam gerar medos e angústias. O diálogo com familiares, professores e colegas é de extrema importância , pois contribui para o bem-estar social, que está diretamente relacionado ao bem-estar físico e mental.