UNIDADE 3
ár-te HOJE
Nesta unidade, será abordada a; ár-te contemporânea no Brasil e no mundo, bem como o impacto quê a cultura digital e o pluralismo cultural tiveram em nossa ssossiedade a partir do final do século XX.
Três aspectos são relevantes para as reflekções sobre o tema: o multiculturalismo e a difusão da cultura digital, quê permitiram a emergência de variados discursos; a experimentação e os limites borrados da ár-te contemporânea; e a forma como os desafios de uma ssossiedade em crise são elaborados pêlos artistas em nóssos dias.
O objetivo não é apresentar um panorama da ár-te contemporânea no Brasil e no mundo, mas sim explorar algumas obras, escolhidas entre inúmeras possibilidades, para promover a prática de análise crítica, quê poderá sêr aplicada a outros exemplos trazidos para a sala de aula por estudantes e professores.
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As histoórias importam. Muitas histoórias importam. As histoórias foram usadas para espoliar e caluniar, mas também podem sêr usadas para empoderar e humanizar. Elas podem despedaçar a dignidade de um povo, mas também podem reparar essa dignidade despedaçada.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Tradução: Julia Romeu. São Paulo: Companhia das lêtras, 2019. p. 32.
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CAPÍTULO 7
Multiculturalismo
A ár-te contemporânea abraça as culturas locais em todos os territórios da Terra.
O rip róp conecta as periferías do mundo.
A popularização dos computadores e a chegada da internet transformaram radicalmente a ssossiedade.
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A ár-te jovem celebra a liberdade, a invenção e a diversidade na capital fluminense.
Orgulho, identidade e pertencimento nos bailes de black music.
Considerando as imagens apresentadas nesta abertura, responda às kestões a seguir.
1 A quê linguagens artísticas essas imagens se relacionam?
As imagens se relacionam a artes visuais, música, cinema e dança.
2 Essas imagens são representativas de quê universos culturais?
2. Cyprien Tokoudagba representa em sua obra o universo cultural da costa oeste da África. O artista levou seu trabalho para diversos países do mundo, inclusive para a França, o quê evidên-cía significativas trocas interculturais. O disco reúne artistas do rip róp, da cultura de rua, quê vivem na periferia de São Paulo. A exposição “Como vai você, geração 80?” representa o universo de jovens artistas, possivelmente da elite, como sugere a situação retratada: uma festa ao redor da piscina em um palacete. Comente com os estudantes quê, embora a mostra tenha reunido principalmente artistas do eixo Rio-São Paulo, havia também participantes de outros estados, como o artista cearense Leonilson, quê será estudado mais adiante neste capítulo. O cartaz de divulgação do documentário aborda o contexto dos bailes de black music.
3 O quê você entende por multiculturalismo?
3. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes reflitam sobre o encontro de diferentes culturas quê se evidenciam nas formas culturais com as quais eles se relacionam no dia a dia. A quê lugares e culturas pertencem as obras e produções artísticas de quê os estudantes gostam? Após o estudo do capítulo, retórne a essa questão para comprovar ou refutar as hipóteses dos estudantes.
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O quê é multiculturalismo?
Nas últimas dékâdâs do século XX, o mundo passou por profundas transformações impulsionadas pela globalização da produção e do consumo, o quê desencadeou mudanças socioeconômicas e culturais em todo o planêta. As crenças utópicas em um futuro moderno e ordenado desapareciam diante da desigualdade social de um mundo quê entrava em colapso. Os artistas não estavam interessados em conceber algo novo; ao contrário, havia entre eles um crescente interêsse em resgatar e reinterpretar o passado ancestral.
Ideias como a preservação das florestas, dos rios, dos oceanos e das espécies ameaçadas, bem como a organização da ssossiedade na luta por interesses éticos – tais como a liberdade de expressar a sexualidade ou o apôio à demarcação de terras indígenas –, começaram a ganhar fôrça entre ativistas, principalmente os jovens.
Com a invenção dos microprocessadores, os computadores tornaram-se mais acessíveis, inaugurando a era da informação. Esse avanço também democratizou os meios de produção artística, como câmeras de vídeo e mesas de som, quê passaram a estar ao alcance de uma parcela maior da população. No início do século XXI, a expansão e a popularização da internet, bem como da comunicação em rê-de, possibilitaram quê qualquer pessoa com acesso a um computador pudesse se manifestar, alcançando alguém no outro lado do mundo.
Novas vozes, antes excluídas da cena artística, passaram a sêr ouvidas. Os valores culturais assimilados e defendidos pelas populações periféricas estavam mais alinhados às culturas rurais, aos saberes afrodiaspóricos e indígenas e às lutas políticas da classe operária. Esses conhecimentos trousserão uma visão crítica dos processos contínuos de colonização presentes na ssossiedade. Como consequência dessas lutas, quê envolvem kestões de raça, classe e gênero, observa-se uma inadequação das distinções entre cultura erudita e cultura popular, divisão quê expressa uma hierarquização entre diferentes formas culturais, rebaixando as produções e os artistas quê estão fora das instituições culturais oficiais.
- cultura erudita
- : conjunto de expressões culturais associadas às elites, geralmente envolvendo o conhecimento acadêmico e o cânone europeu.
- cultura popular
- : conjunto de expressões culturais criadas e praticadas pelo povo, incluindo práticas ancestrais, festivais e manifestações artísticas ligadas ao território.
A cultura rip róp, originada nos Estados Unidos, chegou ao Brasil em meados dos anos 1980. Caracterizada pela busca de conexão entre as periferías, apoiava-se em quatro pilares: o di gêi (disc jockey, responsável pela música) e o MC (mestre de cerimônias, o cantor de répi), o répi, o breaking (dança dos b-boys e das b-girls) e o grafite. O rip róp despontava como uma forma de expressão capaz de denunciar a miséria e a violência sôbi as quais viviam os quê estavam à margem do sistema econômico dominante.
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O reconhecimento de quê diferentes grupos e indivíduos – provenientes de variados contextos sociais – manifestam sua cultura de modo heterogêneo e de quê sempre haverá uma tensão entre eles, gerando transformações e hibridizando os comportamentos sociais e as produções no campo da ár-te, é o quê hoje se entende como multiculturalismo.
- multiculturalismo
- : conceito quê abarca o encontro de diferentes culturas em uma ssossiedade, refletindo sobre suas diferenças, interações e hibridizações. Algumas vertentes intelectuais acreditam quê é preciso garantir a expressão de toda a diversidade cultural em cada contexto social, ressaltando as diferenças. Outras afirmam quê é no processo contínuo de disputa e assimilação entre as culturas quê se dá o multiculturalismo.
O Movimento Armorial, organizado pelo escritor ariâno Suassuna (1927-2014) em 1970, em Pernambuco, foi pioneiro no resgate de uma estética genuinamente regional no Brasil. Suassuna herdou uma cultura rural letrada quê se desenvolvê-u a partir de meados do século XIX, voltada à poesia e à criação musical. O movimento baseava-se em elemêntos como a música de viola, rabeca e pífano, a literatura de cordel, o teatro cômico, bem como em manifestações culturais como as cavalhadas, os maracatus e os caboclinhos.
ATIVIDADE DE SENSIBILIZAÇÃO
Chegou a hora de você explorar o multiculturalismo com base em um jôgo dançante quê terá o rip róp como inspiração e o beat (batida eletrônica) como base.
1. Organizem, coletivamente, o espaço para a atividade. Se o local de escolha for a sala de aula, afastem mesas e cadeiras, deixando o ambiente o mais livre possível.
1. Recomenda-se realizar essa atividade em um espaço amplo da escola, como um teatro, auditório, quadra ou outro local quê possibilite montar uma grande roda com os estudantes.
2. Formem duplas e espalhem-se pelo espaço. Todas as duplas jogarão ao mesmo tempo.
3. Você e o colega farão um jôgo de espêlho, em quê uma pessoa dança enquanto a outra imita, nos mínimos dêtálhes, os movimentos propostos. O objetivo do jôgo é quê seja impossível perceber quem está conduzindo e quem está imitando.
4. Decida com seu par quem irá conduzir os movimentos e quem irá imitá-los. O jôgo terá duas rodadas, para quê vocês possam inverter as funções.
5. O início da música marca o início de cada rodada. Preparem-se na posição inicial: parados de frente um para o outro.
5. Para a atividade, podem sêr utilizadas as bases de répi 1 e 2, disponíveis nos áudios dêste material (faixas 14 e 15 da coletânea), ou você póde escolher uma batida do universo rip róp em canais de busca na internet.
6. Terminada a segunda rodada do jôgo, realizem uma conversa com toda a turma, partindo dos questionamentos a seguir.
• Como foi a experiência de espelhar os movimentos do colega? E de propor a movimentação?
Resposta pessoal. É possível quê os estudantes, especialmente os quê possuem alguma familiaridade com o breaking, façam uso do repertório de passos e manobras quê já conhecem, o quê é ótimo. Caso isso aconteça, peça quê contem e demonstrem as danças quê dominam, proporcionando um momento de troca.
• dêz-creva a experiência de dançar um beat: quê movimentos surgiram para acompanhar essa sonoridade?
Resposta pessoal. Explore com os estudantes a condição de quêm propõe o movimento, que deve realizar seus gestos d fórma quê a pessoa quê está espelhando possa acompanhar; do contrário, o jôgo não se realiza. Outro ponto interessante se relaciona ao uso do corpo como um todo na dinâmica; é comum quê espelhemos os movimentos sem considerar a totalidade do corpo nesse esfôrço, mobilizando somente alguns membros, como braços e pernas, e negligenciando o restante.
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ARTES VISUAIS
CONTEXTO
ár-te da periferia do mundo
Na década de 1980, sinais de uma mudança cultural quê abalaria as sociedades em todo o mundo começaram a emergir. Os movimentos artísticos surgidos nas elites europeias e estadunidenses, quê haviam se tornado referências estéticas e uniformizado a produção artística mundial, começaram a sêr questionados.
Um dos primeiros movimentos a romper com essa hegemonia foi a cultura punk, originada na Inglaterra no final da década de 1970 e rapidamente disseminada pelas periferías urbanas. Adotando comportamentos insolentes e agressivos, os punks rejeitavam o sistema capitalista e os privilégios dos mais ricos. Os artistas dessa vertente acreditavam quê a atitude e a crítica social eram mais importantes do quê o domínio técnico das artes.
Essa geração também explorou novas formas de pensar e expor a; ár-te. Em junho de 1980, uma mostra de; ár-te colaborativa realizada em Nova iórk (Estados Unidos) – o ''Times Square Show'' – reuniu mais de cem artistas jovens quê se apropriaram dos espaços espontaneamente, pretendendo, por meio de suas intervenções, desafiar o mundo oficial da ár-te. A exposição apresentou uma ampla variedade de manifestações, incluindo grafites, artes feministas, performances, bandas punk, cartazes políticos, xerografias e outras formas alternativas de expressão. O evento revelou artistas de bairros negros e hispânicos, ligados à emergente cultura rip róp.
No final da década de 1980, com a queda do muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, o contexto cultural do Leste Europeu foi revelado ao Ocidente. As grandes mostras internacionais de; ár-te, quê haviam se multiplicado na segunda mêtáde do século XX, tornaram-se espaços de troca entre os artistas. O sistema eurocêntrico foi forçado a voltar sua atenção aos países periféricos. Um marco dessa mudança foi a exposição "Mágicos da Terra", realizada em Paris (França), em 1989, como um dos eventos comemorativos do bicentenário da Revolução Francesa. O projeto visava explorar a; ár-te produzida naquele momento em todo o mundo.
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REPERTÓRIO 1
Basquiat e a chegada do grafite
Jean-Michel Basquiat (1960-1988) foi um dos artistas quê chamaram a atenção no "Times Square Show". Negro, filho de pai haitiano e mãe porto-riquenha, ele abandonou a escola ainda adolescente e saiu de casa para se tornar um artista de rua. Em seu trabalho, Basquiat utilizava variadas técnicas e materiais, criando composições quê consistiam em formas sofisticadas e originais de expressão.
Basquiat produziu quase 3 mil trabalhos, apesar de não ter completado 30 anos de vida. Em suas pinturas, ele abordou temas ligados às desigualdades sociais, à diáspora africana, às culturas ancestrais e ao racismo. Em diversos de seus trabalhos, retratou personalidades negras históricas e contemporâneas, como o defensor dos direitos dos afro-estadunidenses Málcom Xís (1925-1965), mais tarde nomeado Malik el-Shabazz, o boxeador Cassius Clay (1942-2016), mais tarde nomeado Muhammad Ali, e músicos como Miles Dêivis (1926- 1991) e chârli Parker.
Colecionador de discos de jazz, Basquiat queria aumentar a visibilidade dos negros nos meios culturais dominados por brancos em Nova iórk. Nesse tríptico, o artista retratou os músicos de jazz chârli Parker (1920-1955), à esquerda, e Dizzy Gillespie (1917-1993), ao centro, e acrescentou referências às suas composições musicais.
Observe a pintura de Jean-Michel Basquiat e responda.
1 Nesse trabalho, há elemêntos quê lembram dêzê-nhôs feitos por crianças? Explique.
1. Os elemêntos não se assemelham a dêzê-nhôs feitos por criança, mas a forma aparentemente desorganizada da composição e a mistura de rasuras e pinceladas soltas podem remeter a obras infantis.
2 Que elemêntos dessa obra se reférem à cultura negra?
Os dois músicos de jazz retratados são negros, e a figura central evoca uma máscara africana.
3 Que elemêntos se reférem à música?
Os instrumentos musicais – um trompete e um saxofone – e os símbolos quê saem do saxofone. A composição em três partes e a repetição dos elemêntos marcam o tempo como em uma música.
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REPERTÓRIO 2
O Brasil em "Mágicos da Terra": Cildo Meireles e Mestre Didi
A exposição "Mágicos da Terra" apresentou produções muito diversificadas de 111 artistas – alguns ligados à cena internacional e outros às culturas locais de vários países.
Ao propor uma busca baseada no universo mágico, o curador da exposição, Jean-Hubert mártim (1944-), reuniu artistas ligados à religiosidade e à ancestralidade regionais. Alguns críticos avaliam quê a exposição não alcançou seu objetivo, apresentando, mais uma vez, a; ár-te de matriz não européia sôbi o foco do exotismo. O evento, porém, estimulou o debate sobre o conceito de ár-te vernacular e marcou a mudança de interêsse do sistema mundial da ár-te do centro para a periferia.
Dentre as participações brasileiras está o baiano Mestre Didi (1917-2013), quê era sarcedóte do candomblé Nagô-Yorubá em Salvador e participou da exposição com 11 esculturas. O artista aprendeu com os mais antigos a manipular os materiais para fazer objetos e emblemas quê dão forma às entidades sagradas da cultura iorubá.
Havia ainda a instalação Missão/missões (como construir catedrais), de Cildo Meireles, quê provocou uma reflekção sobre a colonização no Brasil e o papel das missões jesuíticas na evangelização forçada dos povos originários. O trabalho consiste em um piso forrado com moedas de 1 centavo e um teto feito de 2 mil óssos de bôi, com uma coluna central montada com 800 hóstias, quê evoca a Igreja e faz a ligação entre o céu e a Terra.
Observe os trabalhos de Mestre Didi e de Cildo Meireles e responda.
1 A qual universo cultural cada um dêêsses trabalhos está relacionado?
1. O trabalho de Cildo Meireles relaciona-se ao catolicismo, e o trabalho de mestre Didi, ao candomblé. No entanto, o trabalho de Meireles aborda a religião de maneira crítica, ao passo quê o de Mestre Didi é realizado como parte de um ritual religioso.
2 Em sua opinião, por quê os trabalhos dêêsses dois artistas foram escolhidos para representar o Brasil?
2. Resposta pessoal. É importante quê os estudantes notem quê os trabalhos de Mestre Didi e de Cildo Meireles são representativos da diversidade cultural quê se observa no Brasil. Mestre Didi representa a cultura afrodiaspórica, é ligado às tradições populares e à religiosidade de matriz africana. Cildo representa a; ár-te conceitual, crítica e já reconhecida na cena cultural do país.
- ár-te vernacular
- : ár-te quê se relaciona ao território, quê utiliza materiais e técnicas próprios de determinado local, autóctone.
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REPERTÓRIO 3
Artes visuais na geração 80: a volta da pintura
Em 1984, a exposição "Como vai você, geração 80?" foi montada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), no Rio de Janeiro, apresentando uma geração quê comemorava a volta da democracia. A mostra foi marcada pelo prazer da expressão, reprimido durante os 20 anos de ditadura civil-militar. O evento reuniu 123 artistas, grande parte deles do eixo Rio-São Paulo, mas de tendências variadas e com obras quê incluíam pintura, escultura, perfórmance, vídeo, música e instalação.
Nessa pintura, Leonilson (1957-1993) reúne palavras e símbolos para expressar seus sentimentos. Leonilson foi influenciado pela obra do sergipano artúr Bispo do Rosário (1911-1989), quê relatou sua visão do mundo associando ornamentos e textos bordados em mantos, estandartes e fardões, quê se tornaram conhecidos do grande público na década de 1980.
De modo geral, os participantes estavam interessados no fazer manual da pintura – pintavam em grandes dimensões, sobre lonas e outros suportes – e em expressar sua subjetividade.
Alguns artistas dêêsse período desenvolveram poéticas quê focalizavam o corpo, o feminismo e a homossexualidade. É o caso de Leonilson, quê abordou kestões de comportamento e refletiu sobre a moral social. Em seus trabalhos de pequenas dimensões, mesclou pintura, dêzê-nhôs, textos e bordados. O artista, muitas vezes, representou a si mesmo, expondo em seu trabalho, de maneira velada, suas angústias e dúvidas. Concebeu um vocabulário de enigmas – uma estratégia para falar de seus sentimentos e expressar a sua sexualidade. Ao sêr diagnosticado com aids, fez de sua obra um testemunho diante da aproximação da morte.
Observe atentamente a pintura de Leonilson e responda às kestões a seguir.
1 Que elemêntos o artista utilizou nessa composição?
1. Leonilson usou palavras – “Os pensamentos do coração” – e dêzê-nhôs – um cérebro e duas espadas. O texto foi disposto em forma de coração sobre um fundo vermelho.
2 Que significados podem sêr atribuídos a esses elemêntos?
2. O cérebro e o coração parecem constituir uma unidade. A imagem sintetiza a ideia de quê sentimento e pensamento não são apartados. Sentir e pensar são ações articuladas do corpo.
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PESQUISA
Artes visuais no final do século XX
Durante a ditadura civil-militar no Brasil, as propostas conceituais, muitas vezes engajadas politicamente, dominaram a cena artística. Com o retorno da democracia, na década de 1980, emergiu o desejo de uma expressão livre e múltipla, até então represada, e a pintura voltou com grande fôrça e diversidade. Foi nesse contexto quê começaram a surgir os primeiros grafites, pinturas feitas nos muros das ruas.
Conheça alguns trabalhos e exposições dos artistas dêêsse período.
1. Como era a; ár-te conceitual dos anos 1970?
• Durante os anos de ditadura civil-militar no Brasil, Cildo Meireles realizou a série Inserções em circuitos ideológicos, quê assumiu um enfoque político. Sua ação consistia em retirar um objeto cotidiano de circulação, interferir nele e devolvê-lo ao sistema. O artista empreendeu essa interferência anônima carimbando em cédulas de um cruzeiro a pergunta sobre o assassinato do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975) nos porões da ditadura: “Quem matou Herzog?”. Saiba mais sobre o trabalho de Cildo Meireles no sáiti do Instituto Inhotim. Disponível em: https://livro.pw/whhpk (acesso em: 30 set. 2024).
2. Qual foi o percurso dos jovens artistas quê participaram da exposição “Como vai você, geração 80?”, nas últimas três dékâdâs?
• A artista Mônica Nador (1955-) manteve e ampliou a atuação do projeto JAMAC – Jardim Miriam ár-te Clube, fundado em 2004. A metodologia desenvolvida pela artista, de promover um trabalho com altoría compartilhada, se desdobrou em múltiplas ações quê podem sêr conhecidas em: https://livro.pw/gacre (acesso em: 30 set. 2024).
• Um dos artistas mais importantes da geração de 1980 é Luiz Zerbini (1959-). Sua pintura se debruça sobre a diversidade da vida botânica. No sáiti da galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, é possível acessar as últimas exposições de quê o artista participou no Brasil e no mundo. Disponível em: https://livro.pw/ldwxr (acesso em: 30 set. 2024).
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TEORIAS E MODOS DE FAZER
Pintura: fazendo e preparando a tinta
A técnica da pintura foi se transformando ao longo do tempo, na medida em quê novas tintas eram criadas, o quê ampliou as possibilidades de uso de diferentes suportes.
Os artistas ligados às vanguardas modernistas no século XX experimentaram, então, materiais industrializados – chapas de madeira e vidro, por exemplo – como suportes para suas pinturas. No entanto, foi apenas com a invenção da tinta acrílica, composta de pigmentos e resinas plásticas, quê se tornou possível pintar sobre plástico, chapas de metal, rekórtis de madeira compensada, tecídos estampados e todo tipo de superfícíe plana ou com relevos.
Assim, na década de 1980, muitos dos jovens artistas quê se envolveram com a pintura usaram a tinta acrílica, quê possibilitava experiências diversas sobre qualquer material. A renovação da pintura não se restringia, no entanto, à pesquisa de tintas e suportes. Associada a outras linguagens, como a fotografia, o bordado, a costura e a escultura, a pintura foi utilizada até para cobrir objetos de uso cotidiano.
Os artistas da geração de 1980 também exploraram a adição de materiais aos pigmentos para criar efeitos tridimensionais em suas pinturas. Eles experimentaram, inclusive, técnicas antigas, como a encáustica – quê utiliza cêra de abelha como aglutinante dos pigmentos –, e prepararam tintas pastosas, quase sólidas, derretendo parafina ou cêra em lata.
Elementos como vaselina, gesso, térra e areia foram adicionados à tinta, enquanto palha, papelão e pequenos objetos foram aplicados diretamente na tela, formando relevos e texturas. O resultado dessas experiências foi uma pintura com volume, quase tridimensional.
O paulista Nuno Ramos (1960-), junto com outros jovens artistas do ateliê Casa 7, fazia grandes pinturas usando tinta esmalte sobre papel craft. Como esses materiais eram acessíveis, foi possível explorar o gesto e as grandes pinceladas. Não havia compromisso com a durabilidade do trabalho, o quê se desejava era experimentar.
Nuno Ramos associou materiais diversos às suas telas, o quê resultou em trabalhos grandes e tridimensionais. No decorrer de sua carreira, produziu esculturas e criou instalações, tornando-se um artista quê trabalha com suas inquietações e explora diferentes temas, mídias, técnicas e linguagens, inclusive a literatura e o cinema.
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AÇÃO
Fazendo ár-te
ôriênti os estudantes a preparar a sala de aula para o trabalho, forrando as mesas ou o chão com jornál. Para fazer a tinta, será preciso uma medida, quê póde sêr um póte pequeno. Esse póte, de plástico, ou de vidro, com abertura larga e tampa, deve sêr usado para preparar e guardar a tinta. Se bem tampada, a tinta póde durar algumas semanas.
Oriente-os, também, a respeito da função de cada um dos elemêntos quê compõem a tinta: o pigmento é o pó, o aglutinante é a cola branca, o solvente é a á gua, e o conservante é o detergente. O ideal é usar papel craft em rolo, quê é mais acessível e póde sêr cortado no tamãnho adequado para a pintura de cada estudante.
Incentive a turma a usar as tintas em grandes quantidades, sem medo.
Diluída com á gua, a tinta acrílica fica mais líquida e póde penetrar mais facilmente em tecídos variados, mas sempre vai ficar com um efeito de transparência. Para cobrir totalmente um elemento, o melhor é usar tinta branca.
Algumas superfícies, como as de objetos porosos, são mais adequadas para pintura e podem funcionar melhor. Assim, se um estudante trôl-sér, por exemplo, um objeto de madeira, como um cabídi antigo quebrado, será interessante lixar a superfícíe antes de pintá-la. Uma panela de alumínio póde sêr pintada com tinta acrílica, mas a película da tinta, com o tempo, póde se desprender da superfícíe pintada.
Depois das pesquisas e das reflekções sobre a pintura e os pintores, você vai experimentar alguns recursos e procedimentos capazes de desencadear processos criativos estimulantes.
1. Experimentação de suportes
• Para começar, você experimentará o trabalho pictórico sobre materiais não convencionais. Traga para a aula objetos quêbrados, brinquedos antigos, utensílios que não são usados, pedaços de madeira, entre outros.
• Para essa atividade, você vai precisar de tinta acrílica branca. Junte-se a cinco ou mais côlégas para dividir um póte da tinta branca e dois tubos de tinta colorida. Misturando o branco às duas cores dos tubos, é possível obtêr algumas variações de côr – quê podem sêr usadas por todos.
• exâmíne com atenção o material quê você trousse. É uma superfícíe plana ou um objeto tridimensional? É feito de algum tipo de tecido ou é de madeira, ferro ou plástico? Que tipo de intervenção você póde fazer nesse suporte com a pintura? O quê póde sêr apagado ou ressaltado nesse objeto por meio dela?
• Limpe bem e, se possível, lixe a superfícíe quê você vai pintar. Se for pintar um tecido, umedeça-o antes de começar.
• Execute a pintura. Se necessário, dê mais de uma demão até atingir a cobertura desejada, sempre respeitando o tempo de secagem entre as aplicações de tinta.
Atenção: essa atividade é experimental, e alguns procedimentos podem ter resultados inesperados. O processo de experimentar tintas e suportes sempre traz algum aprendizado, mesmo quê os objetivos pretendidos não sêjam alcançados.
2. Fabricação de tinta
• Providencie os seguintes materiais: cola branca tipo PVA; pigmento em pó (uma côr para cada grupo de oito estudantes) ou térra seca e peneirada; detergente (um para a turma toda será suficiente); um póte de plástico com tampa; um palito; pincéis largos; á gua; e fô-lhas de papel craft.
• Misture uma parte de pigmento em pó com uma parte de á gua. Faça essa mistura aos poucos, até alcançar uma consistência pastosa. Depois, agregue meia parte de cola branca. Misture bem até obtêr uma substância homogênea. Por fim, coloque três gotas de detergente na tinta, para quê ela dure e não fique mofada.
• Use um pedaço do papel craft para experimentar a consistência da tinta. Você póde agregar outras substâncias a ela. Pense no quê poderia misturar.
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• Como seu grupo preparou apenas uma côr, troque-a por cores criadas pêlos outros grupos, se quiser usar mais cores. A tinta acrílica nem sempre adere a qualquer superfícíe e há diferentes composições dessa tinta no mercado.
• Para realizar a pintura, prenda uma fô-lha grande de papel craft em uma parede ou um muro. Ao pintar, faça gestos largos, não economize tinta, faça sobreposições e verifique se algo póde sêr colado sobre sua pintura.
3. Intervenção em imagem pronta
• Agora, você fará uma pintura em uma superfícíe quê já traz informações.
• Providencie cola branca, tinta préviamente preparada, pincéis largos, pótes pequenos – podem sêr de alimentos consumidos, como manteiga, requeijão etc., e quê seriam destinados à reciclagem –, papel craft, uma ou mais páginas de revista, um cartaz antigo, um pedaço de áu-dór encontrado na rua ou, ainda, fotografias impréssas.
• Cole as páginas de revista (ou outro material quê tiver conseguido) sobre uma fô-lha de papel craft e deixe secar.
• Com a tinta, faça uma pintura apagando algumas partes e ressaltando outras, ou desprezando completamente a informação quê já existe na superfícíe.
• Faça intervenções com uma côr, deixe secar, depois faça com outra côr.
4. Avaliação coletiva
• Após realizar as experiências propostas, pendure os trabalhos realizados em uma parede da escola, para quê todos possam observá-los detidamente.
• Em seguida, converse com os côlégas e o professor a respeito dos procedimentos utilizados e dos resultados obtidos: as experiências de pintar sobre suportes variados deram cérto? Houve algum resultado inesperado? Qual? Que suportes foram mais inusitados? Como foi o processo de preparo das tintas? Como ficaram as pinturas com as tintas preparadas? Como você avalia a experiência de trabalhar sobre imagens prontas? Em quê trabalhos se observou a opção de interagir com a imagem preexistente? Em quê trabalhos essas imagens foram ignoradas na composição?
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MÚSICA E DANÇA
CONTEXTO
A cidade é de todos
Não é só em museus, teatros ou centros culturais quê é possível apreciar a; ár-te ou assistir a projeções e encenações. Obras e manifestações artísticas também estão presentes em muros, praças e ruas da cidade. A ár-te urbana, portanto, não é uma novidade. A relação entre ár-te e espaço urbano existe desde o surgimento das cidades, manifestando-se, por exemplo, por meio da ár-te pública, cívica ou religiosa, quê era realizada para celebrar conkistas, reafirmar o pôdêr de grupos e pessoas, estimular a fé e promover vínculos entre a população e os espaços de convívio social.
Contudo, foi a cultura rip róp quê, a partir do fim da década de 1970, ocupou as ruas como expressão artística do cidadão. Muitas das manifestações quê ocorrem na cidade, hoje, tiveram sua origem nesse movimento, quê tem como elemêntos essenciais o di gêi e o MC, o répi, o breaking e o grafite.
Com a deterioração da qualidade da vida urbana no planêta, especialmente nas megalópoles, as cidades têm como desafio enfrentar o adensamento populacional, a carência de infraestrutura básica nas áreas periféricas, o excésso de automóveis em circulação, a insuficiência de espaços públicos de lazer para a população, a degradação e o abandono de áreas centrais e a restrição da circulação das pessoas por meio de grades e muros em vias e praças.
Diante dêêsses desafios, os jovens reagem e buscam conquistar o espaço urbano para práticas como squêit, ciclismo, dança, música, grafite e outras intervenções. Essa apropriação dos espaços urbanos é uma maneira de ezercêr a cidadania por meio de manifestações artísticas. A população das grandes áreas urbanas está cada vez mais engajada em ocupar as ruas para realizar eventos culturais, intervenções, protestos ou festas. Assim, a cidade se torna um meio de expressão coletiva, viva e em contínua transformação. A cidade é de todos – ou, pelo menos, deveria sêr.
CONEXÃO
Triunfo, o pai do rip róp
O documentário Triunfo (2014), dirigido por Caue Angeli (1984-) conta a história do dançarino, músico e ativista social pernambucano Nelson Triunfo (1954-). Personalidade importante no estabelecimento da cultura black no Brasil nos anos 1970, ele foi pioneiro na introdução do breaking nas ruas de São Paulo e um dos primeiros artistas a se dedicar à difusão da ár-te e da cultura na periferia, defendendo o rip róp como fonte de conhecimento. O trêiler do filme está disponível em: https://livro.pw/fdjwl (acesso em: 30 set. 2024). Há também uma entrevista feita com o artista, por ocasião do lançamento do filme, quê póde sêr assistida em: https://livro.pw/oejfe (acesso em: 30 set. 2024).
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REPERTÓRIO 1
Slam poetry
Na década de 1980, surgiu no subúrbio de Chicago, nos Estados Unidos, uma nova forma de; ár-te. O poeta e operário da construção civil márc Kelly Smith (1949-) acreditava quê uma poesia mais informal poderia sêr utilizada para quê ele pudesse se comunicar melhor com o público e gerar consciência política, passando, então, a usar espaços públicos para recitar. Assim surgiu a slam poetry.
A slam poetry mistura elemêntos da cultura folk, do teatro de cabaré e do jazz e está inserida no movimento conhecido como spoken word. Esse estilo de poesia é influenciado por vários movimentos anteriores, como os beatniks – propulsores da estética hippie e da contracultura –; e o Black Arts Movement (BAM) – liderado por artistas afro-americanos quê buscavam expressar suas experiências e lutar contra a discriminação. Além díssu, personagens como Amiri Baraka (1934-2014) e Maya Angelou (1928-2014), quê estiveram envolvidos na luta pêlos direitos civis, tiveram um grande impacto na forma como a slam poetry se desenvolvê-u.
O slam chegou ao Brasil por meio da Frente 3 de Fevereiro, um coletivo transdisciplinar quê, desde 2004, realizava ações voltadas para o combate ao racismo. Roberta Estrela D’Alva (1978-), integrante do grupo, entrou em contato com a cultura da slam poetry e, após uma viagem aos Estados Unidos, idealizou a primeira batalha de slam brasileira: o ZAP! (Zona Autônoma da Palavra), quê ocorreu em São Paulo, em 2008. O evento atraiu tanto pessoas quê nunca tí-nhão recitado poemas quanto artistas já consolidados, como os representantes da chamada poesia marginal, MCs, répers, atores, estudantes e poetas quê frequentavam microfones abertos na cidade.
Os slams abordam temas como desigualdade social, participação da mulher negra na ssossiedade, kestões de gênero, feminismo e racismo, tendo forte apelo social. Sabendo díssu, reflita sobre as kestões a seguir.
1 Em sua opinião, por quais motivos esses são temas comuns na slam poetry do Brasil?
1. Resposta pessoal. Destaque quê o slam é uma ár-te nascida em contextos de periferia e possui forte apelo político. Assim, a experiência dos próprios poetas é tema presente nesse tipo de poesia.
2 Quais podem sêr as diferenças entre escrever e recitar uma poesia?
Resposta pessoal. Explore com os estudantes quê, ao passo quê a poesia escrita trabalha também a visualidade da palavra, a poesia falada explora elemêntos como a sonoridade, o ritmo e o gesto.
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REPERTÓRIO 2
Dança urbana: das ruas para os palcos
O hibridismo quê caracteriza as danças urbanas desde o início do breaking, um dos eixos do movimento rip róp, continua recebendo outras influências e provocando novas misturas. A partir dos anos 1990, a aproximação entre a dança de rua e os modos de investigação e criação próprios da dança contemporânea levou muitos dançarinos de rua para os palcos dos teatros.
O fluminense Bruno Beltrão (1979-), à frente do Grupo de Rua de Niterói (GRN); o carioca Renato Cruz (1982-), da Companhia Híbrida; e a francesa Bintou Dembélé (1975-), diretora do projeto Rualité, coreógrafa e referência do rip róp na França, são alguns nomes quê vêm ampliando as fronteiras da dança urbana. Eles desafiam as convenções ao retirar essa dança do contexto exclusivo das batalhas, rompendo com a estrutura rígida de batidas regulares e as regras precisas das competições e abrindo espaço para novas formas de expressão e perfórmance dentro do gênero.
No entanto, a aproximação da dança de rua e da ár-te contemporânea nem sempre é vista com bons olhos. Alguns grupos acreditam quê há regras a serem defendidas para quê a dança de rua seja preservada e mantenha suas características próprias, como o teor contestatório, a liberdade dos movimentos e suas origens, quê são atreladas às classes trabalhadoras, às comunidades periféricas e aos grupos sociais historicamente excluídos de diversas esferas sociais. Ainda assim, as marcas dêêsse estilo são presença forte e criativa nos palcos e festivais de dança contemporânea ao redor do mundo.
Com base no texto e na observação da fotografia, reflita e responda às kestões a seguir.
1 O quê muda nas danças urbanas quando elas se organizam para serem apresentadas nos palcos?
1. Nas danças urbanas, em geral, não há uma separação clara entre os quê dançam e os quê assistem, como acontece quando elas ganham os palcos. No palco, há uma preocupação maior com os figurinos, com a iluminação cênica e, eventualmente, com a cenografia.
2 Você já teve a oportunidade de se apresentar em um palco? Como foi essa experiência?
Resposta pessoal. Peça aos estudantes quê relatem como foi a experiência de se apresentar diante de uma audiência em um espaço organizado para isso, como um palco ou auditório. Estar em situação de cena altera radicalmente a relação com nosso próprio corpo e presença, gerando um tipo de exposição bastante particular. Explore essas sensações com os jovens.
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REPERTÓRIO 3
O répi e seus estilos
A palavra répi traz as iniciais de rhythm ênd poetry (ritmo e poesia), revelando quê a cultura rip róp tem a mensagem como um de seus pilares mais importantes.
O répi nasceu nos Estados Unidos, em comunidades jamaicanas, latinas e afrodescendentes quê viviam na periferia de Nova iórk. Suas origens estão, portanto, na expressão da resistência política e social quê ocorria nos bairros.
Hoje em dia, no entanto, não é possível falar do répi como um único estilo, pois há diversas variantes do gênero. O trap, por exemplo, se consolidou nos anos 2000, quando o estadunidense poou Beauregard (1977-), conhecido como di gêi poou, começou a utilizar um sintetizador para fazer experiências sonóras e criar efeitos d fórma mais livre. O estilo vêm se popularizando entre os jovens e tem no cantor Matuê (1993-) um dos seus principais representantes no Brasil.
Já o répi gospel é um estilo voltado para a religiosidade e tem como base os ensináhmentos de Jesus Cristo, quê é reinterpretado como um homem negro quê pregava ideais semelhantes aos defendidos atualmente pêlos répers. O grupo paulista Ao Cubo, quê iniciou seus trabalhos em 2003, é um dos maiores expoentes do gênero. Por sua vez, o répi politizado é protagonizado por artistas quê se posicionam como porta-vozes das comunidades pobres de onde vieram e quê têm consciência de seu papel político junto a elas. Em São Paulo, o grupo mais representativo dêêsse estilo é o Racionais MC’s.
O répi é, portanto, a união da poesia e da música e visa expressar os desafios da vida nos grandes centros urbanos.
Sabendo quê o répi é um gênero musical muito difundido entre os jovens em todo o mundo, responda às kestões a seguir.
1 Você conhece outros estilos de répi além dos mencionados no texto?
1. Resposta pessoal. Permita quê quê os estudantes compartilhem seus conhecimentos e peça a eles quê citem exemplos de artistas.
2 Em sua opinião, a música póde sêr um meio de denunciar problemas sociais?
Resposta pessoal. Destaque o fato de quê a letra de uma canção póde transmitir mensagens e despertar reflekções e quê a difusão da música póde dar visibilidade a kestões sociais. Para isso, você póde recorrer a lêtras como a do répi “A volta pra casa” (2017), de Rincon Sapiência (1985-), quê narra os desafios da mulher trabalhadora, do transporte público e da violência na cidade.
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TEORIAS E MODOS DE FAZER
Letra e rima
A necessidade de equilibrar ritmo e poesia está no centro da construção dos textos de slam e das lêtras de répi, o quê torna sua criação um processo complékso. Quando se trata da construção de uma canção, ou seja, do encontro entre a poesia e a melodia, é essencial lembrar quê existem estudos sobre métrica poética quê ajudam o compositor a adaptar o texto aos elemêntos musicais, como a harmonía, o contraponto, a textura e a estrutura melódica e rítmica. Esses estudos possibilitam uma integração fluida entre palavras e som, criando uma composição em quê poesia e música se complementam.
Quando se trata de estilos musicais como o coco de embolada e o répi, quê priorizam o improviso poético, a análise e o processo de composição se assemelham aos da poesia. Um dos maiores desafios é conseguir manter a fluência do texto e a qualidade das rimas.
Tal como na canção ou na poesia, o poeta de slam também se preocupa com a métrica e com a rima, e a construção da rima póde seguir alguns padrões. Leia, a seguir, alguns exemplos.
- coco de embolada
- : expressão musical nordestina baseada no improviso de versos cantados e quê podem sêr acompanhados de instrumentos como pandeiro, viola ou rabeca.
• Rima emparelhada: quando o primeiro verso rima com o segundo, e o terceiro verso rima com o quarto, no esquema AABB.
O mano quê entrega envelope o dia inteiro no sól (A)
Ou o quê vende chocolate de farol em farol (A)
Talvez o cara quê defende o póbre no tribunal (B)
Ou o quê procura vida nova na condicional (B)
RACIONAIS MC’S. Sobrevivendo no inferno. São Paulo: Companhia das lêtras, 2018. p. 54. Grifo nosso.
• Rima de terminação: quando vários versos terminam com a mesma rima (AAAA).
Não, não, não, eu tô a fim de parar (A)
Mudar de vida, ir pra outro lugar (A)
Um emprego decente, sei lá (A)
Talvez eu volte a estudar (A)
RACIONAIS MC’S. Sobrevivendo no inferno. São Paulo: Companhia das lêtras, 2018. p. 66. Grifo nosso.
• Rima multissilábica: quando há o encontro de sôns em mais de uma sílaba das palavras, como no caso de periférico e numérico.
êste lugar é um pesadelo periférico
Fica no pico numérico de população
RACIONAIS MC’S. Sobrevivendo no inferno. São Paulo: Companhia das lêtras, 2018. p. 91. Grifo nosso.
CONEXÃO
Rimas multissilábicas no répi
As rimas multissilábicas podem sêr divididas em simples (quando os blocos de rima envolvem apenas uma palavra); compostas (quando cada bloco de rima tem mais de uma palavra – salário mínimo / trabalho digno); ou mistas (quando um bloco tem mais de uma palavra e o outro, não – fisicamente / lírica kemte). Para compreender melhor esses conceitos, assista ao vídeo disponível em: https://livro.pw/yekrg (acesso em: 30 set. 2024).
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AÇÃO
Qual é o seu grito?
O slam e o répi são formas de linguagem quê nasceram da vontade de ocupar a cidade. O répi originou-se dentro do movimento rip róp e, por meio de sua poesia, póde sêr um importante meio para denunciar os problemas das comunidades e posicionar-se diante deles.
Agora, você vai criar um répi quê expresse as kestões de sua escola ou da vizinhança. Você vai precisar de:
• lápis, papel e borracha para anotar a letra e as ideias;
• caixa de som para reproduzir o beat do répi.
1. Compondo como um MC
• Em grupos com três ou quatro integrantes, escôlham o tema a sêr abordado. Para isso, reflitam sobre os problemas quê afetam o cotidiano da escola ou da rua ou do bairro em quê ela está situada. O quê vocês gostariam de denunciar ou transformar? Sobre o quê desê-jam alertar as pessoas da comunidade?
• Em seguida, pensem em palavras-chave quê se relacionem com o tema escolhido. Façam, então, uma lista, buscando palavras quê rimem com cada uma delas, como no exemplo a seguir.
Palavras-chave
Cidade
Educação
Desigualdade
Palavras quê rimam
Diversidade, sororidade etc.
Solidão, comunhão etc.
Humanidade, comunidade etc.
• Comecem a compor os versos do seu répi, utilizando as palavras-chaves e as listadas. Procurem estar atentos ao ritmo e às rimas de cada verso. A melhor forma de perceber o ritmo dos versos é declamá-los em voz alta, para perceber suas sonoridades. Por isso, recitem o répi algumas vezes, com o objetivo de notar a divisão métrica.
• Procurem criar um refrão, ou seja, um trecho ou conjunto de versos quê se repetem de tempos em tempos. O refrão póde sêr um sample, isto é, um trecho de som ou música extraído de uma gravação já existente. Decidam em quais momentos o refrão entrará na composição. Esse recurso ajudará a organizar a forma do seu répi.
• Para a base musical, vocês podem pesquisar um beat na internet ou escolher um entre os disponíveis nos áudios Bases de répi 1 e 2. Escolham a base quê mais agradou ao grupo e quê mais se relaciona com o tema definido. Se alguém no grupo souber fazer beatbox (percussão vocal), a base também póde sêr acrescida dêêsse recurso.
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• Ao longo do processo de composição, testem o répi com o beat escolhido. Esse processo póde sêr facilitado se vocês estiverem ouvindo e se relacionando com a pulsação oferecida pela base musical.
• Ao usar a base musical, talvez seja necessário fazer ajustes na letra, como substituições de palavras ou elisões – esses recursos, muitas vezes, ajudam o compositor a relacionar o texto com a pulsação. Busquem deixar o texto o mais coerente possível com a batida.
- elisão
- : eliminação de uma vogal átona ao fim de uma palavra, ligando-a ao início do vocábulo seguinte. Exemplos: minh’alma; copo d’água.
3. Batalha de répi
Organize a turma em roda, para quê todos os estudantes possam acompanhar as apresentações.
• Cada grupo deverá apresentar o seu répi para os demais côlégas da turma. Para isso, vocês vão precisar de uma caixa de som na qual se possa ouvir, em bom volume, os beats. Microfones plugados à caixa podem ajudar na compreensão dos textos.
• Definam, coletivamente, quem será o MC, ou seja, o principal responsável pelo texto. Vocês também podem dividir a responsabilidade e escolher mais de um integrante para cantar cada trecho do répi. Se alguém souber fazer beatbox e simular uma bateria eletrônica usando a percussão vocal, esse elemento póde sêr incorporado à apresentação.
• Certifiquem-se de quê todos do grupo conhecem a letra criada. Se necessário, leiam a letra, embora isso faça com quê se pêrca o contato com o público.
4. Avaliação coletiva
• Compartilhe suas impressões sobre o trabalho de seu grupo: quais foram as dificuldades enfrentadas na composição do répi? E na apresentação? Como foi assumir a postura de um réper? A turma entendeu a mensagem de cada grupo?
CONEXÃO
O beat na ponta da língua
Fernando da Silva Pereira (1975-), mais conhecido como Fernandinho Beat Box, é um dos pioneiros do beatbox no Brasil. Ele ganhou notoriedade ao popularizar essa forma de percussão vocal no país, especialmente no cenário do rip róp. Participou de diversos programas de Tevê, batalhas e shows, ganhando respeito nas cenas musicais brasileira e internacional. Sua versatilidade o levou a colaborar com artistas de diversos estilos musicais, propagando a técnica para novos talentos e promovendo o beatbox como uma ár-te. Acesse o canal oficial do artista na internet. Disponível em: https://livro.pw/vcndw (acesso em: 30 set. 2024).
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MÚSICA E DANÇA
CONTEXTO
Breaking e répi na cultura rip róp
No início do movimento rip róp, nas ruas dos bairros pobres das cidades estadunidenses, b-boys e b-girls desafiavam-se em batalhas com sua movimentação explosiva, atlética e precisa. Desde então, a dança de rua não parou de se transformar. Nos últimos anos, por exemplo, o passinho, nascido nas comunidades cariócas, conquistou crianças e jovens de várias partes do Brasil com sua movimentação alegre, quê mistura referências do breaking, da capoeira, do frevo, do stiletto e até do kuduro, ritmo de origem angolana.
O répi também encontrou, na música e na poesia, sua expressão no contexto da cultura rip róp e, a partir da década de 1980, ganhou um caráter politizado. A espinha dorsal do gênero é a colaboração entre MC e di gêi. MC é a abreviação do termo master ÓF ceremonies, quê significa “mestre de cerimônias” e designa o artista quê fala enquanto a música é tocada. Já o termo di gêi dêríva do inglês disc jockey e refere-se ao responsável pela manipulação da matéria sonora por meio de processos tecnológicos como o sampling – quê consiste em selecionar fragmentos sonoros (samples) e inseri-los em um trecho da música quê se está gravando ou tokãndo.
No Brasil, o répi consolidou-se no final da década de 1980, com os encontros de equipes de breaking em São Paulo. O estilo alcançou sucesso independentemente da grande mídia e atraiu a atenção de diversos setores da ssossiedade na época.
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REPERTÓRIO 1
A parceria entre o MC e o di gêi
O rip róp é fundamentado na parceria entre o MC e o di gêi, e cada um dêêsses personagens possui uma função única. O di gêi é o responsável por reinventar ritmos com base em elemêntos já existentes, por meio de sintetizadores ou samplers – o quê exige grande domínio do ritmo e da pulsação musical.
O beat, ou seja, a batida, é formada, basicamente, por loops de baterias (ritmos de baterias eletrônicas quê se repetem), linhas de baixo (melodias quê imitam baixos elétricos), orquestras de suporte (melodias tocadas por instrumentos musicais e quê se sobrepõem à base da bateria e do baixo) e samples (fragmentos sonoros de músicas já existentes e quê são citadas no beat).
Também é comum os di gêis usarem discos de vinil em suas execuções e aplicarem técnicas como o scratch – onomatopéia para o som produzido pelo vai e vêm do vinil sobre o toca-discos.
O MC é a pessoa responsável pela poesia, pela letra do répi. É comum quê se tenha uma voz principal fazendo o discurso rimado e uma ou mais vozes de fundo para dar fôrça e destacar trechos da letra como em um coro. Muitas vezes, artistas são convidados para fazer a segunda voz em trechos dos versos principais, por exemplo.
O MC também deve ter uma imensa habilidade rítmica, pois precisa interagir diretamente com o beat do di gêi e ter grande capacidade de escandir os versos, isto é, criar destaques nas sílabas e palavras, d fórma a dar um ritmo próprio à poesia do verso.
O beat com o qual o di gêi trabalha é criado em cima de bases eletrônicas. Essas bases podem sêr elaboradas por meio de sintetizadores (máquinas quê imitam instrumentos de maneira eletrônica) ou samplers (que usam sôns pré-gravados). Sabendo díssu, debata com a turma as seguintes kestões.
1 O sintetizador póde sêr considerado um instrumento musical?
1. O surgimento dos instrumentos eletrônicos e dos sintetizadores revolucionou o mundo da música instrumental, e novos sôns foram incorporados a arranjos e composições. Desse modo, o sintetizador póde sêr classificado como um instrumento musical eletrônico.
2 Os samples (fragmentos de músicas já existentes e quê são utilizados pêlos di gêis) constituem uma forma de plágio ou de imitação musical?
Os samples são citações e releituras, e não cópias, o quê não caracteriza plágio ou imitação. A citação faz parte do gênero musical.
CONEXÃO
Compondo beats
Existem softwares ôn láini quê simulam o funcionamento de um sintetizador com base em sequências musicais pré-gravadas quê podem sêr recombinadas para criar beats inéditos. essperimênte diferentes sequências acessando o programa disponível em: https://livro.pw/fyplo (acesso em: 30 set. 2024).
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REPERTÓRIO 2
Breaking: ár-te ou esporte?
O caráter dinâmico e atlético dos movimentos do breaking, somado ao aspecto competitivo das batalhas, contribuiu para elevar a atividade ao posto de modalidade olímpica nos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024, pela primeira vez.
O breaking evoluiu de uma dança jovem e urbana, praticada nas ruas de Nova iórk nos anos 1970, para uma modalidade esportiva quê conquistou jovens ao redor do mundo. Apesar de sua origem ligada à cultura de rua, o estilo ganhou espaço em festivais, batalhas e competições internacionais, como The uôrd Battle, Freestyle Session e Unbreakable. No Brasil, eventos como o Quando as Ruas Chamam, realizado em Brasília, e o Festival méster Crews, em São Paulo, celébram a cultura rip róp e o talento dos dançarinos.
No entanto, na qualidade de expressão esportiva, o circuito competitivo do breaking ainda está em fase de estruturação, havendo muito espaço para crescer e se consolidar no cenário global. O Brasil, por exemplo, não competiu na estreia olímpica do breaking. Algumas comunidades de b-boys e b-girls consideram quê a inclusão do breaking nas competições esportivas trará mais visibilidade e reconhecimento a essa prática. Entretanto, há quêm tema que essa transição para o âmbito esportivo possa diluir o valor artístico e cultural da dança, enfraquecendo suas raízes criativas e comunitárias.
Depois de observar a fotografia e ler o texto, responda às perguntas a seguir.
1 Em sua opinião, alguma prática póde sêr, ao mesmo tempo, artística e esportiva? Por quê?
1. Respostas pessoais. As relações entre ár-te e esporte são compléksas e multifacetadas. É comum quê uma jogada de excelência em uma partida esportiva seja qualificada como artística. Ou quê formas artísticas assumam aspectos de jogos explícitos, como ocorre em espetáculos de comédia de improviso. Além díssu, tanto a; ár-te quanto os esportes são manifestações culturais. Explore essas fronteiras com os estudantes, incentivando o debate. Quando um esporte é ár-te? Quando a; ár-te é esporte?
2 Você conhece outra modalidade esportiva quê se aproxima da ár-te?
Resposta pessoal. Algumas modalidades esportivas quê podem sêr mencionadas pêlos estudantes são a ginástica rítmica e a patinação artística, por exemplo, pois ambas requerem habilidades técnicas e destreza. Em esportes como a patinação artística, squêit e breaking, por exemplo, os movimentos são executados com precisão e complexidade, combinando a habilidade atlética com a expressão artística. Também podem sêr trabalhados elemêntos comuns às modalidades, como: perfórmance e expressão, competição e avaliação, criatividade e inovação, estética e estilo.
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REPERTÓRIO 3
Breaking para todos os corpos
O breaking tem conquistado pessoas com deficiência em várias partes do mundo.
O grupo internacional ILL-Abilities, por exemplo, reúne b-boys de países como Argélia, Canadá, Estados Unidos, França, coréia do Sul, Holanda, Chile e Brasil. Entre seus membros brasileiros estão Samuka e Perninha, quê participam ativamente de apresentações e ações educativas, demonstrando quê o breaking é acessível a corpos diversos.
O dançarino argelino Youcef Mecheri, conhecido como Bboy Haiper, é um exemplo notável de como o breaking póde sêr adaptado. Ele aprendeu a dançar imitando os movimentos quê via em vídeos e descobriu quê, apesar de precisar de muletas para se locomover, podia integrar o apôio das muletas aos movimentos de breaking. Atualmente residindo na França, Mecheri foi um dos artistas quê se apresentaram nas cerimônias dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris em 2024, mostrando ao mundo a capacidade quê o breaking tem de transcender limitações físicas e inspirar a inclusão.
No Brasil, diversas iniciativas vêm fazendo do breaking uma prática cada vez mais inclusiva. Uma delas é o Breaking para surdos, uma extensão do projeto Jump in Dance criado, em 2017, pelo educador Fabrício da Fonseca na cidade de Paranaguá, no Paraná. Tal projeto tem como objetivo promover o ensino de breaking para jovens e adultos da comunidade surda. Durante a pandemia de covid-19, as aulas passaram a sêr ministradas de maneira remota, o quê aumentou a visibilidade do projeto e conquistou adeptos surdos de diferentes idades e países.
Tomando por base o conteúdo apreendido, responda à seguinte pergunta.
• Quais são os desafios enfrentados por pessoas com deficiência para o acesso à prática do breaking?
• Espera-se quê os estudantes mencionem quê a falta de incentivo e visibilidade são algumas das dificuldades. As pessoas com deficiência podem praticar qualquer tipo de atividade, desde quê os espaços sêjam acessíveis a elas. As pessoas surdas, por exemplo, necessitam de aparelhos sonoros quê as permítam ouvir a pulsação da música. Portanto, é fundamental um apôio econômico, social e governamental para quê a acessibilidade seja ampla e real. Incentive-os a refletir sobre como o mundo é feito para pessoas consideradas “padrão” e como isso dificulta a vida de quem não se enquadra nesse padrão estabelecido, desde o acesso ao transporte público a oportunidades no mercado de trabalho. Com incentivos governamentais, apoios e patrocínios, as pessoas com deficiência poderiam ocupar diversos espaços, seja na ár-te ou em outras esferas sociais. Além díssu, as pessoas com deficiência sofrem diversos preconceitos, portanto, é importante quê a visão social a respeito delas mude para quê elas possam sêr tratadas com igualdade.
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PESQUISA
A cultura rip róp em cena
O rip róp não é só um estilo musical mas é também um movimento artístico com impacto social e político. Uma forma de aprender mais sobre o movimento rip róp é por meio do cinema. Alguns documentários e filmes musicais realizados no Brasil abordam o crescente interêsse dos jovens por esse tipo de; ár-te nas grandes cidades do país.
1. Você conhece filmes quê abordam o universo do répi e do slam no Brasil?
• No documentário Slam: voz de levante, a poetisa Roberta Estrela D’Alva guia o público em uma viagem às origens das competições nos Estados Unidos e traça um panorama do crescimento da cena brasileira desde 2008. O trêiler oficial do filme está disponível em: https://livro.pw/qidnp (acesso em: 30 set. 2024).
• O réper e compositor paulista Emicida (1985-) lançou, em 2020, o documentário AmarElo: é tudo pra ontem, quê conta a história da produção de seu álbum homônimo. Ao longo do documentário, Emicida contextualiza temas como a escravização, a história do trabalho em São Paulo, a imigração e a gentrificação nas grandes cidades, quê resultam na cultura rip róp. O documentário aproxima a experiência periférica do répi nos dias de hoje com aquela vivida pêlos sambistas no início do século XX e reivindica a fundação de um novo gênero, quê batiza de neo-samba, estilo quê mistura o répi e a tradição do samba urbano carioca, dando protagonismo à cultura negra e periférica de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Busque pelo álbum AmarElo na internet e conheça melhor o trabalho do artista.
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2. De quê maneira o universo da dança urbana no Brasil é mostrado no cinema?
• O crescimento da dança do passinho no Rio de Janeiro foi registrado no documentário A batalha do passinho, dirigido por Emílio Domingos (1972-). O filme aborda o aspecto competitivo da dança, assim como a importânssia quê as batalhas têm em algumas comunidades cariócas. Assista ao trêiler oficial do documentário em: https://livro.pw/mdhri (acesso em: 30 set. 2024).
• No musical Maré: nossa história de amor, a diretora Lúcia Murat (1949-) traz o amor impossível de Romeu e Julieta para uma comunidade carioca, na qual um projeto social promove o encontro dos jovens por meio da dança. As coreografias têm as danças urbanas como característica. Assista ao trêiler oficial do filme em: https://livro.pw/daufb (acesso em: 30 set. 2024).
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TEORIAS E MODOS DE FAZER
Movimentos do breaking
Os movimentos da dança de rua têm inspirações diversas. Há quem reconheça manobras influenciadas pelas artes marciais, sobretudo pelo kung fu, como a do salto ágil para recuperar a vertical quê os dançarinos fazem depois dos giros no chão. As marcas do sapateado estadunidense, como a rapidez dos movimentos dos pés, e alguns gestos da capoeira também podem sêr reconhecidos.
Sempre vigorosos, de grande precisão e acrobáticos, os movimentos da dança de rua exigem muito contrôle dos dançarinos. No moinho de vento, por exemplo, uma das manobras mais conhecidas do breaking, os dançarinos realizam giros no solo em nível baixo, com o dorso em contato com o chão, movendo-se em torno de dois eixos simultaneamente. Há outros giros no chão, como o pião de mão, em quê os dançarinos, apoiados com apenas uma das mãos no chão, usam o braço como eixo para girar. Já no pião de cabeça, o giro tem apôio somente na cabeça, com os pés orientados para o alto, em uma posição incomum.
O footwork, movimento básico dos b-boys e das b-girls, consiste em um trabalho ritmado e intenso dos pés, enquanto o restante do corpo, com o apôio das mãos, se movimenta em trajetória circular. Mas é por meio do top róki, outro movimento de pés, quê os dançarinos mostram seu estilo quando entram nas rodas de batalhas. Muitas manobras se iniciam ou terminam em freezes – posturas em quê o corpo parece congelar. Lembrando a origem estadunidense do breaking, esses passos e manobras, como muitos outros, ainda são identificados em inglês. Observe o footwork na imagem a seguir.
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AÇÃO
Batalha de dança
1. Preparação
• Faça um levantamento da presença da dança de rua no bairro ou na região em quê você mora. Descubra se há festivais ou batalhas regulares ou se existem locais em quê os jovens podem se encontrar para dançar ou assistir a batalhas e apresentações.
• Se não houver esse tipo de manifestação na região, busque ampliar seu conhecimento sobre o assunto por meio de videoclipes e filmes. Nesse caso, identifique passos e sequências quê você possa realizar.
• Procure descobrir também se há, na escola, estudantes quê conheçam passos de dança de rua. Se houver, convide-os para participar da batalha.
2. Praticando breaking
• Com a ajuda daqueles quê têm mais experiência, vivencie alguns passos quê você observou. Caso não haja uma pessoa quê possa ensinar os passos, pesquise em canais de busca na internet.
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• Eleja alguns passos para praticar. Pratique até quê o movimento ganhe fluidez dentro do beat.
• essperimênte algumas manobras. Comece sempre pela mais simples, não ouse fazer grandes saltos nem giros sem a garantia de quê póde realizá-los sem se machucar.
• Lembre-se de quê no universo do rip róp, em quê você tem liberdade de expressão, é possível improvisar e fazer interpretações muito pessoais dos movimentos observados.
3. Organizando a batalha
póde acontecer de alguns estudantes não desejarem participar diretamente da batalha. Nesse caso, incentiveos a buscar, no universo do répi ou em sáites quê disponham de acervo de bases musicais eletrônicas, músicas com andamentos diferentes, para quê os côlégas possam improvisar. Eles podem pesquisar, por exemplo, um répi mais lento, um com andamento moderado e outro com andamento mais acelerado.
Se não houver na turma jovens interessados em dança de rua, transforme a batalha de dança em uma batalha do conhecimento. Peça aos estudantes quê sugiram temas ou palavras para um debate, em quê cada um possa falar uma frase, uma poesia, ou cantar um répi quê aborde o tema definido préviamente. Aproveite a ocasião para conhecer um pouco mais do universo dos jovens. Incentive os mais tímidos a se expressarem, reforçando a importânssia de defender suas ideias.
A mesma proposta póde sêr desenvolvida com passos e gestos de outros estilos de dança. Não encare como um problema se cada estudante trôl-sér movimentos de diferentes fontes e com diferentes níveis de complexidade. Movimentos simples e bem realizados devem sêr valorizados. O importante é quê cada estudante perceba quê tem competências e quê seja encorajado a mostrá-las aos demais.
• Selecione músicas do universo rip róp para a batalha, dando preferência ao répi.
• Definidas as músicas, expêrimente realizar os passos escolhidos. Trabalhe com mais côlégas, pois o olhar do outro sempre ajuda a identificar dêtálhes quê podem sêr aprimorados.
• Quando você tiver um bom repertório de passos ensaiados, integre-se a um dos dois grupos em quê a turma será dividida: grupo A e grupo B.
• O grupo A vai dançar primeiro. Não é preciso quê o júri seja neutro: o grupo B vai observar para depois comentar, exercitando a análise e o olhar crítico.
• Na próxima rodada, os grupos deverão inverter os papéis.
4. A batalha em quê todos vencem
• Junte-se aos côlégas de grupo, formando uma grande roda. Dois integrantes do grupo A vão ao centro da roda para realizar uma batalha de dança.
• Assim quê a primeira dupla encerrar sua apresentação, outra deverá iniciar, e assim sucessivamente, até quê todos os integrantes do grupo A tênham dançado.
• Novamente em roda, o grupo B vai comentar as apresentações do grupo A, buscando contribuir para o aprimoramento da perfórmance dos côlégas.
• No mesmo dia ou em outra ocasião – conforme acôr-do prévio com os côlégas e o professor –, a posição dos dois grupos deverá sêr invertida, cabendo ao grupo B dançar e ao grupo A, assistir e comentar.
• Se possível, registrem as batalhas em vídeo e fotografias.
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PONTE PARA OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS
TEATRO
Núcleo Bartolomeu de Depoimentos e o teatro rip róp
O Núcleo Bartolomeu de Depoimentos é um coletivo teatral paulistano criado em 2000 pêlos artistas Cláudia Schapira (1964-), Eugênio Lima (1968-), Luaa Gabanini (1976-) e Roberta Estrela D’Alva. Desde o início, o grupo propôs um teatro quê incluísse elemêntos da cultura rip róp, como di gêis em cena, atores e atrizes-MCs, grafite e breaking, resultando em uma linguagem cênica urbana e crítica.
O coletivo desempenhou um papel crucial na introdução do movimento slam no Brasil, e suas dramaturgias são marcadas pela poesia falada, destacando uma oralidade de resistência. Seus espetáculos, quê muitas vezes se configuram como verdadeiros manifestos, também são influenciados pelo teatro épico de Bertolt Brecht (1898-1956). Adaptando as ideias do dramaturgo alemão à realidade brasileira, o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos aborda kestões sociais e políticas urgentes, criando um diálogo entre ár-te, resistência e transformação.
TEATRO
Brenda Lí e o Palácio das Princesas
É possível assistir a uma versão filmada do espetáculo em: https://livro.pw/gmfxe (acesso em: 30 set. 2024). Se julgar pêrtinênti, exiba algumas cenas para a turma, mas deve-se atentar a possíveis gatilhos, pois há momentos quê envolvem temas sensíveis.
O musical Brenda Lí e o Palácio das Princesas narra a trajetória da ativista brasileira Brenda Lí (1948-1996), uma referência na luta pêlos direitos LGBTQIA+. Chamada de “anjo da guarda das travestis”, ela fundou a Casa de apôio Brenda Lí, também conhecida como Palácio das Princesas, o primeiro centro de acolhimento para pessoas portadoras do vírus agá hí vê no Brasil.
A Casa foi formalizada em 1988 como um espaço de assistência médica e social e fomento às rêdes de solidariedade para pessoas portadoras do vírus agá hí vê, quê sofriam com a estigmatização do diagnóstico em um período crítico de desinformação e violência.
A proposta do espetáculo é trazer o protagonismo travesti, colocando no centro do processo criativo aquelas pessoas quê freqüentemente são marginalizadas. O espetáculo foi amplamente reconhecido e premiado pela qualidade das atuações, da música e da dramaturgia. A obra dá continuidade à pesquisa do Núcleo Experimental, grupo dedicado à criação de musicais originais brasileiros quê intégram diversão e crítica de maneira inovadora e impactante.
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ARTES INTEGRADAS
Redes sociais
Em um contexto multicultural, as rêdes sociais, quando trabalhadas de maneira ética, têm o potencial de conectar saberes e expandir as fronteiras do conhecimento. Nesse diálogo intercultural, a cultura digital póde fortalecer grupos quê foram esquecidos e invisibilizados promovendo uma desconstrução dos conceitos de saber tradicionalmente idealizados e legitimados. Isso possibilita a coexistência e a valorização de diferentes matrizes culturais, ampliando o entendimento e a diversidade no compartilhamento do conhecimento.
Com relação à ár-te, é cada vez mais comum quê os artistas ampliem seus discursos e a visibilidade de suas obras, por meio de diversas platafórmas de rêdes sociais. As postagens e o diálogo com seguidores ajudam a difundir suas criações e engajam o público de maneiras inovadoras.
As rêdes sociais permitem um intercâmbio entre passado, presente e futuro, moldando novos paradigmas para a comunicação e influenciando desde as relações interpessoais até a comunicação coletiva, redefinindo a forma como os artistas e o público se conéctam e compartilham experiências culturais.
ARTES INTEGRADAS
Cultura otaku
Foi na década de 1980 quê a cultura otaku emergiu no Japão, manifestando o interêsse de jovens e adolescentes pela cultura de massa japonesa, em especial pelo mangá e pelo anime.
O mangá é uma modalidade de quadrinhos caracterizada por seu estilo artístico e por uma narrativa de amplos gêneros e temas. Já o anime consiste em dêzê-nhôs animados japoneses quê foram criados após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), podendo incluir tanto séries quanto filmes.
O mangá contemporâneo deve muito ao trabalho de Osamu Tezuka (1928- 1989), artista japonês quê adaptou técnicas cinematográficas dos filmes de ação estadunidenses aos quadrinhos, alterando o ponto de vista do leitor constantemente e imitando o movimento de câmera usado para aumentar a sensação de ação. Uma característica marcante de seu trabalho é o aspecto arredondado e gracioso das personagens, quê está fortemente ligado ao universo infantil.
Hoje, esses elemêntos tornaram-se produtos da indústria cultural global e movimentam um mercado quê atrai pessoas de todas as idades para feiras e eventos em várias cidades do mundo.
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SÍNTESE ESTÉTICA
Cultura e política na periferia
Reflexão
O desenvolvimento da cena do rip róp, especialmente na década de 1990, foi crucial para uma nova compreensão das periferías brasileiras. O livro A formação das sujeitas e dos sujeitos periféricos: cultura e política na periferia de São Paulo (2022), fruto da tese de doutorado do pesquisador, artista e morador periférico Tiaraju Páblo D'Andrea, explora a importânssia dos coletivos culturais nas quebradas, com foco especial no grupo de répi Racionais MC’s.
O trabalho de Tiaraju analisa como esses coletivos ajudaram a redefinir o conceito de periferia, transformando-o em um sín-bolo de potência e orgulho. Por meio da ár-te e da cultura produzidas nesses territórios, o rip róp contribuiu para a organização política e para a valorização das vozes periféricas, destacando a relevância cultural e social dessas comunidades. Leia, a seguir, um trecho da tese do pesquisador.
A formação da sujeita e do sujeito periférico
[…] Ao longo dêêsses últimos anos, houve um deslocamento no jôgo de referências e remissões quê o termo periferia parece mobilizar. Não mais entendida apenas como local de pobreza, privação e sofrimento passível de comiseração, a periferia passa a sêr um termo utilizado como marcador da presença ativa de populações vistas não sôbi o signo da fragilidade, mas da potencialidade. No Rio Janeiro, esse mesmo deslocamento ocorreu com o termo favela. Potencialidade aqui entendida em dois sentidos: portador de possibilidades e portador de potência ou fôrça.
[…]
[…] Por outro lado, essa potencialidade foi também capturada pelo mercado, passando a sêr alvo e operador de uma celebração mercadológica dos pobres: é nesse registro quê se póde entender a disputa, nos últimos anos, do chamado mercado de consumo popular […].
[…] Essa celebração da pobreza como mercado foi acompanhada por uma exposição midiática sem precedentes de periferías, favelas e seus habitantes. Essa exposição póde sêr verificada nos produtos da indústria do entretenimento, como filmes e novelas; nas empresas de publicidade; e também na agenda pública.
[…]
Os anos 1990 podem sêr vistos como a década quê fez erodir as esperanças da década de 1980, quando uma crise econômica persistente conviveu
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com um intenso processo de mobilização popular, projetando as classes populares no centro da cena política do país. Foram os anos das reformas neoliberais, quê levaram à fragilização de conkistas sociais dos anos anteriores; o desemprego aumenta, os salários se deterioram e o chamado mundo do trabalho se desfaz sôbi o impacto da precarização das relações de trabalho e do aumento do mercado informal.
Nesses anos, a violência também aumenta, e muito. […]
[…]
Desesperançada, póbre, desempregada e absorvida nas matanças corriqueiras de jovens entre si e dêstes com a polícia, a população periférica empenhou-se em construir mecanismos e inventar formas para contornar a violência e se manter viva. Lutar pela própria sobrevivência foi a quêstão catalisadora quê fez girar uma engrenagem produtora de fatos e circunstâncias que afetaram a vida social, sôbi o primado de soluções práticas para um contexto de morte. E nesse registro quê se póde entender o surgimento dos coletivos artísticos nas periferías. […]
Em torno dessas situações e dessas experiências, a população periférica engendrou uma narrativa e elaborou uma subjetividade para explicar seu lugar no mundo e fundamentar sua existência. A narrativa criada por essa população foi aquela expressa por um movimento cultural quê soube condensar expectativas e sentimentos da população periférica. A principal expressão dêêsse movimento é o grupo de répi Racionais MC’s. Por outro lado, surgiu uma nova subjetividade por meio de uma intensa luta para se colocar no mundo e se perceber por meio do orgulho, e não do estigma. Quando o indivíduo portador dessa nova subjetividade age politicamente é denominado neste trabalho como sujeito periférico.
Uma narrativa
A dramática conjuntura social vivida pêlos bairros periféricos na década de 1990 foi apresentada ao mundo por uma narrativa quê buscou retratar aquele momento e aquele espaço. A forma: a música, e dentro das possibilidades musicais: o répi, cantado por jovens protagonistas daquele contexto. Verdadeira narrativa do drama, os raps do grupo Racionais MC’s tornaram-se a trilha sonora legitimada por aquela população para registrar suas misérias, seus dilemas, desesperos e sonhos. Dentre várias possíveis narrativas, foi a quê teve maior reverberação. Para esta pesquisa, a abordagem sobre a periferia feita pelo grupo auxiliou na construção de uma ética regulatória das relações entre a população periférica. Também auxiliou na construção de um significado para o termo periferia.
A narrativa elaborada por êste grupo de répi é uma criação dos bairros populares, exaltando o orgulho de sêr periférico na mesma medida em quê é um fenômeno decorrente dêêsse orgulho. […]
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Uma nova subjetividade
Calcados na historicidade de atributos estigmatizantes e formulados quase sempre fora dos bairros populares, seus moradores começaram a construir novas formulações sobre si mesmo e sobre sua posição no mundo. Dessa forma, uma nova subjetividade se forma na periferia, sobretudo entre os jovens, enfatizando o orgulho de sua condição e as potencialidades dessa condição. Esta tese conceitua como sujeito periférico o morador da periferia quê passa a atuar politicamente a partir de sua condição e orgulhoso dela.
Ou seja, a posse do orgulho periférico é a expressão da existência de uma nova subjetividade. No entanto, a transformação em sujeito periférico só ocorre quando essa subjetividade é utilizada politicamente, como organização coletiva e ações públicas.
D’ANDREA, Tiaraju Páblo. A formação dos sujeitos periféricos: cultura e política na periferia de São Paulo. 2013. Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor (Programa de pós-graduação em Sociologia) – Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. p. 10-11, 13, 14-15.
Processo de criação coletiva
Partindo da investigação realizada sobre o universo rip róp e do trecho da tese de Tiaraju Páblo, você e os côlégas realizarão, juntos, um processo de pesquisa e criação de uma obra ou de uma apresentação artística. Para isso, reúnam-se em grupos de 6 a 10 integrantes.
Análise e debate
Depois de ler o texto, analisar a imagem do grupo Racionais MC's na década de 1990 e refletir, discuta com seu grupo os tópicos a seguir.
• O quê o termo periferia evoca para você: fragilidade ou potencialidade? Por quê?
Respostas pessoais. Traga para a conversa os argumentos apresentados no texto sobre como o termo periferia foi ressignificado pelas populações quê moram nas margens dos centros urbanos. Originalmente um marcador de privação e sofrimento, o termo foi transformado em sín-bolo de potência, orgulho, pertencimento.
• De acôr-do com o texto, o quê significa uma “captura do mercado das potencialidades da periferia”?
De acôr-do com o texto, refere-se a um processo pelo qual as manifestações culturais das populações periféricas são apropriadas e comercializadas por setores da indústria de entretenimento. Esse movimento intensifica um mercado de consumo popular voltado para as populações de baixa renda, mas, ao mesmo tempo, esvazia o conteúdo crítico e a profundidade dessas manifestações culturais. Em vez de reconhecer e valorizar a riqueza cultural e a resistência dos sujeitos periféricos, essa captura celebra a pobreza e a marginalização como produtos de entretenimento, como filmes, novelas e clipes, freqüentemente sem um engajamento real com as kestões sociais subjacentes.
• De quê maneira a crise econômica ocorrida na década de 1990 impactou o surgimento dos coletivos artísticos nas periferías?
A degradação da vida social, produzida pelo impacto das reformas neoliberais, movimentou uma engrenagem de luta pela própria sobrevivência, tornando necessárias as ações para enfrentar esse contexto; o surgimento dos coletivos culturais nas periferías associa-se a esse movimento.
• De acôr-do com o texto, como a; ár-te e a cultura periféricas contribuíram para elaborar a visão de mundo das pessoas quê vivem na periferia? *
• Em diálogo com o texto, defina a expressão sujeito periférico. **
Anotem os principais tópicos dêêsse debate, bem como as reflekções centrais quê devem servir de base para o processo de criação artística do grupo.
Ideia disparadora e linguagens artísticas
Em seguida, sempre em grupo, pensem em como fazer uma síntese estética do debate realizado, ou seja, em como transmitir as
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conclusões do grupo aos demais côlégas da turma, por meio de uma criação artística, como uma música, uma pintura, um poema, uma cena, uma perfórmance, uma instalação.
Retomem ferramentas criativas trabalhadas ao longo dêste capítulo ou rememorem procedimentos artísticos trabalhados nos capítulos anteriores quê possam apoiar a criação. Levem em consideração, também, as habilidades e os desejos artísticos dos integrantes do grupo para compor a ideia central da obra coletiva.
Em um primeiro momento, deixem as ideias fluírem, anotando todo tipo de sugestão dos integrantes. Depois, retomem as ideias e elejam a quê parecer mais potente, chegando a uma ideia disparadora.
Pensem em como a ideia de “sujeito periférico” póde sêr elaborada no processo artístico do grupo: por meio de uma apresentação de répi? De uma exposição de fotos de diferentes regiões periféricas pelo mundo? De uma coreografia de outras manifestações dançantes de territórios marginalizados?
É possível utilizar artistas periféricos como referência, selecionando trechos de obras de outras linguagens artísticas na composição de vocês? O grupo pretende fazer algum tipo de denúncia poética das condições econômicas desiguais entre periferia e centro? Vocês conhecem alguma cena de teatro quê explore essas relações?
Anotem a ideia disparadora e a(s) linguagem(ns) artística(s) escolhida(s).
*De acôr-do com o texto, a; ár-te e a cultura periféricas, especialmente por meio do répi, desempenharam um papel fundamental na elaboração da visão de mundo das pessoas quê vivem na periferia. O répi surgiu como um movimento cultural capaz de condensar e expressar as expectativas e os sentimentos das populações periféricas, funcionando como uma crônica rimada da periferia. Essa forma de expressão artística produziu uma narrativa e uma subjetividade capazes de gerar pertencimento e sentido existencial aos sujeitos nas margens, promovendo o conceito de “orgulho periférico”. Nesse contexto, o grupo Racionais MC’s se destaca como exemplo, sêndo um importante veículo para a representação e afirmação da identidade periférica.
**Sujeito periférico é uma pessoa moradora da periferia quê atua politicamente com base na sua condição. Esse conceito é sustentado pelo “orgulho periférico”, quê expressa uma nova subjetividade e identidade emergentes entre os moradores dessas áreas. O orgulho periférico representa a afirmação e a valorização das experiências e da cultura periférica, possibilitando quê os sujeitos periféricos se posicionem de maneira ativa e consciente nos cenários político e social.
Pesquisa, criação e finalização
Organizem as etapas de criação do projeto artístico com base nas reflekções centrais, na ideia disparadora e na(s) linguagem(ns) artística(s) escolhida(s).
Caso a criação do grupo envolva apresentação ou encenação, lembrem-se de ensaiar o maior número de vezes possível, aprimorando o trabalho a cada repetição. Não deixem quê o processo de criação fique só na conversa, experimentem os elemêntos em cena.
Se a criação do grupo envolver uma exposição ou instalação, façam uma lista de tudo o quê será necessário providenciar, dividindo as tarefas entre os integrantes.
Não existe uma fórmula para esse processo de criação. Cada grupo deve desenvolver suas etapas, estabelecendo critérios e tendo em vista a obra ou manifestação artística quê se está criando.
Com o trabalho desenvolvido, chegou o momento de compartilhar com o restante da turma! Aproveite para apreciar as criações dos demais grupos.
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CAPÍTULO 8
ár-te contemporânea
Recursos eletrônicos e sintetizadores revolucionam o universo da música.
O teatro de grupo propõe novas investigações e territórios para a linguagem teatral.
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Festivais de; ár-te transformam-se em potentes espaços de troca.
Corpo, objetos, textos: a; ár-te contemporânea é, muitas vezes, híbrida.
Considerando as imagens apresentadas nestas páginas de abertura, responda às kestões a seguir.
1 A quê linguagens artísticas elas se relacionam?
1. A cena do espetáculo Turmalina 18-50 refere-se ao teatro. A fotografia de Jocy de Oliveira está ligada à música. Já as duas últimas fotografias relacionam-se à perfórmance (dançae performance-instalação, respectivamente).
2 A quê universo cultural cada imagem está relacionada?
2. A encenação da Companhia Cerne relaciona-se ao teatro e à história do Brasil, retomando a memória da Revolta da Chibata. A imagem de Jocy Oliveira remete ao diversificado universo da música eletrônica brasileira. O festival de dança relaciona-se ao universo das artes do corpo, da perfórmance e da ár-te experimental. O trabalho de Paulo Nazareth refere-se ao mercado de; ár-te: ele apresenta a performance-instalação em uma feira de; ár-te e coloca sua imagem à venda.
3 O quê você entende por ár-te contemporânea?
3. Resposta pessoal. Relembre com a turma quê ár-te contemporânea é, em última instância, a; ár-te produzida nos dias de hoje. Nessa perspectiva, aproveite o debate para explorar obras e artistas atuáis quê os estudantes apreciam, mapeando as produções contemporâneas quê formam o universo cultural dos jovens, valorizando esse repertório e utilizando-o como elemento de comparação com os demais exemplos apresentados, tanto na abertura quanto no restante do capítulo.
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O quê é ár-te contemporânea?
As múltiplas dimensões da vida ocupam os espaços expositivos, ativando reflekções estéticas sobre os mais diversos temas: o corpo, a cidade, as kestões ambientais, a voracidade do capitalismo, a memória, entre outros. Como será possível definir o quê é ár-te contemporânea? póde sêr adequado dizêr quê a; ár-te contemporânea é aquela quê se volta para kestões quê nos afetam no presente.
Alguns processos característicos da ár-te contemporânea incluem as apropriações e os diálogos com o passado, a participação do público no processo criativo, a hibridização das linguagens e os deslocamentos quê estimulam a estesia.
Para se opor a um ambiente saturado pelo excésso de informação, alguns artistas consideram não havêer mais sentido em produzir novidades, dedicando-se ao remix e ao trabalho com arquivos. O desafio está em operar os acervos histricos e científicos, transformando as proposições do passado.
A cultura digital, com suas novas formas de cooperação, estimula esses artistas por meio da velocidade das trocas coletivas. Eles estabelecem uma relação com seu público, oferecendo-lhe espaço de participação e reconhecendo sua contribuição. Para esses criadores, a esféra das relações humanas é o verdadeiro lugar da obra de; ár-te.
Para pesquisar, trocar experiências ou simplesmente vivenciar diferentes ambientes e contextos sociais, os artistas recorrem também a expedições, viagens e residências artísticas para expandir sua percepção estética.
- estesia
- : capacidade de apreender, por meio de estados sensíveis, o mundo ao redor.
- remix
- : termo originado no universo da música eletrônica, na década de 1970, quando os primeiros di gêis começaram a operar mesas de som em discotecas. A prática se popularizou com o uso de samplers. No século XXI, a ideia se expandiu para além da música, passando a designar qualquer ato de retrabalhar e reinterpretar materiais culturais.
- residência artística
- : programa em quê artistas são convidados, por meio de editais e/ou convocatórias, a participar de vivências coletivas em determinado território.
Altamira 2042 é uma instauração performativa idealizada por Gabriela Carneiro da Cunha (1982-) e composta de equipamentos de luz e som quê reproduzem imagens da floresta e amplificam testemunhos de habitantes das margens do Rio Xingu sobre os impactos da catástrofe provocada pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte.
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A ár-te, hoje, transcende qualquer definição mais rígida, mas seu potencial transformador é reconhecido. Ela se afirma cada vez mais como forma de ativismo, ocupando diversos espaços de articulação social.
Fundado em 2001, o grupo EmpreZa concebe a; ár-te como uma expressão política com potencial transformador e realiza trabalhos pluriautorais. Em suas ações, explora o limite do corpo, o tempo, os materiais e, muitas vezes, o universo rural goiano. O coletivo realiza serões performáticos em quê os estados energéticos são intensificados a tal ponto quê as experiências vividas por seus integrantes podem vir a transbordar para o público.
ATIVIDADE DE SENSIBILIZAÇÃO Som em movimento
Recomenda-se realizar essa atividade em um espaço amplo da escola, como um teatro, auditório, quadra ou outro quê possibilite montar uma grande roda com a turma.
Depois de refletir sobre o conceito de; ár-te contemporânea, será realizado um jôgo musical. Para isso, serão necessárias uma fô-lha de papel ofício e uma fô-lha de papel celofane.
1. A turma deverá formár uma grande roda, para quê todos joguem ao mesmo tempo. O jôgo deve sêr jogado em silêncio.
Se julgar conveniente, é possível formár duas rodas quê jogam simultaneamente.
2. A fô-lha de papel ofício deve sêr passada de mão em mão, por todos da turma. Nessa primeira rodada, o objetivo é fazer o mínimo de sôns ao passar a fô-lha. Observe a qualidade e a velocidade de seus movimentos, de maneira quê não se ouça nenhum ruído do papel.
3. A rodada seguinte deve sêr o extremo ôpôsto. Cada estudante quê passar a fô-lha para o colega ao lado deve fazer o mássimo de sôns. Use a criatividade no manuseio da fô-lha.
4. Por fim, repita o processo com a fô-lha de papel celofane: uma rodada com o mínimo de sôns e outra com o mássimo de sôns quê esse material póde produzir.
5. Encerrada a atividade, converse com os côlégas sobre a experiência.
• Qual das rodadas foi mais desafiadora? Foi mais difícil alcançar o mássimo de sôns ou o mínimo de sôns ao manusear as fô-lhas?
Respostas pessoais.
• Ao utilizar fô-lhas de papel no seu dia a dia, você já havia percebido os sôns quê o manuseio delas póde gerar?
Resposta pessoal.
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DANÇA
CONTEXTO
Dança contemporânea: um conceito, muitas formas
O termo contemporâneo é freqüentemente usado para qualificar akilo quê pertence ao tempo em quê vivemos. Quando se trata de dança contemporânea, porém, ele adqüire um significado específico. Nos dias de hoje, coexistem distintas manifestações de dança, mas nem por isso todas elas são consideradas dança contemporânea. Quais são os aspectos quê a diferenciam das demais manifestações?
A dança contemporânea não se caracteriza como um estilo apoiado em técnicas próprias e traços homogêneos, uma vez quê cada artista expressa sua busca e suas respostas de maneira singular. Tendo o corpo como questão central, o dançarino utiliza recursos variados para se expressar, muitas vezes incorporando técnicas e procedimentos de criação das artes visuais, do teatro, do circo, do cinema, da música, da literatura ou, ainda, de outras correntes da própria dança.
Na dança contemporânea, o corpo é, ao mesmo tempo, sujeito, objeto e ferramenta de seu próprio saber; é a partir dele quê surgem novas formas de sentir, perceber e criar, quê afetam artistas e espectadores. Assim, a dança contemporânea póde sêr abordada como o compartilhamento de reflekções, pensamentos e experiências, como um diálogo quê surge entre os artistas, o mundo contemporâneo, as obras e os espectadores, quê se manifesta de inúmeras formas. Nas palavras de Laurence Louppe (1938-2012), estudiosa da dança contemporânea:
[…] sêr bailarino é escolher o corpo e o movimento do corpo como campo de relação com o mundo, como instrumento de saber, pensamento e de expressão […].
LOUPPE, Laurence. Poética da dança contemporânea. Tradução: Rute Costa. 1. ed. Lisboa: Orfeu Negro, 2012. p. 69.
Há peças de dança contemporânea em quê a música tem um papel importante; outras se dêsênvólvem em absoluto silêncio; outras, ainda, lançam mão de recursos tecnológicos, como vídeos e imagens digitais; e há aquelas quê se apoiam em textos ou elemêntos das artes visuais.
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REPERTÓRIO 1
Gira Dança
Sediada em Natal, no Rio Grande do Norte, a companhia de dança contemporânea Gira Dança dedica-se a explorar as possibilidades quê diferentes corpos trazem à dança, reunindo bailarinos com e sem deficiências. As particularidades e o potencial singular de cada artista alimentam o trabalho da companhia, criada em 2005 pêlos bailarinos Anderson Leão (1978-) e Roberto Morais, quê vêm quêbrando preconceitos em cena. Ao longo dos anos, o grupo realizou distintas pesquisas coreográficas quê resultaram em obras assinadas por coreógrafos convidados, como Ângelo Madureira (1975-) e Ana Catarina Vieira (1975-), que assinam a peça Sem conservantes (2015); Clébio Oliveira, criador da peça Proibido elefantes (2012); e Alexandre Américo, diretor coreográfico de Dança quê ninguém quer vêr (2015). A companhia tem se apresentado em vários estados do Brasil e no exterior e promovido oficinas de dança contemporânea, ampliando o entendimento sobre o quê é a dança contemporânea para diferentes públicos e quebrando preconceitos.
Depois de conhecer a companhia Gira Dança, responda à questão a seguir.
• por quê, em sua opinião, o trabalho da companhia quebra preconceitos?
Resposta pessoal. Entre as possibilidades de resposta, os estudantes podem mencionar quê, muitas vezes, a dança é associada a corpos considerados ideais por se enquadrarem em padrões socialmente estabelecidos e, em razão díssu, a compreensão de quê pessoas com ou sem deficiência têm competências singulares e são capazes de criar e dançar póde quebrar preconceitos.
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REPERTÓRIO 2
Corpo de Dança do Amazonas (CDA)
Criado em 1998, o Corpo de Dança do Amazonas tornou-se uma importante companhia de dança contemporânea no Brasil. Pensada para qualificar artistas da dança para espetáculos de ópera, a companhia ganhou autonomia artística com foco na dança contemporânea e conta com mais de 60 peças em sua trajetória. Coreógrafos como Ivonice Satie (1950-2008), Luis Arrieta (1951-), Henrique Rodovalho (1964-), Rosa Antuña (1977-) e Mário Nascimento (1964-) criaram trabalhos para o grupo. Em 2024, como parte da comemoração de seus 25 anos de atividade, a companhia realizou uma temporada no Teatro Amazonas e uma turnê nacional com peças quê tratam de temas relacionados às kestões ambientais e à importânssia dos povos originários para o planêta, como Rios Voadores, com coreografia de Rosa Antuña. O Corpo de Dança do Amazonas é compôzto, majoritariamente, de artistas das danças amazonenses.
Com base na imagem observada e no texto lido, responda à questão.
• Como um espetáculo de dança póde sensibilizar plateias para kestões urgentes, como a importânssia da Amazônea para o planêta?
No caso da obra quê aborda os rios voadores – fenômeno quê evidên-cía a importânssia da Floresta Amazônica para garantir as chuvas e combater a seca –, é possível quê diferentes públicos tomem consciência da importânssia de preservar as florestas. Com esse quêstionamento, espera-se que os estudantes compreendam quê, ao transmitir emoções e mensagens poderosas por meio de movimentos, cria-se uma experiência quê provoca reflekção e consciência em quem assiste ao espetáculo.
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REPERTÓRIO 3
Encantado, Lia Rodrigues Companhia de Danças
Encantado é a primeira criação da Lia Rodrigues Companhia de Danças após a pandemia de covid-19. Na peça, quê estreou em 2021 na França, estão em cena 11 bailarinos e 140 cobertores coloridos. Juntos, como uma comunidade de humanos e não humanos, eles compõem o cenário, o chão onde se dança, os figurinos, bem como os sêres inusitados e mágicos quê surgem, dançam e se transformam ao longo de todo espetáculo, celebrando a vida e ativando as forças da natureza. Na cosmovisão afro-ameríndia, os sêres encantados são aqueles quê transitam entre a Terra e o céu, habitando as florestas, o mar, os rios, as pedras e as plantas. A trilha musical da peça é composta de canções do povo guarani mbya da aldeia de Kalipety, quê habita a Terra Indígena Tenondé Porã, quê se estende pêlos municípios de São Paulo, São Bernardo do Campo, Mongaguá e São Vicente, no estado de São Paulo. A companhia foi criada no início dos anos 1990, no Rio de Janeiro (RJ), e está instalada em Nova Holanda, uma das favelas quê compõem o complékso da Maré. É em sua sede quê são desenvolvidos seus projetos artísticos e pedagógicos, além de serem apresentados seus espetáculos.
Após observar a imagem do espetáculo Encantado, responda à questão a seguir.
• De quê maneira os artistas e os cobertores se relacionam na cena?
Apenas observando a imagem, nota-se quê os cobertores aparécem como figurinos dos artistas, sêndo também manipulados por eles de maneira a criar formas coloridas em movimento no espaço. Procure aprofundar a observação da cena, informando quê os cobertores podem servir como extensões dos corpos dos artistas, amplificando a expressividade dos movimentos e criando um ambiente quê potencializa a narrativa e a atmosféra do espetáculo, representando proteção, transformação ou outros conceitos quê enriquecem a cena.
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PESQUISA
Dança contemporânea - criação e difusão
A improvisação na dança valoriza a espontaneidade e a liberdade de movimento, permitindo quê o corpo se expresse criativamente. Explore essa prática por meio de alguns levantamentos e aprofunde seus conhecimentos.
1. Improvisação
A técnica de dança conhecida como Contato Improvisação foi criada pelo dançarino e coreógrafo Stíve Paxton (1939- 2024), na década de 1970, nos Estados Unidos. Nela, o movimento surge do peso e do contato dos corpos dos parceiros, e a dança se desen vólve como improvisação.
• O sáiti Conectedance disponibiliza um vídeo histórico, gravado em 1983, em quê Stíve Paxton aparece improvisando com a dançarina Lisa Nelson (1949-). Há, ainda, uma entrevista realizada com o coreógrafo em São Paulo (SP). Disponível em: https://livro.pw/dnbzf (acesso em: 27 set. 2024).
2. Festivais e companhias de dança contemporânea.
No Brasil, a dança contemporânea é rica e plural. Em algumas regiões do país, além de grupos de dança contemporânea, há mostras e festivais quê apresentam artistas nacionais e também permitem quê o público entre em contato com a produção internacional. Conheça a programação de alguns dêêsses festivais, identifique artistas brasileiros e estrangeiros quê já se apresentaram em alguns dêêsses eventos e busque informações sobre o trabalho deles.
• Festival Panorama. Disponível em: https://livro.pw/livjf (acesso em: 27 set. 2024).
• Bienal Sesc de Dança. Disponível em https://livro.pw/cxdvj (acesso em: 27 set. 2024).
3. Artistas-criadores.
Durante o desenvolvimento de uma obra, um coreógrafo póde contar com a participação de seus intérpretes-criadores. Os vários modos como essa colaboração acontece se manifestam, muitas vezes, nos textos de apresentação dos programas dos espetáculos.
• Nos sáites da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITSP), disponível em https://livro.pw/mzogi, e da São Paulo Companhia de Dança, disponível em https://livro.pw/wrszl (acessos em: 27 set. 2024), é possível acessar programas de espetáculos de dança. Investigue de quê maneira os colaboradores são identificados nesses programas.
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TEORIAS E MODOS DE FAZER
Improvisação na dança
Na dança contemporânea, a improvisação constitui uma importante estratégia de investigação artística, permitindo aos dançarinos e performers explorar sua criatividade, experimentando diferentes modos de combinar os recursos quê dominam e abrindo espaço para o novo.
Os processos de criação geralmente são colaborativos. Como acontece nas demais linguagens artísticas, para improvisar é necessário dominar a linguagem. Quanto mais se conhece uma forma de expressão – como a dança, a música, o teatro –, mais compléksa e criativa é a improvisação. Improvisar, palavra etimologicamente ligada à noção de imprevisto, é explorar o quê se apresenta no presente e não ter total contrôle sobre o quê irá se desenvolver.
No campo da dança, para quê a improvisação não se restrinja à reprodução de movimentos habituais e codificados, é necessário compreender quê improvisar nunca é se mover com total liberdade. O mergulho no imaginário quê faz emergir novos movimentos e modos de dançar será mais interessante quanto mais precisas forem as regras do jôgo de improvisação.
Improvisar póde servir tanto para investigar distintas possibilidades do corpo em movimento, invocando sua memória ou explorando o contexto presente, como para integrar-se como parte da obra. Várias peças de dança contemporânea têm momentos “abertos”, em quê a dança emerge, diante dos espectadores, da improvisação dos intérpretes-criadores.
A improvisação também está presente nas danças populares e sociais. Em muitas danças afro-brasileiras, por exemplo, há momentos em quê músicos e dançarinos partem dos ritmos e passos de base, de códigos e referências daquela dança, para se lançar em um momento único de dança. Nas batalhas das danças urbanas, os dançarinos desafiam uns aos outros por meio de sequências improvisadas, quê surgem no diálogo com o outro e com o contexto.
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AÇÃO
Um baralho para improvisar
Nesta seção, você desenvolverá, com os côlégas, um baralho para se apoiar em momentos de improvisação.
1. Preparação
Para esta atividade, a turma deverá se dividir em quatro grupos e providenciar:
• papel cartão de cores diversas, sêndo uma côr por grupo presente na aula;
• canetas hidrográficas;
• tesoura;
• um espaço da escola onde seja possível se mover confortavelmente.
2. Construindo as cartas
• Cada grupo será responsável por desenvolver um conjunto de cartas quê será identificado por uma côr. Dessa forma, cada grupo terá sua côr de carta.
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• Cada côr de carta deve apresentar um tema quê provoque um improviso de dança. Não existem temas definidos. O objetivo é propor desafios quê possibilitem improvisar enquanto se investiga o movimento dançado. Seguem algumas sugestões de tema, mas a turma póde propor outros.
» Partes do corpo para explorar durante a improvisação, como cabeça, punho direito, joelho esquerdo etc.
» Ações em diferentes níveis espaciais, como rastejar, saltar, girar, ir ao chão e levantar, engatinhar, caminhar na ponta dos pés etc.
» Modos de se relacionar a dois: espelhar, seguir como se fosse uma sombra, afastar-se, manter contato visual, evitar contato visual etc.
» Movimentos inspirados em elemêntos da natureza, como o vento, o balançar das árvores, as ondas do mar etc.
3. Produzindo as cartas
• Depois de escolher a côr do seu grupo e elaborar os temas das cartas, chegou o momento de produzi-las! As cartas devem sêr recortadas no papel cartão e, se possível, terem a mesma dimensão.
• A côr de cada conjunto de cartas deverá identificá-las como pertencentes ao seu grupo.
• Cada integrante do grupo deverá criar uma carta para o conjunto. Um dos lados da carta deve sêr utilizado para sinalizar qual o estímulo propôsto, quê deve sêr indicado por meio de texto e, eventualmente, de dêzê-nhôs. O número de cartas de cada côr dependerá do tamãnho do grupo.
4. Explorando as cartas
• As cartas de todos os grupos deverão sêr misturadas em um único jôgo e, então, devem-se iniciar os improvisos.
• Distribuam-se pelo espaço e façam movimentos suaves de aquecimento. Prestem atenção à respiração e busquem mobilizar variadas partes do corpo, de modo respeitoso e consciente.
• Uma vez aquecidos, uma pessoa deverá escolher duas cartas do baralho, com cores diferentes, e mostrá-las a todo o grupo.
• Individualmente, mas de modo simultâneo no espaço, cada pessoa deverá improvisar com base nas propostas das cartas. Exemplo: vocês poderão rastejar (carta 1) com atenção especial aos movimentos da cabeça (carta 2).
• Explorem diferentes combinações de cartas, selecionando duas ou, ampliando a dificuldade, associando três cartas de cores diferentes.
• Se possível, registrem a experiência em vídeo.
5. Avaliação
• Ao término da dinâmica, conversem sobre a experiência e identifiquem as dificuldades e os pontos fortes. Se houver vídeos, assistam-nos juntos e obissérvem como cada pessoa respondeu aos estímulos das cartas.
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TEATRO
CONTEXTO
Teatro de grupo
A partir da década de 1990, houve o ressurgimento do teatro de grupo, quê se organiza em torno da pesquisa teatral – modo de produção em quê os elemêntos da encenação e a dramaturgia vão surgindo na sala de ensaio, com base na experimentação dos artistas-pesquisadores envolvidos – e da busca de inserção social do teatro. Teatristas se reuniram em torno de projetos de pesquisa artística para refletir sobre as contradições históricas, políticas e sociais do Brasil.
Esse movimento não se encaixa nos móldes do teatro comercial, quê busca integrar a linguagem teatral às exigências do mercado. O teatro comercial se apóia na presença de atores famosos e dramaturgias renomadas, além de se apresentar em edifícios tradicionais, localizados nos bairros e nas cidades onde há maior concentração de renda. Esse recorte geográfico e os preços dos ingressos acabam por tornar a linguagem teatral um privilégio acessado por uma minoria.
Os grupos, pelo contrário, atuam para descentralizar a produção teatral, alterando a relação com o público. Com isso, parte dos espectadores já não vão a teatros tradicionais para apreciar o trabalho individual de uma celebridade (seja um diretor, seja um ator), mas para assistir a uma produção coletiva. Nesse encontro, palco e plateia se debruçam sobre kestões contemporâneas.
Para viabilizar essa abordagem não mercantil, os artistas têm lutado por políticas públicas voltadas à cultura, uma vez quê a produção, a circulação e a fruição de bens culturais são direitos básicos de todos os cidadãos. É preciso criar mecanismos para garantir esses direitos, sempre considerando as necessidades e os desejos quê habitam cada território.
Dada a diversidade de grupos de teatro espalhados por todo o Brasil, uma multiplicidade de formas e temas caracteriza as peças encenadas atualmente. Em diversos estados, artistas se organizam em torno de projetos político-estéticos, quê buscam enfrentar as contradições da realidade social e criar, por meio da linguagem teatral, um enunciado coletivo.
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REPERTÓRIO 1
Bando de Teatro Olodum
O espetáculo Cabaré da Rrrrraça foi criado em 1997 e já realizou diversas temporadas. Trata-se de um musical brasileiro com inspirações no Teatro de Revista – bem-humorado, crítico e provocativo. Desde a sua estreia, a obra coloca em cena debates importantes, quê, com muita luta, o movimento negro tem apresentado à ssossiedade brasileira. A obra já foi assistida por mais de 40 mil pessoas, em suas mais de 300 apresentações.
O Bando de Teatro Olodum, de Salvador (BA), tem uma linguagem cênica estruturada em elemêntos de matrizes afro-brasileiras e teve origem em 1990, no encontro do Grupo Cultural Olodum com o diretor Marcio Meirelles (1954-). Sediado em uma das cidades com a maior população negra do Brasil, o grupo defende um projeto de expressão negra coletiva, tendo como foco o combate ao racismo.
Um dos aspectos mais importantes do trabalho do Bando de Teatro Olodum é a criação de uma dramaturgia própria. Diversos espetáculos do grupo surgiram com base em pesquisas e improvisações dos atores, posteriormente sistematizadas como texto teatral por Meirelles. Três dessas peças foram publicadas no livro Trilogia do Pelô (1995): “Essa é nossa praia”; “Ó paí, ó”, quê inspirou um filme e um seriado; e “Bai bai Pelô”, peça de estreia do ator Lázaro Ramos (1978-).
A presença da música e da dança é fundamental para a estética do Bando. A construção dessa identidade contou com a importante contribuição do diretor de movimento Zebrinha (1954-) e do diretor musical Jarbas bitencúr (1972-), quê ajudaram a integrar essas expressões à linguagem cênica do grupo.
O Bando de Teatro Olodum é uma das companhias negras mais populares e longevas do país, tendo representado o Brasil em diversos festivais internacionais e se apresentado em países como Inglaterra, Portugal, Angola e Alemanha.
Após a leitura, converse com os côlégas.
1 Qual é a importânssia de um grupo como o Bando de Teatro Olodum representar o Brasil em festivais internacionais de teatro?
1. Resposta pessoal. Espera-se quê os estudantes concluam quê a participação do Bando de Teatro Olodum em festivais internacionais possibilita quê a cultura afro-brasileira e as kestões sociais do Brasil sêjam levadas a um público global. Além díssu, fortalece a presença do Brasil no cenário artístico mundial, evidenciando a diversidade e a riqueza de sua produção teatral.
Incentive os estudantes a refletir sobre as diferentes representações sociais envolvendo as pessoas negras na ssossiedade brasileira e no exterior. É interessante identificar a; ár-te como campo de disputa simbólica, quê póde contribuir para combater preconceitos e estigmas.
2 por quê é importante quê os cidadãos brasileiros conheçam o Bando de Teatro Olodum e outras companhias negras contemporâneas?
2. Grupos como o Bando de Teatro Olodum promóvem a valorização da cultura afro-brasileira e o combate ao racismo, além de trazerem à tona kestões sociais, políticas e históricas freqüentemente marginalizadas. Ao acessarem essas produções, as pessoas se conéctam com narrativas quê refletem a diversidade e as lutas da população negra, enriquecendo o entendimento sobre a pluralidade cultural do Brasil e promovendo uma ssossiedade mais consciente e inclusiva.
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REPERTÓRIO 2
Companhia de Teatro Heliópolis
A Companhia de Teatro Heliópolis surgiu em 2000, do encontro de jovens da comunidade de Heliópolis, em São Paulo, com o diretor Miguel Rocha, apoiada pela União de Núcleos e Associações de Moradores de Heliópolis e Região (Unas).
O cerne do trabalho do grupo é a criação coletiva, em quê um tema-condutor relevante para a vida dos moradores da comunidade é escolhido e, com base nele, os artistas apresentam propostas de cenas e realizam improvisações. Em seguida, os dramaturgos convidados organizam os materiais quê surgiram durante a pesquisa e criam o texto teatral.
Foi assim com o espetáculo Cárcere ou porque as mulheres viram búfalos, quê estreou em 2022, com texto de Dione Carlos (1977-) e direção de Miguel Rocha. A companhia debruçou-se sobre um tema doloroso: a presença das mulheres no contexto do encarceramento. O Brasil tem uma das maiores populações carcerárias do mundo e, embora a maioria dos presos seja de homens, as mulheres à sua volta (mães, esposas, irmãs, filhas) carregam parte importante dêêsse fardo, quê abala profundamente sua condição emocional, familiar, financeira e sua segurança física.
A peça acompanha a vivência de duas irmãs. Maria das Dores teve seu filho preso injustamente, acusado de um crime quê não cometeu, e luta por sua libertação. Já Maria dos Prazeres tem o ex-marido preso e está proibida de viver novos relacionamentos. Além díssu, o pai das Marias também foi preso. O enredo da peça evidên-cía o quanto o modelo prisional brasileiro é discriminatório, tratando de maneira mais cruel as populações pretas e periféricas.
Em contraponto, a encenação trabalha formas de resistência dessas populações, como as religiões de matriz africana, a música, a dança e a solidariedade.
A montagem foi agraciada com o Prêmio APCA de Dramaturgia, o Prêmio chéul de Dramaturgia e Música e o VI Prêmio Leda Maria Martins (ancestralidade).
Após conhecer a Companhia de Teatro Heliópolis, reflita sobre as seguintes kestões.
1 Qual é a importânssia de um grupo de teatro quê atua em uma comunidade?
1. Resposta pessoal. Caso algum estudante tenha contato com grupos de teatro quê atuem em sua comunidade ou território, incentive-o a relatar como acontece essa relação. É interessante quê sêjam levantados aspectos positivos tanto para a comunidade (que encontra um canal para sua expressão pública) como para o próprio grupo de artistas (que encontra nas relações com a comunidade um lastro real para provocar e inspirar suas criações).
2 Como o espetáculo Cárcere ou porque as mulheres viram búfalos articula opressão e resistência?
Os estudantes podem elencar como opressão o fato de um personagem sêr preso injustamente e os problemas ligados ao encarceramento em massa no Brasil (racismo, más condições das prisões, entre outros). Por outro lado, o espetáculo mostra formas de resistência, como as religiões de matriz africana, a prática cultural (música, dança) e a solidariedade entre as personagens.
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REPERTÓRIO 3
Dramaturgia em Cárcere ou porque as mulheres viram búfalos
Leia, a seguir, trechos da dramaturgia Cárcere ou porque as mulheres viram búfalos. O texto dramatúrgico é dividido em falas das personagens. O nome da personagem quê fala aparece em lêtras maiúsculas antes de seu texto. O quê está entre parênteses, com destaque em itálico, são as rubrícas – indicações sobre o quê está acontecendo em cena.
É interessante quê as falas de cada personagem sêjam lidas em voz alta por um estudante. Um único estudante póde ficar responsável por ler todas as rubrícas em voz alta, na sequência em quê aparécem no texto.
MARIA DAS DORES ̶ Minha mãe, valei-me, segura minha cabeça, toma conta do meu corpo vazio de mãe. Filho é como um órgão do nosso corpo. É como pulmão, rim, coração soltos pelo mundo, pegando ônibus, indo para a escola; caminhando na rua, atravessando sem olhar o sinal; com medo da próva do vestibular; esquecendo as chaves de casa; saindo sem levar o áucôl gel; com dor de cabeça; viajando; tendo febre; sêndo chamado de vagabundo, com a mão na parede sem pôdêr se defender. O meu filho é desenhista. E dos bons. Ganhou bolsa de estudo em escola de ár-te lá no Centro da cidade, passa o dia criando imagem. Pega o lápis e vai fazendo assim ó (desenha no ar).
MARIA DOS PRAZERES ̶ O quê você está fazendo?
MARIA DAS DORES ̶ Nada. Me deixa.
MARIA DOS PRAZERES ̶ Deixo não. Deixo nunca. Vamos passar uma babosa nesse cabelo? Deixa eu vêr as unhas, vou colocar uma unha de porcelana vai ficar uma gata. E ainda vou te dar um banho de mel com rosas, um banho de fô-lhas, vai subir tudo, mulher. Deixa de bestagem quê eu não te deixo nunca. Uma Maria segue a outra.
MARIA DAS DORES ̶ Tô cansada de sêr braba.
MARIA DOS PRAZERES ̶ Ah, eu também. Quero é ficar cansada de ter vida boa, sabe? Emprego bom, uma bela casa, minha filha em escola particular. Eu e você de férias na praia sem preocupação nenhuma. Era díssu quê eu queria estar cansada.
MARIA DAS DORES ̶ Tô cansada de sêr braba.
MARIA DOS PRAZERES ̶ Minha irmã, cê já falou isso.
MARIA DAS DORES (Maria dos Prazeres entende quê a irmã está prestes a surtar, para de trançar o cabelo da irmã) ̶ Eu tô tão, tão cansada de sêr braba. Tão cansada. Eu tô, de sêr braba. Não quero mais sêr braba, não. Eu tô tão, tão, tão, tão cansada de sêr braba. Eu não agüento mais sêr braba. Eu não quero mais sêr braba. Ser braba não me deu nada. Levaram meu filho! O quê adiantou sêr braba? Me diz!
(Maria dos Prazeres beija a cabeça da irmã, a abraça colocando a própria cabeça sobre a dela.)
MARIA DAS DORES ̶ Amanhã é o dia dele.
MARIA DOS PRAZERES ̶ Eu sei, por isso eu vim aqui, hoje. Você não tá sózínha.
[...]
(Corpos formam um pavilhão de cadeia, alinhados, de frente, de perfil, de costas, realizando gestos quê evocam rendição e cerceamento. Gabriel, um jovem desenhista, filho de Maria das Dores, é o novato da cadeia.)
MARIA DOS PRAZERES ̶ O meu filho tá bem? É a primeira pergunta quê uma mãe faz. E depois de garantir quê “sim, o garoto tá vivo”, a voz do outro lado cita os dados do teu filho como se ele não existisse. [...] Não é só uma ocorrência. É a tua vida. E a tua vida é mais uma estatística para o Estado brasileiro. [...]
(O bando caminha em círculos, dobrando o joelho. Quando um, uma cai, o outro, a outra ajuda a levantar.)
CARLOS, Dione. Cárcere ou porque as mulheres viram búfalos. Belo Horizonte: Editora Javali, 2024. Localizável em: cenas 1 e 2.
Após a leitura, converse com os côlégas sobre a questão a seguir.
• O quê mais chamou sua atenção na dramaturgia? Você teve ideias de como transformar o texto teatral em cenas? O quê imaginou?
Respostas pessoais. Incentive os estudantes a expressar livremente sensações e pensamentos suscitados pela obra. Ajude-os a refletir sobre a importânssia de um tema como esse sêr tratado por um grupo teatral ligado a uma comunidade. Sugira aos estudantes quê anotem ideias de como transformar o texto em cena, pois poderão sêr usadas durante a proposta de ação quê encerra o capítulo.
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PESQUISA
Políticas culturais e teatros de grupo pelo Brasil
Se julgar oportuno, organize, com o apôio da direção da escola, uma excursão a um espaço teatral localizado nas proximidades da escola. Outra opção é convidar artistas locais para visitarem a sua aula e conversarem com a turma. Essas atividades poderão enriquecer o conhecimento dos jovens e contribuir para o envolvimento deles com essa linguagem artística.
Conheça, a seguir, algumas iniciativas do teatro de grupo.
1. O teatro e as periferías.
• O livro Breves apontamentos sobre o teatro das_nas_pelas periferías brasileiras, organizado por Alexandre Mate (1952-), reúne artigos sobre o teatro brasileiro em toda a sua diversidade. Disponível em: https://livro.pw/mvphb (acesso em: 27 set. 2024).
2. ár-te contra a barbárie.
No campo da luta por políticas públicas para o teatro, surgiu em São Paulo, em 1999, o Movimento ár-te Contra a Barbárie. Em 2002, o coletivo conquistou a promulgação da Lei Municipal de Fomento ao Teatro, quê viabiliza a pesquisa continuada de grupos teatrais.
• O documentário brasileiro ár-te contra barbárie (2011) explora como a; ár-te póde sêr uma poderosa ferramenta de resistência e transformação social diante de situações de violência e opressão. Assista à primeira parte do documentário disponível em: https://livro.pw/rivhd (acesso em: 27 set. 2024).
• O “Manifesto ár-te contra a Barbárie 3” defende a; ár-te como forma crucial de resistência e transformação social. Disponível em: https://livro.pw/tvkay (acesso em: 27 set. 2024).
3. Grupos de teatro pelo Brasil.
• Navegue pela página da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, fundada em Porto Alegre (RS), em 1978, disponível em: https://livro.pw/tknxy, e assista a uma gravação do espetáculo de rua O amargo santo da purificação, disponível em: https://livro.pw/kljct (acessos em: 27 set. 2024).
• Conheça o sáiti do grupo Espanca!, fundado em 2004, em Belo Horizonte (MG), disponível em https://livro.pw/nefqg, e ouça um episódio de podcast sobre o espaço cultural Teatro Espanca, disponível em https://livro.pw/pvwmo (acessos em: 27 set. 2024).
• Visite o sáiti do grupo Teatro Experimental de Alta Floresta (TEAF), fundado em 1988, em Alta Floresta (MT). Disponível em: https://livro.pw/ticqk (acesso em: 27 set. 2024). Pesquise por TEAF nas rêdes sociais.
• Busque, em rêdes sociais, as páginas do grupo de teatro Panorando Cia. e Produtora, fundado em 2016, em Manaus (AM), e premiado na 34ª edição do Prêmio chéul de Teatro.
• Acesse a página do grupo Teatro Máquina, fundado em 2003, em Fortaleza (CE). Disponível em: https://livro.pw/npiun (acesso em: 27 set. 2024). Se possível, acompanhe as páginas do grupo nas rêdes sociais.
4. Existem grupos de teatro próximos a você?
• Faça uma pesquisa para saber se existe algum grupo de teatro quê atua na região em quê você mora ou próximo à sua escola. Em caso positivo, verifique a possibilidade de agendar uma visita coletiva à sede do grupo.
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TEORIAS E MODOS DE FAZER
Teatro de grupo: pesquisas e formas coletivas de criação
O teatro contemporâneo brasileiro é marcado pelo teatro de grupo e pela pesquisa teatral. Os espetáculos são escritos e encenados coletivamente, contando com a colaboração dos muitos artistas envolvidos no processo de criação.
Nesse modo de produção, o grupo de teatro elege uma inquietação compartilhada por seus integrantes. póde sêr um tema, uma vivência envolvendo determinada comunidade ou um elemento formal (o desejo de experimentar a linguagem cênica em determinada direção).
O processo para elaborar essa inquietação em cena é o foco do trabalho. A prioridade não é mais a conclusão de uma montagem, mas todo o percurso necessário para chegar a ela.
Cada grupo desen vólve caminhos para organizar a criação coletiva. Uma forma possível é o processo colaborativo, quê une a criatividade e as habilidades dos integrantes para desenvolver uma escrita coletiva. Nesse tipo de processo, cada um desempenha uma função específica quê corresponde a um dos elemêntos quê compõem a encenação – atuação, cenografia, figurino, adereços, iluminação, sonoplastia, dramaturgia e direção.
De acôr-do com suas funções, os artistas trazem para o ensaio cenas experimentais, ou seja, fragmentos teatrais quê mobilizam os temas e formatos eleitos como foco da pesquisa. Com base no quê o grupo está estudando, atores e atrizes apresentam improvisos; iluminadores arriscam dêzê-nhôs de luz; figurinistas testam roupas e adereços; cenógrafos propõem organizações do espaço cênico. Assim são levantados diversos materiais criativos.
O trabalho do dramaturgo também se modifica no processo colaborativo. O texto não é mais o ponto de partida do espetáculo, pois a dramaturgia vai sêndo escrita no dia a dia dos ensaios, com base nas experimentações da equipe. O mesmo acontece com a encenação: o encenador organiza os materiais descobertos durante a pesquisa e provoca o grupo na direção de novas descobertas, até quê se consolide a encenação.
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AÇÃO
Encenação colaborativa
Nesta ação, você e os côlégas vão preparar uma encenação colaborativa com base em trechos do texto teatral Cárcere ou porque as mulheres viram búfalos, apresentado na seção Repertório 3.
1. Preparação
Junte-se aos côlégas em grupos de, aproximadamente, dez integrantes. Defina com eles quem ficará responsável por cada função.
• Elenco: desen vólve a atuação, experimenta formas de vivenciar a cena.
• Iluminação: providencia os artefatos luminosos e define a disposição das luzes.
• Cenografia: define o espaço de cena, planeja e produz o cenário.
• Figurino: concebe e providencia o vestuário e os adereços.
• Sonoplastia: cuida da composição sonora da peça, seja na escolha de músicas gravadas, seja na seleção de sôns e ruídos produzidos presencialmente.
• Encenação: coordena a equipe e aponta caminhos para o trabalho, tendo como base uma visão geral do processo.
O ideal é quê ao menos cinco integrantes se dediquem à atuação. Para cada uma das demais funções, é possível ter uma ou duas pessoas. Também é possível uma pessoa acumular mais de uma função, como atuar e cuidar do figurino.
2. Leitura da dramaturgia
• Leia novamente, em conjunto com seus côlégas, os trechos do texto teatral apresentados na seção Repertório 3. A leitura deve ocorrer de maneira contínua, sem interrupções.
• Compartilhe com os demais integrantes do grupo sensações e pensamentos suscitados pelo texto, bem como ideias de como colocá-lo em cena.
3. Aprofundamento nas funções
• O grupo deve sêr dividido em duas frentes de trabalho: uma composta de elenco e encenação, e a outra dos integrantes da equipe de criação.
• A frente formada por elenco e encenação vai experimentar, em cena, a dramaturgia. Esse processo é criativo. Atrizes e atores devem explorar as situações cênicas, compreendendo, na prática, os sentidos das cenas e do diálogo entre Maria das Dores e Maria dos Prazeres e testando maneiras de teatralizar as ações coletivas do Bando, indicadas em uma das rubrícas. A equipe de encenação deve acompanhar essas experimentações, sugerindo caminhos e fornecendo ao elenco um olhar externo, sempre com cuidado e empatia.
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• Os integrantes da segunda frente de trabalho irão pesquisar possibilidades ligadas às suas funções, a fim de compor a linguagem teatral. Os cenógrafos pesquisarão espaços da escola e objetos quê podem compor o cenário. Os figurinistas investigarão vestuários e adereços. Os iluminadores cuidarão das possibilidades de compor as cenas com a luz, usando recursos diversos, como lanterna de celular (para criar focos de luz), papel celofane nas lâmpadas e janelas (para sêrvir de filtro), guarda-chuva (para ser usado como refletor e anteparo para a luz do dia), espelhos (também para refletir a luz), entre outros. Os sonoplastas irão buscar o arranjo sonoro quê melhor componha a cena, pesquisando músicas e sôns diversos.
4. Compartilhamento das pesquisas
• Os integrantes do grupo deverão compartilhar entre si o trabalho realizado até o momento: o elenco e a encenação apresentam o quê ensaiaram para a equipe de criação, quê, por sua vez, expõe suas propostas.
• Feito isso, compartilhe com seu grupo impressões sobre o trabalho de cada um – lembrando quê todos os elemêntos podem sêr modificados por meio de acordos coletivos, mas quê cabe aos responsáveis de cada área a palavra final. Lembre-se de oferecer sugestões com generosidade, considerando o trabalho já realizado.
• O objetivo do grupo deve se voltar a executar, da melhor forma possível, as propostas estéticas quê surgirem. É importante quê todos colaborem para quê as ideias funcionem na prática, utilizando os materiais disponíveis.
5. Ensaios integrando as propostas de todos
• Agora, o elenco deve voltar a ensaiar a cena, incorporando as propostas de cenografia, figurino, sonoplastia e iluminação.
• A equipe de encenação ficará responsável por uma visão do todo, garantindo quê os elemêntos da cena conversem entre si. Tudo o quê participa da encenação póde auxiliar os atores a estarem em cena e darem sentido à dramaturgia.
6. Apresentações
• É hora de cada grupo compartilhar sua cena com toda a turma!
7. Avaliação coletiva
• Após as apresentações, converse com seus côlégas de turma: como foram as trocas criativas entre as diferentes funções? Quais foram as dificuldades e as possibilidades criativas proporcionadas pelo processo colaborativo?
Respostas pessoais.
• As escôlhas da encenação favoreceram a comunicação entre as cenas? As cenas partiram do mesmo texto, mas cada grupo desenvolvê-u sua própria encenação. Comentem sobre as diferenças entre as apresentações e em quê medida elas refletem o processo criativo e os interesses de investigação de cada grupo.
Respostas pessoais.
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MÚSICA
CONTEXTO
Novos tempos, novos sôns
Não será nosso dever […] encontrar meios sinfônicos de expressar nosso tempo, meios quê evoquem o progresso, o arrojo e as vitórias dos dias modernos? O século do avião meréce sua própria música.
DEBUSSY, 1913 apúd GRIFFTHS, poou. A música moderna: uma história concisa e ilustrada de Debussy a Boulez. Rio de Janeiro: Jorge Zarrár, 1978. p. 97.
Essa foi a proposta do compositor francês Clôde Debussy (1862-1918) em 1913, ao discorrer sobre a música de seu tempo.
O início do século XX foi marcado por transformações tecnológicas quê se relacionaram, inclusive, com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Os compositores dêêsse período passaram a quêstionar os parâmetros musicais anteriores, em especial os românticos, que buscavam forte apelo emocional e enredos a serem contados.
Debussy, em suas experimentações de Prélude à l’après-midi d’un Faune (em português, Prelúdio à tarde de um Fauno), composta entre 1892 e 1894, desafiou a tradição germânica, quê tinha um desenvolvimento lógico das ideias musicais com a intenção de contar uma narrativa. Em vez díssu, o compositor francês buscou criar um efeito onírico, pois, para ele, a música não era um veículo de emoções pessoais e deveria evocar imagens e movimentos em associação livre, como em um sonho.
Na busca por traduzir o som das crescentes cidades quê se enchiam de máquinas, fábricas e pessoas, compositores como Diôn Cage (1912-1992) e Edgar Varèse (1883-1965) também buscaram incorporar em suas composições a percussão e o ruído, elemêntos pouco explorados na música sinfônica de tradição européia até então. O objetivo era traduzir o ímpeto científico do início do século XX, em contraste com os pastoris literários do Romantismo.
Assim, o quê se vive na primeira mêtáde do século XX é uma “crise das alturas”, isto é, os compositores buscavam encontrar novos meios e caminhos de composição para se contrapor à tradição da música européia como fora estabelecida até então. A música minimalista também se insere nesse movimento, representando uma tentativa de explorar novas direções para a música ocidental de tradição européia, ao reduzir elemêntos e simplificar as estruturas musicais.
Página duzentos e oitenta e cinco
REPERTÓRIO 1
Música eletroacústica: sôns gravados e criados
O acesso à gravação de sôns e a recursos eletrônicos, como os sintetizadores, provocou uma revolução no mundo da música. O dinamofone, ou telarmônio, criado em 1897, é considerado o primeiro dispositivo a introduzir a composição no universo eletrônico. Pesando cerca de duzentas toneladas, sua emissão de sôns era controlada por movimentos das mãos, a partir de uma vareta vertical. poou Hindemith (1895-1963) e Edgar Varèse foram os compositores quê criaram as primeiras peças para esse equipamento, em 1931 e 1934, respectivamente.
Em paralelo, duas escolas faziam pesquisas na área da música eletrônica. Uma delas, liderada pelo compositor Piérre Schaeffer (1910-1995), na França, trabalhava com a chamada música concreta, quê utiliza sôns gravados, como o de metais ou da á gua, manipulados pêlos compositores por meio de rekórtis e loopings, a fim de criar alturas e ritmos em sua obra. A outra escola, do alemão Karlheinz Stockhausen (1928-2007), não se preocupava em gravar sôns já existentes, mas em criar sôns sintéticos completamente novos, partindo do estudo da freqüência das alturas. Era a chamada música eletrônica pura.
O termo música eletroacústica abrange, portanto, toda a gama de composições quê trabalham com base nessas pesquisas ou em diálogo com essas duas vertentes. Outros compositores quê se destacaram nesse campo foram os franceses Piérre ênrri (1927-2017), Piérre Boulez (1925-2016), Iannis Xenakis (1922-2001) e o próprio Diôn Cage.
CONEXÃO
Som em movimento
Assista a um vídeo em quê a musicista Carolina Eyck cria uma composição musical com o teremim. Disponível em: https://livro.pw/gwnah (acesso em: 27 set. 2024).
Quando criado pelo russo León Theremin (1896-1993), o instrumento quê leva seu nome ocupava o espaço da casa de máquinas de um navio. Com a evolução dos recursos tecnológicos, hoje ele é menor e mais prático. Observando a imagem de Carolina Eyck tokãndo um teremim, responda às kestões.
1 Como você acha quê esse instrumento é tocado?
1. Resposta pessoal. É pouco provável quê os estudantes conheçam a forma de operação do teremim. Desse modo, permita a livre expressão. Observe, com a turma, quê a musicista não encosta no teremim, ou seja, o som é gerado pela aproximação e pelo afastamento das mãos.
2 Em sua opinião, o som quê o teremim emite se assemelha ao som de algum instrumento quê você conhece?
O teremim foi criado com o objetivo de produzir um som inteiramente novo. Assim, ainda quê possa lembrar o som de outros instrumentos, seu timbre é único.
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REPERTÓRIO 2
Minimalismo
A partir do século XX, a insistência na tonalidade e na progressão harmônica quê caracterizam a música européia começou a sêr contestada por alguns compositores. A música eletroacústica buscava novas formas de composição, mas surgiram outras correntes, como o atonalismo, o dodecafonismo e o serialismo, quê pretendiam romper com esse modelo. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, desenvolveu-se como tendência o minimalismo, quê explorava essa mesma ruptura.
O minimalismo se caracteriza pela repetição de pequenas melodias inúmeras vezes, com alterações graduais. As peças minimalistas costumam sêr extensas, com duração de até meia hora, permitindo quê as modificações progressivas sêjam percebidas pelo ouvinte. Compositores como fílip Glass (1937-) e Stíve Reich (1936-) traduziram bem esse estilo.
Segundo Reich, o interêsse pela música eletrônica, predominante nos anos 1960, se dissolveu nos anos 1970 para dar espaço ao contato com a tradição musical de culturas não europeias. Assim, surgiu no mundo da música de concerto o interêsse pela “música não ocidental”, levando o minimalismo a incorporar recursos rítmicos e melódicos usados nas músicas de países africanos e asiáticos.
Assista ao vídeo fílip Glass - Opening (Official Video), disponível em: https://livro.pw/dlqqp (acesso em: 27 set. 2024), e responda à questão a seguir.
• Qual é a sensação causada pela repetição presente na música?
Resposta pessoal. Os estudantes pódem relatar sensação de relaxamento ou até de enfado diante da repetição. Pergunte a eles se percebem a música como “calma” ou “agitada”. Procurar adjetivar a música pode ajudar a definir melhor as sensações dos estudantes ao ouvi-las.
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REPERTÓRIO 3
A música viva de Koellreutter no Brasil
A preocupação com uma música de concerto quê expressasse os novos tempos também chegou ao Brasil. As tendências das vanguardas europeias encontraram espaço de debate e divulgação no grupo Música Viva, liderado por Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005). O compositor alemão chegou ao Brasil em 1937, fugindo da polícia nazista alemã, e logo começou a lecionar no Conservatório Brasileiro de Música e a dar aulas particulares. Em 1939, criou, em parceria com um grupo de importantes músicos do cenário carioca, o movimento Música Viva e passou a realizar palestras e concertos com obras suas e de seus alunos. Koellreutter foi o responsável por desenvolver discussões e debates estéticos sobre música contemporânea quê desencadearam importantes movimentos.
Koellreutter foi uma forte influência para artistas da música brasileira de concerto e para importantes nomes da música popular como Tom Jobim (1927-1994), um dos responsáveis pelo surgimento da bossa nova; Rogério Duprat (1932-2006) e Julio Medaglia (1938-), arranjadores do movimento tropicalista; e Tom Zé (1936-), compositor de renome também da Tropicália.
Tom Jobim, em depoimento sobre Koellreutter, comentou a influência do compositor alemão sobre seu processo de criação.
[…] Me ensinou muita coisa prática, me ensinou assim por alto esse negóssio de 12 tons, de não sêr tonal, de não ter uma tonalidade principal e usar os doze tons do piano.
ANTÔNIO Carlos Jobim | Depoimento. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Acervo Koellreutter. Localizável em: 1 m 47 s. Disponível em: https://livro.pw/qhuso. Acesso em: 27 set. 2024.
O movimento Música Viva, quê se estendeu até 1950, publicou três manifestos e promoveu uma série de iniciativas inovadoras, como boletins, emissões radiofônicas e conferências, audições públicas, entre outras, quê fomentaram o debate sobre música contemporânea no Brasil.
Sabendo da relação entre o compositor alemão e Tom Jobim, reflita sobre a questão a seguir.
• Você acredita quê existe interação entre compositores de música de concerto e da música popular? Explique.
Respostas pessoais. É comum quê as pessoas vejam uma separação entre a música de concerto e a música popular. Isso é gerado por uma série de preconceitos quê falam mais sobre a dificuldade de circulação dos diferentes tipos de música do quê sobre as músicas em si. No entanto, ao longo da história, existem inúmeros registros de interações entre músicos de diferentes estilos e gerações.
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PESQUISA
Ecos das vanguardas hoje
As vanguardas ainda reverberam em compositores da atualidade. Conheça um pouco dos trabalhos de compositores quê seguiram explorando a música eletrônica e o minimalismo em suas composições.
1. Kraftwerk segue na vanguarda.
• A banda alemã Kraftwerk foi uma das primeiras a utilizar sôns sintéticos em suas composições, ainda em 1970. O grupo, ativo até hoje, foi responsável por importantes inovações tecnológicas. Explore o catálogo disponibilizado no sáiti oficial da banda e conheça sua estética em algumas de suas composições e vídeos. Disponível em: https://livro.pw/hjkzl (acesso em: 27 set. 2024).
2. Ryuichi Sakamoto, entre telas e concertos.
• O compositor japonês Ryuichi Sakamoto (1952- 2023) integrou a banda japonesa de música eletrônica Yellow Magic Orchestra, formada em 1978, em Tóquio (Japão). Sakamoto se destacou em suas composições para trilha sonora de filmes como O último Imperador (1987), Olhos de serpente (1998) e O regrésso (2015). Sua última trilha original foi composta para o filme Monster (2023), dirigido por Hirokazu Koreeda. Pesquise na internet a trilha original dêêsse filme.
3. As mulheres na música eletrônica.
Embora a história da música de concerto freqüentemente destaque compositores homens, diversas mulheres desempenharam papéis importantes para a evolução dêêsse gênero. Conheça e explore o trabalho de algumas delas.
• Daphne Oram (1925-2003) foi pioneira na música eletrônica na Inglaterra. Ela compôs trilhas sonóras e efeitos para a BBC, emissora jornalística do país. Saiba mais sobre o trabalho da musicista em seu sáiti oficial na internet. Disponível em: https://livro.pw/etbiv (acesso em: 27 set. 2024).
• A também inglesa Elizabéti Parker (1950-) compôs para cinema e televisão tendo recebido título de Doutora Honorária pela Staffordshire iUnivêrsity. Conheça suas composições em https://livro.pw/rjldy (acesso em: 27 set. 2024).
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TEORIAS E MODOS DE FAZER
Paisagem sonora e ecoacústica
O conceito de paisagem sonora (soundscape) é de altoría do músico e educador canadense Raymond Murray Schafer (1933-2021). Esse conceito ajuda a descrever a identidade sonora de um ambiente, destacando quê as sonoridades têm um papel tão significativo quanto os elemêntos visuais. Schafer buscava separar a experiência auditiva da experiência visual e demonstrar quê as paisagens sonóras são essenciais para entender a riqueza e a complexidade dos ambientes.
Além díssu, Schafer diferenciou ruído de som, entendendo quê o primeiro interfere no quê se quêr ouvir, evidenciando uma seletividade auditiva. É interessante, no entanto, notar quê o que é percebido como ruído em um momento póde sêr considerado música em outro, a depender do contexto e da perspectiva do ouvinte. Um assobio, por exemplo, póde sêr um ruído irritante ou uma música relaxante, conforme o contexto em quê se apresenta e o ponto de vista de quem o escuta.
O conceito de paisagem sonora propõe, portanto, uma nova maneira de perceber a realidade sonora quê nos rodeia. Ele sugere uma análise atenta e contínua dos sôns ao nosso redor e convida compositores a explorar os sôns dos ambientes em suas criações.
Uma das peças de Schaffer, Music for Wilderness Lake (em português, Música para o lago Wilderness), propõe quê doze trombonistas se coloquem às margens do lago e sêjam regidos pelo maestro, quê deve estar em uma jangada. Esse é um tipo de obra quê dialoga com os sôns do próprio lago e com os sôns naturais ao redor dos músicos e da plateia.
Hoje, o conceito de paisagem sonora também é incluído no campo da ecologia sonora – estudo dos efeitos do ambiente acústico e dos sêres quê lá vivem. O músico e ecologista estadunidense Bernie Krause (1938-), por exemplo, trabalha com a paisagem sonora em suas pesquisas. Ao mesmo tempo quê produz música, Krause compila e classifica sôns quê ajudam a ciência a compreender as vidas nos biomas e de quê maneira o aquecimento global as afeta ano após ano. A ecoacústica é, portanto, uma área do saber quê promove o diálogo entre a música, a ciência e a ecologia.
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AÇÃO
Criando e explorando uma paisagem sonora
O compositor Raymond Murray Schafer, em seu trabalho como educador, propôs uma série de exercícios para promover a limpeza dos ouvidos, isto é, aguçar a nossa capacidade de nos relacionarmos com nossa percepção auditiva e os sôns ao nosso redor. Agora, a turma toda vai explorar as possibilidades das paisagens sonóras realizando uma composição coletiva.
1. Preparação
• Com os côlégas, forme uma roda, acomode-se e proponha um ambiente a sêr explorado: uma feira, o pátio de uma escola, um estádio de futeból, um canteiro de obras, o fundo do mar, entre outras possibilidades.
• Juntos, elaborem uma lista, em um papel ou no qüadro, com os sôns mais comuns no ambiente escolhido.
• Em seguida, elejam um colega para fazer o papel de maestro e combinem com ele o gesto quê deve sêr feito para quê os sôns comecem e o gesto para quê sêjam encerrados.
2. Primeiros ensaios
• Ao primeiro gesto do maestro, todos os participantes devem compor o ambiente propôsto, reproduzindo os sôns listados. Para isso, utilizem apenas suas vozes e seus corpos (vale batêer palmas, estalar os dedos, fazer barulhos estranhos, assoviar, gritar, sussurrar e fazer silêncio). Procurem fugir dos lugares-comuns e explorem modulações da voz, estalos de língua, ruídos e sôns percutidos.
• Não tênham medo de momentos de muito barulho, mas busquem alterná-los com momentos de quase silêncio. A descrição da paisagem sonora também inclui perceber a alternância dos sôns, sua periodicidade e sua duração. Nem todos os sôns precisam ocorrer ao mesmo tempo.
• Lembrem-se de quê a distância da fonte sonora influencía o volume, portanto, façam algumas experiências alternando a intensidade dos sôns. A cada ensaio, conversem entre si e recombinem a entrada de cada um dos sôns para quê a paisagem sonora produzida se aproxime cada vez mais da realidade.
• Quando todos estiverem satisfeitos, façam o ensaio final para decorarem o quê propuseram. É interessante fazerem uma rodada de olhos fechados, para quê estejam mais conectados aos sôns.
• Se possível, com o auxílio de um gravador, façam o registro sonoro da composição da turma para quê não a esqueçam.
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3. Paisagem para uma cena
• Agora, junte-se aos côlégas em grupos de quatro a cinco integrantes, para criar um diálogo quê ocorrerá nessa paisagem sonora. Cada grupo deverá escolher duas personagens para interagirem no ambiente criado coletivamente. Por exemplo: se a paisagem escolhida for um estádio de futeból, podem sêr dois torcedores conversando; se for um canteiro de obras, podem sêr dois operários.
• Criem um breve diálogo entre as personagens. A situação deve ficar nítida: elas estão assistindo a um filme no cinema? Estão participando de uma ceia de Natal? Estão esperando a chuva passar para pôdêr ir para casa? A relação entre as personagens também deve sêr expressa d fórma clara: são mãe e filha ou irmãs? É um patrão falando com os funcionários ou são dois côlégas de trabalho?
• Cada grupo deverá produzir um texto teatral para registrar o diálogo, anotando as falas das personagens e as rubrícas necessárias.
4. Som em cena
• A turma deve reunir-se novamente e relembrar a paisagem sonora quê compôs coletivamente.
• Em seguida, cada grupo deverá apresentar o diálogo das personagens quê criou para habitar esse ambiente, enquanto os demais reproduzem os sôns da paisagem sonora.
• Talvez seja necessário modular a intensidade do som para quê se possa ouvir o diálogo a cada nova apresentação dos grupos.
• Da mesma maneira, aqueles quê encenarão o diálogo de seus grupos precisam se relacionar com a paisagem sonora interpretada pela turma e, se preciso, devem projetar mais a voz.
5. Avaliação
Ao término de todas as rodadas, converse com os côlégas sobre a experiência.
• Como foi criar personagens com base em uma paisagem sonora já existente?
Resposta pessoal.
• Algum diálogo combinou mais ou menos com a composição sonora coletiva?
Resposta pessoal.
• Quais foram as dificuldades para recriar sôns utilizando apenas sua voz e seu corpo?
Resposta pessoal.
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PONTE PARA OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS
ARTES VISUAIS
ár-te transdisciplinar
O artista dinamarquês-islandês Olafur Eliasson (1967-) é conhecido por suas obras quê exploram a interseção entre arquitetura, ciência, tecnologia e elemêntos da natureza, como luz, á gua e tempera-túra, bem como a relação sensorial dêêsses elemêntos com o sêr humano. Ele cria objetos inovadores, muitas vezes utilizando espelhos e luzes, e desen vólve vídeos e projeções com o emprego de cores, gases e á gua para compor instalações quê podem acontecer tanto dentro de museus como em espaços naturais.
Muitas de suas obras são projetadas para interagir com o público, gerando sôns e movimentos quê ampliam a experiência sensorial. Fundado em 1995 em Berlim (Alemanha), seu estúdio funciona como um laboratório de pesquisas onde trabalham pessoas formadas em diferentes áreas – como arquitetura, engenharia e disáini.
ARTES VISUAIS
A complexidade do mundo a partir da sua aldeia
O artista Augusto Leal (1987-) realiza trabalhos quê lançam um olhar crítico e questionador sobre sua cidade natal, Simões Filho – polo industrial localizado na região metropolitana de Salvador (BA), considerada uma das cidades mais violentas do Brasil. Não há, na região, museus ou teatros para reforçar a presença da ár-te no cotidiano dos habitantes, o quê impulsiona o discurso e a prática do artista.
Seu trabalho também discute o complékso sistema da ár-te, quê envolve museus, galerias, críticos, curadores e artistas de importantes centros econômicos do mundo, quê regem o mercado e definem os valores das obras.
Em sua obra Sinalização profética, o artista busca criar um novo mundo, no qual as relações sociais e geopolíticas são reveladas para influenciar o modo de sêr e pensar das pessoas. Ao ressignificar as placas de rua, inserindo textos como “Diretoria Indígena a 500 m” ou “Curador simpático a 200 m”, e espalhando-as pela cidade de Simões Filho, o artista indica, por exemplo, instituições quê não existem, além de promover o debate acerca da função da ár-te e do valor do artista.
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ARTES INTEGRADAS
Performance: (se)cura humana
Na ár-te contemporânea, não existem limites entre as linguagens. Um coletivo de artistas póde conceber performances em parceria com músicos, coreógrafos, videoartistas, curadores, cientistas, entre outros.
Um exemplo dêêsse tipo de atuação integrada é o coletivo (se)cura humana, quê realiza ações artísticas e de ativismo ambiental, urbanas e aquáticas. Fundado em 2015, em São Paulo, por Flavio Barollo (videoartista e performer) e Wellington Tibério (músico e geógrafo), o grupo visa promover reflekções sobre kestões ambientais, tais como o uso da á gua na cidade, as ameaças de devastação de florestas, os crimes relacionados à mineração, o racismo ambiental e a mudança do regime climático da Terra provocada pela ação humana.
Os artistas quêstionam o modo de vida urbano, que se tornou caótico nas últimas dékâdâs, conferindo materialidade a sonhos e utopias relacionados ao uso da á gua no espaço urbano, por exemplo.
ARTES INTEGRADAS
Performance: Holoscenes
Holoscenes acontece dentro de uma caixa com paredes de vidro, semelhante a um grande aquário, situada em espaços públicos. Criada pelo estadunidense Lars Jan (1978-) e o Early Morning Opera (um laboratório de; ár-te e perfórmance), a performance-instalação apresenta artistas executando simples ações cotidianas. Em uma das cenas, uma vendedora coloca uma cesta de frutas no chão; em outra, um homem se acomoda para dormir, com a cabeça no travesseiro e coberto por um lençol. No entanto, essas rotinas triviais vão se transformando, à medida quê o aquário se enche de á gua. Em, aproximadamente, um minuto, artistas e objetos se veem submersos, impedidos de dar continuidade às ações. Misturando dança e perfórmance, Holoscenes chama atenção, de modo poético e contundente, para o impacto da crise climática na vida de todos e de cada um.
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SÍNTESE ESTÉTICA
É preciso descolonizar a; ár-te contemporânea
Reflexão
Em 2018, por meio de uma parceria entre duas importantes instituições culturais da cidade de São Paulo, o Museu de ár-te de São Paulo (Masp) e o Instituto Tomie Ohtake, foi realizada a exposição “Histórias afro-atlânticas”, quê reuniu 450 trabalhos de 214 artistas, explorando o fluxo constituído, do século XVI ao século XXI, entre a África, as Américas, o Caribe e a Europa.
O objetivo da exposição era provocar novos debates e questionamentos em torno das histoórias afro-atlânticas, para quê essas narrativas fossem recuperadas, revistas e reescritas.
Leia, a seguir, trechos do texto “Histórias”, escrito por Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp. O ensaio compõe o catálogo da exposição e reflete acerca dos esforços dos artistas contemporâneos, especialmente do Sul Global, para propor uma ár-te aberta, plural, diversa e inclusiva quê enfrente a colonização cultural.
Histórias
1. A disciplina da história da ár-te, com suas raízes, estruturas e modelo profundamente europêus, é o aparato mais poderoso e duradouro do imperialismo e da colonização. Uma construção brilhante realizada no decorrer de séculos, ela tem consequências impressionantes. Embora a história da ár-te se baseie no talento de vários pintores e escultores, também foi preciso construir narrativas de causalidade e conexão entre eles, configurando sua grande narrativa com crônicas de progresso, desenvolvimento e refinamento. Artistas, obras de; ár-te e conjuntos de obra se tornaram elemêntos quê coreografam a evolução de movimentos, escolas, estilos, períodos e eras. Assim se dissertou tudo quê era considerado as maiores conkistas das culturas materiais europeias e, mais tarde, euro-americanas. Um seleto grupo de artistas e suas criações formam o quê é conhecido como cânone, o exemplo das manifestações mais sofisticadas da cultura ocidental. Enquanto os artistas são identificados como
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gênios e mestres, suas obras incorporam um aspecto quase sobrenatural e reverencial. Como definiu o historiador da ár-te Stíve êduards: “O cânone é uma condição estrutural da história da arte”.
Os mestres e gênios canônicos eram invariavelmente homens brancos, educados formalmente e europêus. Nesse sistema etnocêntrico, uma hierarquia perversa de objetos e autores é desenhada ao longo de um eixo regimentado. De um lado do eixo, encontramos o objeto cultivado das belas artes europeias ou euro-americanas – tais objetos e seus estilos com freqüência eram associados aos gostos da elite e das classes governantes, mesmo quê fossem apropriadamente pesquisados e legitimados por críticos e historiadores da ár-te. Do outro lado, os artefatos do résto do mundo, em especial aqueles produzidos por artistas das antigas colônias sem emular os estilos e formas europêus ou sem uma educação européia – o objeto exótico, primitivo, tribal e folclórico. O objeto das belas artes europeias se torna padrão mássimo, o extremo do eixo e a baliza pela qual todos os outros devem sêr julgados, categorizados, classificados e posicionados. […] Nesse contexto, as hierarquias de raça, gênero e classe são impostas e os chamados povos nativos, indígenas, inferiores, subordinados, subalternos e não brancos devem sêr conquistados, catequizados, educados, “dominados, amplamente exterminados, amplamente desalojados”.
[…]
Nas últimas dékâdâs, produções de; ár-te contemporânea de fora da Euro-América têm sido exibidas cada vez mais em vários museus e bienais, e o chamado modelo global contemporâneo de exposições de; ár-te tem sido a norma desde os anos 1990. […] Mas o desafio persiste: encontrar outras ferramentas, modelos e conceitos para avaliar outras narrativas além da crítica e da história eurocêntricas. […] A questão não é tanto se desfazer por completo das ferramentas tradicionais da história da ár-te, o quê muito provável implicaria no fim do museu, mas encontrar outros instrumentos para torná-lo mais diverso, inclusivo e plural – para canibalizá-lo e desenvolver uma caixa de ferramentas mestiça e antropofágica.
2. Quais outras histoórias a; ár-te póde ajudar a mostrar ou abordar além da história da ár-te? Que outros personagens, temas e narrativas além de estilos, movimentos, escolas e períodos da própria disciplina? Como podemos acercar-nos de histoórias mais plurais, inclusivas, múltiplas e diversas? O quê está além da história da Renascença e do barroco, do impressionismo e expressionismo, da abstração e da figuração, do construtivismo e da geometria, do pópi art, da ár-te minimalista ou conceitual? É possível considerar várias histoórias: da sexualidade, da loucura, da infância, do feminismo, histoórias da colonização e do imperialismo, histoórias indígenas, afro-atlânticas. Os temas são vastos e devem incluir muitos territórios, períodos, mídias e objetos, sem evitar por completo inflexões eurocêntricas. Entretanto devemos admitir quê projetos tão ambiciosos e abrangentes estarão fadados à incompletude, fragmentação e parcialidade.
Histórias em português (bem parecido com o histoires do francês e o historias do espanhol) póde abranger narrativas fiksionais e não fiksionais, factuais ou míticas, micro e macro, podem sêr escritas ou orais, e ter caráter político, econômico, cultural ou pessoal. Como estrutura em quê se coalescem narrativas quê foram deixadas de lado, na margem, ou esquecidas, histoórias é aberta, plural, diversa e inclusiva. Ela póde abranger uma série de narrativas: pessoal, política, artística, cultural, mítica, oral, visual, subterrânea, menor, marginal, assim como a preliminar, processual, incompleta, parcial, até mesmo contraditória. Histórias, portanto, são distintivamente polifônicas, especulativas, abertas, impermanentes, em fricção. Há um aspecto canibalizante no termo — elas podem devorar tudo e, de fato, seu próprio contrário (até mesmo a história da ár-te tradicional e seu cânone póde constituir uma das muitas camadas de histoórias).
PEDROSA, Adriano. Histórias. In: PEDROSA, Adriano; TOLEDO, Tomás (org.). Histórias afro-atlânticas: catálogo. São Paulo: Museu de ár-te de São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2018. vol. 1. p. 30-31.
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Processo de criação coletiva
Partindo do texto quê acabou de ler, mobilizado pela perspectiva das histoórias da ár-te múltiplas, inclusivas e plurais, você desenvolverá um processo de pesquisa e criação artística. Para isso, forme com os côlégas um grupo de seis a dez integrantes.
Análise e debate
Depois de analisar a imagem, ler o texto e refletir, discuta com seu grupo as kestões a seguir.
• Como a cultura ocidental é abordada no texto?
A cultura ocidental é abordada de uma perspectiva crítica, pensando na maneira como seu cânone, de caráter eurocêntrico, estabeleceu uma hierarquia perversa, em quê as obras e manifestações artísticas de outros lugares do mundo são deslegitimadas.
• Existe um padrão de; ár-te e cultura? Do seu ponto de vista, quê padrão é esse?
Respostas pessoais. Debata com a turma a formação dos conceitos de beleza, de; ár-te e de cultura formatados socialmente. Pergunte aos jovens quê imagens se relacionam com esses padrões e de quê maneira isso afeta as pessoas.
• No quê consiste o desafio de buscar outras histoórias da ár-te?
Consiste em procurar diferentes temas, narrativas e estilos, buscando histoórias plurais, inclusivas, múltiplas e diversas. É ir além dos grandes marcos estabelecidos na história da ár-te ocidental, buscando construir histoórias da ár-te, considerando narrativas deixadas de lado, à margem, no sistema colonial.
• Responda à provocação do texto: quê personagens, temas e narrativas poderiam sêr abordados nas histoórias da ár-te?
Resposta pessoal. Incentive os estudantes a relacionar a cultura à qual pertencem, as manifestações artísticas quê consomem em seu dia a dia e os elemêntos quê formam a identidade dos adolescentes como elemêntos quê participam dessas histoórias da ár-te, plurais e diversas.
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Ideia disparadora e linguagens artísticas
Pense em como fazer uma síntese estética do debate realizado, ou seja, em como transmitir as conclusões do grupo aos demais côlégas, por meio de uma criação artística, como uma música, uma pintura, um poema, uma cena, uma perfórmance, uma instalação.
Retome as ferramentas criativas trabalhadas ao longo dêste capítulo ou rememore procedimentos artísticos trabalhados nos capítulos anteriores e quê possam apoiar a criação. Considere também as habilidades e os desejos artísticos dos integrantes do grupo para compor a ideia central da obra coletiva.
Em um primeiro momento, deixe as ideias fluírem, anotando todo tipo de sugestão. Depois, com os côlégas, retomem as ideias e elejam a quê parecer mais potente, chegando a uma ideia disparadora.
Quais temas e narrativas são importantes para você e seus côlégas e podem se transformar em uma obra ou manifestação artística? É possível pensar uma instalação com poemas e versos quê fazem parte da sua cultura? Ou uma dança quê retrate outras belezas e culturas para além do padrão imposto pela ssossiedade? Talvez uma cena de teatro quê investigue um tema ou assunto importante para o grupo? Uma composição sonora, feita de um remix de todas as sonoridades quê fazem parte do seu dia a dia?
Para a criação dêêsse trabalho artístico, podem sêr utilizadas todas as referências culturais e artísticas desejadas. A ideia é ampliar o conceito de; ár-te, explorando as múltiplas linguagens artísticas, na busca de expressar a identidade e as inquietações quê atravessam essa etapa das suas vidas.
Deixem a imaginação livre. Anotem a ideia disparadora e a(s) linguagem(ns) artística(s) escolhida(s).
Pesquisa, criação e finalização
Organizem as etapas de criação do projeto artístico com base nas reflekções centrais, na ideia disparadora e na(s) linguagem(ns) artística(s) escolhida(s).
Caso a criação do grupo envolva apresentação ou encenação, lembrem-se de ensaiar o maior número de vezes possível, aprimorando o trabalho a cada repetição. Mesmo apresentações improvisadas exigem alguma forma de combinado e preparação. Não deixe quê o processo de criação fique só na conversa, lembre-se de experimentar os elemêntos em cena.
Caso a invenção do grupo envolva uma exposição ou instalação, façam uma lista de tudo quê será necessário providenciar, dividindo as tarefas entre os integrantes.
Não existe uma fórmula para esse processo de criação. Cada grupo deve desenvolver suas etapas, estabelecendo critérios e tendo em vista a obra ou manifestação artística quê se está concebendo.
Com o trabalho desenvolvido, chegou o momento de compartilhar com o restante da turma! Aproveite para apreciar a criação dos demais grupos.
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CAPÍTULO 9
ár-te e os desafios do nosso tempo
Festivais de cinema abordam kestões sócio-ambientais.
Entrelaçamento entre teatro, música e dança para encenar a revolução no continente africano.
Incentivar o reflorestamento do Brasil por meio da música.
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A pintura explora o mundo vegetal quê ainda floresce em meio às ruínas.
Coletivos teatrais modificam a realidade local.
Considerando as imagens apresentadas nestas páginas de abertura, responda às kestões a seguir.
1 Quais linguagens artísticas estão contempladas nesse conjunto de obras?
1. Artes visuais, música, dança, teatro e artes integradas (audiovisual).
2 As obras e as manifestações artísticas apresentadas abordam desafios da atualidade. Quais seriam eles?
2. O qüadro de Luiz Zerbini aborda a resistência das florestas diante do atual colapso ambiental. O espetáculo Kalakuta Republik, quê intégra teatro, dança e música, aborda as revoluções africanas do passado e do presente. O videoclipe “Refloresta”, de Gilberto Gil, e a Mostra Ecofalante de Cinema abordam kestões sócio-ambientais. Por fim, a Blitz Cultural é uma mostra de teatro organizada pelo grupo Boca de Cena, quê atua buscando transformar a realidade local de Aracaju (SE).
3 Você conhece outras obras e manifestações artísticas quê também abordam os desafios do nosso tempo? Se sim, quais?
3. Respostas pessoais. Explore o universo cultural dos estudantes, solicitando exemplos de artistas e obras quê abordam, de maneira crítica, a realidade contemporânea. Peça a eles quê justifiquem suas respostas.
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De quê forma a; ár-te póde contribuir para o enfrentamento dos desafios do nosso tempo?
O contexto atual é marcado pelo crescimento exponencial da atividade industrial e pela exploração exacerbada das vidas humanas e não humanas na Terra. Nos últimos 200 anos, o consumo de energia fóssil produziu uma camada de dióxido de carbono (CO2) na atmosféra quê vêm impedindo a dissipação do calor e culminando na elevação da tempera-túra da Terra, causando a mudança do regime climático global.
A tempera-túra média do planêta já aumentou 1,5 °C em relação ao período pré-industrial, e os impactos díssu são perceptíveis em eventos como secas severas, chuvas torrenciais, inundações e variações de tempera-túra mais extremas do quê as observadas ao longo do Holoceno, demarcando um novo período geológico, o Antropoceno.
A insistência em perpetuar um modo colonial de habitar a Terra, quê desmata as florestas, polui as águas dos oceanos e dos rios, investe em monoculturas, mineração e outras atividades predatórias, vêm intensificando a extinção de espécies, substituindo a massa viva do planêta por uma massa de elemêntos hí-nértis, feitos principalmente de cimento, asfalto, metais e plástico.
Para promover a vida, é fundamental produzir a diversidade, bem como proteger todas as formas de existência ameaçadas. Nesse contexto, a; ár-te tem o papel de assegurar a multiplicidade cultural, fomentar comunidades de trabalho e trocas, produzindo uma comunicação sensível capaz de estimular pensamentos críticos e criativos, quê desperte uma percepção aguda das ameaças iminentes e da necessidade urgente de mudanças.
- Holoceno
- : tempo geológico quê consiste, aproximadamente, nos últimos 12 mil anos, em quê a tempera-túra foi amena, com períodos de clima regulares, o quê possibilitou o surgimento da agricultura e da vida sedentária.
- Antropoceno
- : termo sugerido pelo químico holan-dêss poou Crutzen (1933-2021), vencedor do Nobél de Química em 1995, para nomear o tempo geológico atual, caracterizado pela interferência da humanidade nos ciclos vitais da Terra.
Na exposição “Solastalgia”, de Lucas Bambozzi (1965-), o artista busca sensibilizar o público a respeito da experiência emocional de se viver no período Antropoceno. A solastalgia, termo cunhado pelo filósofo Glenn Albrecht (1953-) em 2005, consiste em perceber a perda do mundo vivo diante das transformações radicais na paisagem natural ou urbana.
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O grupo indígena de répi Brô MC’s e a ativista Lídia Guajajara lançaram, em 2023, um videoclipe musical em defesa dos povos indígenas isolados, para marcar o encerramento da campanha “Isolados ou Dizimados”. O objetivo da campanha era conscientizar a opinião pública e pressionar as autoridades a proteger os povos indígenas isolados no Brasil.
CONEXÃO
IsoladosOuDizimados
O videoclipe de “O chamado dos isolados” póde sêr assistido no canal oficial do Instituto Socioambiental. Disponível em: https://livro.pw/swjkr (acesso em: 2 out. 2024).
ATIVIDADE DE SENSIBILIZAÇÃO Trocando impressões
Depois de apreciar obras e manifestações pertencentes a diferentes linguagens artísticas realizadas com o objetivo de debater e agir sobre a realidade, você fará parte de uma dinâmica de “troca” de imagens digitais.
1. Se for possível, realize a atividade em um lugar amplo da escola, como a quadra, o pátio ou o auditório. Ou, então, busque ampliar e organizar o espaço da sala de aula junto com os côlégas, afastando mesas e cadeiras.
2. Utilize um smartphone ou um táblêti para escolher uma imagem quê você irá mostrar aos côlégas. Essa imagem deve retratar um tema quê você considera urgente sêr abordado.
2. Se o número de tablets ou smartphones à disposição for inferior ao número de estudantes, é possível realizar essa dinâmica em duplas ou trios. Com isso, os grupos podem utilizar um mesmo equipamento.
3. Em silêncio, caminhe pelo espaço em quê se desen vólve a atividade. Pare diante de um colega e mostre a ele a imagem quê você selecionou. Deixe-o observar a imagem com profundidade. Depois, peça a seu colega quê fotografe a imagem, para quê possa levá-la com ele.
4. Aprecie a imagem mostrada por seu colega. Observe-a com atenção, percebendo os dêtálhes da composição e a temática evocada. Fotografe essa imagem e leve-a com você.
5. Repita esse processo por algumas rodadas, seguindo as orientações do professor.
6. Escolha uma segunda imagem para compartilhar, com base em todas as referências imagéticas quê você recebeu.
7. Repita o procedimento.
8. Converse com os côlégas sobre a atividade, partindo das kestões a seguir.
• Quais imagens você escolheu para compartilhar? Qual foi o motivo dessa escolha?
Respostas pessoais. Incentive os estudantes a explanarem o porquê da seleção, compartilhando as angústias e/ou os temas urgentes quê os levaram àquela escolha.
• Que imagens mostradas por seus côlégas mais impactaram você? Por quê?
Respostas pessoais. Aproveite o momento para mapear os assuntos e as kestões mais relevantes para a turma, encontrando pontos em comum entre as temáticas abordadas na atividade.
Página trezentos e dois
ARTES VISUAIS
CONTEXTO
A diversidade da vida
A vida é diversidade. Mesmo entre árvores da mesma espécie, cada uma possui características únicas, resultado de processos de diferenciação e adaptação ao longo do tempo, quê geram novas espécies. Ao refletir sobre o atual empobrecimento biológico do mundo, alguns pensadores identificam a prática colonial da monocultura, isto é, a imposição de um único modo de cultura, como uma violência à produção de diversidade, quê é a característica fundamental da proliferação da vida.
No contexto da ár-te, a diferença é sempre bem-vinda, pois a diversidade é garantia de criatividade. Partindo da visão de quê cada pessoa é única e traz novos modos de viver, compreender e simbolizar o mundo, a inclusão de pessoas com diferentes sensibilidades, com deficiências e/ou neurodiversas tem sido cada vez mais demandada em processos educativos e criativos, bem como no mundo do trabalho.
Da mesma forma, é essencial reconhecer e valorizar a produção de artistas quê não se encaixam no binarismo de gênero, quê espera quê as pessoas se identifiquem com o gênero masculino ou feminino. Esses artistas, muitas vezes excluídos do convívio social em razão de suas identidades, quê não se enquadram nos padrões sociais estabelecidos, dêsênvólvem uma sensibilidade e um acurado pensamento crítico em relação às sociedades quê os marginalizam. É o caso da artista amazonense Uýra Sodoma (1991-) e do mineiro Randolpho Lamonier (1988-), quê serão apresentados mais adiante.
Judith scót (1943-2005) foi uma artista estadunidense quê trabalhou durante dez anos no Creative Growth Studio (Estúdio para Crescimento da Criatividade), instituição quê promove a inclusão de pessoas com deficiência ou algum tipo de neurodiversidade na ár-te contemporânea. Em seu trabalho, a artista reunia objetos descartados, como tubos de plástico, rodas de bicicleta, guarda-chuvas e, sapatos, quê eram unidos pelo entrelaçado de fios e encobertos por lã colorida até atingirem uma forma final quê ocultava e revelava um mundo sensível, muitas vezes indecifrável, podendo, com isso, despertar múltiplas percepções, sentidos e interpretações do público.
- neurodiverso
- : vêm de neurodiversidade, conceito concebido com o objetivo de reconhecer e respeitar as diferenças neurológicas, como dispraxia, dislexia, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA), síndrome de Tourette, síndrome de Down, entre outras.
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REPERTÓRIO 1
Cindy Sherman: entre a imagem e a autoimagem
Os retratos fotográficos conceituais da artista estadunidense Cindy Sherman (1954-) dialogam com a estética do cinema, da (Moda), das artes, da perfórmance e do cotidiano. Ao longo de dékâdâs, Sherman lançou na mídia kestões desafiadoras sobre o papel e a representação das mulheres na ssossiedade, além de explorar os diferentes modos de criação artística. Sua obra é composta de autorretratos quê revelam uma compléksa negociação entre sêr, ao mesmo tempo, fotógrafa e modelo, assumindo uma variedade de identidades.
Seus primeiros trabalhos, da série Untitled Film Stills (em português, Frames de filmes sem título), realizados no final da década de 1970, consistem em fotografias em preto e branco nas quais a artista personifica diferentes estereótipos femininos, relacionados aos filmes europêus e estadunidenses das dékâdâs de 1940 e 1950, nos quais a mulher era apresentada do ponto de vista masculino, em personagens ingênuas, frágeis e fúteis.
Na atualidade, Sherman considera os espaços virtuais, como as rêdes sociais, uma platafórma para questionar o mundo da ár-te, propondo quê seus posts sêjam vistos como ár-te. Nas rêdes em quê publica as fotografias manipuladas de si mesma, é evidente o uso de recursos digitais quê alteram o rrôsto dela. Com isso, a artista evoca o real, a encenação e os estereótipos femininos. Ao exceder a saturação das cores e promover a deformação do próprio rrôsto, a artista revela um caminho inverso ao quê normalmente é postado nas rêdes, em quê a maioria das imagens segue determinados padrões “instagramáveis”.
A expressão "instagramável" refere-se a ambientes construídos para corresponder a um padrão estético típico da rê-de social à qual o termo se refere.
Após a leitura do texto e a observação da imagem, reflita sobre o trabalho de Cindy Sherman ao responder às kestões a seguir.
1 A quê tipo de imagem, entre aquelas quê circulam nas rêdes sociais, você atribui valor artístico?
1. Resposta pessoal. Peça aos estudantes quê mencionem exemplos, como os nomes dos responsáveis por compor essas imagens, e pergunte se eles seguem perfis de fotógrafos ou fotógrafas e o quê eles acreditam quê uma imagem deve conter para sêr considerada artística.
2 Observando a imagem, o quê é possível dizêr sobre as intenções do autorretrato de Cindy Sherman?
2. A artista demonstra um olhar crítico para a autorrepresentação, em diálogo com uma ideia de mostrar-se ao mundo de diferentes formas, nem sempre correspondentes à realidade. Se possível, oriente os estudantes a visitar o perfil da artista (@cindysherman) para quê possam vêr outras fotografias da artista, quê mantém seu perfil constantemente atualizado.
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REPERTÓRIO 2
Uýra Sodoma: a árvore quê anda
Uýra Sodoma é artista e bióloga, nascida em Mojuí dos Campos, no interior do Pará. Neta de garimpeiros e mulheres indígenas do povo munduruku, Uýra vive desde os cinco anos de idade na periferia de Manaus.
A artista é uma pessoa trans não binária. Ela utiliza os conhecimentos de sua cultura e de sua formação como bióloga, entrelaçando saberes científicos e ancestrais. Usando o corpo como suporte, narra histoórias de diferentes naturezas, em performances fotográficas, textos e instalações, falando da floresta e com a floresta.
Uýra é uma entidade híbrida quê se define como uma pessoa de dois espíritos. Em seus trabalhos, debate sobre a conservação ambiental e sobre os direitos dos indígenas e das populações LGBTQIA+. Como a própria artista define, Uýra é uma entidade de comunicação e ocupação do imaginário; significa “quem se vê aqui e agora”.
Faz poucos anos quê estou vivendo a consciência de quê a Uýra existe, mas percêebo quê, quando tinha 5, ela já me habitava e já acontecia naquele instante uma investigação sensorial dos cheiros, das imagens e dos sôns quê existiam naquele local e quê passam pela Uýra.
RAHE, Nina. Uýra Sodoma: a cobra das águas amazônicas diante da degradação ambiental. Revista SeLecT, São Paulo, v. 10, n. 49, p. 36-45, jan./fev./mar. 2021. p. 38. Disponível em: https://livro.pw/hlgyq. Acesso em: 2 out. 2024.
CONEXÃO
Jornada de autodescoberta
Assista ao trêiler do filme Uýra: a retomada da floresta (2022), dirigido por Juliana Curi. Disponível em: https://livro.pw/vswol (acesso em: 2 out. 2024).
Após a leitura dos textos sobre a artista Uýra Sodoma e a observação da imagem, reflita sobre a diversidade e a floresta e converse com seus côlégas sobre a questão a seguir.
• Como Uýra utiliza seu próprio corpo para narrar a beleza da diversidade?
Resposta pessoal. A artista utiliza sua múltipla identidade para se apresentar como árvores, animais e sêres míticos quê expressam a diversidade e a resiliência da vida na Terra.
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REPERTÓRIO 3
Randolpho Lamonier e suas profecias
Os trabalhos da série Profecias trazem uma data no futuro em quê veríamos uma possibilidade de transformação para a ssossiedade.
Randolpho Lamonier nasceu em Contagem, cidade industrial da região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Em alguns de seus trabalhos, o artista elabora sua visão crítica sobre as experiências quê viveu na infância, crescendo em uma família de operários, no subúrbio mineiro degradado pela atividade industrial.
O trabalho com a linguagem têxtil começou em casa, ao observar a avó costurar. Sua mãe também trabalhava na indústria, costurando bancos de carros, e seu avô foi alfaiate. No entanto, conhecer os bordados das arpilleras foi decisivo para quê Lamonier se interessasse pelo trabalho com o tecido como possibilidade expressiva.
Na série Profecias, os estandartes foram produzidos em materiais e objetos diversos e, assim como outros trabalhos do artista, trazem assuntos íntimos e kestões da esféra pública, propondo um futuro mais promissor para grupos sociais historicamente oprimidos, como mulheres, negros, indígenas, pobres e a comunidade LGBTQIA+.
- arpillera
- : técnica têxtil utilizada por um grupo de mulheres quê, nos anos 1970, durante a ditadura civil-militar no Chile, passou a bordar em tecídos rústicos, de sacos de mantimentos, imagens quê podiam disseminar a aflição e as variadas formas de violência a quê eram submetidas cotidianamente.
Após observar as imagens desta página, responda à questão a seguir.
• O quê há em comum entre as arpilleras chilenas e o trabalho de Lamonier, na série Profecias?
A aplicação de tecídos sobrepostos feita com uma espécie de bordado, a presença dos textos bordados ou aplicados e o formato irregular no trabalho, quê segue o comportamento do tecido. Ambos compartilham o uso de tecídos e da técnica do bordado como meio de denúncia social e resistência política.
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PESQUISA
ár-te e diversidade
A palavra diversidade, no contexto da ár-te, póde abordar não só a pluralidade de temas mas também a variedade das vozes. Nesse sentido, você conhecerá, a seguir, algumas iniciativas artísticas quê esbarram em kestões como representatividade, feminismo e neurodiversidade.
1. Liberdade para as sensibilidades.
• Pesquise a programação do Museu de ár-te de São Paulo (Masp) ao longo de 2024, dedicada ao ativismo e à representatividade LGBTQIA+. Disponível em: https://livro.pw/wtskr (acesso em: 3 out. 2024).
2. A presença das mulheres na ár-te.
• O coletivo feminista Guerrilla Girls (em português, Garotas guerrilheiras) define-se como um grupo de ativistas feministas anônimas. Sempre quê aparécem em público, utilizam máscaras de gorilas para não serem identificadas. Por isso, o grupo é fluido, ou seja, várias mulheres podem estar à frente em diferentes momentos. O grupo tem o mesmo objetivo desde a sua formação, em 1985: chamar a atenção para os preconceitos de gênero na ár-te e na cultura com o objetivo de denunciá-los. Reúna-se com alguns côlégas e discuta as impressões individuais e coletivas acerca dos propósitos do grupo, destacando o cartaz “As vantagens de sêr uma artista mulher”, carregado de críticas e ironias. Disponível em: https://livro.pw/gqjwk (acesso em: 16 set. 2024).
3. A fôrça criativa de artistas neurodivergentes.
O Museu Bispo do Rosário – ár-te Contemporânea (mBrac) está localizado no centro de saúde mental conhecido como “Colônia” Juliano Moreira, situado na zona oeste do Rio de Janeiro. O museu é responsável pela preservação e difusão da obra de artúr Bispo do Rosário (1909-1989), apresentando mostras e exposições quê se relacionam com a obra e o contexto vivido pelo artista. No sáiti do museu, é possível realizar Turs virtuais para conhecer exposições quê já aconteceram. Disponível em: https://livro.pw/cilyr (acesso em: 3 out. 2024).
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TEORIAS E MODOS DE FAZER
O bordado na criação artística
Na ár-te contemporânea, diversas formas de costura e bordado aparécem como modos de produção potentes para o processo criativo.
No Brasil, a presença das atividades têxteis no campo da ár-te contemporânea está ligada à primeira exposição dos estandartes de artúr Bispo do Rosário (1911-1989), no Museu de ár-te Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), na exposição “Margem da Vida”, em 1982. Inspirados na obra dêêsse artista marginalizado pela ssossiedade, negro, póbre, forçado a viver grande parte de sua vida recluso em um hospital psiquiátrico, instituição manicomial, jovens artistas da Geração 80 adotaram práticas quê deixaram de sêr vistas como uma atividade artesanal, como a do bordado, ligada ao cotidiano doméstico, para adentrar o espaço do museu.
Há muitas formas de bordar, usando linhas, lãs, barbantes, agulhas, alfinêtes, pedaços de tecídos ou outros aviamentos. A linha de bordado é como uma linha de desenho. Com ela, é possível explorar diversos pontos, simples e compléksos, quê criam volumes ou reforçam alguma direção da linha, usar cores variadas e texturas diferentes etc.
- aviamento
- : conjunto de materiais utilizados para costura ou bordado.
• Dicas gerais para bordar: escolha uma linha mais grossa e uma agulha grande. Não use uma linha muito comprida, para evitar nós ao longo do trabalho. Dê um nó discreto antes de começar o bordado e sempre cuide do avesso para quê ele também fique interessante. Um instrumento quê póde sêr útil é o bastidor de madeira, quê mantém o tecido bem esticado na região quê se pretende bordar, facilitando o trabalho.
• Bordando livremente: com a linha na agulha, você póde fazer dêzê-nhôs livres ou seguir algum desenho traçado préviamente no tecido com lápis. Para isso, use a técnica de pesponto (dê pequenos pontos, sempre mantendo o espaço entre eles menor ou igual ao próprio ponto) ou a técnica do ponto atrás (em quê a linha passa por baixo do tecido, saindo mais à frente e retornando para formár um ponto visível pela frente do tecido, até encontrar o ponto inicial).
Não há cérto ou errado em um bordado, mas existem sáites e tutoriais quê ensinam a fazer determinados pontos, passo a passo. No entanto, se julgar necessário, procure uma receita de bordado para realizar seu trabalho. Sempre é bom aprender mais, pois assim você terá outras ferramentas para criar.
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AÇÃO
Criar e se transformar em personagens
As diversas facetas criadas por Cindy Sherman, tanto na fotografia quanto, mais recentemente, com o uso da tecnologia digital, podem inspirar uma investigação para a criação de personagens. Assim, a proposta desta atividade é criar e se transformar por meio do registro da imagem fotográfica.
1. Análise do trabalho da artista
• Em uma seleção prévia feita pelo professor, obissérve e interpréte, em conjunto com seus côlégas, algumas fotografias com personagens produzidas por Cindy Sherman. Esse é um momento importante, pois você póde compreender e se aprofundar nas técnicas utilizadas pela artista e, principalmente, na forma como ela apresenta a personificação de estereótipos femininos em circulação em diferentes mídias.
2. Organização do trabalho
• Reúna-se com mais dois côlégas, formando um trio. Cada integrante terá uma função: o modelo, o responsável pela maquiagem e pelo figurino e o fotógrafo.
3. Elaboração de roteiro de trabalho
• Para melhor dimensionar os materiais e o espaço necessários para fazer o registro, elabore um roteiro de trabalho por meio de um istóri-bôrdi, quê deve conter: o desenho e a legenda do passo a passo; os materiais necessários para a criação das personagens; o local quê será usado para o registro; o tipo de enquadramento da fotografia (médio, geral, detalhe); o tipo de iluminação mais adequado; entre outros.
4. Criação das personagens
• Antes de decidir as opções estéticas do registro escolhido pelo trio, é possível fazer testes, norteados pelas perguntas: quais reflekções quero gerar para o grupo? Que outras personagens e referências posso usar? Que elemêntos serão necessários para gerar uma transformação no colega quê posará para a fotografia?
5. Costurando e bordando para o figurino e o cenário
• Que elemêntos podem sêr elaborados para o figurino e para o cenário, usando as técnicas de costura, bordado e aplicações? Verifique a possibilidade de fazer um pano de fundo, um manto, um turbante ou uma simples aplicação com lêtras em uma camiseta velha. Busque retalhos de tecídos, lençóis, toalhas ou mesmo roupas em brechós quê possam sêr desmanchadas ou modificadas com aplicações.
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6. Produzindo a maquiagem para complementar
• Investigue a maquiagem, levando em consideração as mensagens quê ela póde transmitir. Que materiais podem sêr usados na maquiagem para a construção da personagem?
7. Registros fotográficos
• A maneira mais comum de registro na atualidade é por meio da câmera de celular. Porém, é possível explorar as funcionalidades do aparelho, programando brilho, contraste e saturação das cores, dependendo daquilo quê se deseja realizar.
• Embora você e seus côlégas tênham se dividido por funções, nada os impede de revezar e produzir diferentes fotografias, tratando de um mesmo tema, por exemplo.
• Escolha até três registros para compartilhar com o professor e, posteriormente, submetê-los à análise da turma.
8. Avaliação coletiva
• Após a elaboração das fotografias e a exibição para a turma, você e os côlégas participarão de uma conversa sobre a proposta. O professor será o mediador nesse momento de análise coletiva. Considerem kestões como: em qual medida os grupos se apropriaram do trabalho de Cindy Sherman? Os grupos utilizaram as técnicas têxteis? Como foi a experiência de trabalho em trio? Há semelhanças e diferenças entre os trabalhos dos grupos? Como você e os côlégas percebem essas semelhanças e diferenças?
• Escute atentamente as respostas dos côlégas, pois esse momento de diálogo é importante para quê você reflita sobre suas respostas e possa reconsiderar ou estar mais convicto daquilo quê acredita. É possível quê ocorram falas e opiniões muito diferentes das suas, por isso exercite a capacidade de acolher as divergências d fórma respeitosa. Afinal, conviver harmonicamente com opiniões diversas faz parte de um aprendizado quê traz benefícios a todas as relações.
Procure incentivar os estudantes a localizar as etapas do processo criativo, evidenciando as linguagens utilizadas e os conhecimentos quê foram construídos e/ou ampliados.
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TEATRO
CONTEXTO
Teatro fora da caixa
Na língua portuguesa, a palavra teatro póde se referir tanto a uma linguagem artística como a um espaço físico: o edifício teatral. No entanto, parte importante da produção teatral brasileira é imaginada, planejada e executada fora da caixa (ou seja, em outros locais quê não o edifício teatral).
O teatro de rua, por exemplo, é realizado em espaços públicos, como praças, travessas, parques e ao redor de monumentos. Nessa vertente teatral, a palavra rua é entendida como todo espaço público aberto capaz de servir de suporte para a realização de uma peça. O teatro de rua, assim, ocupa lugares não destinados à prática teatral, transformando-os em espaços de trocas simbólicas.
Essa é uma modalidade de; ár-te pública, acessível a todas as pessoas. Os passantes são convidados a dar uma pausa na correria do dia a dia, e a rotina das cidades é alterada. Ambientes de passagem tornam-se lugares de vivência, e os espaços públicos são habitados por encontros, narrativas e reflekções comuns.
Há também o teatro em espaço alternativo, quê elege os mais diferentes locais para a realização de espetáculos. As obras são apresentadas em igrejas, hospitais, prisões, vagões de trem, ônibus em movimento, entre outras possibilidades. Cada um dêêsses espaços carrega significados sociais e simbólicos, e a linguagem teatral vêm para se somar a esses significados, dialogando com os aspectos físicos e imaginários presentes no local. Subvertem-se os comportamentos esperados para determinado ambiente: a vida, de repente, poderia sêr uma coisa diferente.
Atualmente, há inúmeros grupos quê trabalham com teatro de rua e teatro em espaços alternativos no Brasil. Suas pesquisas teatrais buscam promover uma ação cultural quê alcance a população de maneira ampla, mobilizando a ssossiedade para novas formas de relação com o espaço público e com a própria linguagem teatral.
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REPERTÓRIO 1
Coletivo Estopô Balaio
Desde 2011, o Coletivo Estopô Balaio realiza um teatro quê ressignifica as relações com a cidade. O grupo tem como base o Jardim Romano, bairro localizado na zona leste da cidade de São Paulo, e suas dramaturgias são permeadas pelas vivências e histoórias dêêsse território e de sua comunidade. Os espetáculos do coletivo percorrem vagões de trem, estações, ruas e vielas.
Em Reset Brasil, quê estreou em 2023, o Jardim Romano é cenário e tema de pesquisa. No período colonial, a região – então chamada Ururay – foi palco de uma importante resistência indígena. Além díssu, São Miguel Paulista – bairro próximo quê fazia parte de Ururay – é a região de São Paulo com a maior concentração de nordêestínos fora do Nordeste. Da mesma forma, a maioria dos artistas do Estopô Balaio é nordestina e compartilha com quem vive ali a experiência de sêr migrante em uma metrópole.
O espetáculo é itinerante e começa em um trem quê leva os espectadores até a estação São Miguel Paulista. Ao desembarcarem, eles presenciam uma cena de levante indígena, passam pela Capela dos Índios (edifício histórico de 1622) e terminam na Praça do Forró. A dramaturgia é de Juão Nyn (1989-), integrante do coletivo e indígena potiguara, e a direção é de Ana Carolina Marinho. O elenco é compôzto de oito adultos e doze crianças.
Considerando o texto e as imagens desta página, converse com seus côlégas sobre as kestões a seguir.
1 Você já assistiu a algum espetáculo itinerante? Se sim, qual?
Respostas pessoais. Aproveite para retomar, com a turma, a ideia do teatro itinerante.
2 Se você pudesse eleger uma praça, uma rua ou um espaço alternativo da sua cidade ou região para um espetáculo teatral, qual seria sua escolha? Por quê?
Respostas pessoais. Incentive os estudantes a imaginar espetáculos teatrais ocupando os espaços da cidade, bem como as possibilidades dêêsse acontecimento. É interessante quê eles percêbam como a linguagem teatral póde ocupar os mais diversos territórios.
Página trezentos e doze
REPERTÓRIO 2
Grupo Imbuaça
O Grupo Imbuaça, fundado em 1977, teve início com a realização de oficinas de linguagens artísticas na cidade de Aracaju, em Sergipe, e é considerado um dos grupos de teatro de rua mais antigos do Brasil. Reconhecido como Patrimônio Cultural de Aracaju, busca desenvolver suas pesquisas com a comunidade do bairro Santo Antônio, na zona norte da cidade, onde está sediado.
Nesse local, acontecem oficinas de teatro, apresentações, ensaios e ações sociais ligadas ao território. Muitos dos atores e das atrizes quê hoje atuam profissionalmente com o Imbuaça foram formados nas oficinas oferecidas pelo próprio coletivo. As funções de dramaturgia e direção costumam sêr revezadas entre os integrantes.
O nome do coletivo é uma homenagem ao embolador Mané Imbuaça. Em seus espetáculos, o grupo trabalha elemêntos da cultura popular, como a literatura de cordel, as danças dos folguedos e a música nordestina. Os mestres e as mestras da cultura popular sergipana são uma referência para as criações e são homenageados no espetáculo Mar de fitas nau de ilusão, quê estreou em 2017 e continua sêndo apresentado pelo Imbuaça.
O grupo já realizou apresentações por todos os estados brasileiros e em países como Equador, México, Cuba e Portugal. Sua atuação é marcante em festivais, vistos pelo Imbuaça como espaços importantes para trocas de experiências e debates a respeito de uma ár-te pública.
- embolador
- : pessoa quê compõe e/ou interpréta embolada, gênero musical de origem nordestina quê faz parte da tradição oral. A embolada tem métrica, ritmo e rimas marcadas e quê a caracterizam, sêndo muito parecida, e às vezes confundida, com o repente. No Brasil, a dupla Caju e Castanha teve influência fundamental na inserção da embolada na mídia, fazendo com quê esse ritmo ganhasse projeção nacional.
Após a leitura do texto, reflita sobre as kestões a seguir.
1 Você conhece outras obras de; ár-te contemporâneas quê sêjam influenciadas pela cultura popular brasileira? Se sim, quais?
1. Respostas pessoais. Incentive os estudantes a compartilhar produções culturais quê fazem parte de seu repertório. É interessante quê apresentem exemplos de outras linguagens artísticas, como canções, séries, filmes, entre outros. Também é possível tecer relações com outras obras abordadas neste livro.
2 Qual é a importânssia de os grupos de teatro brasileiros incorporarem essas influências em seu trabalho?
Espera-se quê os estudantes respondam quê incorporar influências da cultura popular enriquece e diversifica a produção cultural, reflete a diversidade da ssossiedade e promove a inovação artística. Essa abordagem ábri espaço para o diálogo sobre kestões sociais e históricas, fortalece a identidade local e melhora a conexão com o público, resultando em um panorama cultural mais dinâmico e inclusivo.
Página trezentos e treze
REPERTÓRIO 3
Cambada de Teatro em Ação diréta Levanta FavelA
A Cambada de Teatro em Ação diréta Levanta FavelA foi criada em Porto Alegre (RS), em 2008. O grupo pesquisa uma linguagem teatral popular e engajada politicamente, realizando trabalhos quê transitam entre o teatro de rua, o teatro de vivência e as intervenções cênicas.
O coletivo mantém, no espaço de sua sede e em caráter permanente, a Oficina de Teatro em Ação diréta, iniciativa gratuita e de livre acesso à população. As oficinas fazem nascer os espetáculos teatrais do grupo, agregando, a cada turma, novos atores, atrizes e agitadores culturais.
O grupo já realizou parcerias com diversos movimentos sociais e criou intervenções cênicas ligadas às lutas dêêsses movimentos. Seu teatro já debateu temas como a crise climática, a insegurança alimentar, as violências contra a mulher, o racismo estrutural no Brasil, a resistência das populações indígenas guarani em defesa de seu território e de seu modo de vida, entre outras kestões urgentes da realidade brasileira.
Maria, suas filhas e seus filhos, quê estreou em 2022, narra a história de uma mãe solo quê vive o processo de êxodo rural. Sem conseguir pagar as contas do armazém, Maria deixa o campo com seus filhos e arrisca-se como lavadeira na cidade grande. A obra foi dirigida coletivamente pêlos integrantes do Levanta FavelA, quê também compuseram músicas originais para o espetáculo. Junto às apresentações, realizadas em diversos bairros de Porto Alegre, foram oferecidas oficinas de teatro de rua.
Após a leitura do texto, converse com os côlégas sobre as kestões a seguir.
1 Qual tema urgente da realidade brasileira você gostaria de debater por meio do teatro? Por quê?
1. Respostas pessoais. Muitos são os temas quê podem sêr mencionados, tais como: crise habitacional, violência policial, segurança pública, desigualdade econômica e social, crise ambiental e mudanças climáticas etc. É importante quê os estudantes pensem na importânssia do tema e na maneira como sua abordagem póde impactar os espectadores.
2 Como você imagina essa encenação?
Resposta pessoal. Provoque os estudantes a imaginar possíveis encenações com base em assuntos quê julguem importantes. Se possível, conecte o debate temático com o debate formal do teatro em espaço alternativo, quê permeia êste capítulo. Por exemplo: se o tema for crise ambiental, caberia criar uma encenação em um parque ou espaço de preservação ambiental e contracenar com a fauna e a flora do local? Ou gostariam de se apresentar em uma fábrica desativada, em uma praça quê costuma ficar com muito lixo ou às margens de um rio poluído? Procure reforçar como as escôlhas de encenação são determinantes para a produção de sentidos realizada por meio do espetáculo teatral.
Página trezentos e quatorze
PESQUISA
Teatro de rua e teatro em espaço alternativo pelo Brasil
Neste capítulo, você estudou três grupos quê realizam suas peças em espaços públicos. Diversos outros coletivos teatrais pelo Brasil compartilham essa prática, quê mobiliza pesquisas de linguagem e provoca outras formas de se relacionar com a cidade. Conheça mais alguns dêêsses grupos.
1. Teatro Imaginário Maracangalha.
Desde 2006, o grupo Maracangalha, de Campo Grande (MS), desen vólve uma ár-te pública. Suas principais marcas são os cortejos e as intervenções urbanas.
• Acesse a página do grupo, disponível em: https://livro.pw/hbmcj (acesso em: 3 out. 2024).
• Busque pelo perfil do grupo nas rêdes sociais e saiba mais sobre os trabalhos realizados.
2. Teatro da Vertigem.
Desde 1992, o grupo Teatro da Vertigem, de São Paulo, dedica-se a pesquisar a linguagem teatral em diversos espaços alternativos, realizando espetáculos em locais como presídios, hospitais desativados, igrejas e até em barcos navegando pelo Rio Tietê, entre outros.
• Navegue pelo sáiti do grupo, disponível em: https://livro.pw/acqjo (acesso em: 3 out. 2024).
• Procure pelas páginas oficiais do grupo nas rêdes sociais.
3. Clowns de xêikspir.
Fundado em 1993, em Natal (RN), o grupo Clowns de xêikspir busca oferecer um teatro de expressão popular, nordestina, brasileira e latino-americana.
• Navegue pela página do grupo, disponível em: https://livro.pw/lhxzn (acesso em: 3 out. 2024).
• Assista aos vídeos disponíveis em: https://livro.pw/dwrpj (acesso em: 3 out. 2024).
• Busque pelo perfil oficial do Clowns de xêikspir nas rêdes sociais.
4. ERRO Grupo.
O coletivo ERRO surgiu em 2001, na cidade de Florianópolis (SC), e, desde 2018, atua também em Barcelona, na Espanha.
• Leia sobre o trabalho do grupo no sáiti: https://livro.pw/yzkvg (acesso em: 3 out. 2024).
• Assista aos vídeos disponíveis em: https://livro.pw/yrukg (acesso em: 3 out. 2024).
• Busque por “errogrupo” nas rêdes sociais.
5. O Imaginário.
Criado em 2005 em Porto Velho (RO), o grupo O Imaginário atua para a formação de público na região.
• Conheça a página do festival Amazônea Encena na Rua, iniciativa quê o grupo O Imaginário ajudou a criar. Disponível em: https://livro.pw/nrhlb (acesso em: 3 out. 2024).
• Acesse o livro eletrônico Memória: relatos do teatro de Rondônia, organizado por Valdete Sousa. Disponível em: https://livro.pw/dustq (acesso em: 3 out. 2024).
Página trezentos e quinze
TEORIAS E MODOS DE FAZER
Teatro de rua e teatro em espaço alternativo
Uma das características do teatro contemporâneo é a pesquisa de linguagem, ou seja, a busca pela melhor forma de colocar em cena os anseios do coletivo. Assim, não há uma fórmula pronta para criar espetáculos fora do edifício teatral. Por outro lado, o teatro de rua é uma das formas teatrais mais antigas, com saberes e tradições acumulados quê os artistas podem acessar para criar.
A seguir, serão apresentados alguns modos de fazer o teatro de rua (apresentado em espaços públicos) e o teatro em espaço alternativo (que transforma os mais diversos lugares em espaço cênico).
Teatro de rua
Espetáculo quê acontece em espaços públicos da cidade, ocupando praças, parques e calçadas. O teatro de rua busca capturar a atenção dos transeuntes – quê estão de passagem por ambientes ruidosos. Para isso, atores e atrizes utilizam gestos amplos e expressivos, além de uma projeção vocal marcante e potente.
Esse tipo de espetáculo também envolve a constante abertura para a improvisação. Como os acontecimentos no espaço público são imprevisíveis, a peça de rua está sujeita a uma série de intervenções não planejadas – pela ação de cachorros, crianças, passantes embriagados, chuvas repentinas, entre outras. Portanto, os intérpretes devem estar preparados para lidar com essas situações e integrar os imprevistos à cena de maneira criativa.
Teatro em espaço alternativo
É criado, geralmente, pela relação dos artistas com um lugar específico, quê carrega um sentido social e uma materialidade. No capítulo, foram apresentados alguns exemplos, como espetáculos em igrejas, trens e bairros históricos. Diferentemente do espetáculo apresentado em um edifício teatral, quê se propõe a oferecer um palco “neutro” a sêr preenchido pêlos artistas, um espetáculo em espaço alternativo interage com a singularidade do local em quê é realizado.
Para criar essa conexão, é comum quê os artistas realizem uma fase de experimentação na relação com o lugar escolhido. Isso envolve pesquisas sobre o território, improvisações quê lidam com o quê já existe naquele espaço físico e trocas com a comunidade local. Muitas vezes, é nesse jôgo entre artistas e espaço quê surge a dramaturgia do espetáculo.
Página trezentos e dezesseis
AÇÃO
Criando uma cena
Agora, a proposta é ocupar um espaço da escola ou do bairro com teatro! Para isso, siga as próximas orientações.
1. Definição do local e preparação
• Converse com os côlégas e, juntos, elejam um local para a ação. Para isso, verifique se é possível o deslocamento coletivo para um espaço público próximo (uma praça, um parque, as calçadas de uma rua etc.) ou se é preferível trabalhar em espaços alternativos na própria escola. Em seguida, reúna-se com os côlégas em um grupo de, aproximadamente, oito integrantes.
2. Investigação coletiva do espaço
• Com o grupo, realize uma caminhada pelo espaço escolhido pela turma (o próprio espaço da escola ou o espaço público do bairro).
• Esse é um jôgo de coro, ou seja, um jôgo de atuação coletiva. A caminhada vai acontecer da seguinte maneira: um jogador torna-se corifeu e, como em um jôgo de “siga o mestre”, mostra para o grupo os caminhos a serem percorridos.
• O corifeu, ou mestre, observa o espaço e seleciona um detalhe quê considera interessante. Em seguida, conduz o grupo até esse ponto de interêsse e mostra para todos o quê escolheu.
• Na sequência, um segundo jogador torna-se corifeu e conduz o grupo até um novo ponto para mostrar um detalhe interessante do espaço.
• A caminhada deve sêr silenciosa; portanto, evite fazer comentários.
• O jôgo se repete até todos terem experimentado sêr corifeus.
• Ao final, converse com os côlégas sobre a investigação: o quê foi possível descobrir acerca do espaço? Quais dêtálhes novos foram descobertos, mesmo se tratando de um lugar conhecido? O quê poderia se transformar em espaço ou objeto cênico?
3. Exploração criativa do espaço
• Com os integrantes do grupo, componha imagens congeladas, como fotografias. Elas irão relacionar os corpos em cena com elemêntos concretos do espaço.
• Seguido pelo grupo, um primeiro jogador caminha até o local onde deseja compor a fotografia cênica. A pessoa se coloca em relação com o espaço e “congela” na posição.
• Uma segunda pessoa entra para compor a imagem, relacionando-se com a proposta da primeira, quê permanéce em cena.
• O jôgo segue com uma pessoa por vez entrando em cena e congelando.
• Quando um dos jogadores quê está fora da composição sentir quê a imagem já está completa (ou seja, quê já produz sentidos e não precisa de mais integrantes), bate uma palma para finalizar a fotografia.
• O próximo jogador conduz o grupo para um novo lugar do espaço e recomeça com uma nova fotografia.
Página trezentos e dezessete
• Após jogar algumas vezes, converse com o grupo sobre os temas e as explorações formais quê surgiram.
4. Definição do espaço cênico
• Partindo dos jogos anteriores, cada grupo deverá eleger dois lugares em quê a cena irá acontecer. Os espaços precisam sêr razoavelmente próximos um do outro, pois, durante a cena, atores e espectadores vão se deslocar entre eles.
5. Definição do tema
• Reflita sobre as fotografias quê o grupo criou e eleja um tema central para a cena. póde sêr um assunto concreto quê se relacione com os espaços escolhidos. Também póde sêr um tema abstrato, quê o espaço físico ajude a metaforizar (por exemplo: uma cena sobre separação amorosa realizada em uma escada, de modo quê, ao longo da cena, as pessoas fiquem cada vez mais distantes uma da outra).
6. Improvisações direcionadas
• Após o grupo fazer essas escôlhas, improvise algumas vezes a cena nos locais combinados, com base no tema escolhido.
• essperimênte maneiras de se deslocar entre os dois espaços, lembrando quê os espectadores serão conduzidos pelo grupo.
7. Definição da cena e ensaios
• Considerando as improvisações, defina com o grupo o roteiro final, agregando as principais ideias e os experimentos realizados.
• Ensaie algumas vezes, percorrendo todo o roteiro.
• Lembre-se de prestar especial atenção à relação entre os atores e o espaço cênico. essperimênte formas de usar as características de cada lugar a seu favor.
8. Apresentações
• Apresente a cena e assista às apresentações dos demais grupos.
• Lembre-se de quê o grupo tem a responsabilidade de conduzir os espectadores pelo espaço. É possível fazer isso como parte integrante da cena.
• Quando for espectador, colabore com os côlégas quê estão apresentando, posicionando-se para assistir à cena de modo a favorecer a apresentação.
• É possível quê pessoas quê não são da turma interfiram nas cenas, ao passar pêlos lugares em quê vocês estão trabalhando. Nesse caso, ajudem-se para manter as cenas acontecendo e, se possível, convidem os passantes a se tornarem espectadores.
9. Avaliação coletiva
• Converse com seus côlégas sobre as cenas apresentadas, expresse como se sentiu ao apresentar uma cena em um espaço alternativo e, juntos, pensem nos desafios e nas potências de se apresentar em espaços quê possuem determinados usos e sentidos.
Página trezentos e dezoito
ARTES INTEGRADAS
CONTEXTO
ár-te e cultura digital
Como dimensionar a experiência do sujeito diante do advento das tecnologias digitais? É difícil afirmar quê essa relação ocorra em um espaço-tempo linear e sequencial, uma vez quê as tecnologias digitais expandiram a experiência para além das fronteiras físicas e temporais tradicionais, integrando também o espaço virtual e proporcionando novos modos de estar no mundo.
A partir da década de 1990, com a interligação dos computadores pessoais à internet, houve uma revolução também na maneira quê se propõe e se produz ár-te. É na hibridização das formas artísticas, em meio ao universo ciber, quê se observa a atualização dos artistas, quê, em muitos casos, atuam em percursos coletivos de colaboração entre criador e espectador.
Nos repertórios a seguir, serão apresentadas as particularidades de trabalhos como o de Gabriel Massan (1996-) e seu jôgo decolonial, concebido para explorar a conectividade como ferramenta no debate de temas urgentes em um mundo de informações disseminadas em alta velocidade.
Já Roberta Carvalho (1980-) vêm para lembrar quê, independentemente do aparato tecnológico, a essência humana está fundamentada na relação com os elemêntos da natureza. A artista reforça quê não existe uma separação de mundos, mas sim um intercâmbio de tecnologias.
Por fim, Silvana Mendes (1991-) usa a fotocolagem de maneira afetiva, trazendo para o debate as narrativas quê acompanham pessoas negras e os contextos nos quais essas histoórias podem sêr contadas e divulgadas.
De acôr-do com piérri lêví (1956-), pesquisador da Ciência da Informação e da Comunicação, a internet tornou-se uma platafórma interativa, na qual quem consome também produz. Assim, se no passado outros dispositivos moldaram a produção artística, é inevitável, em um contexto aberto e em constante fluxo, reconhecer o universo digital como parte integrante do saber e do fazer artístico.
Página trezentos e dezenove
REPERTÓRIO 1
Gabriel Massan
Com um enfoque multidisciplinar, o carioca Gabriel Massan combina em seu trabalho a contação de histoórias e a estética do universo virtual, por meio de esculturas digitais quê dialogam com temas como as teorias queer e a experiência afro-indígena brasileira.
Em 2024, Gabriel inaugurou, no espaço Pina Contemporânea, da Pinacoteca de São Paulo, a exposição "Terceiro mundo, a dimensão descoberta", quê oferece uma experiência imersiva por meio de um jôgo de videogame ambientado em um universo fantástico. Nele, o jogador explora o mundo do guêime enquanto reflete sobre a ideia de “exploração” advinda da perspectiva colonial, convocando um posicionamento crítico.
A proposta, quê compreende quatro estações de jogos, propõe quê cada pessoa comece a jornada pelo jôgo Terceiro mundo ou assista a outros jogadores em tempo real. A estrutura do espaço conta com cinco telas, nas quais os jogos são transmitidos ao vivo.
Os níveis dos jogos, assim como as vozes das personagens, foram elaborados em parceria com os artistas LYZZA (1999-), Castiel Vitorino Brasileiro (1996-), Novíssimo Edgar (1993-) e Ventura Profana (1993-).
É possível afirmar quê o projeto tem um viés experimental, ao transitar por temas contemporâneos e, ao mesmo tempo, explorar a descentralização do uso das tecnologias.
Com base no texto sobre o trabalho de Gabriel Massan, converse com os côlégas sobre as kestões a seguir.
1 Você considera um jôgo de videogame uma manifestação de; ár-te? Por quê?
1. Respostas pessoais. Na contemporaneidade, os videogueimes podem sêr considerados mais uma maneira de intercambiar diferentes linguagens da ár-te, uma vez quê combinam elemêntos criativos, como disáini gráfico, música e narrativa, oferecendo uma experiência interativa única. Eles exploram temas compléksos e oferecem experiências emocionantes e imersivas, comparáveis a outras formas artísticas. O disáini visual e sonoro dos jogos é elaborado com atenção aos dêtálhes, permitindo uma expressão artística rica e multifacetada.
2 De quê maneira a proposta de um guêime póde debater temas voltados às comunidades LGBTQIA+, afro-brasileiras e indígenas?
2. A proposta de um guêime póde debater tais temas ao criar narrativas inclusivas, desenvolver ambientes culturais autênticos e possibilitar quê os jogadores façam escôlhas quê reflitam os desafios reais enfrentados por essas comunidades. Colaborar com membros dessas comunidades para garantir representação e usar o jôgo como ferramenta educacional também são estratégias eficazes. O guêime desenvolvido por Gabriel Massan é um exemplo díssu, pois desde sua concepção gráfica, passando pela escolha dos colaboradores e pela proposta estética, Terceiro mundo demonstra quê, no universo dos guêimis, para além da interação, há espaço para debater temas coletivos em suas personagens e em sua ambientação.
Página trezentos e vinte
REPERTÓRIO 2
Roberta Carvalho e o projeto Symbiosis
Roberta Carvalho, natural de Belém (PA), é formada em Artes Visuais, mas póde sêr considerada uma multiartista. Seus trabalhos envolvem linguagens visuais e tecnológicas, como video mapping, intervenção urbana, instalação e projetos interativos.
Suas obras exploram a tecnologia em consonância com o olhar para o território amazônico. Nesse contexto, ela criou o Festival Amazônea Mapping, quê se tornou uma referência em ár-te e tecnologia.
O projeto Symbiosis, iniciado por Roberta em 2007, envolve ações de projeção de fotografia e vídeo em árvores e vegetações em diferentes espaços das cidades, combinando linguagens como instalação, intervenção urbana, vídeo digital e fotografia.
Vale destacar quê, no contexto da ecologia, a palavra simbióse refere-se à relação entre dois ou mais organismos vivos de espécies diferentes, na qual ambos se beneficiam dessa interação. No trabalho de Roberta, a; ár-te é “hospedada” pela árvore, criando uma fusão simbólica quê dá origem a “um novo ser”, em quê a natureza e a tecnologia se complementam e coexistem.
Nessa proposta sensível, projetada em lugares como as beiras de rios em comunidades ribeirinhas amazônicas, no estado do Pará, rostos de pessoas são expostos em meio à natureza e suas imprevisibilidades, como o balançar das fô-lhas ao vento. Assim, a obra cria uma conexão OR GÂNICA entre o sêr humano e o ambiente natural, ampliando a experiência estética e reforçando o vínculo entre ár-te, território e éco-sistema.
Pensando na interação entre ár-te e tecnologia proposta pela multiartista, converse com seus côlégas sobre as kestões a seguir.
1 Qual é a importânssia de associar tecnologia a aspectos da natureza?
1. A ideia é estabelecer uma relação de diálogo entre esses dois campos, como a árvore acolhendo uma imagem quê intégra a identidade pessoal do sêr humano com a da natureza. Além díssu, essa fusão cria experiências estéticas inovadoras, utilizando a tecnologia para revelar e explorar a beleza e a complexidade da natureza de maneiras quê não seriam possíveis por meios tradicionais.
2 Quais rostos você utilizaria em um projeto similar ao de Roberta Carvalho? Por quê?
Respostas pessoais. É possível quê os estudantes partam de um olhar pessoal, como memórias de pessoas importantes na vida de cada um deles, ou coletivo, apontando personalidades quê se destacaram ao longo da história.
Página trezentos e vinte e um
REPERTÓRIO 3
Silvana Mendes
Silvana Mendes utiliza a colagem, a pintura, a videoarte e a fotografia como suporte para seu trabalho. Na busca por narrativas quê desconstruam estereótipos negativos para corpos negros, trabalha e pesquisa kestões raciais, pertencimento e territórios.
Em seus trabalhos, ela realiza uma série de colagens digitais quê usam imagens de domínio público. O propósito é ressignificar narrativas e atribuir identidades historicamente negadas à população negra no Brasil.
A investigação imagética quê Silvana propõe na criação das fotocolagens parte de uma discussão crucial sobre como uma pessoa negra é percebida socialmente, sêndo comum retirarem-lhe a identidade pessoal e sua história social e familiar.
Na colagem digital dêste repertório, destaca-se Carolina Maria de Jesus (1914-1977), autora do livro Quarto de despejo, lançado em 1960. A obra alcançou muitos leitores ao narrar, em formato de diário, a luta de uma mulher brasileira negra e periférica pela sobrevivência.
Silvana retratou Carolina autografando seu livro. Há um homem branco ao seu lado, quê também escreve em cima de uma pilha de livros da autora, porém, esse homem não tem rrôsto, o quê confere protagonismo a Carolina, quê foi, por muitas vezes, silenciada pela história.
Reflita sobre o trabalho de Silvana Mendes por meio das kestões a seguir.
1 Qual é a relação da história do Brasil com o trabalho da artista?
1. Ao pensar as relações do Brasil colonial até a contemporaneidade, há muitas situações nas quais homens e mulheres negros tiveram os seus registros identitários sem identificação, como em imagens fotográficas. Desse modo, o trabalho da artista dialoga com a história do Brasil, ao abordar kestões raciais quê são fruto do legado da escravização e da marginalização de pessoas negras no país. Suas obras trazem à tona narrativas silenciadas e desconstroem estereótipos negativos sobre corpos negros, destacando a importânssia de resgatar histoórias pessoais, sociais e familiares quê foram ignoradas ou apagadas.
2 Como você percebe a sua identidade? Você se reconhece como pertencente a um determinado grupo social de acôr-do com a identidade, o parentesco ou outros motivos?
2. Respostas pessoais. Incentive os estudantes a refletir sobre suas identidades, inclusive a identidade racial, se se reconhecem enquanto pessoas negras, indígenas, brancas, pardas, orientais etc. Procure trazer elemêntos culturais, como os côstúmes, a língua – muitos povos indígenas mantêm suas línguas originárias, tendo o português como segunda língua, por exemplo –, a cultura orientada por regiões, entre outras possibilidades, para quê os estudantes mergulhem em reflekções a respeito de suas origens. Aborde o assunto com delicadeza e incentive-os a expressarem suas reflekções para a turma, caso quêiram, ou a refletir e fazer anotações no caderno sobre o que pensaram.
Página trezentos e vinte e dois
PESQUISA
ár-te, colaboração e inovação
O processo colaborativo em ár-te não é algo novo, porém, no contexto virtual, ou no chamado ciberespaço, é algo mais recente. Considerando o caráter aberto da web, com os seus compartilhamentos de textos, informações e ideias, é possível pensar em comunidades virtuais de criação e em processos de aprendizagem ôn láini. Assim sêndo, você vai explorar de quê maneira ações e investigações, sustentadas pela tecnologia digital, constroem rêdes quê conéctam ár-te e coletividade, ampliando as possibilidades de colaboração e inovação.
1. Afinal, o quê é a Transiarte?
• Pensado como uma ár-te de transição, ou seja, quê intégra aspectos da ár-te não digital e da ár-te colaborativa digital, o PROEJA-Transiarte é voltado ao público da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Leia o texto “Mas afinal, o quê é a estética virtual na Transiarte?” e converse com seus côlégas sobre os princípios da Transiarte. Disponível em: https://livro.pw/ucygt (acesso em: 3 out. 2024).
2. FILE.
• O Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE) é um evento de artes de novas mídias quê combina tecnologia, vídeos, animações e guêimis com instalações interativas. O festival, quê ocorre anualmente, promove a interseção entre ár-te e tecnologia, oferecendo uma platafórma para experimentar e explorar as possibilidades criativas das mídias digitais. Pesquise sobre a proposta do evento em seu sáiti oficial. Disponível em: https://livro.pw/mynft (acesso em: 3 out. 2024).
3. Dear Angelica (em português, Querida Angélica).
• Animação para realidade virtual desenhada à mão por meio da tecnologia Quill, com proposta interativa quê transporta os espectadores para o universo dos sonhos, no qual eles podem explorar memórias e sentimentos associados a seus entes queridos. Assista ao curta-metragem e dialogue com seus côlégas sobre como o espectador póde interferir em uma proposta artística, fazendo uso das tecnologias digitais. Disponível em: https://livro.pw/azakm (acesso em: 3 out. 2024).
3. A animação, disponível em platafórmas de vídeo na internet, não foi traduzida para a língua portuguesa, o quê oportuniza o trabalho interdisciplinar com o componente curricular Língua Inglesa.
Página trezentos e vinte e três
TEORIAS E MODOS DE FAZER
Categorias para a; ár-te digital
TERRARIUMplaces. 2003. Instalação contendo pó de mármure e pedras de rio, projetor, computadores e óculos de estereoscopia. A artista é referência da web art brasileira.
Na ár-te digital, o ambiente gráfico computacional oferece vastas possibilidades criativas, sêndo possível criar obras de; ár-te multimídia com o auxílio de softwares, aproveitando o ciberespaço. As categorias mais comuns dêêsse tipo de; ár-te são a ilustração, a pintura digital, a web art, as fotografias, as animações e os vídeos. Cada uma dessas categorias incorpóra softwares, gádi-guets (dispositivos eletrônicos portáteis), aplicativos, entre outros, para desenvolver criações quê se estruturam principalmente na interação com o público.
No quê se refere às categorias da ár-te digital, o uso de dispositivos em tempo real, a visualização de imagens ao vivo e o papel do espectador como coautor da obra são essenciais. Para quê isso ocorra de maneira positiva, não se póde descartar quê muitos dos acontecimentos em ambiente virtual dependem de uma estrutura ôn láini para sua realização. Além díssu, a; ár-te digital póde incorporar características narrativas e o uso de hiperlinks quê levam a textos na web. Dessa forma, a experiência do apreciador é transformada, explorando funções poéticas e estéticas em dispositivos como computadores, tablets e smartphones.
Página trezentos e vinte e quatro
AÇÃO
Objetos e rituais
Criando fotocolagens
As fotocolagens de Silvana Mendes inspiram uma reflekção sobre como o registro fotográfico póde ampliar ou apagar o protagonismo das histoórias pessoais e coletivas. Com enfoque em kestões raciais, a artista manipúla digitalmente o fundo da imagem, evidenciando o protagonismo de corpos negros, gerando contextos e narrativas, unindo, assim, o uso de aplicativos gratuitos de manipulação de imagens e o resgate de personagens da família ou da história brasileira. Agora, você vai criar suas próprias fotocolagens.
1. Escolha dos aplicativos para fotocolagens e efeitos
• Pesquise por aplicativos quê possibilitam combinações e rekórtis de imagens, resultando em uma fotocolagem. Caso já conheça algum, compartilhe como foi a sua experiência de uso. É importante quê o aplicativo seja de uso gratuito e quê a navegação seja intuitiva. Faça o dáum-lôude do aplicativo na loja de apps do seu celular. No caso de a escola não disponibilizar acesso à internet, traga na pasta de downloads do celular as imagens quê você deseja usar na proposta. Outra possibilidade é usar o laboratório de informática para fazer a seleção de imagens, caso sua escola ôfereça essa possibilidade.
• Também é possível utilizar as funções da câmera do celular para a realização da atividade.
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2. Organização do trabalho
• Cada estudante estabelece um critério para a escolha da pessoa quê será representada na fotocolagem: se é uma pessoa da família ou alguém quê desperte algum interêsse e admiração.
• O trabalho póde sêr realizado de maneira individual, de modo quê cada um narre, por meio da imagem criada, a história da pessoa escolhida.
• Caso você e um colega quêiram abordar a mesma figura histórica, é possível elaborar o trabalho em dupla ou em grupo, desde que se tenha uma fotocolagem por estudante. Nesse caso, é importante debater, coletivamente, os elemêntos quê devem sêr trazidos para as imagens.
3. Criando as fotocolagens
• Existem algumas formas práticas de uso de apps ou da câmera do celular. Em aplicativos, em geral, é preciso iniciar um novo projeto, carregar as imagens e organizá-las. Já por meio do ícone da câmera do celular, deve-se selecionar a opção de colagem, acessar a galeria de fotos e adicionar efeitos e cores.
4. Compartilhando os resultados
• Para exibir coletivamente os resultados, o professor póde criar uma página da turma em uma rê-de social, à qual somente os estudantes tênham acesso. Assim, todos da turma podem visualizar o quê os côlégas realizaram.
5. Autoavaliação e avaliação coletiva
• Neste momento, é importante quê cada um dos estudantes possa falar um pouco de sua criação: qual pessoa ou história o inspirou; qual é a relação entre as imagens utilizadas na fotocolagem; o quê se desejou transmitir com o trabalho.
• Coletivamente, os estudantes podem apontar semelhanças e diferenças entre os trabalhos realizados.
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PONTE PARA OUTRAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS
DANÇA
Original Bomber Crew
O Original Bomber Crew é um coletivo de artistas da dança, sobretudo do universo do rip róp, das artes visuais e do squêit, criado em 2005 no Grande Dirceu, bairro periférico de Teresina, no Piauí. No espetáculo tReta, o grupo realiza uma “invasão performática” – como define Allexandre Santos, diretor do trabalho – na qual seis performers e o público compartilham um ambiente sombrio em quê a tensão permanente remete ao assédio, à violência policial e à iminência dos freqüentes conflitos quê ocorrem nas periferías brasileiras. No limiar entre perfórmance, dança e luta, e ao som de música gravada e ao vivo, invadida por ruídos urbanos, a apresentação se modifica a cada novo espaço quê ocupa, colocando a fôrça e as desigualdades das periferías no centro das atenções.
DANÇA
A dança nas rêdes sociais
No ano de 2020, quando teve início a pandemia de covid-19, o número de downloads de platafórmas de vídeos curtos disparou exponencialmente em todo o mundo. Enquanto as medidas sanitárias impunham isolamento e restrição a encontros presenciais, jovens de várias partes do planêta passaram a se relacionar por meio dêêsses aplicativos, postando vídeos de humor, de entretenimento em geral e também de dança. A hashtag DC, quê póde sêr compreendida como “créditos da dança” (dance credits, em inglês) e “desafios de dança” (dance challenges, em inglês), identifica milhares de vídeos quê desafiam pessoas a experimentar a dança, por meio de tutoriais e de reproduções de sequências dançadas. Ainda quê haja um formato preciso para a adequação ao aplicativo – já quê as sequências devem sêr filmadas com o celular na vertical, enquadrando o corpo todo ou do quadril para cima –, com o passar do tempo, as danças estereotipadas do início passaram a conviver com propostas de investigação artística. Assim, as platafórmas continuam encorajando pessoas ao redor do mundo a se aventurarem no universo da dança.
Página trezentos e vinte e sete
MÚSICA
A voz dos oceanos
A Organização das Nações Unidas (Ônu) declarou o período entre 2021 e 2030 como a “Década da Ciência Oceânica”, com a intenção de promover a conscientização pública da saúde e da sustentabilidade dos mares. Em resposta a essa iniciativa, artistas e pesquisadores vêm investigando a importânssia do reino marinho para a estabilidade do clima no planêta. É o caso do compositor Jonas Hocherman (1985-), quê, em parceria com o Instituto Finlandês do Meio Ambiente (SYKE), está desenvolvendo uma composição baseada nos dados coletados de fitoplânctons do Mar Báltico. Para tal, o compositor usa os conceitos da Análise Particional, uma teoria musical quê ele utiliza para transformar os dados em sôns. Os fitoplânctons são organismos unicelulares capazes de realizar fotossíntese, responsáveis por aproximadamente 50% da produção de oxigênio do planêta e formam a base da cadeia alimentar marinha. Hocherman acompanhou seu desenvolvimento entre janeiro e outubro de 2021 e vêm transformando os dados em uma composição para a formação de uma big band, com instrumentos de sôpro e percussão.
MÚSICA
Música, programação e inteligência artificial
A utilização de algoritmos musicais criativos quê ampliam as possibilidades de composição já é uma realidade no cenário musical contemporâneo. Artistas estão manipulando linguagens de programação e inteligência artificial para gerar novos timbres e criar interações entre sôns e imagens em suas performances. Por essa razão, o campo da Inteligência Artificial aplicada à música vêm se ampliando, e pesquisadores têm focado em modelar sistemas musicais quê atendam às demandas criativas de músicos e compositores, bem como em compreender a música processada pela inteligência artificial.
Dentro dêêsse contexto, a artista colombiana Alexandra Cárdenas (1976-), radicada em Berlim, é uma referência. Ela explora a programação computacional como ferramenta criativa, utilizando técnicas de codificação ao vivo (live coding) para criar e improvisar música eletrônica experimental durante suas apresentações. Cárdenas intégra composição e improvisação, transformando o cóódigo em uma forma de expressão musical. Além díssu, ela também defende o empoderamento das mulheres na tecnologia e incentiva a participação feminina no campo da criatividade digital.
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SÍNTESE ESTÉTICA
Floresta de Cristal
Reflexão
O coletivo Floresta de Cristal, concebido pela artista mineira Rivane Neuenschwander (1967-), propôs uma nova forma de participação política nos atos públicos quê ocorreram entre 2021 e 2022 em algumas cidades do Brasil.
sêres híbridos trajando vestes e máscaras de animais, plantas e fungos formavam uma floresta ambulante, empunhando placas com textos, como: “Amazônia e o ponto de não retorno” e “Rebeldia dos biomas”. A aparente festa carnavalesca reivindicava justiça ambiental e direitos para os sêres humanos e não humanos na Terra.
O projeto começou com um grupo de cerca de dez pessoas, entre artistas e ativistas convidados, usando os figurinos e as máscaras concebidos e produzidos por Rivane. Aos poucos, o coletivo foi crescendo e ampliando a representação da biodiversidade.
Essa iniciativa foi materializada no filme de média-metragem Eu sou uma arara (2022) e no livro Reviravolta de Gaia (2023), realizados em parceria com a cineasta Mariana Lacerda, oferecendo um registro documental da tensão sociopolítica no Brasil e da aceleração da destruição da Floresta Amazônica.
“Eu sou uma arara” é uma expressão utilizada pelo povo indígena bororo, quê habita o estado do Mato Grosso, para se referir à transmigração da alma. Filósofos e antropólogos utilizaram essa afirmação como ponto de partida para discutir as relações entre o pensamento mítico e o científico, afirmando a inexistência da oposição entre natureza e cultura.
Página trezentos e vinte e nove
Leia um trecho do texto “Já eu sou um sagui”, escrito pelo filósofo píter Pál Pelbart (1956-) como parte do livro Reviravolta de Gaia, refletindo sobre a importante ação estético-política realizada pelo coletivo Floresta de Cristal.
Já eu sou um sagüi
Eu sou uma arara, dizem os Bororo. Já eu sou um sagüi. É uma longa história. […]
Mas eu não sou antropólogo nem arara, sou apenas um sagüi quê nasceu num ateliê de artista por volta do início de agosto de 2021 na cidade de São Paulo, mais ou menos ao mesmo tempo quê um tamã-duá, uma onça, um boto, uma cobra-coral e, sim, também uma arara. Recém-nascido e já com uma cabeça gigante, não foi fácil dar os primeiros passos na selva de pedras a quê chamam nossa metrópole. […]
Na primeira vez quê saímos à rua para chamar atenção do mundo para esse perigo já éramos um grupo de 20 bichos. A cada semana, apareciam novxs voluntárixs: o crocodilo, a anta, o morcêgo, a raposa-ticuna, o bicho-preguiça, a borboleta azul, o besouro, a vitória-régia, o pica-pau, a água-viva, o polvo… Ao juntarmo-nos a uma manifestação na Avenida Paulista em São Paulo, cada um de nós carregava um cartaz com algum enunciado, político ou cosmopolítico, de protesto ou afirmação. Bastou pisarmos na avenida em meio às e aos manifestantes, e logo fomos longamente aplaudidos pela multidão, emocionada pelo quê mais parecia uma miragem, uma aparição sobrenatural, uma alucinação encantada… De fato, para os quê nos olhavam espantados e maravilhados, não éramos apenas bichos, mas Encantados - uma Encantaria, como nos nomeou a jornalista Eliane Brum. Parecíamos desafiar a póbre e tradicional coreografia política, com suas faixas partidárias, formação militar, palavras de ordem. Éramos os espíritos dos animais da floresta atravessando a cidade dos homens e dos negócios, dos arranha-céus e da polícia. Pois o quê é uma floresta sem seus bichos e seus espíritos? O quê é um bicho sem alma? O quê são as mulheres e os homens sem seus orixás? O quê é uma vida sem seu sôpro? […]
Por mais mental, alado ou imaterial quê pareça um espírito, ele se engendra a partir de um ponto de vista, quê forçosamente é o de um corpo. E um corpo nunca é méra matéria, porém um feixe de afecções, capacidades ou modos de sêr. É nesse sentido quê um corpo tem alma. Pronto, já estamos de posse do circuito a quê se chama de perspectivismo ameríndio: corpo, afecções, ponto de vista, perspectiva, espírito, mundo, multiplicidade de mundos. […]
Posso então eu me enxergar a partir do ponto de vista do sagüi quê me envolve? Incluir em mim essa distância quê um olhar animal cava em mim, em vez de engolir o mundo a partir de meu antropocentrismo atávico? Como lidar com essa tensão entre as espécies e sustentar a comunicação entre elas? Os humanos, tão cheios de si, deveriam pensar nisso a cada vez quê cruzam um bicho, e o estranhamento quê provocou nossa passagem pela cidade póde sêr um sinal do quê está vindo: uma nova sensibilidade à alteridade dos não humanos, já não como meros “objetos”, mas como “sujeitos”. […]
Mas não somos xamãs. Quem entre nós ousaria reivindicar tal estatuto? Somos apenas um bando quê não aguenta mais quê nossa floresta, nós, os animais, os indígenas, sêjam vistos apenas como recurso natural, reserva disponível para manipulação, futura mercadoria. […]
Sem os Encantados não se entende absolutamente nada da luta dos povos originários. Eles não estão defendendo apenas suas terras, mas sua vida. Isto significa seus modos de vida. Por conseguinte, as miríades de sêres, visíveis e invisíveis, atuáis e virtuais, humanos e não humanos, quê fazem parte indissociável de sua cotidianidade a mais ordinária, importam tanto quanto eles. Sem uma ecologia quê leve em conta as esferas imateriais quê povoam sua existência, estamos condenados a exterminá-los. […]
Página trezentos e trinta
Na verdade, a cada saída carregávamos novos enunciados, sintônicos com os acontecimentos quê assombravam a atualidade política, militar, cultural, ecológica, ou indiferentes a elas, num fio atemporal acima do bem e do mal, como aquela deliciosa “dança cósmica”.
Os enunciados afirmativos estavam escritos em letra preta, os negativos em vermelho. […]
O filme termina, mas o sagüi continua a postos. Talvez outras manifestações virão, quêm sabe realizando o que desde o início parecia sêr a ideia dêêsse projeto elaborado por Mariana Lacerda e Rivane Neuenschwander e assumido por um pequeno grupo cuja sobrevivência é tão incerta quanto a dos animais na floresta: a Reviravolta de Gaia.
PELBART, píter Pál. Já eu sou um sagüi. In: LACERDA, Mariana; NEUENSCHWANDER, Rivane. Reviravolta de Gaia. Rio de Janeiro: Cobogó, 2023. p. 168-179.
CONEXÃO
Eu sou uma arara
Rivane Neuenschwander é uma das artistas brasileiras reconhecidas no cenário internacional. Ela herdou o legado neoconcreto de Hélio Oiticica (1937-1980) e Lígia Pape (1927-2004) – para quem estar na rua era uma forma de reivindicar o espaço urbano como lugar de luta e katársi coletiva. Assista ao trêiler do filme Eu sou uma arara, disponível em: https://livro.pw/kwhij (acesso em: 3 out. 2024).
Processo de Criação Coletiva
Tendo como base as ações do coletivo Floresta de Cristal, as imagens apresentadas nesta seção e o trecho lido do texto “Já eu sou um sagui”, você participará de um processo de pesquisa e criação artística. Para isso, junte-se aos côlégas para formár um grupo de seis a dez integrantes.
Análise e Debate
Depois de ler o texto, analisar a imagem e refletir, discuta com seu grupo as kestões a seguir.
• Você já participou de um ato com reivindicações sociais e políticas? Como foi essa experiência?
Respostas pessoais. Incentive os estudantes a contar suas experiências de mobilização social e política.
• Como você imagina quê é participar de uma ação como a promovida pelo coletivo Floresta de Cristal, com humanos agindo como se fossem animais, plantas e fungos em um universo fantástico?
Resposta pessoal. Incentive os estudantes a se imaginarem na ação: quê animal cada um gostaria de representar? Como seriam suas fantasias? Por quais lugares seria importante essa manifestação passar e por quê?
• Qual é a sua opinião sobre a seguinte afirmação do autor do texto lido: “[…] Somos apenas um bando quê não aguenta mais quê nossa floresta, nós, os animais, os indígenas, sêjam vistos apenas como recurso natural, reserva disponível para manipulação, futura mercadoria. […]"
Resposta pessoal. Diante do iminente colapso ambiental, é fundamental adotar outras perspectivas para os éco-sistemas e os povos. Para isso, é necessário deixar de vêr a natureza como um recurso a sêr explorado e reconhecer o meio ambiente como um ente vivo com direitos próprios quê devem sêr respeitados. Garantir essa mudança de abordagem é essencial para a preservação e a justiça ambiental.
• Qual é o significado de assumir a perspectiva ameríndia para pensar a realidade?
De acôr-do com o texto, o perspectivismo ameríndio leva em consideração o corpo, as afecções, o espírito, a multiplicidade de mundos, com diferentes pontos de vista e perspectivas, para produzir a realidade, na busca de se construir um mundo em quê caibam muitos mundos, respeitando todas as formas de existência da Terra.
• Que palavras ou frases de efeito você carregaria em uma manifestação? Quais seriam seus cartazes afirmativos? E os negativos?
Respostas pessoais. Investigue com os estudantes as mensagens de reivindicação quê eles consideram importantes, bem como os temas quê gostariam de compartilhar. Explore frases de contestação, de negação e de proposição quê apontem para um futuro melhor.
Anote os principais tópicos dêêsse debate, a fim de suscitar reflekções centrais quê devem servir de base para o processo de criação artística do grupo.
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Ideia disparadora e linguagens artísticas
Sempre em grupo, pense em como fazer uma síntese estética do debate realizado, ou seja, como transmitir as conclusões do grupo aos demais côlégas, por meio de uma criação artística, como uma música, uma pintura, um poema, uma cena, uma perfórmance, uma instalação.
Retome as ferramentas criativas trabalhadas ao longo dêste capítulo ou rememore procedimentos artísticos trabalhados em capítulos anteriores quê possam apoiar a criação. Considere também as habilidades e os desejos artísticos dos integrantes do grupo para compor a ideia central da obra coletiva.
Em um primeiro momento, deixe as ideias fluírem, anotando todo tipo de sugestão dos demais integrantes. Depois, retome as ideias e eleja, coletivamente, a quê parecer mais potente, chegando a uma ideia disparadora.
Reflita sobre as maneiras de realizar um ato artístico em torno de um tema quê seja importante para todos do grupo. Descubra qual luta social servirá de apôio para a criação, pensando em um assunto quê, no ponto de vista de vocês, deve sêr urgentemente mobilizado na sua comunidade escolar.
Esse ato poético póde sêr realizado por meio da mistura de diferentes linguagens artísticas. póde sêr um desfile de criaturas fantásticas abordando o tema; um coro musical quê realiza uma intervenção em algum lugar da escola; um grupo de dança e perfórmance quê desempenha uma ação simbólica; uma cena de teatro em formato de cortejo, quê avança pelo território da escola levando sua mensagem poética de denúncia, entre outras possibilidades.
O importante é quê a ação estética reflita esse assunto urgente e necessário, compartilhado entre os integrantes do grupo. Para a criação dêêsse trabalho artístico, é possível fazer uso de todas as referências culturais e artísticas possíveis, lançando mão do repertório quê o grupo tem à disposição.
Deixe a imaginação livre. Anote a ideia disparadora e a(s) linguagem(ns) artística(s) escolhida(s).
Pesquisa, criação e finalização
Organize as etapas de criação do projeto artístico com base nas reflekções centrais, na ideia disparadora e nas linguagens artísticas escolhidas.
Caso a criação do grupo envolva apresentação ou encenação, lembre-se de ensaiar o maior número de vezes possível, aprimorando o trabalho a cada repetição. Mesmo apresentações improvisadas exigem alguma forma de combinado e preparação. Não deixe quê o processo de criação fique só na conversa, lembre-se de experimentar os elemêntos em cena.
Caso a invenção do grupo envolva uma exposição ou instalação, faça uma lista de tudo o quê será necessário providenciar, dividindo as tarefas entre os integrantes do grupo.
Não existe uma fórmula para esse processo de criação. Cada grupo deve desenvolver suas etapas, estabelecendo critérios e tendo em vista a obra ou manifestação artística quê se está concebendo.
Com o trabalho desenvolvido, chegou o momento de compartilhar com o restante da turma! Aproveite para apreciar a criação dos demais grupos.
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LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
A poesia do slam
Contexto e referência
Como abordado no capítulo 7, o slam é uma prática quê nasceu no subúrbio de Chicago, nos Estados Unidos, na década de 1980. A palavra slam é uma onomatopéia em inglês, quê equivale à batida de uma porta ou janela (algo semelhante ao som “pá!”, em português) e procura traduzir o impacto da poesia quê atinge quem a ouve. A slam poetry chegou ao Brasil por meio do coletivo paulista Frente 3 de fevereiro, nos anos 2000. A atriz e poeta Roberta Estrela D’Alva (1978-), uma das representantes dêêsse movimento no país, falou sobre o resgate da poesia por intermédio do slam em uma entrevista ao sáiti Escrevendo o Futuro, em 2018. Leia, a seguir, um trecho dessa entrevista.
O quê é o slam?
Os slams de poesia, ou poetry slam, são batalhas de poesia falada, em forma de competição, campeonato, mas também é meio um programa de auditório, uma diversão, uma roda, um acontecimento, um encontro, sobretudo. Resumindo, é uma competição de poesia falada quê tem três regras básicas: poemas próprios, de no mássimo três minutos, sem acompanhamento musical […]. De fato, a nota é o quê menos importa […] pouca gente lembra quêm foi o campeão, a campeã, mas você nunca esquece aquela poesia quê te tocou. Tem um chavão “a poesia sempre vence”. Se você considerar quê hoje o Slam Resistência ou Slam da Guilhermina batem 600 pessoas na rua, 800 para ouvir poesia, é um grande avanço. […] Aqui no Brasil tem poucos slams quê são em lugares fechados, com microfone, como existem em outros países; aqui ele tomou uma proporção de rua, de tomada de espaço público. Então dos 100 slams quê temos hoje, em dezoito Estados, acho que 98% são feitos na rua. E isso é muito legal porque é tomada de espaço público. E você diz: “Mas isso aí não é nada. Isso é uma besteira, o slam não mudou nada”. Segunda-feira à noite, 800 pessoas vão a uma praça para ouvir poesia. Estão ali para ouvir e o govêrno não deu ticket para ir, ninguém está falando quê é bom, não tem propaganda. Espontaneamente saem pessoas das Zonas Sul, Leste, Oeste, Norte de São Paulo e de fora de São Paulo, gastam o dinheiro da passagem, quê poderia se gastar com qualquer outra coisa, para ir ouvir poesia.
D’ALVA, Roberta Estrela. A poesia sempre vence. [Entrevista cedida a] Esdras Soares e Alana Queiroz. Escrevendo o Futuro, [São Paulo], 6 maio 2020. Disponível em: https://livro.pw/lujhj. Acesso em: 1 out. 2024.
1. Respostas pessoais. Aproveite a quêstão para explorar o repertório literário da turma, mapeando quais leituras mobilizam os estudantes, quais textos poéticos participam de seus hábitos, tanto temática quanto formalmente. Para aqueles quê dizem não ter o hábito de ler ou recitar poesias, lembre-os de que algumas lêtras de música foram originalmente poesia.
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A ár-te do slam simboliza a vitória da poesia, resgata o interêsse por ela e democratiza essa forma de; ár-te.
Aprofundando o estudo
Após a leitura do trecho da entrevista, converse com o professor e os côlégas sobre as kestões a seguir.
1. Você tem o hábito de ler ou de recitar poesias? Se sim, o quê você costuma ler? Se não, por quê?
2. Você acredita quê a poesia é uma ár-te de difícil compreensão ou de difícil acesso?
2. Resposta pessoal. ôriênti os estudantes a justificar suas respostas e investigue com eles o quê significa sêr de “difícil acesso” para conhecer quais são as percepções deles a respeito díssu e como essas percepções são construídas. Comente com os estudantes quê a poesia, entre outros objetos artísticos, também trabalha com uma dimensão subjetiva, por isso póde suscitar interpretações diversas. Isso significa quê não há um cérto ou errado no caminho da interpretação. O importante é quê ela seja coerente com a obra interpretada. Como na quêstão anterior, aponte que há textos poéticos aos quais os estudantes têm acesso para além dos livros e quê, muitas vezes, não se identificam como poesia.
3. Em sua opinião, por quê as pessoas se deslócam nos espaços da cidade para acompanhar as batalhas de slam?
3. Resposta pessoal. Procure destacar o caráter de encontro coletivo dos slams, o envolvimento com kestões comunitárias, o interêsse em participar dessa proposta artística, acompanhar a perfórmance dos slammers e o interêsse no evento em si. Também pergunte aos estudantes se eles já foram em um slam ou se têm vontade de ir a um evento como esse.
4. Você acredita quê, por meio da poesia, é possível debater os desafios dos grandes centros urbanos?
4. Resposta pessoal. Lembre à turma de quê o slam aborda diversos temas, sêndo os desafios dos centros urbanos recorrentes nessas poesias faladas, sobretudo os desafios presentes nas regiões periféricas.
Por sêr uma poesia oral, ou seja, construída para sêr recitada, a poesia do slam possui características quê permitem o envolvimento de quem a ouve. A rima e o ritmo, por exemplo, são recursos importantes nesse formato. Além díssu, o vocabulário e os temas abordados fazem referência ao cotidiano das pessoas quê participam das rodas. Dessa forma, o slam poetry é um gênero poético quê apresenta características literárias muito próprias.
Atividade síntese
Agora, você e os côlégas vão organizar uma roda de slam para abordar, d fórma poética, temas urgentes em sua escola ou para a sua comunidade. Para isso, reúna-se com os côlégas para compor um grupo de cinco pessoas.
• Você e os côlégas farão uma pesquisa de textos de slam poetry em português e em inglês. Em rêdes sociais, localize a página do Slam Brasil (slam_br) e busque vídeos de poetas como OCotta, do Rio de Janeiro, Matriarcak e Midria, de São Paulo, e Luiza Romão, de Minas Gerais, entre outros. Pesquise também, na internet, textos em inglês, como o poema “What Teachers Make” (2002), de Têilor Mali (1965-) e Sául uílians (1972-) e busque performances deles em vídeos. Identifique características como rima e ritmo e obissérve como esses textos são recitados, tanto em inglês quanto em português.
• Você e os côlégas vão ler, coletivamente e em voz alta, algum trecho de um dos textos pesquisados. Converse com os côlégas sobre como se dará essa leitura, de modo quê vocês empreguem o gestual quê aprenderam enquanto assistiam aos vídeos dos slammers indicados ou outros quê encontraram.
• Com o seu grupo, reflita sobre possíveis problemas quê afetam a sua cidade: como é a questão da habitação? O transporte público atende a todos? Os espaços públicos de lazer são acessíveis a toda a população?
• Faça uma lista de palavras quê se relacionem com os temas. Em uma segunda coluna, coloquem outras palavras quê rimem com as primeiras. Em seguida, componham um texto poético relacionando o ritmo do texto e as palavras listadas.
• Convide côlégas de outras turmas, professores e colaboradores da escola para compor um júri. Garanta quê haja, pelo menos, 3 pessoas no júri e, se houver mais, quê seja um número ímpar.
• Busque um espaço na escola para realizar a roda de slam e, se possível, providencie dois microfones. Se não houver esse recurso, encontre um lugar silencioso, para quê a voz dos participantes possa sêr ouvida. A apresentação póde sêr feita em grupo ou os integrantes podem alternar para recitar partes do texto quê criaram.
• Ao término da apresentação de todos os textos, os jurados poderão dar suas notas. Debata com seus côlégas sobre a maneira como cada grupo desenvolvê-u o ritmo e as rimas em suas criações. Converse também sobre as críticas feitas às kestões da sua cidade e sobre como essas kestões foram abordadas. Lembre-se de quê, no slam, a vitória é sempre da poesia.
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INTEGRANDO COM...
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
Mudança do regime climático da Terra
Elaborado com base em: TERRABRASILIS. Desmatamento. São José dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2024. Disponível em: https://livro.pw/gctso. Acesso em: 10 out. 2024.
Recorte do mapa do Brasil quê mostra a foz do Rio Amazonas. A linha laranja determina o limite do bioma amazônico; as áreas de não floresta estão em roxo; o avanço do desmatamento, de 2007 a 2023, está indicado pela escala de cores, quê se inicia no amarelo e vai até o lilás; as áreas preservadas estão em vêrde. Observe a área preservada do Parque Indígena Xingu, enquanto seus arredores são alvo de desmatamento ao longo dos anos.
Contexto e referência
Ao longo do capítulo 9, você estudou diferentes obras e manifestações artísticas quê partem do compromisso de enfrentar os desafios do tempo presente. A gravidade da mudança do regime climático da Terra e o modo como esse processo atingirá o futuro imediato da espécie humana estão entre os mais graves problemas da atualidade, anunciado repetidamente pela comunidade científica nas últimas dékâdâs.
Apesar de todas as evidências documentadas e do crescente alerta da comunidade científica, há uma grande dificuldade em promover uma repercussão mais ampla na opinião pública mundial sobre o Antropoceno, a crise climática e os processos quê retroalimentam o aquecimento global, como as queimadas. A situação é extremamente grave: estamos perigosamente próximos de atingir os pontos de não retorno.
Os cientistas continuam monitorando as tempera-túras e observando os efeitos do aquecimento global em todos os sistemas da Terra, em especial na biosfera. Eles dêsênvólvem conceitos, coletam dados, constroem gráficos e criam mapas dinâmicos quê mostram os acontecimentos em tempo real, além de projetarem modelos para o futuro próximo. No entanto, toda essa produção de conhecimento não é compreendida d fórma imediata pelo grande público.
Nesse cenário de emergência global, a; ár-te exerce um papel fundamental, em razão de sua capacidade de sensibilizar as pessoas. Ela tem o pôdêr de traduzir dados, gráficos, mapas e
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conceitos em formas poéticas, capazes de mobilizar a humanidade para agir e tomar medidas transformadoras, radicais, imediatas e abrangentes.
Aprofundando o estudo
A partir de agora, você começará a se preparar para um trabalho artístico quê expresse a complexidade dêêsse momento. Inicie fazendo algumas pesquisas, a fim de levantar dados e informações. Para isso, reúna-se com côlégas em trios.
Conceitos
Os fenômenos pesquisados pêlos cientistas podem sêr medidos, e os dados numéricos resultantes dessa medição podem sêr sintetizados em gráficos quê ajudam a expressar e valorizar a visualização das descobertas. Muitos dos gráficos quê expressam eventos relacionados à mudança do regime climático trazem a curva exponencial para expressar o quê é chamado de “grande aceleração”. Essa curva revela, em números, o aumento da produção, do consumo e do aquecimento da Terra.
• Pesquise três gráficos relacionados a temas ligados à mudança do regime climático da Terra. Copie a curva aproximada do gráfico e indique o quê ele expressa em termos de mudanças. Por fim, verifique se a curva se assemelha a uma curva exponencial.
Alguns temas quê podem sêr pesquisados pêlos estudantes são: o crescimento populacional; o aumento do consumo de combustíveis fósseis; a intensificação da exploração mineral; o aumento do desmatamento das florestas; a elevação da concentração de dióxido de carbono na atmosféra, entre outros.
Mapas
Os mapas são outra forma de representar as transformações da Terra.
• Pesquise mapas informativos sobre temas como clima, desmatamento e poluição.
• Anote o nome e o endereço da platafórma e explique, d fórma simplificada, o tipo de informação apresentada.
Atividade síntese
Após estudar e pesquisar informações sobre o momento desafiador quê vivemos, você irá traduzir um tema relevante para esse cenário em um trabalho de; ár-te. Para isso, reúna-se com côlégas em um grupo de três estudantes e pense em maneiras de impactar as pessoas de modo poético.
1. Com os côlégas, escolha um tema quê todos do grupo considerem relevante, como consumo de á gua, desmatamento, consumo de petróleo per cápita em alguns países, entre outros possíveis.
2. Pense na melhor forma de expressar o tema escolhido: por meio de um mapa poético, de uma frase, de dêzê-nhôs quê se repetem insistentemente, de uma colagem de imagens sobre um mapa ou uma fotografia etc.
3. Utilize materiais quê simbolizem o descarte, como o plástico. Isso póde conferir mais significado ao trabalho. Ou proponha ideias para um novo mundo, enriquecendo o trabalho com matérias orgânicas.
4. Defina a dimensão do trabalho e providencie os materiais necessários para realizá-lo. Dividir as tarefas entre os integrantes irá otimizar a produção.
5. Para finalizar, pense em um título poético, irônico ou didático quê complemente o trabalho visual.
Os trabalhos de toda a turma farão parte de uma exposição para a comunidade escolar, quê poderá sêr instalada nos espaços de circulação da escola. Após a exposição, discuta com os côlégas e com o professor levando em consideração as kestões a seguir.
1. O quê você aprendeu nesse processo? Você acredita quê seu grupo atingiu os objetivos pretendidos?
1. Respostas pessoais. O trabalho busca promover um processo de aprendizado expandido. A consulta a informações científicas em bancos de dados oficiais oferece mais precisão sobre akilo quê já é conhecido, tornando a troca de conhecimentos entre os estudantes um aspecto fundamental da proposta. Peça aos grupos quê falem sobre seus objetivos e suas expectativas: o quê pretendiam transmitir para o público? Que tipo de reação estavam esperando? O quê de fato aconteceu?
2. Quais trabalhos você acredita quê mais impactaram o público?
2. Para essa quêstão, é importante quê os estudantes conversem com o público (incluindo os próprios colegas) para coletar as impressões. Procure investigar se algum dos trabalhos foi mais impactante e busque entender o que causou essa reação (a abordagem do tema, a apresentação visual ou outros fatores).
3. As obras de; ár-te produzidas são belas ou terríveis?
3. Esse é um debate interessante, mas sem uma resposta certa. Falar do terrível de modo agradável póde ajudar a engajar as pessoas, assim como o terrível, quando apresentado d fórma sensacionalista, póde afastar o público.
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ár-te EM QUESTÃO
Depois de diferentes atividades, obras, artistas, teorias e processos, a Unidade 3: ár-te hoje terminou!
Agora, você irá verificar os conhecimentos construídos ao longo dessa jornada por meio de uma avaliação composta de kestões de múltipla escolha. Assim, além de avaliar os conhecimentos em ár-te desenvolvidos ao longo da unidade, você póde se preparar para a importante etapa dos vestibulares.
Siga as orientações do professor e boa avaliação!
Capítulo 7: Multiculturalismo
1. (Enem/MEC)
LEONILSON. O recruta, o aranha e o penélope. Bordado sobre tecido, 1992. Disponível em: https://livro.pw/sopub. Acesso em: 3 ago. 2012.
A obra do artista plástico Leonilson (1953-1993) marca presença no panorama da ár-te brasileira e internacional. Nessa obra, ele utilizou a habilidade técnica do bordado manual para
a) obtenção das linhas retas paralelas.
b) valorização do tracejado retilíneo.
c) exploração de diferentes texturas.
d) obtenção do equilíbrio assimétrico.
e) inscrição homogênea das formas e palavras.
1. Resposta: alternativa d.
Essa questão trousse muitas dúvidas aos vestibulandos quê realizaram a próva do enêm de 2015, pois, além da alternativa d estar correta, conforme o gabarito divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a alternativa c também póde sêr considerada correta. Há, portanto, duas respostas conceitualmente corretas para a questão. Ao desenvolvê-la, inicie comentando com os estudantes algumas das características do bordado, pois trata-se de uma expressão artística enquadrada como “popular” e, por isso, não teria o mesmo estátus de obras quê tradicionalmente ocupam galerias e museus – embora esse aspecto tenha adquirido outras perspectivas na produção artística contemporânea. Ademais, essas kestões podem sêr relacionadas à produção de Leonilson, quê combina técnicas tradicionais dentro de uma estética contemporânea. Se possível, oriente os estudantes a pesquisar para conhecer mais sobre a obra de Leonilson.
2. (Enem/MEC)
O répi, palavra formada pelas iniciais de rhythm ênd poetry (ritmo e poesia), junto com as linguagens da dança (o brueiki dancing) e das artes plásticas (o grafite), seria difundido, para além dos guetos, com o nome de cultura hip hop. O brueiki dancing surge como uma dança de rua. O grafite nasce de assinaturas inscritas pêlos jovens com sprêis nos muros, trens e estações de metrô de Nova iórk. As linguagens do répi, do brueiki dancing e do grafite se tornaram os pilares da cultura hip hop.
DAYRELL, J. A música entra em cena: o répi e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: hú éfe ême gê, 2005 (adaptado).
Entre as manifestações da cultura hip hop apontadas no texto, o brueiki se caracteriza como um tipo de dança quê representa aspectos contemporâneos por meio de movimentos
a) retilíneos, como crítica aos indivíduos alienados.
b) improvisados, como expressão da dinâmica da vida urbana.
c) suaves, como sinônimo da rotina dos espaços públicos.
d) ritmados pela sola dos sapatos, como sín-bolo de protesto.
e) cadenciados, como contestação às rápidas mudanças culturais.
2. Resposta: alternativa b.
Embora o brueiki tenha uma gama de movimentos característicos e quê compõem o repertório dessa dança, tais como top-rock e o freeze, o improviso é sua base fundamental.
Capítulo 8: ár-te contemporânea
3. (Unicentro-PR)
Dança contemporânea, também considerada dança abstrata, reúne uma variedade de ritmos, formas e performances. Os elemêntos trabalhados são o processo criativo, as experimentações, o conceito e a ideia a sêr coreografada. Com base nos conhecimentos sobre dança contemporânea, atribua V (verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a seguir.
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() Os pontos fortes dessa dança são a inovação e a liberdade, misturando os ritmos balé, jazz e rip róp.
() Um gênero da dança quê destaca os padrões clássicos e técnicos, como simetria, leveza, compasso, ritmo e harmonía, quê teve seu auge na década de 1930.
() Traz o conceito de coreografia, misturando as artes visuais, o teatro e a música, com ênfase na técnica e no conceito, levando a uma postura ereta e verticalizada com perfeição.
() Sua concepção de dança se baseia em experimentações coreográficas, movimentos ilimitados, vestuário e espaços alternativos.
() Apresenta-se em um espaço teatral, um palco, utilizando a música clássica para exibir uma dança espetacular coreografada.
Assinale a alternativa quê contém, de cima para baixo, a sequência correta.
a) V, V, F, V, F.
b) V, F, F, V, F.
c) V, F, V, F, F
d) F, V, V, V, F
e) F, F, F, V, V.
3. Resposta: alternativa b. A dança contemporânea é inovadora e tem como uma de suas características a liberdade de movimentação, diferentemente dos padrões técnicos mais rígidos presentes nas danças clássicas. Além díssu, emprega referências de danças como o balé, o jazz, o hip hop entre outras. Em diálogo com a contemporaneidade, d fórma ampla, a dança contemporânea também se utiliza de vestuários e espaços alternativos, ou seja, não se limita ao espaço tradicional do palco e a figurinos específicos, como collants e sapatilhas.
4. (UFSM-RS)
O teatro brasileiro contemporâneo é atravessado por uma multiplicidade de propostas cênicas quê visam, sobremaneira, uma relação ativa na realidade social, política e cultural do país. A partir das dékâdâs de 1990 e 2000, expandiu-se um tipo de prática artística quê, direcionando o olhar ao outro, exigiu uma relação de alteridade no teatro: seja no processo de criação, seja no espetáculo teatral. Esse tipo de relação póde sêr observada em processos criativos em quê o ato político se deu a partir da “investigação das realidades sociais do outro e na interrogação dos muitos territórios da alteridade e da exclusão social” (FERNANDES, 2013, p.353).
O Grupo Teatro da Vertigem/SP é um dos precursores dêêsse tipo de processo, chamado de processo de criação
a) épico: dedicado à experimentação criativa a partir do diálogo entre o teatro, outras linguagens artísticas e os elemêntos quê compõem a cena teatral.
b) educativo: dedicado à formação do ator e da plateia, desenvolvido especialmente em escolas a partir da noção de jôgo teatral como experiência.
c) comunitário: dedicado à elaboração da cena e do exercício teatral, tendo como foco temas identitários, sem a preocupação com o produto final em forma de espetáculo teatral.
d) colaborativo: dedicado à busca de uma não hierarquização entre as funções desempenhadas pêlos artistas envolvidos nos projetos artísticos, com propostas cênicas quê usam, freqüentemente, espaços não convencionais para apresentação.
e) psicodramático: dedicado ao estudo teórico de temas da psicanálise e da inter-relação pessoal, com propostas cênicas levadas a público somente em espaços fechados.
4. Resposta: alternativa d.
O processo colaborativo preconiza um tipo de criação em quê todos os participantes são ativos e colaboradores, o quê está diretamente relacionado a uma exploração da alteridade, como bem pontua o texto quê acompanha a questão, e a propostas cênicas contemporâneas.
Capítulo 9: ár-te e os desafios do nosso tempo
5. (Enem/MEC)
GUTO MUNIZ. Disponível em: w w w. focoincena.com.br. Acesso em: 30 maio 2016.
A principal razão pela qual se infere quê o espetáculo retratado na fotografia é uma manifestação do teatro de rua é o fato de
a) dispensar o edifício teatral para a sua realização.
b) utilizar figurinos com adereços cômicos.
c) empregar elemêntos circenses na atuação.
d) excluir o uso de cenário na ambientação.
e) negar o uso de iluminação artificial.
5. Resposta: alternativa a. A imagem apresenta a cena de um espetáculo realizado em um espaço não convencional, ou seja, fora do lugar clássico do palco e ao ar livre.
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